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segunda-feira, julho 11, 2005

Polémicas: sobre o “nacionalismo zoológico” 

Surgiu hoje no “Aliança Nacional” uma interessante reflexão de Manuel Brás (pessoa que não tenho o gosto de conhecer, mas cujo valor intelectual já me habituei a admirar) sob o título plural “Nacionalismos”.
Deixando embora a vénia merecida, atrevo-me a apresentar algumas reservas a certas considerações ali explanadas.
Escreve a dado passo Manuel Brás:
Tem sido, assim, possível identificar, pelo menos, dois tipos de nacionalismo: Um, que assenta na homogeneidade étnica, por identificação da Nação com etnia, e preconiza uma ética “nórdico-ariana”, tendo como consequências práticas o forte desencorajamento da miscigenação, para não dizer a crítica ou mesmo a condenação, e a disposição das etnias por territórios (europeus na Europa, africanos na África, semitas no Próximo Oriente).
Outro, que funda a Nação na História e a identifica, no terreno político, com o que mais se aproxima do Absoluto, sem se identificar com ele: o unum. A Nação como Ideia de uma comunidade política, fixada a determinado solo, com uma história política, uma missão e uma tradição
.”
O comentário que me ocorre desde logo é que não conheço nenhum pensamento nacionalista que identifique nação e etnia (seja lá isto o que for).
Sem analisar sequer o curioso projecto de parque natural que visaria arrumar os exemplares dentro dos respectivos habitats, delimitando os espaços físicos de cada “etnia”, outras questões me ocorrem.
Se a nação é um ente moral, como pode identificar-se com uma realidade biológica?
Se a nação é uma criação histórica, como pode situar-se a sua definição ao nível dos genes?
A que título poderemos chamar a D. Afonso Henriques “o rei fundador da nacionalidade” se a nacionalidade portuguesa se traduz na pertença a uma “etnia”?
Nesse caso a nacionalidade consiste num dado de facto, e nem se descortina maneira de situar a respectiva aparição ou extinção através de explicações históricas.
Em rigor, desde que fossem seguidas as normas sobre preservação das espécies as nações seriam sempre as mesmas.
Os portugueses seriam portugueses como os cangurus são cangurus e os linces da Malcata são linces. A sua condição nada teria a ver com vontades, passadas, presentes ou futuras, nem derivaria de qualquer factor que não fosse a realidade cromossómica.
Evidentemente que então fica-se sem saber quais as peripécias da evolução genética que fizeram de um português português, de um francês francês e de um italiano italiano. Torna-se necessário um novo Darwin, que explique a evolução de tais espécies, e se possível que localizasse no tempo o seu aparecimento para que pudéssemos continuar a celebrar, mas com mais rigor, os festejos fundacionais.
Em suma: não parece possível a existência de qualquer nacionalismo fundado em “homogeneidade étnica”. Isso é um materialismo rácico, um positivismo do sangue, que nunca foi perfilhado por ninguém que proclame a nação como o supremo valor na ordem temporal (como fazer coincidir a noção de valor com um dado biológico?).
Não existe nem nunca existiu esse nacionalismo zoológico; e se o Manuel Brás reparar melhor até observará facilmente que aqueles que se perfilam a homenagear tais “homogeneidades étnicas” logo continuam com ferozes declarações de inimizade às nações existentes. Com inteira lógica, uma vez que tais posições implicam a desintegração das nações e não a exaltação da Nação como Valor.

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