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quarta-feira, agosto 24, 2005

Eu também não sei o que seja um liberal!... 

Já tinha notado há muito como é de regra entre os liberais a caça ao subsidiozinho ou à avençazita, a instalação confortável nos negócios dos conhecimentos, influências e cunhas. E também não era novidade para mim esse fenómeno de nunca os economistas acertarem minimamente na condução da economia, a micro ou a macro.
Mas que seja o Manuel Monteiro, fundador e líder do PND, a dizê-lo, isso é que me espantou. Foi de tanto ter convivido com eles. Acabou por conhecer bem a fauna. E de vez em quando o homem perde o sentido das conveniências.
Olhem só o que ele escreveu no "Expresso".

Liberais e Liberais
O que é hoje ser Liberal? É defender o mercado e atacar o Estado? É considerar como certo tudo o que vem da iniciativa privada e classificar como negativo, tudo o que parte da administração pública? É injuriar o social e louvar o particular? É não aceitar a gratuidade na educação e na saúde? É não concordar com a segurança social estatal? O que é ser liberal, hoje?
Faço a pergunta, porque creio existir uma certa confusão quer com a palavra, quer com o conceito, quer com a sua prática tradução. Sem ousar duvidar da seriedade, e convicção, de muitos que se auto - identificam como liberais, já questiono alguns que fazem do liberalismo o seu credo teórico, mas que têm na ligação ao público, a sua grande prática de vida. Cá para nós, ser liberal no discurso, mas não aceitar prescindir do certo e seguro vencimento mensal, que vem do emprego público é algo de extraordinário.
É caso para dizer: assim também eu. Digo mal do Estado, afirmo não acreditar no Estado, revolto-me até à exaustão com o desperdício da Administração Pública, considero que há gente a mais a trabalhar nessa mesma Administração, mas não abdico da minha avença seja numa Câmara, ou num Ministério; não deixo o cargo ocupado no Hospital Público ou na Faculdade Pública. Numa parte do dia sou fiel servidor público, na outra sou corajoso agente da iniciativa privada e do risco, sujeitando-me à sólida e justa lei da oferta e da procura.
De manhã, faça muito ou faça pouco, tenha muitos ou nenhuns «clientes», não contesto o salário que receberei no final do mês; de tarde protesto com a carga fiscal elevada, e vocifero contra o facto de não poder trabalhar mais e mais horas já que o Estado tudo me leva em impostos.
A outro nível, sempre em coerência com os meus superiores ideais, considero normal que o preço, a livre concorrência, o livre mercado, levem à falência fábricas nacionais, mas não explico como concilio liberdade económica, sem liberdade política, nem competição externa, sem qualquer tipo de competição interna.
E assim caminho, escrevendo, conferenciando, tertuliando, conversando, palestrando, vendendo saúde liberal, mas consumindo conforto estatal. E eis a razão que leva a que o Estado se mantenha pujante, confiante da sua indispensabilidade e sereno na sua permanência, mesmo em áreas onde era suposto não estar. Por ironia do destino, os seus maiores aliados são precisamente muitos dos que mais o atacam e condenam.
É aliás também assim com muitos brilhantes economistas. Ditam leis a torto e a direito, mas não lhes conhecemos empresa, ou empresas, que por si tenham criado e que por si tenham triunfado. Teóricos do fazer há muitos, capazes de o concretizar há poucos. Por isso termino continuando a perguntar: o que é ser liberal, hoje? E a prática de quem me responderá, corresponde ao que me dirá?

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