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terça-feira, julho 26, 2005

O HOMEM QUE NASCEU DA SUA PÁTRIA 

Este espantoso homem do Vimieiro era um universalista e assim sendo pôde nas suas raízes mais fundas achar as virtudes admiráveis que vinham de longe e estavam adormecidas há tantos anos pelos narcóticos do caos e da desordem.
Nesse nosso Ocidente estava, com a paciência de um beneditino, nascendo e superando-se em si mesmo, um Homem...
Mas à sua volta era tudo silêncio, e ele vivia, soberbo e humilde, um futuro que haveria de encontrá-lo.
Estava preparando o milagre de acordo com o tempo, a pertinácia e a devoção como quem se escuta e sonda.
Era o alquimista e o monge nele a decantar o seu espírito, a preparar a sua vontade e a aperfeiçoar os seus dons.
Estava preparando a sua alma até à perfeição com a coragem dum herói e o recolhimento dum místico.
Quando o encontraram pelo esoterismo, a mais funda razão da existência desta Pátria, ele já estava perfeito, e o sublime sabia-o. Chegou então, e pelo princípio, certo, seguro, de certo modo endeusado, não por ele, mas por esses deuses que o conheciam bem, e por sua Alma ficaram nele, ficou Ele.
Que ele é já o seu próprio futuro, e a sua morte o aparecimento em plenitude dessa vida.
Com a aparição da sua sombra aconteceu que a luz a havê-lo se tornou mais clara e própria.
E o filtro que ele decantou decanta-o esse filtro que a Nação guarda para os seus eleitos.
Essa a razão e o segredo da sua luz ser agora mais cintilante e límpida, mais serena, mais particular e mais integrada.
Esse, este espantoso Homem do Vimieiro, foi desse jeito um universalista, cumprindo Portugal, a terra que o deu, e as naus e as velas que já o conheciam quando tentaram no mar o sonho de um Império a haver. Nascente por messianismo? Longínquo é o saber das coisas; distante é a verdade, e tudo isso faz o imenso, é tudo isso exactamente que o faz e torna esta nossa elegia grandiosa para o drama que a espera e há-de ser vencido até ao fundo. Sejamos pois cada vez mais nossos e da nossa verdade, que ela se encontrará o seu imenso para nos oferecer.
Tão poucos, assim tão poucos, mas que sonho os ampliava e tornava enormes, multiplicando-os em longe e aventura meditada? Era o esoterismo nacional, era o oculto ser esplendor e Luz? Eram suas carnes místicas com Espírito de missão subjacente a cumprir-se? Era a profecia a encontrar-se e a dar-se-lhe, a dá-los a eles mesmos, e a destinos assim, maiores que eles. Por isso iguais à sua raiz de origem, equivalendo-a...
É sempre, foi sempre uma espécie de epopeia secreta e oculta a insinuar-se como se, o que somos, antes estudasse a sua aparição e a realizasse.
Esse mais para além das Descobertas descobriu também com o mesmo sentido sibilino, a este Homem. Já pertencia ele à alma dos homens das naus, já ia nas velas, já velava tempestades, já sentia nos olhos a euforia da visão de aves promissoras. Ele, deuses, já era uma epopeia, que nós, homens do nosso Ocidente, temos de cumprir embora a alma ranja como tábuas de naus às ondas conhecidas, mas violentas.
Temos de levar o que rasgou a noite a sagrar-se dia e plenitude. Temos de consagrar a elegia da espada no Espírito, no Espírito Santo, que é também D. Sebastião, esse que, dando-nos a provação, quis provar-nos capazes de redimi-la. Tudo certo, tudo exacto, tudo de acordo com o que nas almas ascensionais estava escrito na hora da sua Ascenção.
E, nele, nesse Homem, tudo se cumpriu — e assim pôde haver à mão o leme de El-Rei Dom João Segundo que do Infante o herdara e transmitia...
Temo-lo hoje integrado no nosso Destino — cumpra-se pois o Espírito de missão e a sua força!...
Assim é que este homem do Vimieiro, iluminado, retábulo dele mesmo, com Portugal dentro dos olhos, e a entregar-lhe um futuro, foi um nacional-ecumenista. Foi, é e será!
A grande história humana prolongou sempre a vida dos criadores nos seus passos mais significativos. Portugal prolongou Portugal sempre — porque os seus Reis cumpriram indeclinavelmente essa verdade, não só na plenitude do que em sua alma estava escrito, mas sobretudo em tudo quanto nos seus homens de Estado foi a compreensão perfeita desse legado histórico que não poderia ser falseado pela razão simples de ter de ser continuado e cumprido. Era um Espírito de Missão que sacralmente, diga-se, não poderia ser poroso a tradições.
As grandes linhas mestras eram e hão-de ser, uma razão tão indiscutível que por ela o sangue português se tornou ímpar e Seu, com elas mesmas se identificando até sagrar-se Espírito Lusíada e sangue da própria Nação... Estes, a Ocidente, o nosso, consagrando a elegia da espada!!!...
António de Navarro
(In Política, n.º 14/15, 15/30.07.1971, pág. 12)

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