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terça-feira, outubro 31, 2006

Recomendam-se ainda 

Sobre o aborto: boas intervenções a crédito do Vanguarda e o trabalho de fundo do Jardim do Arraial.
Sobre renovação: o estilo e a estética da República dos Desalinhados.
Sobre as belas letras: a evocação de Saint-Loup por Jean Mabire, no Batalha Final.

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segunda-feira, outubro 30, 2006

Leituras recomendadas 

Alameda Digital - número 0.
Alameda Digital - número 1.
Pela Vida
Futuro Presente

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domingo, outubro 29, 2006

Admirável Mundo Novo 

As lacunas da minha idade começam a ser supridas por uma rapaziada de memória mais fresca. Foi bem lembrado!

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sábado, outubro 28, 2006

A propósito de gavetas 

Concedo que enfrentamos um bloqueio.
E como se fura o bloqueio, perguntais vós?
Responderei à maneira de Sun Tzu: um bloqueio não se fura, a não ser que se possua força de choque largamente superior à do inimigo. Não sendo esse o caso, qualquer tentativa de investir contra o bloqueio traduz-se em esbanjamento de meios, que nos conduzirá à exaustão. O inimigo estará em vantagem insuperável. Investir assim é tentação de animais de chifres.
Normalmente, um bloqueio rodeia-se - dá-se a volta, para surgir em zona que o inimigo tenha desprotegida. Para tal é preciso encontrar caminhos que não estejam bloqueados, e escapar por aí, surgindo implantado em terreno que estava desguarnecido. Um bloqueio tem sempre falhas, pontos insuficientemente guardados. O leão não os encontrará, mas a raposa sim.
Quando somos mais fortes, podemos fazer de leão. Quando somos mais fracos, teremos que ser raposas. (Leões e raposas, é metáfora de Maquiavel; mas o nosso D. João II dizia que havia tempos para usar de coruja e tempos para usar de falcão - o que quer significar essencialmente o mesmo).
Acontece, amigo, que nestes tempos de blogação temos feito a prova de alguma coisa. Digo mesmo que no campo que escolhemos o inimigo não nos levou vantagem.
E só uns poucos praticamos com idêntica compreensão do jogo. Se fossem quinze ou vinte, ou trinta, o que seria?

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sexta-feira, outubro 27, 2006

A terra ou as nuvens 

Todos os grupos que, com justiça ou sem ela, sejam vistos como situando-se na margem da sociedade, ou como uma alternativa a esta, atraem forçosamente uma chusma de iluminados, lunáticos, mitómanos e fantasistas de toda a espécie.
Mesmo aqueles que em teoria visariam dedicar-se à acção política, e que cedendo a essas derrapagens com frequência se tornam um sucedâneo de seitas místicas, com crenças que têm mais de superstição particular que propriamente de acção política.
Já conheci organizações que pretendiam ser políticas onde pululavam exemplares únicos, como um que apregoava que o mais importante era divulgar as potencialidades do Monte da Lua (leia-se Serra de Sintra) como centro privilegiado de comunicação entre o mundo subterrâneo da terra oca e os universos extraterrestres, com inusitada frequência de discos voadores que entravam e saíam em trânsito de um destino para outro. Ou aquele que acreditava piamente que devíamos preparar-nos para a vinda de D. Sebastião e do seu exército, que inúmeros sinais anunciavam. Ou o outro que proclamava a emergência breve da Atlântida, submersa nos mares dos Açores, o que iria trazer a Portugal o esplendor do Quinto Império no imenso e rico território entre a Europa e a América. Ou uns que iam para o campo e dançavam vestidos de branco à roda de uns pedregulhos em certas noites escolhidas dizendo estar a reviver a antiga tradição druídica da nossa herança céltica.
Claro que qualquer destas pessoas era muito lida e inteligente, cheia de erudição e citações, e demonstrava os seus pontos de vista com irrepreensível e irrefutável lógica.
Tinham apenas o pequeno senão de não viverem no mesmo mundo que o comum dos mortais.
Lembrando isto o que eu aconselho a quem activamente se dedica à actividade política é que comece por olhar bem para si e para aqueles que o acompanham. E procure situar-se na perspectiva do cidadão comum, da gente vulgar, do mais normalizado dos seus conterrâneos e contemporâneos. Com esse exercício tente então calcular qual a opinião que o tal cidadão médio formará da sua pessoa, das suas acções, das suas palavras, bem como do colectivo em que actua.
Com este exercício, repetido e aprofundado com frequência, certamente se evitarão muitas asneiras, disparates e puros desastres - mesmo que no plano individual acarrete grandes desilusões aos que mergulhados no seu universo interior estavam de todo esquecidos dos outros (os outros, sim, os que aí estão por todo o lado, à nossa volta, esses personagens cinzentos que nada distingue e que nada de particular têm para dizer ou oferecer...)
A acção política implica quase sempre a procura, quanto mais não seja por razões metodológicas, do que podemos chamar o "centro", ou mesmo o "extremo-centro".
Entenda-se com essa expressão não qualquer conceito ou ideologia, mas sim o núcleo essencial dos problemas e preocupações, reais ou imaginados, que ocupam a generalidade dos membros da sociedade sobre a qual se pretende agir. Não se pretende evidentemente com essa procura descobrir o que pensa a massa para mimeticamente a seguir; mas afirma-se que é preciso saber o que pensa e sente a massa para agir sobre ela.
A outra atitude, de desprezo altivo pela gentinha que permanece nas trevas insensível à verdade, de cultivo orgulhoso do purismo desafiante e do autismo intragrupal, é perfeitamente legítima - mas não é certamente acção política.
A política é uma actividade que tem por destinatários, precisamente, os outros. Manter-se à margem e cavar a trincheira é um direito de cada um, mas já é outra coisa que não política.
O aperfeiçoamento interior, pessoal ou do grupo, foi por exemplo o caminho dos monges do deserto, que abandonaram o mundo exactamente para se afastar das contaminações e se dedicar inteiramente à Verdade - e assim manter-se no rumo da Salvação. Mas estes nunca pretenderam que estavam a fazer política.

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Blogues e política 

No princípio e na essência um blogue é um diário. E um diário é algo de íntimo e pessoal, que é suposto ter como destinatário apenas o autor - e digo que é suposto ser assim porque o que se constata é que de há muito se generalizou essa prática como um género literário. Ou seja, é comum e universal a escrita de diários que têm por destino a publicação, e como alvo o público.
E se assim é com os diários propriamente ditos, não há que estranhar que também os blogues desde cedo tenham sido utilizados como um meio para outras finalidades bem diferentes do mero desabafo e análise para autoconsumo. Nomeadamente o proselitismo puro e simples.
Não encontro nada de censurável nisso, é perfeitamente legítimo. Tão legítimo como ter um blogue para escrever para a família, ou para os amigos, ou para a claque desportiva, ou para o clube de fans, ou para impressionar a namorada. E mesmo tão legítimo como manter o blogue para autocomprazimento, com mais fidelidade à ideia original.
O que importa é que, a fazer-se, se faça bem feito. Ora quem queira fazer proselitismo há-de falar para os outros. Não para os seus - estes já estão convencidos. O ensimesmamento é impulso, mas não é política. Nem as conversas em família.
Por outro lado, o talento e a vocação em política distinguem-se pela capacidade de criar atracção, fascínio, sedução, enamoramento, paixão. Conquistar - nos blogues como na vida. E como há-de conquistar quem se deleite a despoletar agressividade e repulsa?

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Empresários 

Sabem como se distingue um empresário patriota de um empresário liberal?
Bom, um empresário patriota é aquele que faz manifestos e dá entrevistas sobre a necessidade de manter os centros de decisão em mãos nacionais quando anda em negociações para vender com uns capitalistas espanhóis e quer puxar pelo preço. Um empresário liberal é aquele que ao discursar perante entidades oficiais nunca perde a ocasião para salientar a necessidade de modernização do nosso tecido empresarial e de defesa da livre concorrência, aproveitando para pedir uma política activa de fomento desses objectivos e reclamar uns subsídios para esse efeito.
Por vezes o critério não serve para distinguir nada porque eles são os mesmos.

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Descolonização 

O Dr. Almeida Santos deu uma patética entrevista ao "Público" onde apresenta em resumo a defesa que, ao que diz, está a escrever em livro: a afirmação fundamental é que não teve culpa nenhuma, não foi ele, foram outros.
Vai bem longe o tempo em que a tese oficial era a da "descolonização exemplar": o tempo desfez a mentira, e já nem o mais descarado mentor dessa tragédia tem descaramento para aparecer a dizer isso. Mas convém recordar que houve esse tempo, em que se esgatanhavam a reclamar para si o mérito maior o Dr. Soares, o Dr. Santos, o Major Antunes, e mais uns quantos.
Passaram depois os mesmos protagonistas da tese anterior a defender com um ar compungido a tese da "descolonização possível": o miserável processo que conduziram não terá sido exemplar, mas não podia ter sido de outra maneira, por força de fatalidades várias de que não tiveram responsabilidade (a culpa, evidentemente, pertenceu a outros, ao fascismo como é óbvio).
Esta tese é tão falsa como a anterior: se nada houve de exemplar no processo, também não é verdade que os seus protagonistas tenham sido empurrados por circunstâncias exteriores a fazer o que não desejavam. Como se lembrará quem tiver um mínimo de memória, o que eles fizeram coincidiu inteiramente com o que entusiasticamente defendiam, e fizeram-no jubilosamente, trombeteando ao mundo as suas glórias.
Agora, passado o tempo suficiente para estar à vista de todos o balanço desastroso da maior vergonha da nossa existência como povo, já ninguém quer ficar amarrado ao pelourinho da história. A "descolonização" já não é "exemplar" nem foi "a possível": - ela foi o que foi, mas eu é que não fui...
A defesa agora é igual à de qualquer criminoso cobarde que foi apanhado em flagrante e está sentado no banco dos réus a tremer de medo perante o julgamento.

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Yassin e Rantissi 

Os círculos dirigentes israelitas têm bem presente que o destino de Israel não se joga no Médio Oriente, mas sim nos Estados Unidos. Consequentemente existe há muito uma estratégia política nacional que visa amarrar em definitivo o Ocidente, leia-se os Estados Unidos, ao destino de Israel. Para esse efeito um dos meios privilegiados é a estratégia da tensão; é preciso incendiar a rua, manter ao rubro o ódio das populações islâmicas, não especificamente contra Israel, mas sim contra o Ocidente, entenda-se a América, confundidos todos como uma realidade só, e que esse ódio gere reacções, agressões, rejeições – se for por meio de atentados é excelente, a opinião pública ocidental, maxime a americana, caminhará no sentido pretendido.
Na execução dessa estratégia todos os passos são calculados; recorde-se o episódio da esplanada das mesquitas, que lançou Sharon para chefe do governo, e entende-se. Ora neste quadro percebe-se perfeitamente o assassínio ritualizado dos chefes do Hamas, primeiro Yassin e logo depois Al Rantissi. O que se quis não foi apenas matá-los, foi executá-los de uma dada forma e com certas características de espectáculo e humilhação simbólicas que pudessem garantir o efeito pretendido. E o momento também foi escolhido: trata-se da altura da corrida presidencial americana, em que ambos os candidatos teriam que competir pelos votos e pelo dinheiro da comunidade judaica – sem cujo apoio não se ganha a eleição. Neste contexto os dirigentes israelitas sabem que podem esticar a corda sem riscos de ela se partir: ninguém que tenha ambições políticas nos Estados Unidos fará ou dirá nada contra Israel, e pelo contrário haverá uma competição pela captura das boas graças do lobby judaico, com o consequente reforço dos compromissos e elos que prenderão para o futuro a unidade de destino procurada. Se houver umas horríveis acções dos extremistas islâmicos, tanto melhor.
Os responsáveis políticos de Israel sabem que é preciso aproveitar esta altura, em que têm todos os trunfos na mão, para forçar empenhamentos irrreversíveis para o futuro (é necessário consumar todas as rupturas ente o universo árabe e islâmico e os Estados Unidos, é necessário levar estes a deslocarem mais e mais forças para as áreas estratégicas que convêm a Israel, e criar as condições do não regresso).
Repare-se que a actuação em causa contra os dois chefes islamistas nada tem que ver com uma necessidade de luta contra o terrorismo: se fosse esse o caso os responsáveis israelitas tinham simplesmente mandado os seus homens prender esses dois dirigentes políticos, como tanta vez tinha acontecido no passado (qualquer dos dois tinha passado boa parte da vida em cadeias israelitas, e continuavam a estar ali à mão para esse fim, em território controlado militarmente por Israel e com vidas públicas e conhecidas, sem que nenhum obstáculo se perfilasse a esse objectivo).
Mas não se tratava disso. Os israelitas não querem acabar com o terrorismo: pelo contrário, desejam que não falte terrorismo islâmico no Ocidente, e quanto mais melhor. É-lhes mesmo indispensável.

