quarta-feira, agosto 25, 2010
Encontros marcados
Encontro nacionalista no Estoril:
Almoço de confraternização nacionalista, no Restaurante Chaparro - Feira de Artesanato do Estoril. É já no dia 29 de Agosto.
Encontro Nacionalista em Leiria
Sábado, Dia 11 de Setembro:
O ponto de encontro será junto à entrada do recinto da feira onde montaremos uma banca.
Este encontro para além de uma acção panfletária visa sobretudo recolher assinaturas para a candidatura de José Pinto Coelho às eleições presidenciais e iniciar-se-à às 09horas.
Mais informações sobre este evento:
E-mail PNRLeiria@gmail.com
Telemóvel 961488375
Encontro Nacionalista em Coimbra
Sábado, Dia 18 de Setembro:
O encontro visa promover o convívio entre militantes e simpatizantes do PNR do Distrito de Coimbra e delinear estratégias políticas para o Distrito.
Ponto de encontro: Praça 8 de Maio
Mais informações sobre este evento:
E-mail PNRCoimbra@gmail.com
Telemóvel 961488375
Encontro Nacionalista em Leiria
Sábado, Dia 11 de Setembro:
O ponto de encontro será junto à entrada do recinto da feira onde montaremos uma banca.
Este encontro para além de uma acção panfletária visa sobretudo recolher assinaturas para a candidatura de José Pinto Coelho às eleições presidenciais e iniciar-se-à às 09horas.
Mais informações sobre este evento:
E-mail PNRLeiria@gmail.com
Telemóvel 961488375
Encontro Nacionalista em Coimbra
Sábado, Dia 18 de Setembro:
O encontro visa promover o convívio entre militantes e simpatizantes do PNR do Distrito de Coimbra e delinear estratégias políticas para o Distrito.
Ponto de encontro: Praça 8 de Maio
Mais informações sobre este evento:
E-mail PNRCoimbra@gmail.com
Telemóvel 961488375
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domingo, agosto 22, 2010
Morreu António Telmo
António Telmo Carvalho Vitorino, o mais destacado representante vivo do grupo da Filosofia Portuguesa, discípulo de Álvaro Ribeiro (1905-1981) e companheiro de Agostinho da Silva (1906-1994), morreu ao princípio da manhã de sábado, no Hospital de Évora. Tinha 83 anos.
Na linha daquilo que expunham Teixeira de Pascoaes (1877-1952), José Marinho (1904-1975), Álvaro Ribeiro, Afonso Botelho (1919-1996), António Quadros (1923-1993) e também Agostinho da Silva, Telmo, que era, acima de tudo, um filólogo e um hermeneuta, há muito enredado na teia e na trama do esoterismo e do hermetismo, que defendia a especificidade do pensamento português.
António Telmo Carvalho Vitorino nasceu a 2 de Maio de 1927, em Almeida. Entre os dois e os seis anos, viveu em Angola com a família. Regressada a Portugal, fixou-se em Alter-do-Chão e, mais tarde, em Arruda-dos-Vinhos. António Telmo viverá por lá até aos 16 anos. Antes de ir estudar para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ainda morará em Sesimbra. Na sua infância e juventude, foi um auto-didacta: estudava em casa e fazia os exames em Lisboa.
Aos 23 anos, ingressa no grupo da Filosofia Portuguesa, após ter conhecido José Marinho e Álvaro Ribeiro. A convite de Agostinho da Silva e de Eudoro de Sousa (1911-1987), foi professor de Literatura Portuguesa, durante três anos, na recém-formada Universidade de Brasília. De lá seguiu para Granada e, só depois, é que voltou a Portugal. Foi director da Biblioteca de Sesimbra e posteriormente radicou-se em Estremoz como professor de Português. Deixa obra extensa.
Na linha daquilo que expunham Teixeira de Pascoaes (1877-1952), José Marinho (1904-1975), Álvaro Ribeiro, Afonso Botelho (1919-1996), António Quadros (1923-1993) e também Agostinho da Silva, Telmo, que era, acima de tudo, um filólogo e um hermeneuta, há muito enredado na teia e na trama do esoterismo e do hermetismo, que defendia a especificidade do pensamento português.
António Telmo Carvalho Vitorino nasceu a 2 de Maio de 1927, em Almeida. Entre os dois e os seis anos, viveu em Angola com a família. Regressada a Portugal, fixou-se em Alter-do-Chão e, mais tarde, em Arruda-dos-Vinhos. António Telmo viverá por lá até aos 16 anos. Antes de ir estudar para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ainda morará em Sesimbra. Na sua infância e juventude, foi um auto-didacta: estudava em casa e fazia os exames em Lisboa.
Aos 23 anos, ingressa no grupo da Filosofia Portuguesa, após ter conhecido José Marinho e Álvaro Ribeiro. A convite de Agostinho da Silva e de Eudoro de Sousa (1911-1987), foi professor de Literatura Portuguesa, durante três anos, na recém-formada Universidade de Brasília. De lá seguiu para Granada e, só depois, é que voltou a Portugal. Foi director da Biblioteca de Sesimbra e posteriormente radicou-se em Estremoz como professor de Português. Deixa obra extensa.
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quarta-feira, agosto 11, 2010
A Pátria chama por Nós - É a Hora!
Tal como em 1385 desafios de hoje são claros a ameaça é real e a resposta tem que ser firme, inequívoca. Esta é, verdadeiramente, a hora!
No próximo dia 14 de Agosto convocamos-vos para uma reunião no terreiro de Aljubarrota.
É o local único e histórico onde os nossos antepassados venceram a decisiva batalha pela Pátria Livre e Independente. Hoje, cativo de tantos males, sentimos que Portugal chama de novo pelos Portugueses. E nós vamos responder, porque é a ele e só por ele, que empenharemos a nossa lealdade.
É esta atitude essencial, é esta entrega total que permitiu sempre superar os temores que sobre nós se abatiam, conquistar a Confiança e a Vitória em todas as crises, e vencer. O materialismo e a degradação do nosso tempo ensombram a Esperança mas, não só não nos impedem como tornam imperiosa, uma resposta clara, firme e realista, como então.
É no Campo Sagrado de S. Jorge que faz todo o sentido um voto para lutar por Portugal, pela nossa gente, pelo futuro. Nessa Fé e Devoção a Portugal, o Movimento de Oposição Nacional - Uma Plataforma Para o Ressurgimento Nacional, convoca-te para esse voto, para manter viva a chama sagrada da Pátria e tomares uma Decisão que te pode mobilizar para um combate político decisivo.
O tempo é de combate. Vivemos uma situação grave. Porque está tudo em risco, e dizer Portugal é dizer tudo o que de material e espiritual a Nação inclui, do Trabalho nas Fábricas à Criação Cultural. Sentimos Portugal como razão de Vida e Morte e legado a transmitir. Por isso, vamos lutar! Com Conhecimento, Inteligência e Vontade a dirigirem a Acção. Os combatentes revelam-se nos tempos difíceis e não nos anos de temperança. Privamo-nos do que for preciso - não negaremos à Pátria nada do que e ela de nós exigir: Sacrifício, Fidelidade, Entrega.
Estamos a tempo de resgatar a Nação. Tal como no passado, há muitos Portugueses dispostos a travar, uma vez mais, o combate decisivo.
Contamos convosco. Portugal pode contar connosco!
Chegou a hora!
A Comissão Política do
Movimento de Oposição Nacional
Uma Plataforma Para o ressurgimento Nacional
Contactos: oposicaonacional@gmail.com ou 96 730 00 76.
Facebook.
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sexta-feira, agosto 06, 2010
COMEMORAÇÃO DE ALJUBARROTA
«Em 14 de Agosto de 1385 — há portanto 550 anos — foi travada entre portugueses e castelhanos a batalha de Aljubarrota, não muito longe do sítio onde hoje se admiram a igreja e convento da Batalha, erguidos em comemoração da vitória. A desproporção das forças em presença — 7.000 portugueses para mais de 30.000 inimigos — o fulminante da vitória, as pesadíssimas perdas infligidas aos castelhanos, a fuga do rei de Castela, a maneira como foi conduzida a batalha sob o aspecto puramente militar por esse extraordinário generalíssimo, e assombroso de misticismo religioso e de génio guerreiro, que se chamou D. Nuno Álvares Pereira, fazem de Aljubarrota o ponto central da longa guerra havida com Castela e a vitória mais representativa do esforço de nossos avós pela independência de Portugal. Esta é a primeira e grande liberdade por que se bateram então.
