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sábado, novembro 12, 2005

Sobre o desertor Manuel Alegre 

Aqui fica um contributo do chefe Abílio Augusto Pires, escrito já há uns anos, para a biografia do conhecido desertor.

"Alguns elementos sobre o Bando de Argel"
Natural de Águeda ou arredores, Manuel Alegre fez a sua vida académica em Coimbra. Descendente de uma classe “média-alta” fez a vida normal de estudante de Coimbra, um tanto boémia e, nesse sentido, um tanto tradicionalista. Cedo se virou para a política o que, no ambiente de Coimbra, também era tradicional. Militou na “organização local” do p.c.p. e estou à vontade para afirmá-lo porque fui eu próprio quem desmantelou essa organização. Dos seus elementos com alguma responsabilidade ficaram dois: Silva Marques, hoje deputado do P.S.D. que, embora fosse estagiário de advocacia em Aveiro, vivia já numa situação de semi-clandestinidade, e o Manuel Alegre. Mas ficaram por razões diferentes. O primeiro, Silva Marques, porque mergulhou na clandestinidade e viria depois a fixar-se na Itália, onde entrou em litígio com o “partido” do qual veio a ser expulso, após ter feito várias autocríticas que, de resto, conheci. Manuel Alegre também escapou mas porque estava a prestar serviço militar no R.I. 12 (Regimento de Infantaria nº12) situado precisamente em Coimbra e já mobilizado para Angola, como alferes miliciano. A PIDE foi sempre um pouco avessa à detenção de militares mas, neste caso, pesou mais o facto de estar mobilizado. É, pois, totalmente falsa a ideia de que desertou por ser perseguido pela PIDE que não o prendeu porque não quis fazê-lo. As razões íntimas que o levaram à deserção só ele poderia explicá-las se bem que se tornou evidente para quem alguma vez ouviu a “voz da liberdade” ao longo dos seus 12 anos de funcionamento.
E não venha dizer que não traiu. Fê-lo ao longo de 12 anos, não só pelas declarações que prestou como também pelas que obrigou a prestar. Trata-se de matéria conhecida mas que abordarei um pouco à frente.
Desertou e foi para Paris em 1962, estava a ser criada a FPLN (Frente patriótica de libertação nacional) que já se decidira iria funcionar em Argel, com o beneplácito do governo argelino e toda a sua protecção. Seria dirigida por Fernando Piteira Santos que fora funcionário do partido comunista português e expulso da organização uns dez (10) anos antes. Aliás, o governo argelino já autorizara também a instalação e funcionamento da rádio “voz da liberdade” da qual Manuel Alegre viria a ser o locutor até 25 de Abril de 1974. Assim, em meados de 1962, partiriam de Paris rumo a Argel Fernando Piteira Santos, sua companheira, Maria Stella Bicker Correia Ribeiro e Manuel Alegre. A FPLN cresceu rapidamente e tem que dizer-se que o seu principal indutor foi a rádio “voz da liberdade”. Tornou-se, assim, a breve trecho, num autêntico coio de traidores, grande parte deles desertores do Exército Português e também, ex-prisioneiros que, libertados pelo inimigo, eram para ali encaminhados e lá permaneciam em cativeiro pelo menos até se disporem a revelar perante os microfones tudo o que sabiam e não só: tinham igualmente que recitar “ipsis verbis” o discurso que lhes punham à frente. Só depois disso é que teriam hipótese de sair da Argélia. Esta atitude, que em qualquer país civilizado consubstanciaria a figura jurídica de “cárcere privado” era praticada pela FPLN com a cumplicidade do senhor Manuel Alegre: só que no Portugal democrático ninguém fala disso. Não seria trair?
E receber os chefes dos movimentos africanos que nos combatiam, ouvir e transmitir aí os seus dislates não seria trair?
E fornecer-lhes as informações que desertores e ex-prisioneiros de guerra eram forçados a prestar não seria trair?
