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quinta-feira, janeiro 05, 2006

Camisa Negra, por ele mesmo 

Para que não se perca semelhante preciosidade, resolvi reproduzir aqui a entrevista que foi publicada originalmente no generoso blogue In Silêncio (a quem expresso a minha gratidão, e os meus votos de que tenha já na linha de produção novas entrevistas a outras personalidades, para manter o ritmo com que surgiu).
Eis a obra prima do mestre!

In Silencio - Para começar quem é o Camisa Negra? O que faz profissionalmente? Idade? Quais são os seus interesses? Tem filhos?
Camisa Negra - O Camisa Negra é obviamente uma personagem de ficção. É uma criatura, logo de certa forma um alter ego do criador; mas este não interessa. O Camisa Negra nasceu a 7 de Fevereiro de 2004, e desde aí a sua ocupação a tempo inteiro tem sido a de colocar fascismo em rede, empresa que se lhe afigurou do maior interesse e da maior urgência, dada a falta que se fazia sentir. E o fascismo nunca é demais…
Filhos propriamente ainda não tem, embora viva com a esperança de fazer criação (o que não pode fazer sozinho, como é lógico), espalhando por aí algumas sementes.

IS - Quando e como descobriu o nacionalismo?
CN- O nacionalismo estava já presente na partida. O Camisa Negra nasceu doutrinado, e sabe perfeitamente que Portugal não é dos Portugueses, porque a Nação é superior aos seus componentes e os Portugueses é que são de Portugal.
O blogue surgiu por isso como uma missão de serviço, em que o nacionalismo está no princípio e a Nação não é confundida com uma mera associação ou uma soma de egoísmos individuais.

IS-Como pensa que vai o Nacionalismo em Portugal?
CN - Por vezes temo muito que não vá a sítio nenhum. O nacionalismo vive em muito poucos portugueses. Enquanto sentimento, o nacionalismo está a desaparecer: constato que é raro encontrar portugueses que mantenham viva ligação afectiva a Portugal. Como doutrina, o nacionalismo é ignorado: poucos são os portugueses que subscrevem a tese de que a Nação é o supremo valor na ordem temporal, e a ela se devem subordinar os interesses e as conveniências dos indivíduos e dos grupos.
Como é fácil constatar, em geral as referências mentais dos portugueses já se situam longe de Portugal. E o pior é que muitos que se auto-designam como nacionalistas, e com sinceridade (não duvido), têm muito pouco em que se identifiquem com Portugal, que aliás não amam nem conhecem.
Em termos puramente políticos, o nacionalismo português não conta na balança. Todos juntos, os nacionalistas portugueses não têm força para influenciar o curso dos acontecimentos.

IS- O que lhe falta, que medidas tomaria?
CN - Em primeiro lugar, falta-lhe esta noção realista da sua justa medida. Enquanto alguns nacionalistas agirem convencidos que o mundo inteiro está a olhar para eles, sem se aperceberem que na realidade são só eles os cinco e mais vinte mirones, não haverá qualquer possibilidade de alcançar importância real. Temos que ser inflexíveis na análise dos factos, e não andarmos aos saltos a proclamar vitórias que não ultrapassam o círculo fechado da nossa tribo.
O mundo é grande, mas devemos fazer um esforço para manter uma visão global dele, e sermos capazes de distinguir o que é a realidade e o que são meras projecções dos nossos desejos.
Conseguindo esta frieza metódica, creio que podemos muito bem encontrar projectos viáveis que nos conduzam a alguma influência real.

