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sábado, julho 24, 2004

MANHÃS DE ROMA 

"(...) Estão as ruas tomadas por tropas e é preciso fazer um grande rodeio além do Tibre para poder entrar na zona preparada para a grande celebração do Natal de Roma. Como convém, esta celebração consiste numa grande parada de forças armadas e enquadradas, pois Roma agora já não se esquece que os seus dois atributos históricos são a Ordem e a Força. Mussolini vai passar em revista as milícias fascistas, os avanguardistas e os ballila (organizações voluntárias juvenis e infantis) e núcleos do exército de terra, do mar e do ar.
Em seguida grande desfile de todas as forças. Por fim, na vasta planura de Parioli, a grande cerimónia da promoção dos milhares de avanguardistas que chegam à idade de passar à organização das milícias. Cada um recebe no acto uma espingarda e um livro - libro e moschetto, fascista perfetto. Quinze mil jovens voluntários fascistas vieram para este efeito, de toda a Itália, acampar sob os muros de Roma. No meio do povo, atrás de uma espessa coorte de fascistas veteranos, capacetes de aço, camisas negras, espero a passagem do Duce.
Há em toda a gente um ar de expectação, que não é o dos espectáculos de divertimento popular, antes uma nota severa, grave, verdadeiramente romana, parece acompanhar estes momentos de patriótica comunhão. Aviões, hidroplanos, concorrem à parada em grandes massas; ei-los que passam e perpassam, nas suas formaturas simétricas, ostentando as suas formas bizarras, fazendo soar os seus motores poderosamente ofegantes; quando passam, em rigoroso alinhamento, sobre as nossas cabeça, parece-me vê-los que vão desdobrando atrás de si sobre a terra italiana, um protector, um inviolável manto de garantia, de defesa contra os azares tristes da guerra. (E penso: quando estará o céu português igualmente povoado destas águias benéficas?)
Agora, chega o Duce, a cavalo, vestido de generalíssimo fascista, no gorro erguendo-se um direito e alto penacho branco, a que parece vão presas as palavras do célebre mote: «Se avanço, segui-me; se recuo, matai-me; se morro, vingai-me!» É belo o cavalo que monta, luzido o Estado-Maior que o circunda, severas camisas negras, brilhantes uniformes.
À passagem, o hino fascista Giovinnezza, Giovinnezza, Primavera di belleza! vai-se erguendo em crescendo, os corpos imobilizam-se, os braços levantam-se na saudação romana.
Agora passa o Duce mesmo diante de mim, a alguns metros, vejo a sua forte máscara pálida, e o olhar profundo na expressão de perscrutar a muralha viva de veteranos fascistas adiante de mim, saúda: os chefes levantam o braço direito à romana, os soldados levantam-no também, mas armado do punhal, a prumo, com a ponta para baixo, como pronto a justiçar os inimigos da pátria; e das bocas sai a varonil saudação: Eia! Eia!
Depois o desfile: onde vais, tão garbosa, na severa elegância das tuas camisas negras, ó juventude italiana, na beleza da tua primavera, a que campo de batalha vais para ser ceifada, na heróica defesa da tua pátria e da nossa comum civilização latina? Que Deus te acompanhe no teu nobre e heróico voluntariado e que o sangue português não se desonre, estando ausente das futuras batalhas pela civilização onde tu estarás presente, bem armada, bem preparada!
Agora o Duce galopou na planície vasta em que todas estas legiões ostentam a sua massa compacta e interminável; cerimónia sóbria, impressionante da promoção dos avanguardistas à milícia; breves, fortes, palavras de proclamação saem da boca do Chefe e parece se vêm cair na alma de cada soldado, pois é quase visível a maravilhosa unidade de espírito desta multidão palpitante de vida e energia; por fim os braços se erguem, as bocas e os metais estrondeiam na formidável aclamação. Espectáculo inolvidável aquele! A planície imensa sustentava aquela enorme massa humana, rumorosa e vibrante, como produto seu, como terra que oferta a sua seara; a Terra-Mater romana como que afirmava ali a sua perene fecundidade produtora de gente forte e imperial. E Mussolini, que eu distingo perfeitamente, olha o espectáculo com expressão de júbilo profundo mas singelo, como se fosse aquela atmosfera de glória o ar natural que sempre desejariam aspirar os seus pulmões: como o maior dos romanos, Mussolini ali vê premiada a sua fé porque Roma está ali diante dele, reconstruída, nessas muralhas vivas de juventude armada, estreitamente unida como os feixes litórios, audaciosamente combativa como as águias imperiais!" 
José Pequito Rebelo (em 1929)

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