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quarta-feira, agosto 31, 2005

ALEVANTANDO A VOZ 

Alguns nossos leitores queixaram-se de que A RUA nos seus últimos números se tinha destemperado em ataques excessivamente violentos ao poder constituído e a gradas figuras da cena política nacional. Muito amavelmente, aliás, foram-nos chamando malcriados, caceteiros, fanáticos, reaccionários, fascistas — e outros mimos quejandos. Calámo-nos: não se pode agradar a toda a gente — e aqui temos em cima da mesa vária e bastante correspondência alcunhando-nos de moles, de conformistas, de repulsivos centristas, de oportunistas, barriguistas e vigaristas, de amesendados do orçamento, de etc., etc., etc.
Nós tentamos, quanto possível, e desde o nosso primeiro número, não cair em exageros. Envolvidos numa guerra fratricida que nos levou tudo, as vidas e a fazenda, tentamos, mesmo assim, cumprir com as convenções sociais — e com o Código Penal. Até agora, sem termos perdido muitos leitores, nem, alguma vez, termos sido condenados em tribunal, conseguimos singrar pelo mar encapelado da política. Mantemo-nos calmos ante as mais desgrenhadas provocações. Aguentámos sossegados toda a sorte de incómodos, dificuldades e perseguições: ontem foi aquele repelente sujeito que — os leitores sabem — pediu um exame inquisitorial aos nossos rendimentos; antes de ontem foi uma mirífica FRA que nos comunica ter-nos condenado à morte; transeontem é o brigadeiro tal que ameaça fuzilar-nos; amanhã ou depois é outra coisa qualquer. Avançamos, mesmo assim. Fazemos o que fazemos, às vezes enganando-nos com a consciência de estarmos bem connosco próprios, com a força de quem sabe honradamente cumprir a sua obrigação.
Subimos de tom por motivos evidentes, basta ter ouvido o nosso bem amado Primeiro-Ministro, o grande educador do povo português. A menos que se vença a crise económica, Portugal, a democracia, a paz militar e civil, o são convívio entre portugueses perecerão. Do que se trata é de salvar Portugal.
Ora não parece que se possa salvar a Pátria com falinhas mansas. Nós não somos dos que vendo falecer a Democracia partirão para o exílio. Havemos de morrer aqui, porque aqui nascemos. Portugal, ao menos para nós, não é um clube de onde qualquer um se «arrisca de» sócio por não gostar dos estatutos: é a nossa terra, a qual — como diria Miguel Torga —, quando um dia nos cobrir, haveremos de conhecer melhor. É nossa; somos nós. Ninguém foge de si próprio sem atentar contra o Espírito, negando-se de raiz, perdendo o ser.
Perante a alocução do Primeiro-Ministro, como poderemos nós manter-nos calmos? Para que Portugal sobreviva, Mário Soares põe-nos como condição segui-lo firme e incontroversamente; para que se não perca a sua democraciazinha, o seu partido, as suas modéstias, o leader socialista exige a nossa confiança. Como o dr. Mário Soares, desde há muitos anos, desde que andou por essas Europas coscuvilhando porcarias sobre Portugal e arregimentando auxílios para Samora Machel e Agostinho Neto, não nos merece a menor confiança, e não será capaz de salvar Portugal — atacamo-lo como quem ataca o inimigo, dele nos defendendo como quem defende a própria vida. Porque é a nossa vida que se defende.
Não podemos proceder doutra maneira, convencidos como estamos que do que se trata não é dum mero confronto de ideologias políticas, dum choque simples e incruento entre forças da Direita e forças da Esquerda; mas trata-se, sim, da própria sobrevivência.
Quem dramatiza é Soares: o Estado está à beira do colapso. Sabendo nós que Soares, ao menos, não tem competência técnica para superar a crise — temos o direito de nos calar? De ser meiguinhos? E bem educadinhos? E muito civilizadinhos?
O nosso indeclinável dever é lutar. Lutando violentamente, lutamos pela sobrevivência de Portugal. Queremos um governo que governe — seja de Esquerda, seja de Direita. Queremos um governo que salve Portugal. Nenhuma das soluções que Mário Soares propõe nos interessa — porque Mário Soares, agindo sempre em termos partidários, faz agora uma política de Direita para salvar eleitoralmente o P.S. e fará amanhã a política contrária caso a conjuntura lho imponha.
Duvidando, não se pode seguir Mário Soares. Portugal está na verdade em perigo de vida porque Mário Soares se instalou em S. Bento, governando-nos ineficientemente. Mais de um mês já se passou desde que tomou posse; durante esse mês não se fez absolutamente nada. Continuou-se a degradar a situação e está à porta a grande ofensiva do P.C., para desestabilizar definitivamente a situação e dar lugar a um governo militar da Esquerda que, servindo em termos estratégicos os interesses da União Soviética, venha a pôr a casa em ordem à maneira faraónica de Nasser.
Como se isto não bastasse para justificar o nosso alevantamento de tom, aí têm os leitores neste número de A RUA, um texto distribuído pelo F.A.O.J. e dedicado aos Direitos do Homem. Atenta-se aí contra o que de mais sagrado os portugueses têm de seu e até transcende a Pátria. Comete-se aí a última das infâmias.
Podemos nós mantermo-nos calmos ante semelhante injúria? Pretende-se já agredir o próprio espírito que nos formou e enformou. Pretende-se hoje ferir-nos no mais íntimo, emparelhando com todas as violências cometidas durante a Revolução Soviética, reeditando o fanatismo anti-religioso dos primeiros meses de I República.
Não nos podemos calar. A RUA, quando veio para a rua, afirmou-se logo como um jornal incómodo. Comprometemo-nos com os nossos leitores em determinado rumo. Neste momento em que, na carne e no espírito, Portugal está em perigo — não deveremos alevantar a voz?
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 24, pág. 3, 16.09.1976)

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O retrato de Soares 

Em 1977 foi publicada na "Playboy" uma entrevista com Mário Soares. Comentando o divertido acontecimento Manuel Maria Múrias publicou na edição seguinte de "A Rua" este pequeno apontamento.

OBRIGADO, PLAYBOY!
A consagração final de Mário Soares carecia prova definitiva. Prova distintiva de todos os grandes políticos modernos: falar ao Playboy. E depois do galardão dos «direitos humanos» e do doutoramento «honoris causa», Soares acaba de averbar esse complemento curricular.
Soares abriu-se ao Playboy. Dúctil e hábil político no enfrentamento de jornalistas, este primeiro-ministro que temos desinibiu linguagem e preconceitos, amoldou-se perfeitamente ao estilo bunny.
Compondo o pompom felpudo do traseiro e repuxando os pavilhões de feltro, Soares debuxou, pela primeira vez, o auto-retrato.
«É difícil falarmos de nós próprios» (espelhinho, lindo espelhinho...), «penso que sou um homem normal» (deixá-lo pensar, deixá-lo, ó Maria, diz àquela cotovia que pense mais devagar), «com uma certa coerência moral e política» (essa não!)... «sinto-me perfeitamente à vontade em ser tal como sou» (burguês), «nunca tive qualquer espécie de gosto pelo obreirismo» (isso do boné e da camisa à pescador da Póvoa é só para o Lopes Cardoso), «amo a vida e estou contente com a vida que levei até agora» (pudera!), «amo os homens em geral» (...) «as mulheres bonitas em particular» («la belle Marie Barroso»), «e sobretudo as crianças» (e as danças e contradanças, ai! Fernando Pessoa), «gosto das conversas que vão pela noite fora» (ah! aquele comício nos E.U.A.), «gosto de comer» (hum...), «gosto de viajar» (hum?!...), «gosto de arte» (para aí, sim!), «gosto sobretudo da pintura» (lá isso é verdade), «para as quais aliás sou mais dotado do que para a música» (deixe lá, que diabo, também não se pode ter tudo), «quando era jovem pensei mesmo que poderia vir a ser escritor» (oh, lamentável frustração vocacional), «passo por ter uma certa coragem quando comparado com outros portugueses» (esta é para o Pereira de Moura, na certa), «sinto-me à vontade no quotidiano e por isso adapto-me facilmente às condições de momento» (para nossa desgraça, para nossa desgraça...)

Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 66, pág. 1, 07.07.1977)

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ACABEMOS COM ISTO! 

Isto é a cobardia democrática. Isto é o preconceito democrático. Isto é a vermina democrática.
A Democracia afoga-nos, subverte-nos, arruina-nos, envenena-nos. Diante dela, a sociedade portuguesa está tolhida, vencida, sucumbida e morta — para toda a energia sã, para toda a acção salvadora. A República? Não. Não é bem a República que nos mata: é a Democracia. A Monarquia? Não será a Monarquia que nos salvará, se vier aliada à Democracia. Porque a Democracia é a antecâmara da Anarquia. A Democracia é a legalização da Desordem, é a organização do Tumulto. A Democracia é a lógica, às avessas; é o regime da Multidão, do ninguém se entende, do tudo doido. A Democracia é contra a Pátria, depois de ser contra a Família, depois de ter sido contra Deus. A Democracia é o caos.
A sociedade portuguesa sofre do uso e do abuso da Democracia. Deixaram-se corromper por ela todas as classes, todos os partidos, todas as categorias. A onda democrática bate o seu pleno — desde as mais altas esferas intelectuais até às mais baixas camadas populares. Por isso, a sociedade portuguesa se encontra na fase mais crítica da sua existência, fugindo do poço da lama para que a Democracia a arrasta para ir cair no lago de sangue para que a Democracia a atrai.
Todos os aspectos singularmente doentios que a sociedade portuguesa apresenta ao observador, têm uma origem: a corrupção democrática, a tendência democrática, o preconceito democrático, a sugestão democrática.
As castas aristocráticas finam-se por esterilidade. As massas democráticas diluem-se em grosseria e sangue.
A Democracia é a mistura, a mestiçagem, a confusão, o tumulto.
Não se confunda Democracia e Povo, não se confunda Aristocracia e Brasão. Porque no Povo, há aristocratas — os espíritos de eleição que olham o Céu e as Estrelas; entre os brasonados, há democratas — os que descem os olhos para as sarjetas sociais e se comprazem com os contactos lamacentos e repugnantes.
Aquele homem do povo que se lava e procura distinguir-se da arraia em que viveu, pelas maneiras e pelas acções, buscando, na cultura dos seus sentimentos, compensação para a humildade e anonimato da sua origem — esse é um aristocrata.
Aquele filho d`algo que esquece os feitos de heroicidade física ou moral dos seus maiores, para se deliciar no convívio dos mais lastimáveis tipos da baixa fauna social, e se degrada, e se arrasta até se confundir com eles — esse é um democrata. Entre um parvenu de salão e um parvenu de taberna — ah! Senhores, não hesitemos. O primeiro pode dar-nos a impertinência que irrita. Mas o segundo dá-nos a degradação que arrepia. E dos dois, só o segundo é produto da Democracia.
Não há dúvida nenhuma que nós estamos sofrendo uma profunda crise de inteligência — crise de origem democrática. Não há reflexão; não há raciocínio; não há cultura; não há respeito pela inteligência. Há mais alguma coisa, que é muito pior: há um ódio, oculto, por ora, à inteligência. Que processo adoptou a Democracia para conseguir triunfar no seu assalto à inteligência? O mais infame: fingindo-se defensora da inteligência. Ora se há inimiga da inteligência, por natureza, pela sua própria substância, — é a Democracia, o nivelamento, o repúdio de todos os Heróis, de todas as Personalidades, de todos os Eus.
O sintoma mais típico do domínio da Democracia, e por outro lado, a revelação mais clara do seu carácter — temo-la aí nesse culto do Soldado Desconhecido, do Anónimo, do Ninguém, em detrimento do culto devido aos generais responsáveis, sobre quem cairiam todas as afrontas e todos os vexames, todos os insultos e todos os castigos, no caso de uma derrota, e a quem negam todas as homenagens, na hipótese realizada do menor mal possível. E toda a gente se acobardou diante da vaga anárquica, e consagrou a mais demolidora das orientações!
Às vezes, mesmo antevendo a catástrofe para que nos encaminhamos com aquela fúria singular de quem tem medo de não chegar a tempo, sorrimos de desdém, ouvindo a gritaria, a choramingaria, os protestos, os discursos, as ameaças, as reclamações, que surgem nos jornais, nas representações, nos parlamentos, nas salas, nas ruas, em toda a parte. Porque tudo isso, gritos, choradeiras, protestos, discursos, ameaças, reclamações, — é poeira vazia, é linguagem de papagaio, e tolice... Gritam, protestam, contra o assassinato e o roubo, contra a injúria e a calúnia, mas fazem muralha, quando alguém, audaz, se ergue contra a origem do assassinato que os aflige, do roubo que os amedronta, da injúria que os vexa e da calúnia que os irrita.
Acabo de percorrer a maior parte dos comentários que se fizeram ao acontecimento trágico de quarta-feira passada, em que um agente da ordem pública e social sucumbiu às mãos de um inimigo da mesma ordem, — acontecimento que se deu no mesmo dia em que pela terceira vez se adiou o julgamento de outro inimigo da ordem social. Palavras, palavras, palavras — e nem um conselho positivo, e nem uma solução positiva! Tocar na arca santa da instituição do júri criminal? Pedir a instituição dos processos sumários militares? Esquecer tudo, tudo e obrigar o Governo a defender a Ordem, e impôr a Ordem, com a Constituição ou contra a Constituição, com o Parlamento ou contra o Parlamento, com a Lei ou contra a Lei? Credo! Seria magoar a Democracia. Seria ofender a Democracia.
Diante de uma casa a arder, não se discutem teorias: apaga-se o fogo, a bem ou a mal. A sociedade portuguesa está a arder. Acudam-lhe enquanto é tempo. Arrumem para o lado os incendiários ou os coniventes, encontrem-se eles onde se encontrarem, — no Parlamento, nos jornais, nas Secretarias, nas ruas e nas alfurjas — e salvem isto da derrocada!
Alfredo Pimenta
(In Acabemos com Isto, «A Época», n.º 1749, 01.06.1924, pág. 1)

