terça-feira, novembro 30, 2004
CÂNTICO
Em cada flor
Que dia a dia renasce,
o canto negro de uma saudade presente:
esta foi a carta escrita
ao amanhecer, depois do fuzilamento.
Uma bandeira desfraldada,
crianças e crianças correndo,
os amados amando-se,
os anciãos rindo e sorrindo
— na palma da mão,
o testemunho imenso e vermelho,
que não morre:
essa foi a cidade de todos os tempos,
o amor e o canto das bocas sadias,
a espuma de todas as ondas,
o mar de toda a navegação.
(Onde está a barca da alegria,
dos amados amando-se,
das crianças e jovens mulheres
de todas as idades? Onde está?
Onde dorme a barca das manhãs despertas?)
Dia a dia renascem os beijos dados à noite,
em Toledo.
Meu caro Amigo, eu vou morrer,
mas comigo levo a luz de Abril
e as flores de Maio,
e as medalhas dos camaradas
mortos em combate.
Os dias passam pela morte dos tempos.
(Oh, como o tempo passa!)
Ao lado de cada flor da manhã,
uma camisa negra aguarda o corpo do mundo.
José Valle de Figueiredo
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Que dia a dia renasce,
o canto negro de uma saudade presente:
esta foi a carta escrita
ao amanhecer, depois do fuzilamento.
Uma bandeira desfraldada,
crianças e crianças correndo,
os amados amando-se,
os anciãos rindo e sorrindo
— na palma da mão,
o testemunho imenso e vermelho,
que não morre:
essa foi a cidade de todos os tempos,
o amor e o canto das bocas sadias,
a espuma de todas as ondas,
o mar de toda a navegação.
(Onde está a barca da alegria,
dos amados amando-se,
das crianças e jovens mulheres
de todas as idades? Onde está?
Onde dorme a barca das manhãs despertas?)
Dia a dia renascem os beijos dados à noite,
em Toledo.
Meu caro Amigo, eu vou morrer,
mas comigo levo a luz de Abril
e as flores de Maio,
e as medalhas dos camaradas
mortos em combate.
Os dias passam pela morte dos tempos.
(Oh, como o tempo passa!)
Ao lado de cada flor da manhã,
uma camisa negra aguarda o corpo do mundo.
José Valle de Figueiredo
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