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PELA VIDA 

O que falta frequentemente para a acção política frutuosa e eficaz é a existência de causas mobilizadoras viáveis e susceptíveis de atingir vastos sectores da sociedade.
Neste caso, temos a possibilidade de fazer intervenção política e social de modo a colocar-nos bem no centro dos debates que fazem o nosso tempo.
Quem não entende a relevância da participação activa no combate PELA VIDA?

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Futuro Presente 

Uma magnífica revista na rede, eis o que tem vindo a surgir no blogue FUTURO PRESENTE.
Para quem goste de ler, tenha a paixão das letras, da história e da cultura, é um lugar inestimável.

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quarta-feira, outubro 25, 2006

Pela Independência Nacional 


Solicita-se o registo e a participação activa neste Forum!

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Cultura e política 

Surgiu renovado o sítio da Causa Identitária.
Continua a aumentar o seu arquivo o Causa Nacional.

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terça-feira, outubro 24, 2006

Festa BBR: a próxima é já a 10, 11 e 12 de Novembro 


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Sobre a sociologia política francesa 

Pareceu-me oportuno partilhar com os leitores as reflexões de Christian Bouchet, na VOX NR, a propósito das análises feitas por Emmanuel Todd sobre as próximas presidenciais francesas. Um jogo político em que muito se pode aprender, para compreender o que se passa hoje na sociedade francesa - e quiçá na sociedade portuguesa.

Lire Todd
Il est communément admis qu’Emmanuel Todd a joué un rôle certain dans la victoire de Jacques Chirac aux présidentielles de 1995 en lui soufflant la fameuse idée de la «fracture sociale». L’approche de nouvelles élections a conduit divers journaux à interroger notre homme sur sa vision de la situation actuelle. Il a ainsi donné des entretiens au "Point" (24/08/2006 - 1), à "La Revue" (n° 4, septembre 2006) et au "Parisien" (13/09/2006 - 2) qui sont particulièrement éclairants sur la situation politique de notre pays, et qui mériteraient d’être très largement relayés dans tous les milieux de l’opposition extraparlementaire, tant ils sont porteurs de potentialités en terme de stratégie politique.
Pour Todd, la classe dirigeante dans son ensemble est profondément coupée de la société française ce qui l’entraîne à commettre des erreurs stratégiques graves comme à s’imaginer que Sarkozy et Royal représentent aux yeux des électeurs deux aspects du renouveau de la vie politique (3)…
Comme Bertrand Renouvin le résume dans son éditorial du n° 884 de "Royaliste", écrit après une lecture de l’entretien que Todd a accordé à "La Revue", «les oligarques croient que la France est un pays en déclin et que les Français finiront par consentir pour survivre, aux sacrifices qu’impose la mondialisation. Ils jugent le peuple français incapable de comprendre les enjeux économiques et financiers. Ils pensent que la population salariée continuera d’accepter des conditions de travail de plus en plus dures parce qu’elle n’a qu’un seul choix: la pauvreté dans le chômage ou l’emploi a bas prix. Ces impressions sont confortées par des observations justes sur les rapports de force: absence de parti révolutionnaire capable de rendre espoir aux contestataires, échec de l’altermondialisme, mollesse des directions syndicales… Les séismes de ces dernières années ne seraient donc que des accidents fâcheux (le Non au référendum ou le CPE) ou utiles (le vote Le Pen en 2002, les émeutes de novembre dernier) dans la mesure où ils entretiennent des peurs qui sont le commencement de la sagesse.»
Or il n’en est rien et Emmanuel Todd relève que le 21 avril 2002, le Non au référendum ou l’échec du CPE, constituent une série de faits marquants assimilables à un «Stalingrad du libéralisme » et dus à un phénomène nouveau: le basculement des classes moyennes dans la contestation radicale au côté des classes populaires en révolte depuis le traité de Maastricht (4). C’est toute la différence avec la situation de 1995 époque où nous dit Todd «les classes supérieures contrôlaient encore les classes moyennes. Ces dernières croyaient volontiers à la pensée libérale, européenne.» Ce sont donc maintenant 80 % des Français qui sont en insurrection latente ou déclarée contre la classe dirigeante et ses clientèle, or «c’est un fait crucial. L’idée dérivée du marxisme selon laquelle l’Histoire est faite par le prolétariat est fausse. La Révolution française, la révolution russe et même le nazisme se sont joués dans les classes moyennes.»
Cependant, Todd ne croient pas à une révolution imminente, mais plutôt à une dissidence, à une coupure encore plus prononcée entre l’élite et le peuple: «Je n’ai pas en tête l’image de la Révolution je songe plutôt à ce moment de l’histoire de Rome où le peuple, la plèbe, à fait sécession et s’est retiré dans un quartier de la ville pour contester le pouvoir des patriciens. (…) Les gens d’en haut acceptent le libre-échange, car les inégalités ne sont pas graves quand on est du bon côté. Ces puissants sont confrontés à une population qui refuse leurs projets ou leur absence de projets. Si bien que les classes dirigeantes tentent d’empêcher que le désir de la population s’exprime à travers le vote. Elles tentent de neutraliser le suffrage universel. Les gens ont le sentiment que ce qui les intéresse, ce qu’ils souhaitent, est interdit de débat public. Le corps électoral est obligé de ruser avec une classe dirigeante qui n’en fait qu’à sa tête. Comme les électeurs voient que les politiques refusent d’agir, à chaque élection ils éconduisent le vainqueur précédent.»
Ce qui fait que, même s’il est tout sauf lepeniste, Emmanuel Todd ne peut que conclure que tout ce qu’il décrit va vers une montée de Jean-Marie Le Pen: «(il) existe la menace d’un triomphe du Front national. Au stade actuel, je prognostique un second tout entre le Parti socialiste et le Front national».
Ce cauchemar de la classe dirigeant est sans aucun doute le rêve des classes opprimées.

Notes
1 – Extraits:
«A partir du milieu des années 80, les classes supérieures refusaient de constater que les milieux populaires avaient un problème avec les immigrés, avec le statut de la femme maghrébine. A l’époque, le discours des élites était optimiste, multiculturaliste, méprisant envers les classes inférieures. Aujourd’hui, les gens sont moins intéressés par l’immigration que par le chômage et les problèmes économiques, mais la droite ranime la thématique de l’immigration. Alors que ce n’est plus ce que les classes populaires ont prioritairement à l’esprit, les classes supérieures cherchent désormais des boucs émissaires. J’ai d’ailleurs le sentiment qu’est en train de s’opérer un renversement du même ordre pour la thématique sécuritaire.
Il y a une dizaine d’années, les classes privilégiées ne voulaient pas parler du problème de la sécurité dans les quartiers. Maintenant, alors que la société française voudrait entendre parler de modification des règles du jeu économique, elle n’a plus droit qu’à un discours sécuritaire, dont on constate pourtant à chaque élection qu’il ne paie pas électoralement.
L’impopularité actuelle de la droite est le résultat d’un programme sécuritaire. Mais il faut dire que, dans une société de plus en plus inégalitaire, les privilégiés vont vouloir jouir en toute sécurité de leurs richesses. La sécurité est peut-être en train de devenir l’obsession des gens d’en haut.»
«Les passions politiques des classes supérieures vont se loger dans des préoccupations sans rapport avec l’intérêt de la population, comme aujourd’hui la réintroduction des ours dans les Pyrénées. L’historien de l’année 2030 trouvera que c’était parfaitement secondaire. Non, j’exagère: l’un d’entre eux écrira une superbe thèse d’inspiration structuraliste sur la réintroduction des animaux prédateurs comme métaphore de la réapparition du capitalisme prédateur, quelque chose entre Barthes et Lénine.»
2 – Extraits:
«Les politiques s'interdisent de parler du principal problème qui concerne les gens: notre système économique. Or, le libre-échange, c'est ce qui produit un tiers-monde dans les pays développés et détruit notre industrie. Les politiques ne parlent que de choses qui n'intéressent pas les gens. Cela produit un immense désintérêt.»
«Derrière le mot «rupture» et le slogan de Sarkozy, «la France d'après», moi j'entends en fait «Après la France»... Sarkozy, en proposant aux Français d'aller encore plus loin dans l'ultralibéralisme, leur propose de «rompre» avec des choses auxquelles ils restent très attachés: l'hôpital public, l'école, la Sécurité sociale... Il se comporte comme s'il n'avait pas conscience de la solidité de ces valeurs de base de la vie sociale. A mes yeux, Sarkozy ferait un meilleur candidat pour un public d'Américains d'il y a vingt ans. (…) En fait, je ne crois pas que Sarkozy incarne vraiment les valeurs d'ordre et de sécurité traditionnelles de la droite. Avec lui, je trouve au contraire qu'on ne se sent pas en sécurité. Il montre une agitation incessante, un besoin de parler, de se montrer, de bouger, d'opérations coups de poing... Il véhicule l'image de l'homme politique qui est le plus proche des grands patrons et qui tape sur les plus vulnérables de la société.»
3 – In "Le Parisien:" «Emmanuel Todd: - L'époque est au repli sur soi. Il y a une perte de sens de l'action collective dans tous les domaines. Même les syndicats se décomposent. C'est dans ce genre de monde incertain que peuvent apparaître ces «fantômes politiques» comme Nicolas Sarkozy ou Ségolène Royal, deux candidats du vide.
"Le Parisien" - Pourquoi des «fantômes»?
Emmanuel Todd: - Parce qu'ils n'incarnent plus rien. Les hommes politiques d'autrefois incarnaient des idéologies plus grandes qu'eux-mêmes. Maintenant, il n'y a plus rien à incarner. Et s'il n'y a plus rien à incarner, que va-t-on regarder chez les hommes politiques ? Leur visage, leur vie personnelle, leur style...»
4 – In "Le Parisien": «La réalité sociologique en France, ce sont les classes moyennes qui décrochent des classes dirigeantes. Cela s'explique à mon avis par un emballement dramatique du coût du logement, qui est aujourd'hui une forme déguisée d'inflation.»

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segunda-feira, outubro 23, 2006

Pela Vida 

E não se esqueçam: PELA VIDA, tudo!