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OS NOSSOS MORTOS 

«...Do seu sangue de mártires se alimenta a nossa esperança, no seu exemplo nobre se caldeia a nossa fé. De olhos postos no horizonte longínquo onde se preparam e se esboçam as linhas do Futuro, ouvindo o ritmo apressado das gerações moças que chegam cheias de entusiasmo e de ardor, nós, os que ainda não tombamos no campo que a metralha tem varrido, ou a desventura tem perturbado, ou a morte tem invadido — nós fieis à fé livre e ousadamente jurada, temos a certeza de que o cativeiro da Pátria terminará, porque no sangue que ensopa a terra, eternamente vivo para a nossa saudade, germinarão, lindas e poderosas, as flores da vitória resgatadora.
A hora suprema da libertação definitiva há-de chegar. Quando? Perscruta a gente a neblina, à procura dos sinais precursores. Quantas miragens que se desfizeram! Quantas miragens que hão-de esvair-se! Não importa!
Os nossos mortos, aqueles que se foram de olhos cravados na Bandeira que é de todos nós, porque atravessou, nos tempos modernos, o sonho epopeico do nosso império africano, Bandeira em que se amortalharam os que nas terras ultramarinas fundiram em bronze o nome sem par de Portugal; os nossos mortos, aqueles que caíram sem deixarem cair das mãos ou a espada do comando, ou a pena de escritores, ou a arma de combatentes; os nossos mortos que formam já alicerce sobre que se há-de erguer a fortaleza invencível — esses mandam-nos que persistamos na luta, para que possamos ser dignos do seu carinho e do seu auxilio sobrenatural.
Eles, de longe, como sombras, aguardam-nos, que a nossa hora é fatal. Esperam que todos nós, ao chegarmos junto deles, possamos dizer, com legítimo orgulho: cumprimos! E será essa a grande, a verdadeira homenagem que eles aceitarão...»
Alfredo Pimenta
(In Os Nossos Mortos, «Gil Vicente», nº 1/2, pág. 13, 8.º vol., Janeiro/Fevereiro de 1932)

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SOBRE SALAZAR 

«...É, na verdade, uma hora nova, esta hora que estamos a viver.
Devemo-la, de modo especial, a um homem: a Salazar, encarnação de Princípios, de Ideias, de Doutrinas que o Portugal legal de há um século ignorou, embora no Portugal real não faltasse quem lhas proclamasse.
Um dos grandes e imortais serviços prestados a Portugal por Salazar consiste numa coisa de que só os verdadeiros Homens de Estado são capazes: fazer das circunstâncias instrumentos úteis das suas ideias.
Chamado ao poder para sanear as Finanças públicas, Salazar não se limitou à missão de que o tinham encarregado; foi muito mais além: meteu ombros à tarefa difícil de limpar a Nação das mazelas revolucionárias, restituindo a Nação à própria Nação. Nesse trabalho anda empenhado. Trabalho gigantesco, porque o peso morto das resistências passivas, dos egoísmos interesseiros, do incivismo das chamadas élites, da incompreensão e da estupidez das massas, da influência deletéria das forças ocultas, é enorme, e bem poucos são os que vêem para além das fórmulas do presente, necessariamente transitórias, as bases estáveis que o Futuro reclama.
Dá-me Salazar a impressão da voz do que clama no deserto. À audácia silenciosa do seu pensamento, responde a cobardia, a timidez, o gaguismo dos que deviam acompanhá-lo, animá-lo, estimulá-lo e facilitar-lhe o terreno por onde tem que andar.
Alfredo Pimenta
(In Infantas de Portugal, «Gil Vicente», vol. XVI, 1940)

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terça-feira, agosto 30, 2005

Valor acrescentado 

É sempre com satisfação e orgulho que encontro em linha material que representa mais valia para a causa da inteligência e da cultura nacionais. Autores e trabalhos estimulantes e originais, críticos e irreverentes, destacando-se do papaguear mecânico de slogans alheios a todo o pensar que vemos exibir por aí.
A subversão e o sobressalto, a insubmissão criadora - têm que ser apanágio dos arautos de uma nova idade.
Depois, o trabalho obstinado e tenaz é que pode fazer um bom blogue.
Quem nada tem nada pode dar.
Termino com o elogio dos mais recentes escritos de uns bloguistas que notoriamente sabem ler e escrever, e por acréscimo, para além de apresentar trabalho, até pensam: Santos da Casa, Combustões, Santarém Nacional, Braga Nacional.
Destaco agora estes quatro, mas graças a Deus há mais. Embora se deva dizer em abono da verdade que são poucos. São mesmo muito poucos. Portugal, este deserto de vozes portuguesas em que vamos estiolando, precisa de muitos mais.

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Tolerância 

«...A tolerância é filha do cepticismo. Quem não se bate por uma ideia é que não crê nela; quem não age por um sentimento, é porque não sente a acção deste.
Crer que se possui a Verdade implica necessariamente a repugnância formal por quem a não possui, e a reacção integral e efectiva perante qualquer afronta que se lhe faça.»

Alfredo Pimenta
(In «D. João III - A Inquisição», pág. 164)

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Citações de Alfredo Pimenta 

«... Admirável coisa esta de defender causas vencidas, homens vencidos, sobre que as vagas alterosas da Vitória passam, altaneiras e invencíveis! Com essa defesa, não se colhem bens, nem louros; colhem-se antes desgostos e lágrimas. Mas fica-nos a consciência tão límpida como a água que brota de rocha virgem.»
(in «Três Verdades Vencidas - Deus - Pátria - Rei»)

«... De pé, olhos bem abertos, face ao Inimigo, unidos em bloco firme, os dentes cerrados, resistir, combater até à morte, na defesa do Património sagrado que herdamos, para, ao menos, salvarmos a honra do nosso nome.
Descer as pontes da fortaleza - jamais!»

(in «Palavras à Juventude»)

«... Eu fui republicano por princípios filosóficos e por determinações dos factos políticos. Eu fui republicano, porque as duas razões convergiam: se elas fossem antagónicas, isto é, se os factos contradissessem os princípios, ou estes aqueles, eu não teria sido republicano. E eis a razão porque, na hora em que esses dois motivos entraram em conflito, eu deixei de ser republicano... Teoricamente, filosoficamente, eu aspirava a uma ditadura-republicana, isto é, a um regime em que as funções presidenciais estivessem elevadas ao máximo. Presidente vitalício e responsável perante um Alto-Tribunal constituído pelos representantes supremos do Espírito, do Sentimento e da Acção da nação portuguesa; ministério dependente só desse Presidente; comissões técnicas consultivas funcionando junto dos vários departamentos do Estado; o Parlamento, representando não correntes políticas ou facções partidárias, mas sim os interesses económicos da Nação, limitado a discutir orçamento e matéria tributária; o Exército servindo de modelo para a vida nacional - eis, meu caro amigo, as linhas gerais da minha teoria republicana, que nas minhas conferências e nos meus artigos de jornal sempre expus, tanto quanto mo permitiam os interesses da causa política que todos servíamos. A revolução republicana devia ser o dispersar de uma oligarquia e a entrega da Nação a si própria.
Eu via que o regime não só colaborava, por intermédio dos seus partidos da oposição, na obra de dissolução nacional em que os revolucionários andavam empenhados, mas também a permitia, com uma brandura e uma cegueira inconcebíveis, por intermédio dos seus próprios governos. O que desprestigiou a Monarquia foi, principalmente, a sua transigência. Há muito tempo que ela abdicara.
Foi assim que me fiz republicano...»

(in «Carta a um Monárquico»)

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segunda-feira, agosto 29, 2005

Tradição e renovo 

«...Uma nação só existe quando há Tradição, quando há História. A negação sistemática em que vimos vivendo destrói a Tradição, destrói a História: logo, destrói a Nação. Os povos vivem do Passado. Negar o Passado é um suicídio. Este povo, o povo português, não se levanta pelo cepticismo negativista. Só será possível erguê-lo, injectando-lhe princípios orgânicos, alterando-lhe por completo a orientação em que vai, despertando-lhe intensivamente os seus elementos tradicionais, aquilo que ele tem, como todos os povos, de fundamental, de básico, de estrutural. O primeiro efeito do negativismo sistemático é a ruína do princípio da Autoridade. O primeiro do sistemático construtivismo, é o engrandecimento, o prestígio deste princípio. O nosso mal fundamental é, como já disse, a Anarquia. Ela filia-se no negativismo que tem sido o único sistema da nossa existência.
É preciso afirmar. Evidentemente que não me refiro à casta dominante, incapaz, por deficiência própria, de outra coisa, que não seja demolir. Dirijo-me aos que por uma má compreensão dos factos e das situações se têm deixado levar na corrente, pedindo-lhes que fixem aquele preconceito que Augusto Comte arvorou em lei: on ne détruit que ce qu`on remplace. Edifiquemos, primeiro, o que há-de substituir o defeituoso e depois destruamos então o que é mau. Há cinquenta anos que temos andado na fúria do bota abaixo. E que erguemos nós? Que edificámos nós? Mentiras, mentiras e só mentiras. A vida política, a vida social, a vida económica, a vida financeira, a vida mental deste pobre país, é um conjunto de mentiras e mistificações.
É mentira a democracia, a liberdade, a fraternidade; é mentira o parlamentarismo, a independência dos poderes, a soberania nacional; é mentira a família pervertida pelo divórcio; é mentira a propriedade, assaltada por atributos arbitrários; é mentira a educação, inspirada nas campanhas nefastas de uma imprensa medíocre; é mentira a nossa riqueza, estagnada ou rotineira; é mentira a nossa ilustração feita de farrapos dessas doutrinas, ministrada por professores quase sempre - burocratas sem paixão pelo seu mister, inutilizando, assim, os esforços sadios de uma minoria por demais conhecida - a nossa ilustração que, em vez de técnica, é livresca, em vez de criar utilidades sociais, cria bacharéis decorativos.
Não me perguntem se ainda vamos a tempo de vencer a onda que se desencadeou. Não curo disso. Tratemos de, com tempo ou sem tempo, fazer frente à tempestade. Eu não sou obrigado a triunfar das minhas afirmações: mas sou obrigado a formulá-las, para que outros oiçam. Falo para os que estão comigo e para os que estão do outro lado - para que todos iniciem a acção construtiva, orgânica, positiva, absolutamente indispensável para o levantamento da Nação. Pode ser que, por tardia, ela nada consiga já. Mas temos a certeza de que continuando na orientação dominante - espera-nos a morte.»
Alfredo Pimenta
(In «Novos Estudos Filosóficos e Críticos», págs. 120 a 122)

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Mocidade 

«...Mocidade inocente e cheia de fé, para ti apelamos nós a quem as duras realidades da vida enfraqueceram o ânimo e entristeceram a alma. É da tua acção, do teu entusiasmo, da tua boa-fé, da tua energia que esperamos o resgate da Pátria. Não que a bandeira sagrada da terra portuguesa em nossas mãos esteja em mãos fracas ou cansadas. Mas a obra que passa é a hora torva das indecisões, é a hora materialista dos apetites. Há arestas que ferem, há obstáculos que intimidam. Tu, sim, mocidade, inocente dos nossos pecados, sem responsabilidade nos nossos erros, tu, sim, és tu que estás em condições admiráveis, para poderes efectuar o resgate da Pátria.
Tu não temes, tu não hesitas, tu não fraquejas. O teu sangue é vivo, a tua voz clara, os teus nervos resistentes. Trazes na alma a fé suprema, em Deus, e nos olhos a luz perene da esperança forte.
Tu sabes querer, mocidade, e a salvação de Portugal é um problema de vontade.
Rezas e queres - como o Condestável na hora ardente da batalha decisiva.
Dá ó mocidade portuguesa, aos avisos da nossa Experiência, os estímulos da tua Audácia!
Dá, ó mocidade portuguesa, à complexidade das nossas preocupações, a luminosa virilidade da tua fé!
Dá, ó mocidade portuguesa, às nossas receosas decisões, a alegria da tua decisão!
Dá, ó mocidade, aos nossos sobressaltos pessimistas, o vigor da tua crença!
Ama com grande amor Deus, ó mocidade!
Ama o teu Rei, ó mocidade!
Ama a tua Pátria, ó mocidade!
Olha no fundo das Idades a glória dos Antepassados.
E sê heróica, e sê nobre, e sê bem portuguesa no teu amor a Deus, ao Rei e à Pátria.»

Alfredo Pimenta
(In «As Bases da Monarquia Futura»)

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Nacionalismo e democracia 

«É possível que o meu Nacionalismo seja exagerado.
Mas com esse pecado morrerei - e sem contrição. Porque fui sempre e sou incapaz de me fazer com inimigos da minha Pátria. Que os do Nacionalismo temperado, os do Nacionalismo pesado, medido, contado e neutro entrem em combinações, arranjos e tranquibérnias; eu, não. A minha Pátria acima de todas, e acima de tudo.»

(In Outra Vez Maritain,«A Nação», n.º 97 de 03.01.1948)

(...)«Fui sempre anti-liberalista e anti-democrata.
Não sou monárquico constitucional, antes me sinto cada vez mais reaccionário. Sou monárquico maximalista. Estou na extrema-direita da extrema-direita: à minha direita não fica ninguém.»

(In «A Questão Monárquica», pág. 22, 1920)

«...Não era preciso que o sr. Faguet viesse dizer que as democracias, na concepção sua vulgar, corrente e geral, levariam à vitória da mediocridade e constituiriam o culto dos incompetentes.»
***
«...As tendências oligárquicas nas democracias são claras demais para que seja preciso perdermos tempos a demonstrar que sem aristocracias ou élites o progresso social é impossível.»

(In Aristocracias, «A Ideia Nacional», nº 12, pág. 363, 24.04.1915)

Alfredo Pimenta

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domingo, agosto 28, 2005

Braga Nacional 

Em novo e importante reforço para este trabalho crucial de construir uma vasta rede de órgãos de informação, mobilização, doutrinação e propaganda na internet, surgiu o Braga Nacional.
Um blogue que se deseja e espera que venha a constituir um polarizador e dinamizador da militância nacional em toda a região do Minho.
É um bom exemplo, a seguir noutras zonas e localidades do país. Pensar globalmente, agir localmente - um bom lema a ter em conta nesta tarefa.
O que é preciso é persistência e continuidade no trabalho. Ter ideias, e ter a tenacidade e o talento para lutar por elas todos os dias.
Só são vencidos os que desistem.

