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sábado, setembro 06, 2008

"A nova Rússia" (II) 

(um artigo de Nuno Rogeiro)

Sobretudo quando levados à letra, muitos paralelos históricos são redutores e perigosos.
No fundo, cada época tem a sua lógica, dimensão e circunstâncias, e as transposições podem resultar caricaturais. Mas quando o político radical francês Edouard Herriot chegou a Moscovo, em 1922, o fresquíssimo estado euro-asiático (a nascente URSS) tê-lo-á surpreendido tanto como acontece com os nossos contemporâneos, face ao regime pseudobicéfalo de Putin/Medvedev.
Herriot escreveu "A Rússia Nova" em tempo de Novo Plano Económico.
Era então preciso, sob Lenine, sair dos desastres do comunismo de guerra, do radicalismo bolchevique, do dogmatismo, das "medidas de emergência" adoptadas para resolver o conflito civil e a intervenção estrangeira. Tratava-se de, com "realismo", reconstruir uma grande entidade política, sob uma doutrina "científica" nova. Foi um curto tempo de liberalização da vida privada, individual e colectiva.
Claro que a Rússia, reino autónomo desde o Kievan Rus do fim do século IX, era a chave dessa "ressurreição", como se compreende hoje, 17 anos depois da queda do Muro de Berlim.
Entre 1922 e 1991, a Rússia serviu-se do sovietismo como justificação do império, teologia política e propaganda.
Na América, havia a Disneylândia e a Coca-Cola, a pastilha elástica e o basebol, os Cadillac e os frigoríficos. E John Wayne. Todos foram alvo da curiosidade de Nikita Krushev, na famosa visita de 1959. Quanto à Rússia, exportava ideologia. Mas esta, o "comunismo", era um mero instrumento, abandonado quando se mostrou inútil.
Pelo caminho ficaram os milhões de fiéis que, em todo o Mundo, acreditavam. Um conselheiro de Putin disse-me um dia: "O problema de muitos comunistas portugueses é que sabiam tudo da URSS, mas pouco da Rússia. Têm assim imensas dificuldades em perceber o que se passa em Moscovo".
A partir de 1998, quando (ainda sob Ieltsin) assume vastas responsabilidades de segurança,Vladimir Putin surge como o produto, e não a causa, de uma decisão de vários sectores da "sociedade do poder" russa. Da indústria à ciência, dos militares aos tecnocratas, dos burocratas aos novos empresários, dos agentes secretos aos novíssimos políticos, concluía-se ser preciso travar a decadência e o caos, bem visíveis na humilhação no Cáucaso, entre 1994 e 1996.
Daí às prioridades da sua prolongada presidência, entre 1999 e 2008, vai um passo lógico. Primeiro, tratou-se de executar, agora "bem", uma nova guerra "defensiva" na Chechénia. Depois, foi preciso disciplinar, modernizar, moralizar e tornar eficiente o complexo militar e securitário, num processo ainda em curso, previsto para um desenlace em 2030. A blitzkrieg na Geórgia foi uma espécie de "caso prático" desse programa.
Em Abril de 2000, aprova-se uma nova doutrina de defesa (a penúltima). As armas atómicas, consumando o conceito de 1993, passam a ter uma possível utilização "preventiva", não só em caso de ameaça nuclear, mas também de outras armas de destruição massiva, ou de "uma grande ofensiva convencional", que "ameace a sobrevivência" da nação. Comentando os resultados do exercício "Zapad 99", um ano antes, o general Yakovlev já falara da possibilidade de um uso limitado do nuclear promover, paradoxalmente, o "desescalar" de um conflito.
Representando 40% da Europa, com 16 vizinhos, 60 mil quilómetros de fronteiras, o maior território e reservas minerais do Mundo, a Nova Rússia começava a sentir-se forte, mas ameaçada, interna e externamente.
Como se verá.

1 Comentários
Comments:
O problema dos quadros, os poucos que restam, do PND como capacidade para ler, escrever e pensar, é a dificuldade em ultrapassarem a subserviência ao Dr. Manuel Monteiro. Não sei se devido a uma réstia de interesse pessoal, se de teimosia num projecto que se gorou ou se de uma última tentativa em manter vivo um partido que já morreu e cuja morte recusam aceitar. A capacidade referida não significa discernimento político, que anda, quanto a mim, muito falho, por aquelas bandas.
O resultado das legislativas da Madeira não passa de um não-resultado, passe a expressão. O deputado do PND diz-se comunista convicto, o que seria de morrer a rir se não fosse doloroso para a Direita e vexatório para o PND. Burlesco! Uma má peça e um mau actor! Sem mais comentários.
Aquilo que o Dr. Manuel Monteiro anda a fazer no Minho não é mais que o estrebuchar característico do moribundo. Revelador, porém, do ponto a que desceu a sua qualidade política, o que “camisanegra”, talvez sem querer, reconhece no último período do “post”.
Bem agiu a Dra. Susana Barbosa, afastando-se e iniciando a institucionalização de um novo partido – Partido da Liberdade – em breve, uma realidade que aglutinará, com o tempo, a nossa desorientada, dispersa e, sobretudo, descrente Direita. Porque, inequivocamente, a Dra. Susana Barbosa é possuidora da vontade, da tenacidade, da crença, da persistência, da experiência e do saber que fazem um bom político. O político de qualidade que o PND não tem.
 
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