terça-feira, setembro 06, 2005
MONARQUIA
«...Quando preconizo, pois, o restabelecimento da Monarquia tradicional, e o encerramento do ciclo republicano, quer dizer, o restabelecimento do sistema de governo que nos une e congrega, sob a direcção do Rei, que o é, pelo imperativo da História e do instinto nacional, e o encerramento do sistema que nos desune, e nos atira uns contra os outros, por força do seu princípio substancial — a maioria manda, senhora absoluta, e a minoria obedece, escrava algemada - quando, repito, preconizo o restabelecimento da Monarquia e a eliminação da República, faço-o, não contra este ou aquele, ou a favor deste ou daquele, mas unicamente tendo em vista o interesse da Nação, e procurando garantir o futuro.
E porque, como mais duma vez o tenho afirmado, não são propriamente os homens que me preocupam, mas sim os sistemas — a Monarquia que preconizo, e que é a única viável e digna, visa, não as situações pessoais de A ou B, mas a Nação inteira, na sua paz interna e no seu prestígio externo.
Compreendo muito bem que as pessoas, ainda não libertas de paixões, ainda não identificadas com a seriedade que Salazar teima em imprimir aos assuntos da Política portuguesa, não vejam na Monarquia ou na República outra coisa que não seja a sua substituição ou a sua permanência nos lugares públicos ou particulares em que estão colocados. É humano. E eu lido com homens, e falo para homens. Mas seria um crime repetir-se 1834 ou 1910!
Não. A Monarquia que preconizo; aquela porque me bato; aquela que defendo e desejo; a que está no meu espírito e nas minhas intenções; aquela que aponto à Nação, como necessária, indispensável e urgente, não virá perturbar a vida de cada um. Quem está está, e deixa-se estar. É para todos que ela se faz. Não é bodo que se distribui ou roda da lotaria que se põe a girar: é muito simplesmente o sistema de governo português, tradicional, com sete séculos de existência contínua.
Quem está está, e deixa-se estar.
A Monarquia faz-se, para continuar e assegurar uma obra governativa — a obra de Salazar, no plano espiritual e no plano temporal, e nunca para apertar o cinto de uns, e alargar o cinto de outros. A Monarquia é superior aos interesses presentes de quem quer que seja, porque não tem clientelas a sustentar, votos a pagar, defensores a manter.
Quem está está, e deixa-se estar.
À Monarquia não interessa a situação pessoal dos que estão, nem as ambições dos que também querem estar — porque não é um Partido, nem quer ser um Partido, nem pode ser um Partido, sob pena de se abastardar, e falsificar, e negar a si própria.
A Monarquia constitucional foi um Partido; a República é um Partido. A Monarquia é o Estado integrado na Nação — porque cumpre não esquecer que foi a Monarquia que fez Portugal.
Antes de 1834, a Monarquia não era Monarquia deste ou Monarquia daquele; Monarquia assim ou Monarquia assado; era Monarquia.
Em 1834, passou a ser, em vez de Monarquia — a Monarquia liberal ou Monarquia constitucional — logo, partidária.
Em 1910, estabeleceu-se a República — que é a consagração solene do Partidarismo ou da Desunião nacional.
A Monarquia, que o interesse nacional reclama imperativamente e urgentemente, é a Monarquia que continua, em evolução normal, a Monarquia tradicional que vem desde o século XII até ao alvorecer do século XIX: católica, anti-parlamentar, anti-liberal, anti-revolucionária.
Só conhecerá e reconhecerá portugueses. E assim — quem está está, e deixa-se estar.
A Monarquia é um sistema de governo: nem é tcheka expiatória, nem asilo de entrevados, ou caldo conventual. Saibam-no todos, para que não haja decepções.
De resto, nem mesmo haveria explicação para que as coisas fossem outras: somos tão poucos, os que estamos a sustentar a ideia monárquica e a afirmar a sua legitimidade e necessidade, que facilmente nos sumiremos amanhã, por pudor e nobreza, e a Monarquia não terá ninguém, legitimamente, a alegar serviços...
Como se vê, o que nos inspira a nós outros que combatemos pelo Rei, não é o desejo de malfazer a este, para satisfazer aquele: o que nos inspira é a vontade inflexível de garantir o futuro, de assegurar ao realizado continuidade e desenvolvimento e de concluir o que tão auspiciosamente se começou; o que nos inspira é o propósito formal de obstar a que se regresse ao século de anarquia dissolvente e desnacionalizadora que vem de 1820 a 1926, e de concorrer para que se encerre de vez o ciclo liberal e anti-português que se abriu na primeira das duas datas.
Quanto às pessoas, mais vítimas dos sistemas do que autores dos desregramentos, essas ficarão onde se encontrarem, porque não é para as remover que a Monarquia se faz.