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O PLEBISCITO 

«...Os monárquicos são contrários ao Plebiscito. Pode haver um ou outro monárquico que, desconhecendo a Doutrina de que se diz portador e a natureza doutrinária do Plebiscito, se deixe seduzir pela superstição plebiscitária.
Mas os monárquicos não. Os monárquicos, porque são monárquicos, não podem acolher um princípio que é estruturalmente contrário à sua Doutrina.
Para os monárquicos, o Poder vem de Deus e a Forma de governo, condiciona-a o Interesse nacional. Este não é momentâneo: é permanente, e forma-o a existência colectiva desde as suas primeiras horas. Na Doutrina monárquica há uma parte extraída da Razão, a que poderemos chamar metafísica, e uma parte saída da Experiência, a que podemos chamar positiva. Essas duas partes aliadas, fundidas, integradas, dão a Doutrina monárquica.
A parte metafísica ensina que melhor governa um, que muitos, e que a pluralidade do comando é tão estéril quão fecunda a sua unidade. É isto que mostra a Razão. E que nos ensina a Experiência?
Essa ensina-nos que não há comparação possível entre a Monarquia e a república, sob o ponto de vista do Interesse nacional; ensina-nos que os Povos nascidos e criados e desenvolvidos sob a forma republicana, entram no caminho da desorganização e da dissolução.» «...Ensina-nos ainda a Experiência que o Interesse nacional é o conjunto de determinados objectivos, os quais só podem ser melhor ou pior alcançados quanto maior ou menor fôr a ordem pública, a tranquilidade pública, nos espíritos e na rua, - e que a república sendo, por definição, o regime dos Partidos e das Opiniões, é implicitamente o regime da desordem e da guerra civil. Ensina-nos ainda a Experiência que nas horas graves dos Povos, tudo quanto signifique regime de partidos e opiniões, é posto de parte, a não ser que se queira morrer.»
«...Para nós, monárquicos, o Poder vem de Deus, e a Forma de governo, repito, é condicionada pelo Interesse nacional. Este, nacional e experimentalmente, isto é, metafísica e positivamente, implica a forma de governo monárquica.
Por outro lado, para nós monárquicos, se o Poder vem de Deus, o poder do Rei é de origem histórica. O Rei é Rei por direito histórico, por força da hereditariedade, que é, de todas as formas de transmissão de poderes, a melhor, porque é a mais suave, a mais fácil, a mais rápida, e a mais conveniente. O Rei não é Rei porque nós queremos: é Rei porque ao Interesse nacional convém que o seja - garantida assegurada, revelada essa conveniência pelo decorrer dos séculos.
O Interesse nacional é, como eu disse já, o conjunto de determinados objectivos: o objectivo religioso, o espiritual, o material. É o chamado Bem comum. Este Bem comum não depende do Sufrágio, nem a sua legitimidade está ligada à maioria das vontades.
Se a maioria da Nação quiser envenenar-se, se a Nação inteira quiser envenenar-se ¾ o suicídio não é o Bem comum. O Bem comum é o fim que Deus nos criou; é a realização da determinação divina.
Não é Bem comum o que a maioria quer; é Bem comum o que o Dever formula. A forma de governo de um Povo não depende, assim da sua vontade: depende, sim, da sua melhor ou pior adaptação ao cumprimento do Dever, à realização do Bem comum, a serviço do Interesse nacional.»
«...O Plebiscito é um sistema puramente republicano, democrático, liberalista. Repoisa no Voto, no Sufrágio, na Mistificação.
Quando os republicanos dizem que nós, monárquicos, queremos o Plebiscito, os republicanos mostram desconhecer as doutrinas monárquicas. O monárquico plebiscitário não é monárquico; é republicano.
O Plebiscito é o absurdo. Suponhamos que amanhã se realizava o Plebiscito em Portugal; e que eram seis milhões de portugueses a decidir. Já aqui se vê a deficiência de tal sistema. Porque haviam de votar só os seis milhões de portugueses continentais? Porque não as Colónias? Porque não as colónias de países estrangeiros? Mas fixemos a população portuguesa votando cinco milhões. E admitamos que três milhões mais um indivíduo se decidiam pela república; e três milhões menos um indivíduo eram pela Monarquia; e admitamos que precisamente aquele um indivíduo que pesou no prato da balança e o inclinou para a república era um penitenciário, um bandido? Era lícito sujeitar a Nação ao voto do bandido? Dar-lhe, impôr-lhe o regime político que o bandido preferiu?
Se nós, monárquicos, aceitássemos o Plebiscito, e se este desse (com que legitimidade? com que autoridade? com que processos?) a República - ficávamos inibidos para todo o sempre de reclamar a Monarquia, portanto, de defender o sistema de governo tradicional, normal e conveniente. E, por outro lado, se as pessoas de hoje tinham decidido pela república, por maioria, quem podia impedir as gerações que não tiveram voto, de o exigirem amanhã? E aqui andávamos nós num sistema de Plebiscitos sucessivos.
Sete séculos da História de Portugal foram um Plebiscito bem eloquente: a Nação formou-se, o Estado organizou-se, à sombra da Realeza, a qual, pela Espada ou pela Inteligência, serviu o Bem comum, o Interesse nacional. Nós monárquicos, não admitimos discussões sobre a legitimidade da Monarquia. Por isso não queremos o Plebiscito que seria dar à Mistificação foros de legalidade. O sr. general Gomes da Costa para assumir o Poder íntegro, não se sujeitou ao Plebiscito: desembainhou a espada, e tomou conta do Poder: e assim é que é. Serve o Interesse nacional? O facto tornar-se-á legítimo. Porque depois da origem divina do Poder, é o Interesse nacional que temos de encarar para se julgar a legitimidade de quem o desempenha.
Alfredo Pimenta
(in O Plebiscito, «Acção Realista», nº 63, pág. 2, 29.06.1926)

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Por um nacionalismo ecologista radical 

Nasceu um novo site: Via Natura.
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Erros modernos 

Partidarismo
«...Na imprensa governamental, aparece a distinção imbecil de bons e maus partidos, de partidos honestos e partidos desonestos. O que há é Partidos. E todos os Partidos são maus, porque eles provocam a desorganização nacional.
Partido quer dizer interesse particular sobreposto ao interesse geral, quer dizer introdução no Estado de um elemento corrosivo do próprio Estado.
Substituir um partido por outro é substituir um mal por outro mal. (...) Distinguir entre partidos é fazer obra partidária.»
Afirmam-se contra todos os partidos? Muito bem. Afirmam-se contra um e não contra outros? Muito mal.»
«...O regime dos Partidos é uma calamidade. Foi ele que arrastou a Europa inteira à situação anárquica de que ela quer, agora, libertar-se, organizando-se à margem dos Partidos.
Os Partidos põem a Liberdade acima da Ordem. Os regimes da opinião têm o culto da Liberdade. As Nações exigem que acima da Liberdade esteja a Ordem, e que se tenha o culto da Ordem.»

Igualitarismo
(...) «O regime das castas que fez a grandeza dominadora de tantas civilizações, grandeza que as civilizações modernas, viciadas de igualitarismo, de democratismo, de degradante mestiçagem, de babelismo, jamais atingirão, o regime das castas é uma das fundamentais condições de ordem e de prosperidade positiva.»

Ideologismo
(...) «O erro profundo (e não lhe chamamos crime, por acreditarmos nas boas intenções de alguns) o erro profundo dos ideólogos do século XVIII que espalharam pela Europa a anarquia política, com a criação do constitucionalismo democrático que foi o mais lamentável dos falseamentos da função real, - o erro profundo desses homens consistiu em suporem possível um povo formado de um momento para outro, vivendo sem as raízes que o ligavam ao Passado, à Tradição dezenas de vezes secular, vivendo independente da modelação que à sua alma tinham dado os esforços naturais, espontâneos, de gerações sobre gerações. Foi esse erro que nos perdeu. Foi esse erro que tornou possíveis todas as conflagrações internas dos povos, e essa hecatombe sem igual que, desde 1914, está ensopando em sangue parte da Europa.»

Alfredo Pimenta

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PARLAMENTARISMO 

(...) «Esperar que uma multidão já de si inferior e mais inferiorizada ainda pela sugestão de meneurs sem ciência e consciência, fazendo do surencherismo processo sistemático de propaganda, esperar que essa multidão pervertida e desorientada possa escolher figuras superiores para a alta e grave função de legislar que requer não só um positivo conhecimento da Ciência Social, mas também uma ponderação, uma reflexão, um critério que só em raras criaturas se encontra, é uma ilusão tolerável aqui há um século, absolutamente démodée nos tempos de hoje. Não são os incompetentes quem está apto a escolher os competentes. Isso é a subversão da ordem, nos seus mais fundamentais elementos. E essa situação ilógica, só a instituição parlamentar podia consagrá-la. Não são aqueles que precisam de quem os dirija que estão em condições de escolher quem melhor possa executar essas funções dirigentes. Isto é óbvio. A interferência dos cidadãos na vida pública do seu país deve, pois, efectuar-se no exercício da vida municipal, deixando as superiores funções de direcção central e geral a uma restricta e fechada categoria de cidadãos, isto é aos elementos representativos das corporações espirituais, morais e activas. Tudo quanto seja contribuir para uma mais perfeita hierarquização - é contribuir para o progresso social, para o progresso da civilização. Nivelar, confundir, é estagnar. E se há prova concludente das consequências nefastas da pantanização (deixem passar o tempo!) do meio social - é a instituição parlamentar.
A corrupção dos costumes políticos deve-se principalmente, às exigências das necessidades eleitorais.
Só é forte um governo que não precise de andar a transigir com as flutuações da opinião, isto é um governo que em vez de governado tenha por missão governar, isto é canalizar, aproveitar, dominar. A opinião é instável. Governos instáveis são governos estéreis. A opinião parlamentar, quando não é uma mentirosa aparência, é a imagem da opinião das ruas. Instável, estéril, anárquica como ela.»
Alfredo Pimenta
(in «Nação Portuguesa», n.º 3, pág. 71, 1914).

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sábado, agosto 27, 2005

UNIDOS E AVANTE! 

Um dos grandes males da acção nacionalista, uma das doenças que mais nos corroem e uma das armas que nos destrói mais eficazmente, tem sido o divisionismo. Ele é um espírito diabólico, já que Diabo significa precisamente «o que divide», em oposição ao Espírito de Deus que é unificador. As artimanhas diabólicas segredam, inspiram, acicatam e agitam pequenas divergências, feridas de amor próprio, plumas de vaidades, ardores de ambições, rigores de puritanismo, particularismos de critério, gregarismos de capela, invejas, despeitos, mágoas, desconfianças, intrigas.
Exerce-se aquela observação que a ironia popular exprime assim: «Pica-me, Pedro, que a minha mãe está no rego...» E vamo-nos agravando uns aos outros, num jogo de pingue-pongue, crescentemente incompatibilizador.
É tempo de vencermos este inimigo interno. Ultrapassemos as nossas divisões. Esqueçamos velhas ofensas. Apaguemos motivos de discórdia. Somos diferentes por temperamento, por estilos, por gostos. Temos defeitos, uns mais, outros menos, uns estes, outros aqueles. Somos humanos, também nas nossas fraquezas e nos nossos erros. Não nos atiremos pedras, mutuamente, e, mesmo que cada qual se julgue melhor, saiba, por generosidade, por compreensão, por sacrifício à utilidade geral, perdoar e calar e esquecer. Não transformemos em ódios sectários as nossas querelas pessoais e os nossos motivos privados, não os carreguemos de forças ideológicas; porque nascem, às vezes, oposições doutrinárias exactamente dessas lutas entre indivíduos ou entre grupos, na exploração especulativa de uma justificação.
Não se poderá, é claro rasoirar todos a uma concordância e igualdade absolutas. Nem se exige que desapareçam aparentamentos e agregados por amizades ou por particulares interesses comuns ou por tonalidades especiais na visão das realidades e dos problemas. Pretende-se é que, para além de tudo isso, exista e se exerça uma acção unida, um apoio recíproco, uma solidariedade com base na doutrina que todos defendemos, na fundamental atitude perante o mundo, e com fito de vitorioso combate contra o inimigo, de eficácia na instauração da Nova Ordem: justiça social, prestígio da Hierarquia, da Autoridade e do Estado, culto da Fidelidade, integramento da realização pessoal no corpo do Bem Comum, defesa da Europa e da Civilização Ocidental, na contribuição de todos os povos para o progresso humano, da raça humana, na harmonia e conjugação das raças, do nacionalismo, na construção da unidade e no amor da universalidade.
Neste momento, lançamos um apelo, e desejaríamos que fosse como um toque de clarim. Chamamos todos a uma colaboração unívoca, a um serviço convergente, na medida das forças, méritos e especialidades de cada um. Seja este jornal um ponto de encontro e um revigorador de energias, possa esclarecer e informar, dinamizar esforços e conduzir a luta. Apuremos a vigilância, acendamos o entusiasmo, mantenhamo-nos juvenilmente vigorosos e criadores, pela autocrítica às deficiências e pela renovação constante. Contra a rotina, contra o acomodamento, contra o desânimo, contra a tecnocracia e o burocratismo, contra a transigência, contra o amen-amen e os penachos e o divisionismo, — saibamos erguer-nos e fazer verdade esta condição de vida: a Revolução Continua!
Goulart Nogueira
(In Agora, n.º 319, págs. 1/11, 26.08.1967)

