sexta-feira, fevereiro 25, 2011
Será só espuma?
Sem possuir uma direcção política, aparente ou oculta, a movimentação que tem agitado as redes sociais nos últimos dias, erguendo bandeiras de revolta, vai desfazer-se como a espuma, sem consequências de maior. Em política o espontaneísmo tem vida curta. Sem o necessário enquadramento, normalmente não passa da fase do desabafo de circunstância. Está na natureza das coisas, e dos homens... Quando uma multidão se movimenta a generalidade não sabe o que quer, nem para onde vai. E pelo meio existem uns grupos muito restritos que sabem o que querem e para onde querem levar os outros. Estes grupos frequentemente são antagónicos, e até incompatíveis entre si. A luta traduz-se então, normalmente, em cada um desses grupos tentar chamar a si a condução da massa informe, e em atirá-la contra os grupos rivais, habilmente identificados como inimigos. Aqui ou no Egipto...
Note-se porém que, ao vaticinar que tudo se vai desfazer em espuma, não estamos a menosprezar o real descontentamento que aí se exprime, nem a autenticidade e sinceridade dos participantes nessas manifestações cibernéticas. A questão é, digamos, técnica...
Ainda assim, alguns dados importantes ficam claros e são para reter. Desde logo, a expressão numérica das adesões e a rapidez com que alastrou. Depois, o completo fracasso dos habituais profissionais da contestação (aquela malta da esquerda e da extrema-esquerda que se especializou em vampirizar as insatisfações alheias para em nome delas melhor se instalar à mesa da situação) nas suas tentativas para enquadrar e dirigir essas movimentações, canalizando-as e usando-as nos termos politicamente correctos.
Note-se porém que, ao vaticinar que tudo se vai desfazer em espuma, não estamos a menosprezar o real descontentamento que aí se exprime, nem a autenticidade e sinceridade dos participantes nessas manifestações cibernéticas. A questão é, digamos, técnica...
Ainda assim, alguns dados importantes ficam claros e são para reter. Desde logo, a expressão numérica das adesões e a rapidez com que alastrou. Depois, o completo fracasso dos habituais profissionais da contestação (aquela malta da esquerda e da extrema-esquerda que se especializou em vampirizar as insatisfações alheias para em nome delas melhor se instalar à mesa da situação) nas suas tentativas para enquadrar e dirigir essas movimentações, canalizando-as e usando-as nos termos politicamente correctos.
Com efeito, basta visitar uma qualquer página ou forum dos inúmeros que foram nascendo descoordenados para se observar como os usuais tópicos da esquerda doméstica, o pensamento da vulgata esquerdista, foi completamente varrido pela multidão dos cidadãos lançados nessas operações de contestação. Os lugares comuns dessa vulgata mostraram-se de todo incompatíveis com as convicções assentes do comum dos cidadãos revoltados, até daquele mais despolitizado. A revolta exprime-se contra o conjunto da classe política, contra a corrupção dos partidos e do sistema, contra a desintegração social e a decadência económica e moral trazidos pelo regime. Cada vez que um excêntrico surgiu a acenar com fantasias de "mais democracia e mais socialismo" logo uma chusma de indignados lhe atirava furiosamente com as realidades da democracia e do socialismo que efectivamente temos e temos tido. Sempre que um lunático acenava extasiado com "as promessas de Abril" logo as gentes furiosas lhe arremessavam com os 37 anos de incumprimento reiterado e desavergonhado. Quando algum retardado aparecia a relembrar o "fascismo" (ameaça e combate outrora sempre muito oportunos para estas situações) logo muitos o calavam retorquindo, com impecável bom senso, que o anti-fascismo é a ideologia que faz do fascismo espantalho para não pôr em causa o que realmente existe.
Do nosso ponto de vista, temos realmente (e seja o que for que venha ainda a passar-se) uma vitória intelectual: os partidos já não têm quem os defenda, o regime já não provoca solidariedade nenhuma, dizer-se contra o sistema já é banal, quase consensual.
O mais difícil está agora em fazer que deste clima resulte algo de concreto, no terreno das transformações políticas. Mas isso é outra conversa, que aliás temos vindo a desenvolver noutros textos recentes.
Do nosso ponto de vista, temos realmente (e seja o que for que venha ainda a passar-se) uma vitória intelectual: os partidos já não têm quem os defenda, o regime já não provoca solidariedade nenhuma, dizer-se contra o sistema já é banal, quase consensual.
O mais difícil está agora em fazer que deste clima resulte algo de concreto, no terreno das transformações políticas. Mas isso é outra conversa, que aliás temos vindo a desenvolver noutros textos recentes.
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