A crise de pensamento e de consciência que na passagem da primeira para a segunda dinastia atormentou os portugueses, os perigos que afrontaram, as fomes e pestes que sofreram, as lutas em que se empenharam só para manter o direito de não serem governados por outros e vincar a aspiração de continuar o seu rumo histórico sem sujeição a rei estrangeiro, gravaram para sempre Aljubarrota no espírito da Nação e fizeram desta data a verdadeira festa da independência.
Passaram sobre o acontecimento alguns séculos que não foram sempre de paz e concórdia na península.
Novas dificuldades de sucessão no trono português trouxeram o domínio dos Filipes e contra ele as longas guerras da restauração. Sobre estas mesmas também já passaram séculos. Era ridículo ter alimentado nos corações os rancores nascidos nas batalhas: por isso Aljubarrota, Atoleiros, Valverde, como três séculos mais tarde Montijo, Ameixial, as linhas de Elvas, Montes Claros são vitórias mas não já gritos de ódio, não são hoje contra ninguém, são para nós mesmos.
E parece que assim mesmo deveria ser.
Podemos orgulhar-nos de sermos na Europa o único país cujas fronteiras se podem dizer imutáveis desde há séculos; é, de facto, curioso! Uma vez talhada pelos primeiros reis na faixa atlântica, nem mesmo se notou nunca a preocupação de alargar na península as fronteiras da Pátria. Ia noutra direcção a força expansiva da raça, o seu génio descobridor e de colonização: pelo Atlântico, pelo Índico se expandiu o povo português, descobriu as terras e os mares, abriu aos outros povos novos mundos, levando e deixando por toda a parte o traço característico da sua dominação — o humanitarismo da sua alma latina, o apostolado da sua civilização cristã.
Por outro lado, a Espanha seguiu também o seu curso, ora paralelo ora concorrente, ergueu a sua história ao nível dos grandes heroísmos e façanhas, fez na América Central e do Sul, afora o Brasil, poderosas nações, filhas do seu sangue e do seu catolicismo. Não precisara de nós e só contra nós não pudera nunca ter razão.
Estamos em face de um imperativo histórico, contra o qual têm lutado debalde os derrotistas, os acomodatícios, os filósofos d`aquém e d`além fronteiras. Estes têm o direito de, raciocinando sobre abstracções, classificar de erro o que os séculos impuseram e a nossa vontade inabalável se sente obrigada a manter.
Como sempre esta vontade não é nem tem de ser a de todos ou cada um dos portugueses, mas a que se desentranha da massa da Nação. Antes e depois de Aljubarrota havia portugueses partidários do rei de Castela, e o próprio D. Nuno Álvares Pereira sentiria alanceado o coração de saber irmãos seus lutando pelo rei estrangeiro.
Em 1580, em 1640, também nos dividimos: membros do clero e da nobreza foram vítimas da dificuldade de ver claro em certos transes históricos, sobretudo se interesses elevados de qualquer ordem começam pesando na balança dos juízos, e a empecer as deliberações a que trazem em seu seio riscos da vida e da fortuna.
Mas os que, tendo à frente Álvaro Pais, quiseram que D.João, Mestre de Aviz, fosse proclamado «regedor e defensor do reino»; os que seguiram D. António, Prior do Crato; os que apoiaram e fizeram valer o grito dos fidalgos conspiradores da independência, em 1640, tiraram do seu mesmo desinteresse aquela clara visão do imperativo nacional que irresistivelmente os levou a esquecer a desproporção das forças e dos meios, os perigos da aventura e os benefícios que puderam usufruir de outras soluções.
Não há dúvida de que homens de escol nas letras, na política, nas armas o guiaram para as resoluções e vitórias definitivas, mas é preciso crer, em face de tais exemplos, que o povo é, pela simplicidade da sua alma e espontaneidade dos seus sentimentos, a fonte sempre viva do nosso nacionalismo.
Que importa que no presente momento histórico não seja igualmente vista por muitos a necessidade e grandeza da obra nacionalizadora em marcha, se o povo tem a intuição duma época decisiva da nossa vida e de que por este caminho se retoma o velho rumo da história pátria!?
Eis porque se pensou que a festa de hoje deveria ter o cunho de festa popular.
Festa popular e festa de mocidade. Nuno Álvares tinha vinte e três anos quando da revolução em Lisboa, e 25 em Aljubarrota; D. João I, 25 ao ser proclamado defensor do reino e 27 na segunda daquelas datas. O estado maior do Condestável eram rapazes de pouca idade, com o espírito aventuroso e irrequieto dos jovens, insofridos nas pelejas, mas obedecendo cegamente ao chefe. Com estes se fez a campanha e se assegurou a independência de Portugal.
Hoje como então se exige espírito novo para fazer a revolução nacional. O espírito novo é mais fácil encontrá-lo em novos que em velhos, ainda que haja velhos com mocidade de espírito e moços gastos por interesses e preocupações que não costumam ser da sua idade. É, porém, essencial que o espírito da mocidade seja por nós formado no sentido da vocação histórica de Portugal, com os exemplos de que é fecunda a História, exemplos de sacrifício, patriotismo, desinteresse, abnegação, valentia, sentimento da dignidade própria, respeito absoluto pela alheia.
Facto cheio de ensinamentos é o comemorado hoje: homens que sirvam de exemplo para a nossa formação esses que, à volta de D. João I e do Condestável, batalharam e serviram e foram de tamanha estatura que futuros séculos de maravilha não lhes tocaram nem os puderam diminuir. Sobretudo esse Condestável D. Nuno, depois Frei Nuno de Santa Maria, guerreiro e monge, chefe de exércitos e edificador de conventos, vencedor de castelhanos e distribuindo em maus anos seus bens pelos mesmos que derrotara em batalhas para que não mandassem na sua terra, erguendo sua valentia no altar da Pátria como a Igreja o havia de erguer pelas suas virtudes nos altares da fé, cheio de honras e riquezas e enterrado em vida no Convento do Carmo, na dura estamenha de frade, quando depois de Ceuta lhe pareceu já não ser necessária a espada para defesa da Pátria, mas disposto de novo a vestir as armas se el-Rei de Castela mais alguma vez se tentasse a invadir Portugal.
Por estes motivos os sítios de Aljubarrota e a Batalha devem ser os lugares de entre os eleitos para as grandes peregrinações patrióticas, e eu quisera que no próximo ano ali acorressem, de todos os cantos de Portugal, milhares, centos de milhares de portugueses de hoje, sobretudo a juventude, para vivificar e robustecer ao calor dum passado heróico a sua devoção patriótica. E, visitados os campos da luta, entrariam, devotadamente, na igreja do Convento da Batalha que, ao contrário da do Escurial de Filipe II, lúgubre e apropriada para as exéquias dum grande rei, é clara e triunfal, como se não fosse feita para a oração de todos os dias mas apenas para o solene Te Deum das grandes e magníficas vitórias.
Nunca passo ali, mesmo apertado pela estreiteza do tempo, que não me sinta obrigado a parar, a entrar e pisando a campa rasa do Rei de boa memória e parece ainda guardá-lo na morte, penetrar comovido na capela do Fundador. Aí se encontram os restos mortais de D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre, e à roda a «ínclita geração de altos infantes»; ali repousam os que consolidaram a independência de Portugal, se assentaram as bases da sua grandeza futura.
14 VIII 1935.
Oliveira Salazar»
(In A Voz, n.º 3048, págs. 1/8, 15.08.1935)
A crise de pensamento e de consciência que na passagem da primeira para a segunda dinastia atormentou os portugueses, os perigos que afrontaram, as fomes e pestes que sofreram, as lutas em que se empenharam só para manter o direito de não serem governados por outros e vincar a aspiração de continuar o seu rumo histórico sem sujeição a rei estrangeiro, gravaram para sempre Aljubarrota no espírito da Nação e fizeram desta data a verdadeira festa da independência.
Passaram sobre o acontecimento alguns séculos que não foram sempre de paz e concórdia na península.
Novas dificuldades de sucessão no trono português trouxeram o domínio dos Filipes e contra ele as longas guerras da restauração. Sobre estas mesmas também já passaram séculos. Era ridículo ter alimentado nos corações os rancores nascidos nas batalhas: por isso Aljubarrota, Atoleiros, Valverde, como três séculos mais tarde Montijo, Ameixial, as linhas de Elvas, Montes Claros são vitórias mas não já gritos de ódio, não são hoje contra ninguém, são para nós mesmos.