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NÓS OS VENCIDOS 

No meio da desorientação que convulsiona o mundo, temos de nos manter lúcidos e firmes, combativos e cheios de fé. De vez em quando, o desânimo ou o cepticismo assaltam-nos, ao vermos que tantos esforços ficam incompreendidos e gorados, ao sentirmos que a nossa actividade é repelida ou aperreada, até por responsáveis e por gentes de uma coisa a que chamam direitas, ao verificarmos o esmagador potencial dos inimigos, desde o domínio político e económico, até nos meios de propaganda — e tudo isto no nosso país e pelo globo além.
No entanto, a nossa fé e a nossa vontade, o imperativo do dever, a fidelidade indomável, a consciência da justiça, o amor da verdade, impelem-nos a continuar, devem ser as bases e o propulsor da esperança, uma ardorosa alegria juvenil.
Não podemos desistir nem trair. Não podemos acomodar-nos nem degenerar. Não podemos submeter-nos nem envenenar-nos bebendo enfeitiçadas ideologias adversárias.
A primeira condição de triunfo, é o exame das nossas posições, inventariando e revivificando a nossa doutrina, definindo-lhe as suas formulações, reerguendo-a como bandeira orgulhosa e como arma eficaz. Apanhados no torvelinho destes endoidados tempos, quase ficamos, às vezes, entontecidos ou anestesiados, chegamos a estar perplexos ou iludidos, sofremos um pouco do ópio e do veneno de propagandas insistentes. A cura reside num apelo à consciencialização, e num relembrar e aprofundar das nossas ideias, e no exercício, em comum, do nosso combate.
A realidade é que fomos vencidos, não nos iludamos. Apesar disso, nem estamos convencidos nem desistentes. A nossa hora há-de chegar. E a hora de hoje é a de resistência, de recuperação e procura de desforra.
Fomos vencidos. Tripudiam, por toda a parte, a democracia e o comunismo, os nossos inimigos de ontem e de sempre, mais ou menos descobertos, mais ou menos disfarçados, mais ou menos virulentos, mais ou menos manhosos ou tirânicos, dulcorosos ou arrogantes. Não nos esqueçamos. Fomos vencidos.
A doutrina é a mesma, porém. A verdade é a mesma, sem jaça. Tal o seu alcance luminoso, acutilante, tal a comunicativa expressividade da sua língua de fogo, tal o vigor do seu braço, tal a reserva alimentícia do seu campo, que todos os dias, a todo o momento, por todas as formas, os inimigos se empenham em desfigurá-la. Eles dizem que é uma ultrapassada mentira. Eles dizem que está morta e abandonada, que só a violência a manteve, que os povos não a querem mais. Eles dizem que os seus defensores e porta-estandartes são fantasmas, são defuntos odiados. Mas esses dizedores não descansam e, com fúria e constância alarmada, insultam os fantasmas, caluniam os vencidos, obrigam os seus defensores a calarem-se, montam gigantescas máquinas para destruir a ansiedade que, nas gentes, sobe a procurar, neste abismo nocturno, a perdida luz.
Fomos vencidos. Nenhuma das grandes potências de hoje incarna a justiça e defende a doutrina sã. Nenhum grupo de estados é, para nós, o bloco condutor. Os partidos influentes, as ideologias dominantes limitam-se a paliativos ou avançam à propagação do erro.
A nossa ideia foi vencida. Na actividade que tenhamos de desenvolver, como indivíduos, grupo ou movimento, procuraremos alianças, mas condicionais, daremos apoios mas momentâneos e em certos casos ou circunstâncias. Nunca nos esqueçamos, porém, de fazer reservas e apontar discordâncias, de denunciar os males e distinguir os campos, de instaurar a doutrina certa e pura.
Vencidos nos encontramos, oprimidos entre o capitalismo e o comunismo, entre a civilização tecnicista e a revolta dos primitivos ou atrasados, entre os imperialismos económicos e a anarquia dos descolonizados, entre o individualismo plutocrático e a rasoira igualitária-confusionista-escravizante do marxismo-leninismo. De um lado, a mística anárquica, rebanhista, multitudinária, a devorância selvaticamente tirânica da Rússia soviética; ou o requinte cerebralmente cruel, a xenofobia, o neofitismo marxista, o faminto formigueiro da China Vermelha. Do outro lado, a trepidância incultural, o pragmatismo estreito, a grosseria recém-chegada, a soberba tecnicista dos Americanos. Ao lado de uns e ao lado de outros, marionetados por uns ou outros, na ilusão de que se furtam a uns e outros em cujas malhas caem, os pobres-diabos, os atrasados, os primitivos, desde a África à Ásia, e os espertinhos que desembocam em serventuários, ao jeito de vaidosos degaullismos.
Apesar da opressão e das limitações onde nos encontramos, nós, os vencidos, podemos, ainda, achar opções construtivas. Dentre os males, escolher o menor, se outra saída não existe, é, de algum modo, jogar, para ganhar oportunidades e para obter adversário mais fraco. Dentre os maus escolher o que mais importantes virtudes conserva e mais altos valores defende, é, pelo menos, preservar uma reserva de energias promissoras. Que estas opções não nos levem, porém, a uma adesão total, a uma confusão extensiva, a um silêncio ou desistências quanto à verdade íntegra e perfeita.
Nesta visão atenta e vigilante, conduzida pela ortodoxia, várias decisões nos compete tomar.
Assim, embora detestemos, nos Americanos, o estilo de vida, a mentalidade, os interesses exploradores, a estrutura plutocrática, o sistema em democracia, embora precisemos de condenar tudo isso, constantemente, de cada vez mais o denunciar, devemos apoiar a sua actividade obstrutora do comunismo (especialmente daquelas entidades e organizações que extremamente o fazem), devemos aprovar a sua luta no Vietname e a decisiva violência desse esforço guerreiro.
Assim, embora odiemos o capitalismo plutocrático, a finança internacional e apátrida, o egoísmo de tantos ricos, preferimos que eles vençam, num primeiro tempo, a entregar-nos à tirania da subversão, da inveja, do materialismo (teórico e prático), do individualismo solto ou desfeito em número escravo. Até porque a vitória comunista seria muito mais actuante e absorvedora, muito mais rígida, dedicada e eficiente na sua conservação, muito menos estúpida ou ingénua nos processos, muito menos sabotável e dividida.
Assim, apoiarmos, onde os encontrarmos, a hierarquia e a harmonia, o espírito de luta e de aperfeiçoamento, a ultrapassagem do egoísmo e do particularismo fechado, o amor da comunidade e a dedicação do Estado, o culto da fidelidade, da disciplina, da honra e da glória militar. Rendamos preito aos heróis. Elogiamos o patriotismo, o nacionalismo, as diferentes concreções, forjadas, conjuntamente, pela geografia, pelo sangue, pela história, pelo espírito, enfim. Com isto, é a vocação da unidade e da universalidade que defendemos.
Apoiamos a Europa, isto é, em primeiro lugar, o espírito europeu, porque, nele e por enquanto e para já, a humanidade encontrou a sua realização mais alta, desde há milénios, e será esse espírito o inspirador e conformador dos povos do mundo, dentro da sua maneira própria, será uma irrecusável missão especificamente humana. Apoiamos, outrossim, a Europa como unidade que deve constituir-se, Império na organização geral dos Impérios, para bem comum universal.
Apoiamos a raça branca, espalhada pelo mundo e auxiliando-o, porque é ela, por agora, a melhor portadora desse espírito de Europa. E não quer isto significar desprezo ou exploração das outras raças, mas sim ajuda, ensino, condução e libertação materialista de raça. Acreditamos, perfeitamente, que um não-branco seja espiritualmente europeu. É, assim, ainda, que nos batemos, em todos os campos possíveis, a favor de uma justiça social que dê a cada homem uma valorização plena das suas várias esferas e o coloque em funcionário e expansão, na estrutura una da comunidade, na realização ascendente dos valores.
A hora de hoje é confusionista e adversa. Reinam os miasmas e as várias formas de opressão. Nós somos um reduto de fiéis, uma simples minoria contra a avalanche dos bárbaros e dos guzanos, hábeis, diabólicos, aliciadores. Mas quando a dissolução e o paganismo dominavam o Império romano (o mundo de então), a minoria cristã soube resistir e criar prosélitos e expandir-se; quando a heresia dos arianos tomou conta dos povos europeus, a minoria ortodoxamente católica resistiu e jugulou-a; quando a Península caiu, de lés a lés, nas mãos dos mouros, a minoria cristã, confinada a um migalho das Astúrias, resistiu e desencadeou dali a Reconquista.
Na História, nenhum estádio é definitivo, nenhuma provação é inultrapassável. Os ventos da História são pretensiosa invenção e grosseiro determinismo de quem nos quer desarmar. «O mundo só tem o sentido que nós lhe dermos», proclamou Schiller.
Lúcidos, fiéis, ardorosos, combativos — acabaremos por vencer.
Goulart Nogueira
(In Agora, n.º 321, págs. 11/12, 09.09.1967)

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sexta-feira, agosto 26, 2005

Mário Soares 

Por ter ganho repentinamente actualidade acrescida, reproduzo um artigo publicado por João de Mendia em Dezembro de 2004 no Diário Digital.

Será a antítese do espírito de Natal, mas é tempo de se abordar este tema, tanto pelas falsidades que se disseram pela passagem dos 80 anos deste homem, como por ir a tempo de abordar certas questões.
Mário Soares é um dos grandes, senão o maior logro gerado pelo 25 de Abril. Tem-se vindo a manter a ideia de atribuir à pessoa de Mário Soares exactamente aquilo que ele não foi, nem fez. Convencionou-se que Soares é um democrata, mas não é, embora pareça. Convencionou-se que Soares é um bonacheirão, boa pessoa e cheio de charme, mas só o charme é que estará certo, exactamente naquela medida em que um Porfírio Rubirosa o usaria para auferir sinecuras pelos meios que se conhecem. Convencionou-se que Soares está na base de uma descolonização exemplar e de ter feito dos cravos a nossa revolução mas, o que se passou, foi, e é, dramaticamente o contrário. Convencionou-se, ainda, que é a Soares a quem se deve o isolamento do comunismo e a opção pelo que se veio a instalar no nosso país e a que vulgarmente se tem chamado democracia, mas não é nem uma coisa nem outra. Convencionou-se, também, ter sido Soares um dos grandes impulsionadores da nossa entrada para a Comunidade Europeia, o que, sendo certo desta vez, fê-lo da pior maneira e pelo pior processo, como adiante se recordará. Soares passa por ser um homem de cultura, estudioso que sempre terá sido não se sabe bem de que temáticas, mas a realidade é Soares tratar-se de uma pessoa de uma esperteza pouco mais que vulgar, que recorre a banalidades e a lugares comuns debitados de cátedra e em registo grandiloquente que lhe virá da circunstância de quase todos o bajularem e poucos, ou nenhuns, o contestarem. Com frequência são ainda atribuídas a Soares operações cuja irregularidade se assemelha à de outros que, por isso mesmo, estiveram, ou estão, a braços com a justiça ou mesmo a cumprir tempo de cárcere. Mas, passado todo este tempo, urge atribuir a Mário Soares aquilo pelo que é responsável, dado que lhe acabam de passar 80 anos por cima e ser já tarde para se deixar de insistir num estatuto ridículo e quase majestático que ele próprio fomenta, usa e abusa para tudo e mais alguma coisa.
É hoje público que, pouco tempo antes do 25 de Abril, Soares esteve numa reunião com Cunhal, um dos principais estrategas de Brejnev, Ponomarev, e outros, em Paris, onde ficou decidido dar-se início ao que viria a ser um golpe de Estado em Portugal. Já não incentivando o terrorismo no Ultramar, mas preparando o golpe na própria sede do poder em Lisboa. E isto porque a nossa política ultramarina estava a ser cada vez mais bem acolhida, tanto nos próprios territórios como, crescentemente, na comunidade internacional. ONU incluída. Sendo assim, os tempos e os modelos por que tinha que passar este golpe de Estado estavam longe de ser democráticos, assim como tudo o que se passou durante toda a longa fase criminal do PREC tem Soares como um dos responsáveis. Tudo isto teve a sua expressa anuência, para além de que estava bem consciente de que a União Soviética era quem ditava as regras deste, e de muitos outros jogos. O verdadeiro programa, saído desta conspirata, que não, ainda, o do MFA que se alinhavou mais tarde, não podia deixar de ser do conhecimento e ter o aval de Soares.
Soares, contrariamente à verdade oficial, foi o principal e grande responsável pela maneira ilegal e ilegítima como se conduziu a independência de todas as nossas antigas Províncias Ultramarinas. Soares não tinha, nem ninguém, competência, nem muito menos autoridade para conduzir o processo de descolonização que se seguiu, que acabou por se revelar criminosamente desastroso. Há outros responsáveis, muitos, mas ele é o maior. Ora, para quem vive de dizer que é a democracia que lhe corre nas veias, apela-se para que o calem de vez e o julguem pelo que é culpado. A Pinochet, que tem 86 anos e a gravidade de que o acusam é muito menor, a justiça não o larga.
Não tanto como hoje, mas já então, o que se lia na imprensa nada, ou quase nada, tinha a ver com a realidade da vida das pessoas nos territórios ultramarinos. Todos eles. A realidade da vida no Ultramar não era apenas diferente, era exactamente o oposto do que se dizia nos media em Lisboa. O terrorismo estava vencido e a vitória deveu-se, não apenas à inteligente e corajosa acção militar, mas à rejeição espontânea e muitas vezes violenta dos grupos ditos independentistas por parte das próprias populações locais. Esta é a realidade. E Soares sabia-o melhor que muitos dado o exílio que teve em S. Tomé, onde se terá passado, mais uma vez, exactamente o contrário do que ele diz a toda a hora. Com frequência se ouve dizer a Soares que pouco terá tido a ver com a descolonização por sistematicamente ter sido ultrapassado por Melo Antunes, e outros, sabendo-se agora pela obra póstuma de Melo Antunes, não apenas as responsabilidades de Soares como a interferência dele em quase tudo. Chega mesmo ao cúmulo da desfaçatez de tentar convencer as pessoas de que, se não fora a sua intervenção, os processos teriam tido aspectos ainda piores. Então, teve ou não responsabilidades? É revoltante e insultuoso ouvir o descaramento destas enormidades, sabendo ele, como poucos, das consequências daquilo que fez. Se não conseguia evitar o que agora admite ter tido algumas falhas, então que se tivesse demitido. Mas não se demitiu. Soares era o ministro dos Negócios Estrangeiros, e era com ele, e através dele, dado que não havia ainda Bruxelas para impor compromissos, que se definia e aplicava a nossa política externa. Muitos lhe chegaram a pedir, populações e quadros africanos inclusive, para que adiasse as independências por se prever com facilidade a inevitabilidade do horror de uma tragédia que se anunciava. Soares nada fez. Insistiu mesmo com as independências de todos os territórios, mesmo naqueles que ele sabia melhor que ninguém que pereceriam sem o apoio da Metrópole, como Cabo Verde, Timor e S. Tomé. E em Angola, por exemplo, para já não falar na tragédia de Timor, e da Guiné, as últimas e dramáticas contas elevavam a cerca de 3 a 4 milhões de pessoas, portuguesas muitos delas, mortas e assassinadas à mão directa e indirecta dos responsáveis pela independência e descolonização. E digo isto porque é frequente Soares abusar do argumento de que não será responsável pelo que se passou depois da independência, remetendo isso para as novas soberanias, o que não pode ser mais farisaico e demonstrativo do carácter e da sensibilidade que não existem neste personagem É que a responsabilidade mantém-se para lá da independência, como é óbvio, quanto mais não seja por todos saberem que os acordos de Alvor foram feitos à pressa, na madrugada anterior, por Almeida Santos, que tinha de África dezenas de anos de experiência, e sabia, assim como Mário Soares e melhor que ninguém, que o acordo não duraria mais que umas escassas horas. Não era possível, mesmo. Como não durou. Mas eram os compromissos com a bandeira política do marxismo comunista e socialista da altura, e outros, que se saberá um dia, tarde temo eu, de onde viriam e de que é que consistiriam.

