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quarta-feira, novembro 29, 2006

Eventos para Dezembro 

Para além das manifestações próprias do Dia da Restauração, a realizar nesta sexta-feira, estão marcados para o próximo mês outros encontros nacionalistas:
- O II Almoço Nacionalista da FN Santarém, a realizar no dia 9 de Dezembro, na Golegã;
- O Almoço de Natal, marcado para o dia 23 de Dezembro, em Lisboa.

Informações no Forum Nacional.

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1º de Dezembro no Porto 


Marcha Comemorativa do 1º de Dezembro no Porto, com início às 14:30, na Praça dos Poveiros.

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terça-feira, novembro 28, 2006

O PNR sai à rua em Acto de Afirmação Patriótica 

Na passagem de mais um 1º de Dezembro, Dia da Restauração da Independência Nacional, e ante a traição dos novos «Miguéis de Vasconcelos», que venderam Portugal a Bruxelas e ao Capitalismo globalizador e que promovem modernas formas de invasão da Pátria Portuguesa, vai o PNR, Partido Nacional Renovador, realizar um «Acto de Afirmação Patriótica» com concentração pelas 16 horas na Praça dos Restauradores, seguido de uma marcha em direcção ao Largo do Martim Moniz, onde terão lugar os discursos da Coordenadora Nacional da JN-Juventude Nacionalista, e do Presidente do Partido.
O acto será dado por terminado pelas 17 horas, antecedido pela entoação do Hino Nacional.
Por uma nova Restauração da Independência!
Viva Portugal !

Comissão Política nacional
27 de Novembro de 2006

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A interrupção violenta da gravidez 

Um artigo de Artur Nunes da Silva a ler no PELA VIDA - blogue colectivo em defesa da vida.

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Edições Falcata 

Surgiu renovada a montra das Edições Falcata. Agora com nova apresentação, e novos títulos disponíveis.

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segunda-feira, novembro 27, 2006

Debate sobre o aborto 

No próximo dia 30 de Novembro (Quinta-feira), pelas 21 horas terá lugar em Lisboa, no Centro Cultura Popular de Santa Engrácia, na Calçada dos Barbadinhos, n.º 49-A, um debate sobre a questão do aborto.
A sessão é aberta ao público, aguardando-se que muitos interessados apareçam e participem.

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sábado, novembro 25, 2006

Red Tercera Vía 

Um outro exemplo de portal/rede de blogues de orientação nacionalista, este em Espanha.
Red Tercera Vía.

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quinta-feira, novembro 23, 2006

"Informazione non conforme" 

O nosso é um dos vários blogues portugueses incluídos nas ligações do blogue italiano Informazione non conforme.
Trata-se de um blogue que procura situar-se numa perspectiva inconformista e contestatária, e que tenta funcionar também como um portal de blogues nacionalistas europeus.
A presença de um significativo número de portugueses é um motivo de orgulho e um encorajamento importante para quem sempre defendeu a relevância estratégica da blogosfera para os combates do nosso tempo.
O exemplo do próprio Informazione non conforme indica que alastra no universo nacionalista europeu a percepção da importância da actuação em rede, e das extraordinárias potencialidades deste meio.
Esperemos que estas lições sejam aprendidas, e que o papel decisivo destas cadeias informativas, cada vez mais vastas e mais influentes, venha a ser devidamente aproveitado por todos os militantes da causa.

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1º de Dezembro 


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segunda-feira, novembro 20, 2006

Causa Nacional 

Um manancial de leituras disponível na rede: CAUSA NACIONAL.

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domingo, novembro 19, 2006

Iniciativas da SHIP 

Actividades a decorrer na Sociedade Histórica da Independência de Portugal, no Palácio da Independência, ainda neste mês de Novembro:

21/11/2006
Conferência sob o tema "Vinte Sinais Premonitórios da Mudança Histórica”, pelo Tenente-General José Eduardo Garcia Leandro. No Salão Nobre, às 18h00.

22/11/2006
Curso Inês de Castro: “Adivinhas de Pedro e Inês”, pela Dra. Luisa Barahona Possollo, às 17H30 no Salão Nobre.

23/11/2006
Tardes no Palácio: “Perspectivas sobre o Japão”, pela Dra. Maria Helena Camacho de Freitas, na Sala do Núcleo Feminino, às 15h00.

23/11/06
“A Matemática e o seu Ensino” pelo Eng. Eduardo Martins Zuquete, às 17h30, na Sala de Convívio.

29/11/2006
Lançamento do livro “Folque – Breve Ensaio Genealógico”, da autoria do Visconde de Fontainhas - Instituto D. Afonso VI. Pelas 18H30 no Salão Nobre.

30/11/06
“A Colonização da Amazónia na 2ª metade do século XVIII” pela Mestre Maria da Luz Sobral, às 17h30, na Sala de Convívio.

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segunda-feira, novembro 13, 2006

70 anos depois 


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sexta-feira, novembro 10, 2006

Colóquio Causa Identitária 

A Causa Identitária organiza no próximo dia 25 de Novembro, em Lisboa, o seu I Encontro Internacional, contando com a presença de prestigiados oradores nacionais e estrangeiros. Pormenores no sítio próprio.

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quinta-feira, novembro 09, 2006

Portugueses, celebremos! 


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quarta-feira, novembro 08, 2006

ANTÓNIO FERRO E O SEU NOVO MUNDO 

(Um artigo de Eduardo Mayone Dias)

