segunda-feira, julho 25, 2005
A PROPÓSITO DUMA HOMENAGEM
Poucas vezes tenho sentido o nobre orgulho de manejar a minha modesta caneta de escritor, quase exilado, como neste momento em que me foi dada a honra de colaborar nesta homenagem a Alfredo Pimenta.
Tarefa sedutora, porque dela não anda afastado o risco, pois Alfredo Pimenta, no nosso País, ainda é um assunto perigoso: encargo nobilitante, pois só pode ser bem desempenhado por quem possua elevado espírito de justiça; missão intelectual por excelência, porque se trata de servir o Pensamento, nas suas esferas mais altas; dever de sensibilidade, porque se é chamado a dar exemplo e estímulo de melhor compreensão do exacto valor dos homens, e principalmente daqueles que, como Alfredo Pimenta, alcançaram aquela altura que aparece esfumada e de difícil interpretação, aos que não puderam libertar-se dos pesados grilhões da mediocridade.
Era tempo de prestar a Alfredo Pimenta este testemunho de simpatia humana e admiração intelectual, porque é tempo de iniciar o esforço, a sério, de renovar os nossos costumes e elevar o nível da nossa vida mental e social.
Assim se presta, também, um grande serviço ao País.
Nada é possível, em qualquer domínio, numa sociedade, enquanto ela permanecer incapaz de reconhecer os seus homens de valor, precisamente aqueles que dão a medida do prestígio a que ela pode ascender no convívio das nações.
Em Alfredo Pimenta, a vida mental atinge tais virtudes que bem pode classificar-se de ascetismo a sua existência votada à dignidade de servir a Cultura e o País.
E tão bem vincada é essa sua singular posição na vida cultural portuguesa que, como em todo o isolamento ascético, não lhe tem faltado as lutas gigantescas contra terríveis demónios. Estes, ora tomam a forma de montões de lama, que tanto devem ter ferido a sua sensibilidade de fino cultor de estética; ora assumem o aspecto da mais densa calúnia que tão dolorosamente afectam a sua paixão pela Verdade; ora se revestem da grosseira materialização das inimizades plebeias que tanto devem ter torturado as suas predilecções de verdadeiro aristocrata, que se compraz nas delicadezas do mais requintado convívio.
Assim, sem a menor sombra de exagero, a sua vida de escritor, é uma existência de pertinaz calvário.
Tudo o que havia de obscuro na nossa História ele procurou tornar claro, mercê de um paciente e gigantesco labor, que só por si, honra uma época no que ela poderia honrar-se, se a leviana agitação em que se consome lhe permitisse votar-se à Erudição.
E por cada Verdade conquistada, para enriquecimento e glória do País, alcançou como prémio, a injúria.
Por cada rectificação da História, uma nova deformação da sua vida de escritor era a recompensa obtida.
Por cada esforço para a explicação dos motivos da nossa glória, mais densa se tornava a incompreensão com que o envolviam e o isolavam, amesquinhando-se assim a sua nobre figura de infatigável investigador.
Na política, o mesmo impressionante desencontro entre o mérito e a recompensa.
Tudo o que no republicanismo se pode evocar de mais nobre, como ideal, como anseio de participação do Povo nas dificuldades do Poder, Alfredo Pimenta o exaltou com a eloquência de poeta e o defendeu com o ardor dos grandes tribunos.
E o Povo, e os republicanos, crivaram-no de insultos.
Tudo o que a Monarquia pode oferecer como construção ideológica, às exigências de um verdadeiro intelectual, ele o definiu com a faiscante clareza de um doutrinário, em páginas que um dia haverão de figurar nas antologias de pensadores monárquicos.
E muitos monárquicos se malquistaram com ele, recusando-se a subir a tão elevada noção de servir a Pátria e a Realeza!
Deplorável manifestação de inferioridade de uma época que de tal modo se compraz em diminuir o valor, em negar a altura, que se rebaixa a desconhecer as melhores páginas de um escritor, porque ele usa luvas que ofendem a concepção plebeia da democracia, ou se envolve numa capa que o singulariza irritando o gosto igualitário da massa achatada pelo rolar da existência mecanizada!
Ora é preciso que isto acabe, ou pelo menos que se diga aos filhos de uma época tão barbarizada:
Basta! Fazei o que quiserdes mas não consentimos a vossa intromissão nos domínios da Inteligência.
Não toleramos, para honra da cultura portuguesa, que se continue a maltratar um homem que é a glória do nosso tempo, que é o orgulho da nossa Historiografia, e que noutra sociedade mais sensível à verdadeira Elegância, ao verdadeiro Gosto, e à verdadeira vida do Espírito, não teria a menor dificuldade em ver na figura inconfundível de Alfredo Pimenta, uma das mais raras compleições de artista, e de pensador porque ele soube fazer da sua existência uma obra-prima de Sacrifício, de Trabalho, de Pensamento e de delicada emoção, porque, nele, o pensador, o historiador, o jornalista, não extinguiram o Poeta, nem o isolamento, a vilania, a inquietação e a incompreensão sistemáticas, amorteceram a fina afabilidade que distingue o homem superior, que se apoia na Fé, no Bem e na Beleza.
