domingo, novembro 27, 2005
REGISTOS DE LEITURA D`UM ARISTOCRÍTICO
«PARA UMA GENEALOGIA CULTURAL DE BASE NACIONAL-UNIVERSALISTA»
(Guião geral, muito sumário)
Tópicos e subsídios de formação e orientamento, propostos a destino.
Entre os vultos do pensamento indígena que mais fundo — e a fundo — me marcaram, importa pôr aqui de manifesto os forjadores daquele espírito nacional-universalista que inflamou, durante séculos, Portugal, e O tangeu e espraiou por meio-mundo e outro meio.
Foi à luz vivificante desse espírito, e gracinhas a ele, que todos nós por largo tempo nos persignámos — em nome do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste —, assim na terra como no mar.
Aos grandes dispensadores e intérpretes desse espírito, não fiquei eu, realmente, a dever pouco: assim com`assim, bastará talvez dizer que me ensinaram eles a sentir em português o que não é de sentir senão em português, e a pensar em português o que só em português pode e deve ser pensado.
Inscrevem-se nesse número e estão nesse caso: o Gil Vicente da «Exortação da Guerra» e o Camões d`«Os Lusíadas»; os escritos quinto-imperiais do Padre António Vieira; o José Agostinho de Macedo de «A Besta Esfolada», e nem só...; toda — mas toda! — a teoria legitimista declarada a público por meu primo-avô Ribeiro Saraiva; as páginas miguelistas de Camilo e anti-pombalinas páginas do mesmíssimo Camilo; o António Sardinha de «Valor da Raça», «Durante a Fogueira», «A Prol do Comum» e «Na Feira dos Mitos»; o Afonso Lopes Vieira da «Nova Demanda do Graal» e não só...; o Carlos Malheiro Dias da «Exortação à Mocidade»; muita da doutrinação contra-revolucionária de Fernando Pessoa; os pensamentos, palavras e obras produzidos por Salazar depois de ser Poder; as Cartas Pastorais de Cerejeira; todo o soberbo magistério político e ideológico que foi desenvolvido por Alfredo Pimenta nos últimos doze, treze anos de vida (das páginas d`«A Esfera» e d`«A Nação Portuguesa» aos derradeiros opúsculos, diatribes e libelos); o Miguel Torga dos «Poemas Ibéricos»; a poesia toda e toda (ou quase toda) a prosa de Goulart Nogueira; o «Destino do Nacionalismo Português», de António José de Brito, e os seus «Diálogos de Anti-Democrática», o Carlos Eduardo de Soveral de «Lanças n`África», e nem só...; a obra poética integral de António Manuel Couto Viana; e o etc;... da praxe (mais magro, porém, do que é costume).
Mas outros grandes guias tenho eu tido em meu caminho, e que não só me saíram ao comum, como até, inclusive, o talharam, de forma a eu poder romper por a eito e a direito e nunca em ziguezague.
Estou-me referindo, obviamente, aos grandes forjadores espirituais de uma Europa que tende, desde sempre, a evocar, em mim, a imagem de uma rapariga moderna... muito antiga.
Schopenhauer e a visão do mundo como representação da vontade; toda a predicação nietzscheana, e também a de Spengler, e também a de Keyserling; as Reflexões sobre a Violência, de Georges Sorel, o realismo integral de Charles Maurras, o germanoromantismo de Maurice Barrès, as formulações de Gentile sobre a eticidade do Estado, as de Martin Heidegger sobre «a mansão do Ser», a estética raciológica de Gobineau e de A. Rosenberg (assim como as de Günther, Clauss, Darré, Céline, Binet e Henri-Robert Petit), o pensamento aristocrático de grandes isolados como Evola e Montherlant, a teologia política de Carl Schmitt, o esoterismo tântrico-mágico de Miguel Serrano: eis os ídolos e ideais que mais poderosa influência exerceram sobre mim.