António Ferro foi indubitavelmente uma das mais controversas figuras do Estado Novo. Nascido em Lisboa em 1896, publica o seu primeiro livro aos dezassete anos, quando ainda aluno do liceu. Era um volume de poesia, "Missal de Trovas", composto em colaboração com Augusto Cunha. Pouco depois estabelece amizade com vários membros do grupo do Orpheu, Mário de Sá-Carneiro, Luís de Montalvor, José Pacheco e Almada Negreiros, e frequenta as suas tertúlias, onde tem a oportunidade de conhecer Fernando Pessoa. Em 1915 é nomeado director da revista. Parece bastante plausível que a nomeação se tivesse devido a razões algo calculistas. O grupo sofria de persistentes dificuldades financeiras e, como menor, António Ferro não poderia ser legalmente responsável por quaisquer dívidas que a revista contraísse.
Em 1917 pronuncia uma conferência intitulada "As Grandes Trágicas do Silêncio", a primeira em Portugal sobre a nova arte cinematográfica. Também faz outras conferências sobre jazz, que mais tarde irá compilar em "A Idade do Jazz Band".
Em 1918 parte para Angola como oficial miliciano. Aí serve como ajudante de campo do Governador Geral, Filomeno da Câmara, um homem de direita por quem António Ferro cria uma funda admiração, e é mais tarde nomeado secretário geral da colónia. De regresso a Lisboa no ano seguinte, é chefe de redacção de "O Jornal", que apoiava a linha sidonista , muito próxima do conceito de uma monarquia sem rei. Nestes perturbados anos de caos político a carreira jornalística de António Ferro floresce.
Em 1920 chama a atenção do público ao fazer estampar n' "O Século" uma entrevista com Gabriel D'Annunzio, que acabara de ocupar a cidade de Fiume, reclamando-a para a soberania italiana. Também trabalha como crítico literário e teatral e em 1922 é escolhido como director de "A Ilustração Portuguesa". Nesse mesmo ano está presente na Semana de Arte Moderna de São Paulo, que iria lançar o movimento modernista brasileiro. Entretanto continua entrevistando figuras célebres da actualidade internacional, como Mussolini, o General Primo de Rivera, Poincaré, Pétain, Jean Cocteau, Colette, Mistinguette e outros. Por estes tempos também segue fazendo conferências e escreve teatro.
Uma série de entrevistas com Oliveira Salazar, Presidente do Conselho de Ministros, em que se definiram os pontos mais importantes da orientação política do Estado Novo, lança António Ferro por um rumo diferente. Em 1933 é nomeado director do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN), mais tarde designado como Secretariado Nacional da Informação (SNI). Sob a sua direcção, que irá durar até 1950, além de dar publicidade ao novo perfil de Portugal no país e no estrangeiro, o Secretariado lança uma série de notáveis iniciativas culturais, entre elas o Teatro do Povo, o Cinema Ambulante e os Bailados Verde Gaio, além de exposições de arte, conferências, prémios literários e missões culturais. António Ferro é naturalmente o grande dinamizador deste programa e em breve consegue reconhecimento público como promotor da cultura portuguesa. Para isso tem de optar por um equilíbrio muito precário entre as exigências políticas extremamente conservadoras que o circundam e as suas próprias inclinações estéticas para um conceito modernista da arte. Outro projecto que dirige é a Exposição do Mundo Português, inaugurada em 1940, que atraiu um vasto número de visitantes nacionais e estrangeiros. Em 1941 é nomeado director da Emissora Nacional, a estação oficial de rádio, que ele imediatamente começa a remodelar. A sua última função pública é a de Ministro de Portugal em Berna. Vem a falecer em Novembro de 1956.
A associação de António Ferro com a ditadura e o seu papel como principal catalisador do mito salazarista antagonizaram muitos críticos. Por consequência o seu valor como escritor e jornalista nunca foi reconhecido com a devida justiça. De facto a imagem do homem de acção, formulador de uma política cultural que muitos consideravam manchada pelo totalitarismo do regime, obscureceu as qualidades artísticas na visão da predominantemente liberal intelligentsia portuguesa do tempo. Foi contudo um multifacético literato, um intérprete original e mundano da sociedade do tempo, uma personalidade combativa, um agudo crítico, um futurista que constituiu um dos mais importantes pilares de um sistema político ferozmente tradicionalista, uma curiosa combinação de boulevardier e oficiosa figura pública.
No início da década de vinte o espírito do "Orpheu" estava ainda presente na sua obra. O livro "A Teoria da Indiferença" causou uma forte repercussão dentro dos círculos literários de Lisboa pela sua natureza paradoxal e vanguardista. A peça "Mar Alto" foi proibida depois da primeira representação devido ao realismo cru que revelava e só pôde de novo ser encenada na década de oitenta. No entanto António Ferro parecia estar fascinado pelos regimes autoritários e euforicamente declarou "Há uma primavera de espadas por todo o mundo" uma semana antes da revolução de 28 de Maio de 1926, que pôs fim à primeira república portuguesa. No ano seguinte fez publicar a sua "Viagem à Volta da Ditadura".
Em 1927 António Ferro visitou os Estados Unidos. Com base nas suas impressões deste país escreveu uma série de reportagens para o "Diário de Notícias", mais tarde republicadas em dois volumes, "Novo Mundo Mundo Novo" (1930) e "Hollywood, Capital das Imagens" (1931). A viagem ao Novo Continente iniciou-se em Março, quando embarcou em Cherburgo no paquete americano Leviathan com destino a Nova Iorque. A vida a bordo deu-lhe já uma prefiguração da sociedade americana. Parece ter ficado especialmente impressionado pelo conforto, singeleza, opulência e mesmo uma certa excentricidade do ambiente que observou dentro do navio. Aí uma das mais sobressaltantes experiências foi uma visita à barbearia, comentada com a sua habitual originalidade de expressão:
Os barbeiros americanos são autênticos cirurgiões. Não fazem a barba: operam. Estendem-nos ao comprido na cadeira. Ficamos na posição horizontal das grandes operações. Uma vez nessa posição, será o que Deus quiser! Esfregam-nos, molham-nos, queimam-nos, esquartejam-nos...
Como se isso não fosse suficiente, o "carrasco inconsciente", como o autor lhe chama, apresentou-lhe uma conta de três dólares, uma soma que na realidade deveria ter parecido astronómica num contexto português da época.
Nova Iorque, a "cidade formidável, impossível, com as reticências infinitas das suas janelas", tal como ele a viu, foi logo uma revelação. Mesmo desde o navio deu-lhe uma imediata impressão de grandeza. Depois, ao deambular por Manhattan impressionaram-no o rápido andamento da vida americana, a azáfama das ruas, o intenso trânsito automóvel, a espantosa ostentação de riqueza na Quinta Avenida, a fúria da música de jazz em Harlem. Foi contudo capaz de se deter para uma visão poética da urbe: os arranha-céus que fogem da terra, os negócios tratados no trigésimo andar de um edifício do centro que sugerem o lirismo de um soneto composto numa mansarda, a Broadway que oferece a mágica da sua "luz-champanhe", os americanos que plantam jardins no topo dos mais altos buildings numa ilustração de idealismo prático.
A sua atenção divide-se entre os pormenores mais quotidianos, como uma banda do Exército de Salvação tocando em qualquer esquina, e os mais significativos, como a surpreendente espectaculosidade do acolhimento feito a Charles Lindbergh na cidade. Mesmo vendo-o à distância, António Ferro consegue captar as características mais marcantes da personalidade de Lindbergh através da sua expressão. Vê nele o all-American boy socialmente inocente, deixa-se impressionar pelo sorriso infantil, pela límpida pureza do olhar, a agradável combinação de uma desajeitada presença e um natural savoir faire.
As observações de António Ferro deixam a impressão de serem especialmente penetrantes e pertinentes. Bom europeu, sente-se esmagado pelas gigantescas dimensões da cidade mas consegue contudo acercar-se aos seus detalhes mais íntimos e tocantes como um pequeno cemitério escondido como um relicário entre a altura dos edifícios do centro da cidade. Vem para Nova Iorque com um espírito aberto, isento de preconceitos, sempre sensível à beleza - sem exclusão da beleza feminina. Aqui e além um toque de delicada ironia emerge do seu maravilhar-se ante a tecnologia americana ou a estranheza dos novos costumes.
A sua aventura novaiorquina continua por outras paragens. Em New Bedford seduzem-no o esplendor, as cores e os sons de um circo americano. No comboio de Houston para St. Louis conhece um companheiro de viagem com aspecto de apagado caixeiro viajante que depois se revela ser o filho do magnate Cornelius Vanderbilt. Isto é verdadeiramente a América, a terra dos incessantes assombros. Elogia os aspectos positivos e pragmáticos desta nova sociedade, tais como a simples e natural interacção entre os sexos: "Na América um e um são realmente dois...". Enleva-se com o sistema educativo, escolas que parecem palácios, o jeito amigável que professores e alunos têm uns para os outros, a pronta naturalidade com que os universitários aceitam o trabalho manual como forma de financiar os seus estudos. Mostra-se talvez algo exageradamente optimista quanto às virtudes do código de honra das instituições de ensino superior mas é tão compreensivo quanto os ziguezagues pelo labirinto da nova civilização lhe permitem ser. O seu humanismo é surpreendente. E também o é a sua imediata reacção aos instantâneos de dinamismo e vitalidade de que se vai apercebendo.
