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segunda-feira, abril 25, 2005

CONTRA O 25 DE ABRIL 

Deixemos o ridículo das comemorações do 25 de Abril... Corridas pedestres, foguetes, discursos, paradas militares chegariam para relembrar a faustosa data, se não chegassem a miséria, a quase fome, o desprestígio interno e externo que sofremos todos no espírito e na carne... Movimentaram-se os usufrutuários da revolução para defenderem os respectivos privilégios; nunca como hoje foi tão baixo o nível moral, social e político da classe política governadeira de Portugal.
Tudo se consome palpitante na fogueira da ineficácia e da incompetência. Um governo possível como poderia ter sido o de Mota Pinto envolvido que foi na poeira miasmenta do sistema, está queimado e ilaqueado ao fim de jovens meses, vítima da absurdidade do regime, das quezílias partidárias das excessivas ambições dos homens.
Da mesma maneira, o Presidente da República se degradou institucionalmente. Poucos duvidam da sua honorabilidade pessoal; a maioria, porém, deixou de acreditar que seja capaz de, ultrapassando as carências constitucionais, resolver radicalmente a crise como se necessita.
Melhor do que nós fala um homem do 25 de Abril. No discurso que pronunciou no Porto, durante o imenso comício ali realizado diante de muitas dezenas de milhares de correligionários, Francisco de Sá Carneiro não teve papas na língua. E clamou:
«Cinco anos depois do 25 de Abril, o que vemos?» perguntou. E respondeu: «Vemos um povo sacrificado às opções vanguardistas duma pretensa esquerda militar associada a uma pretensa esquerda política. Vemos predominar sobre o interesse colectivo a desagregação política, interesses fraccionados em mil interesses em luta, esquecendo-se o sentido de solidariedade, esquecendo-se o sentido da própria nacionalidade. Por toda a parte vemos campear a corrupção, vemos os negócios do poder, vemos o nepotismo, vemos o compadrio, vemos as inutilidades públicas que custam um dinheirão ao país e que ao país não servem de nada. Com o movimento em marcha que eu chamaria de comunismo burocrático, aniquila-se o cidadão, impede-se a iniciativa privada, não se respeita a propriedade de cada um como prolongamento que é da própria personalidade, para que o Estado domine tudo, para que floresça à custa dos sacrifícios dos cidadãos uma nova classe burocrática, uma nova classe privilegiada. É isto que está a acontecer e é isto que não pode continuar».
Tem evidentemente razão o líder social-democrata — e mais razão tem ainda quando critica vivamente a existência e a actividade do chamado Conselho da Revolução. Depois da reunião emefasesca realizada na Estufa Fria, onde, desde Costa Martins a Costa Gomes, nenhum dos tratantes que nos desgovernaram nos últimos anos falhou, tudo o que se diga — é pouco. Chegámos onde chegámos graças à deterioração moral a que baixaram as Forças Armadas — o clima que a chamada esquerda militar procura fazer reviver é o clima do gonçalvismo e da guerra civil: se não nos erguemos todos como um muro contra as novas arremetidas, dentro em breve, outra vez, abrir-se-ão as portas das cadeias, recomeçarão os roubos e os latrocínios, perder-nos-emos totalmente como nação soberana.
Para obviar as questões gravíssimas que se nos põem, o dr. Sá Carneiro exige do Presidente da República eleições gerais intercalares e ameaça-o com o desapoio do P.S.D., caso não seja aceite a sua exigência. Mal se percebe o diktat do líder social-democrata, posta como foi a situação política-económica do país.
Subentende-se que (se Eanes provocar eleições legislativas) Sá Carneiro pode vir a reconfiar em Eanes. Não se entende que tal seja possível, a não ser para recomeçar tudo do princípio, voltando tudo à mesma. Excelente chefe de família, Ramalho Eanes tem sido péssimo Chefe de Estado. Em nenhuma circunstância pode ser reeleito — e quem o for substituir tem de nos garantir capacidade moral, intelectual e política para poder vencer a crise. Tem de ser Franco Nogueira.
Agora mesmo, em dois dias de conversa londrinas, pudemos aferir da capacidade do antigo Ministro dos Negócios Estrangeiros. Natural e humanamente não se oferece para coisa alguma; patrioticamente, todavia, não se escusa a nada. Nenhum sacrifício é excessivo para salvar Portugal. Não nos autorizando a pôr a sua candidatura à Presidência da República, não nos proíbe: ficou à mercê da nossa vontade de portugueses, pronto a cumpri-la.
Acima dos partidos, das facções e das seitas, o futuro Presidente da República Portuguesa nem sequer poderá estar sujeito aos pontos de vista dos interesses de quem o propõe. Também está acima e para além de nós. Estará com Portugal: quando quiser, autorizar-nos-á; quando entender, desautorizar-nos-á. Acima dele e de nós está o interesse nacional. A resposta aos nossos desejos ser-nos-á dada em função do que nos transcenda; devemos continuar com a nossa campanha promotora da candidatura de Franco Nogueira à Presidência da República até transformarmos num movimento nacional tão grande que a sua força seja imparável e indomável até à vitória.
Não vemos outra solução. O que disse Sá Carneiro dizemo-lo nós todas as semanas há vários anos. Não vemos, todavia, que as coisas nacionais se possam reparar pela simples intercalação dumas eleições. Nós, portugueses, somos estruturalmente contra o sistema; a candidatura de Franco Nogueira é estruturalmente contra o sistema; entende-se que sem se conquistar a chefia do Estado, não se reconquistará Portugal.
Não julguem as pessoas que nós levianamente nos apoderámos da personalidade de Franco Nogueira e, agora, a usamos a nosso favor. Não. Está livre o nosso candidato porque pertence ao povo: o povo decidirá do seu destino, elegendo-o, e afastando-nos se tanto for necessário.
Não será «A Rua» que elegerá Franco Nogueira. Quem o quiser apoiar contra nós — deve apoiá-lo em função do interesse nacional e ao seu serviço. Todos não seremos de mais. Não podemos é hesitar. Nem um momento. Nem um segundo. Nesta hora trágica cada minuto perdido é um minuto menos de vida que podemos ter como portugueses. Quem quiser que se nos sobreponha para, connosco ou sem nós, promover mais intensamente, e mais eficazmente, a candidatura de Franco Nogueira. Os milhares de vozes que se erguem país fora apoiando-a dão-nos uma esperança enorme e galvanizam-nos. Esperávamos ouvi-las; mas não tão rijamente: é Portugal que se ergue inteiro a caminho de se salvar...
Vamos continuar, pois... O que parecia impossível começa a concretizar-se nitidamente. Por Portugal. Contra o 25 de Abril.
Manuel Maria Múrias
(In A Rua, n.º 150, 00.05.1979, pág. 24)

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