<$BlogRSDURL$>

sexta-feira, outubro 08, 2004

O FASCISMO EXPLICADO ÀS CRIANÇAS E AOS MINISTROS 

O fascio era, na velha Roma, o feixe de varas de olmo ou vidoeiro, compridas de metro e meio, apertadas com correias vermelhas e com um machado inserido lateralmente. Levava-o o lítor seguro contra o ombro esquerdo e era o símbolo do imperium dos magistrados, segundo uma tradição que remonta às origens etruscas. Nele se continha a ideia de união, de poder, de autoridade do Estado, de justiça e daí a sua utilização para designar grupos de acção política, como fizeram em 1894 os revolucionários sicilianos.
Eram grupos de inconformistas com as estruturas conservadoras e burguesas do final do século passado. Alimentavam-se ainda do sonho de Giuseppe Mazzini, o carbonário, que se batera toda a vida pela unidade e pela independência da Itália.
Não lhes bastava o que fora feito até então; e o descontentamento alastrava por toda a Itália. Giovanni Papini conta que por 1896 esteve filiado em Florença no Fascio Giovanile Goffredo Mameli.
Este espírito de insatisfação, em que há reminiscências garibaldinas, haveria mais tarde de encontrar-se com o nacionalismo de Enrico Corradini num sonho de grandeza incompatível com a pequenez mental daquela época. Dum lado, a memória obsidiante das antigas glórias e a agitação que levara à Itália una; do outro o espírito burguês, conformado e parrana, acomodando-se nas novas instituições liberais consideradas como ideal atingido.
Ora as novas instituições andavam à roda de umas quantas noções teóricas com a mesma cegueira do gato que rodopia a ver se apanha o próprio rabo. Fora desse rodar havia umas quantas realidades a impor-se cada vez com mais premência: uma delas, o operariado fabril, liberto das limitações dos velhos organismos extintos e a crescer cada vez mais em volume e em diversificação de problemas. É a hora do socialismo e do sindicalismo, que não tardaram, como forças reais, a ser aproveitadas como instrumento de jogos essencialmente políticos. Realizava-se assim o absurdo de forças reais, agindo contra as abstracções do meio, serem logo desviadas para serviço de novas abstracções. Esse foi, aliás, o drama dos socialismos. Mussolini, filho dum militante socialista e ele próprio activista do partido, pôs ao serviço deste a sua inteligência e a bravura da sua indomável energia. Director desde 1912 do Avanti, jornal do partido, a sua orientação era fundamentalmente revolucionária, anticonservadora, antiburguesa, anti-reformista. Isso o levou a defender a intervenção do país no conflito, o que estava em desacordo com a decisão teimosamente neutralista dos socialistas. Expulso do partido em Outubro de 1914, logo no mês seguinte funda o Popolo d’Itália, onde faz propaganda da intervenção na guerra. Muitos camaradas o acompanharam. Eram apenas dissidentes socialistas, que defendiam ao mesmo tempo o revolucionarismo socialista ou sindicalista e o nacionalismo italiano gerado pelo idealismo garibaldino e carbonário. No plano interno, portanto, a coincidência de duas forças de raiz popular, no sentido, digamos, de um socialismo nacional. No plano externo, a ruptura com o internacionalismo socialista, que procurava fazer soçobrar as frentes aliadas perante o inimigo germânico, onde os socialistas haviam aceitado, contra os preceitos do internacionalismo, bater-se pela pátria.
A Itália veio a entrar na guerra e a alinhar depois entre os vencedores, que a trataram porém como a parente pobre, o que exasperou o nacionalismo dos italianos e foi aproveitado pelo partido socialista ortodoxo, jà francamente comunista, na obra de desestabilização moral e económica em que andava empenhado. Desse modo alastrou por todo o país, sobre a decomposição da partidocracia e a incapacidade construtora do socialismo, a desordem a que se referia o diplomata Valentim da Silva.
A necessidade de defesa da comunidade nacional fez que aparecessem em Janeiro de 1915 os primeiros grupos nacionais de acção revolucionária, não referidos ainda a um sistema doutrinário organizado. O próprio Mussolini escreveria mais tarde: "Quando em Março de 1919, no Popolo d’Itália, convoquei os intervencionistas que me haviam seguido desde a constituição dos Fasci d’azione rivoluzionaria - vindos de Janeiro de 1915 -, eu não tinha nenhum plano doutrinário no meu espírito. Era só um activista socialista. A minha doutrina era a doutrina da Acção. Em 1919 o socialismo estava morto na Itália. Vivia como rancor, como represália contra os que haviam feito a guerra e que deviam expiá-la. O Fascismo nasceu não de uma doutrina precisamente elaborada, mas da Acção". Ao princípio, antipartido e movimento, preocupava-se sobretudo em modelar italiani di combattimento, para uma pugna cuja orientação ideológica ficava nuns apontamentos genéricos. Algumas ideias, no entanto, principiaram a condensar-se: "O Fascismo rejeita na democracia a absurda mentira do igualitarismo político, o hábito da irresponsabilidade colectiva e o mito da felicidade e do progresso indefinido. Mas, se a democracia pode ser diversamente entendida, isto é, se a democracia significa não repelir o povo para as margens do Estado, o Fascismo pode ser para quem escreva definido como democracia organizada, centralizada, autoritária" (Mussolini).
Temos, aqui, inesperadamente para muitos, o Fascismo apresentado como democracia organizada, e centralizada como as partidocracias. Um maurrasiano rir-se-á da classificação, considerando-a paradoxal. Se a democracia é por natureza inorânica, o inorgânico natural é inorganizável. Certo, mas também não podemos deixar de considerar que, para além do rigor conceptual de certos termos, há conteúdos que nem por serem difusos deixam de ter importância na precisão dos factos. Não é democracia o que nós queremos que seja ou não seja, mas o que efectivamente é como força projectiva e como sentido de acção. Demais, não podem julgar-se no mesmo plano os doutrinadores e os criadores de História. O Fascismo, quer queiram quer não, tem uma raiz popular e uma intenção popular, cujo sentido se enquadra perfeitamente na figura ideológica da democracia.
Se não pode, pois, um socialismo atirar pedras ao fascismo por anti-socialismo deste, também uma democracia não poderá fazê-1o por antidemocracia. E ainda há mais...
BARRADAS DE OLIVEIRA

0 Comentários
Comments: Enviar um comentário
Divulgue o seu blog! Blog search directory

This page is powered by Blogger. Isn't yours?