Bom, se isto não era trair vamos a outro aspecto: - Enviar homens – elementos da FPLN – para Cuba a fim de serem instruídos na guerrilha urbana, também não era trair? E a FPLN (não só mas também) enviou para lá alguns que foram treinados numa base cujo nome não me recordo de momento mas sei que dista 17 quilómetros de Havana e foram treinados entre outros por Alvarez del Bayo, antigo coronel do Exército espanhol que se bateu contra Franco e foi um dos homens do DRIL ( Directório Revolucionário Ibérico de Libertação) que organizou o assalto ao Santa Maria. E também me lembro que esses homens (da FPLN) foram treinados no fabrico e uso de explosivos e, ainda, a fazer guerrilha urbana com armas que eles próprios tinham que fabricar. E que aprenderam, por exemplo, a fabricar morteiros partindo de um simples cano retirado de um algeroz. Isto era bem mais do que trair. E para que dúvidas não restem, cito dois nomes: Eduardo Cruzeiro que foi jornalista do “República”, está vivo e tem um “bom tacho” na RTP, e Rui Cabeçadas que é ou foi advogado. E digo “é ou foi “ porque calculo que teria a minha idade, talvez um pouco mais, e não sei se é vivo ou já morreu. Chega? Não, não chega que eu tenho mais.
Sei que a vida na FPLN não era um “mar de rosas” para todos. Bem pelo contrário: as guerras entre essa organização e o p.c.p. era violentíssima. Chegou-se ao ponto de o p.c.p. ocupar a rádio pela força e a FPLN responder com um contra-golpe que consistiu em levantar os depósitos bancários do p.c.p., factos que obrigaram o governo argelino a intervir para pôr as coisas no lugar. E como nem o Dr. Pedro dos santos Soares, membro da cúpula do p.c.p. e adrede enviado para Argel conseguiu pacificar as hostes, este partido decidiu jogar a última cartada: nem mais nem menos do que Humberto Delgado. Estava no Brasil, sofria de doença grave e foi a Praga para se tratar. Foi aí que o p.c.p. o abordou e convenceu a ir para Argel. Foi-lhe dito que tudo o que se pretendia era unir a oposição e derrubar o “regime fascista” português. Ninguém se não ele poderia liderar essa união, preparar e comandar o golpe. Convencido do seu prestígio, acreditou e foi para a Argélia. Enganou-se, até porque nunca lhe passara pela cabeça que encontraria o que na realidade encontrou. Desconhecia que o p.c.p. jamais perdoaria a “traição” de Piteira Santos, que, embora marxista e reconhecido como tal, havia falado na PIDE. Mas havia outros problemas não menos graves: Humberto Delgado era um impulsivo e queria uma revolução imediata. O p.c.p., mais preparado politicamente, respondia que aprendera as lições da guerra civil de Espanha e da própria Guatemala. Era para eles evidente que “nenhuma revolução poderia triunfar sem que antes conseguisse o apoio das Forças Armadas”. Não embarcava em aventureirismos. Virou-se para a FPLN e a ela aderiu. Só que, logo que pôs o problema da revolução imediata, foi-lhe respondido que Lenine ensinava que “nenhuma revolução de massas poderia ser ganha sem que tivesse o apoio de uma parte do exército que houvesse servido o regime anterior”. Não percebera que uns e outros eram marxistas e sabiam que o comunismo não tinha a mínima hipótese de governar Portugal. O que interessava a todos era entregar a África Portuguesa à União Soviética. E isto significava para Delgado que “entre dois mundos ficara sem mundo”. Tentou, por sua vez, a última cartada: era amigo e um grande admirador de CHE GUEVARA que se transformara em mito de todos os revolucionários de todo o mundo. Pediu a sua ajuda e GUEVARA aceitou. Foi para Argel e por lá ficou uns tempos mas nada fez. Nem podia fazer: GUEVARA era agente do KGB soviético. E os interesses de Moscovo estavam muitíssimo à frente de Humberto Delgado, que ficou só. Sem dinheiro, sem saúde e sem apoios ameaçou entregar-se às Autoridades Portuguesas. Foi o seu fim. Não sei como nem em que circunstâncias. Tudo o que sei – e já o disse várias vezes – é que essa história continua mal contada. Quem sabe se o senhor Manuel Alegre não poderia levantar uma pontinha do véu?..."