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domingo, outubro 22, 2006

Marcha da Mocidade 


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Ressurreição 


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sábado, outubro 21, 2006

Nova alvorada 

Uma jovem rede de blogues apresenta-se ao combate:
Alma Pátria
Bombas, Minas e Armadilhas
Pela Vida
Anti-Comunismo
República dos Desalinhados
O Estado do Tempo

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As grandes certezas da Revolução Nacional 


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sexta-feira, outubro 20, 2006

LANÇAR ÂNCORA NA VIDA REAL 

O revezamento das gerações é inevitável. Conviria que ele fosse não só revezamento dos homens como, também, o do vocabulário e dos pontos de referência. A tradição a que estamos ligados é a da coragem, da lealdade, da fidelidade à palavra dada, da energia, da firmeza de carácter. 0 que estimamos e desejamos manter é, pois, uma certa imagem do homem. 0 que detestamos são as preocupações mercantis, a prioridade dada ao dinheiro pela nossa época, a estéril imagem puramente económica com que se nos apresenta a vida social, o anonimato e o tédio dos grandes formigueiros humanos, as nauseantes e vãs ideologias, as reivindicações mesquinhas e a pressão contínua e repugnante desta luta manhosa da existência colectiva. 0 que nós repudiamos é uma certa imagem da sociedade. A nossa escolha biológica é mais do que a defesa de uma raça; é muito mais vasta, é muito mais dramática. Sentimos profundamente a nossa condição animal, sentimo-nos profundamente mamíferos e obedecemos às leis não propriamente da nossa espécie mas do género a que pertencemos; estamos fundamente ligados a essas leis, queremos conservá-las; não queremos o formigueiro que nos constroem, não queremos a mutação para a colectividade de insectos superiores que o mundo moderno, colectivista ou liberal, nos prepara. Só desejamos regimes fortes pelo facto de eles imporem regras de salvação pública às forças de destruição e de escravização trazidas pelas modas científicas da produção; queremos que, para além da vida mecânica de escravos que nos reservam, por igual, a ideologia marxista e as normas da produção em série e em concorrência, haja um poder salvador, uma força suprema, que arbitre em favor da humanidade.
Estas perspectivas não são o resultado de uma meditação pessimista. Precisamente pelo contrário: é o facto de eu acreditar no futuro das ideias de que somos portadores que me leva a desejar que a sua apresentação se faça em termos de criar condições de diálogo. Saibamos aproveitar as lições do "blocus" eleitoral. E também dos modelos de que se servem os nossos adversários. “Conhecem o nosso programa?” - dizem os comunistas. E acrescentam: “Venham ver-nos. Nós conversaremos”. Procuremos, como eles fazem, as condições e o vocabulário da persuasão. Busquemos encarnar os interesses dos grupos sociais ameaçados ou incompreendidos; desenvolvamos ou criemos a solidariedade com o que existe; não sejamos mais apenas doutrinadores - porque a doutrina aborrece - nem nostálgicos - porque a nostalgia entorpece - mas procuremos lançar a âncora o mais possível na vida real, na vida local, na vida profissional, na vida sindical, para tecer desde já elos múltiplos e eficazes, pelos quais nos possamos tornar um dia a representação real de uma vaga de opinião pública.
MAURICE BARDÈCHE

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Recordações de 1981 

Estando em plena época de memórias do activismo nacionalista, aqui vai uma pequena achega.
No dia 10 de Junho de 1981, estando já no Largo Camões, em vias de marchar pelo Largo das Duas Igrejas, em direcção ao Chiado e à Rua do Carmo, a manifestação convocada pela “CNDP - Comissão Nacionalista para o Dia de Portugal”, para o efeito constituída pelo Movimento Nacionalista e independentes afins, surgiram vindos do lado do Bairro Alto mais uns tantos manifestantes espontâneos anunciando a sua presença por grandes bandeiras bem brancas ostentando orgulhosas as armas nacionais, a coroa reluzindo ao sol.
Distribuíram pelos presentes um comunicado explicando a sua adesão ao acto patriótico, folha essa que guardei, e integraram-se na manifestação. Ao reler agora o texto, assinado por um secretariado de uma efémera Federação dos Estudantes Monárquicos de Portugal, sorri cá para comigo e apeteceu-me partilhá-lo com os meus leitores. Pensei num título como “turbulências monárquicas”, ou coisa assim. Quanto ao escrito, é tão personalizado, apesar da sua assinatura colectiva, tão identificável o autor, que não vale a pena manter a ficção: foi o José Preto. Em época de “Senhor dos Anéis”, admire-se o sabor mítico e místico, recheado de simbolismos, algures entre Pessoa e Pascoais, da parte inicial do texto oferecido à luz do sol desse Dia de Portugal.

“A FEDERAÇÃO DOS ESTUDANTES MONARQUICOS DE PORTUGAL saúda os manifestantes nacionalistas que, com os seus próprios militantes, abatendo bandeiras organizativas, reafirmam hoje, em uníssono, o seu propósito radical de continuar o combate - que a todos define, sem distinções essenciais - pela Restauração da dignidade da Vida Pública, pela fidelidade à fronteira da Terra dos Pais e ao Sonho-Missão, recebido com os Estandartes dos Cavaleiros do Mar e do Amor que a nós, jovem guarda da Montanha, compete realizar para que Portugal se cumpra em Si e no Mundo.
Radicalmente afastada das concepções de “direita-revolucionária”, por repudiar em absoluto, sem gradações, a herança doutrinária da revolução francesa, fundida ou não com quaisquer, sempre expressivas, bastardias hegelianas, a FEMP reafirma no DIA DA PÁTRIA a sua vocação anti-burguesa e contra-revolucionária, convicta de que, em Portugal, a liberdade é Portuguesa, por ter sido aqui proclamada, pela primeira vez no plano concreto da vida política, na própria Fundação da Nacionalidade (“Nos liberi sumus Rex noster Liber Est”) e sempre vivida como valor fundamental da Constituição Histórica do Reino, traída por todos os liberalismos.
Se alguns monárquicos, uma vez mais, decidiram juntar-se à oligarquia, em nome de uma corrupta mitologia democrática, esquecendo a fundamental ilegitimidade do poder - ilegitimidade da aquisição como do exercício - esquecendo os limites ao acesso às urnas, que em 1975 chegaram a traduzir-se na dissolução de partidos, esquecendo que os constituintes se colocaram, não só fora da legitimidade mas fora da legalidade, ao adoptarem como pressuposto de acção o pacto com o Poder militar, esquecendo que todos os “órgãos de soberania” resultaram de um processo constituinte cujos vícios não são competentes para sancionar, se esses monárquicos, apesar disto, insistem em confundir-se com o regime, é coisa para, sem discutir, lamentar, simplesmente, sobretudo num momento em que, liquidando todas as ilusões possíveis, o quadro oligárquico partidário se refaz e revigora sob a fórmula do “pacto de regime” onde se não inclui, explicitamente, o PC por este ser um pressuposto do próprio regime, ao qual, diga-se de passagem, a AD bem poderia agradecer, publicamente, o poder recebido por voto útil generalizado,
A FEMP convida o PPM - apesar de tudo, nunca comprometido com qualquer pacto “MFA” nem submetido a qualquer internacional - a rever a sua posição, ou, pelo menos, a retomar o espirito crítico e a coragem que presidiram à sua formação, esperando que, sob o Estandarte Real, esses companheiros reapareçam no combate a esta democracia-ficção, cujo preço em vidas humanas justifica a designação de “thanatocracia”, tanto como a sua cobardia exige a classificação de “necrófoba”.
Que o PPM abandone a thanatocracia necrófoba e proclame, connosco, contra esta estultícia inviável, o direito da Nação à Ordem, à Hierarquia, à Honra e ao mérito dos que a governaram, cessando de se comprometer com um sistema tão solidariamente corrupto que, desde há sete anos, o seu parlamento nunca controlou a gestão efectiva dos dinheiros públicos, pela votação da “conta do estado”, forma indispensável de controle parlamentar, sem a qual a discussão do orçamento não é mais do que uma farsa, posto que nunca se soube, ao certo, onde foi e como foi aplicado de facto o conjunto das verbas do “orçamento geral do estado”.
De qualquer modo, com o PPM ou sem ele, a FEMP, politicamente solidária com a Causa Monárquica, continuará o seu combate contra a República onde o servilismo ante o exterior se explica pela degradação interna.
Lisboa, 10 de Junho de 1981
0 Secretariado-Geral da FEMP”

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A QUESTÃO IBÉRICA 

Como em toda a hora de crise nacional, o perigo ibérico está diante dos nossos olhos, indicando o futuro mais certo da Pátria, se a Pátria se não reabilitar lá fora, quanto antes, pelo regresso à Ordem e pelo respeito a si mesma. Só vivem os povos que sabem viver. E saber viver não é arrastar uma existência subalterna de país tolerado, sem mais direito a dirigir-se e a ter-se em conta de autónomo que a condescendência um tanto duvidosa dos vizinhos. É essa hoje, infelizmente, a nossa desgraçada situação. Levamos a carreira doida do abismo numa farândola de insensatos que se afundam, cantando e rindo, tal como os bailarins macabros da lenda. Ninguém se crispa num gesto que ao menos nos salve a dignidade! Tomou-nos a moleza do invertebrado. E como invertebrados sofremos sem reacção os vexames dum destino que é já de mais para a nossa honra de homens de bem, quanto mais de cidadãos livres duma terra livre! Não temos ainda para cá das fronteiras o inimigo tradicional. E se ele vier, não será a sua aspiração de séculos que o há-de erguer em som de guerra contra nós. Justiça ao cavalheirismo de Castela, nós é que a chamaremos às armas, - hão-de ser os nossos desvarios que, esgotando-lhe a paciência, acabarão por lhe escancarar as portas da casa. A solução intervencionista é lógica, é natural, como as coisas que o são, quando um importuno nos incomoda e nos coloca em risco de quebra o nosso próprio sossego, a nossa própria disciplina. Quem perdeu o jeito de ser prudente e não faz mais nada senão desgovernar-se, abre-se-lhe uma falência ou instaura-se-lhe uma curadoria. Não é outro, meus Senhores, o nosso tristíssimo caso!
(ANTÓNIO SARDINHA)

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Encontro do PNR no Algarve 

SESSÃO DE ESCLARECIMENTO:
Realiza-se na Junta de Freguesia de Portimão, pelas 17 horas, uma Sessão de Esclarecimento aberta ao público, sobre o PNR, seus princípios, bases ideológicas, actividades e objectivos.
Serão oradores um dirigente do PNR no Algarve e o Presidente do Partido.
JANTAR:
Realiza-se pelas 20.30 horas, um jantar-convívio para militantes e apoiantes do PNR, num restaurante de Portimão.

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quinta-feira, outubro 19, 2006

Heróis do Mar 

Sequência do postal anterior: será exibido na próxima 3.ª feira, dia 24 de Outubro, às 21.oo, no Grande Auditório da Culturgest, numa sessão especial do Festival Internacional de Cinema Documental de Lisboa, o filme "Brava Dança", de José Pinheiro e Jorge Pires, sobre a história dos "Heróis do Mar".
Regresso à "Brava Dança dos Heróis": - óh grande tribo, nasces do cio/ de bélicas deusas, à beira-rio...

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AXO! 

Uma deliciosa evocação do "axismo", e das origens dos "Heróis do Mar", pelo Humberto Nuno Oliveira.
Aproveito para acrescentar que Paulo Borges tem hoje casa própria na net (para além das suas outras casas, nomeadamente a sua Faculdade de Filosofia e a União Budista), e que Pedro Ayres Magalhães pode pelo menos ser localizado nos Madredeus. De António Emiliano é que perdi o rasto!

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PALAVRAS DE ONTEM 

Por falar em aborto, ouvi dizer que na Suíça tornou-se legal. Não sei detalhes. Não sei em que circunstâncias, pelos quatro cantões da Suíça, tornou-se admissível matar a criança que teve a impertinência de brotar num ventre de moça. Imagino que os suíços, que são reconhecidamente um povo ordeiro e asseado, e sobretudo muito deferente com os turistas, tenham descoberto excelentes razões para assassinar pequeninos suíços. Uma das razões que imagino seria a seguinte: mata-se a criança excedente pelo bem da pátria e da família. Um pouco como se queima o café, para valorizá-lo. De uma senhora, que tem um Pontiac verde-claro, já ouvi dizer que se justifica "não guardar" para manter o "padrão de vida". Não se guarda a criança para guardar-se o Pontiac. Outra senhora, um pouco menos desvairada, alega que fuzila a criança não nascida em benefício das outras já nascidas.
Esses argumentos chegaram aos ouvidos de meu amigo Álvaro Tavares que sugere uma emenda para a teoria dessa senhora que mata um filho em benefício dos outros: admitido que se deva matar um para benefício da família e da sociedade, devemos deixar a criança nascer, e, mais tarde, num conselho de família, escolher a criança mais feia, ou mais bronca na tabuada, ou mais birrenta na mesa, e então executá-la para o maior bem da família e da pátria.
Concordo inteiramente com essa emenda apresentada pelo meu amigo Álvaro Tavares. Em nome da psicologia, da sociologia e da eugenia, acho precipitada a pena de morte que recai sobre a "criança desconhecida". O mundo, entre seus momentos de prolongado desvario, já teve a ideia de honrar o soldado desconhecido; mas nos seus piores momentos ainda não teve a ideia de fuzilar um criminoso desconhecido. E muito menos um desconhecido inocente. Aprovo pois a emenda e aqui acrescento o meu pesponto. Em lugar do conselho de família, eu sugiro que consultem um psicotécnico.
Voltando aos suíços, confesso que não me espantei demais com a notícia. Tenho desconfiança desses países muito ordeiros, muito arrumados. Tenho horror a hotéis. Só me espanto com uma incoerência que vejo nessa lei dos suíços: se a religião daquele pitoresco país é o turismo, se tratam tão bem os que chegam das Américas, porque diacho maltratam assim o pequenino turista que ingressa num dos quatro cantões pela mais antiga das portas?
(Gustavo Corção)

