segunda-feira, abril 19, 2004
Bem achado
Um dos meus leitores, creio que para corroborar a razão do meu postal anterior com um bom exemplo, colocou nos comentários a lista dos chamados presos políticos libertados a 25 de Abril de 1974 das cadeias de Caxias e de Peniche.
É realmente bem achado: se quisesse colocar ali a lista de todos os que para lá entraram nos dias que se seguiram a esse seria de todo impossível. Por um lado porque o seu número, uns três ou quatro milhares, em breves dias, não permite meter tal lista na caixa de comentários; depois porque na verdade muitos destes não constavam de lista nenhuma, era a arbitrariedade total, cada um tinha o seu fascista e havia sempre lugar para mais um...
Se o leitor o tivesse conhecido, veria este quadro: a 24 de Abril de 1974 os quarenta ou quarenta e um presos da enorme prisão de Caxias aborreciam-se sonolentamente por ali no silêncio daquelas alas vazias, jogando xadrez ou lendo os jornais; dois ou três dias depois, todas as celas, as deixadas vagas por esses e as outras que estavam desocupadas, fervilhavam de gente arrebanhada por aí à pressa, alguns levados até em pijama, e todos depositados a monte, sem qualquer registo nem formalidade legal, em celas onde tinham que dormir atravessados no chão para caberem estendidos os sete ou oito dentro dessa cela... individual.
Acresce que os tais quarenta que estavam presos e foram soltos estavam nessa situação ao abrigo de determinações judiciais, tinham um processo que lhes respeitava e onde podiam verificar o bom ou mau fundamento das suas prisões; a maior parte cumpriam penas por crimes graves (caso de Palma Inácio, assalto a um banco, desvio de um avião; casos de Rui d'Épinay e Pulido Valente, culpados de homicídio; casos de outros que refere, condenados por bombas que vitimaram até crianças). Os milhares postos na cadeia por imposição dos poderes de facto então reinantes nunca tiveram direito a um processo, ou a um juiz, sequer a um mandado de captura, nem dos tais que poucos meses depois seriam distribuídos assinados em branco por certas unidades e forças políticas... Era a pura violência intimidatória contra potenciais adversários políticos. A negação total e completa de todos os direitos fundamentais que passaram a ser proclamados como sendo para todos.
Agradeço ao leitor que de tal se lembrou.
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Um dos meus leitores, creio que para corroborar a razão do meu postal anterior com um bom exemplo, colocou nos comentários a lista dos chamados presos políticos libertados a 25 de Abril de 1974 das cadeias de Caxias e de Peniche.
É realmente bem achado: se quisesse colocar ali a lista de todos os que para lá entraram nos dias que se seguiram a esse seria de todo impossível. Por um lado porque o seu número, uns três ou quatro milhares, em breves dias, não permite meter tal lista na caixa de comentários; depois porque na verdade muitos destes não constavam de lista nenhuma, era a arbitrariedade total, cada um tinha o seu fascista e havia sempre lugar para mais um...
Se o leitor o tivesse conhecido, veria este quadro: a 24 de Abril de 1974 os quarenta ou quarenta e um presos da enorme prisão de Caxias aborreciam-se sonolentamente por ali no silêncio daquelas alas vazias, jogando xadrez ou lendo os jornais; dois ou três dias depois, todas as celas, as deixadas vagas por esses e as outras que estavam desocupadas, fervilhavam de gente arrebanhada por aí à pressa, alguns levados até em pijama, e todos depositados a monte, sem qualquer registo nem formalidade legal, em celas onde tinham que dormir atravessados no chão para caberem estendidos os sete ou oito dentro dessa cela... individual.
Acresce que os tais quarenta que estavam presos e foram soltos estavam nessa situação ao abrigo de determinações judiciais, tinham um processo que lhes respeitava e onde podiam verificar o bom ou mau fundamento das suas prisões; a maior parte cumpriam penas por crimes graves (caso de Palma Inácio, assalto a um banco, desvio de um avião; casos de Rui d'Épinay e Pulido Valente, culpados de homicídio; casos de outros que refere, condenados por bombas que vitimaram até crianças). Os milhares postos na cadeia por imposição dos poderes de facto então reinantes nunca tiveram direito a um processo, ou a um juiz, sequer a um mandado de captura, nem dos tais que poucos meses depois seriam distribuídos assinados em branco por certas unidades e forças políticas... Era a pura violência intimidatória contra potenciais adversários políticos. A negação total e completa de todos os direitos fundamentais que passaram a ser proclamados como sendo para todos.
Agradeço ao leitor que de tal se lembrou.
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