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quinta-feira, março 25, 2004

Lembrar Amândio César e Junio Valério Borghese
Pela primeira vez vamos publicar poesia no "Fascismo em Rede". Para recordar a figura inesquecível de Amândio César, que no exílio madrileno, em 1974, escreveu um comovido poema de homenagem à memória do Príncipe Júnio Valério Borghese, herói de guerra, lendário comandante da X Flotilla MAS, então falecido.
Aqui ficam os versos, e a minha homenagem a esses dois combatentes do Ideal Fascista.


ROMANCE DUMA NOITE DE OUTONO
À memória do Príncipe Junio Valerio Borghese


Eram centenas de braços
erguidos ao erguer da Hóstia.
Sentindo a comunhão do Trigo.
Eram centenas de ouvidos
escutando uma Homilia.
Eram joelhos em terra
enquanto o Cálice se erguia.
Eram centenas de sedes
na comunhão das Espécies
que o Capelão consagrava.

Presenças eram centenas
que ali estavam por vontade
de mostrar que o estar ali
era vontade jurada.
Pois ali se memorava
Um Príncipe que estava ausente
porque o Santíssimo o chamara
prá direita de Deus Padre.

Era uma noite outonal,
no céu brilhavam estrelas.
Era uma noite outonal
que se abria nas janelas
com lumes que bruxuleavam
e simulavam estrelas.
Era uma noite outonal
escura como a noite escura
para que as estrelas brilhassem
enquanto os anjos brincavam
jogando à bola com elas.

Era uma noite outonal
com gente que vigiava
a cor escura do céu,
mais as luzes que passavam
pelos brilhos das janelas...

No pórtico que se seguia
à entrada de pedras velhas;
nas escadas que ficavam
entre as naves e a rua
uma Voz se fez ouvir,
uma Voz apregoou
a ausência sempre presente
d`Aquele a quem Deus chamou.
Eram novos, eram velhos,
eram mulheres, eram órfãos,
eram pobres, mutilados
que vinham de combater
um combate que não cessa.
Todos ouviram a Voz
que na noite se alevanta;
todos sentiram no peito
o bater de um coração
que de tristeza sangrava;
uma prece ou um soluço
ante a ausência invocada
d`Aquele que não mais voltaria.
A Vida triunfou da Morte
e um canto alegre, vibrante,
saiu das gargantas secas
quase enforcadas de angústia.
Cantava-se a Juventude,
saudava-se a Juventude,
beleza da Primavera,
naquela noite de Outono,
com estrelas que vigiavam
lá penduradas no alto...
de um Sete-Estrelo de sonho...
Ergueram-se braços ao céu
enquanto o canto subia
direitinho às nuvens;
ergueram-se olhos ao céu
enquanto as vozes sonoras
acordavam quem passava.
E as estrelas brilharam mais,
e mais janelas se abriram,
foram mais luzes brilhando
naquela noite de Outono
que Primavera parecia.
Cara ao sol, então ali,
vestindo camisa nova
corpos e almas vibraram.
Cara ao sol peitos sentiram
que o cântico daquela hora
era uma prece profunda,
funda como um juramento.
Cara ao sol e coração
bem alto ao céu erguidos
estavam ali nessa hora
em que a Primavera volvia,
que era uma noite de Outono
com luzeiros e com estrelas.
E quando as vozes cessaram
e os braços não estavam mais
erguidos para as estrelas,
TODOS se olharam bem,
frente a frente como irmãos.
E sentiram que o Ausente
que ali todos ajuntara
estava mais vivo que antes,
que antes de ter partido
prá mão direita de Deus.
Pois agora é que, despido,
do corpo que o fizera humano
é que se obrara o prodígio
de centenas de homens diversos,
falando línguas diferentes,
terem estado nessa noite,
numa Igreja, àquela hora,
saudando todos aqueles
que antes tinham partido
na certeza de que a luta
só se vence se é merecida,
na angústia e no sacrifício
em que a Vida nada é.
Um a um foram-se ao Mundo,
centenas dali partiram:
e cada um foi contar
na terra da sua língua
o milagre daquela noite,
daquela noite sem par.
Era uma noite de Outono,
com estrelas e luzeiros,
tão bela e misteriosa
que parecia a Primavera
que acabava de chegar!


Madrid, 29-10-1974,
Depois da Missa por alma d`Ele.

Amândio César

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