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Língua Portuguesa 

Não sei onde, li que num estudo efectuado sobre a obra de Camilo Castelo Branco se tinha constatado que o escritor utilizava umas trinta e duas mil palavras. Trinta e duas mil.
E nós aqui tantas vezes a espremer-nos para encontrar o termo que possa dizer o que queríamos transmitir.
Não sei de inventariação semelhante, por exemplo, em Tomaz de Figueiredo ou Aquilino Ribeiro, mas certamente que se fosse feita alcançaria também números impensáveis para nós, modestos utilizadores do mesmo instrumento em versão utilitária e simplificada.
Para entender o significado do número acima citado bastará lembrar que o português médio se basta para comunicar com umas mil e quinhentas ou duas mil palavras.
E nem vale a pena pensar numa espécie de grunhos, que se encontram a cada passo, e que comunicam o pouco que têm para comunicar por meio de uns reduzidos grunhidos estereotipados.
Por esta altura já os leitores estarão a pensar como se compreende a ênfase, o destaque, a preocupação, que volta e não volta aqui exprimo quanto à sorte da fala que é nossa.
É um património único, inestimável, insubstituível – e todos os dias desprezado, maltratado, desperdiçado.
O seu ensino atingiu níveis de calamidade publicamente reconhecida. E se internamente reina o desmazelo e o abandono, para o exterior nada existe.
Não há nem nunca houve uma política oficial de promoção para a internet, como já aqui expus. Abandona-se assim esse terreno onde hoje se travam todas as batalhas do futuro.
Não há lugar no mundo onde não se encontre um português – e não se aproveita enquanto é tempo esse potencial espantoso, nem sequer do ponto de vista da função económica, actualmente medida de todas as coisas.
Que rede poderia construir-se!
Surgem constantemente da Galiza pedidos de auxílio – e ninguém parece entender o valor de mais uns milhões de falantes, nem o Governo, nem um editor, nem um jornal, e diga-se a verdade que nem sequer a generalidade dos portugueses actuantes na rede.
Esquece-se completamente o Brasil, ou qualquer outro local onde se fala português – quando um mínimo de ambição levaria a que quem concebe um site ou define um objectivo na net deveria pensar não em dez milhões de destinatários prováveis, mas em duzentos e muitos milhões de destinatários possíveis.
Se a língua portuguesa é a “última fronteira da Pátria”, como disse Augusto de Castro, é preciso recordar a toda a hora que o que fizermos a este respeito engrandece ou empobrece Portugal, reduzindo-nos ou projectando-nos no mundo, conforme o destino que soubermos dar à nossa Língua Natal.

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Vacas sagradas 

A religião do politicamente correcto tem os seus santarrões, de veneração geral e obrigatória.
Trata-se em geral de personagens falsas, de virtudes escolhidas por catálogo e montadas ardilosamente para servir os objectivos pré-definidos, cujas imagens e biografias supostas são posteriormente universalizadas pelas agências especializadas, em campanhas repetidas ad nauseam.
São vultos que têm o condão de me despertar especial irritação.
Surge-me à cabeça o Ghandi. Este distinguia-se por ser um indiano mestiço, com superior cultura britânica, de tendências snobs e ambições grandiosas. Com os ingleses tinha aprendido tudo, sobretudo a hipocrisia.
A certa altura descobriu a fórmula: largou as fatiotas elegantes e o look oxfordiano e assumiu aquela imagem de faquir embrulhado num lençol. Ao mesmo tempo teve uma genial intuição propagandística: a ideia da não violência, que de modo simplificado consiste em agir de forma a obrigar quem tem o bastão a usá-lo para logo depois ir exibir as nódoas negras à compaixão universal.
Os caudais de violência e de ódio desencadeados por todo o subcontinente indiano pela aplicação sistemática dessa táctica, com recurso a constante mobilização das massas e hábil domínio da psicologia das multidões, tudo sempre acompanhado de propaganda infindável para uso interno e externo, geraram situações de conflitualidade e violência que não conheceram qualquer acalmia nos últimos sessenta anos.
Outra vedeta desta galeria é o Luther King. Trata-se de um vulgar pregador negro daquelas inumeráveis igrejas mais ou menos evangélicas que abundam nos Estados Unidos, que à partida nada diferenciava da gritaria e das obsessões dos outros.
Na sua biografia nada há de especial a não ser o forte apetite sexual, com fixação em teen-agers (ao que parece tinha isso em comum com o “asceta” Ghandi). Mas também este sofria de ambições megalómanas e descobriu um caminho: a exploração política dos ressentimentos seculares das comunidades negras americanas.
O activismo dele e dos seus criou uma realidade política incontornável desde então na política americana, traduzida na presença da sensibilidade específica dos negros, definida pela negritude e não por qualquer ideia ou projecto. Racismo puro.
E a criação dessa realidade, através do reforço dos mecanismos de identificação pelo apelo a sentimentos e emoções tribalizantes, gerou uma cadeia inesgotável de conflitos sociais e raciais, atrasando a integração e cindindo dolorosamente a comunidade negra em relação à sociedade americana, e afectando grandemente a coesão desta. O guetto gera o guetto.
Finalmente, outro santarrão por aí infindavelmente reproduzido em bandeiras, medalhões e tee-shirts: o Che Guevara.
A propósito deste ocorre-me sempre a reacção espontânea da filha de Fidel Castro, Alina, numa entrevista a propósito da sua fuga da ilha-prisão. O jornalista perguntava-lhe pela sua visão de acontecimentos e personagens, numa perspectiva adequada ao que ele aprendera aí pela subcultura generalizada. E a dado pessoa pergunta respeitoso: - “E Che Guevara? Conheceu-o?”
A jovem olhou-o e respondeu com naturalidade, mais ou menos isto que cito de cor: - “Sim, eu era muito pequena, mas lembro-me bem de Ernesto ... aparecia muito lá em casa ... era ele e Raul que tratavam dos fuzilamentos ...”
O jornalista fugiu para a frente apressado. Na mente daquela rapariga que descobria a sociedade fora da ilha a imagem gravada do “libertador” era a do fanático ministro dos primeiros tempos do castrismo: o homem que tratava dos fuzilamentos, o assassino dos anos negros do “paredón” para os inimigos da revolução, levados às centenas e aos milhares, quando ela era menina e os pais habitavam os palácios do poder.
A filha de Fidel desconhecia visivelmente o que as agências tinham feito de Ernesto: uma imagem viva do Cristo, redentor dos povos, mártir da tirania e da opressão – quanto andava a tentar reproduzir noutros locais o que já experimentara em Cuba.
Curiosamente, e aqui termino, estes três homens tiveram todos o fim trágico que se conhece. Como se os ódios acumulados na caixa de Pandora que abriram acabassem sempre por apanhar no seu vórtice de destruição os próprios que os soltaram pelo mundo.

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Os que não são consultados 

Ouvi hoje contar o caso de um acrobata americano que teve uma ideia. "Brain wave". Uma ideia nova para seu programa de televisão. É assim: em pé no rebordo do telhado de um arranha-céu ele faz cabriolas, não com seu próprio corpo, mas com o corpo de uma criancinha de meses que ele atira para o ar, apanha, equilibra, muda de mão e passa entre as pernas. Como se vê, o espectáculo deve ter sido excitante e gostoso para as pupilas cansadas de outros espectáculos mais rotineiros.
Essa história lembrou-me outra. Estavam duas ou três senhoras de nossa melhor sociedade, dessas que tomam chá de chapéu, a discutir o caso de um desabusado cirurgião (também da melhor sociedade) que provocara um aborto sem consultar ninguém. Dizia, então, uma das senhoras, a do chapéu de lilazes: "Eu acho que a família deve ser consultada..." A dama de chapéu cor-de-amora foi mais precisa: "Eu acho que compete à mãe, exclusivamente, resolver o caso". E estava a conversa neste ponto quando um amigo meu, tímido e gago, que nunca consegue ser ouvido por ninguém, sugeriu que quem devia ser consultada era a criança. E é a ausência dessa consulta que me horrorizou na história do acrobata. Por muito menos zangou-se um dia Jack London, numa tourada, porque os touros e cavalos não eram ouvidos.
Mas ninguém ouviu a reflexão de meu amigo. Como ninguém ouve a misteriosa linguagem com que os embriões de dois a três meses declaram categoricamente que querem viver. Como também cada dia menos se ouve a linguagem, já menos mistificada, das crianças de dois ou três anos que são energicamente contrárias ao divórcio. O facto é esse: na ginástica, no aborto e no divórcio, há pessoas, personagens, pessoas humanas, vivas, que estão envolvidas e que não são ouvidas.
"Ora, direis, ouvir crianças... certo perdeste o siso!", dirá algum leitor que ainda se lembre dos esplendores do nosso parnaso. Como é possível ouvir um embrião? Como se pode ponderar o que diz uma criança de dois anos?
Digo-te eu, leitor, que foste tu que perdeste o siso. E acrescento: o mundo está como está, e o nosso Brasil chegou onde sabemos que chegou, porque as pessoas (a começar pelas da melhor sociedade) não têm mais ouvidos para ouvir e entender a linguagem dos fetos. Fuzilam-se inocentes, aos milhões, sem remorsos, dada a circunstância supersónica de seus protestos. Vou explicar-te, amigo, mais uma vez, como se pode ouvir o que não fala, e consultar o que não tem a idade da razão. É muito simples: ouvindo e consultando a lei que está gravada na natureza das coisas, a lei que qualquer consciência desobstruída de chás e chapéus pode ouvir e consultar. Uma boa lavadeira, uma honesta cozinheira, sem procurar psicólogos e sociólogos, têm ouvidos para a voz da Inocência perfeita, para a voz que condena o aborto, o divórcio, e outras acrobacias feitas com carne de gente.

(Gustavo Corção)

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quarta-feira, outubro 18, 2006

Há sempre alguém que resiste 

Manifestação contra o abortismo oficial e oficioso: vai realizar-se pelas 18.30 do dia 23 de Outubro de 2006, frente à Assembleia da República, uma concentração Anti-Aborto.
Informações aqui e aqui.

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Uma grande instituição lusíada 

Durante este mês de Outubro, a Sociedade Histórica da Independência de Portugal promove como habitualmente um diversificado conjunto de actividades, todas a realizar na sua sede, no Palácio da Independência, junto ao Rossio, em Lisboa.
Como já foi divulgado no Sexo dos Anjos, aqui estão os principais actos marcados para estes próximos quinze dias.

19/10/2006
Curso de "Doutrina Social": “Pessoa, Subsidiariedade e Bem Comum”, pelo Padre Dr. João Seabra. Às 20H00 na Sala do Conselho Supremo.
25/10/2006
Lançamento do livro “O passado e o futuro da União Europeia... O Ocidente ainda existe?”, da autoria do Juiz Conselheiro Rodrigues da Silva. Pelas 18H30 no Salão Nobre.
26/10/2006
Reinício das Conversas de Fim de Tarde: “A situação actual do Exército”, pelo Coronel Manuel Cardoso Ferreira, na Sala de Convívio pelas 17h30.
28/10/2006
Ciclo “Concertos da última sexta-feira de cada mês” – 1.º Concerto do Coro Infantil e Juvenil da Casa do Povo de Santa Catarina da Serra, Leiria, sob a direcção da Prof.ª Rita Seco. No Salão Nobre pelas 18H30.
30/10/2006
Conferência do Dr. Nuno Rogeiro no âmbito do ciclo “Abstenção, Intervenção, Interesse Nacional”. No Salão Nobre pelas 18h00.

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Associação Gaita de Foles 

Esta é uma organização com uma obra notável na preservação e estudo das raízes da música tradicional portuguesa.
Acompanhem as actividades da Associação Gaita de Foles, todos ficamos a ganhar.

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terça-feira, outubro 17, 2006

Não é por acaso? 

