sexta-feira, março 12, 2004
Do Fascismo desconhecido e inconsciente
Por todo o nosso universo, a juventude espera. Espera não sabe bem o quê, mas algo de diferente do que lhe prometem os doutores do marxismo ou do liberalismo. Espera, tem esperança em qualquer coisa de novo, que rompa com as idolatrias do presente. A juventude não crê no paraíso futuro, no vindouro reino da abundância que lhe oferece o marxismo, considerando tão rasteiro objectivo incapaz de legitimar os inflexíveis meios de terror empregados. E muito menos crê nas blandícias parlamentaristas e pluripartidárias, nas tentativas de castrar tudo quanto é enérgico, rude, impetuoso, trágico, em nome de um conformismo sem conteúdo, de um ethos pequeno-burguês que se aterra perante o que é grande e digno e só conhece as regras da utilidade e, sobretudo, do conforto.
Essa juventude de hoje, revoltada e desorientada, que pretende achar na sua agitação e turbulência, senão uma palavra de ordem definitiva e insuperável, uma hierarquia de valores inabalável e inequívoca, numa ânsia incontida de absoluto?
Que tenta ela alcançar, a mocidade que se arregimenta em grupos fechados, se uniformiza com blusões negros, que segue até ao fim tristes chefes de gang, que despreza as convenções, que procura motins e conflitos só pelo gosto do escândalo, da peleja, da arruaça? Não vemos nós palpitar, através de tais manifestações, anseios irreprimíveis de camaradagem, de dedicação e obediência, de disciplina e de ordem, de reforma social e de combatividade, embora deformados e corporizados em fenómenos incontestavelmente viciosos, incompletos, defeituosos?
A juventude, no seu íntimo, procura o heroísmo, procura o serviço do todo ou comunidade máxima, mesmo que, na maior parte dos casos, se fique por proezas à pistoleiro (mas gratuitas e sem fim lucrativo) e mesmo que não conheça outro todo, outra comunidade, que o seu bando.
Ela não sabe mais, porque mais não lhe ensinaram; porque sobre o heroísmo autêntico se cospem as maiores injúrias, e o serviço do todo e da comunidade é classificado de escravatura indigna e ignóbil que bestifica. O mundo inteiro lhe proclama que é perverso imolar uma vida por algo que valha em si e por si, insuperavelmente, na sua própria ideia - e os jovens, assim, matam e dão a vida por nada, sem razão nem sentido. O mundo inteiro lhe proclama que só as pessoas de carne e osso merecem respeito e possuem intrínseca dignidade e não as totalidades que as englobam - e os jovens, assim, entregam-se, por completo, às associações provisórias que formam.
Se a mocidade não pratica o heroísmo verdadeiro e a verdadeira devoção ao todo, não lhe cabe a culpa, mas aos seus mestres e educadores.
António José de Brito
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Por todo o nosso universo, a juventude espera. Espera não sabe bem o quê, mas algo de diferente do que lhe prometem os doutores do marxismo ou do liberalismo. Espera, tem esperança em qualquer coisa de novo, que rompa com as idolatrias do presente. A juventude não crê no paraíso futuro, no vindouro reino da abundância que lhe oferece o marxismo, considerando tão rasteiro objectivo incapaz de legitimar os inflexíveis meios de terror empregados. E muito menos crê nas blandícias parlamentaristas e pluripartidárias, nas tentativas de castrar tudo quanto é enérgico, rude, impetuoso, trágico, em nome de um conformismo sem conteúdo, de um ethos pequeno-burguês que se aterra perante o que é grande e digno e só conhece as regras da utilidade e, sobretudo, do conforto.
Essa juventude de hoje, revoltada e desorientada, que pretende achar na sua agitação e turbulência, senão uma palavra de ordem definitiva e insuperável, uma hierarquia de valores inabalável e inequívoca, numa ânsia incontida de absoluto?
Que tenta ela alcançar, a mocidade que se arregimenta em grupos fechados, se uniformiza com blusões negros, que segue até ao fim tristes chefes de gang, que despreza as convenções, que procura motins e conflitos só pelo gosto do escândalo, da peleja, da arruaça? Não vemos nós palpitar, através de tais manifestações, anseios irreprimíveis de camaradagem, de dedicação e obediência, de disciplina e de ordem, de reforma social e de combatividade, embora deformados e corporizados em fenómenos incontestavelmente viciosos, incompletos, defeituosos?
A juventude, no seu íntimo, procura o heroísmo, procura o serviço do todo ou comunidade máxima, mesmo que, na maior parte dos casos, se fique por proezas à pistoleiro (mas gratuitas e sem fim lucrativo) e mesmo que não conheça outro todo, outra comunidade, que o seu bando.
Ela não sabe mais, porque mais não lhe ensinaram; porque sobre o heroísmo autêntico se cospem as maiores injúrias, e o serviço do todo e da comunidade é classificado de escravatura indigna e ignóbil que bestifica. O mundo inteiro lhe proclama que é perverso imolar uma vida por algo que valha em si e por si, insuperavelmente, na sua própria ideia - e os jovens, assim, matam e dão a vida por nada, sem razão nem sentido. O mundo inteiro lhe proclama que só as pessoas de carne e osso merecem respeito e possuem intrínseca dignidade e não as totalidades que as englobam - e os jovens, assim, entregam-se, por completo, às associações provisórias que formam.
Se a mocidade não pratica o heroísmo verdadeiro e a verdadeira devoção ao todo, não lhe cabe a culpa, mas aos seus mestres e educadores.
António José de Brito
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