Em Washington tem a oportunidade de ser recebido pelo Presidente Coolidge que se mostra cordial e parece interessado em saber a sua opinião sobre a situação política portuguesa. Para António Ferro, Coolidge é o antigo lavrador, o político simples mas firme e inteligente que dirige a nação como dirigira antes o seu estado natal de Massachusetts. E o gabinete presidencial na Casa Branca simboliza o homem:
Não há um móvel ocioso, não há um quadro, não há um bibelot, não há uma flor. É um gabinete lacónico e seco, um artigo imperioso da Constituição. Uma grande secretária, uma estante de duas prateleiras enterrada na parede, uma mesa redonda ao centro da casa, meia dúzia de cadeiras, a bandeira americana junto da secretária.
Uma simplicidade eloquente. Mas este gabinete, de poucas palavras, é um discurso, é propaganda da boa democracia.
O jornalista que tinha tão ferventemente exaltado o poder da espada mostra-se agora deveras tocado pelo calmo poder da democracia.
A América passa como um filme diante dos olhos de António Ferro. Do vagão-observatório, durante longas viagens de comboio, vê cidade após cidade, mal diferenciáveis entre si, sempre com o mesmo edifício de madeira em frente da estação de caminho de ferro, a palavra HOTEL destacando-se da fachada. Ao aproximar-se de Chicago apercebe-se de um "exército infinito de chaminés" que desfila durante duas horas. Estas chaminés "são as árvores de Chicago e de Detroit, são os charutos das fábricas milionárias..." Nova Iorque e Chicago competem por um maior hotel, um arranha-céus mais alto, ambas oferecem o estonteante espectáculo de uma vaga de apressadas e palradoras empregadas de escritório invadindo os passeios às seis da tarde. A curiosidade de António Ferro é insaciável: "Todo o europeu que chega ao Novo Mundo é um descobridor, um descobridor de coisas simples e práticas, um descobridor de ovos de Colombo..." É de facto esta atitude, esta capacidade de fascinação pelas coisas singelas da vida que marca a cada passo a óptica do autor.
Com as suas flores, as suas árvores de fruto, os seus verdes, a Califórnia recorda-lhe o Minho. San Francisco é uma cidade mágica, debruçada sobre o Pacífico, espreitando o Extremo Oriente pela fresta da Golden Gate Bridge. Esta "cidade-cocktail", esta urbe sorridente e alegre desperta-lhe aquela sensação de estar em casa tantas vezes experimentada por gentes do sul da Europa que a visitam. Uma ida ao teatro chinês não pode deixar de contribuir para o mistério e encanto do ambiente.
O propósito primordial desta visita de dois meses aos Estados Unidos era entrar em contacto com a comunidade portuguesa aí emigrada. Para cumprir esse objectivo faz planos para passar vinte dias na Califórnia e mais alguns na Nova Inglaterra. Confessa que o quadro desta emigração se revela algo nebuloso em Portugal. O emigrante é ignorado, quanto muito ironizado. Visto como completamente absorvido pela América, privado dos seus valores ancestrais, não oferece uma silhueta diferenciativa aos olhos dos que ficaram atrás. Esta é a imagem que António Ferro se propõe desmentir. A sua intenção é demonstrar como os laços que ligam o emigrante à pátria continuam a ser vigorosos.
É todavia uma tarefa difícil. Embora António Ferro continuamente aluda aos ideais patrióticos e insinue as vantagens de um regresso à tradição, tem de admitir que se criou uma nova geração do outro lado do Atlântico. A mulher portuguesa na América impressiona-o em particular. Enfatiza em especial a capacidade organizativa das dirigentes das duas sociedades femininas da Califórnia. O leitor encontrará nas suas palavras um contraste discreto, talvez quase desapontado, com o comportamento feminino em Portugal quando faz notar que as portuguesas da América normalmente guiam carros, montam a cavalo, jogam golfe, frequentam as piscinas, dominam as danças modernas e se vestem do mesmo modo que as suas irmãs americanas. Admira francamente a sua liberdade, a sua abordagem prática da vida. Chega mesmo a apontá-las como modelos para as mulheres que ficaram na pátria, uma atitude surpreendente para um português dos anos vinte, produto de uma sociedade tradicionalista em que a cultura francesa, não a americana, era considerada a paradigmática.
Os seus encómios vão também para os homens. Vindo de um país onde se habituara ao panorama de um sector rural de limitados recursos, sublinha com impressionante justeza a relativa opulência do lavrador ou trabalhador agrícola português na Califórnia:
Todos vivem bem. Todos têm o seu "rancho", o seu bungalow, o seu automóvel. Há uma escala de fortuna que vai de dez mil dólares (poucos estão no princípio da escala...) até dois milhões de dólares. Não há grandes fortunas mas também não há miséria. O bem estar é geral. Ninguém precisa do seu vizinho para comer o pão de cada dia...
Conta depois uma série de histórias de êxito económico.
Menciona o rapazinho pobre que chega aos Estados Unidos sem conhecer uma palavra da nova língua e só com uns quantos dólares no bolso e consegue chegar a ser médico, advogado, político, próspero agricultor ou negociante. Manifesta espanto ante a extraordinária capacidade de aculturação ao mundo moderno demonstrada pelo emigrante português. Uma das suas mais vívidas ilustrações é a de um proprietário rural açoriano, analfabeto mas absolutamente familiarizado com sofisticadíssima maquinaria agrícola, que vive num lar confortável onde o jornalista pôde observar um piano, um fonógrafo, pratas e louças caras, uma elegante casa de banho e -- num irónico contraste - um altar erigido em honra do Divino Espírito Santo.
Os sentimentos nacionalistas de António Ferro alvoroçam-se quando ouve os luso-descendentes falarem a língua ancestral. Talvez seja um português estranho, muitas vezes rústico e primitivo, mas é a língua da pátria. Por outro lado será talvez possível descortinar-se nele uma ligeira irritação quando ouve algumas luso-americanas conversando em inglês entre elas durante um almoço oferecido ao jornalista. Isto sugere-lhe a necessidade de Portugal prestar maior atenção aos seus filhos espalhados pelo mundo. De certo modo parece lamentar que outros países atraiam este segmento da população portuguesa e apela mesmo para um encaminhamento da emigração para as colónias portuguesas de África.
Existem, muito compreensivelmente, afirmações e quantificações bastante discutíveis no seu balanço geral da comunidade lusa na Califórnia. António Ferro veio como jornalista e escreveu sobre o que teve oportunidade de observar, talvez de um modo algo superficial em vários casos, e sobre o que lhe foi dito por compatriotas quiçá movidos por um desejo de supervalorização dos seus conseguimentos. Não fez, e não poderia ter feito, uma pesquisa metódica e em profundidade. Assim, pinta um quadro que de vez em quando parece demasiadamente cor-de-rosa e que algo diverge da realidade. O seu agudo sentido jornalístico leva-o contudo à essencialidade da vida emigrante. Pode errar um pouco nos pormenores mas patenteia um seguro instinto para imediatamente detectar as facetas mais pertinentes da presença portuguesa na Califórnia. Além disso pode reclamar para si a distinção de ter sido o primeiro autor que em Portugal se preocupou com esta emigração e sobre ela escreveu.
Los Angeles, onde passou duas semanas, foi outra revelação para António Ferro. A sua pintura desta "cidade festiva" está marcada por fortes pinceladas de impressionismo, que fazem ressaltar a luminosidade, a abundância de flores, uma arquitectura muito própria. O quadro geral da cidade é dado através de rápidas mas expressivas miniaturas: a visão do restaurante Brown Derby construído em forma de chapéu de coco, as cottages de Beverly Hills, o exótico perfil do Grauman's Chinese Theater, Hollywood Boulevard, o "boulevard-écran", todo um desfile de novas sensações. Aqui também se patenteia o deslumbramento sempre presente, uma aproximação quase lírica à nova ambiência.
Uma parte de Hollywood, Capital das Imagens trata do estranho mundo do filme, da sobreposição da fantasia à autenticidade. Com uma frase, "A realidade de Hollywood (...) é a sua irrealidade", António Ferro encapsula as suas perplexas conclusões. A recriação do ambiente da rua dentro de um estúdio deixa-o estupefacto, a estatura da gente do cinema, quase a roçar o épico, causa-lhe um notório impacto. É mais uma faceta desta estranha América, por vezes tão humana, por vezes tão artificial.
A sua última semana no Novo Mundo foi passada com as comunidades portuguesas da Nova Inglaterra. Lamenta que o tempo não lhe tivesse permitido uma visita mais prolongada a esta zona ou qualquer contacto com os núcleos de Newark ou Brooklyn, de facto colónias de maior densidade que a da Califórnia e, na altura, diferenciáveis dela pelo seu cunho urbano e industrial. Teve apesar de tudo ocasião de entrevistar alguns dirigentes comunitários e de apreciar a mesma pronta hospitalidade que já na costa do Pacífico lhe tinha sido brindada.
De um modo geral "Novo Mundo Mundo Novo" e "Hollywood, Capital das Imagens" são precisamente o que o primeiro título sugere. António Ferro chega à América com uma atitude de tabula rasa e deixa-se encharcar pelas maravilhas da nova civilização. Admira francamente o que vê e através das suas páginas o leitor dá-se conta da constante apetência de conhecer mais e mais, de penetrar mais fundo no novo ambiente, de o descrever artisticamente. Os seus antecedentes intelectuais e profissionais impelem-no para agarrar com ambas as mãos a novidade com que por todo o lado esbarra. O futurista tinha encontrado o futuro.