Mas então o que tem o Dr. Pedro Arroja contra o "Blasfémias"?

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Um homem das cidades 

Um blogue que oferece um valioso acervo documental e informativo.
Vejam por exemplo "o 11 de Setembro de 2001 foi transmitido na FOX TV a 4 de Março de 2001 (seis meses antes dos atentados)".

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É a glória, é a glória! 

Nesta terça-feira o semanário "O Diabo" dedica um espaço do caraças a este vosso blogue.
Vão já comprar o raio do jornal, antes que se esgote!

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Para mim tanto faz 

Um blogue do jornalista Frederico Duarte Carvalho, sobre assuntos que importa conhecer.
Complemente com a informação fornecida no Ardinário, e aprenderá muito sobre o universo da nossa imprensa escrita.
Um must, ao alcance de qualquer candidato a mestrado na matéria.

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Mote para motim 

Um interessante blogue, cheio de documentação sobre a história que não nos contam e que normalmente se esconde. Vão até lá.

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Admirável mundo novo 

É o novo paradeiro de um bloguista irrequieto.

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segunda-feira, outubro 16, 2006

Em grande forma 

Atenção aos mais recentes artigos do "Futuro Presente": sobre a Identidade Nacional, de António Marques Bessa, ou sobre os Grandes Portugueses, de Jaime Nogueira Pinto, ou sobre a Língua Portuguesa, de Miguel Freitas da Costa.

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PNR no Algarve 

No próximo sábado dia 21 de Outubro realiza-se na Junta de Freguesia de Portimão, pelas 17 horas, uma Sessão de Esclarecimento aberta ao público, sobre o PNR, seus princípios, bases ideológicas, actividades e objectivos. Posteriormente realiza-se num restaurante de Portimão, pelas 20.30 horas, um jantar-convívio destinado a militantes e apoiantes do PNR.

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Causa Nacional 

Pouco a pouco, com tenacidade e persistência, lá se vai levantando uma biblioteca e arquivo nacionalista na internet.
É um exemplo a seguir: só o trabalho em continuidade e profundidade pode trazer algo de sólido e duradouro. A obra a fazer exige tempo e paciência, e nunca nascerá de entusiasmos passageiros.
As exaltações de uma hora, a borbulhagem adolescente, o palavreado grandiloquente, o exibicionismo estéril, tudo se desfaz como espuma na areia.
O que precisamos é de resistentes, e não de desistentes. Só fica o que resiste ao teste do tempo.

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domingo, outubro 15, 2006

Ponto de encontro 


Forum Portugal: Pela Independência Nacional.

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COMEÇAR PELO PRINCÍPIO 

Até onde se deu conta a actual classe política - constituída por arrependidos do marcelismo, tecnocratas mutantes e diversas famílias marxistas - de que uma situação instaurada em nome do bem estar e progresso materiais dos cidadãos não tem legitimidade para exigir-lhes sacrifícios desse mesmo bem estar, de pedir-lhes que se resignem a trabalhar mais e consumir menos, que arrepiem caminho na euforia de viver dos rendimentos permitida pelas reservas acumuladas pelo anterior Regime?
As chamadas "políticas de austeridade" implicam, como presupostos político-institucionais, ou modos autoritários de exercício do poder ou um consenso das forças sociais, justificado por um imperativo de salvação pública (guerra, ameaça externa, projecto nacional), isto é, por algo que a comunidade em dado momento histórico considera superior às expectativas e padrões de vida dos seus membros.
Pondo de parte, como hipótese de trabalho, a alternativa do estado de excepção, que apesar do mimetismo demonstrado por alguns dos seus próceres não parece caber nos desígnios das cúpulas do establishment, (embora surjam, aqui e ali, veleidades de democracia vigiada - na versão brasileira ou mexicana) haveria que encontrar, nos quadros ideológicos e institucionais vigentas, a tal razão ou projecto, doutrina ou objectivo que justificassem os sacrifícios que a Administração ou as circunstâncias vão exigir ao Povo.
Aí começam as dificuldades ou impossibilidades: não será com certeza a burocracia partidária do social-soarismo - mero quadro administrativo dum capitalismo moribundo ou em recuperação, nem o cocktail de opções centristas ou direitistas envergonhadas, que hão-de mobilizar os cidadãos para a reconstrução nacional; menos se vêem carismáticos líderes, que despertem o incondicionalismo e o fervor das multidões, conduzindo-as à vitória, mesmo que se trate de batalha pacífica. O panorama é dominado por uma sólida mediocridade, mais ou menos respeitável, mais ou menos escandalosa.
O Partido Comunista é, por seu turno, um caso à parte, pois em Lisboa ou na Patagónia tem sempre explicações definitivas para as causas e objectivos, como multinacional da política, constituída por profissionais meramente guiados por critérios de eficácia. Que podem ser particularmente adequados à função de catalizar ou recuperar o caos, manipulando descontentes ou desesperados que é o que cada vez mais há em Portugal. Ninguém ignora que o terreno perdido nas Forças Armadas e na opinião pública o vem compensando o PC, no campo da organização e preparação dos militantes. Por ora em quartéis de inverno, a filial portuguesa do PCUS prepara-se para o que der e vier e retomará a iniciativa logo que as circunstâncias externas da estratégia soviética na Europa lhe derem luz verde.
Assim, não se vendo no leque partidário situacionista qualquer resposta capaz à dicotomia caos progressivo-concentracionismo marxista, torna-se mais imperiosa uma alternativa nacional. Se esta não surgir, o confusionismo, a incompetência, a irresponsabilidade do poder irão uma vez mais ser aproveitados e recuperados pela máquina do PC, isto é, o vazio levará à política do pior.
Importantes sectores do país real - da juventude, dos Católicos, dos Trabalhadores, das Forças Armadas, dos Intelectuais, dos Quadros - apesar do profundo sentido de revolta e vontade de mudança, sentem-se paralisados às portas da Acção por falta dum projecto nacional que sirva de razão e guia à reconquista de Portugal pelos Portugueses.
Então buscam-se messias, caudilhos, homens providenciais, prestidigitadores, magos, alguém capaz de transformar, da noite para o dia, as ruínas em cidade, o caos em universo, a cólera em esperança, alguém que faça frutificar os campos secos, que vista os nus, que leve a andar os paralíticos, que alimente os famintos, que salve a República e ressuscite os mortos. Alguém que, tomando sobre os ombros a raiva, a fé, a esperança, a vontade de todos, a todos arranque do desespero e da derrota.
Este é o pior caminho. Há que começar pelo princípio, que reinventar e recriar Portugal. E tal não pode estar à mercê de césares conhecidos ou desconhecidos, da sorte ou mil sorte dos suas estratégias ou ambições, mesmo legítimas. Até porque são raros os génios ou ungidos de Deus e, como vimos na história próxima, os homens comuns que se sobreestimam acabam mal e deixam pior as empresas a que metem ombros sózinhos ou acompanhados. Ninguém se salva por procuração e hoje, perdidos muitos dos seus esteios materiais e políticos, a independência de Portugal depende muito mais da vontade dos Portugueses, escorada numa firme convicção das razões de Portugal.
Há que interrogar a História e o Futuro, a Razão e o Mito, a Tradição e a Revolução; há que recordar que os homens só lutam pelo que amam, só amam o que respeitam e só respeitam o que conhecem; e fazer uma Peregrinação humilde (mas não amarga) pelo que ficou: pedras de castelos raianos, virados à meseta, cordames e cruzes de Cristo, agora em terra face ao Ocidente; e a memória dos Heróis e o sentir da gente comum. Há sobretudo que viver a revolta dos que se bateram e foram traídos e a daqueles para quem o Império morreu, antes que saíssem de casa. Depois colher os ensinamentos da batalha que Portugal acaba de perder. Analisar e dissecar as utopias em nome de que actuaram os que traíram ou foram instrumento dócil da traição, demonstrar a sua mentira e efeitos e lembrar que da desordem, da mediocridade, da vergonha não podem nascer a ordem, a força, a dignidade.
Há que recordar e meditar tudo o que fez grande a Nação Portuguesa, colhendo as lições de Fidelidade, de Honra, de Sacrifício que guiaram o seu Povo quando foi grande e aventureiro, quando defendeu o rectângulo, rasgou o mar oceano, semeou padrões, ergueu fortalezas, uniu o mundo, salvou gentios. E com o mesmo espírito procurar, na humildade do horizonte que nos ficou, as linhas da reconstrução e alguma esperança.
Traduzir o espírito de Quinhentos em Portugal, rectângulo, 1977.
Temos que recomeçar, deste areal de sudoeste, onde encalharam e se morrem as caravelas, entre a nostalgia dos que foram à Índia e o murmurar dos velhos do Restelo, talvez arrependidos, mas que a mataram. A Índia é agora aqui, nesta Pátria pequena, ocupada, doente, mancha portucalense entre Castela e o mar. A Índia é sabermos porque perdemos, porque vamos passar fome, porque regressámos sem Fé nem especiarias, sem glória nem saque, sózinhos com o presente catastrófico e o futuro ainda pior. A Índia é vencer todos os dias o desgosto e a náusea dos que nos entregaram, destes adamastores pequeninos e grotescos que servem o ocupante, que se debatem entre o medo e a culpa, procurando a cobardia da irresponsabilidade. A Índia é a esperança de redimir a vergonha e desolação que matam e humilham este Povo que outrora foi grande e generoso e agora vegeta, estrangeiro, na Lisboa sem Descobertas.
A Índia é estar num barco triste, sem norte nem bússola, entre nevoeiro e escolhos sem fim, e querer partir outra vez. A Índia é sentir estes restos de memória de naus e império e este sentimento do irremediável histórico de alguma coisa muito grande que se perdeu à deriva, do facto de estarmos, outra vez, de volta da viagem que não faremos mais, encerrados na mãe Europa, com o mar pela frente, agora intransponível.
A Índia é acima de tudo e por tudo isto, a vontade de ainda navegar. A Índia é querer chegar lá.
JAIME NOGUEIRA PINTO
(n.º 63 do semanário "A Rua", de 17 de Junho de 1977)

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Linha de rumo 

Tradição e progresso eram para apóstolos do novo ideal expressões contraditórias, de impossível conciliação e, por isso, entendiam que era necessário destruir o majestoso edificio do passado para que, depois, sobre as suas ruínas, se erguesse o templo da felicidade futura, em cuja cúpula em vez do símbolo da autoridade - deveria brilhar a figura redentora da liberdade!
Deste modo, o edifício do passado sofreu os mais rude golpes; as suas paredes musgosas foram rijamente sacudidas, sem respeito até pelas grandes figuras históricas que as adornavam. Os próprios alicerces em que assentava - os conquistadores e defensores da independência da pátria - sofreram, por vezes, as arremetidas daqueles que viam no passado um estorvo à desenvolução social, uma afronta à hodierna liberdade!
Abriram-se profundas brechas no edifício, mas os novos arquitectos não conseguiram erguer um monumento novo, que, vantajosamente, substituisse o velho palácio.
Desta maneira, os destuidores da tradição vieram apenas confirmar o que a experiência há já muito demonstrara: - é mais fácil destruir do que construir. Tendo-se reconhecido que a destruição do passado não traria, como consequência, a felicidade dos povos, principiou-se a olhar, novamente, para trás e a reconhecer a necessidade de ir buscar à tradição as regras eternas da vida do homem em sociedade.
Os factos destruiram a aparente contradição que alguns viam entre tradição e progresso e vieram mostrar que estes dois termos são elementos harmónicos e essenciais da civilização.
A tradição fornece a base sólida das nossas instituições e o progresso vai adaptando essas instituições às necessidades sociais da hora que passa.
Segundo a velha definição de Aristóteles, o homem é um animal essencialmente social. Está preso aos antepassados pela sua origem, aos contemporâneos pelas suas relações, aos vindouros pelas consequências da sua própria actividade.
FERREIRA DEUSDADO
(in "Regionalismo e Patriotismo", 1934)

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sábado, outubro 14, 2006

Ligações 

Destaque para as revelações do Futuro Presente e do Estado do Tempo.
Bem pensar e bem escrever, é um bom princípio.

