segunda-feira, junho 27, 2005
NA MORTE DE UM AMIGO
O choque da notícia ainda, neste momento, me perturba. Faleceu o José Eduardo Correia de Barros. Não mais o verei, ali à mesa do Imperial, às vezes exaltado, outras vezes sorridente, comentando os acontecimentos e as personalidades; não mais o encontrarei a folhear livros na Tavares Martins, não mais confraternizarei com ele na dor deste país vilipendiado ou nas poucas jornadas de nostalgia nacionalista que ainda celebramos. Homem de amplos interesses culturais, de muito vasta leitura, não deixou obra escrita. Dele ficaram algumas caricaturas e quadros que discretamente mantinha no âmbito da família ou das amizades mais íntimas.
Militante nacional-sindicalista, acompanhou Rolão Preto na cisão, sendo duas vezes preso. Simplesmente, não tinha nele lugar o ressentimento. Achando, em 1933-34, o Estado Novo insuficientemente revolucionário, às primeiras heterodoxias do «Chefe» afastou-se imediatamente. Pactuar com a anti-nação não era para ele. Mantendo-se numa posição crítica de extrema-direita, aplaudia Salazar em tudo quanto era de interesse nacional, especialmente na defesa do Ultramar, onde o filho mais velho (que depois alinhou connosco no Movimento de Acção Portuguesa) combateu como simples soldado, nas ásperas picadas de Moçambique.
Monárquico de sempre, fiel aos princípios, horrorizavam-no uns tantos que se proclamavam sê-lo e não passavam de turiferários dos dogmas ridículos da revolução francesa.
Vivendo com dificuldades, numa existência modesta e sem ambições, nunca por interesses materiais renunciou a uma atitude de desassombro, nem procurou, sequer, as honrarias ou satisfações para a vaidade.
Viu outros com menos mérito do que ele alçapremarem-se a belos cargos e, a seguir, chegada a hora trágica do 25 de Abril, sumirem-se pela caixa de ponto, esquecendo-se de tudo o que tinham sido. Correia de Barros encolhia os ombros com desprezo. O seu estilo não era esse. Preferia a obscuridade e o risco a transigir, a abdicar, a tolerar o mal.
Legou-nos uma grande lição — uma lição de humildade, de firmeza e de carácter. Oxalá ela seja seguida.
António José de Brito
(In «A Rua», n.º 166, pág. 4, 08.09.1979)
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Militante nacional-sindicalista, acompanhou Rolão Preto na cisão, sendo duas vezes preso. Simplesmente, não tinha nele lugar o ressentimento. Achando, em 1933-34, o Estado Novo insuficientemente revolucionário, às primeiras heterodoxias do «Chefe» afastou-se imediatamente. Pactuar com a anti-nação não era para ele. Mantendo-se numa posição crítica de extrema-direita, aplaudia Salazar em tudo quanto era de interesse nacional, especialmente na defesa do Ultramar, onde o filho mais velho (que depois alinhou connosco no Movimento de Acção Portuguesa) combateu como simples soldado, nas ásperas picadas de Moçambique.
Monárquico de sempre, fiel aos princípios, horrorizavam-no uns tantos que se proclamavam sê-lo e não passavam de turiferários dos dogmas ridículos da revolução francesa.
Vivendo com dificuldades, numa existência modesta e sem ambições, nunca por interesses materiais renunciou a uma atitude de desassombro, nem procurou, sequer, as honrarias ou satisfações para a vaidade.
Viu outros com menos mérito do que ele alçapremarem-se a belos cargos e, a seguir, chegada a hora trágica do 25 de Abril, sumirem-se pela caixa de ponto, esquecendo-se de tudo o que tinham sido. Correia de Barros encolhia os ombros com desprezo. O seu estilo não era esse. Preferia a obscuridade e o risco a transigir, a abdicar, a tolerar o mal.
Legou-nos uma grande lição — uma lição de humildade, de firmeza e de carácter. Oxalá ela seja seguida.
António José de Brito
(In «A Rua», n.º 166, pág. 4, 08.09.1979)
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