10 Comentários
Comments:
Bom trabalho
Vou linkar
Um abraço
 
Excelente trabalho! Pena que a maioria dos Portugueses embalem em
informações deturpadas, omitindo
a verdade VERDADEIRA(...)-passe o pleonasmo, e ignorarem a essência desses "pseudo-democratas", que a
democracia...abomina! Obrigado pelos
excelentes trabalhos!
 
Chefe Abílio Pires
Gostaria que me confirmasse se há depoimentos, gravações ou outros meios que provem que o pseudo Dr. Manuel Alegre, durante as suas intervenções na RADIO ARGEL, denunciava as localizações dos combatentes portugueses, permitindo que fossem atacados e assim tendo sido o causador de inúmeras baixas de portugueses seus conterrâneos. Se fôr verdade e puder ser comprovado, deveria tornar-se do conhecimento público generalizado. Se não fôr verdade, ficará sòmente ao crit+erio dos votantes avaliar o comportamento do sujeito em questão e decidir se a sua escolha para presidente da república é uma escolha de um patriota com curriculum e honra intocáveis para o cargo!
 
Quem diria...por detrás de toda aquela verborreia...um traidor bem ao estilo do seu inimigo de estimação, o flha da puta do soares!!!
 
É tal e qual como foi narrado,é lamentavel que a vida de auto-intitulados combatentes do antigo regime não seja conhecida,nem a imprensa Portuguesa a divulgue, porquê?...era bom que as pessoas conhecessem bem as pessoas que estão no poder,e os pretensos condidatos ao mesmo...é realmente uma fossa de podridão...o 25 de Abril foi feito para eles,e não para o povo,as leis são feitas por eles e á medida deles!!!quem paga?...o zé pequeno pois claro.
 
A democracia portuguesa é tão condescendente que até se permite que o esbirro da PIDE Abilio Pires seja aqui citado!
Querem a PIDE de volta? Não o conseguirão.
Querem as colónias de volta? Não o conseguirão! FASCISTAS!
 
Este último "comentário"-mais ofensa que comentário...faz-me lembrar os tempos Malditos do malfadado PREC! Felizmente que houve pessoas GRANDES e Democratas que travaram este assalto Soviético, às Instituições Portuguesas!Eles, como eu e as centenas de milhar, que estivemos na Fonte Luminosa, conseguimos deter o avanço das esquerdas anti-democráticas! e o comunismo, a partir daí, reduziu-se à sua insignificante representatividade!
Estamos "fartíssimos" destes "democratas", à Estaline...
 
Estamos fartíssimos destes "democratas". Lembro o Pacto entre o Adolfo e o Josef . . . (tão amigos que eles eram)
 
duas palavras: NÃO VOTO
 
Foi desertor,(como saiu da "pildra" está por sa saber)traidor e, provável subida de estatuto, pôs "galdéria" a falar por ele na dita de radio argelia livre.
Acresce, como se ser traior fosse pouco denunciando camaradas e regosijando-se pela suas mortes, é alegre por parte da Mãe renegou a sua descendência - só assim se percebe porque não tem apelido do Avô e do Pai - e teve como Tio um dos melhores embaichadores Portugueses de todos os tempos,que,embora na época do Salazar,foi um grande SENHOR.
Tem ainda um primo, filho do dito Senhor embaixador, com quem está, agora, resolvida que foi a herança,de relações cortadas.
Doutor, só se for "da mula russa", poeta idem idem aspas aspas, resta-lhe o ter sido um TRAIDOR!
 
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