NOTAS
. Sidónio Pais fora assassinado a 14 de Dezembro de 1918.
. Recorde-se que em 1927 a ditadura militar atravessava ainda um período de relativa desorientação, que só se veio a estabilizar quando Oliveira Salazar tomou as rédeas do poder em 1932.
. Os comportamentos que ele descreve parecem no entanto mais típicos da mulher luso- americana do que da mulher emigrante. É plausível que neste aspecto António Ferro se tenha deixado arrastar pelo indiscriminado uso americano de termos de nacionalidade, que engloba por exemplo como "portugueses" os luso-descendentes, mesmo de terceira ou quarta geração.

Eduardo Mayone Dias

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terça-feira, novembro 07, 2006

O terrorismo, há 30 anos 

Na manhã de 18 de Março de 1978, numa estrada da Normandia, François Duprat, então com 37 anos, morreu na explosão de uma bomba colocada no seu veículo. Sua esposa ficou gravemente ferida e mutilada.
Escusado será dizer que até hoje ninguém foi incomodado por esse crime.
Para os nacionalistas-revolucionários da minha geração, não é possível esquecer quem foi François Duprat, o seu extraordinário trabalho de organizador, o seu exemplo de militante integral, e a importância que teve no renascimento de um movimento político organizado na extrema-direita em França. Muito do que é a Frente Nacional deve-se ao seu trabalho infatigável.
Tratou-se de um assassinato selectivo, rigorosamente decidido, planeado e executado.
A livraria LIBRAD recorda a sua obra oferecendo ao público os livros em que foram reunidos muitos dos seus escritos. Estão disponíveis: "L'Internationale étudiante révolutionnaire", "Les Journées de mai 1968", "Le Ba'as, idéologie et histoire", "Manifeste Nationaliste Révolutionnaire", "La Revue d'Histoire du Nationalisme Révolutionnaire n° 2","La Revue d'Histoire du Nationalisme Révolutionnaire n° 1", "Henry Ford et l'antisémitisme américain", "Résistance".
Como eu estava a dizer, o terrorismo é uma realidade muito complexa - e as visões unívocas que são de bom tom e bom uso não se ajustam mesmo nada à realidade.

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O terrorismo, há 30 anos 


No dia 1 de Novembro de 1976, fez agora 30 anos, vinte quilos de explosivos colocados na residência de Jean Marie Le Pen (o 9 da Villa Poirier, em Paris) destruiram todo o imóvel (doze apartamentos).
Escusado será dizer que até hoje nada se descobriu sobre a autoria do atentado. Como aliás é compreensível: a quem iriam os investigadores investigar?
Este tema do terrorismo é muito mais complexo do que julgam os que acordaram agora para o assunto, ou se deixam guiar pelos lugares comuns da propaganda.

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segunda-feira, novembro 06, 2006

Revista "Futuro Presente" 

A revista "Futuro Presente" está à venda, em Lisboa, na TEMA, Praça dos Restauradores, 9 - ao lado do Elevador da Glória -, na LIVRARIA FÉRIN, na Rua Nova do Almada, 72 e na LIVRARIA LÁCIO, no Campo Grande, 111.
Quem quiser assiná-la ou procurar quaisquer outras informações sobre a sua distribuição, números anteriores, etc. pode ligar para o 21 716 73 86, das 9 às 13 e das 14 às 18 (Catarina Franco) ou dirigir-se a futuro.presente@portugalmail.pt


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Escolha do dia 

Excelente, este Dissonâncias.

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domingo, novembro 05, 2006

Falta pouco! 


