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terça-feira, abril 27, 2004


SALAZAR: 28 de Abril de 1889-28 de Abril de 2004
"Raros serão os intelectuais do nosso tempo que não se tenham sentido atraídos algum dia pela tentação de analisar, compreender, esclarecer a figura mental e política de Salazar.
Figura desconcertante e complexa para muitos — para a maioria, talvez. E porquê? Já tentei explicá-lo em tempos. O Chefe do Governo Português apareceu numa altura da vida europeia em que os sistemas ditatoriais constituíam figurino dominante. Desde a instauração na Rússia, em 1917, da Ditadura Comunista; ao advento do Fascismo, em 1922, na Itália; a subida do Nacional-Socialismo ao poder, em 1933, na Alemanha; ao triunfo, após três anos de luta, do Generalíssimo Franco, em 1939 — o panorama estava cheio de regimes de poder pessoal, incarnados em chefes prestigiosos e espectaculares. Contemporâneo de todos eles, Salazar era bem diferente. Sereno, reflexivo, avesso à exibição, metódico e sóbrio, sem uniforme e sem aparato — o Estadista português formava contraste com os outros estadistas do modelo então em voga. Amigos e inimigos estranhavam a sua frieza e os seus silêncios; o seu isolamento discreto; a sua reserva habitual. Por outro lado, não podiam deixar de admirar a rapidez e segurança do seu êxito, a clarividência da sua acção governativa, a nitidez com que traçava e executava um piano de restauração e de engrandecimento — e, também, a fidelidade que sempre mantinha a certos princípios fundamentais e o prudente cuidado com que sabia evitar erros e excessos temerários.
Daí, a extraordinária curiosidade erguida à sua volta, a numerosíssima bibliografia que depressa surgiu a interpretar o fenómeno, as expressivas reacções que o seu caso inconfundível despertou. Talvez nenhum homem público fosse — e continue a ser — mais estudado e examinado por observadores de todas as origens, de todas as espécies e de todas as tendências. Chegou mesmo a falar-se num autêntico mistério — e cada qual vinha propor, ante esse mistério, a sua tentativa de decifração.
Quanto a mim, longe de ser mistério, Salazar é um vulto de singular clareza, de linhas fortes e luminosas. Porque se estava habituado ao político oportunista, variável, inconsistente, mascarado, a viver de transformações, evasivas ou estratagemas — surpreendia o aparecimento de um governante tão leal e tão simples.
Homem de fé e de estudo; capaz de se dedicar às empresas mais árduas com aplicação, isenção e escrúpulo; inteligência fiel à Verdade; asceta no viver; recto no pensamento e na conduta; fleumático na aparência; seguro dos seus rumos; previdente nos empreendimentos a longo prazo; entregue ao espírito de missão — poucos o entenderam, porque não correspondia à pequenez dos seus juízos e à medida dos seus preconceitos."
(João Ameal)

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