E parece que assim mesmo deveria ser.
Podemos orgulhar-nos de sermos na Europa o único país cujas fronteiras se podem dizer imutáveis desde há séculos; é, de facto, curioso! Uma vez talhada pelos primeiros reis na faixa atlântica, nem mesmo se notou nunca a preocupação de alargar na península as fronteiras da Pátria. Ia noutra direcção a força expansiva da raça, o seu génio descobridor e de colonização: pelo Atlântico, pelo Índico se expandiu o povo português, descobriu as terras e os mares, abriu aos outros povos novos mundos, levando e deixando por toda a parte o traço característico da sua dominação — o humanitarismo da sua alma latina, o apostolado da sua civilização cristã.
Por outro lado, a Espanha seguiu também o seu curso, ora paralelo ora concorrente, ergueu a sua história ao nível dos grandes heroísmos e façanhas, fez na América Central e do Sul, afora o Brasil, poderosas nações, filhas do seu sangue e do seu catolicismo. Não precisara de nós e só contra nós não pudera nunca ter razão.
Estamos em face de um imperativo histórico, contra o qual têm lutado debalde os derrotistas, os acomodatícios, os filósofos d`aquém e d`além fronteiras. Estes têm o direito de, raciocinando sobre abstracções, classificar de erro o que os séculos impuseram e a nossa vontade inabalável se sente obrigada a manter.
Como sempre esta vontade não é nem tem de ser a de todos ou cada um dos portugueses, mas a que se desentranha da massa da Nação. Antes e depois de Aljubarrota havia portugueses partidários do rei de Castela, e o próprio D. Nuno Álvares Pereira sentiria alanceado o coração de saber irmãos seus lutando pelo rei estrangeiro.
Em 1580, em 1640, também nos dividimos: membros do clero e da nobreza foram vítimas da dificuldade de ver claro em certos transes históricos, sobretudo se interesses elevados de qualquer ordem começam pesando na balança dos juízos, e a empecer as deliberações a que trazem em seu seio riscos da vida e da fortuna.
Mas os que, tendo à frente Álvaro Pais, quiseram que D.João, Mestre de Aviz, fosse proclamado «regedor e defensor do reino»; os que seguiram D. António, Prior do Crato; os que apoiaram e fizeram valer o grito dos fidalgos conspiradores da independência, em 1640, tiraram do seu mesmo desinteresse aquela clara visão do imperativo nacional que irresistivelmente os levou a esquecer a desproporção das forças e dos meios, os perigos da aventura e os benefícios que puderam usufruir de outras soluções.
Não há dúvida de que homens de escol nas letras, na política, nas armas o guiaram para as resoluções e vitórias definitivas, mas é preciso crer, em face de tais exemplos, que o povo é, pela simplicidade da sua alma e espontaneidade dos seus sentimentos, a fonte sempre viva do nosso nacionalismo.
Que importa que no presente momento histórico não seja igualmente vista por muitos a necessidade e grandeza da obra nacionalizadora em marcha, se o povo tem a intuição duma época decisiva da nossa vida e de que por este caminho se retoma o velho rumo da história pátria!?
Eis porque se pensou que a festa de hoje deveria ter o cunho de festa popular.
Festa popular e festa de mocidade. Nuno Álvares tinha vinte e três anos quando da revolução em Lisboa, e 25 em Aljubarrota; D. João I, 25 ao ser proclamado defensor do reino e 27 na segunda daquelas datas. O estado maior do Condestável eram rapazes de pouca idade, com o espírito aventuroso e irrequieto dos jovens, insofridos nas pelejas, mas obedecendo cegamente ao chefe. Com estes se fez a campanha e se assegurou a independência de Portugal.
Hoje como então se exige espírito novo para fazer a revolução nacional. O espírito novo é mais fácil encontrá-lo em novos que em velhos, ainda que haja velhos com mocidade de espírito e moços gastos por interesses e preocupações que não costumam ser da sua idade. É, porém, essencial que o espírito da mocidade seja por nós formado no sentido da vocação histórica de Portugal, com os exemplos de que é fecunda a História, exemplos de sacrifício, patriotismo, desinteresse, abnegação, valentia, sentimento da dignidade própria, respeito absoluto pela alheia.
Facto cheio de ensinamentos é o comemorado hoje: homens que sirvam de exemplo para a nossa formação esses que, à volta de D. João I e do Condestável, batalharam e serviram e foram de tamanha estatura que futuros séculos de maravilha não lhes tocaram nem os puderam diminuir. Sobretudo esse Condestável D. Nuno, depois Frei Nuno de Santa Maria, guerreiro e monge, chefe de exércitos e edificador de conventos, vencedor de castelhanos e distribuindo em maus anos seus bens pelos mesmos que derrotara em batalhas para que não mandassem na sua terra, erguendo sua valentia no altar da Pátria como a Igreja o havia de erguer pelas suas virtudes nos altares da fé, cheio de honras e riquezas e enterrado em vida no Convento do Carmo, na dura estamenha de frade, quando depois de Ceuta lhe pareceu já não ser necessária a espada para defesa da Pátria, mas disposto de novo a vestir as armas se el-Rei de Castela mais alguma vez se tentasse a invadir Portugal.
Por estes motivos os sítios de Aljubarrota e a Batalha devem ser os lugares de entre os eleitos para as grandes peregrinações patrióticas, e eu quisera que no próximo ano ali acorressem, de todos os cantos de Portugal, milhares, centos de milhares de portugueses de hoje, sobretudo a juventude, para vivificar e robustecer ao calor dum passado heróico a sua devoção patriótica. E, visitados os campos da luta, entrariam, devotadamente, na igreja do Convento da Batalha que, ao contrário da do Escurial de Filipe II, lúgubre e apropriada para as exéquias dum grande rei, é clara e triunfal, como se não fosse feita para a oração de todos os dias mas apenas para o solene Te Deum das grandes e magníficas vitórias.
Nunca passo ali, mesmo apertado pela estreiteza do tempo, que não me sinta obrigado a parar, a entrar e pisando a campa rasa do Rei de boa memória e parece ainda guardá-lo na morte, penetrar comovido na capela do Fundador. Aí se encontram os restos mortais de D. João I e da rainha D. Filipa de Lencastre, e à roda a «ínclita geração de altos infantes»; ali repousam os que consolidaram a independência de Portugal, se assentaram as bases da sua grandeza futura.
14 VIII 1935.
Oliveira Salazar»
(In A Voz, n.º 3048, págs. 1/8, 15.08.1935)
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A LIÇÃO DE ALJUBARROTA
Já era muito o poder dizer-se com verdade que a batalha de Aljubarrota consolidou a independência de Portugal. E, todavia, o significado da batalha é muito mais vasto e profundo. Naquela meia hora escassa de 14 de Agosto, ao cair da tarde, decidiram-se, afinal, os destinos do mundo: — e não pode ser-nos estranho, a nós, que mãos portuguesas então moldassem as condições em que havia de basear-se o mundo moderno.
Basta reparar que, libertando Portugal das hegemonias de Castela, ao mesmo tempo se definiam as circunstâncias em que haveriam de desenvolver-se a actividade de Portugal, alongando-se para o mar, e a de Castela, lançando as bases da Espanha futura.
Pensando bem, a vitória de Portugal em Aljubarrota corresponde ao triunfo da civilização — porque tão necessária era à civilização do Ocidente a independência de Portugal como a de Castela. Por isso é que, providencialmente, a fortuna das armas se inclinou no mesmo sentido civilizador, afinal, em Aljubarrota como em Toro.
De facto, se os castelhanos tivessem vencido em Aljubarrota, os portugueses não poderiam naturalmente, lançar-se na empresa incomparável dos Descobrimentos; e não deve esquecer-se que as preocupações imperialistas de Afonso V (que foram desfazer-se em Toro) por algum tempo afastaram Portugal da preocupação dominante dos Descobrimentos.
Ora não é, com certeza, frenesim do sentimento nacionalista exacerbado o reconhecer-se que seria bem mais pobre a história do mundo se os portugueses (seguidos, como discípulos, pelos espanhóis) não tivessem escrito as páginas insuperáveis dos Descobrimentos e da colonização.