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O DISCURSO DA IMPOTÊNCIA 

A comunicação televisiva do Primeiro-Ministro na passada segunda-feira foi verdadeiramente dramática. Chegados às últimas frases da longa palinódia do prof. Mota Pinto, os estimados telespectadores devem ter-se virado uns para os outros e resmungado:
Estamos de tanga... O país está perdido por muitos anos e bons...
Não se escusou o Chefe do Governo de nos explicar porquê. Durante os últimos quatro anos os vários ministérios que se apossaram do Terreiro do Paço delapidaram alegremente o tesouro público; desde Vasco Vieira de Almeida a Medina Carreira, passando por Silva Lopes e por Salgado Zenha, não houve um financeiro em qualquer dos elencos ministeriais; em vez de se fazer administração, fez-se demagogia; em vez de se satisfazerem as necessidades mínimas da comunidade nacional, satisfizeram-se apenas os interesses sectários dos ajuntamentos partidários.
O IV Governo Constitucional encontrou uma situação económica e financeira muito degradada — disse o Primeiro-Ministro. E exemplificou: — o défice do sector público em 1978, incluindo as empresas do Estado, não será inferior a 95 milhões de contos: — os portugueses de hoje exploram miseravelmente os portugueses de amanhã.
Disse mais:
Na vida administrativa do Estado (...) deparamos com excesso manifesto e generalizado de pessoal (...) — por vezes sem outra explicação aparente que não seja a satisfação de compadrios e clientelas ou a cedência perante reivindicações irrealistas.
Acrescentou:
A dívida externa portuguesa, onde se espelham desvarios, inconsequêncis e demagogia de todos os conhecidos, e a insuficiência das providências mais recentes, aproximou-se no fim de 1978 dos 250 milhões de contos, que naturalmente exigem pagamento anual de juros correspondentes.
Outrossim afirmou:
A grande maioria das empresas públicas apresenta uma situação altamente deficitária em grande medida por falta de eficiência.
Desmentindo recentes declarações de Mário Soares, mentiroso relapso e contumaz, Mota Pinto continuou:
O atraso encontrado nas múltiplas tarefas preparatórias de adesão ao Mercado Comum Europeu excedeu todas as previsões.
(...) o aparelho administrativo em geral funciona de forma insatisfatória e, relativamente a alguns serviços, só com boa vontade se pode dizer que funcionam. A administração pública sofreu em cheio o embate da demagogia, algumas vezes insensata, quase sempre malévola, sofreu os malefícios dos poderes paralelos, das comissões do tipo anarquizante, tudo rematando na lassidão hierárquica, na disciplina precária, na responsabilidade individual dissolvida na irresponsabilidade dos grupos - vícios que permanecem.

***
No sector prisional...
No campo da saúde...
No Ministério da Educação e Ensino...
Na Comunicação Social...
As palavras do Primeiro-Ministro foram um longo rol dos latrocínios provocados no aparelho e no organismo da Nação pelo revolucionarismo que desabou sobre nós. Ao fim duma hora de desgraças, as pessoas, entreolhando-se atarantadas, perguntavam-se:
— Como é que isto foi possível? Quem é que é responsável? É este o destino livremente escolhido pela maioria dos portugueses? Isto é que é a democracia?
Isto foi possível, ante de mais nada, porque as Forças Armadas o consentiram e, na maioria dos casos, o perpetraram. Durante todo o processo revolucionário que nos conduziu até ao pego, poucas foram as vozes militares que, a tempo, protestaram. Enganados uns pelos outros (o testemunho de António de Spínola é insuspeito, os militares, no seu conjunto, negam-se a defender a Pátria, entregaram-se eufóricos à paixão carnavalesca do bota-abaixo — e destruíram-nos. Vitoriosos uns, vencidos outros — todos são responsáveis. Os civis devem ser acusados de ainda estarem vivos.
Os responsáveis são, portanto, antes de todos, os soldados que aí estão — e, depois, os políticos que os apaparicaram, e defraudaram, e exploraram a sua boa e má-fé, e os incitaram à tolice.
O que Mota Pinto alinhou na sua comunicação não é apenas a consequência da inépcia, da estupidez e da irresponsabilidade duns tantos — foi também causado pela desonestidade consciente da maioria.
Quando é que se justiciam os responsáveis? No preciso momento em que Vasco Gonçalves e Rosa Coutinho são absolvidos do crime de abuso da autoridade, dissolvida a sua responsabilidade individual na irresponsabilidade dos grupos — que autoridade moral tem o chefe do executivo para fazer as suas tão graves acusações? No preciso momento em que o Partido Comunista, soerguendo a cabeça, procura ensaiar novas formas de luta para destruir de vez o aparelho do Estado — como pode o Primeiro-Ministro, que tem a faca e o queijo na mão, protestar contra a agitação larvar que lhe ilaqueia a governação?
Não nos parece legítimo que uma personalidade na posição do prof. Mota Pinto, fazendo diagnóstico duma situação e podendo agir — não tenha agido. Não nos parece legítimo que, impedido de o fazer, se não demita.
As coisas são como são. Sabe o prof. Mota Pinto exactamente quem são os responsáveis — porque é que em nome do povo, os não processa, ou prende preventivamente? Porque a lei não lho permite? Pois então, não se queixe — e cumpra a lei. Se a irresponsabilidade política está, neste desgraçado país, coberta pela lei, não tem o ilustre jurista o direito de vir queixar-se desta maneira diante da Nação estarrecida.
Muito mais do que um acto de coragem a comunicação de Mota Pinto pareceu-nos um grito de impotência, o princípio do seu fim, o começo da guerra de guerrilha que, derrotando-o inevitavelmente, os partidos vão conduzir contra o seu governo.
Como poderão aceitar o P.C. e o P.S., principais beneficiários da corrupção e do nepotismo que paralisa, diminui a máquina estatal, que Mota Pinto comece o saneamento inevitável, desempregando a massa imensa dos clientes, enconchada na administração e nas empresas públicas? Como vai Mota Pinto passar este cabo das tormentas quando a lei cobre os partidos — e o Presidente da República se confessa simplesmente um maquinal cumpridor da lei?
É isto a democracia? A democracia é o regime que permite isto? Pois se é — nós somos contra. Não é possível continuarmos em nome desta falsa democracia. Não é possível continuarmos impassíveis e ver a Pátria destruída em nome desta falsa democracia. Não é possível escutar o Primeiro-Ministro descrever inconsequentemente a nossa desgraça. Caminhamos rapidamente para o abismo — e nem sequer podemos chamar a polícia. O mais pequeno gesto, o mais pequeno protesto contra a lei iníqua — pode levar-nos à prisão. Agora mesmo, quando o leitor pega neste jornal — estamos nós sentados no banco dos réus por termos dito muito menos do que disse na segunda-feira passada o Primeiro-Ministro.
Num país onde a lei não concorda com a Justiça — democracia acabou. A jeremíada do prof. Mota Pinto, não é pura demagogia — como pretende o Partido Comunista — tem que ser o princípio duro duma acção renovada. Permite-lho a lei? A ver vamos. Já agora, ajuntam-se os partidos para condenarem Mota Pinto. A sua vitória seria a derrota deles. Partindo em guerra perdida contra o sistema que o sustenta, o Primeiro-Ministro limitou-se a proclamar a sua própria e a nossa impotência.
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 137, pág. 3, 25.01.1979)

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Contra a subversão anti-social 

Contra a promoção televisiva do homossexualismo militante surgiu um abaixo assinado disponível em rede. Um desafio da Juventude Nacionalista.

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Novas da tradição 

Para saber mais sobre o universo do tradicionalismo católico, basta seguir La Porte Latine (excelente reportagem sobre a peregrinação a Fátima), o Centro de Informação e Documentação DICI, ou a Fraternidade Sacerdotal São Pio X.
Hoje como sempre, "Stat Crux, dum volvitur orbis".

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quinta-feira, agosto 25, 2005

Imperdoável 

Será não ler e reler e tornar a ler as palavras inéditas de Rodrigo Emílio destinadas a apresentar o livro de Miguel Castelo Branco sobre Homem Cristo Filho.
Há um país incombustível, que vive em nós e por nós...

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O DISCURSO DE MARCO ANTÓNIO 

Inspirado na passagem célebre da peça de Shakespeare em que Marco António apresenta à multidão o corpo de César, o artigo que se segue foi publicado em Setembro de 1974 no "Bandarra" - e é considerado um dos mais belos textos do nosso jornalismo político.

Frontaria da Assembleia Nacional. Manhã cinzenta e triste. A multidão sussurrante transborda do grande largo. Trazendo nos braços um corpo exangue, Marco António surge no topo das escadarias. Arenga ao povo.— Amigos, Portugueses, compatriotas:
Trago-vos Portugal nos braços. Venho para os seus funerais — e não para o louvar. O mal das pátrias sustenta-se além da morte. O bem enterra-se com elas. Ninguém se lembra das glórias do Aragão, nem das da Navarra — nem sequer das da Sabóia. Recordam-se, porém, sensivelmente, os seus pecados... Seja assim com Portugal. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro (três honradíssimos cidadãos) permitiram que vos falasse. Disseram eles que a nossa Pátria, em oito séculos de história, quase só se portou mal. Reconheçamo-lo contritamente sem discutir: — os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro são três grandes personalidades que nos restituíram a liberdade. Quem somos nós para os contestar?
Vós tínheis orgulho neste velho Portugal. Julgastes que era honra pertencer-lhe e acompanhar na memória a gesta dos seus santos e heróis, conquistadores e navegadores, que, mares além, nos tempos dantes, por todo o orbe, dilataram a Fé e o Império. Os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro acusam-no agora da maior cobiça. Castigaram-no severamente. São três homens justos, três nobres, e honrados, e incorruptos cidadãos. Veneremo-los. Esqueçamo-nos do que nossos pais nos ensinaram: — depois de Ceuta, largado mundo fora, Portugal, com uma ou outra excepcionalíssima excepção, só cometeu crimes. Paga hoje as suas faltas — faltas do povo e dos chefes. Do Infante, de Vasco da Gama, de Albuquerque, de Camões, de Vieira e de Mouzinho. Penitenciemo-nos. Até a Santa Madre Igreja, pela augusta voz dos nossos bispos, já se penitenciou. Porque não o faremos nós? Construamos humildemente, sem fumos de grandeza, o futuro que merecemos. Reduzamo-nos.
Durante séculos, no silêncio dos corações, rezámos a S. Francisco Xavier, a S. João de Brito e a S. Gonçalo da Silveira. Supusemo-los no céu, sentados à direita de Deus Pai. — Sabemos hoje de ciência certa que foram apenas agentes do nosso torpe imperialismo, do nosso orgulhoso amor à guerra, da nossa cupidez mercantilista. Isso, sabiamente, nos ensinam os Drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro — três impolutos cidadãos, três homens sem mancha, honrados e verdadeiros campeões da liberdade. Que podem as nossas memórias contra a sua veracidade munificente?
Imaginámos (durante cinco séculos — imaginámo-lo apaixonadamente) que andávamos pelo mundo a continuar Portugal, cientes de ser essa a sua missão, o seu destino, a sua glória. Reconhecemos hoje pela voz honrada dos drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro — que por esse mundo de Cristo destruímos civilizações, arrasámos metrópoles, cometemos genocídios. Que as cidades, vilas e aldeias que erguemos não são nossas, mas de gente estranha — e que os povos nossos irmãos, trazidos para nós, em nós confiantes, eram traidores à Pátria deles que, em verdade e em boa hora, vai deixar de ser a nossa.
Com infinito orgulho, com altíssima devoção, sentimo-nos, centúria após centúria, o décimo-terceiro apóstolo, povo do Espírito Santo, farol de palavra divina. Oh! O orgulho dos homens! A petulância das gentes! A hipocrisia paranóica! Fomos uns rapinantes sem escrúpulos, vorazes comerciantes, mercadores astuciosos, criminosos sem perdão, exploradores insensíveis, bandidos sem coração, ladrões desavergonhados, piratas do alto-mar, canalhas sem remissão. Caridosamente, sem o afirmarem (para não nos chocarem mais) insinuam isso os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro — três eminentes senhores, fiadores da nossa liberdade, desta paz democrática, desta prosperidade que vamos a desfrutar. Devemos acreditá-los, e agradecer-lhes, e defendê-los. Reconheceram as nossas culpas — e andam a remi-las. Vão acordar Portugal da longa noite em que o adormecemos.
A partir de 1961, ferozmente dominados por Salazar (parolo seminarista, tortuoso financeiro...) vós acompanhastes ao cais os melhores de todos vós — e, em espírito, embrenhastes-vos, com eles, nos matagais africanos. Muitos deles regressaram ou mortos, e povoam inermes os cemitérios do rectângulo, ou estropiados, ou meio doidos. Vós julgastes que eles tinham ido defender Portugal e os Portugueses. Exceptuando os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Sá Carneiro — a maior parte de vós supôs que Portugal defendia o seu direito, e que as carnificinas de Angola, da Guiné e de Moçambique tinham sido perpetradas pela UPA, pelo PAIGC e pela FRELIMO. Sabemos agora que não; fomos nós os matadores, fomos nós os assassinos, somos nós os responsáveis, somos nós os grandes réus. A UPA, o PAIGC e a FRELIMO limitaram-se, honradamente, a proceder em legítima defesa, a reagir heroicamente aos nossos ataques cavilosos, às nossas agressões mal intencionadas, à nossa fúria colonialista. Não o confessando há treze anos, não abandonando Angola nessa altura — ofendemos a paz, a liberdade e a democracia. Quem quiser continuar Portugal — está contra o mundo inteiro, orgulhosamente só e nós queremos estar acompanhados, e ser cumprimentados, e aplaudidos, e cortejados, e bajulados por todos os deste mundo. Queremos ser Holanda, Suécia, Dinamarca ou Finlândia, gente respeitada, pacíficos produtores de margarinas, ricaços. Para isso nos encaminham gloriosamente os drs. Mário Soares, Álvaro Cunhal e Francisco Sá Carneiro — três sábios, e prudentes, e sensatos cidadãos.
Quisemos que as gentes achadas pelos mareantes fossem portuguesas. Honrávamo-nos com isso, julgávamos honrá-las. Deixamo-las agora entregues a si próprias, nuclear e financeiramente protegidas pelos Estados Unidos, pela União Soviética e pela China. Deixámos de as explorar; vamos poupar milhões. Seremos prósperos, e bem educados, e respeitados por todo o mundo civilizado e pela moral prevalecente. Vão elas deixar de ser portuguesas — vamos nós humilissimamente esforçar-nos por continuar a sê-lo.
Se eu tivesse as qualidades oratórias do dr. Mário Soares, a capacidade organizativa do dr. Álvaro Cunhal, a distinção aristocrática do dr. Francisco Lumbralles de Sá Carneiro — poderia ambicionar, talvez, conduzir-vos à revolta, mostrando-vos as cicatrizes sangrentas deste velho Portugal vencido. Mas eu sou, apenas, um pobre homem com poucos estudos e pouco pensamento, um desgraçado — e eles, três notáveis, honrados e proeminentes cidadãos. Têm o poder, a força e a vitória; prender-me-ão quando quiserem sem ninguém protestar; calar-me-ão. Vós, meus Amigos, meus amados Portugueses, meus queridos compatriotas, sede indulgentes comigo; parece que a alma me vai com o Portugal antigo. Já que não o podemos louvar — choremo-lo com honradez. Quantas vezes o aclamámos e o levámos em triunfo? Alguém nos impedirá de o chorar?
O silêncio aumenta a velha praça. Acolá e além um soluço risca o muro da tristeza. O povo volta as costas à casa da representação nacional. 0 pano desce lentissimamente. Portugal, arfante, parece morrer devagar.Manuel Maria Múrias
(In Bandarra, pág. 10, 14.09.1974)

