quarta-feira, março 16, 2005
Uma reflexão sobre o PNR
Na sequência da publicação de uma notícia do "Tal & Qual" sobre o PNR que foi muito comentada, até por já ter o antecedente da célebre notícia do "Expresso" nas vésperas das eleições, quis ter a opinião de um velho camarada, possuidor de largo saber e experiência nestas coisas. Apesar do tom algo pessoal da mensagem, e da falta de autorização, pareceu-me útil partilhar com os meus leitores essa contribuição para a análise e o debate que necessariamente tem de fazer-se. E aqui fica a carta, naturalmente sem os nomes do destinatário e do remetente.
F.
Obrigado pelo artigo do “Tal & Qual”, jornal que não leio, tentando preservar alguma sanidade mental. Mas o que ali se escreve era de esperar,mais tarde ou mais cedo...
Aproveito para realizar algumas considerações pessimistas e que podem ser úteis nas actuais circunstâncias, e vou enviá-las também a uma série de amigos.
-------------------------
A propósito dos resultados do PNR, recordemos, a propósito, um antecedente "exótico".
Há uns vinte e cinco anos, houve uma candidatura de "Independentes de Direita", incluída nas listas do PDC, mobilizada e apoiada pelo jornal "A Rua" com a participação do seu director, Manuel Maria Múrias, além de nomes como Gilberto Santos e Castro, António Lopes Ribeiro e de outros representantes da "extrema direita". Registou-se um resultado «surpreendente»: de facto, foram quase 70.000 votos.
Os votos obtidos pelo PNR, mesmo quase triplicando os anteriormente obtidos, tendo em conta que agora concorreu em quase todos os círculos, não são assim tão "espectaculares".
Mas são reveladores de um crescimento natural que não pode passar despercebido.
Uma questão que pode ser terminal.
Como é notório - e tu oportunamente divulgas - a comunicação social já "aponta a espingarda" ao PNR. Naturalmente, os informadores da polícia incluídos entre os filiados e alguns provocadores hão-de fazer o que for preciso - quando for o momento de disparar...
Porque, a meu ver, o PNR corre o risco de se estar a dirigir, voluntária ou involuntariamente, para a "zona de morte" de uma emboscada, que está sempre montada. As "regras do jogo" do sistema constitucional (que, já se sabe, são duvidosas e sectárias) precisam apenas de um pretexto claro.
Paradoxalmente, quanto melhores resultados tiver, tanto "pior" para o PNR.
Veja-se o caso do genuínamente popular "Vlaams Blok”, na Bélgica,a segunda força eleitoral...
Sinceramente e vendo a questão de forma independente, parece-me, por exemplo, que o tom "xenófobo genérico" que "envolve" o PNR, como o representa o artigo do "Tal & Qual" não é exactamente uma novidade. E provavelmente o próprio partido não tem grande culpa disso...
Ao observar a expressão expontânea de muitos cidadãos, muitos deles jovens, fora de qualquer actividade "política", vê-se que estão fartos da situação de insegurança e conflitualidade bem patentes em inúmeros casos. Um cego percebe isso, não é preciso um "esclarecimento d'esquerda".
Fundamentalmente, a meu ver, o que um partido que se diz nacionalista não pode fazer é assumir essa revolta sem a integrar numa atitude política mais estruturada, evitando a própria manipulação do partido e respectivo suicídio.
E deve mesmo aproveitar para colocar o problema no plano em que ele deve ser posto. É aí que está o ponto. Esse "ambiente xenófobo", é criado, de facto, não pelo PNR mas pela natureza da situação social portuguesa, e deve ser "devolvido" à classe política medíocre, embrulhado em papel de jornal e denunciado publicamente como consequência da sua inépcia perante a situação criada por um sistema económico que insiste em importar mão-de-obra "escrava" sem olhar às consequências.
A não haver uma demarcação explícita por parte do PNR, a "coisa" pega-se-lhe politicamente, e esse "tom xenófobo", convenientemente misturado com evidências como a acção e propaganda dos "hammerskins" a favor do PNR (segundo o critério "from USA", estes "skins" são uma auto-designada "elite", a "nobreza" dos "skins"), e o tom racista "geral", de outros grupos conotados (ou conotáveis) com o PNR que explícita e publicamente, o apoiam, vão provavelmente criar as condições formais e legais "já prontas, e servidas em bandeja", para que o PNR seja dissolvido ao abrigo da famosa "lei antifascista". É de ver. E, para que tal possa acontecer, é previsível que - não tarda - se intensifiquem os "alarmes" do costume, mais agressivos, dadas as circunstâncias...