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Os nossos mortos 

"Quando se tem vivido uma vida já longa, e, sobre longa, intensa, de trabalhos, de fadigas, de inquietações, até de sonhos, o caminho que percorremos fica ladeado de numerosas cruzes - as cruzes dos nossos mortos. E se essa vida foi sobretudo colaboração íntima, soma de esforços comuns, inteiro dom das qualidades nobres da alma, eles não ficam para trás: continuam caminhando a nosso lado, graves e doces como entes tutelares, purificados pelo sacrifício da vida, despidos da jaça da terra, sublimados na serenidade augusta da morte. Na verdade, há mortos que não morrem: desaparecem no seu invólucro terreno, na sua figuração humana, na fragilidade e nos defeitos e nas limitações da carne; mas o espírito continua a brilhar como as estrelas que se apagaram no céu há cem mil anos, vincam-se mais na terra os sulcos que o seu exemplo abriu e parece até que os seus afectos não deixam de aquecer-nos o coração. Nem de outra forma se compreenderia que a Providência suscitasse tantas vezes almas extraordinárias, cumes de beleza espiritual, e lhes não conceda mais que uma breve aparição, como voo de asa que corta o céu, botão que murcha sem revelar ao sol da manhã a graça do perfume da rosa. Há mortos que não morrem, e nós todos que viemos de longe ou de perto, em saudosa peregrinação, somos os que testemunhamos que este não morreu."
(Salazar, no seu discurso em memória de Duarte Pacheco, a 15 de Novembro de 1953)

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sábado, novembro 04, 2006

COLÓQUIO 

A Causa Identitária organiza, no próximo dia 25 de Novembro, em Lisboa, um colóquio que contará com as presenças de Pierre Vial (presidente da associação francesa Terre et Peuple), Guillaume Faye (conhecido intelectual francês), Enrique Ravello (presidente da associação espanhola Tierra y Pueblo) e dos portugueses Duarte Branquinho (presidente da Causa Identitária), Humberto Nuno Oliveira (secretário-geral do PNR) e Miguel Jardim.
Os restantes pormenores serão anunciados brevemente, mas pede-se desde já a todos os interessados em assistir que confirmem a sua presença por e-mail.
http://www.causaidentitaria.org/

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sexta-feira, novembro 03, 2006

Alameda Digital - mais um número 

Saiu a terceira edição da Alameda Digital, esta centrada nos problemas da liberdade de expressão.
Não deixem de ler também os dois números anteriores.

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quinta-feira, novembro 02, 2006

Causas do malogro da acção política contra-revolucionária 

Editada há mais de 25 anos por Roger Delraux, foi em tempos publicada uma tradução portuguesa de um dos mais importantes livros de filosofia política dados à estampa depois da Segunda Guerra Mundial: "A Contra Revolução", de Thomas Molnar.
Ao lado de Julien Freund, de Karl Schmitt, de Bertrand de Jouvenel, de Jules Monnerot, Thomas Molnar faz parte daquele grupo de politólogos que, depois de Maurras e do maurrasianismo e para além deles, não desistiu de analisar os malefícios da partidocracia e do desmesurado crescimento do Estado moderno, cuja crítica, desde Condorcet até Vilfredo Pareto, passando por Toqueville, e de Bonald e de Maistre, não tem cessado de ser feita.
Certo da importância e actualidade desta publicação, transcrevo ao diante algumas passagens do livro de Molnar, que me parecem especialmente estimulantes, e a merecer debate e análise nos dias de hoje, tal o acerto das observações.
Espero suscitar a reflexão e vir a contar com as opiniões dos interessados.

