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domingo, julho 31, 2005

TUDO CORRE PELO MELHOR NO MELHOR DOS MUNDOS POSSÍVEL? 

Verdadeiramente, não percebo. O que se pretende que julguemos, que digamos, que se faça? Trata-se de buscar avanço e melhoria, de apontar deficiências, erros e esquecimentos, de multiplicar esforços construtivos — ou de ficar, muito satisfeitos, a olhar «como boi para palácio»? Reina por aí um coitério mirífico, uma vaidade e uma soberba diluvianas, uma ultra-sensibilidade de delíquios, e certas pessoas consideram-se, decerto, infalíveis como se fossem Deus Nosso Senhor ou, pelo menos, o Papa em matéria de dogma, consideram-se intocáveis como leprosos ou superbrâmanes, e não deixam que lhes batam nem sequer com uma flor. E se alguém se atreve a quebrar a ordem, chata e chacha, lá vêm as ordens chuchas de enxota! Se alguém busca trazer nova impulsão, lá rábida se corcova a impressão e, preste, se despenha uma pressão. As coisas vão amolecendo, a fé vai-se apagando, a ousadia e a coragem vão-se diluindo, os enganos e as falhas vão fazendo monte, os interesses pessoais e o prestígio de penacho e balão constituem enchente ou marabunta, e o monstro da reacção aburguesada e exploradora incha, engorda, hidrópico, refastelado, nos gabinetes de oiro a maçonaria estende antenas, patas e mandíbulas, reforça teias, presta favores mútuos e erige-se em ídolo de pedra e cal.
Nós não somos agentes de subversão, não queremos destruir o Estado, nem desarticular o poder, nem retalhar a Pátria, nem subjugar a Nação a domínios estrangeiros ou a modas demissionárias, nem sugar o Bem-Comum com interesses pessoais. Pelo contrário. Nós queremos criticar em nome de boa doutrina, em nome dos princípios e da eficácia. Nós queremos auxiliar a tarefa dos governantes, esclarecendo, informando, reclamando a fidelidade e a continuidade da Revolução (ou o retorno a ela). Há muita realização valiosa, certa, justa. Mas não estamos aqui para louvaminhas. Defendemos e defenderemos o Estado contra os inimigos da Autoridade, da Ordem Revolucionária, da Nação. Por isso mesmo e para isso mesmo, desejamos dizer que, livres de quaisquer pessimismos niilistas, não nos sujeitamos ao encómio rotineiro nem à lisonja beata. Porque não e não: as coisas não correm pelo melhor dos mundos possível.
Goulart Nogueira
(In Agora – n.º 332, pág. 1, 25.09.1967)

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