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segunda-feira, julho 19, 2004

ANTÓNIO SARDINHA  

Com a morte, em 1925, do autor de "Ao Princípio era o Verbo", perdeu, sem dúvida, o nacionalismo português um dos seus mais altos representantes e um dos seus mais ardorosos doutrinadores.
Educado no culto dos Direitos do Homem e na admiração entusiástica dos imortais Princípios, António Sardinha, perante o espectáculo irrisório do Constitucionalismo, foi republicano e revolucionário. A falência catastrófica e anárquica do regime implantado a 5 de Outubro veio, porém, destruir as suas ilusões e quimeras. Tinha chegado a hora angustiosa da crise interior.
Diante das realidades ele, como tantos outros jovens da sua geração, fez o seu exame de consciência. Qual o valor dos ideais até então professados? Quais as causas de desordem? Como salvar Portugal? Que caminho seguir? A essas perguntas perplexas, Sardinha não tardou a dar resposta. Maurras, Barrès, Daudet, Taine, Renan, Agostinho de Macedo, Gama e Castro, o Marquês de Penalva, ensinaram-lhe a crítica à Democracia, ao Liberalismo, o apreço às elites, o amor à realidade. Gama Barros, Alberto Sampaio, os eruditos da Portugália, o estudo das crónicas, de velhas memórias, trouxeram-lhe uma nova visão da história, uma nova compreensão da origem e do destino do país. Tendo encontrado a Verdade, Sardinha não hesitou um momento. Na companhia do grupo ardente de rapazes que constituía então o Integralismo, lançou-se, através das páginas da "Nação Portuguesa", no mais aceso combate.
À oposição clássica: Liberdade ou Autoridade, respondia que a Liberdade sem a Autoridade era um absurdo pois a primeira, proclamando-se um valor, implicitamente estava atribuindo a si mesma Autoridade. E, contra o Individualismo, traçava o esboço da síntese entre estes dois falsos contrários, por meio da noção viva e criadora da Ordem que atribui a cada coisa o seu lugar; da Ordem realizada na Monarquia integral com o Rei ao alto federando e unindo energias, com os municípios, as províncias e as corporações autónomas na sua esfera, toda esta grandiosa hierarquia desenvolvendo-se, fluindo e formando, na inseparabilidade do soberano com os diversos agregados, o formidável todo que é a Pátria.
Às calúnias e deturpações dos escritores liberais, discípulos dilectos da Maçonaria, respondia triunfalmente com as provas na mão lançando abaixo do pedestal o falso mártir Gomes Freire, combatendo a nefasta acção do Marquês de Pombal, reabilitando a memória dos nossos reis, de D. João IV, D. Miguel I, D. João V, D. Sebastião, D. Fernando, atacando a obra da Carta Constitucional, provando quão de falso havia na lenda de uma suposta tirania existente até ao radioso ano de 1820, demonstrando como não tinham fundamento as acusações injuriosas e difamantes que pesavam sobre a Inquisição e os Jesuítas, etc.
Aos tímidos conservadores, que se insurgiam contra os extremismos, quer das esquerdas quer das direitas, aos defensores puros do existente, aos monárquicos que se limitavam a combater a República comparando o valor dos estadistas de antes de 1910 com o mérito dos de depois de 1910, aos que repeliam a doutrina como luxo ou a reduziam a palavras vagas, a esses todos fazia a apologia de Sorel e da violência, proclamava o direito do pensamento dirigir a acção, afirmava a existência de princípios objectivos a defender e a exaltar. E com a energia para repelir os apelos escandalizados da burguesia exclamava: "O nosso movimento é fundamentalmente um movimento de guerra".
Aos que apelavam para as memórias gloriosas dos eminentes espíritos do século dezanove, ele, sem hesitação, repelindo preconceitos, extraía o sentido contra-revolucionário subjacente nas obras de Herculano, Garrett, Oliveira Martins, Antero, Ramalho, Eça, e, sem os erros, por vezes graves, de tão grandes vultos, enquadrava-os no momento histórico que lhes cabia, explicando o significado dos seus ataques e das suas ironias, significado bem mais alto que o atribuído pelo fácil jacobinismo da época.
Aos defensores sentimentais ou interessados do Judaísmo ele mostrava, com Sorel e Sombart, a nefasta influência exercida pelo espírito talmúdico na economia europeia, a responsabilidade que lhe competia no desenvolvimento e na frutificação da Plutocracia, da agiotagem, da avidez desenfreada de lucro. E assim, de cara descoberta, ele combateu os mitos sem transigir, sem pactuar com uma glória ou um comodismo tranquilo.
Não nos deixou uma vasta obra sistemática; não nos deixou uma doutrina de cânones estabelecidos; mas, se não compôs tratados no remanso dum gabinete, legou-nos a lição incessante dum combate sem tréguas de nacionalista desinteressado. Com o auxílio dos seus companheiros do Integralismo, com Mariotte e com o inquebrantável e enérgico Alfredo Pimenta, conseguiu Sardinha levar a cabo uma das mais notáveis revoluções espirituais do nosso tempo. Por isso, enquanto houver portugueses, jamais será olvidado o seu apostolado, expressão clara, manifestação gloriosa da vitalidade perene do Génio da Raça.
Por isso o invocamos hoje, nós os que lutamos pela mesma eterna verdade da Pátria e do Rei, certos de que não faltará à chamada e de que o seu espírito nos acompanhará.
 
António José de Brito

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