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domingo, outubro 30, 2005

O GREMIALISMO INTEGRALISTA ANTECEDEU O CESARISMO SOCIALISTA DO FASCISMO 

Quem quer que procure referir-se acidental ou superficialmente a determinado período, instituição, movimento de ideias ou sucessão de acontecimentos, começa por, melancolicamente, afirmar que a sua história está por fazer. Esta afirmação é um lugar-comum.
É um lugar-comum tranquilizante da maior ou menor noção de responsabilidade do articulista, se é que a tem: por ele se justifica a fuga ao trabalho em profundidade, sem obliterarmos deliberadamente o que nele de verdade se contém.
Entendamo-nos, se não me fiz compreender: a história, tanto a remota como a contemporânea, está sempre feita, e está sempre por fazer. Os homens são quem a faz, a interpreta, a escreve, a repete, a deturpa, a falsifica, a escamoteia e até a rasga ou varre dos arquivos e da memória quando ela se não coaduna com as suas ideologias e os seus prementes interesses. Tem sido assim em todos os tempos. Mas nos sinistros que estamos vivendo, atinge-se o supremo grau da ignomínia, da mais larvada e inconcebível desfaçatez.
E a tal ponto que - para homologar na barafunda do agiornamento compromissos que vinham de longe - se praticaram no Concílio Vaticano II e se estão praticando no Sínodo Episcopal em curso, os mais nefandos pecados contra o Espírito Santo: a contradição da verdade reconhecida por tal. Quando se aceita, para base de rectificações e renovações teológicas e litúrgicas, a inverosímil e estúpida lenda dos seis milhões de judeus exterminados pelo Nacional-Socialismo - tudo se torna possível, as próprias vestes sagradas se deixam enxovalhar pela mentira e conspurcar pela crápula. Ao parlamento episcopal, ora decorrente em Roma, vai ser - ao que se afirma - submetida a questão premente e candente do condicionamento da natalidade e da licitude dos abortivos ou anti-conceptivos. Se o Santo Padre não refreia as bestas do Apocalipse que tão livremente escoiceiam as muralhas da Fé, bem pode sair dali, para alívio de uns e justificação de outros, alguma nova, alguma sacrílega jaculatória.
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Os últimos sessenta anos, tanto nacional como internacionalmente, podem dividir-se - arbitrariamente, como, aliás, todos os parcelamentos ou emparcelamentos históricos - em dois períodos de aproximadamente trinta anos. O primeiro vai da fugaz ditadura de João Franco ao ponto culminante e decisivo da Guerra da Libertação de Espanha. O segundo remonta à génese, condução e consequências da segunda deflagração mundial provocada deliberadamente pelo semitismo plutocrático e pelo comunismo arrogante: é a guerra ao Fascismo esmagado e sempre redivivo; é a guerra que não terminou no satânico massacre de Hiroshima e Nagasaki nem nas depurações, genocídios e caçadas aos vencidos que se prolongam até ao presente; é aquela guerra de que Salazar disse - enquanto funcionavam as forcas em Nuremberga e as execuções sumárias por toda a Europa - ter sido mal declarada, pior conduzida e catastroficamente rematada...
Em 1907, a democracia política e o liberalismo económico constituíam o sistema universal de governo dos povos. À parte as ainda tímidas e pouco divulgadas doutrinas da Action Française, não se vislumbra qualquer vigoroso impulso de reacção contra a hegemonia macónico-liberal. Pelo contrário tendo caducado, mais ou menos ostensivamente e por toda a parte, as leis liberalistas que haviam abolido os grémios de artes e ofícios, as novas associações de trabalhadores surgiam como organismos da classe trabalhadora, como clubes do socialismo, primeiro, como baluartes inexpugnáveis do marxismo, tão depressa a segunda Internacional lhe entregou os comandos da Confederação Geral do Trabalho.
Cristalizando, o liberalismo entrava em decadência irreversível, mas a democracia, seu expoente político, não se resignava a uma decrepitude que pressagiava a morte. Para sobreviver, teve de insuflar de marxismo todos os partidos e movimentos de sentido radical ou revolucionário ainda saudosos dos tempos heróicos do bolivarismo e do garibaldismo.
Foi neste ambiente de radicalismo gambettiano que se formou e preparou para a insurreição o neo-jacobinismo dos republicanos triunfante em 5 de Outubro: das lojas recebiam a inspiração; das associações de classe o apoio; das choças de carbonários o incentivo para a intolerância e a violência.
Toda a legislação da ditadura revolucionária de 1910-1911 está impregnada do mais corrosivo anticolonialismo. Mais que os decretos em que se abalavam os fundamentos da família e da propriedade, de inequívoca inspiração marxista - e posto que, na prática, o catolicismo fosse menos que a sombra de uma força - foram as tigrinas repressões e arbitrários entraves ao culto livre da religião o que mais contribuiu para fomentar uma reacção que poucos anos depois criaria núcleos de estudo e de acção consciencializadores do Nacionalismo integral.
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Quando a primeira Grande Guerra eclodiu, não foi difícil verificar que, pelo menos do lado dos aliados ocidentais, se erguia um paredão ideológico contra o qual deveriam baquear todos os adversários (e já então eram muitos) da democracia: a sua vitória sobre os impérios centrais (cujas instituições, aliás, eram igualmente democráticas...) concedeu-lhes poderes discricionários para retalharem e subjugarem o mundo. Desse mundo imaginário à imagem e semelhança da maçonaria, escapava-se irremediavelmente a Rússia.
O marxismo ali implantado e consolidado, ao mesmo tempo que fomentava a subversão do caduco mundo liberalista, inspirava igualmente o advento de movimentos de legítima defesa naqueles povos que, tendo suportado as sevícias democráticas, não estavam dispostos a deixarem-se aniquilar pela revindicta do comunismo.