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MÁRIO SOARES DESEJOU QUE OS PORTUGUESES DO ULTRAMAR FOSSEM ATIRADOS AOS TUBARÕES 

Liquidação moral de um homem é o menos que se poderá dizer do documento que publicamos na página 17 desta edição de "A Rua". Trata-se de uma crónica vinda a lume em um dos mais categorizados jornais brasileiros, "O Estado de S. Paulo", da autoria do seu correspondente em Lisboa, Santana Mota, na qual se revela que em 1973, durante uma visita ao Brasil, Mário Soares declarou haver só uma solução para o destino dos portugueses brancos ultramarinos: — atirá-los aos tubarões.
Custa a crer, mesmo conhecendo-se, como se conhece, o baixo estofo e a aterradora falta de escrúpulos que caracterizam o secretário-geral do P.S.. Custa a crer — mas ainda é mais difícil é supor que um jornalista com a probidade de Santana Mota e um jornal com o prestígio de O Estado de S. Paulo façam semelhante revelação sem a terem devidamente fundamentada.
Daí, e até prova em contrário, chegarmos à conclusão de que o nome de Mário Soares pode e deve estar à frente na lista dos Costas Gomes, dos Cunhais, dos Otelos, dos Gonçalves, dos Crespos, dos Rosas Coutinhos e de toda essa galeria de criminosos, duplamente réus pela traição que cometeram contra a Pátria e pela sangueira e desgraça em que lançaram centenas de milhar de portugueses. Se não é verdade, Mário Soares que o prove.
Se é verdade, que o País se liberte sem demora da vergonha de ter como Primeiro Ministro alguém que parece ser, afinal, apenas um sádico. Um sádico sem a menor réstea de humanitarismo ou de vergonha.
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 61, pág. 1, 02.06.1977)

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CONTENTE E SEM VERGONHA 

Encarecidamente louvemos o conselheiro Melo Antunes pela entrevista que deu ao ex-reverendo Augusto de Carvalho para o «Expresso»: mais não é necessário para a sua irremediável condenação. Acrescendo que constitui testemunho de acusação contra certos sujeitinhos, como o anafado camarada, que tentam fugir com o rabo à seringa após terem sido dos mais assanhados intriguistas. Ao menos, o consabido conselheiro não mudou nada, não há «arrependimento» nem «prudência» que lhe afectem a empedernida consciência marxiana, e o serviço que prestou continua a fazê-lo rebolar-se de puro gozo.
Já no fim da sua confissão, aliás, esforça-se Antunes por ser útil uma vez mais, asseverando que «a participação do P.C.P. no processo de descolonização foi diminuta». Simplesmente, isso nada conta: os sovietistas oficiais bem se podiam dar ao luxo de não «sujar as mãos», tinham lacaios bastantes para lhes fazerem o trabalho, do Soares ao próprio declarante, sem esquecer os Gomes, e os Gonçalves, e outros menores cujos nomes são por de mais conhecidos. Mas o consabido conselheiro leva a subserviência demasiado longe ao pretender que «nem há provas» bastantes, até neste momento, da sua identificação total com uma «estratégia africana de inspiração soviética».
Não fosse o declarante quem é, haveria mesmo quem imaginasse ser-lhe aplicável aquela história da eterna dúvida do «enganado»; no caso vertente, porém, sabe-se que isso apenas representa disfarce inútil e inepto. Já passou o tempo em que podiam colar alegações no género de invocar actividades desenvolvidas no «Verão quente» para conferir a alguém atestado de divergências profundas com a quadrilha do Barreirinhas: consistentemente se admite que essa foi a mais bem lograda inventona do P.R.E.C. De resto, o linguajar da confissão é como um livro aberto em que, a cada página, esbraceja a identificação objectiva do consabido conselheiro com os desígnios do sovietismo, não sendo os molhos de eurocomunismo (saloio) que lograrão disfarçá-lo.
Pouco relevará, no entanto, curar agora desses miúdos pormenores: mesmo que Melo Antunes e a secção da Internacional Comunista «neste país» divirjam profundamente (como ele diz...) em «aspectos», está patenteado que interveio na «descolonização» para executar o seu projecto. E que o fez com plena consciência, de tal modo que ainda agora se glorifica de ter sido um dos que «se lançaram na ingrata mas histórica e necessária tarefa da descolonização», chegando mesmo a gabar-se de ser publicamente reconhecido como um dos responsáveis pelo crime. «Tenho a honra de pertencer», diz ele, ao «número muito restrito» de bodes expiatórios apontados pelos que «procuram destruir a acção dos que tentaram, em condições extremamente difíceis, soluções simultaneamente patrióticas, pragmáticas e progressistas (no sentido de se enquadrarem no movimento universal de luta contra as formas de colonialismo) para o problema da autodeterminação e independência dos antigos territórios coloniais portugueses».
Não valerá a pena, em boa verdade, gastar excessivo espaço com o tópico, pois deveio do conhecimento comum que o pretenso «movimento universal de luta contra as formas de colonialismo» unicamente funciona a talante dos interesses soviéticos. E só por estranhada desfaçatez ousará ainda alguém — em cumprimento da velha máxima de que da mentira fica sempre alguma coisa — referir-se à transferência forçada de territórios e populações para as garras do totalitarismo como «autodeterminação e independência», quando está à vista de todos que, no delírio do entreguismo «revolucionário», nem as mais elementares regras foram respeitadas. Caberá notar, aliás, gabar-se Antunes de ele próprio haver dado «ordens expressas» para o que chama «forças portuguesas» lutarem ao lado do M.P.L.A. «contra uma iminente ofensiva da F.N.L.A.»; recordado como o grupo sovietista fizera mão baixa sobre Luanda espezinhando os acordos do Alvor, esta confissão suplementar é simplesmente arrasadora.
Para o consabido conselheiro, no entanto, tudo era (ainda é) simples e fácil: «defendi a tese, tanto em Angola, como depois em Lisboa, que os acordos do Alvor tinham sido completamente ultrapassados pela realidade e que Portugal os deveria denunciar, abandonar a tese da «neutralidade activa» e assumir corajosamente e claramente o apoio ao M.P.L.A.» Ou seja, não lhe bastavam todas as traições precedentes, desejava ainda que as tropas mefás desempenhassem o papel de mercenários de Moscovo que foi assumido pelos cubanos — e é com alegações do jaez de ter conseguido que algumas delas em certos momentos assim se comportassem que se atreve a falar dos seus «espírito de missão» e «patriotismo». Porque, segundo continua a dizer, o bando de direcção soviética (quase cadáver reanimado e violentamente imposto pelo torpe Rosa Coutinho), emergia «como o movimento que mais legitimamente representava os verdadeiros interesses do povo angolano e o que visivelmente dispunha de maior apoio nas camadas mais conscientes da população».
Depois de tudo isto — e do mais que, por falta de espaço, somos forçados a omitir — imperativo se torna reconhecer que, embora possa ter cometido erros de facto na descrição do comportamento do consabido conselheiro (não temos agora tempo para miudezas), Spínola julgou com justeza a sua alta traição essencial. Observa-se, aliás, que o declarante procurou, na sua confissão, agitar descabeladamente uns quantos pormenores para confundir os espíritos, por outro lado não relevando que efectivamente o «cocu magnifique» dos cravos também no caso tenha sido enganado, pois bem se sabe que tal sucedeu de cabo a rabo, até pelo anafado a gabar-se, designadamente a Dominique Pouchin. Esse, aliás, um dos poucos pontos em que Antunes bate certo (e no caso é difícil perder-se alguma, dado o volume do alvo); embora seja traidor, não é politiqueiro como o Soares.
Quanto ao mais, apenas uma simples verificação: tendo a confissão do conselheiro Melo Antunes sido publicada no passado sábado, o mesmo continua a ser tenente-coronel do Exército no activo, membro do Conselho da Revolução e presidente da Comissão Constitucional. Como poderá alguém acreditar, perante esta soberana evidência, que as tropas mefás hajam sido restituídas à dignidade de Forças Armadas?...
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 141, pág. 10, 22.02.1979)

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quarta-feira, agosto 24, 2005

Iran: vers une troisième guerre du Golfe? 

La négociation sur le dossier nucléaire iranien est arrivée dans une impasse. Pour des raisons qui restent difficiles à comprendre, les trois pays représentant l'Union européenne (l'Allemagne, la France et l'Angleterre) ont demandé à l'Iran de renoncer à une activité essentielle du cycle nucléaire, l'enrichissement de l'uranium, sous le prétexte que celui-ci pourrait servir à fabriquer une bombe atomique. Les Iraniens ont immédiatement refusé, et non sans raison. Le Traité de non-prolifération nucléaire (TNP), qu'ils ont signé, leur donne en effet parfaitement le droit de construire une usine d'enrichissement d'uranium. Les activités des usines de conversion d'Ispahan et de Nantanz, qui avaient été interrompues en novembre 2004, ont donc repris.
Le programme nucléaire iranien a été entamé il y a plus de trente ans, à l'époque du Shah, avec l'accord des Américains. Jusqu'à présent, les Iraniens ont toujours affirmé qu'ils ne s'intéressent qu'au nucléaire civil, mais on ne veut visiblement pas les croire. On les accuse de chercher à accéder à une capacité militaire. L'Agence internationale de l'énergie atomique (AIEA) doit maintenant rendre un nouveau rapport le 3 septembre. Le Conseil de sécurité des Nations-Unies pourrait être ensuite saisi. Une nouvelle crise internationale majeure s'annonce.
Cette crise pose des questions fondamentales. Les pays qui possèdent aujourd'hui l'arme atomique, à commencer par les Etats-Unis, n'ont jamais demandé à personne l'autorisation de s'en doter. Ils forment un directoire de fait, qui prétend aujourd'hui lutter contre la "prolifération", alors que sa légitimité est douteuse. On voit mal en effet pourquoi certains pays auraient statutairement à la fois le droit de posséder l'arme atomique et le droit d'empêcher les autres pays de s'en doter.
L'Iran ne serait pas le premier pays islamique à posséder l'arme atomique, puisque le Pakistan la possède déjà. Or, le Pakistan a été directement impliqué dans de nombreuses affaires de terrorisme. Les Etats-Unis, qui en ont fait récemment leur allié, ont pourtant fini par s'accommoder de sa capacité nucléaire. Quant à l'Etat d'Israël, qui possède un énorme arsenal atomique (plus de 400 bombes), il n'a jamais reconnu officiellement qu'il était une puissance nucléaire et n'a jamais autorisé l'AIEA à inspecter ses installations. Deux poids et deux mesures. Beaucoup de critiques reposent en outre sur une incompréhension de la logique nucléaire, qui repose avant tout sur la notion de dissuasion. L'arme nucléaire n'est pas tant une arme offensive qu'une garantie de " sanctuarisation " du territoire national. Un Iran possédant l'arme atomique serait " sanctuarisé ", c'est-à-dire mis à l'abri d'une attaque extérieure. C'est précisément ce que les Américains et les Israéliens ne veulent pas.
Ce qui est en fait dangereux, c'est que dans une partie du monde déterminée, un seul pays possède l'arme atomique. En ce cas, son monopole lui donne un contrôle de fait sur toute la région. Dès lors que deux pays d'une même région possèdent l'arme atomique, on revient à une situation d'équilibre. Si seule l'Inde ou seul le Pakistan avait accédé à l'arme atomique, il y aurait eu de quoi s'inquiéter. Le fait que les deux pays y aient accédé pratiquement en même temps permet une dissuasion réciproque. Au Proche-Orient, le refus absolu de l'Etat d'Israël d'admettre qu'un pays voisin possède lui aussi l'arme atomique n'a pas d'autre explication : il veut continuer à jouir des avantages de son monopole.
Après leur fiasco en Irak, les Etats-Unis sont aujourd'hui divisés sur l'opportunité de se lancer dans une troisième guerre du Golfe. Mais les " faucons " néoconservateurs ne se cachent pas d'y être favorables. Le secrétaire à la Défense Donald Rumsfeld et le vice-président Dick Cheney travaillent d'ores et déjà à un plan d'agression militaire contre l'Iran.
Une occupation au sol est peu probable, car les Américains, dont les troupes sont déjà immobilisées en Irak et en Afghanistan, ne disposent pas des centaines de milliers de combattants nécessaires pour envahir un pays quatre fois plus grand que l'Irak et dont la population est trois fois plus importante. Plusieurs centaines de frappes "chirurgicales" sur des installations stratégiques à l'aide de bombes à neutron, de missiles de croisière, de bombes anti-bunker guidées au laser contre des cibles enterrées sont en revanche très possibles.
Les conséquences politiques et géopolitiques d'un tel recours à la force risquent d'être immenses. Pour diverses raisons, la Russie et la Chine (qui disposent d'un droit de veto au Conseil de sécurité), mais aussi l'Inde, pourraient difficilement ne pas réagir.
Dans l'immédiat, la "menace nucléaire" iranienne joue visiblement le même rôle que les "armes de destruction massive" qu'était censé détenir l'Irak. Une nouvelle guerre pourrait faire suite à une énorme provocation, de l'ampleur des attentats du 11 septembre. Une autre possibilité est une attaque israélienne sur les installations nucléaires de l'Iran, attaque qui entraînerait des représailles à la suite desquelles les Etats-Unis ne pourraient faire autrement que de s'engager militairement à son tour. L'année 2006, au Proche-Orient, sera celle de tous les dangers.
24/08/05
Alain de Benoist
(GRECE)
(VOX NR)

