domingo, agosto 16, 2009
Na hora de António José Rodrigues de Almeida
Partiu cedo, o Tó Zé Almeida. Há anos que a saúde lhe falhara; mas mesmo assim... Um mar de recordações inunda-me o espírito, e afoga-me as palavras. Só quereria que a morte de um combatente de tantos anos seja um suplemento de alma para quantos se apresentem a continuar o combate, ardentes e decididos na Fé que ele viveu.
Permanecem na rede os restos de um blogue que ele ainda escreveu, antes de ficar impossibilitado pela doença (ABSONANTE).
Permanecem na rede os restos de um blogue que ele ainda escreveu, antes de ficar impossibilitado pela doença (ABSONANTE).
E deixo-lhe aqui um poema de que ele gostava muito, do seu Mestre Goulart Nogueira.
António José Rodrigues de Almeida: Presente!
Jacob
Ah! da fuga abatido e da viagem,
Quando a luz na ilusão esmaecia,
Abriguei-me da hora vaga e fria
E entrei pela estalagem
Vinho da noite, roxo e bom, bebi-o
(Tão palhetado de oiro!) e embriaguei-me.
Na estalagem do campo, então, deitei-me,
Fiz da pedra da lua o travesseiro.
E uma esfera de vidro, em rodopio,
Mostrou-me no meu vulto verdadeiro.
Anjo longo de cinza, erguendo asas
De papoula e de rubra lassidão,
Todo nu, diamante de abandono,
Despenhei serpentinas com as mãos rasas
De sono,
Num labirinto de revelação.
E foram hélice onde me gerava,
Foram liames dando-me hausto e espaço.
E foram vórtice onde me firmava.
Foram golpes, fronteiras e abraço.
Mas era bem um Anjo o Anjo estranho,
Ou uma escadaria em cinza envolta?
Cravou seus pés no chão endurecido
E, sem topo, nem vulto, nem tamanho,
Pelos céus ia a escada etérea e solta.
Era uma ressonância e era o ouvido,
Enquanto a percorria firme escolta.
Desciam os revólveres por ela...
Revólveres? Ai! anjos pequeninos,
Longos e nus, de cinza rija e bela.
E, subindo, eram sóis, flores de Vida,
Prenúncios e anúncios, como sinos,
De jardins duma Vida desmedida.
Anjo de cinza é morte,
Escada para a Vida, um halo infindo
Que fica nos revólveres mais forte.
E, a cada morte em nós, vamos subindo.
(Goulart Nogueira)
Jacob
Ah! da fuga abatido e da viagem,
Quando a luz na ilusão esmaecia,
Abriguei-me da hora vaga e fria
E entrei pela estalagem
Vinho da noite, roxo e bom, bebi-o
(Tão palhetado de oiro!) e embriaguei-me.
Na estalagem do campo, então, deitei-me,
Fiz da pedra da lua o travesseiro.
E uma esfera de vidro, em rodopio,
Mostrou-me no meu vulto verdadeiro.
Anjo longo de cinza, erguendo asas
De papoula e de rubra lassidão,
Todo nu, diamante de abandono,
Despenhei serpentinas com as mãos rasas
De sono,
Num labirinto de revelação.
E foram hélice onde me gerava,
Foram liames dando-me hausto e espaço.
E foram vórtice onde me firmava.
Foram golpes, fronteiras e abraço.
Mas era bem um Anjo o Anjo estranho,
Ou uma escadaria em cinza envolta?
Cravou seus pés no chão endurecido
E, sem topo, nem vulto, nem tamanho,
Pelos céus ia a escada etérea e solta.
Era uma ressonância e era o ouvido,
Enquanto a percorria firme escolta.
Desciam os revólveres por ela...
Revólveres? Ai! anjos pequeninos,
Longos e nus, de cinza rija e bela.
E, subindo, eram sóis, flores de Vida,
Prenúncios e anúncios, como sinos,
De jardins duma Vida desmedida.
Anjo de cinza é morte,
Escada para a Vida, um halo infindo
Que fica nos revólveres mais forte.
E, a cada morte em nós, vamos subindo.
(Goulart Nogueira)
3 Comentários
Comments:
Blog search directory
Lamento sabê-lo. Das pessoas que fui lendo nos blogs da direita nacional pareceu-me um dos mais inteligentes e capazes. Nunca soube por que razão havia acabado o Absonante. Agora descobri-o.
Enviar um comentário