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A escola e a política 

Penso que aquela corrente a que geralmente chamamos Esquerda ou Extrema-Esquerda, teve o mérito de ter sido a primeira a tomar consciência da realidade estrutural da inter-conexão de todos os sectores da mente e da actividade e, consequentemente, da realidade da impregnação ideológica destes sectores. A chamada Direita, pelo contrário, conservou-se durante bastante tempo prisioneira da ideia ilusória de que havia sectores “neutros” - ou (de um modo ligeiramente diferente) de que era possível voltar à situação anterior, na qual um consenso implícito era alcançável nestes sectores. Temos em França um bom exemplo dessa diferença de atitudes no campo da educação. Enquanto a extrema-esquerda se vai apossando de um importante número de posições-chave na educação secundária e universitária, a direita nada mais faz do que lastimar a “politização da escola”, que aparece de facto como irreversível (e que está hoje especialmente aberta ao criticismo porque é unilateral).
Aquilo que, no debate intelectual, fez a superioridade metodológica do esquerdista, foi ele ter sabido (e continuar a saber) o que cada um tem que pensar, do seu ponto de vista, em tópicos que são, à primeira vista tão diferentes como as relações de produção na Idade Média, a pintura abstracta, a invenção do cinema, o “Design” de “Mass Housing”, a genética molecular ou a teoria “Quantum” (ou pelo menos ele sabia que neste, como em qualquer outro tópico, a doutrina que ele tinha como sua, tinha uma palavra a dizer). A Direita pelo contrário não entendeu que não havia “verdades da ala direita” e “verdades da ala esquerda”, mas sim, caminhos de direita e de esquerda (para mais uma vez utilizar expressões convencionais) com o fim de calcular os factos admitidos, adquiridos pela mudança de conhecimento, organizando-os, colocando-os numa perspectiva particular que lhes dará igualmente um significado particular.
E é provavelmente a razão porque a esquerda e extrema-esquerda acertaram sempre mais sistematicamente na teorização, na formalização do seu “Approach” epistemológico e doutrinário, na criação de um corpus ideológico, útil para ser usado como referência em discussões posteriores.
Quer isto dizer que não há “ideologia da ala direita”? Claro que não. Mas em muitos casos, poderíamos afirmar que esta ideologia apenas existe por dentro, de uma maneira implícita. A direita ignora muitas vezes as suas potencialidades; muito raramente teve noção de todas as implicações das suas próprias aspirações. A sua “mensagem” está presente mas não explícita. Todo o trabalho, agora, consiste em trazê-la à superfície.


(Alain de Benoist)

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A PERSPECTIVA INTEGRAL 

O homem nasce primeiro como um herdeiro. Ele não nasce em série, ele nasce dentro de um povo, dentro de uma cultura, dentro de uma dada era, e é desta particular posição em que está que ele será levado a emitir juízos de valor e juízos de facto; (é tão necessário aspirar à objectividade, como quanto teremos que nos resignar que sempre será impossível alcançar uma objectividade total. É impossível considerar “objectivamente” todos os aspectos de um problema, assim como o é olhar a terra de dois pólos ao mesmo tempo).
Nesta relação, as leis que governam as sociedades humanas não diferem muito das leis da microfísica: a posição do observador determina em parte o esboço da “paisagem” estudada.
O que é certo, por outro lado, é que as ideologias, isto é, os modos de ver e conceber o mundo, ainda quando não se associam como tal, não foram sempre conscientes de si próprias como o são hoje, numa era em que já foram grandemente acumuladas e formalizadas numa multidão de sistemas. Esta “súbita preocupação ideológica” é, obviamente, uma consequência directa ou indirecta da revolução de 1789. De facto, logo que o princípio de autoridade que naturalmente governava as sociedades da pré-revolução foi posto em dúvida na sua legitimidade e nos seus fundamentos, tudo o que antes “was going with saying”, tudo o que era espontaneamente considerado como posição integrante de uma “ordem natural”, apareceu como convenção, isto é, como uma criação humana subjectiva, e, em consequência, deparou-se com uma grande quantidade de facções político-ideológicas, pretendendo todas, sucessivamente, possuir uma “nova verdade” e procurando os meios de assegurar o poder para si próprias.
Paralelamente, desde que o Estado se colocou na posição de ser questionado pelas diversas facções, as quais estão aptas a uma tomada do poder de um dia para o outro (como é hoje sabido), vimos, enquanto todo um edifício de contra-poderes era levantado frente ao poder estabelecido, simultaneamente surgir toda uma multiplicação e expansão de pólos de pressão ideológica.


(Alain de Benoist)

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PERMANECER PARA CRIAR 

Seja onde for que se manifeste qualquer maioria abdicando ou abandonando as atitudes e as ideias justas, nunca renegaremos os nossos princípios nem nos desviaremos das nossas convicções. Entendemos que o cumprimento do dever possui uma importância primordial e que é indispensável manter um testemunho inteiro da verdade. Desdenhamos do relativismo, tão corrente e crescente onde seria de estranhar que ele se instalasse. Recusamo-nos ao extraordinário acervo de contradições, de desnecessários e duvidosos realismos, de pressurosas adaptações.
Consideramos que certas posições representam uma forma de fatalismo, uma submissão a quanto nomeiam de irreversível (com extensões e funduras espantosas). Assim, praticam uma justificação de tudo aquilo e contribuem, afinal, para solidificar o que seria desejável que não se tivesse instalado e que seria meritório fazer todo o possível para abalar e - quem sabe? - derrubar. Por falta de intransigência, de constância, de acorrer aos postos de combate e aí permanecer, cada um de vários ou de muitos instaura um clima de deserção, de tibieza, de abastardamento; em vez de, pelo contrário, aumentar, intensificar e expandir a firmeza, a fé e o espirito de sacrifício. No meio da descrença geral, vão desaparecendo e renunciando os que deviam ser inamovíveis focos de resistência e luta.
Queremos apelar aos nacionalistas, para que reflictam e mergulhem bem no íntimo propulsor dos actos maiores. Quem se corrige pauta-se pela regra; quem se pauta pela regra regula-se; quem se regula torna-se semelhante ao rei e propriamente um rei.
Confessar um erro e emendar-se dele é nobre. Perseverar no erro é diabólico. Quando o espirito está afectado, a epidemia grassa: eis a porta aberta à morte e à possessão.
Em lugar do pequeno maquiavelismo, do jogo da alta-baixa política, preferimos a irredutibilidade dos que querem permanecer na honra, iguais a si mesmos e ao que os ultrapassa, ao que foi timbre e herança do passado e que cumpre transmitir ao futuro; como depositários, guardando as sementes e, na medida total das nossas capacidades, deitando-as à terra que laborarmos.
Afirmamos ainda que esta atitude de idealismo e de pretenso "irrealismo" tem uma função vital e decisiva na construção da realidade (que não se limita a mero dado), assumindo, pois, um carácter também realista.
Não nos remetemos à condição de resignados. Não nos curvamos ao jugo e à desculpa duma condenação. Acompanhando e confirmando a declaração de outros, não julgamos ser apenas os últimos de hoje; "afrontosamente", sustentamos ser os primeiros de amanhã.
As nossas recusas provêm do irrecusável, da aceitação de responsabilidades incómodas. As nossas rejeições traduzem um modo de assumir. Dizemos não, pelo imperativo sim a que estamos ligados. Não nos movemos no indiferentismo, nem com a interesseira prudência, nem por simples negativismo, mas sim na vivência da profunda afirmação.
(Goulart Nogueira)

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sexta-feira, outubro 13, 2006

PRINCÍPIOS, MEIOS E FINS 

Algures no século passado um amigo dizia-me que o problema nas direitas está em que os que têm princípios não têm meios e os que têm meios não têm princípios. A observação correspondia, evidentemente, a uma forma irónica de levantar questões complicadas.
Embora tenha encontrado graça no dichote, devo dizer que, após maturação da ideia, não acompanho a tese que dali se pode depreender. O problema das direitas não é só o que literalmente é apontado, embora não se possa ignorar esse. Com efeito, quando por contingências do destino se verificou a coincidência de se reunirem meios em mãos de quem mantinha princípios também os resultados não foram famosos.
Julgo que para além dessa separação entre princípios e meios sintetizada amargamente no comentário (aos que têm uns faltam-lhes sistematicamente os outros) outros problemas existem a afectar a direita e a obstar à sua afirmação política.
Desde logo, importa salientar que frequentemente também lhe faltam os fins. Ter um alvo, uma meta, um objectivo, uma finalidade – é um requisito necessário para que a acção política surja ordenada e consequente. Aliás, tem sido nos momentos históricos em que de modo mais claro se apresenta uma causa ou um factor de mobilização imediato e visível que a animação das hostes direitistas se tem temporariamente verificado, ocorrendo então também os poucos êxitos que se podem anotar. Acontece, como qualquer analista concordará, que quase sempre essas mobilizações ocorreram em resultado do desenrolar da agenda do adversário, conferindo à actuação direitista a característica de mera reacção que tantas vezes lhe é notada.
Não surgindo estímulos exteriores, a normalidade é a apatia que vem garantindo a inexistência prática de uma intervenção política de direita na vida pública portuguesa.
O que falta então de substancial (para além de numas vezes faltarem princípios, noutras faltarem meios, noutras faltarem fins, e de noutras faltar tudo)?
Creio bem que, pelo menos, falta gente. Não é mais do que ilusão consoladora aquele raciocínio que encontramos muitas vezes servido sob várias formas mas que assenta sempre no pressuposto da existência discreta de uma massa adormecida de direitistas fiéis, quando não de um país profundo agarrado a convicções “nossas”, ou mesmo de uma “maioria silenciosa” escondida e submersa pelas minorias ruidosas.
Sem embargo de reconhecer a realidade que pode estar subjacente a alguns destes lugares comuns (o afastamento entre a opinião do cidadão médio e a opinião mediatizada, a desproporção entre o peso numérico de certas minorias e o seu poderio efectivo) a verdade é que autênticos militantes, doutrinados, esclarecidos e conscientes, de projectos políticos de direita ou à direita, são espécie rara, escassa por demais para constituir um movimento expressivo e representativo no conjunto da sociedade. Somos poucos; globalmente dá para nos conhecermos todos e encher um jantar.
E acreditar que no fundo dos instintos vulgarizados das massas ainda possam viver e predominar os tais princípios que se evocam não passa de uma crença ingénua e desconforme às realidades sociais. As massas por si mesmas não conservam princípios nenhuns, guiam-se de acordo com os que lhes forem inoculados por aqueles que de um modo ou de outro tenham a sua direcção efectiva e modelem o seu pensar e o seu agir.
Pergunta-se então o que fazer, à direita. Parece-me que na direita em Portugal tudo está por fazer, pelo que nada do que se fizer será demais. Manter e defender os princípios, procurar e organizar os meios, programar e definir os fins.

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Dos media e da esquerda 

São muito conhecidas as análises sobre o domínio das posições de esquerda entre os profissionais da comunicação social, e a sua falta de correspondência com a distribuição de tendências entre o público destinatário.
Conheço essa polémica recorrente pelo menos em França, na América, no Brasil...
A opinião que se publica está sempre à esquerda das sociedades a que se dirige - e as quais trabalha nessa direcção.
O pormenor mais curioso li-o há pouco tempo, confesso que esqueci onde: segundo um estudo efectuado as proporções desse predomínio variam conforme a área a que se dedicam os jornalistas.
Concretamente: a zona das redacções onde o peso esquerdista é mais acentuado seria na área da cultura, a seguir nas secções de política, e as páginas menos à esquerda seriam as de economia.
Inversamente, as opiniões de direita apresentam-se quantitativamente mais representadas à medida que caminhamos da cultura para a política e desta para a economia.
Esta observação divertiu-me sobretudo porque fiquei convencido que ela mesma parte de conceitos sobre esquerda e direita que, no meu modesto entender, são de esquerda. Falando francamente, a direita a que essa conclusão se refere como pontificando mais nas secções de economia coincide certamente com aquela que partilha com a esquerda a aceitação do primado do económico, divergindo dela tão só nos aspectos organizativos propugnados - em nome da eficácia e da competitividade, e não por força de qualquer princípio filosófico.

