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quarta-feira, março 02, 2011

Tornar real a revolta virtual 

Ao que dizem, com FMI ou sem ele, com os impostos a diminuir e com a economia em recessão e se não forem postas em prática medidas restritivas, a partir de Abril ou Maio, talvez até antes, não haverá dinheiro para pagar salários da função pública, mesmo que diminuídos, nem para garantir as pensões dos idosos, nem o rendimento social de inserção, nem os serviços básicos da saúde pública (quem estiver a contar com subsídios de férias, será melhor riscar).
Significa isto, em termos simples, e prescindindo das eternas polémicas da ciência económica, que o remédio para o problema económico-financeiro português só pode encontrar-se nas velhas receitas: produzir e poupar. Produzir mais, significa trabalhar mais; poupar mais, quer dizer gastar menos. Sendo esta a realidade a que não se pode fugir, não há dúvida nenhuma de que o futuro trará aos portugueses aquilo que a generalidade se recusa a aceitar: mais trabalho e menos festa. Pode ser impopular, mas é a verdade.
Importa sublinhar, todavia, que nem por isso falta razão ao protesto dos que se revoltam. Desde logo, há a questão da responsabilidade: é preciso correr com os políticos e as políticas que nos trouxeram para esta desgraçada situação. Mantendo as causas não mudarão os efeitos. Há depois a questão moral: se vamos ter que nos sacrificar todos, é preciso que os sacrifícios sejam distribuídos com justiça, e o exemplo tem que vir de cima.
Têm assim toda a razão de ser as manifestações de revolta que percorrem o espaço virtual. Os portugueses, se querem chamar a si o futuro colectivo, têm que criar as condições da recuperação. Não poderá haver recuperação sem mudança, e profunda, e não poderá haver mudança profunda sem nos livrarmos da classe política mais incapaz e corrupta que o país já conheceu - e de caminho afastar também toda a tralha ideológica que permitiu e justificou este caminho, esta gente e esta situação.
Revoltemo-nos, pois; manifestemo-nos, sim; e sejamos capazes de tornar bem real, e trazer para a vida real, esse descontentamento geral que até agora temos visto espraiar-se pelas ondas virtuais, à mistura com muita parvoíce de quem ainda julga que é possível ter tudo sem pagar nada.
Compete-nos estar com o povo. Fazemos parte dele. E no meio dele procurar fazer a política do real, e encontrar as vias do destino colectivo - que não passam mais pelas terras das ilusões e das facilidades.

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