IS - Como encara o panorama politico português?
CN - No presente o panorama político português é semelhante ao de outros países europeus: os equilíbrios que surgiram do após guerra na Europa e do após 25 de Abril em Portugal estão esgotados e não têm soluções, nem capacidade de atracção ou de renovação.
Por isso em todo o lado se fala em crise política do sistema; mas ao mesmo tempo parece que ainda não se formou qualquer alternativa viável, e consequentemente o que está vai-se mantendo, embora envelhecendo e definhando a cada hora que passa.
Nota-se que as forças políticas existentes, como são exemplo o comunismo ou a democracia-cristã, são apenas resíduos do que foram, sobrevivendo tão só porque se institucionalizaram e enquistaram e não surgiram outras que as desalojassem dos corpos sociais. Porém, em termos ideológicos deitaram toda a tralha para o museu, desistiram das suas explicações do mundo, declarando que é preciso desideologizar para não confessar que as suas ideologias se afundaram com o tempo a que pertenciam. Entretanto, alguns dos que se apercebem do vazio procuram outras fórmulas mas com frequência vão buscá-las ao baú da História, onde já estavam justamente arrecadadas. É o caso da moda dos liberalismos, nebulosa galáxia em que ninguém se entende.
De qualquer modo, o essencial é que a sensação de vazio e de insatisfação permanece. Não há respostas actuais para os tempos actuais.

IS - O que pensa da nossa democracia?
CN - Tento pensar nela o menos possível. Não consigo, porque ela não me deixa. Está presente para onde quer que me volte, e receio que a sua permanência, como um pântano, seja algo muito custoso de remover.
Trata-se de um regime nascido de um impulso suicidário dos portugueses, esquecidos de que manter Portugal era difícil e implicava tributos pesados. Agora quase todos se dão conta dos custos que ela tem, mas como acontece com certas amantes caras: bem se sabe o que elas são, mas dizer-lhes adeus também é complicado.

IS - Seria o Fascismo uma solução? Porquê?
CN - Não. Não existem soluções feitas. As soluções poderão ser encontradas se os portugueses tiverem a vontade e a capacidade de as criar, de as inventar, de as construir. Para isso o fascismo é só uma imagem, uma visão inspiradora gravada nas páginas da História. O futuro não sabemos o que será, mas seguramente não será igual ao passado.
IS - O que fazer quanto à criminalidade?
CN - O problema de Portugal já foi definido como de "educação integral". Eduquemos o país, de alto a baixo, tratemos de imprimir valores e normas aos comportamentos dos homens, e a transgressão, que nunca desaparecerá porque assim manda a natureza, ficará reduzida à sua expressão vulgar.
Entretanto, enquanto tão gigantesco empreendimento não se mostra possível, só podemos fazer como nas cheias: construir uns diques e esperar que aguentem. Mas sabendo bem que não são eles que vão evitar as inundações; é só para limitar os estragos.
Quero eu dizer que o império da lei, a tolerância zero, são o caminho possível para por um lado minorar os danos e por outro ir adiantando um pouco na via da tal reeducação a que aludi. Sem ilusões, todavia; não há que confundir as causas com os efeitos, e da mesma forma que um comprimido que baixa a febre não afasta a infecção também a contenção da criminalidade não basta para curar a ausência de regras que caracteriza a sociedade contemporânea.
IS - E aos imigrantes?
CN - Antes do mais, gosto de salientar que Portugal é uma questão que os portugueses têm consigo mesmos. O problema dos nacionalistas portugueses está nos portugueses: estes é que estão desnacionalizados. Quando Portugal perdeu o seu rumo, isso deveu-se sempre à acção de portugueses. Sejam estes fiéis, e Portugal viverá.
Preenchida essa condição, de aportuguesar Portugal, a política de imigração deverá ser a que melhor sirva Portugal. E não pode haver uma resposta única: num momento podem ser necessários emigrantes e noutro não, num sector podem ser precisos e noutros são inúteis, em certa zona podem ser indispensáveis e em outra estarem a mais, haverá imigrantes que nos valorizam e outros que só nos desgraçam, etc. etc. …
Em resumo: o que importa é ter uma visão nacional e uma política nacional. Seguindo essa directriz, tendo sempre em mente que Portugal é o que mais importa, creio que será possível encontrar as posições adequadas a assegurar essa finalidade – em matéria de imigração como noutras matérias.
Já agora exprimo a minha grande preocupação com a emigração: causa-me aflição ver que tantos portugueses, e bem qualificados e capazes, continuam a sair de Portugal, que tanto precisa deles aqui…

IS - A sua opinião em relação ao Partido Nacional Renovador?
CN - A importância do PNR está mais no que pode vir a ser do que naquilo que já é. Convém ter isto bem assente. Dito isto, percebe-se que não alinharei com quem tenha uma postura acrítica e contentinha em relação ao PNR, como em relação a qualquer outra realidade do meio nacionalista. Temos que ser exigentes, intervenientes, irrequietos, insatisfeitos, buscar permanentemente novos caminhos e novas soluções. No PNR e fora dele.
Acrescento todavia que quando falo em exigência a este propósito não se trata de exigência para com os outros: é perante nós próprios. Quando o PNR não for como gostaríamos, ou não tiver a força que entendemos que deveria ter, temos sempre que olhar para nós e perguntar em que é que contribuímos para isso. A culpa antes de ser de outros é sempre nossa.