Não devemos ter pejo de pronunciar estas palavras sonoras a propósito de um acontecimento cujos objectivos e cujas consequências se insiste em querer limitar apenas (se pode dizer-se apenas) a Portugal.
A verdade é que mais de cem anos de decadência (e, o que é pior, de conformidade com a decadência) nos fizeram crer na limitação, quase provinciana, da acção histórica de Portugal. Se já nos não considerávamos capazes de executar grandes acções no mundo, era natural que não abrangêssemos em toda a sua maravilhosa amplitude a actividade ecuménica que havíamos desenvolvido durante séculos.
Ora Aljubarrota está no começo — é o primeiro estádio e a condição fundamental dessa actividade. Por ela voltamos um dia, magnificamente, as costas à Europa, debruçando-nos para os mistérios do mar, no sonho das desconhecidas estradas da civilização que íamos descobrir, e nos pudemos alhear das guerras civis e de religião que, durante séculos, desperdiçaram as forças criadoras das nações europeias e esfarraparam a túnica inconcussa do Salvador, quebrando a unidade espiritual do mundo civilizado.
Enquanto se desfazia assim ou se diminuía a cristandade, perdendo-se o sentido de solidariedade fraternal que deveria unir as nações cristãs, Portugal tomava para si a missão inexcedível que o Senhor destinou aos Apóstolos e dilatava por toda a terra a Fé e o Império, lembrado de que à sombra da Igreja se criou e cresceu a sua glória e se firmava a sua grandeza.
"Miles Christi" — verdadeiramente o foi Portugal então; e não seria em vão que os portugueses de Aljubarrota tinham já a comandá-los para a vitória um herói, que era um santo.
Aljubarrota abrange toda a história portuguesa — é da meia dúzia de marcos que definem os destinos dos homens na história. Recolhamo-nos agora em meditação — e que os mortos ressurjam diante de nós, para que, no pensamento do que fizeram, seja mais rigoroso o nosso esforço e seja maior a nossa esperança.
Manuel Múrias
Basta reparar que, libertando Portugal das hegemonias de Castela, ao mesmo tempo se definiam as circunstâncias em que haveriam de desenvolver-se a actividade de Portugal, alongando-se para o mar, e a de Castela, lançando as bases da Espanha futura.
Pensando bem, a vitória de Portugal em Aljubarrota corresponde ao triunfo da civilização — porque tão necessária era à civilização do Ocidente a independência de Portugal como a de Castela. Por isso é que, providencialmente, a fortuna das armas se inclinou no mesmo sentido civilizador, afinal, em Aljubarrota como em Toro.
De facto, se os castelhanos tivessem vencido em Aljubarrota, os portugueses não poderiam naturalmente, lançar-se na empresa incomparável dos Descobrimentos; e não deve esquecer-se que as preocupações imperialistas de Afonso V (que foram desfazer-se em Toro) por algum tempo afastaram Portugal da preocupação dominante dos Descobrimentos.
Ora não é, com certeza, frenesim do sentimento nacionalista exacerbado o reconhecer-se que seria bem mais pobre a história do mundo se os portugueses (seguidos, como discípulos, pelos espanhóis) não tivessem escrito as páginas insuperáveis dos Descobrimentos e da colonização.
Não devemos ter pejo de pronunciar estas palavras sonoras a propósito de um acontecimento cujos objectivos e cujas consequências se insiste em querer limitar apenas (se pode dizer-se apenas) a Portugal.
A verdade é que mais de cem anos de decadência (e, o que é pior, de conformidade com a decadência) nos fizeram crer na limitação, quase provinciana, da acção histórica de Portugal. Se já nos não considerávamos capazes de executar grandes acções no mundo, era natural que não abrangêssemos em toda a sua maravilhosa amplitude a actividade ecuménica que havíamos desenvolvido durante séculos.
Ora Aljubarrota está no começo — é o primeiro estádio e a condição fundamental dessa actividade. Por ela voltamos um dia, magnificamente, as costas à Europa, debruçando-nos para os mistérios do mar, no sonho das desconhecidas estradas da civilização que íamos descobrir, e nos pudemos alhear das guerras civis e de religião que, durante séculos, desperdiçaram as forças criadoras das nações europeias e esfarraparam a túnica inconcussa do Salvador, quebrando a unidade espiritual do mundo civilizado.
Enquanto se desfazia assim ou se diminuía a cristandade, perdendo-se o sentido de solidariedade fraternal que deveria unir as nações cristãs, Portugal tomava para si a missão inexcedível que o Senhor destinou aos Apóstolos e dilatava por toda a terra a Fé e o Império, lembrado de que à sombra da Igreja se criou e cresceu a sua glória e se firmava a sua grandeza.
"Miles Christi" — verdadeiramente o foi Portugal então; e não seria em vão que os portugueses de Aljubarrota tinham já a comandá-los para a vitória um herói, que era um santo.
Aljubarrota abrange toda a história portuguesa — é da meia dúzia de marcos que definem os destinos dos homens na história. Recolhamo-nos agora em meditação — e que os mortos ressurjam diante de nós, para que, no pensamento do que fizeram, seja mais rigoroso o nosso esforço e seja maior a nossa esperança.
Manuel Múrias
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Portugueses, retomemos o espírito de Aljubarrota!
A 14 de Agosto de 1385, a uns 12 quilómetros a sul de Leiria, travou-se a batalha de Aljubarrota, entre o exército português chefiado por D. João I de Portugal e o exército invasor de D. João I de Castela; nessa peleja, uma das mais decisivas da nossa História, pouco mais de 6 mil portugueses fizeram frente a cerca de 36 mil castelhanos.
A brilhante vitória das nossas armas foi o prémio merecido por aqueles que não desistiram de lutar pela liberdade e integridade da Pátria, que não se intimidaram com o poder e número dos inimigos e também com o tempo que durariam as provações e nem recearam o montante dos sacrifícios em bens e vidas. Aqueles nossos antepassados deram-se totalmente à Pátria da qual somos herdeiros e continuadores.
Invadindo Portugal com um poderoso exército, propunha-se o rei castelhano esmagar as reduzidas forças que se opunham às suas pretensões ao trono de Portugal; apoiava-se o intruso nos direitos que, ao uso da época, lhe assistiam pelo casamento com a filha do nosso Rei D. Fernando, falecido anos antes e sem deixar sucessor.
A batalha de Aljubarrota pôs termo feliz a uma crise em que a independência de Portugal esteve em grave risco. Porém, já então estava suficientemente amadurecido o sentimento da nossa identidade nacional, distinta e acima de qualquer outra consideração que não fosse o querer colectivo dum povo homogéneo e unido, herdeiro de um passado talhado a golpes de heroísmo e caldeado na comunhão de aspirações por um futuro ousado e maravilhoso, impelido nas asas do sonho e da aventura.
A independência de Portugal ficara assim consolidada, graças à vontade indómita de um povo que preferia morrer lutando, para continuar em liberdade o que dele sobrevivesse, do que ficar prisioneiro e desonrado sob o jugo de estranhos. A magnífica lição que colhemos daquele acontecimento impõe-nos o dever e a honra de continuar Portugal.
Como ensinamentos avultam o da fé nos destinos duma Pátria livre, o da confiança nas virtudes dos chefes naturais saídos da comunidade nacional e, também, o da fidelidade ao passado histórico da Grei.
A fé nos destinos da Pátria tem as suas raízes no mais puro patriotismo e não carece de outros fundamentos porque a consciência cívica é naturalmente inclinada a ter fé no objecto de sua afeição; ama-se naturalmente a Pátria de que somos parte e para ela queremos o melhor porvir, tal como se ama sem reservas a mãe que nos deu o ser, nos acarinhou e nos criou com mil cuidados e sacrifícios, a quem queremos feliz e honrada.
Foi admirável a confiança depositada pelo povo nos seus chefes naturais, em homens como o Mestre de Aviz que assumiu as responsabilidades da governação do Reino, ou como o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, verde em anos, mas modelo de bravura e distinto na chefia militar; e também em homens como João das Regras, delegado popular nas Cortes, onde conduziu com rara mestria e muita tenacidade a defesa da única solução que interessava a Portugal, ou ainda como Álvaro Pais que foi a alma do levantamento e fiel intérprete da vontade popular.
