quinta-feira, agosto 25, 2005
CONTENTE E SEM VERGONHA
Encarecidamente louvemos o conselheiro Melo Antunes pela entrevista que deu ao ex-reverendo Augusto de Carvalho para o «Expresso»: mais não é necessário para a sua irremediável condenação. Acrescendo que constitui testemunho de acusação contra certos sujeitinhos, como o anafado camarada, que tentam fugir com o rabo à seringa após terem sido dos mais assanhados intriguistas. Ao menos, o consabido conselheiro não mudou nada, não há «arrependimento» nem «prudência» que lhe afectem a empedernida consciência marxiana, e o serviço que prestou continua a fazê-lo rebolar-se de puro gozo.
Já no fim da sua confissão, aliás, esforça-se Antunes por ser útil uma vez mais, asseverando que «a participação do P.C.P. no processo de descolonização foi diminuta». Simplesmente, isso nada conta: os sovietistas oficiais bem se podiam dar ao luxo de não «sujar as mãos», tinham lacaios bastantes para lhes fazerem o trabalho, do Soares ao próprio declarante, sem esquecer os Gomes, e os Gonçalves, e outros menores cujos nomes são por de mais conhecidos. Mas o consabido conselheiro leva a subserviência demasiado longe ao pretender que «nem há provas» bastantes, até neste momento, da sua identificação total com uma «estratégia africana de inspiração soviética».
Não fosse o declarante quem é, haveria mesmo quem imaginasse ser-lhe aplicável aquela história da eterna dúvida do «enganado»; no caso vertente, porém, sabe-se que isso apenas representa disfarce inútil e inepto. Já passou o tempo em que podiam colar alegações no género de invocar actividades desenvolvidas no «Verão quente» para conferir a alguém atestado de divergências profundas com a quadrilha do Barreirinhas: consistentemente se admite que essa foi a mais bem lograda inventona do P.R.E.C. De resto, o linguajar da confissão é como um livro aberto em que, a cada página, esbraceja a identificação objectiva do consabido conselheiro com os desígnios do sovietismo, não sendo os molhos de eurocomunismo (saloio) que lograrão disfarçá-lo.
Pouco relevará, no entanto, curar agora desses miúdos pormenores: mesmo que Melo Antunes e a secção da Internacional Comunista «neste país» divirjam profundamente (como ele diz...) em «aspectos», está patenteado que interveio na «descolonização» para executar o seu projecto. E que o fez com plena consciência, de tal modo que ainda agora se glorifica de ter sido um dos que «se lançaram na ingrata mas histórica e necessária tarefa da descolonização», chegando mesmo a gabar-se de ser publicamente reconhecido como um dos responsáveis pelo crime. «Tenho a honra de pertencer», diz ele, ao «número muito restrito» de bodes expiatórios apontados pelos que «procuram destruir a acção dos que tentaram, em condições extremamente difíceis, soluções simultaneamente patrióticas, pragmáticas e progressistas (no sentido de se enquadrarem no movimento universal de luta contra as formas de colonialismo) para o problema da autodeterminação e independência dos antigos territórios coloniais portugueses».
Não valerá a pena, em boa verdade, gastar excessivo espaço com o tópico, pois deveio do conhecimento comum que o pretenso «movimento universal de luta contra as formas de colonialismo» unicamente funciona a talante dos interesses soviéticos. E só por estranhada desfaçatez ousará ainda alguém — em cumprimento da velha máxima de que da mentira fica sempre alguma coisa — referir-se à transferência forçada de territórios e populações para as garras do totalitarismo como «autodeterminação e independência», quando está à vista de todos que, no delírio do entreguismo «revolucionário», nem as mais elementares regras foram respeitadas. Caberá notar, aliás, gabar-se Antunes de ele próprio haver dado «ordens expressas» para o que chama «forças portuguesas» lutarem ao lado do M.P.L.A. «contra uma iminente ofensiva da F.N.L.A.»; recordado como o grupo sovietista fizera mão baixa sobre Luanda espezinhando os acordos do Alvor, esta confissão suplementar é simplesmente arrasadora.
