sábado, abril 16, 2005
CONTRA O COMUNISMO
A tese correcta, exposta e defendida, há dias, pelo "Diário da Manhã", merece ser fixada:
«Não combatemos o Comunismo pelas mesmas razões porque os sofistas comunizantes admiram a Rússia soviética... O que combatemos é o Comunismo como doutrina e como organização internacional de partidos anti-nacionais...».
Tal e qual: a doutrina e organização internacional. Uma e outra repugnam à nossa índole, à nossa mentalidade, à nossa sensibilidade, e, no actual momento, repugnam fundamentalmente às directrizes imprimidas ao Estado português pelo espírito de Salazar.
Somos, pois, integralmente, decididamente anti-comunistas.
Somo-lo porque a formação do nosso espírito assim o impõe. E somo-lo ainda, porque, ajustados ao pensamento de Salazar e tendo fé e confiança na sua orientação, que agoiramos bem dela.
Mas eu não sei ser anti-comunista na cavaqueira amena e tranquila da minha casa, entre a família e os amigos, à hora do cházinho e das torradas. O meu anti-comunismo, porque é de raiz, traz-me para a praça pública, a afirmá-lo, cara a cara diante do inimigo, sujeitando-me às consequências, a todas as consequências emergentes, venham elas de onde vierem, tragam elas o pretexto que trouxerem. Por outro lado, o meu anti-comunismo é integral, e o combate que conduzo visa todas as posições, vence e destrói todos os sofismas, ou disfarces.
No combate ao Comunismo não há, não pode haver mas, nem meio mas. Qualquer mas que se formule é um auxílio ao Comunismo, dêem-lhe as voltas que quiserem.
E desgraçadamente estamos a viver uma atmosfera espessa de mas. Chovem os mas de todos os lados, de todos os sectores, de todos os horizontes.
Contra o Comunismo! — grito a um católico. E quando suponho que ele grita comigo, ouço-o a dizer: «mas... porém... quiçá...».
Contra o Comunismo! — grito a um monárquico. E quando espero que ele grite comigo sai-se-me com «mas... talvez... repare...»
Contra o Comunismo! — grito a um industrial. E quando imagino que ele me diga: «é claro!» ouço-lhe: «mas, mas...».
Contra o Comunismo! — grito a um proprietário. E quando calculo que ele vem comigo, lá me aparece: «mas... você vê...».
Contra o Comunismo! — grito a um soldado. E quando penso que ao menos este virá, também este não se coíbe de: «mas... mas!»; nem o católico, nem o monárquico, nem o industrial, nem o proprietário, nem o soldado são comunistas. Nenhum deles é, mesmo, sofista comunizante.
Então?
É uma questão de prisma.
O católico não vê o Comunismo pelo prisma de católico; o monárquico não o encara pelo prisma de monárquico; o industrial não o olha pelo prisma de industrial; o proprietário e o soldado não o julgam pelos seus respectivos prismas.
Todos eles abdicaram do seu prisma e se servem do prisma alheio. E é este que os leva a enfileirar na confraria do Mas...
Perante o Comunismo, não há mas, nem meio mas. Ou se é contra o Comunismo, integralmente, decididamente, sem mas, ou nos colocamos atrás do anteparo do mas — e, dêem-lhes as voltas que quiserem, estamos a servir os interesses de Staline, a carrear lenha para a fogueira, a minar os alicerces espirituais e morais desta pobre terra portuguesa.
Os partidários do mas estão na nossa casa, sentam-se à nossa mesa, convivem connosco, são da forma do nosso pé. Os comunistas são o martelo pesado que tritura ou quebra; os partidários do mas são a água mole que chega a furar a pedra dura...
Que dizem os partidários do mas?
Dizem muitas e variadas coisas.
Mas há uma nota que, seja qual for a altura adoptada, todos usam, e reveste a forma destes raciocínios: — ir contra o Comunismo é favorecer a Alemanha; eu sou contra a Alemanha; logo, não sou contra o Comunismo; ou — ir contra o Comunismo é favorecer a Alemanha; logo, desejo que o Comunismo vença a Alemanha; ou — ir contra o Comunismo é favorecer a Alemanha, favorecer a Alemanha é ir contra a Inglaterra; eu sou pela Inglaterra; logo, não sou contra o Comunismo.
E é por isto, Santo Deus! que estamos divididos.
Eu raciocino desta forma. O Comunismo é inimigo da minha Pátria; depois de Deus, é a minha Pátria que eu amo acima de tudo; estarei, portanto, ao lado de quem combate o inimigo da minha Pátria.
É a Alemanha? Estou ao lado da Alemanha.
É a Inglaterra? Estou ao lado da Inglaterra.