O nosso passado histórico não contava então mais de 250 anos, mas já era muito rico de sucessos vividos em acções heróicas concretizadas na construção duma Pátria livre e na consolidação dum Estado soberano; esse passado implicava a existência dum instinto colectivo nascido de trabalhos e perigos partilhados, verdadeira consciência cívica impondo aos Portugueses completa fidelidade à sagrada herança dos seus Avós.
É nosso dever não nos deixarmos sucumbir ante a magnitude do desastre de 1974; pelo contrário, hoje mais do que nunca, com os olhos postos nos exemplos dos nossos maiores, tal como em Aljubarrota, cerremos fileiras formando um quadrado único e coeso, sobre o qual se erga altiva apenas a Bandeira das Quinas, e contra o qual se desfaçam os assaltos dos inimigos internos e externos de Portugal!
A brilhante vitória das nossas armas foi o prémio merecido por aqueles que não desistiram de lutar pela liberdade e integridade da Pátria, que não se intimidaram com o poder e número dos inimigos e também com o tempo que durariam as provações e nem recearam o montante dos sacrifícios em bens e vidas. Aqueles nossos antepassados deram-se totalmente à Pátria da qual somos herdeiros e continuadores.
Invadindo Portugal com um poderoso exército, propunha-se o rei castelhano esmagar as reduzidas forças que se opunham às suas pretensões ao trono de Portugal; apoiava-se o intruso nos direitos que, ao uso da época, lhe assistiam pelo casamento com a filha do nosso Rei D. Fernando, falecido anos antes e sem deixar sucessor.
A batalha de Aljubarrota pôs termo feliz a uma crise em que a independência de Portugal esteve em grave risco. Porém, já então estava suficientemente amadurecido o sentimento da nossa identidade nacional, distinta e acima de qualquer outra consideração que não fosse o querer colectivo dum povo homogéneo e unido, herdeiro de um passado talhado a golpes de heroísmo e caldeado na comunhão de aspirações por um futuro ousado e maravilhoso, impelido nas asas do sonho e da aventura.
A independência de Portugal ficara assim consolidada, graças à vontade indómita de um povo que preferia morrer lutando, para continuar em liberdade o que dele sobrevivesse, do que ficar prisioneiro e desonrado sob o jugo de estranhos. A magnífica lição que colhemos daquele acontecimento impõe-nos o dever e a honra de continuar Portugal.
Como ensinamentos avultam o da fé nos destinos duma Pátria livre, o da confiança nas virtudes dos chefes naturais saídos da comunidade nacional e, também, o da fidelidade ao passado histórico da Grei.
A fé nos destinos da Pátria tem as suas raízes no mais puro patriotismo e não carece de outros fundamentos porque a consciência cívica é naturalmente inclinada a ter fé no objecto de sua afeição; ama-se naturalmente a Pátria de que somos parte e para ela queremos o melhor porvir, tal como se ama sem reservas a mãe que nos deu o ser, nos acarinhou e nos criou com mil cuidados e sacrifícios, a quem queremos feliz e honrada.
Foi admirável a confiança depositada pelo povo nos seus chefes naturais, em homens como o Mestre de Aviz que assumiu as responsabilidades da governação do Reino, ou como o Condestável D. Nuno Álvares Pereira, verde em anos, mas modelo de bravura e distinto na chefia militar; e também em homens como João das Regras, delegado popular nas Cortes, onde conduziu com rara mestria e muita tenacidade a defesa da única solução que interessava a Portugal, ou ainda como Álvaro Pais que foi a alma do levantamento e fiel intérprete da vontade popular.
O nosso passado histórico não contava então mais de 250 anos, mas já era muito rico de sucessos vividos em acções heróicas concretizadas na construção duma Pátria livre e na consolidação dum Estado soberano; esse passado implicava a existência dum instinto colectivo nascido de trabalhos e perigos partilhados, verdadeira consciência cívica impondo aos Portugueses completa fidelidade à sagrada herança dos seus Avós.
É nosso dever não nos deixarmos sucumbir ante a magnitude do desastre de 1974; pelo contrário, hoje mais do que nunca, com os olhos postos nos exemplos dos nossos maiores, tal como em Aljubarrota, cerremos fileiras formando um quadrado único e coeso, sobre o qual se erga altiva apenas a Bandeira das Quinas, e contra o qual se desfaçam os assaltos dos inimigos internos e externos de Portugal!
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quinta-feira, agosto 05, 2010
Evocação de Panait Istrati
O destaque dado à recente edição portuguesa de Os Cardos do Baragan acabou por tornar-se uma boa oportunidade para evocar o autor, Panait Istrati.
Para isso nada melhor que reproduzir um artigo que Vintila Horia, o autor da “Introdução à Literatura do Século XX”, e farol seguro nessas matérias, escreveu sobre o seu conterrâneo Panait Istrati.
Pelo caminho acaba também por mencionar os casos literários do norueguês Knut Hamsun e de John dos Passos, o mais açoreano dos grandes escritores americanos, que Vintila tinha em grande conta, como é patente na citada “Introdução”.
Lembro com saudade o próprio Vintila, que esteve entre nós na época quente do pós-revolução e, mesmo em Madrid, onde vivia, nunca regateou a sua atenção, auxílio e colaboração a quem o procurava.
Aqui fica portanto a evocação do autor de "Os cardos do Baragan", ou de "Kira Kiralina".
A DUPLA MORTE DE PANAIT ISTRATI
Num dia de Janeiro de 1921, num jardim público de Nice, um fotógrafo ambulante golpeou a garganta, perante o público que se passeava ao sol mediterrâneo. Salvou‑se, depois de dura e demorada luta com a morte, mas os médicos tiraram‑no do hospital antes de se restabelecer, por uma enfermeira haver encontrado num bolso do seu casaco uma carta dirigida ao jornal comunista “L'Humanité”, saudando a revolução como o nascimento de um mundo novo e de uma nova esperança. O vagabundo voltou às suas deambulações, mas agora com uma nova razão para viver: tinha recebido uma carta do escritor Romain Rolland, que o incitava a abandonar o género epistolar para se dedicar a escrever livros. E Panait Istrati, protegido e ajudado agora por um compatriota de Paris, o sapateiro lonescu, escreve “Kira Kiralina”, a história de uma prostituta que, ao entregar‑se aos homens, cumpre dessa forma o seu dever para com Deus.
O livro publicou‑se em 1924 e foi um dos maiores êxitos do século. O vagabundo e autodidacta Panait Istrati, nascido no porto romeno de Braila, em 1884, tornou‑se célebre e rico de um dia para o outro. Fartos da literatura falsa e rebuscada dos anos vinte, os leitores admiraram no novo escritor o poder da sua inspiração e o colorido do seu mundo danubiano, semi‑oriental, povoado de estranhas personagens, pecadores e santos ao mesmo tempo, movidos por paixões às vezes primitivas e às vezes sublimes.
Três anos depois (entretanto havia publicado “O Tio Ângelo” e “A Vida de Adriano Zograti”) Istrati é convidado a visitar Moscovo, onde conhecerá a grande desilusão. Em primeiro lugar ‑ conforme o conta Nikos Kazantsakis no seu livro de memórias intitulado “Do Monte Sinai à Ilha de Vénus” (Paris, 1958 ) - por encontrar no ídolo da sua juventude, Máximo Gorki, uma espécie de funcionário do novo estado soviético, frio e indiferente; em segundo lugar, por encontrar uma Rússia em nada parecida à dos seus sonhos e ilusões. Percorreu‑a de uma ponta a outra e, de regresso a Paris, escreveu “A Rússia a Nu” (1929). que foi outro êxito e o começo de novos sofrimentos. Caiu‑lhe em cima toda a Imprensa de esquerda, os seus amigos abandonaram‑no, a perseguição contra ele tomou formas inauditas de crueldade e de cobardia. Era a época da íntima e gozosa colaboração entre os grandes intelectuais europeus e o comunismo. Louis Aragon podia ser então, ao mesmo tempo, surrealista e admirador do realismo socialista, homem livre e membro do partido. Ninguém queria saber dos campos de concentração, dos assassínios em massa, da fome ou das façanhas quotidianas da policia política. Panait Istrait foi um dos primeiros escritores capazes de dizer a verdade sobre o monstro que acabava de nascer, semelhante ao engendrado pela doutor Frankenstein, mas que os ocidentais confundiam com Apolo e Adonis.
