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quarta-feira, junho 25, 2008

Carta do Padre Nuno Serras Pereira, sobre a Rádio Renascença 

(recebido por e-mail)

Sexta-feira passada um sacerdote jovem confidenciou-me o seu grande incómodo com o espectáculo Jesus Christ Superstar a que tinha assistido porque um amigo seu lhe oferecera um dos bilhetes que lhe tinham sido dados pela Rádio Renascença. Chocado com as graves distorções feitas ao Evangelho e à figura de Cristo entendia que uma rádio católica não poderia publicitar e promover perversões deste teor. Eu, como mais velho, lembrava-me muito bem das críticas que a Santa Sé fez aquando do aparecimento do filme em língua inglesa. Ele desconhecia-o totalmente e, por isso, tinha ido assistir de boa-fé com um grupo de jovens. Agora perguntava-se quantos jovens e mesmo adultos com pouca formação, e sem ninguém que os esclareça serão vítimas dessas distorções. Eu cuidava que uma rádio católica, propriedade do Patriarcado e da Conferência Episcopal Portuguesa não deveria promover o que o Vaticano critica. Mas eu sou um fundamentalista radical, um perigoso extremista e um atrasado mental.

No Sábado, pouco antes das onze da noite, vindo de uma reunião, sintonizei a RR para ouvir as notícias. Ouvi então uma voz doce e compadecida falando dos direitos (sic) dos animais. Era a locutora introduzindo uma senhora da sociedade protectora dos ditos que dava sugestões a fim de evitar o abandono das bestas durante as férias. Afinal havia hotéis (sic) para os mesmos. Pensava eu, desgraçado como sou, que advogar que os animais são sujeitos de direitos era não só contradizer a Fé mas a própria razão. Lembrou-me, entretanto, porque é que não puseram em confronto e em debate pessoas favoráveis ao descaso dos animais e outras contrárias ao mesmo. Afinal aquando de referendo sobre o aborto esta estação emissora tratou desse modo os concebidos por nascer. Cheguei mesmo a sentir, culposamente, que aquele tempo seria melhor empregue em falar do desamparo dos anciães por parte de tantas famílias quando vão a férias. Acresce que, confesso humildemente, tive a temeridade de pensar em fundar uma Sociedade Protectora dos Concebidos ainda não nascidos na esperança que a semelhança de nomes levasse a RR a dar a devida atenção à defesa da vida humana. Mas eu, já se sabe, sou um fundamentalista radical, um extremista e um atrasado mental.

No Domingo da manhã, escutando um programa intitulado “O dia do Senhor” fiquei indignado com a promoção de um CD cujos lucros conseguidos com a venda do mesmo reverterão a favor da Amnistia Internacional. Enquanto Bispos e Cardeais, um pouco por todo o mundo, têm feito severas críticas e retirado o amparo a esta instituição devido ao apoio que tem vindo a dar ao aborto provocado a “rádio católica portuguesa” procura ajudá-la e publicitá-la durante um programa cujo protagonista é o Bispo do Porto. Mas, como é evidente, sou um fundamentalista radical, um extremista perigoso e um atrasado mental.

No mesmo dia, provavelmente em virtude de uma obstinação masoquista, ligo de novo para a RR e oiço que, no programa “Diga lá Excelência” se está entrevistando José Saramago, o autor de vários livros escritos com o propósito deliberado de atacar a nossa Fé blasfemando de Deus e de Seu Filho Jesus Cristo. Eu, na minha presunçosa idiotia, cuidava que – como tinha lido em Aristóteles e em S. Tomás - excelência era aquele que praticava acções excelentes, isto é virtuosas, perfeitas. Se calhar, pelos vistos, amaldiçoar a Deus é obra de grande virtude; ou talvez as obras de Saramago sejam perfeitas e a RR quer dá-lo como exemplo do cumprimento do mandato de Jesus Cristo: “sede perfeitos como o vosso Pai Celeste é perfeito”. Pelo que a perfeição então consistiria em blasfemar e praguejar. Coloquei, porém, uma outra hipótese. Talvez que o facto de o programa ser feito em parceria com o jornal Público a obrigasse a aceitar contrariada o convidado. Mas quem aceita de bom grado sociedade com quem ganha dinheiro publicitando o matadouro de inocentes (“clínica” dos Arcos) talvez também se sinta satisfeita em associar-se com quem recrucifica o Grande Inocente (como chamou Raoul Follerau a Jesus Cristo). Mas depois recordei-me de a RR dizer a um grupo de amigos que a Presidente da Federação Portuguesa pela Vida não seria entrevistada no programa em apreço porque o Público a isso se opunha. Ora se este periódico tem direito de veto isso só poderá significar que a RR também o terá. Se assim é não o quis usar. Eu sei de alguém que sem dúvida alguma é ainda mais excelente que Saramago. É muitíssimo mais inteligente e com imensamente mais “excelências”. Chama-se Satanás. Espero que não o entrevistem. Mas eu, como é óbvio, sou um fundamentalista radical, um extremista perigoso e um atrasado mental.

Nuno Serras Pereira
16. 06. 2008

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