A restauração contra-revolucionária tem falhado regularmente, não por qualquer fraqueza intrínseca da posição ou da filosofia contra-revolucionárias, mas por os contra-revolucionários se revelarem largamente incapazes de utilizar a fundo os métodos modernos: organização, slogans, partidos políticos e imprensa. O processo publicitário foi abandonado aos media revolucionários, de tal modo que os contra-revolucionários regularmente surgem a uma luz desfavorável, quando ao menos conseguem fazer-se conhecer. Nessa conformidade, o homem da rua, mesmo não comprometido, traz em si um pequeno mecanismo que lhe dita reacções simpáticas aos heróis e às causas revolucionárias e um sentimento de estranheza ou relutância perante as causas contra-revolucionárias. Os meios de comunicação contra- revolucionários pouco ou nada fazem para corrigir essa atitude inicial, entretanto permanentemente reforçada pela influência contínua da propaganda de esquerda. Os contra-revolucionários dirigem-se essencialmente aos já convertidos, cujo número pode ser muito importante, e até representar a maioria, mas não aumenta após esse primeiro contacto. Por outro lado, o público contra-revolucionário é, em geral, "estático", não sentindo necessidade ou possibilidade de maior expansão, seja pelo conhecimento, pela mobilidade ou pela conquista das instituições: basta-lhe ser assegurado que as suas opiniões são justas. Os contra-revolucionários lêem os seus próprios jornais e livros para aí verem reflectidas as suas próprias convicções e também para confirmarem a existência de outras pessoas que as partilham.
Esta atitude não prevalece apenas entre os contra-revolucionários de uma Europa activíssima no plano ideológico, mas também nos Estados Unidos, embora aí os costumes políticos encorajem todos os partidos e as opiniões marginais a divulgar as suas ideias; mesmo assim, observa Willmore Kendall a propósito dos legisladores americanos, "é geralmente verdade que os resistentes (os conservadores expostos aos ataques dos liberais no Congresso) não mostraram até agora (1963) grande actividade no sentido de articular princípios. Toda a sua agitação raramente corresponde a uma filosofia conservadora autêntica e combativa, capaz de resistir ao moralismo militante dos liberais".(1)
Na arena política, a contra-revolução deve habitualmente esperar que os acontecimentos persuadam a população e os eleitores a aderir à sua causa; parece incapaz de os persuadir em períodos de calma e normalidade, em grande parte devido ao facto de os contra-revolucionários não fazerem sérios esforços nesse sentido e deixarem campo livre aos meios de propaganda revolucionários. Assim, sobrevinda uma crise, não dispõem de qualquer grupo organizado e experimentado, mas apenas de massas unidas pelas circunstâncias, invertebradas, clamando ansiosamente por imediata protecção - contra a agressão ideológica, o desastre financeiro, a anarquia. Disso duplamente sofre a reputação dos porta vozes contra-revolucionários: primeiro, porque, no período anterior à crise, são apontados como "profetas da desgraça"; depois, porque, eclodida esta, são acusados de incapacidade para restabelecer a situação. De qualquer maneira, fazem-se conhecer, antes e depois, como "homens de crise", emergindo apenas em circunstâncias excepcionais, assumindo os interregnos sob a forma de "homens providenciais" ou "ditadores".
O curioso é haver boa dose de verdade nestes rótulos. O contra-revolucionário deixa, por omissão, os revolucionários encarregarem-se de lhe pintar o retrato, por tal forma que a descrição da sua passagem pelo poder e a reputação que lega à posteridade são igualmente feitas (ou refeitas) pelos adversários. Poderia dizer-se que a filosofia contra-revolucionária, bem como os programas e os actos, são vistos pela opinião pública - e pela história - através das descrições e dos critérios de julgamento, essencialmente hostis, dos revolucionários.
O contra-revolucionário tem consciência deste estado de coisas, mas na generalidade não é capaz de o remediar. A sua análise é normalmente lúcida, mais até que a dos seus adversários. Os contra-revolucionários mediram perfeitamente, após 1789, os perigos da democracia, mas encontraram pouca audiência na imprensa ou nas massas. Pobedonostsev, reputado um ultra-reaccionário, diagnosticou a doença democrática de modo pouco diverso do de Platão. Nas Reflections of a Russian Statesman (p. 45), escreve: "A democracia é o sistema de governo mais complicado e mais difícil de manejar de toda a história da humanidade. Por isso, jamais apareceu salvo como manifestação transitória, as poucas excepções cedendo rapidamente lugar a outros sistemas." Claro está, o período de "transição" pode durar muito tempo, pois a degenerescência da democracia é por vezes muito lenta, por fases dificilmente perceptíveis. Cada uma delas é saudada pelos media revolucionários como um novo avanço, um novo progresso, uma conquista da liberdade, e a opinião pública aceita-a como tal. Em consequência, de cada vez que os contra- revolucionários tentam chamar a atenção para novo aprofundamento na degeneração, as suas exortações afiguram-se à opinião pública ainda mais extremistas que antes. Após 1918, os contra-revolucionários estavam na razão apontando o marxismo como a nova e grande ameaça para a civilização, maior que a democracia, embora emanado da doutrina democrática e encorajado pela tolerância democrática. Quando a chamada experiência russa do comunismo suscitava fortes aplausos dos ideólogos revolucionários ocidentais, foram dos contra-revolucionários as vozes que, não só a condenaram, mas também lhe assinalaram as raízes e a lógica de destruição. Precederam assim, pelo menos de uma geração, os fabricantes de opinião do Ocidente: o comunismo teve de calçar as botas e ocupar a pátria de cem milhões de europeus antes que o Ocidente mostrasse os primeiros sinais de inquietação.
Os contra-revolucionários encontraram-se desempenhando com inquietante regularidade o papel de Cassandra, enquanto a ameaça contra a qual advertiam a sociedade crescia em intensidade e alastrava geograficamente. Entretanto, a origem da ameaça, já apercebida logo após 1789, e mantendo-se a mesma, agravava-se: era ainda o estilhaçar da sociedade, a desunião e a atomização introduzidas pela democracia jacobina. Dando a essa desunião um nome novo e mais ameaçador - a luta de classes -, Marx não podia ser rotulado, na terminologia contra-revolucionária, de antidemocracia; bem pelo contrário, parecia simplesmente extrair as conclusões lógicas da fatalidade democrática. Sob as formas parlamentares da democracia, os diferentes grupos de interesses – as "clientelas" - travavam tacitamente uma verdadeira guerra civil; Marx simplesmente chamou as coisas pelos seus nomes, exaltando um desses "grupos de interesses” (ou "clientelas"), o proletariado, a lutar até ao fim para destruir o sistema.
Na verdade, este aspecto do marxismo - mas, é claro, com exclusão dos outros, trate- se do moralismo, da negação da acção ou do totalitarismo - encontrava certa simpatia nos peitos contra revolucionários.
Também o marxismo combatia o Estado liberaldemocrático nascido de 1789 e da revolução industrial; também ele era contra a atomização da sociedade e a dispersão da energia social; também ele pregava uma espécie de reunificação pela liquidação das classes e clientelas. Mas a comparação termina aí, e os caminhos do comunismo e da contra-revolução, por momentos paralelos, divergem radicalmente. Explica isto, porém, a atitude compreensiva dos contra-revolucionários em relação ao comunismo, na medida em que este, embora de maneira deformada e quão terrível, igualmente crê na unidade social (mas não na harmonia - harmonia das partes!) e numa fé que a exprime e protege. No Journal d'un homme traqué, Robert Brasillach escreveu: "O fascismo não é o marxismo, mas também combate e odeia as injustiças contra as quais o marxismo se levanta e contra as quais propõe os seus perigosos remédios."
Compreende-se que, com uma tal atitude (e Brasillach traduz bastante bem a posição contra-revolucionária entre as duas guerras), os contra-revolucionários tenham atraído simultaneamente a hostilidade dos marxistas e a dos capitalistas liberais, assim como a do Estado liberaldemocrático. Valendo isto dizer que a imprensa - nas mãos dos intelectuais marxistas, dos empresários capitalistas e do governo - tinha todo o interesse em silenciar e deturpar as vozes dos contra-revolucionários, assim agravando o seu isolamento e a sua amargura, muito para além do que tinham experimentado no século XIX, quando começara o processo, Privados de poder e de meios de comunicação, as contra-revolucionários adoptaram então um tom profético e apocalíptico, já que tanto a imprensa oficial e os representantes do Estado quanto os representantes da vida cultural ou universitária não pareciam compreender que, com a aparição do bolchevismo, a sociedade passara a não ser apenas maltratada, mas efectivamente submetida a desintegração. Como das várias outras ocasiões, antes e depois do período 1918-1939, os contra-revolucionários esperavam fazer-se compreender ao menos pelos revolucionários "à moda antiga", por exemplo aqueles que representavam o Estado e por ele eram responsáveis perante o inimigo comum: uma esquerda marxista ou orientada para o marxismo. Em casos isolados, efectivamente, essa esperança concretizou-se. Mas o contra-revolucionário lúcido sabia que o marxismo é um instrumento poderoso para extrair das profundezas da ideologia revolucionária o impulso à utopia, e que o próprio partido comunista constitui o elo de ligação natural de todos os revolucionários à deriva. Plínio Corrêa de Oliveira alega, designadamente, que o liberal aceita o socialismo porque um governo socialista (marxista) permite a "satisfação metódica, embora por vezes sob o signo da austeridade, das paixões mais baixas, como a inveja, e preguiça, a imoralidade. Por outro lado, o liberal percebe também que o desenvolvimento da autoridade central, a que normalmente deveria opor-se, não passa de um meio para assegurar a anarquia final", pois destrói a moralidade pública e a liberdade individual (2). Exactamente o que aconteceu com a instauração das "frentes populares” na Espanha e na França e com o fenómeno do Kulturbolschewismus na Alemanha.

1. Willmore Kendall, The Conservative Affirmation, Chicago, Henry Regnery, 1963, p. 18. O autor observa, por exemplo, não procurarem os senadores conservadores explicar os seus pontos de vista em termos filosóficos, de tal forma que dão a impressão de serem conduzidos por motivos sórdidos.
2. Révolution et contre-révolution (em francês), São Paulo, Ed. Catolicismo, 1960; p. 65.

