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sexta-feira, abril 16, 2004

Querem ver que sou da extrema-esquerda?!
O Dr. Carlos Abreu Amorim, ilustre doutrinador e estratega da "Nova Democracia", publicou logo no primeiro número do seu jornal digital um ousado editorial onde se propõe definir "o que é ser de extrema-direita".
Estive a ler, e fiquei um tanto confuso. Com efeito, o teórico citado enuncia um elenco de dez características que encontradas cumulativamente permitiriam reconhecer alguém de extrema-direita. Ora analisando o tal decálogo, ainda por cima de exigência cumulativa, acontece que eu, fascista impenitente, e praticante sistemático da introspecção analítica, não me reconheço em nada daquilo que ele diz ser marca da extrema-direita.
E garanto que não é falha minha, também quem me conheça não seria capaz de identificar-me nos traços dados. Serei eu de extrema-esquerda?
Mas o problema é mais grave: é que dos fascistas vivos ou mortos que eu me lembro não haverá nenhum que reuna aqueles requisitos... um ou outro destes ainda vá lá, conforme a extraordinária diversidade que se encontra entre os fascistas sempre se encontraria alguém a ter como sua alguma daquelas características - mas aquilo tudo cumulativamente (aplicação conjunta e indissociável destes pressupostos, diz o autor) é certo e seguro que está bem longe de permitir a algum fascista caber no retrato.
Mas então a quem calha o decálogo? Boa pergunta. Intrigante pergunta.
Desconfio que há ali marosca. Provavelmente aquilo não serve a ninguém.
Reparem bem só nisto: a questão primordial, segundo o autor, seria "a refutação do princípio da igualdade". O homem de extrema-direita rejeita a igualdade entre os seres humanos. Esta posição seria "o ponto de partida" para definir um pensamento de extrema-direita. Mas logo depois outro ponto essencial é "a recusa, por princípio, da diferença. As pessoas de extrema-direita adoram a homogeneização, a massificação da pessoa".
Ou seja, para ser de extrema-direita é preciso rejeitar a igualdade e recusar a diferença entre os seres humanos.
Fica assim muito difícil ser de extrema-direita. Mesmo muito difícil. Será preciso evidentemente defender a "desigualdade homogénea", ou a "homogeneidade desigual", uma vez que a extrema-direita desadora a igualdade mas adora a homogeneidade. Na perspectiva da extrema-direita, versão Amorim, os homens nem são iguais nem podem ser diferentes.
É complicado. Mas deve ser assim mesmo - o Dr. Amorim é um génio, e o princípio da não contradição é um ferro de madeira.

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