Eduardo Frias
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Tarefa sedutora, porque dela não anda afastado o risco, pois Alfredo Pimenta, no nosso País, ainda é um assunto perigoso: encargo nobilitante, pois só pode ser bem desempenhado por quem possua elevado espírito de justiça; missão intelectual por excelência, porque se trata de servir o Pensamento, nas suas esferas mais altas; dever de sensibilidade, porque se é chamado a dar exemplo e estímulo de melhor compreensão do exacto valor dos homens, e principalmente daqueles que, como Alfredo Pimenta, alcançaram aquela altura que aparece esfumada e de difícil interpretação, aos que não puderam libertar-se dos pesados grilhões da mediocridade.
Era tempo de prestar a Alfredo Pimenta este testemunho de simpatia humana e admiração intelectual, porque é tempo de iniciar o esforço, a sério, de renovar os nossos costumes e elevar o nível da nossa vida mental e social.
Assim se presta, também, um grande serviço ao País.
Nada é possível, em qualquer domínio, numa sociedade, enquanto ela permanecer incapaz de reconhecer os seus homens de valor, precisamente aqueles que dão a medida do prestígio a que ela pode ascender no convívio das nações.
Em Alfredo Pimenta, a vida mental atinge tais virtudes que bem pode classificar-se de ascetismo a sua existência votada à dignidade de servir a Cultura e o País.
E tão bem vincada é essa sua singular posição na vida cultural portuguesa que, como em todo o isolamento ascético, não lhe tem faltado as lutas gigantescas contra terríveis demónios. Estes, ora tomam a forma de montões de lama, que tanto devem ter ferido a sua sensibilidade de fino cultor de estética; ora assumem o aspecto da mais densa calúnia que tão dolorosamente afectam a sua paixão pela Verdade; ora se revestem da grosseira materialização das inimizades plebeias que tanto devem ter torturado as suas predilecções de verdadeiro aristocrata, que se compraz nas delicadezas do mais requintado convívio.
Assim, sem a menor sombra de exagero, a sua vida de escritor, é uma existência de pertinaz calvário.
Tudo o que havia de obscuro na nossa História ele procurou tornar claro, mercê de um paciente e gigantesco labor, que só por si, honra uma época no que ela poderia honrar-se, se a leviana agitação em que se consome lhe permitisse votar-se à Erudição.
E por cada Verdade conquistada, para enriquecimento e glória do País, alcançou como prémio, a injúria.
Por cada rectificação da História, uma nova deformação da sua vida de escritor era a recompensa obtida.
Por cada esforço para a explicação dos motivos da nossa glória, mais densa se tornava a incompreensão com que o envolviam e o isolavam, amesquinhando-se assim a sua nobre figura de infatigável investigador.
Na política, o mesmo impressionante desencontro entre o mérito e a recompensa.
Tudo o que no republicanismo se pode evocar de mais nobre, como ideal, como anseio de participação do Povo nas dificuldades do Poder, Alfredo Pimenta o exaltou com a eloquência de poeta e o defendeu com o ardor dos grandes tribunos.
E o Povo, e os republicanos, crivaram-no de insultos.
Tudo o que a Monarquia pode oferecer como construção ideológica, às exigências de um verdadeiro intelectual, ele o definiu com a faiscante clareza de um doutrinário, em páginas que um dia haverão de figurar nas antologias de pensadores monárquicos.
E muitos monárquicos se malquistaram com ele, recusando-se a subir a tão elevada noção de servir a Pátria e a Realeza!
Deplorável manifestação de inferioridade de uma época que de tal modo se compraz em diminuir o valor, em negar a altura, que se rebaixa a desconhecer as melhores páginas de um escritor, porque ele usa luvas que ofendem a concepção plebeia da democracia, ou se envolve numa capa que o singulariza irritando o gosto igualitário da massa achatada pelo rolar da existência mecanizada!
Ora é preciso que isto acabe, ou pelo menos que se diga aos filhos de uma época tão barbarizada:
Basta! Fazei o que quiserdes mas não consentimos a vossa intromissão nos domínios da Inteligência.
Não toleramos, para honra da cultura portuguesa, que se continue a maltratar um homem que é a glória do nosso tempo, que é o orgulho da nossa Historiografia, e que noutra sociedade mais sensível à verdadeira Elegância, ao verdadeiro Gosto, e à verdadeira vida do Espírito, não teria a menor dificuldade em ver na figura inconfundível de Alfredo Pimenta, uma das mais raras compleições de artista, e de pensador porque ele soube fazer da sua existência uma obra-prima de Sacrifício, de Trabalho, de Pensamento e de delicada emoção, porque, nele, o pensador, o historiador, o jornalista, não extinguiram o Poeta, nem o isolamento, a vilania, a inquietação e a incompreensão sistemáticas, amorteceram a fina afabilidade que distingue o homem superior, que se apoia na Fé, no Bem e na Beleza.
Eduardo Frias
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