Não pertenço ao PNR nem conheço a sua direcção; todavia, não obstante as convicções próprias e as prioridades que a direcção do PNR possa ter estabelecido por si própria, não se pode deixar de esperar que esteja atenta, evitando equívocos lamentáveis - e perigosos.
S.
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F.
Obrigado pelo artigo do “Tal & Qual”, jornal que não leio, tentando preservar alguma sanidade mental. Mas o que ali se escreve era de esperar,mais tarde ou mais cedo...
Aproveito para realizar algumas considerações pessimistas e que podem ser úteis nas actuais circunstâncias, e vou enviá-las também a uma série de amigos.
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A propósito dos resultados do PNR, recordemos, a propósito, um antecedente "exótico".
Há uns vinte e cinco anos, houve uma candidatura de "Independentes de Direita", incluída nas listas do PDC, mobilizada e apoiada pelo jornal "A Rua" com a participação do seu director, Manuel Maria Múrias, além de nomes como Gilberto Santos e Castro, António Lopes Ribeiro e de outros representantes da "extrema direita". Registou-se um resultado «surpreendente»: de facto, foram quase 70.000 votos.
Os votos obtidos pelo PNR, mesmo quase triplicando os anteriormente obtidos, tendo em conta que agora concorreu em quase todos os círculos, não são assim tão "espectaculares".
Mas são reveladores de um crescimento natural que não pode passar despercebido.
Uma questão que pode ser terminal.
Como é notório - e tu oportunamente divulgas - a comunicação social já "aponta a espingarda" ao PNR. Naturalmente, os informadores da polícia incluídos entre os filiados e alguns provocadores hão-de fazer o que for preciso - quando for o momento de disparar...
Porque, a meu ver, o PNR corre o risco de se estar a dirigir, voluntária ou involuntariamente, para a "zona de morte" de uma emboscada, que está sempre montada. As "regras do jogo" do sistema constitucional (que, já se sabe, são duvidosas e sectárias) precisam apenas de um pretexto claro.
Paradoxalmente, quanto melhores resultados tiver, tanto "pior" para o PNR.
Veja-se o caso do genuínamente popular "Vlaams Blok”, na Bélgica,a segunda força eleitoral...
Sinceramente e vendo a questão de forma independente, parece-me, por exemplo, que o tom "xenófobo genérico" que "envolve" o PNR, como o representa o artigo do "Tal & Qual" não é exactamente uma novidade. E provavelmente o próprio partido não tem grande culpa disso...
Ao observar a expressão expontânea de muitos cidadãos, muitos deles jovens, fora de qualquer actividade "política", vê-se que estão fartos da situação de insegurança e conflitualidade bem patentes em inúmeros casos. Um cego percebe isso, não é preciso um "esclarecimento d'esquerda".
Fundamentalmente, a meu ver, o que um partido que se diz nacionalista não pode fazer é assumir essa revolta sem a integrar numa atitude política mais estruturada, evitando a própria manipulação do partido e respectivo suicídio.
E deve mesmo aproveitar para colocar o problema no plano em que ele deve ser posto. É aí que está o ponto. Esse "ambiente xenófobo", é criado, de facto, não pelo PNR mas pela natureza da situação social portuguesa, e deve ser "devolvido" à classe política medíocre, embrulhado em papel de jornal e denunciado publicamente como consequência da sua inépcia perante a situação criada por um sistema económico que insiste em importar mão-de-obra "escrava" sem olhar às consequências.
A não haver uma demarcação explícita por parte do PNR, a "coisa" pega-se-lhe politicamente, e esse "tom xenófobo", convenientemente misturado com evidências como a acção e propaganda dos "hammerskins" a favor do PNR (segundo o critério "from USA", estes "skins" são uma auto-designada "elite", a "nobreza" dos "skins"), e o tom racista "geral", de outros grupos conotados (ou conotáveis) com o PNR que explícita e publicamente, o apoiam, vão provavelmente criar as condições formais e legais "já prontas, e servidas em bandeja", para que o PNR seja dissolvido ao abrigo da famosa "lei antifascista". É de ver. E, para que tal possa acontecer, é previsível que - não tarda - se intensifiquem os "alarmes" do costume, mais agressivos, dadas as circunstâncias...
Não pertenço ao PNR nem conheço a sua direcção; todavia, não obstante as convicções próprias e as prioridades que a direcção do PNR possa ter estabelecido por si própria, não se pode deixar de esperar que esteja atenta, evitando equívocos lamentáveis - e perigosos.
S.
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