sábado, março 29, 2008
Pessoa e o provincianismo
"Se, por um daqueles artifícios cómodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num sindroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. 0 facto é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam muitos outros países, que se consideram civilizantes com orgulho e erro.
0 provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois miméticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.
0 síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes:
o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração plo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.
Se há característica que imediatamente distinga o provincianismo, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas .
(....) 0 amor ao progresso e ao moderno é a outra forma do mesmo característico provinciano. Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso lhes não atribuem importância de maior. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção. "
Fernando Pessoa
0 provincianismo consiste em pertencer a uma civilização sem tomar parte no desenvolvimento superior dela - em segui-la pois miméticamente, com uma subordinação inconsciente e feliz.
0 síndroma provinciano compreende, pelo menos, três sintomas flagrantes:
o entusiasmo e admiração pelos grandes meios e pelas grandes cidades; o entusiasmo e admiração plo progresso e pela modernidade; e, na esfera mental superior, a incapacidade de ironia.
Se há característica que imediatamente distinga o provincianismo, é a admiração pelos grandes meios. Um parisiense não admira Paris; gosta de Paris. Como há-de admirar aquilo que é parte dele? Ninguém se admira a si mesmo, salvo um paranóico com o delírio das grandezas .
(....) 0 amor ao progresso e ao moderno é a outra forma do mesmo característico provinciano. Os civilizados criam o progresso, criam a moda, criam a modernidade; por isso lhes não atribuem importância de maior. Ninguém atribui importância ao que produz. Quem não produz é que admira a produção. "
Fernando Pessoa
2 Comentários
Comments:
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Lembro-me bem do momento em que me foi dado conhecer este texto de Fernando Pessoa sobre o Provincianismo e o fascínio que ele provocou em mim. Alguém da literatura colocava em estilo artístico questões de progresso e de desenvolvimento e apontava o dedo a comportamentos do povo português que achava serem entraves mentais ao desenvolvimento. Vale a pena ler ou reler esta peça da nossa literatura.
Sobretudo vale a pena observar como no essencial os traços e características apontadas por Pessoa estão tão actuais hoje como nessa época.
É como se os arquetipos mentais persistissem através dos tempos.
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É como se os arquetipos mentais persistissem através dos tempos.