Thomas Molnar

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O que uns deixarem perder outros haverão de ter 

Em Política, ciência que estuda o Poder, são bem conhecidas as leis da Física. Por exemplo, é facilmente observável o horror ao vazio. O Poder que uns perdem, por renúncia ou coerção, reverte sempre para outros, que vêem o seu acrescido.
Veja-se como actualmente correm generalizadas as doutrinas que apregoam o fim das soberanias dos Estados, e defendem a queda das fronteiras, e propugnam múltiplas formas de vinculação que implicam na verdade a renúncia aos princípios da soberania (organizações supraestaduais, tribunais internacionais, etc.). Pois em paralelo, como é bom de ver, logo outros proclamam altaneiros o seu apego a uma soberania a que recusam qualquer limitação normativa exterior, e arrogam-se mesmo o direito de passar a decidir por si e unilateralmente questões em que nunca poderiam sequer intrometer-se, havendo respeito pela soberania alheia.
Observe-se como por todo o lado se teoriza a obsolescência dos nacionalismos, e se equipara a nação a uma forma de vida em comum própria de passadas eras, e se ridiculariza qualquer ideia de defesa e de preservação dessas comunidades históricas, e como paralelamente novos nacionalismos, cultivados até ao extremo, numa espécie de teologia política profana, se levantam agressivos e belicosos, submergindo na sua expansão todos os espaços que os demais deixam vagos.
Foi sempre assim: o que uns perderem outros haverão de ter.

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Aborto: o crime do dia seguinte 

(Texto do PNR, de 01-Nov-2006)

Aquilo que se pretende com a pergunta complicada e disfarçada do referendo ao aborto, é a sua pura e simples liberalização. Ou seja, aborto livre!
Aborto livre e pago com o nosso dinheiro.
A pergunta, camuflada por uma pretensa despenalização das mulheres que praticam o aborto, visa na verdade legalizar e permitir o aborto totalmente livre e a pedido apenas da mulher, até às 10 semanas…
O grande argumento esquerdista, é o de que não é concebível que se levem as mulheres a julgamento pela prática do aborto. Tal atitude numa sociedade civilizada é chocante, dizem. Mas, nessa tal sociedade "civilizada" a prática de aborto cabe que nem uma luva, certo?
É óbvio que quem comete um crime, quem vai contra a lei tem que sofrer as suas consequências, caso contrário não faria sentido haver lei. Nisso todos concordamos.
Ora, assim sendo e por uma questão de coerência – dizem ainda – há que mudar a lei.
Deixa então de ser crime, por decreto, a prática livre do aborto até às 10 semanas. Nas primeiras 10 semanas de uma nova vida humana, em gestação, esta pode ser aniquilada a pedido da mãe, sem qualquer consequência penal para ela.
E então se uma mulher fizer um aborto às 10 semanas e um dia? Isto é, se o fizer no dia seguinte ao prazo estipulado por eventual nova lei, então essa mulher já é uma criminosa? Já é legítimo levá-la à humilhação da barra do tribunal?
Quer dizer que 24 horas fazem a diferença entre um acto normal e um crime? Entre uma mulher de livre decisão e uma criminosa?
Estamos pois, perante o crime do dia seguinte e, com ele, perante uma tremenda farsa e hipocrisia dos defensores da barbárie e da cultura de morte.
Com esta lei, estão a assumir implicitamente que o aborto é um crime, se feito das 10 semanas em diante.
Então porquê as 10 semanas? É fácil perceber-se que perante tal mentalidade tão perversa e sem pés nem cabeça, a arbitrariedade é quem mais ordena… É que, quando se defendem aberrações que não têm qualquer suporte racional, moral, filosófico, humano, etc, mas tão só o capricho e o desejo de destruir a sociedade, então caímos fatalmente no arbítrio sem lógica.
Contudo, não podemos menosprezar esta situação. Não pensemos que são ingénuos ou primários, já que eles bem sabem do carácter provisório desta conquista, na preparação de outras mais ousadas. Os esquerdistas, verdadeiros maestros desta estratégia muito bem orquestrada, são peritos em usar o tempo e a manipulação das mentes mais permeáveis: hoje, arbitrariamente defendem as 10 semanas para o aborto livre, num futuro próximo, com novos argumentos, virão trazer de novo este assunto para a ordem do dia, defendendo o alargamento do prazo…
É uma estratégia já conhecida: devagar se vai ao longe…
É por essas e por outras que sempre defendemos que as questões fundamentais de uma sociedade e de uma Nação, não se discutem nem se negoceiam. Combatem-se!

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quarta-feira, novembro 01, 2006

Legião Vertical 

O caminho horizontal é para os outros!

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A direita segundo Alain de Benoist 

O número 118 da excelente revista Éléments tem como peça central um dossier sobre os novos tipos de totalitarismo servidos pela tecnologia moderna, chamado incisivamente "Nous sommes tous en liberté surveillée".
E a esse tema de fundo junta um debate-entrevista com Alain de Benoist, sobre as direitas, que, se me permitem dizê-lo, tem um conteúdo verdadeiramente explosivo - se a direita ainda conservar realmente algum potencial de explosão.
O momento é evidentemente escolhido: em França, como em Portugal ou em qualquer paragem que analisemos, a paisagem que a direita oferece é feita de impasses e paralisias.
Alain de Benoist é um provocador: o presente requisitório, décadas passadas sobre a eclosão da "Nouvelle Droite", e numa altura em que se levantam dúvidas legítimas sobre se nas sociedades ocidentais existe "um caminho à direita", é um desafio vibrante e impiedoso, mas obviamente estimulante.
Seguem-se alguns excertos, para amostra.

Uma direita que falta ao debate das ideias
«Depuis l’affaire Dreyfus, la droite française n’a (…) jamais beaucoup aimé les intellectuels. (…) L’intellectuel peut se définir comme celui qui essaie de comprendre et de faire comprendre. La droite, bien souvent, ne cherche plus à comprendre. Elle ignore même ce que peut être le travail de la pensée. Le résultat est que la culture de droite a aujourd’hui pratiquement disparu. Elle ne se survit que dans des cénacles confidentiels, dans l’édition de marge, dans des journaux dont elle est bien la seule à croire que ce sont de véritables journaux. L’ostracisme dont elle a pu être l’objet n’explique pas tout. Non seulement Julien Freund, Jules Monnerot, Thierry Maulnier, Stéphane Lupasco, François Perroux, Louis Rougier, Raymond Ruyer et tant d’autres sont morts sans avoir été remplacés, mais la plupart des auteurs de droite ont déjà été oubliés par ceux qui devraient ou pourraient s’en réclamer. (…) On ne peut qu’être frappé de la façon dont la droite a perdu l’habitude d’intervenir dans les débats d’idée. Si on prend les 100 livres d’idée dont on a le plus parlé depuis un demi-siècle, on s’aperçoit qu’elle n’a pratiquement pas publié une seule ligne à leur sujet. Cela ne l’intéresse pas, cela ne la concerne pas. (…) La droite ne s’intéresse à aucun auteur extérieur à ses repères fétiches, elle n’en discute ou n’en réfute aucun. Elle ne tire même pas profit de ceux qui pourraient lui fournir des arguments. (…) A droite, en matière de travail de la pensée, c’est généralement le désert des Tartares, l’encéphalogramme plat.»

