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terça-feira, fevereiro 22, 2005

Salazar e os blogues 

Como saberão os mais versados em matéria de história política, as correntes políticas monárquicas em Portugal foram progressivamente perdendo influência e peso durante os anos que se seguiram ao 28 de Maio, à medida que progredia a estabilização do regime, até se chegar à situação final que existia quando do 25 de Abril.
A este propósito não vale a pena alargar-me, basta recordar o famoso dito de espírito sobre a Causa Monárquica, acusada já na altura por todo e qualquer engraçado de ser uma notória violação das leis da física - era a única causa sem efeito.
No campo da imprensa tornou-se evidente a desertificação do campo monárquico. Em 1974 subsistia como único órgão informativo assumidamente monárquico o semanário "O Debate", situação que já vinha de há largos anos. E mesmo esse resistia com grandes dificuldades, sendo periódicos os peditórios, ou por outras palavras os apelos à generosidade dos apoiantes, para acorrerem a evitar o encerramento do jornal.
Assim era o panorama já de há muito. Já na década de 50 era usual o recurso a essas subscrições como modo de manter a balões de oxigénio o semanário então existente.
Conta-se a este respeito uma pequena história que sempre me pareceu muito significativa, e que bem merecia ser melhor analisada.
Diz-se que numa dessas ocasiões em que novamente era pedido aos assinantes que salvassm o único órgão monárquico em publicação alguém pediu a Salazar, como assinante e presumido simpatizante, que contribuísse também. Este anuiu, mas lá foi desabafando qualquer coisa como "se os monárquicos não conseguem sustentar o seu jornal como querem eles sustentar um regime".
Como sempre, as palavras de Salazar vão direitinhas ao cerne da questão que visavam. Ainda hoje é habitual encontrarmos nos meios que se dizem monárquicos teses ressentidas acerca de Salazar, que se teria servido dos monárquicos mas perfidamente nunca restaurou a monarquia, apesar de os ir mantendo nessa expectativa.
O essencial do problema histórico, a meu ver, está naquelas palavras. Salazar efectivamente, e afectivamente, olhava para a monarquia com nostalgia. Mas foi compreendendo que a avançar para a restauração iria dar de bandeja à oposição a bandeira da república; partia de um golpe a precária unidade das forças que suportavam o Estado Novo e ao mesmo tempo fazia a reunião triunfal de todas as oposições. E não haveria depois forças para sustentar o regime restaurado.
Ora vai contra toda a lógica da actuação salazarista essa decisão aventureirista de caminhar para uma guerra que tudo indicava por um lado ser possível de evitar e por outro lado não ser possível de vencer.
E deste modo nunca o regime caminhou seriamente para restaurar a república. Fundamentalmente porque os monárquicos já não eram bastantes para sustentar um jornal, quanto mais um regime.
Lembro-me desta lição muitas vezes também a propósito da blogosfera, neste espaço de tempo em que diariamente a acompanho. Não a respeito dos monárquicos, que já há poucos, e mesmo esses resignados. Lembro-me disso por culpa dos nacionalistas, das variadas tendências que compõem essa família política, os quais frequentemente se agitam em vibrantes afirmações e intenções. Mas muitos deles nem um blogue conseguem manter!...
Como querem ser sustentáculo de um jornal, ou de um partido, ou de um regime, aqueles que nem uma página na internet ou um blogue pessoal conseguem manter com continuidade e regularidade?
Não digo isto a pensar só nas dezenas de blogues que neste último ano e meio já surgiram e desapareceram, invocando as bandeiras da área nacional, sem que tenham persistido mais do que o tempo necessário para umas descargas emocionais.
Estou a dizer isto porque hoje encontrei um novo, a quem quero saúdar e desejar desde já uma longa vida na blogosfera - que venha para ficar e afirmar aqui com serenidade e firmeza a boa doutrina.
Trata-se do SALAZAR, para onde remeto os meus pacientes leitores.
Salazar sabia que o combate político exigia a resistência e a tenacidade dos homens da maratona, e não as explosões fugazes dos corredores de cem metros.
Assim o compreendam todos.

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