Os interesses criados, as situações actuais de cada um nada têm com a Monarquia que não vem para fazer queixosos, nem para provocar louvores de lacaios fortes.
Ela vem para servir, no plano alto do Interesse nacional, o Passado e o Futuro da Nação.»
Alfredo Pimenta
(In Palavras Claras, «A Voz», n.º 5333, pág. 5, 08.01.1942)
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E porque, como mais duma vez o tenho afirmado, não são propriamente os homens que me preocupam, mas sim os sistemas — a Monarquia que preconizo, e que é a única viável e digna, visa, não as situações pessoais de A ou B, mas a Nação inteira, na sua paz interna e no seu prestígio externo.
Compreendo muito bem que as pessoas, ainda não libertas de paixões, ainda não identificadas com a seriedade que Salazar teima em imprimir aos assuntos da Política portuguesa, não vejam na Monarquia ou na República outra coisa que não seja a sua substituição ou a sua permanência nos lugares públicos ou particulares em que estão colocados. É humano. E eu lido com homens, e falo para homens. Mas seria um crime repetir-se 1834 ou 1910!
Não. A Monarquia que preconizo; aquela porque me bato; aquela que defendo e desejo; a que está no meu espírito e nas minhas intenções; aquela que aponto à Nação, como necessária, indispensável e urgente, não virá perturbar a vida de cada um. Quem está está, e deixa-se estar. É para todos que ela se faz. Não é bodo que se distribui ou roda da lotaria que se põe a girar: é muito simplesmente o sistema de governo português, tradicional, com sete séculos de existência contínua.
Quem está está, e deixa-se estar.
A Monarquia faz-se, para continuar e assegurar uma obra governativa — a obra de Salazar, no plano espiritual e no plano temporal, e nunca para apertar o cinto de uns, e alargar o cinto de outros. A Monarquia é superior aos interesses presentes de quem quer que seja, porque não tem clientelas a sustentar, votos a pagar, defensores a manter.
Quem está está, e deixa-se estar.
À Monarquia não interessa a situação pessoal dos que estão, nem as ambições dos que também querem estar — porque não é um Partido, nem quer ser um Partido, nem pode ser um Partido, sob pena de se abastardar, e falsificar, e negar a si própria.
A Monarquia constitucional foi um Partido; a República é um Partido. A Monarquia é o Estado integrado na Nação — porque cumpre não esquecer que foi a Monarquia que fez Portugal.
Antes de 1834, a Monarquia não era Monarquia deste ou Monarquia daquele; Monarquia assim ou Monarquia assado; era Monarquia.
Em 1834, passou a ser, em vez de Monarquia — a Monarquia liberal ou Monarquia constitucional — logo, partidária.
Em 1910, estabeleceu-se a República — que é a consagração solene do Partidarismo ou da Desunião nacional.
A Monarquia, que o interesse nacional reclama imperativamente e urgentemente, é a Monarquia que continua, em evolução normal, a Monarquia tradicional que vem desde o século XII até ao alvorecer do século XIX: católica, anti-parlamentar, anti-liberal, anti-revolucionária.
Só conhecerá e reconhecerá portugueses. E assim — quem está está, e deixa-se estar.
A Monarquia é um sistema de governo: nem é tcheka expiatória, nem asilo de entrevados, ou caldo conventual. Saibam-no todos, para que não haja decepções.
De resto, nem mesmo haveria explicação para que as coisas fossem outras: somos tão poucos, os que estamos a sustentar a ideia monárquica e a afirmar a sua legitimidade e necessidade, que facilmente nos sumiremos amanhã, por pudor e nobreza, e a Monarquia não terá ninguém, legitimamente, a alegar serviços...
Como se vê, o que nos inspira a nós outros que combatemos pelo Rei, não é o desejo de malfazer a este, para satisfazer aquele: o que nos inspira é a vontade inflexível de garantir o futuro, de assegurar ao realizado continuidade e desenvolvimento e de concluir o que tão auspiciosamente se começou; o que nos inspira é o propósito formal de obstar a que se regresse ao século de anarquia dissolvente e desnacionalizadora que vem de 1820 a 1926, e de concorrer para que se encerre de vez o ciclo liberal e anti-português que se abriu na primeira das duas datas.
Quanto às pessoas, mais vítimas dos sistemas do que autores dos desregramentos, essas ficarão onde se encontrarem, porque não é para as remover que a Monarquia se faz.
Os interesses criados, as situações actuais de cada um nada têm com a Monarquia que não vem para fazer queixosos, nem para provocar louvores de lacaios fortes.
Ela vem para servir, no plano alto do Interesse nacional, o Passado e o Futuro da Nação.»
Alfredo Pimenta
(In Palavras Claras, «A Voz», n.º 5333, pág. 5, 08.01.1942)
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