Uma direita que não pensa
«La plupart des gens de droite n’ont pas d’idées, mais des convictions. Les idées peuvent bien entendu donner naissance à des convictions, et les convictions se baser sur des idées. Mais les deux termes sont différents. Les convictions sont des choses auxquelles on croit et qui, parce qu’elles sont l’objet d’une croyance, ne sauraient faire l’objet d’un quelconque examen critique. Les convictions sont un substitut existentiel de la foi. Elles aident à vivre, sans qu’on ai besoin de s’interroger sur leur articulation logique, sur leur valeur par rapport à tel ou tel contexte ou sur leurs limites. On met un point d’honneur à les défendre comme un petit catéchisme. La droite aime les réponses plus que les questions, surtout si ce sont des réponses toutes faites. (…) Le travail de la pensée implique d’apprendre de ses erreurs. L’attitude de droite consiste plutôt à ne jamais les reconnaître, et donc à ne pas chercher à se corriger pour aller plus loin. D’où l’absence d’autocritique et l’absence de débat. L’autocritique est perçue comme une faiblesse, une inutile concession, sinon une trahison. (…) Le débat, parce qu’il implique une contradiction, un échange d’arguments, est généralement vécu comme une agression, comme quelque chose qui ne se fait pas.
(…) L’homme de droite marche à l’enthousiasme ou à l’indignation, à l’admiration ou au dégoût, pas à la réflexion. Il n’est pas réflexif, mais réactif. D’où ses réactions presque toujours émotionnelles devant l’événement. Ce qui frappe, c’est sa façon naïve, sinon puérile, de s’en tenir toujours à la surface des choses, à l’anecdote d’actualité, de tout regarder par le petit bout de la lorgnette, sans jamais remonter aux véritables causes. Quant on leur montre la lune, beaucoup de gens de droite regardent le doigt.
(…) Comme elle s’intéresse peu aux idées, la droite a tendance à tout ramener aux personnes. (…) Les querelles de droite sont des querelles de personnes, avec à la base toujours les mêmes ragots, les mêmes racontars, les mêmes imputations calomnieuses. De même, ses ennemis ne sont jamais des systèmes ni même véritablement des idées, mais des catégories d’hommes posées comme autant de boucs émissaires.»

Uma direita que não acerta no inimigo
[Au fond, la droite s’est toujours trompé d’ennemi] de la lutte contre le système de l’argent, qui était son ennemi principal, la droite n’a jamais fait une priorité. Elle a d’abord combattu la République à une époque où il tombait sous le sens que la monarchie de droit divin ne reviendrait plus jamais. Après 1871, elle s’est lancée à corps perdu dans la dénonciation des «Boches» ce qui l’a amenée au nom de l’«union sacrée» à légitimer l’abominable boucherie de 1914-1918, qui a engendrée toutes les horreurs du XX° siècle. A partir de la fin de la Première Guerre mondiale, elle s’est jetée tête baissée dans la lutte contre le communisme et sa «barbarie païenne». A l’époque de la guerre froide, par peur de ce même communisme, qu’elle aurait du considérer comme un concurrent plutôt que comme un ennemi, elle s’est solidarisée d’un «monde libre» qui consacrait la puissance de l’Amérique, le pouvoir de la bourgeoisie et la domination mondiale du libéralisme prédateur – comme si les horreurs du Goulag justifiaient les abomination du système de la marchandise. Cela l’a amenée à soutenir l’«atlantisme», à approuver le massacre du peuple vietnamien, à se solidariser des dictatures les plus minables, des colonels grecs aux généraux argentins en passant par Pinochet et ses Chicago’s boys, sans oublier les tortionnaires de l’opération Condor, spécialisés dans l’assassinat de «subversivos» qui, pour la plupart, ne demandaient que plus de justice sociale. Quand le système soviétique s’est effondré, rendant du même coup possible la globalisation, les immigrés sont providentiellement venus prendre le relais pour occuper le rôle statutaire de la «menace». Confondant les immigrés et l’islam, puis l’islam et l’islamisme, enfin l’islamisme et le terrorisme, elle récidive actuellement en se jetant dans l’islamophobie, démarche véritablement suicidaire et, de surcroît, parfaitement incohérente du point de vue géopolitique.»

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A Causa Identitária vota Não 

(Comunicado da Causa Identitária)

Após várias tentativas o PS, com o apoio de PSD e BE, conseguiu aprovar a realização de novo referendo sobre o aborto – já o PCP, fiel à sua “particular” concepção de democracia, entende que o povo não tem nada a dizer sobre esta matéria e que deve ser a maioria parlamentar de esquerda a decidir.
Dizem os defensores do aborto que a mulher deve “mandar no seu corpo”. De acordo; no seu corpo e não no de outros, neste caso no do seu filho por nascer. Um feto é um ser humano e não um tumor que possa ser removido livremente. A Vida inocente é para nós um valor fundamental que não pode ser colocado em causa apenas por questões de conveniência ou caprichos pessoais. Além do mais, e pelo menos por enquanto, ainda são precisas duas pessoas – um homem e uma mulher – para que se produza uma gravidez. Porque é que o homem, futuro pai, é pura e simplesmente eliminado da equação, como se não existisse e não tivesse nada a ver com a gravidez?
Dizem os defensores do aborto que a decisão de abortar não é tomada de ânimo leve, mas que algumas mulheres são forçadas a isso porque não têm condições económico-sociais para criar os seus filhos. Não será então preferível ajudar estas mulheres a ter os seus filhos, em vez de as empurrar para a solução mais “fácil” e traumatizante? Porque não apoiar as associações de apoio à Vida já existentes, que têm desenvolvido um trabalho notável apesar dos poucos recursos disponíveis e do completo desprezo a que são votadas pelo Poder político, sempre tão solícito no apoio a outras causas mais “politicamente correctas”.
A Causa Identitária denuncia por isso a hipocrisia da argumentação pseudo-humanista do discurso oficial, que, na realidade, se limita a tentar ocultar uma cultura de desresponsabilização, e uma ideologia hedonista, individualista, crassamente materialista e por isso mesmo anti-comunitária. A Causa Identitária faz também notar que, numa altura em que Portugal e a Europa são confrontados com baixas taxas de natalidade, que colocam em causa a sustentabilidade da Segurança Social, e, mais importante, a própria reposição de gerações, a tal ponto que somos confrontados diariamente com a “inevitabilidade” da imigração maciça para remediar estes problemas, tal afã de “despenalização” só pode corresponder a uma vontade mal disfarçada de acelerar a reposição étnica em curso.
A Causa Identitária, relembrando que a actual lei já contempla os casos extremos (violação, perigo de vida para a mãe, malformação grave), e considerando que o primeiro dever de qualquer Estado é assegurar a perenidade da Nação e da sua identidade, que a maternidade e a família formam a espinha dorsal de qualquer comunidade saudável e que a Vida inocente é um valor fundamental, só pode assumir um Não rotundo no referendo.
Finalmente, a Causa Identitária entende que a campanha pelo Não pode ser levada a cabo mais eficazmente pelas associações pró-Vida já existentes e por isso aconselha todos os seus associados e simpatizantes, que pretendam envolver-se activamente na campanha pelo Não, a abordarem estas associações e a enquadrarem os seus esforços neste âmbito mais vasto.

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