A lista, porém, só não ficará incompleta demais, se nela também figurarem: os tradicionalistas de todos os tempos e lugares (já Vásquez de Mella lá dizia que «Tudo o que não é tradição é plágio»); os futuristas e corporativistas portugueses, italianos e espanhóis; os nacionais-sindicalistas espanhóis e portugueses; todo o fascismo e esteticismo intelectual britânico; o legado literário em peso e o vivo exemplarismo de toda a geração colaboracionista francesa; aquela grande raça de polemistas e predicadores sagrados (Bloy, Bernanos, Chesterton, Papini e o Gustavo Corção d`«O Século do Nada») que sempre e também souberam destrinçar, e distinguir, à légua, Cristianismo de cristianice, e às vezes se incompatibilizaram e se puseram de mal com o mais efémero da Igreja Temporal por amor de Deus e da Igreja eterna, quando não apontaram mesmo — alguns deles, ao menos — para certas formas de catolicismo anti-clerical ou de anti-clericalismo católico, digamos assim, orientando-se e de preferência os outros para um catolicismo não-catolaico e não-profano — isto é: para uma catolicidade propriamente dita e, como tal, nunca por nunca dessacralizada ou desierarquizada —, de altíssima voltagem e de radiosa estirpe; e ainda aqueles, enfim, que, como Santa Catarina de Siena, ou como Mishima e León Degrelle, não se têm limitado a escrever com tinta, mas também com o sangue — e, sobretudo, com o exemplo.
Acolhi-me, assim, à tutela dos que em si realizaram o sincretismo supremo da tinta e do sangue.
Recebi preceptorado criador e acatei eu, em suma, o mestrado espiritual daqueles que se soergueram, «em nevoeiro e em mito», aos acenos de Deus e às audições da Pátria. Foram-me confrades, particularmente caros e dilectos, todos os grandes isolados das Letras. Todos os crucificados da escrita, esses que reclinados viveram, a seus umbrais cantando toadas de Amor e Morte com palavras da infância...
De uma ou de outra forma, todos, afinal, se chegaram a mim para me ministrarem mensagens de energia sob enchentes de sonho; e para me dizerem: que «não se entra no heroísmo como se entra para a Escola Militar»; que «não se alcança a santidade como se alcança o seminário»; que «não se reza a Deus Nosso Senhor nos mesmos termos em que se arenga às turbas», e que a Europa que convém aos Estados Unidos não nos convém, como não nos convém a Europa que convém, que convinha e que continua a convir à ex-chamada União Soviética.
Rodrigo Emílio
(In Diário do Minho, 23.11.1994)
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(Guião geral, muito sumário)
Tópicos e subsídios de formação e orientamento, propostos a destino.
Entre os vultos do pensamento indígena que mais fundo — e a fundo — me marcaram, importa pôr aqui de manifesto os forjadores daquele espírito nacional-universalista que inflamou, durante séculos, Portugal, e O tangeu e espraiou por meio-mundo e outro meio.
Foi à luz vivificante desse espírito, e gracinhas a ele, que todos nós por largo tempo nos persignámos — em nome do Norte, do Sul, do Leste e do Oeste —, assim na terra como no mar.
Aos grandes dispensadores e intérpretes desse espírito, não fiquei eu, realmente, a dever pouco: assim com`assim, bastará talvez dizer que me ensinaram eles a sentir em português o que não é de sentir senão em português, e a pensar em português o que só em português pode e deve ser pensado.
Inscrevem-se nesse número e estão nesse caso: o Gil Vicente da «Exortação da Guerra» e o Camões d`«Os Lusíadas»; os escritos quinto-imperiais do Padre António Vieira; o José Agostinho de Macedo de «A Besta Esfolada», e nem só...; toda — mas toda! — a teoria legitimista declarada a público por meu primo-avô Ribeiro Saraiva; as páginas miguelistas de Camilo e anti-pombalinas páginas do mesmíssimo Camilo; o António Sardinha de «Valor da Raça», «Durante a Fogueira», «A Prol do Comum» e «Na Feira dos Mitos»; o Afonso Lopes Vieira da «Nova Demanda do Graal» e não só...; o Carlos Malheiro Dias da «Exortação à Mocidade»; muita da doutrinação contra-revolucionária de Fernando Pessoa; os pensamentos, palavras e obras produzidos por Salazar depois de ser Poder; as Cartas Pastorais de Cerejeira; todo o soberbo magistério político e ideológico que foi desenvolvido por Alfredo Pimenta nos últimos doze, treze anos de vida (das páginas d`«A Esfera» e d`«A Nação Portuguesa» aos derradeiros opúsculos, diatribes e libelos); o Miguel Torga dos «Poemas Ibéricos»; a poesia toda e toda (ou quase toda) a prosa de Goulart Nogueira; o «Destino do Nacionalismo Português», de António José de Brito, e os seus «Diálogos de Anti-Democrática», o Carlos Eduardo de Soveral de «Lanças n`África», e nem só...; a obra poética integral de António Manuel Couto Viana; e o etc;... da praxe (mais magro, porém, do que é costume).
