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quinta-feira, agosto 02, 2007

As Termópilas do Ocidente 

Seguindo uma sugestão feita pelo José Carlos há tempos, lembro hoje Amândio César. Esta casa, aliás, nestes três anos e meio, já por diversas vezes se honrou de publicar textos dele.
Este foi publicado no número 27 do "Tempo Presente", em 1961, no rescaldo da invasão e ocupação da Índia Portuguesa. É um comovedor documento, bem ilustrativo do sentimento e determinação com que os nacionalistas portugueses encaravam a guerra que Portugal travava, em todas as frentes. É um documento profético, para nossa desgraça. Portugal ofereceu o seu sangue e a sua vida em defesa de um Ocidente que o ignorou. O seu sacrifício deu ao Ocidente os anos necessários para que o próprio império soviético se enfraquecesse, abrisse fendas, e desabasse. Mas entretanto, ao fim desses 14 anos, também Portugal soçobrou. Leia-se Amândio César. Em sentido.

Morrer é uma Honra que Deus concede aos eleitos, libertando-os da matéria vil que envolve os homens. Morrer pela Pátria é uma honra que a História concede aos eleitos, libertando-os do igualitarismo que tudo nivela e tudo torna cinzento. Temos vindo a dar o nosso sangue, para que prossigamos como Povo livre e consciente das suas liberdades. A nossa cruzada não se limita aos alvores do Idade Média. Continua até aos nossos dias, à nossa própria hora, aos minutos que estamos vivendo. Por isso, o continuador dos reis que nos levaram à Índia, Sua Alteza Real o Duque de Bragança, pôde dizer, há dias, que éramos as Termópilas do Ocidente.
Quando os exércitos persas tentaram derramar o crime e a insídia oriental sobre um Ocidente que já então tinha valores a defender, um punhado de bravos ofereceu a sua vida em holocausto para que a terra sagrado da Grécia tivesse tempo de sacudir o torpor das cidades helénicas e salvar esses valores.
Eram poucos nas Termópilas e eram centenas de milhares os soldados do exército persa. No entanto, Leónidas não hesitou em da batalha sabendo, antecipadamente, que ele e os seus bravos ali fiariam, ali seriam sepultados, ali atestariam que vale a pena morrer, quando se morre pelo ideal sagrado da Pátria.
Também nós - em Goa, Damão e Diu - demos o nosso sangue, disparámos os nossos canhões, tangemos os nossos sinos, para que o Ocidente acorde do torpor que o invadiu e possa vencer a ameaça de ser subvertida todo o civilização de que somos herdeiros, essa civilização que da Europa levámos para o Oriente, muito antes dos mercadores que nos foram no rasto.
Sim, como nas Term6pilas, os nossos soldados tombaram primeiro pela Pátria e, lado o lado, por Deus, que Deus e Pátria estiveram sempre nos corações dos nossos bravos, ímpares, inigualáveis militares. E, se nas Termópilas ficou o legenda: “Cidadão, vai dizer o Esparta que aqui morremos, para obedecer à Lei”, nos muros desmantelados de Diu, de Damão e de Goa, ficou escrito em sangue: “Homens de todo o Mundo, ide e dizei ao Ocidente que aqui morremos para defender a Civilização Ocidental, a Civilização Greco-Latina, a Civilização de Cristo.”
Como nas Termópilas, mas maiores do que nas Termópilas: porque não lutámos apenas pela Pátria, mas, acima de tudo, pela Humanidade. E essa Humanidade de nossos dias, céptica e materialista, começou já a perceber que um grande Povo existe ainda, que diz não aos ventos do História, que diz não aos senhores do Mundo, não às ameaças soviéticas, Povo que acaba de escrever - como disseram os estudantes de Coimbra -, com o seu sangue, com o seu heroísmo, com o seu martírio, com a sua vida, o Canto XI de Os Lusíadas.
A legenda da História para os que tombaram ou para os que combateram escreveu-o Camões: “Ditosa Pátria que tais filhos tem.” A luta continua, mesmo que, palmo a palmo, a terra que nos foi roubada seja talada pela máquina infernal dos invasores. O Ocidente percebeu pela primeira vez que havia um grande pequeno Povo que lhe dava uma lição. E que essa lição não era a de abandonar o que pertence à civilização Ocidental, mas, sim, lutar, lutar sempre, lutar até ao fim, até que justiça nos seja feita, até que o nosso sacrifício, de haveres e de vidas, não seja inútil.
O cessar de fogo não significa que acabaram os nossos direitos. A mordaça não significa que as nossas vozes foram definitivamente abafadas. A ocupação não significa que a terra secular de Portugal deixou de nos pertencer.
Os Mortos mandam. Ordenam que, cada um de nós, no seu posto, continue a luta pela qual outros deram a vida - salvando com ela o que resto, ainda, do honra do Ocidente. Os Mortos mandam. E nós não podemos trair a sua vontade.
O Povo de Portugal não vira o rosto ao destino. Os dados foram lançados. Deus quer que prossigamos. Cumpramos o nosso dever, como os outros portugueses o souberam cumprir, a fim de que um dia se escreva, em todos os recantos do Terra, que os Portugueses souberam morrer para que a Civilização triunfasse.

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