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O Jogral 

E eis que surgiu em cena "O Jogral".
Mais o Combustões, já representa um belo Agosto. Daqui vos envio muito saudar...

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Eu também não sei o que seja um liberal!... 

Já tinha notado há muito como é de regra entre os liberais a caça ao subsidiozinho ou à avençazita, a instalação confortável nos negócios dos conhecimentos, influências e cunhas. E também não era novidade para mim esse fenómeno de nunca os economistas acertarem minimamente na condução da economia, a micro ou a macro.
Mas que seja o Manuel Monteiro, fundador e líder do PND, a dizê-lo, isso é que me espantou. Foi de tanto ter convivido com eles. Acabou por conhecer bem a fauna. E de vez em quando o homem perde o sentido das conveniências.
Olhem só o que ele escreveu no "Expresso".

Liberais e Liberais
O que é hoje ser Liberal? É defender o mercado e atacar o Estado? É considerar como certo tudo o que vem da iniciativa privada e classificar como negativo, tudo o que parte da administração pública? É injuriar o social e louvar o particular? É não aceitar a gratuidade na educação e na saúde? É não concordar com a segurança social estatal? O que é ser liberal, hoje?
Faço a pergunta, porque creio existir uma certa confusão quer com a palavra, quer com o conceito, quer com a sua prática tradução. Sem ousar duvidar da seriedade, e convicção, de muitos que se auto - identificam como liberais, já questiono alguns que fazem do liberalismo o seu credo teórico, mas que têm na ligação ao público, a sua grande prática de vida. Cá para nós, ser liberal no discurso, mas não aceitar prescindir do certo e seguro vencimento mensal, que vem do emprego público é algo de extraordinário.
É caso para dizer: assim também eu. Digo mal do Estado, afirmo não acreditar no Estado, revolto-me até à exaustão com o desperdício da Administração Pública, considero que há gente a mais a trabalhar nessa mesma Administração, mas não abdico da minha avença seja numa Câmara, ou num Ministério; não deixo o cargo ocupado no Hospital Público ou na Faculdade Pública. Numa parte do dia sou fiel servidor público, na outra sou corajoso agente da iniciativa privada e do risco, sujeitando-me à sólida e justa lei da oferta e da procura.
De manhã, faça muito ou faça pouco, tenha muitos ou nenhuns «clientes», não contesto o salário que receberei no final do mês; de tarde protesto com a carga fiscal elevada, e vocifero contra o facto de não poder trabalhar mais e mais horas já que o Estado tudo me leva em impostos.
A outro nível, sempre em coerência com os meus superiores ideais, considero normal que o preço, a livre concorrência, o livre mercado, levem à falência fábricas nacionais, mas não explico como concilio liberdade económica, sem liberdade política, nem competição externa, sem qualquer tipo de competição interna.
E assim caminho, escrevendo, conferenciando, tertuliando, conversando, palestrando, vendendo saúde liberal, mas consumindo conforto estatal. E eis a razão que leva a que o Estado se mantenha pujante, confiante da sua indispensabilidade e sereno na sua permanência, mesmo em áreas onde era suposto não estar. Por ironia do destino, os seus maiores aliados são precisamente muitos dos que mais o atacam e condenam.
É aliás também assim com muitos brilhantes economistas. Ditam leis a torto e a direito, mas não lhes conhecemos empresa, ou empresas, que por si tenham criado e que por si tenham triunfado. Teóricos do fazer há muitos, capazes de o concretizar há poucos. Por isso termino continuando a perguntar: o que é ser liberal, hoje? E a prática de quem me responderá, corresponde ao que me dirá?

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terça-feira, agosto 23, 2005

O PROCESSO DE JESUS - QUAL A RESPONSABILIDADE HISTÓRICA? 

Mas os fariseus (..) entraram logo em conselho contra Ele com os herodianos, para ver qual o modo de acabar com Ele.”
S. Mateus, III-6

