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segunda-feira, maio 24, 2004

Aprender com a experiência 

A minha repetida proposta de privilegiar a criação de uma larga "zona nacional" na rede tem sido largamente ignorada. Julgo que existem vários motivos para isso. Um, sejamos francos, é a preguiça e a pouca vontade: trata-se de um trabalho chato, aborrecido, de continuidade e repetição, na frieza do computador e do teclado, e só pode dar frutos a prazo.
Outro motivo contra é o instinto gregário e o romantismo juvenil, aquele entusiasmo adolescente que sente muito mais o calor da rua, das colagens, dos carros de som, das distribuições de panfletos, dos cartazes, das multidões, das reuniões e assembleias, da exibição pública, do calor da camaradagem em convívio e movimento - ou seja, os meios tradicionais de propaganda política.
Mas depois vêm as frustrações, a experiência de bater com a cabeça nas paredes onde outros já antes bateram com a sua.
Os belos cartazes e as vistosas faixas, que custaram um dinheirão, e gastaram noites de trabalho aturado e dedicado a toda a rapaziada mobilizada, e estavam uma beleza - foram todos facilmente arrancados em poucas horas por uma pequena equipa móvel organizada para isso. As massas não chegaram a ver o fruto do esforço e da militância.
Chegados a qualquer momento relevante, como uma campanha eleitoral, os meios de comunicação tradicionais, televisões, rádios, jornais, etc, salvo alguma distracção cumprirão a directiva de ignorar os nossos esforços.
Os outros terão publicidade de borla e até fartar, serão convidados para os debates e entrevistas, mas nós certamente que não. Os nossos comunicados e iniciativas serão fornecidos às redacções, mas deles não surgirá nem eco nem sinal, e o trabalho esbarrará sempre nos muros de defesa do sistema.
Pode mesmo fazer-se um belo comício com dez vezes mais pessoas do que outro de um partido bem inserido no meio e que até surgiu em destaque no telejornal - mas o nosso não será nem noticiado.
Tudo isto já aconteceu, e muitas vezes. Mas infelizmente cada um só acredita depois de se passar consigo.
Face a tudo isto, que se irá observar e sentir de novo, torna-se mais actual do que nunca a insistência: aproveitem a disponibilidade da rede, enquanto ela existe. Criem uma vasta "zona nacional". A informação, a formação, ou a simples propaganda, que aqui estiver colocada, pode chegar a um número indeterminado de pessoas. Podemos não ter essa sensação física da proximidade, mas as masssas estão aqui, mais numerosas do que no metropolitano à hora de ponta. O nosso trabalho rende, mesmo que não se veja de imediato. Fica. A tarefa do inimigo, de nos anular neste meio, é infinitamente mais complicada do que jogando nos territórios que ele já controla. Pensem, mais com a cabeça do que com o coração ou os instintos. Analisem os custos e as potencialidades de fomentar esta estratégia, e sobretudo comparem-nas com as alternativas - já experimentadas e mais que experimentadas. E actuem em conformidade.

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