terça-feira, março 25, 2008
Considerandos estratégicos
Por o tempo não lhes ter retirado actualidade, reproduzo hoje uns "considerandos estratégicos" que escrevi e publiquei há quatro anos. Ora façam o favor de ler.
No pobre panorama do nacionalismo português avulta, no meu entendimento, um facto positivo: a existência de um único partido a chamar a si a representação política dos nacionalistas. Dirão que é pouco, se tal partido não for capaz de cumprir a sua função; respondo no entanto que o facto em si mesmo é extraordinário, dada a extrema dificuldade em conseguir congregar as variadíssimas famílias políticas que compõem o leque dos nacionalismos. Se olharmos para a Europa verificamos que o único caso de sucesso desse ponto de vista é a FN francesa, ultrapassando uma longa tradição de divisão que a antecedeu. Essa unidade na acção é um exercício de equilíbrio em constante risco de derrocada, mas é essencial; e só pode ser concretizado por um partido de tipo frentista, combativo para o exterior mas flexível para o seu interior, o suficiente para não afastar ou excluir nenhuma das sensibilidades que têm de sentir-se representadas.
O caminho oposto conduz à situação espanhola, já aqui várias vezes lamentada: mais partidos que militantes, todos lutando entre si e isolando-se cada vez mais da sociedade em geral.
Dou por assente portanto que esse é um facto positivo. E não vou discutir a magna questão de saber se esse partido possui virtualidades para eficazmente assumir a sua função de representação - não tenho autoridade para tal, sobretudo por falta de acompanhamento no terreno.
Mas prosseguindo o meu pessoal diagnóstico direi agora que aquilo que falta em Portugal é tudo o resto. Com efeito, a essa unidade da representação política de tipo eleitoralista, actuante segundo as regras do sistema, deve corresponder um máximo de pluralidade e diversidade nos outros planos. Ou seja, devem multiplicar-se as trincheiras no corpo social. Que existam associações, grupos, círculos, revistas, editoras, livrarias, uns mais directamente políticos outros de vocação cultural, genéricos uns e mais específicos e temáticos outros, enfim, um magma de iniciativas e actividades que abarquem todos os campos e domínios e que alastrem por toda a sociedade. Mesmo uns blogues e umas páginas na net também servem tal finalidade...
Da dimensão dessa rede e da sua capacidade para gerar e alimentar correntes de opinião, e formar quadros, elites e militantes, tanto como comunicar com as massas, dependerão as possibilidades de êxito da tal frente de representação política. A qual de outro modo se encontrará sozinha em campo esforçando-se por representar coisa nenhuma.
Acrescento só mais duas notas.
Se há tendência obviamente mortal na política é aquela que se exprime no slogan patológico "contra tudo e contra todos". Quem está "contra tudo e contra todos" pode aspirar a ter alguma coisa ou alguém a seu favor? Parece que não, estar "contra tudo e contra todos" conduz naturalmente a ficar sem nada e sem ninguém. Aquilo que só tem lugar na psiquiatria não pode ser regra de acção política.
Se a norma de acção especificamente política é "partir à conquista de todos", então é imperioso estar atento ao que se passa na sociedade. Permanecer surdo e insensível no meio de movimentações sociais de dimensões extraordinárias, é estar cego para a política. Excluir-se e condenar-se ao isolamento, mergulhar na mentalidade grupuscular, viver ainda na cultura adolescente da clandestinidade, não são certamente caminhos para o sucesso em política.
No pobre panorama do nacionalismo português avulta, no meu entendimento, um facto positivo: a existência de um único partido a chamar a si a representação política dos nacionalistas. Dirão que é pouco, se tal partido não for capaz de cumprir a sua função; respondo no entanto que o facto em si mesmo é extraordinário, dada a extrema dificuldade em conseguir congregar as variadíssimas famílias políticas que compõem o leque dos nacionalismos. Se olharmos para a Europa verificamos que o único caso de sucesso desse ponto de vista é a FN francesa, ultrapassando uma longa tradição de divisão que a antecedeu. Essa unidade na acção é um exercício de equilíbrio em constante risco de derrocada, mas é essencial; e só pode ser concretizado por um partido de tipo frentista, combativo para o exterior mas flexível para o seu interior, o suficiente para não afastar ou excluir nenhuma das sensibilidades que têm de sentir-se representadas.
O caminho oposto conduz à situação espanhola, já aqui várias vezes lamentada: mais partidos que militantes, todos lutando entre si e isolando-se cada vez mais da sociedade em geral.
Dou por assente portanto que esse é um facto positivo. E não vou discutir a magna questão de saber se esse partido possui virtualidades para eficazmente assumir a sua função de representação - não tenho autoridade para tal, sobretudo por falta de acompanhamento no terreno.
Mas prosseguindo o meu pessoal diagnóstico direi agora que aquilo que falta em Portugal é tudo o resto. Com efeito, a essa unidade da representação política de tipo eleitoralista, actuante segundo as regras do sistema, deve corresponder um máximo de pluralidade e diversidade nos outros planos. Ou seja, devem multiplicar-se as trincheiras no corpo social. Que existam associações, grupos, círculos, revistas, editoras, livrarias, uns mais directamente políticos outros de vocação cultural, genéricos uns e mais específicos e temáticos outros, enfim, um magma de iniciativas e actividades que abarquem todos os campos e domínios e que alastrem por toda a sociedade. Mesmo uns blogues e umas páginas na net também servem tal finalidade...
Da dimensão dessa rede e da sua capacidade para gerar e alimentar correntes de opinião, e formar quadros, elites e militantes, tanto como comunicar com as massas, dependerão as possibilidades de êxito da tal frente de representação política. A qual de outro modo se encontrará sozinha em campo esforçando-se por representar coisa nenhuma.
Acrescento só mais duas notas.
Se há tendência obviamente mortal na política é aquela que se exprime no slogan patológico "contra tudo e contra todos". Quem está "contra tudo e contra todos" pode aspirar a ter alguma coisa ou alguém a seu favor? Parece que não, estar "contra tudo e contra todos" conduz naturalmente a ficar sem nada e sem ninguém. Aquilo que só tem lugar na psiquiatria não pode ser regra de acção política.
Se a norma de acção especificamente política é "partir à conquista de todos", então é imperioso estar atento ao que se passa na sociedade. Permanecer surdo e insensível no meio de movimentações sociais de dimensões extraordinárias, é estar cego para a política. Excluir-se e condenar-se ao isolamento, mergulhar na mentalidade grupuscular, viver ainda na cultura adolescente da clandestinidade, não são certamente caminhos para o sucesso em política.
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