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domingo, fevereiro 20, 2005

Só não reagem os mortos 

"O drama de Portugal neste momento é que, no plano concreto da acção política, perdeu consciência de si. Lendo nos jornais que o rei de Espanha interveio como mediador entre o primeiro-ministro e o presidente da República, nem sequer tugiu. Defende-se já a identidade hispânica como fundamento primeiro de toda a história portuguesa, a mesma cultura, o império visigótico, uma unidade que, tendo-se esfarelado há quinze séculos, se procura agora reviver em nome simultâneo da espiritualidade e da comercialidade.
Olhando para trás e buscando o futuro, reconhecemos todos que, fora e dentro do sistema, os homens se esgotam em questões pessoais sem projecto político. O que mais monta são as questões de chefia. Uns, queimando as pestanas no estudo permanente, aguardam que os chamem, ou preparam-se para a chamada gritada do meio das cinzas fumegantes dum país em ruínas. Outros lutam desesperadamente por um lugar ao Sol, pela continuação desta torpe vida cujo fim almejado é a cadeira de ministro.
Uma luz de esperança alumia-nos o caminho de quando em vez. Continuamos para não desesperar. Voltando a citar Daudet sentimo-nos violentamente reaccionários: só não reagem os mortos — e nós só nos damos com vivos.
"
(Manuel Maria Múrias, in A Rua, n.º 238, 09.01.1981, pág. 16)

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