Onde a injustiça era maior, mais brava e fulminante foi a reacção. O semitismo todo poderoso e senhor de quase todas as alavancas do Estado, não permitiu que essa reacção tomasse vulto na Alemanha, logo a seguir ao diktat de Versalhes. Só por isso o Fascismo, como doutrina de ordem política e de justiça social, teve o seu advento na Itália, enquanto a judiaria internacional negociava nos corredores do Vaticano a excomunhão da Action Française.
Não pode negar-se que a doutrinação de Maurras e dos outros catedráticos do Nacionalismo francês actuou em alguns casos como catalisadora do pensamento dos fundadores e vulgarizadores do Integralismo Lusitano. É preciso notar, porém, que este - ao contrário do Nacional-Socialismo e do Fascismo - era um movimento de ideias, e não um desfile de milícias ou uma algarada de massas.
Quando quis ser, isto é, quando alguém criado nas suas fileiras, (onde, se não houvera ousadia para restaurar as instituições tradicionais, o Verbo actuara eficazmente na restauração da Inteligência...) tentou sair à rua e galvanizar cortes encamisadas e militarizadas numa tradução portuguesa e barata do Nacional-Socialismo então a caminho do triunfo - era tarde. Era tarde porque a Nação já nessa altura reconhecia como o seu único chefe a Salazar.
Era tarde também porque os defuntos partidos demo-parlamentares, varridos mas não convencidos da actividade política que só clandestinamente podiam exercer, ainda nesse ano de 1931 reincidiam nas suas tentativas insurreccionais de 1927 e 1929, agora precisamente quando a Revolução de 28 de Maio ia institucionalizar-se na lei orgânica da Nação, no estatuto constitucional que com ligeiras alterações, rege, com não menor eficácia do que qualquer Constituição em qualquer outro país, as relações entre o Estado e os cidadãos...
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É natural que o cesarismo socialista preconizado por Oliveira Martins nas conclusões do seu "Portugal Contemporâneo", e tão auspiciosamente estabelecido e organizado em Itália pelo génio romano de Mussolini, conferisse certa homogeneidade, para não dizer unidade, nas directrizes revolucionárias que fizeram triunfar o Movimento Nacional de 28 de Maio. Já então o Fascismo tinha quatro anos de vida desafogada e próspera. Mas a revolução na inteligência portuguesa precedera de quase uma dezena de anos o advento do Fascismo. O novo nacionalismo, embora de pés bem assentes na tradição e nas verdades eternas, advogava um neo-gremialismo ou corporativismo mais livre e flexível do que as Confrarias de Artes e Ofícios da Idade Média e infinitamente mais humano do que os ergástulos profissionais dos Colégios Romanos ou das Confederações Gerais do Trabalho dos nossos dias.
Não é de admirar, portanto, que já durante o consulado de Sidónio Pais (cinco anos antes da Marcha sobre Roma!) alguns postulados do Integralismo Lusitano merecessem a melhor compreensão e acolhimento do seu governo. Um crime monstruoso, seguido das reacções e contra-reacções dos primeiros meses de 1919 e prolongadas até 19 de Outubro de 1921, afogaram em sangue essas primeiras e esperançosas experiências. Mas o ideal da reestruturação nacional pelo gremialismo ou corporativismo radicara-se tão fortemente no nosso nacionalismo, que nem as querelas dinásticas nem os melindres pessoais dos seus doutrinadores, relegados para um injusto ostracismo por um movimento puramente militar, apagaram ou esmoreceram o ímpeto convincente e a força ascensional.
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Não teria sido profunda, mas seria estultícia negar a influência que entre nós - como, aliás, em todo o mundo - exerceu o Fascismo e o Nacional-Socialismo, e, com a derrota militar destes, o marxismo, único e verdadeiro triunfador da guerra antifascista.
À vitória pelas armas, porém, nem sempre corresponde uma decisiva vitória política: a Santa Aliança derrotou a França da Revolução, e, no entanto, o século XIX foi, por excelência, o século da democracia e do liberalismo...
Essa influência de sinal positivo entre os anos 30 e 40, rodou para o quadrante negativo quando todos os meios de propaganda, de informação e de pressão e repressão foram utilizados contra os defensores da Europa. Os vingativos vampiros que tanto sangue fascista beberam nos primeiros dois anos que se seguiram à vitória do comunismo, do semitismo e do sacristianismo, não lograram nessa altura beber o nosso. Mas os vampiros não nos perdoaram nunca o auxílio que prestámos à Espanha na gesta incomparável da sua libertação. Essa dívida de sangue é a que há sete anos estamos pagando nas nossas províncias ultramarinas.
Até quando? Só Deus o sabe. ...Apesar das ameaçadoras nuvens que de todos os lados se erguiam contra o seu império, Mussolini afirmou um dia que o século XX seria o século do fascio. O Duce, porém, era um chefe político, não era um profeta, e nenhum outro futuro próximo se espera na Itália que não seja o do comunismo, em cujas mãos já todos os poderes, incluindo os espirituais, se encontram...
Mesmo assim, e por mais árdua que seja a tarefa, o Nacionalismo português espera e confia. Confia na sua força e na força de um destino sobre-humano que lhe franqueia as portas de uma nova missão universalista. Espera a nova primavera de juventude e de beleza que perfumou de esperança a mais digna e generosa de todas as gerações.
César de Oliveira
(In «Agora», n.º 329, 04.11.1967, pág. 10)

1 Comentários
Comments:
Este não é César o alcoólico, amigo do PR, combatente anti-fascista, historiador celebrado por Abril, pois não?
 
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