Mas outros grandes guias tenho eu tido em meu caminho, e que não só me saíram ao comum, como até, inclusive, o talharam, de forma a eu poder romper por a eito e a direito e nunca em ziguezague.
Estou-me referindo, obviamente, aos grandes forjadores espirituais de uma Europa que tende, desde sempre, a evocar, em mim, a imagem de uma rapariga moderna... muito antiga.
Schopenhauer e a visão do mundo como representação da vontade; toda a predicação nietzscheana, e também a de Spengler, e também a de Keyserling; as Reflexões sobre a Violência, de Georges Sorel, o realismo integral de Charles Maurras, o germanoromantismo de Maurice Barrès, as formulações de Gentile sobre a eticidade do Estado, as de Martin Heidegger sobre «a mansão do Ser», a estética raciológica de Gobineau e de A. Rosenberg (assim como as de Günther, Clauss, Darré, Céline, Binet e Henri-Robert Petit), o pensamento aristocrático de grandes isolados como Evola e Montherlant, a teologia política de Carl Schmitt, o esoterismo tântrico-mágico de Miguel Serrano: eis os ídolos e ideais que mais poderosa influência exerceram sobre mim.
A lista, porém, só não ficará incompleta demais, se nela também figurarem: os tradicionalistas de todos os tempos e lugares (já Vásquez de Mella lá dizia que «Tudo o que não é tradição é plágio»); os futuristas e corporativistas portugueses, italianos e espanhóis; os nacionais-sindicalistas espanhóis e portugueses; todo o fascismo e esteticismo intelectual britânico; o legado literário em peso e o vivo exemplarismo de toda a geração colaboracionista francesa; aquela grande raça de polemistas e predicadores sagrados (Bloy, Bernanos, Chesterton, Papini e o Gustavo Corção d`«O Século do Nada») que sempre e também souberam destrinçar, e distinguir, à légua, Cristianismo de cristianice, e às vezes se incompatibilizaram e se puseram de mal com o mais efémero da Igreja Temporal por amor de Deus e da Igreja eterna, quando não apontaram mesmo — alguns deles, ao menos — para certas formas de catolicismo anti-clerical ou de anti-clericalismo católico, digamos assim, orientando-se e de preferência os outros para um catolicismo não-catolaico e não-profano — isto é: para uma catolicidade propriamente dita e, como tal, nunca por nunca dessacralizada ou desierarquizada —, de altíssima voltagem e de radiosa estirpe; e ainda aqueles, enfim, que, como Santa Catarina de Siena, ou como Mishima e León Degrelle, não se têm limitado a escrever com tinta, mas também com o sangue — e, sobretudo, com o exemplo.
Acolhi-me, assim, à tutela dos que em si realizaram o sincretismo supremo da tinta e do sangue.
Recebi preceptorado criador e acatei eu, em suma, o mestrado espiritual daqueles que se soergueram, «em nevoeiro e em mito», aos acenos de Deus e às audições da Pátria. Foram-me confrades, particularmente caros e dilectos, todos os grandes isolados das Letras. Todos os crucificados da escrita, esses que reclinados viveram, a seus umbrais cantando toadas de Amor e Morte com palavras da infância...
De uma ou de outra forma, todos, afinal, se chegaram a mim para me ministrarem mensagens de energia sob enchentes de sonho; e para me dizerem: que «não se entra no heroísmo como se entra para a Escola Militar»; que «não se alcança a santidade como se alcança o seminário»; que «não se reza a Deus Nosso Senhor nos mesmos termos em que se arenga às turbas», e que a Europa que convém aos Estados Unidos não nos convém, como não nos convém a Europa que convém, que convinha e que continua a convir à ex-chamada União Soviética.
Rodrigo Emílio
(In Diário do Minho, 23.11.1994)
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Muito bom. Com pequenas variantes, na nossa família de pensamento, em sentido lato, quem não se revê nestas palavras?
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