É a China? Estou ao lado da China.
É a Hotentótia? Estou ao lado da Hotentótia.
Mas a Alemanha bate o Comunismo para chegar à Inglaterra.
A Inglaterra bate o Comunismo para chegar à Alemanha.
A China bate o Comunismo para chegar ao Japão.
A Hotentótia bate o Comunismo para chegar aos polinésios.
E eu a ralar-me.
O que eu quero é que me destruam o Comunismo — inimigo primacial da minha Pátria, isto é, da minha religião, da minha civilização, da minha forma de ser e viver.
Estou com quem o combate, não me interessando absolutamente nada a intenção de quem o combate; estou contra quem o favorecer, auxiliar ou proteger, seja lá quem fôr.
De cama, doente, tenho na minha presença dois médicos; um que é muito meu amigo desde a infância, outro com quem não simpatizo nada. Os dois médicos são inimigos um do outro; o primeiro, o meu amigo, não atina com a doença; não crê no diagnóstico que faz o segundo e, para chegar a este, para eliminar este, está a alimentar a doença. O segundo médico, para chegar ao primeiro, para diminuir o primeiro, para ganhar fama, para ganhar dinheiro, para o que quiserem, ataca a minha doença a fundo, e vence-a e salva-me.
Pode ser, se fôr tonto, que eu continue a ser amigo do primeiro. Mas o que é indiscutível é que serei eternamente grato ao segundo, que me livrou do mal.
Em 28 de Junho, escrevi: «É certo que a nova guerra germano-soviética é considerada pelos velhos beligerantes como simples modalidade ou fase da guerra germano-inglesa. Tenham eles o direito que lhes aprouver — que nada nos impede de nós termos o nosso critério.»
E para nós a guerra germano-soviética interessa-nos muitíssimo mais do que a guerra germano-inglesa. É mesmo ela a única que verdadeiramente pode interessar-nos. As repercussões do desfecho da guerra germano-inglesa na vida de Portugal são do domínio do possível ou do provável, em todo o caso, conjecturais.
As consequências do desfecho da guerra germano-soviética são, para nós, uma coisa certa e indiscutível: se o Comunismo é vencido, respiraremos e teremos diante de nós um futuro luminoso; se o Comunismo sai vencedor — é a catástrofe apocalíptica.
Alfredo Pimenta
(In «A Voz», n.º 5160, págs. 1/4, 20.08.1941)
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«Não combatemos o Comunismo pelas mesmas razões porque os sofistas comunizantes admiram a Rússia soviética... O que combatemos é o Comunismo como doutrina e como organização internacional de partidos anti-nacionais...».
Tal e qual: a doutrina e organização internacional. Uma e outra repugnam à nossa índole, à nossa mentalidade, à nossa sensibilidade, e, no actual momento, repugnam fundamentalmente às directrizes imprimidas ao Estado português pelo espírito de Salazar.
Somos, pois, integralmente, decididamente anti-comunistas.
Somo-lo porque a formação do nosso espírito assim o impõe. E somo-lo ainda, porque, ajustados ao pensamento de Salazar e tendo fé e confiança na sua orientação, que agoiramos bem dela.
Mas eu não sei ser anti-comunista na cavaqueira amena e tranquila da minha casa, entre a família e os amigos, à hora do cházinho e das torradas. O meu anti-comunismo, porque é de raiz, traz-me para a praça pública, a afirmá-lo, cara a cara diante do inimigo, sujeitando-me às consequências, a todas as consequências emergentes, venham elas de onde vierem, tragam elas o pretexto que trouxerem. Por outro lado, o meu anti-comunismo é integral, e o combate que conduzo visa todas as posições, vence e destrói todos os sofismas, ou disfarces.
No combate ao Comunismo não há, não pode haver mas, nem meio mas. Qualquer mas que se formule é um auxílio ao Comunismo, dêem-lhe as voltas que quiserem.
E desgraçadamente estamos a viver uma atmosfera espessa de mas. Chovem os mas de todos os lados, de todos os sectores, de todos os horizontes.
Contra o Comunismo! — grito a um católico. E quando suponho que ele grita comigo, ouço-o a dizer: «mas... porém... quiçá...».
Contra o Comunismo! — grito a um monárquico. E quando espero que ele grite comigo sai-se-me com «mas... talvez... repare...»
Contra o Comunismo! — grito a um industrial. E quando imagino que ele me diga: «é claro!» ouço-lhe: «mas, mas...».
Contra o Comunismo! — grito a um proprietário. E quando calculo que ele vem comigo, lá me aparece: «mas... você vê...».