IS - Identifica-se com o movimento skinhead?
CN - Por fatalidade, a minha falta de cabelo vai-me aproximando perigosamente dessa estética. Mas que não se atribua importância ao que não a tem: como dizia Fernando Pessoa, por dentro das coisas é que as coisas são. O que se aplica ao caso, seja qual for o aspecto exterior das cabeças.
IS - O que diria o Camisa Negra aos seus filhos sobre o estado do país, imigração, etc.?
CN - Observo constantemente que aquilo que Portugal foi se deve ao que fizeram dele os portugueses do passado; e aquilo que Portugal é resulta do que dele fizeram os portugueses do presente. Quanto ao que Portugal será, tirem a conclusão.
IS - O seu blogue foi eleito como o blogue nacionalista do mês (Dezembro) pelo blogue Portugal Puro. O que tem a dizer aos leitores do mesmo?
CN - Que não sejam apenas leitores. Escrevam. Intervenham. Deixem a vossa marca em tudo em que tocarem. Se todos fizerem a sua parte, só o céu é o limite.
IS - Em que se inspira para o Fascismo em Rede?
CN - O Fascismo em Rede tenta sobretudo ser inspirador. Por isso é feito de memórias, impressões, teses, exemplos, pensamentos, provocações, imagens, canções, simples publicidade e até apelos e exortações. Procura despertar vocações, pelo caminho do fascínio, do desafio, do encantamento.
Mas é pouco inspirado. É forçoso confessar que esse intuito não tem sido satisfatoriamente conseguido. O blogue tem um número de visitantes bem modesto para as ambições, e desses não se sabe quantos são leitores.
Quanto a inspirações que tenha suscitado, também se desconhece balanço positivo. Uma lástima.

IS - É fácil arranjar temas?
CN - O que falta é o tempo para realizar; de resto, a realidade é infinita e todos os temas servem para introduzir uma visão do mundo e da vida que seja diferente e alternativa da mundividência dominante. É preciso que nada nos seja estranho, aspirar à totalidade em cada tema parcelar.
O Fascismo em Rede tem ocupado frequentemente o seu espaço com a História, a Filosofia, a Arte, a Política. Apenas porque esses são assuntos em que o seu autor está mais à vontade. Nada impediria que falasse de Desporto, ou de Música, e continuasse a ser uma manifestação do mesmo espírito.
IS-Tem sentido que incomoda o sistema?
CN - Tenho que dizer a verdade: infelizmente, a resposta é não. Sou demasiado insignificante para isso. Somos demasiado insignificantes para isso. Eu bem queria, mas, para meu desânimo, até agora o bicho não deu sinal de qualquer incómodo.
IS - Já foi alvo de algum tipo de censura?
CN - Não, essa é uma das vantagens da rede. Aqui podemos escrever o que entendermos, sem que nada nos impeça. O perigo que existe é que isso não sirva para nada. Mas esse perigo existe em qualquer sítio. E suspeito que muito do êxito depende da nossa capacidade, da nossa persistência, do nosso talento. Se falharmos, não podemos queixar-nos dos outros. Isto mete medo a muita gente: ter desculpas dá sempre jeito!
IS - Por fim umas últimas palavras aos nacionalistas espalhados por Portugal.
CN - Não se resignem, nem se demitam. Sejam orgulhosos e insolentes na afirmação da vossa fidelidade a Portugal. Sejam insubmissos, e façam tudo o que estiver na vossa mão para que depois da vossa passagem Portugal fique mais forte. É que nós só estamos de passagem; mas a nação continuará, tal como a deixarmos.

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