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domingo, agosto 28, 2005

PARLAMENTARISMO 

(...) «Esperar que uma multidão já de si inferior e mais inferiorizada ainda pela sugestão de meneurs sem ciência e consciência, fazendo do surencherismo processo sistemático de propaganda, esperar que essa multidão pervertida e desorientada possa escolher figuras superiores para a alta e grave função de legislar que requer não só um positivo conhecimento da Ciência Social, mas também uma ponderação, uma reflexão, um critério que só em raras criaturas se encontra, é uma ilusão tolerável aqui há um século, absolutamente démodée nos tempos de hoje. Não são os incompetentes quem está apto a escolher os competentes. Isso é a subversão da ordem, nos seus mais fundamentais elementos. E essa situação ilógica, só a instituição parlamentar podia consagrá-la. Não são aqueles que precisam de quem os dirija que estão em condições de escolher quem melhor possa executar essas funções dirigentes. Isto é óbvio. A interferência dos cidadãos na vida pública do seu país deve, pois, efectuar-se no exercício da vida municipal, deixando as superiores funções de direcção central e geral a uma restricta e fechada categoria de cidadãos, isto é aos elementos representativos das corporações espirituais, morais e activas. Tudo quanto seja contribuir para uma mais perfeita hierarquização - é contribuir para o progresso social, para o progresso da civilização. Nivelar, confundir, é estagnar. E se há prova concludente das consequências nefastas da pantanização (deixem passar o tempo!) do meio social - é a instituição parlamentar.
A corrupção dos costumes políticos deve-se principalmente, às exigências das necessidades eleitorais.
Só é forte um governo que não precise de andar a transigir com as flutuações da opinião, isto é um governo que em vez de governado tenha por missão governar, isto é canalizar, aproveitar, dominar. A opinião é instável. Governos instáveis são governos estéreis. A opinião parlamentar, quando não é uma mentirosa aparência, é a imagem da opinião das ruas. Instável, estéril, anárquica como ela.»
Alfredo Pimenta
(in «Nação Portuguesa», n.º 3, pág. 71, 1914).

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