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A Direita que não há, e o centro que fugiu 

Nos anos trinta, ao tempo em que o Estado Novo erguia as suas estruturas na terra portuguesa, existiam alguns pilares institucionais onde, segundo os tratados, assentou o seu edifício político.
Como é geralmente apontado, a Igreja, as Forças Armadas, a Universidade (ao menos estes, e sobretudo estes) garantiram à nova situação o apoio, o enquadramento ideológico, os quadros, a base social necessária à empresa.
Como aparelhos de produção ideológica forneceram também a justificação doutrinária e os discursos de legitimação, interior e exterior, do regime.
Se procurarmos analisar o que mudou de então para a nossa época, facilmente reparamos que a Igreja ou desapareceu ou mudou de campo, o Exército subsiste em dimensão miniaturizada e musealizada, e a Universidade fragmentou-se e invertebrou-se, perdendo em peso e influência o que cresceu em volume.
Todas as tentativas das últimas décadas para organizar e representar politicamente a direita, designadamente em partido, com finalidades de intervenção eleitoral, esbarram inevitavelmente nestas faltas.
A quem há-de a direita representar? A verdade é que se não contarmos com uma sensibilidade difusa presente em alguns sectores da população e que normalmente só pode ser despertada por factores passageiros, circunstanciais, não existem instituições presentes e activas no corpo social, de âmbito e dimensão que releve, a reclamar essa representação.
Ora sem as referências institucionais catalizadoras e agregadoras não há forma de mobilizar e manter o apoio de faixas significativas da sociedade, com expressão qualitativa e quantitativa que baste a assegurar uma presença política caracterizadamente de direita.
Também por esse motivo tem acontecido o fenómeno dos políticos que começam a carreira galhardamente à direita para depois com a sua imersão no país político irem surgindo cada vez mais esquerdizados. Confrontam-se com o embaraço de verem as suas ambições e expectativas pessoais tolhidas pelas ideias com que avançaram – e a dada altura libertam-se desse lastro.
O que se passou foi que o centro político, entendendo este apenas como o ponto geométrico central entre as diversas forças que actuam e contam na vida política do país, foi-se deslocando cada vez mais para a esquerda.
Quando o Dr. Salazar proclamava as suas grandes certezas podia falar tranquilamente e apresentar-se como um modelo de equilíbrio e bom senso. Era um moderadão – quase um “centrista”.
Na actualidade, as mesmíssimas convicções serão apontadas como taras marginais, exclusivas de grupos extremistas numericamente insignificantes.
O centro deslizou continuamente para a esquerda, de modo a fazer aparecer hoje como comuns e generalizadas, para o cidadão médio, propostas que há umas décadas nem a extrema-esquerda apresentaria, e inversamente a deixar isolados na extrema-direita princípios que há cinquenta anos nenhum sector político com respeitabilidade pública poria em causa.
Por este raciocínio se compreende a utilidade operacional deste conceito de centro político: se ideologicamente é o vazio, como é próprio de um ponto abstracto calculado num espaço dado, a imagem serve todavia para uma visão simples e imediata da evolução histórica da vida de uma sociedade.
E também permite visionar num relance os equilíbrios ideológicos de cada momento político. Procure-se onde está o centro, e logo se perceberá muito sobre a nossa própria situação.
Assim cheguei à magna questão da direita, que tem sido tão focada nestes tempos mais chegados e a que comecei por aludir no início.
Arranjem-se instituições, criadas, construídas de raiz, inventadas, ou recuperadas, ocupadas, conquistadas seja lá como for. Sem elas não parece que a direita possa vir a ter mais do que uma expressão inorgânica, marginal e residual.
(do Sexo dos Anjos)

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quinta-feira, outubro 12, 2006

Uma pedrada no charco? 

Apareceu o República dos Desalinhados. Será que estes vieram mesmo para agitar as águas estagnadas? Ou tudo não passará de espuma superficial? O tempo trará a resposta.
Para já, saúda-se a iniciativa. A paralisia e a resignação é que não são de aceitar.
É preciso partir.
Chegamos? Não chegamos? Partimos. Vamos. Somos.

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Lição de política 

Estas são palavras que encontrei noutro local da rede, e cujo autor não conheço; mas chamo-lhe uma intervenção particularmente feliz, que fica à consideração de quem se sentir destinatário.
"Por isso, eu creio que, se a imigração deverá ser sempre nosso tema principal, é no entanto de crucial importância apresentar outros objectivos, relacionados com o nosso ideário. Portanto, se somos nacionalistas, devemos zelar pela vida da Nação, e, assim, dever-nos-emos preocupar: - com as listas de espera nos hospitais, que são terceiro-mundistas; - com a justiça e as suas falhas abjectas; - com a baixa-natalidade do povo; - com o estado miserável da produção nacional, das suas exportações, tanto na agricultura como na indústria - é importante dinamizar o produto nacional; - com o baixo nível educacional e cultural da população portuguesa - uma população inculta, não conhece a sua própria Tradição, a sua própria História, e, assim, será presa fácil de qualquer internacionalismo colorido, espampanante e ultra-kitsch - um povo abastardado pela ignorância de si próprio, escoará em breve para o esgoto da dissolução final na maralha sem raizes."

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A direita zangada 

A crispação, o rilhar de dentes, o sobrolho carregado, o dedo esticado e acusador vibrando de apoplética indignação - eis o retrato chapado de certa direita com que frequentemente deparamos.
Um bom amigo já falecido, fascista tranquilo e de ironia mordaz sempre a desprender-se do sorriso observador, chamava-lhe a "direita roncante" (e agora me lembro que o Larcher, com crueldade jesuítica, lhes chamava "direita patibular").
Disto até à estéril tendência para o sectarismo mais mesquinho, a permanente canelada em família, o virar de costas à vida e à realidade, vai o passo de um anão.
Quantas iniciativas frustradas, quanto esforço perdido, pelo enclausuramento míope, pelo cerrar de portas e o zelo purificador, distribuindo anátemas e excomunhões em barda - a procura do cada vez mais puros, ainda que cada vez menos...

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quarta-feira, outubro 11, 2006

MANUEL MARIA MÚRIAS NA MINHA MEMÓRIA 

(Esta é uma página de memórias de António Manuel Couto Viana).

Antes do 25 de Abril, nunca cheguei a conviver com Manuel Maria Múrias. Como tínhamos amigos comuns, algumas vezes travávamos breves conversas na rua ou num café, se algum de nós adregava estar acompanhado por um deles.
Mas lia-lhe, com agrado, algumas críticas cinematográficas ou de teatro, na "Acção" e no "Diário da Manhã", e recordo-me bem da que escreveu, ainda longe dos vinte anos, com a violência fruto da juventude, atacando uma peça vanguardista de Luiz-Francisco Rebelo, posta em cena no Teatro-Estúdio do Salitre, a que dei, mais tarde, a minha colaboração artística. O dramaturgo, ferido, também não a esqueceu. Manuel Maria assinava, então, Manuel Moutinho (um apelido da família), talvez para não ser confundido com o pai, o historiador Manuel Múrias.
Logo após a «revolução dos cravos», encontrei-o nas páginas do desafiante "Bandarra", a dar voz à terrível reacção, a quem Álvaro Cunhal ameaçava «partir os dentes». Apreciei-lhe o admirável artigo político em que evocava, adaptando-o ao momento, o discurso de Marco António perante o corpo assassinado de César, na genial imaginação shakespereana, o que ajudou o ousado autor a entrar na prisão de Caxias, como perigoso malfeitor, a par de grandes personalidades da Política e das Letras nacionais, em nome da liberdade recém implantada.
O facto de eu não ter ocupado, igualmente, lugar numa das celas, expliquei-o a tempo, numa poesia do meu livro "Nado Nada":

«As pátrias doentes
Não prendem os poetas. Para quê?
Prendem-lhes os amigos, os parentes.
Poetas... ninguém lê.»