Contra o Comunismo! — grito a um soldado. E quando penso que ao menos este virá, também este não se coíbe de: «mas... mas!»; nem o católico, nem o monárquico, nem o industrial, nem o proprietário, nem o soldado são comunistas. Nenhum deles é, mesmo, sofista comunizante.
Então?
É uma questão de prisma.
O católico não vê o Comunismo pelo prisma de católico; o monárquico não o encara pelo prisma de monárquico; o industrial não o olha pelo prisma de industrial; o proprietário e o soldado não o julgam pelos seus respectivos prismas.
Todos eles abdicaram do seu prisma e se servem do prisma alheio. E é este que os leva a enfileirar na confraria do Mas...
Perante o Comunismo, não há mas, nem meio mas. Ou se é contra o Comunismo, integralmente, decididamente, sem mas, ou nos colocamos atrás do anteparo do mas — e, dêem-lhes as voltas que quiserem, estamos a servir os interesses de Staline, a carrear lenha para a fogueira, a minar os alicerces espirituais e morais desta pobre terra portuguesa.
Os partidários do mas estão na nossa casa, sentam-se à nossa mesa, convivem connosco, são da forma do nosso pé. Os comunistas são o martelo pesado que tritura ou quebra; os partidários do mas são a água mole que chega a furar a pedra dura...
Que dizem os partidários do mas?
Dizem muitas e variadas coisas.
Mas há uma nota que, seja qual for a altura adoptada, todos usam, e reveste a forma destes raciocínios: — ir contra o Comunismo é favorecer a Alemanha; eu sou contra a Alemanha; logo, não sou contra o Comunismo; ou — ir contra o Comunismo é favorecer a Alemanha; logo, desejo que o Comunismo vença a Alemanha; ou — ir contra o Comunismo é favorecer a Alemanha, favorecer a Alemanha é ir contra a Inglaterra; eu sou pela Inglaterra; logo, não sou contra o Comunismo.
E é por isto, Santo Deus! que estamos divididos.
Eu raciocino desta forma. O Comunismo é inimigo da minha Pátria; depois de Deus, é a minha Pátria que eu amo acima de tudo; estarei, portanto, ao lado de quem combate o inimigo da minha Pátria.
É a Alemanha? Estou ao lado da Alemanha.
É a Inglaterra? Estou ao lado da Inglaterra.
É a China? Estou ao lado da China.
É a Hotentótia? Estou ao lado da Hotentótia.
Mas a Alemanha bate o Comunismo para chegar à Inglaterra.
A Inglaterra bate o Comunismo para chegar à Alemanha.
A China bate o Comunismo para chegar ao Japão.
A Hotentótia bate o Comunismo para chegar aos polinésios.
E eu a ralar-me.
O que eu quero é que me destruam o Comunismo — inimigo primacial da minha Pátria, isto é, da minha religião, da minha civilização, da minha forma de ser e viver.
Estou com quem o combate, não me interessando absolutamente nada a intenção de quem o combate; estou contra quem o favorecer, auxiliar ou proteger, seja lá quem fôr.
De cama, doente, tenho na minha presença dois médicos; um que é muito meu amigo desde a infância, outro com quem não simpatizo nada. Os dois médicos são inimigos um do outro; o primeiro, o meu amigo, não atina com a doença; não crê no diagnóstico que faz o segundo e, para chegar a este, para eliminar este, está a alimentar a doença. O segundo médico, para chegar ao primeiro, para diminuir o primeiro, para ganhar fama, para ganhar dinheiro, para o que quiserem, ataca a minha doença a fundo, e vence-a e salva-me.
Pode ser, se fôr tonto, que eu continue a ser amigo do primeiro. Mas o que é indiscutível é que serei eternamente grato ao segundo, que me livrou do mal.
Em 28 de Junho, escrevi: «É certo que a nova guerra germano-soviética é considerada pelos velhos beligerantes como simples modalidade ou fase da guerra germano-inglesa. Tenham eles o direito que lhes aprouver — que nada nos impede de nós termos o nosso critério.»
E para nós a guerra germano-soviética interessa-nos muitíssimo mais do que a guerra germano-inglesa. É mesmo ela a única que verdadeiramente pode interessar-nos. As repercussões do desfecho da guerra germano-inglesa na vida de Portugal são do domínio do possível ou do provável, em todo o caso, conjecturais.
As consequências do desfecho da guerra germano-soviética são, para nós, uma coisa certa e indiscutível: se o Comunismo é vencido, respiraremos e teremos diante de nós um futuro luminoso; se o Comunismo sai vencedor — é a catástrofe apocalíptica.
Alfredo Pimenta
(In «A Voz», n.º 5160, págs. 1/4, 20.08.1941)
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