Doente de tuberculose, abandonado, pobre, autor já de muitos livros, Istrati decidiu voltar ao seu país. Regressa pois à Roménia, onde dedicará os seus últimos anos de vida a colaborar num semanário da extrema‑direita. Em 1935 morre num hospital de Bucareste, rodeado de jovens amigos e colaboradores que o acompanharam ao cemitério, homem puro, que se havia enganado muito, mas que também havia amado muito, semelhante às suas personagens e, sobretudo, àquele “Adriano Zograti”, que é o seu “alter ego”.
A sua vida e a sua obra não deixam de ser modelares neste momento, quando o desengano começa a corroer a boa consciência dos intelectuais ocidentais, testemunhas oculares do processo comunista e da sua evolução, mas cegos, todavia, até hoje, perante aquela tremenda injustiça. lstrati deu‑se conta dela logo no seu primeiro encontro com a Rússia. Não possuía muita cultura, e, tal como o seu contemporâneo Knut Hamsun ‑ ex‑comunista arrependido, transformado em inimigo visceral do sistema soviético igualmente depois da sua primeira visita à Rússia ‑também o autor de “Kira Kyralina” nunca soube mentir.
Defensor do homem numa época em que se fala dos direitos humanos, mas já ninguém os sabe defender a não ser na tribuna dos congressos e nas reuniões de juristas, enquanto os governos os ignoram na maior parte da geografia universal, Istrati descobriu aos seus leitores o mundo do homem vencido, humilhado e agredido pelos poderosos, do homem fiei à sua humanidade.
As suas personagens são gente humilde, enferma de paixões, mas disposta sempre a estender a mão e a compreender. A sua poesia em prosa é, por vezes, comovedora. A cena de “Os Cardos de Baragan” (Novelas e Contos‑ Madrid, 1973) quando o menino foge de casa e corre ao longo da planura do Baragan, juntamente com os cardos que o vento leva, é de uma grande beleza simbólica: pois tem a latejar em si o eterno mito da aventura humana, a correlação neo‑romântica que o leitor logo estabelece entre o puro furor da natureza e o impulso vital que leva a criança a participar naquela tormenta.
O caso Istrati é sumamente interessante e instrutivo, do ponto de vista político e do literário. Ele não foi o único vagabundo autodidacta capaz de dar uma tal volta. O autor de “Fome”, Prémio Nobel, atormentado por passado muito parecido ao de Istrati, é igualmente característico. Knut Hamsun foi defensor do marxismo na sua juventude e passou para o outro lado quando tomou contacto com a encarnação visível dos seus sonhos. No seu ódio, chegou a aceitar os nazis durante a segunda guerra mundial, para depois acabar por ser perseguido pelos seus, humilhado e torturado psiquicamente, tal como em novo havia sido torturado pela fome. Mas John dos Passos terá sido, porventura, o esquerdista mais violentamente direitista da história das Letras deste século. Socialista ao longo das suas novelas mais conhecidas, tornou‑se fanaticamente da Direita depois dos sessenta anos e morreu isolado, incompreendido e boicotado, sobretudo pelos ambientes universitários dominados então (Dos Passos morreu em 1970) pelo clã dos marxistas de salão. Todavia, ninguém, nenhum escritor do nosso século, conheceu tanto a dor, o desengano, o desejo de abandonar a vida, o êxito e a perseguição como o romeno universal que foi Panait Istrati. Ter morrido duas vezes parece pouco para um homem assim. Significa, no fundo, não morrer nunca. Que é, afinal, o destino dos grandes forjadores de mitos, aliados dos homens.
VINTILA HORIA
Para isso nada melhor que reproduzir um artigo que Vintila Horia, o autor da “Introdução à Literatura do Século XX”, e farol seguro nessas matérias, escreveu sobre o seu conterrâneo Panait Istrati.
Pelo caminho acaba também por mencionar os casos literários do norueguês Knut Hamsun e de John dos Passos, o mais açoreano dos grandes escritores americanos, que Vintila tinha em grande conta, como é patente na citada “Introdução”.
Lembro com saudade o próprio Vintila, que esteve entre nós na época quente do pós-revolução e, mesmo em Madrid, onde vivia, nunca regateou a sua atenção, auxílio e colaboração a quem o procurava.
Aqui fica portanto a evocação do autor de "Os cardos do Baragan", ou de "Kira Kiralina".
A DUPLA MORTE DE PANAIT ISTRATI
Num dia de Janeiro de 1921, num jardim público de Nice, um fotógrafo ambulante golpeou a garganta, perante o público que se passeava ao sol mediterrâneo. Salvou‑se, depois de dura e demorada luta com a morte, mas os médicos tiraram‑no do hospital antes de se restabelecer, por uma enfermeira haver encontrado num bolso do seu casaco uma carta dirigida ao jornal comunista “L'Humanité”, saudando a revolução como o nascimento de um mundo novo e de uma nova esperança. O vagabundo voltou às suas deambulações, mas agora com uma nova razão para viver: tinha recebido uma carta do escritor Romain Rolland, que o incitava a abandonar o género epistolar para se dedicar a escrever livros. E Panait Istrati, protegido e ajudado agora por um compatriota de Paris, o sapateiro lonescu, escreve “Kira Kiralina”, a história de uma prostituta que, ao entregar‑se aos homens, cumpre dessa forma o seu dever para com Deus.
O livro publicou‑se em 1924 e foi um dos maiores êxitos do século. O vagabundo e autodidacta Panait Istrati, nascido no porto romeno de Braila, em 1884, tornou‑se célebre e rico de um dia para o outro. Fartos da literatura falsa e rebuscada dos anos vinte, os leitores admiraram no novo escritor o poder da sua inspiração e o colorido do seu mundo danubiano, semi‑oriental, povoado de estranhas personagens, pecadores e santos ao mesmo tempo, movidos por paixões às vezes primitivas e às vezes sublimes.
Três anos depois (entretanto havia publicado “O Tio Ângelo” e “A Vida de Adriano Zograti”) Istrati é convidado a visitar Moscovo, onde conhecerá a grande desilusão. Em primeiro lugar ‑ conforme o conta Nikos Kazantsakis no seu livro de memórias intitulado “Do Monte Sinai à Ilha de Vénus” (Paris, 1958 ) - por encontrar no ídolo da sua juventude, Máximo Gorki, uma espécie de funcionário do novo estado soviético, frio e indiferente; em segundo lugar, por encontrar uma Rússia em nada parecida à dos seus sonhos e ilusões. Percorreu‑a de uma ponta a outra e, de regresso a Paris, escreveu “A Rússia a Nu” (1929). que foi outro êxito e o começo de novos sofrimentos. Caiu‑lhe em cima toda a Imprensa de esquerda, os seus amigos abandonaram‑no, a perseguição contra ele tomou formas inauditas de crueldade e de cobardia. Era a época da íntima e gozosa colaboração entre os grandes intelectuais europeus e o comunismo. Louis Aragon podia ser então, ao mesmo tempo, surrealista e admirador do realismo socialista, homem livre e membro do partido. Ninguém queria saber dos campos de concentração, dos assassínios em massa, da fome ou das façanhas quotidianas da policia política. Panait Istrait foi um dos primeiros escritores capazes de dizer a verdade sobre o monstro que acabava de nascer, semelhante ao engendrado pela doutor Frankenstein, mas que os ocidentais confundiam com Apolo e Adonis.
Doente de tuberculose, abandonado, pobre, autor já de muitos livros, Istrati decidiu voltar ao seu país. Regressa pois à Roménia, onde dedicará os seus últimos anos de vida a colaborar num semanário da extrema‑direita. Em 1935 morre num hospital de Bucareste, rodeado de jovens amigos e colaboradores que o acompanharam ao cemitério, homem puro, que se havia enganado muito, mas que também havia amado muito, semelhante às suas personagens e, sobretudo, àquele “Adriano Zograti”, que é o seu “alter ego”.
A sua vida e a sua obra não deixam de ser modelares neste momento, quando o desengano começa a corroer a boa consciência dos intelectuais ocidentais, testemunhas oculares do processo comunista e da sua evolução, mas cegos, todavia, até hoje, perante aquela tremenda injustiça. lstrati deu‑se conta dela logo no seu primeiro encontro com a Rússia. Não possuía muita cultura, e, tal como o seu contemporâneo Knut Hamsun ‑ ex‑comunista arrependido, transformado em inimigo visceral do sistema soviético igualmente depois da sua primeira visita à Rússia ‑também o autor de “Kira Kyralina” nunca soube mentir.
