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domingo, março 27, 2005

AINDA PODEMOS VENCER? 

"Quando nos começámos a formar mentalmente e a interessar-nos pelos problemas da Cultura, desde o Pensamento à Acção, desde as artes à Política, encontrámo-nos implantados numa paisagem de selva ou de ervas daninhas. Era quase unânime o coro democrático, progressista, era moda e inteligente louvar o socialismo das esquerdas, fazer o protesto fácil e entrar no rebanho. Em face disto, só havia outra posição acomodatícia, um conservadorismo interesseiro, um louvaminhar submisso, falta de idealismo, alheamento da perfeição.
A nossa extrema juventude levou-nos à recusa dos caminhos gastos e àquela «virtude da insolência» que Brasillach louvava em Joana d`Arc. Mas não nos deixámos conduzir pela oposição gratuita, por um simples movimento de contradição. Era natural que, pelo menos durante um largo período, fossemos apanhados na engrenagem e acabássemos por alinhar nas hostes dominantes que ofereciam, ao mesmo tempo, a vantagem de um aplauso generalizado e a bonita vantagem de uma revolta aparente. A falta de um poder crítico e de um esclarecimento oportuno, fariam de nós outro carneiro, em um ou outro dos rebanhos — pela nossa adolescência, naturalmente no da esquerda, que não possuía o poder legal, mas que oferecia o prestígio de um poder de facto sobre o consenso de certas maiorias no nosso meio. (Como dizia um intelectual considerado e insuspeito, vivemos numa «ditadura intelectual das esquerdas»)
Nem no nosso país nem no mundo, havia grupos influentes e poderosos, com vasta audiência, e distintos das linhas que apontamos.
Três coisas nos salvaram: a nossa desconfiança perante as duas formações tão apoiadas; a nossa propensão para alguns valores primaciais e eternos; o encontro de quem nos iniciou na doutrina justa (primeiro e decisivamente, José Valle de Figueiredo; mais tarde e sequentemente, Goulart Nogueira). Então, vimos qual era o caminho certo e novo, a orientação justa, vimos a Ideia que cortava a direito sobre aquelas confusões e papagueamentos reinantes. Tomámos consciência de nós próprios; ao encontrar, encontrámo-nos.
Não foi o lugar mais fácil que escolhemos. A opção fez-se em obediência a um imperativo interior. Tudo parecia desaconselhar-nos a posição ingrata, onde só os malditos combatiam, desfigurados e carregados de calúnia, de incompreensão, de afastamentos. No entanto, não hesitámos.
Se a nossa intenção fosse obter louvores e benesses, teríamos desistido. Se acreditássemos em que é inelutável a resolução dos acontecimentos em favor do adversário, que a vontade humana é impotente para conduzir a História, talvez enveredássemos por outro destino e acompanhássemos os outros ou ficássemos parados. Se não guardássemos indomável fé na Verdade e não soubéssemos que as minorias excepcionais, lutadoras, podem revolver o mundo, não estaríamos onde hoje estamos. Se pudéssemos renunciar a nós mesmos, negar as nossas convicções mais íntimas, o nosso modo de ser, o Fascismo representaria para nós um mito longínquo e uma causa irrecuperável, um momento ultrapassado.
Mas nós não acreditamos! Uma nova geração sobe no horizonte. A juventude que se nega à nevoenta existência destes dias, prepara uma Reconquista.
O Fascismo regressa e desfere novos voos. Ainda, e cada vez mais, podemos vencer."
Miguel Seabra
(In «Agora», n.º 329, 04.11.1967, pág. 16)

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