Para o consabido conselheiro, no entanto, tudo era (ainda é) simples e fácil: «defendi a tese, tanto em Angola, como depois em Lisboa, que os acordos do Alvor tinham sido completamente ultrapassados pela realidade e que Portugal os deveria denunciar, abandonar a tese da «neutralidade activa» e assumir corajosamente e claramente o apoio ao M.P.L.A.» Ou seja, não lhe bastavam todas as traições precedentes, desejava ainda que as tropas mefás desempenhassem o papel de mercenários de Moscovo que foi assumido pelos cubanos — e é com alegações do jaez de ter conseguido que algumas delas em certos momentos assim se comportassem que se atreve a falar dos seus «espírito de missão» e «patriotismo». Porque, segundo continua a dizer, o bando de direcção soviética (quase cadáver reanimado e violentamente imposto pelo torpe Rosa Coutinho), emergia «como o movimento que mais legitimamente representava os verdadeiros interesses do povo angolano e o que visivelmente dispunha de maior apoio nas camadas mais conscientes da população».
Depois de tudo isto — e do mais que, por falta de espaço, somos forçados a omitir — imperativo se torna reconhecer que, embora possa ter cometido erros de facto na descrição do comportamento do consabido conselheiro (não temos agora tempo para miudezas), Spínola julgou com justeza a sua alta traição essencial. Observa-se, aliás, que o declarante procurou, na sua confissão, agitar descabeladamente uns quantos pormenores para confundir os espíritos, por outro lado não relevando que efectivamente o «cocu magnifique» dos cravos também no caso tenha sido enganado, pois bem se sabe que tal sucedeu de cabo a rabo, até pelo anafado a gabar-se, designadamente a Dominique Pouchin. Esse, aliás, um dos poucos pontos em que Antunes bate certo (e no caso é difícil perder-se alguma, dado o volume do alvo); embora seja traidor, não é politiqueiro como o Soares.
Quanto ao mais, apenas uma simples verificação: tendo a confissão do conselheiro Melo Antunes sido publicada no passado sábado, o mesmo continua a ser tenente-coronel do Exército no activo, membro do Conselho da Revolução e presidente da Comissão Constitucional. Como poderá alguém acreditar, perante esta soberana evidência, que as tropas mefás hajam sido restituídas à dignidade de Forças Armadas?...
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 141, pág. 10, 22.02.1979)
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Já no fim da sua confissão, aliás, esforça-se Antunes por ser útil uma vez mais, asseverando que «a participação do P.C.P. no processo de descolonização foi diminuta». Simplesmente, isso nada conta: os sovietistas oficiais bem se podiam dar ao luxo de não «sujar as mãos», tinham lacaios bastantes para lhes fazerem o trabalho, do Soares ao próprio declarante, sem esquecer os Gomes, e os Gonçalves, e outros menores cujos nomes são por de mais conhecidos. Mas o consabido conselheiro leva a subserviência demasiado longe ao pretender que «nem há provas» bastantes, até neste momento, da sua identificação total com uma «estratégia africana de inspiração soviética».
Não fosse o declarante quem é, haveria mesmo quem imaginasse ser-lhe aplicável aquela história da eterna dúvida do «enganado»; no caso vertente, porém, sabe-se que isso apenas representa disfarce inútil e inepto. Já passou o tempo em que podiam colar alegações no género de invocar actividades desenvolvidas no «Verão quente» para conferir a alguém atestado de divergências profundas com a quadrilha do Barreirinhas: consistentemente se admite que essa foi a mais bem lograda inventona do P.R.E.C. De resto, o linguajar da confissão é como um livro aberto em que, a cada página, esbraceja a identificação objectiva do consabido conselheiro com os desígnios do sovietismo, não sendo os molhos de eurocomunismo (saloio) que lograrão disfarçá-lo.