Defensor do homem numa época em que se fala dos direitos humanos, mas já ninguém os sabe defender a não ser na tribuna dos congressos e nas reuniões de juristas, enquanto os governos os ignoram na maior parte da geografia universal, Istrati descobriu aos seus leitores o mundo do homem vencido, humilhado e agredido pelos poderosos, do homem fiei à sua humanidade.
As suas personagens são gente humilde, enferma de paixões, mas disposta sempre a estender a mão e a compreender. A sua poesia em prosa é, por vezes, comovedora. A cena de “Os Cardos de Baragan” (Novelas e Contos‑ Madrid, 1973) quando o menino foge de casa e corre ao longo da planura do Baragan, juntamente com os cardos que o vento leva, é de uma grande beleza simbólica: pois tem a latejar em si o eterno mito da aventura humana, a correlação neo‑romântica que o leitor logo estabelece entre o puro furor da natureza e o impulso vital que leva a criança a participar naquela tormenta.
O caso Istrati é sumamente interessante e instrutivo, do ponto de vista político e do literário. Ele não foi o único vagabundo autodidacta capaz de dar uma tal volta. O autor de “Fome”, Prémio Nobel, atormentado por passado muito parecido ao de Istrati, é igualmente característico. Knut Hamsun foi defensor do marxismo na sua juventude e passou para o outro lado quando tomou contacto com a encarnação visível dos seus sonhos. No seu ódio, chegou a aceitar os nazis durante a segunda guerra mundial, para depois acabar por ser perseguido pelos seus, humilhado e torturado psiquicamente, tal como em novo havia sido torturado pela fome. Mas John dos Passos terá sido, porventura, o esquerdista mais violentamente direitista da história das Letras deste século. Socialista ao longo das suas novelas mais conhecidas, tornou‑se fanaticamente da Direita depois dos sessenta anos e morreu isolado, incompreendido e boicotado, sobretudo pelos ambientes universitários dominados então (Dos Passos morreu em 1970) pelo clã dos marxistas de salão. Todavia, ninguém, nenhum escritor do nosso século, conheceu tanto a dor, o desengano, o desejo de abandonar a vida, o êxito e a perseguição como o romeno universal que foi Panait Istrati. Ter morrido duas vezes parece pouco para um homem assim. Significa, no fundo, não morrer nunca. Que é, afinal, o destino dos grandes forjadores de mitos, aliados dos homens.
VINTILA HORIA
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Faleceu Thomas Molnar
Faleceu no passado dia 20 de Julho o escritor e ensaísta Thomas Molnar. Dele nos fica uma importante obra, de que temos traduzida em Portugal apenas o livro "A Contra-Revolução".
Recordamos um interessante excerto em que o filósofo húngaro analisa as causas do malogro da acção política das direitas:
A restauração contra-revolucionária tem falhado regularmente, não por qualquer fraqueza intrínseca da posição ou da filosofia contra-revolucionárias, mas por os contra-revolucionários se revelarem largamente incapazes de utilizar a fundo os métodos modernos: organização, slogans, partidos políticos e imprensa. O processo publicitário foi abandonado aos media revolucionários, de tal modo que os contra-revolucionários regularmente surgem a uma luz desfavorável, quando ao menos conseguem fazer-se conhecer. Nessa conformidade, o homem da rua, mesmo não comprometido, traz em si um pequeno mecanismo que lhe dita reacções simpáticas aos heróis e às causas revolucionárias e um sentimento de estranheza ou relutância perante as causas contra-revolucionárias. Os meios de comunicação contra- revolucionários pouco ou nada fazem para corrigir essa atitude inicial, entretanto permanentemente reforçada pela influência contínua da propaganda de esquerda. Os contra-revolucionários dirigem-se essencialmente aos já convertidos, cujo número pode ser muito importante, e até representar a maioria, mas não aumenta após esse primeiro contacto. Por outro lado, o público contra-revolucionário é, em geral, "estático", não sentindo necessidade ou possibilidade de maior expansão, seja pelo conhecimento, pela mobilidade ou pela conquista das instituições: basta-lhe ser assegurado que as suas opiniões são justas. Os contra-revolucionários lêem os seus próprios jornais e livros para aí verem reflectidas as suas próprias convicções e também para confirmarem a existência de outras pessoas que as partilham.
Esta atitude não prevalece apenas entre os contra-revolucionários de uma Europa activíssima no plano ideológico, mas também nos Estados Unidos, embora aí os costumes políticos encorajem todos os partidos e as opiniões marginais a divulgar as suas ideias; mesmo assim, observa Willmore Kendall a propósito dos legisladores americanos, "é geralmente verdade que os resistentes (os conservadores expostos aos ataques dos liberais no Congresso) não mostraram até agora (1963) grande actividade no sentido de articular princípios. Toda a sua agitação raramente corresponde a uma filosofia conservadora autêntica e combativa, capaz de resistir ao moralismo militante dos liberais".
Na arena política, a contra-revolução deve habitualmente esperar que os acontecimentos persuadam a população e os eleitores a aderir à sua causa; parece incapaz de os persuadir em períodos de calma e normalidade, em grande parte devido ao facto de os contra-revolucionários não fazerem sérios esforços nesse sentido e deixarem campo livre aos meios de propaganda revolucionários. Assim, sobrevinda uma crise, não dispõem de qualquer grupo organizado e experimentado, mas apenas de massas unidas pelas circunstâncias, invertebradas, clamando ansiosamente por imediata protecção - contra a agressão ideológica, o desastre financeiro, a anarquia. Disso duplamente sofre a reputação dos porta vozes contra-revolucionários: primeiro, porque, no período anterior à crise, são apontados como "profetas da desgraça"; depois, porque, eclodida esta, são acusados de incapacidade para restabelecer a situação. De qualquer maneira, fazem-se conhecer, antes e depois, como "homens de crise", emergindo apenas em circunstâncias excepcionais, assumindo os interregnos sob a forma de "homens providenciais" ou "ditadores".
O curioso é haver boa dose de verdade nestes rótulos. O contra-revolucionário deixa, por omissão, os revolucionários encarregarem-se de lhe pintar o retrato, por tal forma que a descrição da sua passagem pelo poder e a reputação que lega à posteridade são igualmente feitas (ou refeitas) pelos adversários. Poderia dizer-se que a filosofia contra-revolucionária, bem como os programas e os actos, são vistos pela opinião pública - e pela história - através das descrições e dos critérios de julgamento, essencialmente hostis, dos revolucionários.
O contra-revolucionário tem consciência deste estado de coisas, mas na generalidade não é capaz de o remediar. A sua análise é normalmente lúcida, mais até que a dos seus adversários. Os contra-revolucionários mediram perfeitamente, após 1789, os perigos da democracia, mas encontraram pouca audiência na imprensa ou nas massas. Pobedonostsev, reputado um ultra-reaccionário, diagnosticou a doença democrática de modo pouco diverso do de Platão. Nas Reflections of a Russian Statesman (p. 45), escreve: "A democracia é o sistema de governo mais complicado e mais difícil de manejar de toda a história da humanidade. Por isso, jamais apareceu salvo como manifestação transitória, as poucas excepções cedendo rapidamente lugar a outros sistemas." Claro está, o período de "transição" pode durar muito tempo, pois a degenerescência da democracia é por vezes muito lenta, por fases dificilmente perceptíveis. Cada uma delas é saudada pelos media revolucionários como um novo avanço, um novo progresso, uma conquista da liberdade, e a opinião pública aceita-a como tal. Em consequência, de cada vez que os contra- revolucionários tentam chamar a atenção para novo aprofundamento na degeneração, as suas exortações afiguram-se à opinião pública ainda mais extremistas que antes. Após 1918, os contra-revolucionários estavam na razão apontando o marxismo como a nova e grande ameaça para a civilização, maior que a democracia, embora emanado da doutrina democrática e encorajado pela tolerância democrática. Quando a chamada experiência russa do comunismo suscitava fortes aplausos dos ideólogos revolucionários ocidentais, foram dos contra-revolucionários as vozes que, não só a condenaram, mas também lhe assinalaram as raízes e a lógica de destruição. Precederam assim, pelo menos de uma geração, os fabricantes de opinião do Ocidente: o comunismo teve de calçar as botas e ocupar a pátria de cem milhões de europeus antes que o Ocidente mostrasse os primeiros sinais de inquietação.
