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domingo, abril 11, 2004

Caricatura e realidade 

Como acontece noutros casos em que a história é feita pelos vencedores, que retratam os vencidos a seu jeito, existe uma diferença abismal lentre a verdade histórica do fascismo e do nacional-socialismo e a representação caricatural que deles é apresentada vulgarmente.
Todavia, para além desse fenómeno que é conhecido, existe um outro que é menos analisado: o facto de muitos aderentes por simpatia à imagem do fascismo e do nacional-socialismo terem a tendência para se aproximarem da caricatura e não da realidade.
Sem exercício crítico, propendem a representar o papel histórico que a cultura oficial antifascista lhes aponta, desprezando a autenticidade do que pretenderiam representar.
Ou seja: onde o retrato oficial diz que os fascistas são brutos e analfabetos, aceitam reproduzir fielmente uma claque de brutamontes agressivos. Onde a caricatura diz que os fascistas são fanáticos incapazes de viver em sociedade e construir politicamente alternativas, aceitam o papel de grupelho sectário e intolerante.
Bastaria uma pequena reflexão histórica para verificar como foi complexo o itinerário pessoal e político quer de Hitler quer de Mussolini, para só falar destes; como qualquer deles procurou a verdade e o caminho bebendo de muitas fontes e recorrendo a contributos dos mais diversos; como qualquer deles jogou em pleno o jogo político do seu tempo, não excluindo nenhuma via, sendo eleitoralista quando foi preciso, fazendo coligações quando se mostrou necessário (ambos aliás chegaram ao poder em coligação, e por via eleitoral), sendo legalistas quando isso se impunha e rompendo com ortodoxias e dogmatismos sempre que foi preciso.
Onde essas figuras históricas se caracterizaram pela inovação, pela experimentação, pela surpresa e pela criatividade, em termos ideológicos, estratégicos e tácticos, muitos dos que os invocam hoje representam a tendência oposta, excomungando constantemente tudo o que julgam ser desvio ou heterodoxia, clamando a todo a hora contra "impuros" e "herejes" - mostrando mais exaltação no combate para dentro do próprio campo do que na procura de vias para se enraizar na sociedade envolvente.
Daqui resulta em geral o enquistamento: pequeninos grupos isolados, a viver em circuito fechado, falando só entre si, e vigiando zelosamente qualquer eventual tentação de crescer - porque isso traz sempre o risco da contaminação. Esquecem de todo que em espaço aberto são os mais fortes e determinados que prevalecem - ainda que sejam menos. E portanto que o abater das barreiras de toda a ordem com que o sistema se protege só pode representar perigo para o sistema - elas servem para nos isolar a nós do conjunto da sociedade, e não o contrário.
Quando não há comunicações entre as ilhas e o continente não é o continente que está isolado, são as ilhas.

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