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quinta-feira, setembro 30, 2004

Pessoa e Salazar 

Hoje saltou para a blogosfera a velha discussão sobre o posicionamento político de Fernando Pessoa.
Como se sabe, a esquerda procura utilizar uns conhecidos poemas em que o poeta satiriza Salazar e o Estado Novo para concluir triunfante que o homem era um anti-fascista. O logro está por demais desmontado, e não engana ninguém com um mínimo de conhecimento sobre a matéria. Pessoa efectivamente antipatizava com Salazar e com a situação que este institucionalizava; mas a sua antipatia partia toda do ponto de vista que partilhava com os nacionais-sindicalistas, o de não ser o frio e austero Salazar o chefe que devia incendiar as almas lusitanas...
A mesma posição que levava Afonso Lopes Vieira a chamar ao ditador "o escandinavo" ou Tomaz de Figueiredo a designá-lo por "fradalhão de Santa Comba".
Todos eles queriam alguém que fizesse sonhar, alguém que nos fizesse "viver heroicamente" em vez daquele culto da normalidade tão tipicamente salazarista, que proclamava como ideal o "viver habitualmente".
Por outras palavras: Pessoa quando ataca Salazar reprova-lhe o ser tão pouco fascista, o ser tão afastado da imagem ideal do Chefe que o inspirava (e que se vê como construção poética na "Ode ao Presidente-Rei Sidónio Pais", ou nos versos da "Mensagem" que dedica a D. Sebastião, ou ao Condestável).
Isto mesmo já foi explanado por múltiplos autores; e para o efeito recomendo a leitura de dois textos de Alfredo Margarido, insuspeito de simpatias com o salazarismo ou com o fascismo, e que se encontram em linha: "Nota curta para lembrar que Pessoa admirou Mussolini" e "Pessoa, ídolo dos nacionais-sindicalistas".
Fica aqui esta nota em complemento e reforço do que escreve o Nova Frente.
Já agora faço uma rectificação e um reparo a Alfredo Margarido: a rectificação, insignificante, é que o chefe da Acção Escolar Vanguarda não se chamava Adriano mas sim Ernesto Oliveira e Silva; o reparo é que se tivesse continuado o seu trabalho sobre as relações de Fernando Pessoa com os nacionais-sindicalistas para além do tempo do jornal "A Revolução" teria verificado que mesmo depois do desaparecimento deste tais relações se mantiveram, nomeadamente no semanário "Fradique", dirigido por Tomás Ribeiro Colaço e cuja redacção estava entregue a nacionais-sindicalistas.
Podia falar-lhe sobre isso, designadamente recorrendo aos depoimentos de Dutra Faria e Barradas de Oliveira, que foram fundadores do primeiro e estiveram sempre no segundo, mas creio que não vale a pena (informo apenas que Barradas de Oliveira é o Manuel Gomes que surge referenciado nessa época entre os nacionais-sindicalistas da primeira hora, porque muitas vezes não é conhecida esta identidade).

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