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quarta-feira, julho 28, 2004

PARA UM MANIFESTO DE DIREITA 

O desastre ‑ histórico, militar e político, social, económico e moral - que se abateu sobre a Nação Portuguesa veio dar‑nos ensejo, também a nós, homens da direita ortodoxa, de fazermos a ruptura que há muito se impunha que tivéssemos feito: ruptura mental, e sentimental, com estruturas políticas mais ou menos assépticas, sis­temas que primaram sempre pela in­definição, pela ambiguidade e pelo hibridismo, instituições que eram um equívoco pegado ‑ até ao dia em que o equívoco se desfez, com as mais aluidoras consequências, e a realidade avultou, calamitosa, já sem remissão possível.
Significa isto que não nos deso­brigámos, a tempo, dos compromissos, afectivos (?), que não tínhamos que ter, com o regime constitucional de 33, mormente no último período do mes­mo... e os resultados aí estão à vista, sem que se vislumbre, de momento, qualquer outra via de resgate que não seja a nacional‑revolucionária. À re­volução responde‑se com a mesma revolução, recuperando esta; e, agora que os acontecimentos nos libertaram de vínculos ‑ que só por inércia não declinámos a horas certas ‑, agora que o rompimento intérrito com dú­plices padrões políticos finalmente se consumou, já não há mais desculpas para não se agir resolutamente, e muito menos para incorrer em viciações passadas ou para reincidirem erros de fresca data.
Já a estas horas está rotundamente provada e comprovada a inaptidão governativa da esquerda portuguesa: uma esquerda que dir‑se‑ia abarcar, à sombra dela, os mais conceituados de todos os ineptos, os mais inertes de todos os inábeis, os mais canhestros de todos os canhotos... das ideias.
Em tais circunstâncias, e à face do fragoroso descalabro público em que Portugal se dá por visto e achado ao cabo de biénio e meio de indigência ad­ministrativa da esquerda, compete agora à direita ‑ está‑lhe, desde já, reservada e cometida ‑ a piedosa e patriótica tarefa de subir à cena política do país e de retirar de lá essa tragédia shakespeareana de words, words, words, que figura há mais de trinta mesitos no cartaz.
Ao tempo, digamos, em que a nau Portugal, crivadinha de rombos, voga, assim, sobre um mar de saliva alta­mente encapelado, e em mares de saliva submerge, tem a direita o direito, e o dever indeclinável, de fixar norte magnético a navegação tão desgarrada e de atalhar ao rumo desta, talhando‑lhe as vias de salvamento.
Ainda há pouco, há poucochinho, nós, portugueses, éramos um império dilatado a todo o mundo, e já hoje por hoje não somos senão uma courela exiguamente entaipada na Península, um grotesco retalho de Europa de lilli­putianas proporções, um pobre lameiro irrelevante, um rematadito bairro‑da‑lata... Encolhemos. En­colheram‑nos! E da nossa vocação nacional‑universalista não há mais que falar. Ou ainda há, talvez, mas só naquela mesma medida em que certa personagem de Agustina colocava a questão, quando "dizia que a África haveria de conter o fantasma do português em tudo o que o subs­tituísse".
Àparte isso, a única alternativa em aberto, que nos sobra por agora, con­sistirá em nos glosarmos e em nos repetirmos historicamente passo por passo ‑ fundando‑nos de novo como Nação vocacionada e soberana, e erigindo‑nos novamente como Povo às culminâncias do que nos está cometido empreender ainda.
Trata‑se de principiarmos outra vez a ser coisa que se veja, e de recomeçar tudo, em segunda edição. Se neces­sário, a partir dos Hermínios...
Responder à afundação da na­cionalidade mediante uma segunda fundação da mesma; e, com alguns tantos fundadores, tratar de replicar à desalmada horda dos afundadores!
Recapitulando e concluindo. De agora em diante, há que rapar virilmen­te da caneta e de uma folha em branco, e começar a escrever tudo de novo ‑ tendo sempre bem presente que a nos­sa acção há‑de ser ditada por desígnios eminentemente fundacionais, sob pena de nada valer de nada.
Rodrigo Emílio

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