Manuel Maria Múrias não era poeta. E era lido. E, pior!, admirado.
Em 1976, findo o longo cativeiro, Múrias não quis estar quieto nem mudo.
Planeou, então (ou planearam-lhe), a fundação de um jornal que representasse a determinação da Direita portuguesa frente ao triunfalismo da Esquerda.
Procurou, pois, rodear-se de quem, numa Redacção unida pela mesma ideologia, fosse eficaz em defendê-la pela escrita.
Convidou, para Chefe-de-Redacção, Amândio César, batido nas lides jornalísticas, antigo director de um diário e animador de revistas literárias, poeta e contista premiado, ensaísta de prestígio, repórter brilhante.
Amândio começava a entrar na meia idade, vigorosa e talentosa.
Regressava de um penoso exílio no Brasil, após haver sido ferozmente maltratado no 28 de Setembro, juntamente com Rui Alvim, nos arredores de Coimbra, pelas forças marxistas que destruíram a pátria, obrigando-o a passar, a salto, para a vizinha Espanha, e, em seguida, para a outra banda do Atlântico.
Múrias iria aproveitar-lhe o saber e a experiência.
Mas necessitava de mais gente para lhe fazer o jornal, contando já com a adesão de António Lopes Ribeiro, e a promessa de colaboração dos veteranos Barradas de Oliveira e Dutra Faria. O jovem Walter Ventura, antigo companheiro de cárcere, também figurava no elenco.
Foi, nessa altura, que o Amândio lhe falou de mim, dolorosamente desempregado, privado da minha Companhia de Teatro do Gerifalto, dos meus programas na rádio e na televisão, proibido de publicar: as mais queridas actividades da minha vocação literária e artística.
Foi, nessa altura, que o Amândio me falou no projecto jornalístico e, perante o meu entusiasmo, levou-me a casa do Múrias, em São João do Estoril, para ambos combinarem comigo qual o meu trabalho na nova publicação.
Aceitei, pois, as funções de revisor tipográfico e literário dos textos (incluindo, por imposição do Múrias!, os do director, visto ele insistir, por graça, que possuía, apenas, a quarta classe), tendo, ainda a meu cargo, a página dos espectáculos e partilhar, com o Amândio, a literária.
A redacção era na Rua Sampaio Pina, perto do Parque Eduardo VII, num andar moderno, amplo, cheio de Sol. A sala dos redactores ficava nas traseiras, com um mobiliário novo e prático, funcional.
Mas o jornal ainda não tinha título. Múrias, por uma questão sentimental, pensava chamar-lhe "Bandarra", mas tinha a opinião contrária dos seus amigos, gente bem situada na alta finança, gente grada do antigo regime, gente à testa dos recentes partidos da Direita, a quem ia dever-se a edição do semanário.
Achavam eles, e correctamente, que o nome "Bandarra" estava queimado, que o novo periódico não devia surgir preso a velhos compromissos, a rótulos ultrapassados: os tempos haviam rapidamente mudado, as realidades nacionais eram outras, embora preocupantes, bastante preocupantes.
Hesitante na escolha, Múrias pediu aos seus redactores que procurassem um outro título, depressa, e marcou-lhes um encontro, uma manhã, no Café Paladium, com o fim de resolverem, definitivamente, o problema crucial.
Não demorei muitas horas a encontrar um que deveras me agradou: "A Rua". Era apelativo, nada elitista, permitia, até, o aparecimento, nas suas páginas, de um Homem da Rua, com visão realista dos factos que afectavam o país e a simplicidade de uma solução, capaz de bradar: — «O rei vai nu!», à falsidade, à astúcia, à ambição, à incompetência, à desonestidade política dos oportunistas.
(Lembro-me que Artur Maciel tinha, no seu "Diário de Notícias", a alcunha de Titulesco, por ser ele a escolher os títulos da maioria dos artigos do jornal. Tal alcunha podia igualmente ser-me atribuída, já que são da minha responsabilidade os nomes das revistas "Camarada", "Távola Redonda", "Graal", do "Teatro do Gerifalto", das Colecções de Poesia "Búzio" e "Camoens"... e do jornal "A Rua", como veremos.)
Expus a minha proposta que obteve, logo, a aprovação do Múrias, embora, no dia seguinte, ela perdesse, no seu espírito, mercê de opiniões alheias, muito da sua simpatia, por achar o nome, além de um cheiro a ralé, a chinelo ou pé descalço, demasiado demagógico, demasiado conotado com a Esquerda.
— Pois é nisso mesmo que constitui o seu valor — retorqui-lhe.
Não me pareceu, no entanto, muito convencido com o argumento.
Mas uma viagem ao Norte, de visita ao heróico Arcebispo de Braga, D. Francisco Maria da Silva, para que este lhe abençoasse a iniciativa editorial, decidiu-o, por fim.
D. Francisco, a quem eu devia tanto de apoio e gentileza, quando ele ocupara o lugar de Assistente Religioso da Mocidade Portuguesa, elogiou grandemente o nome de "A Rua", indo mesmo buscar a uma estante um volume que registava os títulos de todas as publicações da imprensa portuguesa, onde não encontrou nenhum igual. O que mais valorizou o meu candidato.
E o jornal ficou "A Rua" e eu o seu orgulhoso padrinho.
Passou-se, então, à aliciante, mas difícil, tarefa de o maquetar, de desenhar-lhe o título.
Múrias entregara esse encargo a uma pessoa extremamente simpática, mas de limitado gosto gráfico. Pelo menos, do meu ponto de vista. Não me sorria, em nada, aquela maqueta, por isso, perguntei ao Manuel Maria se via inconveniente em entregar esse trabalho ao arquitecto Marcelo de Moraes, em quem eu tinha total confiança.
Ele achou a ideia magnífica.
Telefonei ao Marcelo, afastado, há anos, da Televisão, e, nessa mesma noite, ele, o Múrias e eu reunimo-nos num jantar no N.º 1 da D. Francisco Manuel de Mello, em que o meu caríssimo colaborador artístico no "Camarada", e no Teatro da Campanha Nacional de Educação de Adultos, escutou, com atenção e prazer, o convite do Manuel Maria.
Tudo concertado a contento dos três, a arte notável de Marcelo de Moraes deu originalidade e beleza à Rua, ficando, para sempre, célebres as suas páginas de desenhos comentadores dos momentos da política nacional e as caricaturas flagrantes das suas principais figuras. Os mais castigados eram o Cunhal e o Mário Soares.
O número zero do jornal saíu a 30 de Março de 1976, e constitui, pelo aspecto e pelo conteúdo, um êxito de vendas.
Mas não se deveu tal êxito (e os que se lhe seguiram) somente às criações de Marcelo de Moraes. Cabe ele, sobretudo, às editoriais do Múrias, primorosamente escritas e pensadas, com acutilantes golpes de humor, que eram a mais saliente e singular característica do autor.
Tinha Manuel Maria, aliás, na convivência diária, uma graça espontânea que quadrava com a asa de loucura que eu tanto prezava, que era o seu encanto, e de que ouvia contar deliciosos episódios, ditos de génio.
Era-me alegre e proveitoso o trabalho, sob a sua direcção.
E o jornal lá ia, número a número, ganhando cada vez mais influência na vida portuguesa.
Decerto por blague, Múrias queixava-se, durante a paginação e revisão de provas que, na véspera da edição, realizávamos na tipografia instalada em Santa Cruz da Damaia (ele, o Dr. Jasmins Pereira, o Vitinho, o jovem e dinâmico Vítor Rodrigues, que viera, também, de Caxias, sendo um utilíssimo artista plástico, e eu) queixava-se de o jornal estar a durar demasiado, pois apostara, apenas, em meia-dúzia de números de vida!
A minha dedicação à família deve-lhe, ainda, meia página para as excelentes crónicas ou estórias de minha Irmã Maria Manuela, intituladas "Encruzilhada(s)", parte delas publicadas, depois, pelas "Edições do Templo", e as ilustrações de meu Filho, Juan Soutullo, quer para os textos da Maria Manuela, quer para os do Amândio, "Provisórios & Definitivos", que preenchiam a outra meia página.
Meu Filho tinha, igualmente, a seu cargo, as ilustrações das poesias da página literária.
Ambos haviam sido convidados pelo Múrias, sem que eu haja interferido em tal.
E, a propósito de poesia:
Manuel Maria quis que, no primeiro número d`a Rua (aspecto gráfico do cabeçalho), viesse publicado o meu poema "Escrito no Sangue", onde se lamenta a tragédia dos retornados que traziam, com eles, «cinco séculos mortos» da nossa História.
Todavia, achou que, em matéria de poesia, o jornal ficasse por ali, com grande pesar meu. Mas, qual não é o seu espanto quando os seus amigos extra-redacção o aconselham a inserir, em todos os números, ao menos, uma, para além da gazetilha em verso, "Cantiga da Rua", devida à portentosa inspiração de António Lopes Ribeiro.
E foi isso que me pediu.
E foi isso que eu fiz e constitui, em cinco anos de existência do jornal, um valioso «cancioneiro» da resistência.
Aliás, a página literária d`a Rua primou pela boa qualidade, quer poética, quer ensaística, como constantemente me afirmavam escritores da Esquerda não facciosa.
Defendi-a frequentemente perante o director, pouco interessado no campo literário (pecha da Direita), decidido a suprimi-la, logo que faltasse espaço para qualquer artigo político, até de reduzida importância. Eu fazia valer, nessas circunstâncias, alguma autoridade que tinha sobre o Manuel Maria, já que ele, decerto por blague, dizia ser eu, de entre os redactores, o único de quem tinha medo!
Também a página de espectáculos conquistou leitores interessados. Para ela, escrevi muitos pequenos ensaios sobre dramaturgos e peças portuguesas esquecidos, apesar do seu real valor.
Um dia, José Miguel Júdice gabou-ma, dizendo estar ela a divulgar uma História curiosíssima do nosso Teatro desconhecido, jamais levada a cabo. Assim era, em parte.
A dada altura, o Múrias, empurrado pelo agrado demonstrado pelos leitores da produção poética d`a Rua, sugeriu a edição de uma Colecção de Poesia, sob a égide do jornal.
Claro que aceitei, assim como o Amândio César e o Rodrigo Emílio (colaborador de mérito do semanário), esta óptima sugestão. Todos três tínhamos livros inéditos e, estes, publicados na "Colecção Camoens" (título meu, como já disse), foram sendo publicados com geral aplauso. O meu "Nado Nada", o primeiro a aparecer, esgotou-se num ápice.
Mais tarde, o Manuel Maria instigou-me a recolher, em volume, todos os meus poemas aparecidos n`a Rua, e garantiu-me conseguir-lhe um prefaciador, na pessoa de Franco Nogueira, que o jornal, por essa ocasião, propunha para a Presidência da República, julgo que sem a aquiescência (ao menos, declarada) do estadista.
E, de facto, o meu livro "Ponto de Não Regresso" veio a lume com um estudo sobre a minha obra poética, da autoria de Franco Nogueira, regressado, assim, à sua respeitada cátedra de ensaísta no domínio das Letras, que a política havia silenciado.
Quando Amândio César adoeceu com um preocupante problema vascular, foi substituído na chefia da redacção por António Maria Zorro, a quem me ligavam, desde 1946, laços de amizade e de relações profissionais.
Por esse tempo, a Rua sofria uma dura crise. Múrias estava encerrrado na cadeia do Linhó, acusado de abuso de liberdade de imprensa. Quase diariamente, o Zorro e eu visitámos a cadeia, a receber sugestões e ordens do director, que nem sempre era possível cumprir.
Íamos encontrar o Manuel Maria bem disposto, galhofeiro, contando anedotas dos seus companheiros de cárcere, refinados criminosos com quem convivia fraternalmente, e de quem nos dava retratos vivos e pitorescos.
Por vezes, acompanhávamo-lo, a pé, num passeio generosamente permitido, em torno do edifício prisional, entre arvoredos densos.
Em 1976, havia eleições parlamentares, e o Manuel Maria pregou-me a partida de me propor para encabeçar a lista do P.D.C. para o círculo de Viana do Castelo!
Nessa época, tal Partido tinha grande implantação, grande número de aderentes no Norte, principalmente entre os chamados Retornados.
Confesso que não me atraiu nada esta situação, avesso como sou à política e aos partidos.
Acabei, no entanto, por aceitar, por consideração para com o Múrias, que alimentava a esperança (e nós também) de se ver eleito pelo círculo lisboeta, graças ao prestígio crescente do jornal, e onde a sua inteligência esclarecida e a sua irreverência iriam, decerto, animar as bancadas parlamentares.
Impus, todavia, a condição de não me envolver em comícios e campanhas eleitorais. E, de facto, a minha participação limitou-se a uma entrevista n`a Rua, serena e objectiva.
O resultado é sabido: o P.D.C. não conseguiu deputados em qualquer dos círculos. E eu perdi por cerca de mil votos, o que, vamos!, foi uma derrota honrosa.
Em 1980, novas eleições para a Assembleia da República levaram Manuel Maria Múrias a organizar, em conjunto com outros «nacionalistas», uma "Frente Nacional", que iria apresentar candidatos nos principais círculos do país.
E lá sou eu proposto, mais uma vez, e a rogo do Múrias, pelo círculo vianês.
E, mais uma vez, fiquei de fora. Mas, também, uma vez mais, foi por um triz que não entrei na Assembleia.
Eu conto:
O C.D.S. do Distrito de Viana supôs, talvez, que o meu nome e o da minha família poderiam favorecê-lo nas eleições. E temia, ainda, que a força da F.N. na região lhe roubasse votos. Então, propôs ao meu Partido a desistência no círculo, compensada pela minha inclusão na lista do C.D.S. por Viana, como suplente, embora com a garantia de vir a ocupar, muito em breve, cadeira em São Bento.
Esta proposta foi-me comunicada pelo telefone, por intermédio do então Governador Civil de Viana do Castelo, o Dr. Manuel Coutinho.
Igualmente pelo telefone, dei a conhecer ao Manuel Maria Múrias aquela proposta «com pernas para andar» e, daí a umas horas, era-me transmitida a resposta do Partido:
A F.N. concordaria com a combinação, se o mesmo acontecesse em três ou quatro pequenos círculos mais.
Claro que isso não interessava ao C.D.S., que não via, em qualquer outra modesta lista da F.N., um nome suficientemente capaz de lhe aumentar a votação, nem perigo de competição.
A F.N. teve uma derrota estrondosa. E eu um alívio imenso.
"A Rua" sofria de um mal crónico: a falta de dinheiro que, frequentemente, atrasava o pagamento à tipografia, aos redactores e colaboradores. Debalde o Múrias se esfalfava a visitar, na Província, entidades ou empresas direitistas que lhe estendessem a mão salvadora. Mas, quanto obtinha, levava logo sumiço, quiçá por culpa de uma administração desastrosa, ou uma distribuição ineficaz.
E, a 2 de Maio de 1981, com o n.º 257, "A Rua" desaparecia das bancas, com o pesar de muitos e, acima de tudo, dos proprietários (eu era um deles), fundadores e trabalhadores.
Após esta data triste, raro vi o Manuel Maria. A minha ida, durante três anos, para Macau, aumentou esse afastamento.
Voltei, apenas, ao seu abraço amigo e camarada, quando do aparecimento da Editora "Nova Arrancada", onde, tanto ele como eu, iríamos ter obras publicadas.
Múrias sofrera um acidente vascular e encontrava-se convalescente quando do lançamento, no Grémio Literário, dos nossos respectivos volumes.
Declarara que não rubricaria os seus exemplares, por impossibilidade de movimentar a caneta. Mas esforçou-se por assinar o que me ofereceu, com uma dedicatória gentil.
Depois, fui eu a adoecer, a submeter-me a uma grave intervenção cirúrgica. Ainda em tratamento, recolhi-me à Casa do Artista. Foi aqui que o telefone (esse aparelho que sempre odiei!) me trouxe a notícia amarga da sua morte. Por dificuldades de deslocação, faltei-lhe ao enterro. Mas incluí-o, fervorosamente, nas minhas orações quotidianas, onde ele continua vivo, na minha profunda admiração, na minha profunda saudade.
Muitas vezes, fui testemunha abonatória do Manuel Maria Múrias, nos inúmeros processos que acusavam "A Rua" de abusos de liberdade de imprensa, de que o director era sempre o responsável perante a lei.
Em pleno tribunal, sob o juramento solene, eu considerei o réu uma inteligência incomum, um talento fulgurante, a lisura de um carácter.
Repito-o, aqui e agora, sem necessitar de jurar por Deus ou pela minha honra.

António Manuel Couto Viana
(Excerto, inédito, de um livro de memórias)

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