Pouco relevará, no entanto, curar agora desses miúdos pormenores: mesmo que Melo Antunes e a secção da Internacional Comunista «neste país» divirjam profundamente (como ele diz...) em «aspectos», está patenteado que interveio na «descolonização» para executar o seu projecto. E que o fez com plena consciência, de tal modo que ainda agora se glorifica de ter sido um dos que «se lançaram na ingrata mas histórica e necessária tarefa da descolonização», chegando mesmo a gabar-se de ser publicamente reconhecido como um dos responsáveis pelo crime. «Tenho a honra de pertencer», diz ele, ao «número muito restrito» de bodes expiatórios apontados pelos que «procuram destruir a acção dos que tentaram, em condições extremamente difíceis, soluções simultaneamente patrióticas, pragmáticas e progressistas (no sentido de se enquadrarem no movimento universal de luta contra as formas de colonialismo) para o problema da autodeterminação e independência dos antigos territórios coloniais portugueses».
Não valerá a pena, em boa verdade, gastar excessivo espaço com o tópico, pois deveio do conhecimento comum que o pretenso «movimento universal de luta contra as formas de colonialismo» unicamente funciona a talante dos interesses soviéticos. E só por estranhada desfaçatez ousará ainda alguém — em cumprimento da velha máxima de que da mentira fica sempre alguma coisa — referir-se à transferência forçada de territórios e populações para as garras do totalitarismo como «autodeterminação e independência», quando está à vista de todos que, no delírio do entreguismo «revolucionário», nem as mais elementares regras foram respeitadas. Caberá notar, aliás, gabar-se Antunes de ele próprio haver dado «ordens expressas» para o que chama «forças portuguesas» lutarem ao lado do M.P.L.A. «contra uma iminente ofensiva da F.N.L.A.»; recordado como o grupo sovietista fizera mão baixa sobre Luanda espezinhando os acordos do Alvor, esta confissão suplementar é simplesmente arrasadora.
Para o consabido conselheiro, no entanto, tudo era (ainda é) simples e fácil: «defendi a tese, tanto em Angola, como depois em Lisboa, que os acordos do Alvor tinham sido completamente ultrapassados pela realidade e que Portugal os deveria denunciar, abandonar a tese da «neutralidade activa» e assumir corajosamente e claramente o apoio ao M.P.L.A.» Ou seja, não lhe bastavam todas as traições precedentes, desejava ainda que as tropas mefás desempenhassem o papel de mercenários de Moscovo que foi assumido pelos cubanos — e é com alegações do jaez de ter conseguido que algumas delas em certos momentos assim se comportassem que se atreve a falar dos seus «espírito de missão» e «patriotismo». Porque, segundo continua a dizer, o bando de direcção soviética (quase cadáver reanimado e violentamente imposto pelo torpe Rosa Coutinho), emergia «como o movimento que mais legitimamente representava os verdadeiros interesses do povo angolano e o que visivelmente dispunha de maior apoio nas camadas mais conscientes da população».
Depois de tudo isto — e do mais que, por falta de espaço, somos forçados a omitir — imperativo se torna reconhecer que, embora possa ter cometido erros de facto na descrição do comportamento do consabido conselheiro (não temos agora tempo para miudezas), Spínola julgou com justeza a sua alta traição essencial. Observa-se, aliás, que o declarante procurou, na sua confissão, agitar descabeladamente uns quantos pormenores para confundir os espíritos, por outro lado não relevando que efectivamente o «cocu magnifique» dos cravos também no caso tenha sido enganado, pois bem se sabe que tal sucedeu de cabo a rabo, até pelo anafado a gabar-se, designadamente a Dominique Pouchin. Esse, aliás, um dos poucos pontos em que Antunes bate certo (e no caso é difícil perder-se alguma, dado o volume do alvo); embora seja traidor, não é politiqueiro como o Soares.
Quanto ao mais, apenas uma simples verificação: tendo a confissão do conselheiro Melo Antunes sido publicada no passado sábado, o mesmo continua a ser tenente-coronel do Exército no activo, membro do Conselho da Revolução e presidente da Comissão Constitucional. Como poderá alguém acreditar, perante esta soberana evidência, que as tropas mefás hajam sido restituídas à dignidade de Forças Armadas?...
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 141, pág. 10, 22.02.1979)
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