Há quase três décadas, um diário portuense costumava inserir na última página anedotas. Algumas delas históricas. Uma dessas relatava a apreciação pouco caridosa que tinha sido feita à “Crucificação” do pintor espanhol PACHECO, sogro de VELASQUEZ. Ao lado do quadro, algum versejador anónimo colocou uma quadra, obviamente em castelhano do sec. XVII. Dizia esta “Senhor, quem vos pôs assim/ Doente, amarelo e seco?/ Ao que respondia o Crucificado, “Dir-me-eis vós, o amor,/ Digo-vos eu, foi o Pacheco.”
Curiosamente, anos depois, esse mesmo jornal, conta de novo a história. Mas desta vez já obedecendo aos ditames do politicamente correcto. E a palavra “amor”, vem substituída por ”romanos”.
Pode questionar-se: qual o interesse, histórico ou religioso, de descobrir, ou sequer discutir, agora, quem foi o responsável pela morte de CRISTO? Anteriormente ao Concílio, dizíamos, sem hesitar que foram “os Judeus”. Hoje, com a “modernização”, afirma-se que foram os Romanos.
A realidade é que, muito mais do que um obscuro pormenor teológico, estamos perante um posicionamento histórico. A administração romana na Palestina era o elemento cultural e jurídico europeu, e as tropas étnicamente europeias.
Numa época em que a nossa Civilização Ocidental é acusada de tudo, a morte de CRISTO é mais uma acusação que contra nós, europeus ,é lançada. Os comunistas tiveram sempre bem a noção das potencialidades de tal acusação.
Corria em finais de anos 70 uma canção castrista ou guevarista, cuja versão em português (na realidade em portunhol) se chamava “ Creio em Vós”. A letra chama a CRISTO “arquitecto, engenheiro”( Supremo Arquitecto do Universo).
Nela se diz “Sei que fostes golpeado( chicoteado)/ Sendo PILATUS pretor/ Imperialista Romano, assassino e demente/ Que lavando as mãos,/ Queria ficar inocente!. (1).
Aqui vemos como o cantor comunista compara o Império Romano ao “imperialismo norte-americano“, de que CARVALHAS tanto fala. É a Teologia da Libertação.
Mas a realidade histórica é que a responsabilidade cabe aos dirigentes do Templo, isto é às elites governativas judaicas. E partilhada voluntariamente, claro, pela multidão dos judeus que se encontravam em Jerusalém, idos de todo o Mundo, para celebrar a Páscoa.
PILATOS, um funcionário público romano, não tinha autoridade sobre JESUS, galileu..
A expressão “daí lavo as minhas mãos”, tem, no entanto, desde o séc. XIX sido dada como sinónimo de cobardia, ou pelo menos, indiferença.
O cinema e a televisão apresentam diversos PILATUS. No “BEN-HUR” vemos um PILATUS em estado de choque a quem o servo responde “ Já lavastes as mãos, Tribuno”. O “JESUS” de ZEFIRELLI mostra um Procurador que chega cansado de uma longa viagem. Farta-se de pedir água, mas para se refrescar.
Numa versão francesa, o papel é interpretado por um actor já na casa dos sessenta, que costuma representar papeis de notário, solicitador, etc. Uma figura excelente para funcionário público, que conta os anos para a reforma. Perante o estalar do chicote, que golpeia o acusado, pergunta a CAIFÁS: “Estás a ouvir? Era isto que tu querias?”.
De qualquer modo, em geral, o Procurador de Roma surge procurando salvar CRISTO.
Numa produção algo estranha exibida na “SIC” pelo Natal, pela primeira vez vemos um PILATUS efeminado, que procura conflitos com a população local. O que está a léguas da realidade. De concreto, há três notícias históricas de GAIUS PONTIUS PILATUS, Procurador de Roma, na Judeia :
1-A revolta causada pela entrada das tropas romanas em Jerusalém, com as insígnias desfraldadas, o que os judeus consideravam um insulto ao Deus de Israel. Foi resolvida com bom senso.
2- Uma tentativa para construir um aqueduto, com que ele, bom romano, pretendia servir a cidade. Teve de abandonar tal projecto dada a oposição do Sinédrio e da população em geral.
3- A intenção de colocar escudos com o nome de TIBÉRIO no Palácio do governador. O qual teve por condão levar a que o Sinédrio recorresse, com sucesso, ao próprio TIBÉRIO para que os escudos fossem retirados.
Curiosamente, existem duas obras homónimas de ficção, ou romance histórico, se preferirmos, sobre a vida de PILATUS, sobre a forma de autobiografia. São as “Memórias de Pôncio Pilatos”, de CARLO MARIA FRANZERO, editadas entre nós em 1949, pela Editorial Notícias. E as “Memórias de Pôncio Pilatos”, da escritora francesa ANNE BERNET, das Edições LYON (2).
No estilo autobiográfico, põem ambas as obras na escrita do Procurador de Roma o relato da sua vida, antes, durante e depois da sua estadia em Jerusalém. Obviamente, sendo o ponto alto, o julgamento e a morte de JESUS. E qualquer dos autores apresenta um PILATUS funcionário público de carreira, visivelmente incomodado com a situação, acreditando na inocência do homem que lhe apresentaram como inimigo de Roma e tudo fazendo para O salvar.
JESUS DE NAZARÉ, da Galileia, era perante os olhos da administração romana um reformador religioso. À Roma pagã, tal situação era inteiramente indiferente. O único interesse que poderia a situação ter para o Procurador seria se desse origem a levantamentos populares.
As acusações feitas pelos sacerdotes a JESUS, visavam exactamente colocá-Lo como inimigo da administração imperial. Eram três: Causar a desordem na Judeia, b) impedir de pagar o tributo a Roma, c) Fazer-se passar por rei. De qualquer modo, um malfeitor. (3)
Apenas estas acusações interessavam ao Procurador, pois punham em causa a ordem romana, na Palestina. Ora na Judeia estava em acção uma forma armada de contestação a Roma: os zelotas. E seguindo S. MARCOS, o próprio “BARRABÁS” seria um zelota e não um criminoso de direito comum. ANNE BERNET nas suas ”Memórias“ também faz de BAR ABBAS um zelota que tenta, inclusive, matar PILATOS. (p.126). O que o enobrece, ao fazer dele um “patriota”, ou um “criminoso político”, segundo os critérios modernos.
O Direito que regia o Império Romano, quanto à aplicação, era bifacetado. O Juris Civilis, aplicava-se aos cidadãos romanos. O Jus Gentium (Direito dos Povos), regia as relações entre os cidadãos romanos e os que não dispunham de cidadania. As relações dos estrangeiros entre si, eram regidas pelos direitos locais. Tal ensina qualquer compêndio de Direito Romano.
E nesses termos, PILATUS interroga o prisioneiro, perguntando-Lhe se é Rei. A essa pergunta JESUS responde com outra : “Tu dizes isso por ti mesmo, ou outros to disseram de mim?”.(4)
Ou seja, “já estiveram a difamar-Me perante as autoridades?” Não eram, logicamente, os próprios romanos que iriam difamá-Lo perante...a administração romana.
Aliás, o carácter filosófico do Procurador, a forma pagã (ou “laica “ se preferirmos) ,com que encara a situação, está reflectido na pergunta que faz ao Arguido : “O que é a verdade?”( 5). JESUS disse “Se o meu Reino fosse deste mundo, os meus servos lutariam para que não fosse entregue aos Judeus.” (6)
JESUS era da Galileia. Como tal, PILATUS remeteu-O a HERODES ANTIPAS. Não por diversão, nem para de eximir à tarefa de O julgar, mas porque, como galileu, era a essa jurisdição que pertencia. Os galileus eram mal vistos na Judeia, pois, aínda que professando o culto judaico, eram considerados étnicamente estrangeiros . Aliás, Galileia é a forma latinizada de “Gelal el Gohim,” “O Distrito dos Pagãos”.
Era este tetrarca (um dos quatro administradores). Como tal, titular da administração romana na Galileia.. Parece que pretendia ver algumas habilidades Daquele que lhe levaram. Desapontado, após uma troças, reenviou-o ao Procurador. Também este magistrado não achou crime à luz da lei romana. (7)
Mas CRISTO começou por ser levado perante dois dos grandes nomes do Sinédrio: ANÁS e CAIFÁS. ANÁS era antigo presidente do Tribunal, não detendo funções específicas. Quando o detido responde que ensinou abertamente a sua doutrina, um guarda, judeu, portanto, dá-lhe um bofetão(8). Perante o Sinédrio, à excepção de S.JOÃO, os Evangelhos são uniformes em confirmar a existência de um julgamento. E em relatar a decisão, aliás já tomada , de condenar à morte o acusado. Inclusive, recorreram a falsos depoimentos, que se contradisseram. (9)
Decorre, aliás, de toda a sequência deste relato, que os guardas que maltrataram JESUS eram guardas do Templo.
CRISTO, aliás, já acusara os Judeus de o pretenderem matar. Dirigindo-se aos Judeus: “Sei que vós sois descendentes de ABRAÃO, mas procurais matar-me, para que a minha palavra não entre em vós”.(10) JESUS acusa os judeus e não os romanos de quererem matá-lo.
E afirma que irá ser morto pelos judeus. Diz S.MARCOS. (X-33): “O Filho do Homem será entregue aos príncipes dos sacerdotes e aos escribas e condena-Lo-ão à morte e o entregarão aos gentios-” E as mesmas revelações que iria sofrer e ser morto pelos judeus constam dos outros Evangelhos. (11) Não há uma única referência à administração romana de PONTIUS PILATUS ou de qualquer outro poder civil ou militar.
PILATOS absolveu JESUS, considerando-O não culpado dos crimes de direito Romano de que o Sinédrio O acusava. Depois, é levado para que fosse confirmada e posta em execução a sentença. Um tribunal não podia reexaminar uma sentença estrangeira. O Direito Penal e Processual Penal da altura ainda não se encontrava submetido às subtilezas actuais, quanto a revisões e confirmações (ou não confirmações) de sentenças estrangeiras.
PILATOS arriscou-se a forçar as suas funções. E dialogou com a multidão. E tentou salvar o Acusado, dando a escolher à multidão, quem queriam que soltasse: JESUS ou um criminoso de nome BAR ABBAS. E a multidão, gritou, por três vezes, “ BARRABÁS”.
Se acaso houve quem gritasse por JESUS, deve ter sido abafado pelo clamor de uma multidão numerosa. E o facto é que os Evangelhos não o referem. O PILATUS de ANNE BERNET( p, 156) chega mesmo a considerar, por um instante, lançar duas centúrias contra a multidão.
Souberam os componentes da multidão, bem dirigidos pelos sacerdotes, lembrar ao Procurador que não tinham outro Rei senão CÉSAR (na altura TIBÉRIO). E que absolvendo JESUS não cumpria com as suas funções. ”Se O absolveres não és amigo de César”. Não estava em causa o “tacho”, como uma vez este v/amigo ouviu um padre moderninho dizer. Era provavelmente o fim da carreira na função pública e da vida de PILATOS.
Na ópera rock “JESUS CHRIST SUPERSTAR”, é um PILATUS nervoso que tenta salvar o Galileu. Com violência e uma grande dose de ironia amarga enfrenta-se com a vontade da multidão dos sacerdotes e do próprio CRISTO. “Don’t let me stop your grate self destruction, Die, if you want to/, You misguided martyr/ I wash my hands of your demolition“. O que perde certamente com a tradução “Não me deixes impedir a tua grandiosa autodestruição( Que não seja por minha causa)/ Morre se é o que queres, Seu mártir transviado/ Lavo as minhas mãos da tua demolição”.
PILATUS procura acusar JESUS de qualquer delito menos grave e assim, encontrar um termo de transacção entre a populaça e a sua vontade de salvar aquele infeliz que se encontrava à sua frente. Assim, mandou que o chicoteassem, a fim de contentar os que desejavam a morte do Arguido.
Perante o agravar da situação e a sua real falta de autoridade no caso, desiste. Lava as mãos e diz “ Estou inocente do sangue deste justo”. (12)
PILATUS emprega um termo cujo significado era para um pagão romano, relativamente fraco, mas que para os judeus que compunham a multidão era extremamente significativo. Um justo era aquele que não tinha culpas , não apenas no sentido criminal , mas no sentido moral do termo.
E a multidão respondeu “Que o seu sangue caia sobre nós e os nossos filhos”. Noutros termos, “assumimos a inteira responsabilidade desta decisão”.
Presentes estavam as altas autoridades, provavelmente a totalidade dos componentes do Sinédrio, grande parte da população de Jerusalém e inúmeros peregrinos vindos para celebrar a Páscoa. Não existiu, portanto, uma qualquer decisão do Procurador, antes uma assembleia popular, tipo Gonçalvismo em 75, que preferiu BARRABÁS, (fosse este criminoso de direito comum ou político) a JESUS.
O acto de lavar as mãos não significa desinteresse, contrariamente ao sentido que se tem dado a partir do sec. XIX. Trata-se de uma concessão do poderoso Procurador aos costumes judaicos. Em diversas religiões está previsto que o sacerdote lave as mãos antes da celebração, como gesto material e simbólico de purificação. Obviamente que é mínimo exigível que um celebrante para tocar nos objectos sacros tenha as mãos limpas, no sentido literal do termo. Existem outros rituais judaicos que implicam lavamento de mãos, quando surge um confronto com um homicídio, nomeadamente. (13).
Igualmente, lavamos as mãos quando as temos ou as sentimos sujas , independentemente dessa sujidade ser mais ou menos visível. E o Procurador de Roma pretendeu, dada a sua impotência para alterar a sorte do Acusado, lavar as mãos para demonstrar que a morte que não poderia impedir era para ele um crime.
Aliás, a questão da obediência ao poder civil, a separação dos poderes , encontra-se bem definida na questão do tributo. “ Daí a CESAR o que é de CESAR”. Não existe nenhuma referência de horror de CRISTO perante a menção do nome de CÉSAR.
A intenção dos dirigentes judaicos pretenderem , decidirem e planearem a morte de CRISTO consta dos Evangelhos. Relata S.JOÃO, a seguir à cura do paralítico, que os judeus, em fúria pretendiam matar CRISTO. Expressamente diz que (V-18)-” Por isso , pois, os judeus, com maior ardor aínda, procuravam matá-lo”. E que inclusive, JESUS, não sendo chegada a hora, andava pela Galileia , evitou a Judeia, pois os Judeus procuravam matá-Lo. (14) Constam dos restantes Evangelhos os planos do Sinédrio para matar a CRISTO , inclusive reunindo-se as facções contrárias.(15)
Também os Evangelhos relatam como JUDAS ISCARIOTES, o único Judeu dos Doze,(16) traiu CRISTO. De todos consta como o Traidor se dirigiu ao Templo e não aos romanos. (17) Nem sequer considera essa hipótese. Eventualmente por ter noção de que não apenas as acusações não interessavam ao Procurador, como também de que a lei romana não se aplicava aos não - romanos.
E foi eventualmente a guarda do Templo, que efectuou a prisão de JESUS. Todos falam em gente enviada pelos dirigentes do Sinédrio. Ora, era impensável os legionários romanos serem comandados pelos fariseus. (18)
Constam dos Actos dos Apóstolos as acusações feitas por estes aos Judeus pela morte de CRISTO. Diz S.PEDRO, dirigindo-se aos judeus de Jerusalém e de toda a Judeia, referindo-se a CRISTO:“ 23- A Este, depois de entregue, conforme o desígnio imutável e a previsão de Deus, matastes, cravando-O na cruz pela mão de gente perversa”. (19).
Poderia eventualmente haver dúvidas quanto a quem se dirige a acusação, com base na expressão “ gente perversa”. Mas as acusações são efectuadas directamente. Pois S.PEDRO, não podendo ser acusado de falta de inteligência, era um homem rude, um pescador da Galileia.
E inclusive, o Grande Pescador refere que o Procurador estava disposto a libertar CRISTO: “ 13-(...) o Deus de nossos pais glorificou o seu Servo JESUS, que vós entregastes e negastes na presença de PILATUS, estando ele resolvido a soltá-Lo,
A acusação é dirigida aos Judeus, não havendo qualquer referência à culpa dos romanos. .Tão-pouco existe qualquer referência a culpa simbólica da “Humanidade”, personificada nos romanos. Novamente S.PEDRO, desta vez acompanhado dos outros Apóstolos, falando eventualmente como porta-voz destes , importunados pelo Sumo Sacerdote responde : “ 30- O Deus dos nossos pais ressuscitou JESUS, a Quem matastes, suspendendo-O de um madeiro”. Após o que foram açoitados por ordem do Templo.
Foi Stº ESTEVÃO, o primeiro mártir( protomártir), provavelmente descendente de gregos convertidos ao judaísmo, (os que deram nome ao Distrito dos Pagãos) . Discutia com judeus das diversas partes do mundo, nomeadamente de Alexandria (onde se tinham instalado muitos). “52 - Qual foi o profeta que os vossos pais não tenham perseguido? Mataram os que predisseram a vinda do Justo e Este mesmo traístes e assassinastes.” Na sequência deste diálogo foi morto à pedrada pelos judeus.
S.PAULO, eventualmente outro descendente de gregos, grande conhecedor da cultura helénica, nas Cartas aos Tessalonicenses( cap.2, ),acusa os Judeus .Diz: “15 - Que deram a morte ao Senhor JESUS e aos Profetas e nos perseguem a nós; que não agradam a Deus e são inimigos de todos os homens “.
Já antes das grandes perseguições, o inteligente e desprezado imperador CLÁUDIO dados os desacatos causados pelos judeus contra os cristão, expulsou os judeus de Roma.(20) Com efeito recordemos que os romanos não perseguiram o Cristianismo nascente. Apenas quando Roma teve um prefeito( presidente da câmara) judeu, TIGELINO e a amante de NERO foi uma judia, SABINA POPEIA.(21)Este último facto, sendo omisso no clássico do cinema, é popularizado pelo livro “Quo Vadis?” .
Vários autores (20) referem os relatos abomináveis que os judeus faziam correr sobre os cristão. Nomeadamente que celebravam sacrifícios humanos, normalmente a imolação de uma criança , sendo os despojos repartidos pelos celebrantes que comem a carne e bebem os seu sangue. Curiosamente a mesma acusação é relatada nas “Memórias” de ANNE BERNET.
O Talmude confirma a responsabilidade dos judeus (obviamente da altura) na morte de CRISTO:
O Prof. ISRAEL SHAHAK, da Universidade Hebraica de Jerusalém, no seu Livro “Histoire Juive Réligion Juive“: Segundo o Talmude, JESUS foi condenado e executado por um verdadeiro tribunal rabínico, por idolatria, incitação dos judeus à idolatria e insulto às autoridades rabínicas. Todas as fontes judaicas clássicas que assinalam a sua execução reivindicam-na altamente a responsabilidade e alegram-se com ela: no relato talmúdico destes acontecimentos os romanos nem sequer são mencionados”-(21)
De onde vemos que a discreta menção que é feita pelo Rabi de Lisboa, na revista “Grande Reportagem” fica mutíssimo aquém da realidade. Isto para não falarmos nas menções injuriosas que são efectuadas no Talmude. (22)
Obviamente que não sendo todos os judeus de todo o mundo que reclamaram a morte de CRISTO, foram os seus representantes. E se é igualmente certo que os judeus actuais não podem ser por forma alguma responsabilizados pelos seus longínquos antepassados, (mais ou menos genuínos), foram os da altura.
A conclusão a retirar é que não foi o elemento europeu, simbolizado pela administração romana, portanto, responsável pela morte de CRISTO, histórica e juridicamente falando. Foram os judeus de então.
Francisco Serrano
(1)A versão original , “ Misa Campesina” que consta de um CD interpretado por NANA MOUSKURI, “ Latina”, além de falar num “CRISTO obrero” contém grosserias.
(2) por curiosidade pertencente aos LYON DE CASTRO, da família do cristão-novo de Óbidos, anarquista/espírita/naturista de que fala MÁRIO DE SAA , p. 248, “ A Invasão dos Judeus”
(3) Les 3 procés de Jesus”- OLIVIER KRAFFT p.47
(4) S.JOÃO, Cap. XVIII, 34 . .
(5) S.JOÃO XVIII-36
(6) “Les 3 procés”, p.52,S.MATEUS, XVI- 21 ,S.LUCAS,IX-22 e S.MARCOS, VIII-31
(7 )S. JOÃO, XVII-19
(8) S.MARCUS, XVI-55 e segs., S.LUCAS, XX-67-71, S.MATEUS,XVI-59 e segs.
(9) S.JOÃO VIII-37.
(10) S.JOÃO, VII-1, 13, 19, 21 ; e outro tanto diz S. MATEUS XXI , 45- 46, S.MARCUS III,-6 XIV-1, XXII-2
(11) S.MATEUS,XXVII-24
(12)“ Les 3 procés de Jesus”-p.64/6
(13) , S. JOÃO XI-47 a 53 , MATEUS, XII-14 ,S.MARCUS III,-6
(14 ) O seu nome significa JUDAS, de Querioth , uma cidade da Judeia. ( Livro de JOSUÉ, XV-26).
(15) S. LUCAS, XXII-3, 4; S.MARCUS XIV, 10, 11
(16) S.MARCUS , XIV- 43 , S.LUCAS ,XXII-52 e S.MATEUS , XXVI-47,
(17) “Actos dos Apóstolos, Cap. 3, 14, 15
(18) Complot contra a Igreja “,MAURICE PINAY, p.203/4. Essa expulsão é referida nos Actos dos Apóstolos ( Cap. XVIII, Versículo. 2)
(19) Complot, p. 203
(20) Citados em “Complot” ,p.205
(21 ) (p 24), citado por OLIVIER KRAFFT em p.158 Pedidos a Editions du Chiré , S A DPF, BP 1, 86190 Chiré-en-Montreuil,
(22)” Grande Reportagem”, Nov.2001 , p 66.
“Complot contra a Igreja” só localizado em alfarrabistas.
Pode ser pedido em fotocópias a “Libreria Europa”, C/ Séneca, 12 Bajos, E-08080 BARCELONA

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