Os contra-revolucionários encontraram-se desempenhando com inquietante regularidade o papel de Cassandra, enquanto a ameaça contra a qual advertiam a sociedade crescia em intensidade e alastrava geograficamente. Entretanto, a origem da ameaça, já apercebida logo após 1789, e mantendo-se a mesma, agravava-se: era ainda o estilhaçar da sociedade, a desunião e a atomização introduzidas pela democracia jacobina. Dando a essa desunião um nome novo e mais ameaçador - a luta de classes -, Marx não podia ser rotulado, na terminologia contra-revolucionária, de antidemocracia; bem pelo contrário, parecia simplesmente extrair as conclusões lógicas da fatalidade democrática. Sob as formas parlamentares da democracia, os diferentes grupos de interesses – as "clientelas" - travavam tacitamente uma verdadeira guerra civil; Marx simplesmente chamou as coisas pelos seus nomes, exaltando um desses "grupos de interesses” (ou "clientelas"), o proletariado, a lutar até ao fim para destruir o sistema.
Na verdade, este aspecto do marxismo - mas, é claro, com exclusão dos outros, trate- se do moralismo, da negação da acção ou do totalitarismo - encontrava certa simpatia nos peitos contra revolucionários.
Também o marxismo combatia o Estado liberaldemocrático nascido de 1789 e da revolução industrial; também ele era contra a atomização da sociedade e a dispersão da energia social; também ele pregava uma espécie de reunificação pela liquidação das classes e clientelas. Mas a comparação termina aí, e os caminhos do comunismo e da contra-revolução, por momentos paralelos, divergem radicalmente. Explica isto, porém, a atitude compreensiva dos contra-revolucionários em relação ao comunismo, na medida em que este, embora de maneira deformada e quão terrível, igualmente crê na unidade social (mas não na harmonia - harmonia das partes!) e numa fé que a exprime e protege. No Journal d'un homme traqué, Robert Brasillach escreveu: "O fascismo não é o marxismo, mas também combate e odeia as injustiças contra as quais o marxismo se levanta e contra as quais propõe os seus perigosos remédios."
Compreende-se que, com uma tal atitude (e Brasillach traduz bastante bem a posição contra-revolucionária entre as duas guerras), os contra-revolucionários tenham atraído simultaneamente a hostilidade dos marxistas e a dos capitalistas liberais, assim como a do Estado liberaldemocrático. Valendo isto dizer que a imprensa - nas mãos dos intelectuais marxistas, dos empresários capitalistas e do governo - tinha todo o interesse em silenciar e deturpar as vozes dos contra-revolucionários, assim agravando o seu isolamento e a sua amargura, muito para além do que tinham experimentado no século XIX, quando começara o processo, Privados de poder e de meios de comunicação, as contra-revolucionários adoptaram então um tom profético e apocalíptico, já que tanto a imprensa oficial e os representantes do Estado quanto os representantes da vida cultural ou universitária não pareciam compreender que, com a aparição do bolchevismo, a sociedade passara a não ser apenas maltratada, mas efectivamente submetida a desintegração. Como das várias outras ocasiões, antes e depois do período 1918-1939, os contra-revolucionários esperavam fazer-se compreender ao menos pelos revolucionários "à moda antiga", por exemplo aqueles que representavam o Estado e por ele eram responsáveis perante o inimigo comum: uma esquerda marxista ou orientada para o marxismo. Em casos isolados, efectivamente, essa esperança concretizou-se. Mas o contra-revolucionário lúcido sabia que o marxismo é um instrumento poderoso para extrair das profundezas da ideologia revolucionária o impulso à utopia, e que o próprio partido comunista constitui o elo de ligação natural de todos os revolucionários à deriva. Plínio Corrêa de Oliveira alega, designadamente, que o liberal aceita o socialismo porque um governo socialista (marxista) permite a "satisfação metódica, embora por vezes sob o signo da austeridade, das paixões mais baixas, como a inveja, e preguiça, a imoralidade. Por outro lado, o liberal percebe também que o desenvolvimento da autoridade central, a que normalmente deveria opor-se, não passa de um meio para assegurar a anarquia final", pois destrói a moralidade pública e a liberdade individual. Exactamente o que aconteceu com a instauração das "frentes populares” na Espanha e na França e com o fenómeno do Kulturbolschewismus na Alemanha.
Tomas Molnar
Recordamos um interessante excerto em que o filósofo húngaro analisa as causas do malogro da acção política das direitas:
A restauração contra-revolucionária tem falhado regularmente, não por qualquer fraqueza intrínseca da posição ou da filosofia contra-revolucionárias, mas por os contra-revolucionários se revelarem largamente incapazes de utilizar a fundo os métodos modernos: organização, slogans, partidos políticos e imprensa. O processo publicitário foi abandonado aos media revolucionários, de tal modo que os contra-revolucionários regularmente surgem a uma luz desfavorável, quando ao menos conseguem fazer-se conhecer. Nessa conformidade, o homem da rua, mesmo não comprometido, traz em si um pequeno mecanismo que lhe dita reacções simpáticas aos heróis e às causas revolucionárias e um sentimento de estranheza ou relutância perante as causas contra-revolucionárias. Os meios de comunicação contra- revolucionários pouco ou nada fazem para corrigir essa atitude inicial, entretanto permanentemente reforçada pela influência contínua da propaganda de esquerda. Os contra-revolucionários dirigem-se essencialmente aos já convertidos, cujo número pode ser muito importante, e até representar a maioria, mas não aumenta após esse primeiro contacto. Por outro lado, o público contra-revolucionário é, em geral, "estático", não sentindo necessidade ou possibilidade de maior expansão, seja pelo conhecimento, pela mobilidade ou pela conquista das instituições: basta-lhe ser assegurado que as suas opiniões são justas. Os contra-revolucionários lêem os seus próprios jornais e livros para aí verem reflectidas as suas próprias convicções e também para confirmarem a existência de outras pessoas que as partilham.
Esta atitude não prevalece apenas entre os contra-revolucionários de uma Europa activíssima no plano ideológico, mas também nos Estados Unidos, embora aí os costumes políticos encorajem todos os partidos e as opiniões marginais a divulgar as suas ideias; mesmo assim, observa Willmore Kendall a propósito dos legisladores americanos, "é geralmente verdade que os resistentes (os conservadores expostos aos ataques dos liberais no Congresso) não mostraram até agora (1963) grande actividade no sentido de articular princípios. Toda a sua agitação raramente corresponde a uma filosofia conservadora autêntica e combativa, capaz de resistir ao moralismo militante dos liberais".
Na arena política, a contra-revolução deve habitualmente esperar que os acontecimentos persuadam a população e os eleitores a aderir à sua causa; parece incapaz de os persuadir em períodos de calma e normalidade, em grande parte devido ao facto de os contra-revolucionários não fazerem sérios esforços nesse sentido e deixarem campo livre aos meios de propaganda revolucionários. Assim, sobrevinda uma crise, não dispõem de qualquer grupo organizado e experimentado, mas apenas de massas unidas pelas circunstâncias, invertebradas, clamando ansiosamente por imediata protecção - contra a agressão ideológica, o desastre financeiro, a anarquia. Disso duplamente sofre a reputação dos porta vozes contra-revolucionários: primeiro, porque, no período anterior à crise, são apontados como "profetas da desgraça"; depois, porque, eclodida esta, são acusados de incapacidade para restabelecer a situação. De qualquer maneira, fazem-se conhecer, antes e depois, como "homens de crise", emergindo apenas em circunstâncias excepcionais, assumindo os interregnos sob a forma de "homens providenciais" ou "ditadores".
O curioso é haver boa dose de verdade nestes rótulos. O contra-revolucionário deixa, por omissão, os revolucionários encarregarem-se de lhe pintar o retrato, por tal forma que a descrição da sua passagem pelo poder e a reputação que lega à posteridade são igualmente feitas (ou refeitas) pelos adversários. Poderia dizer-se que a filosofia contra-revolucionária, bem como os programas e os actos, são vistos pela opinião pública - e pela história - através das descrições e dos critérios de julgamento, essencialmente hostis, dos revolucionários.
O contra-revolucionário tem consciência deste estado de coisas, mas na generalidade não é capaz de o remediar. A sua análise é normalmente lúcida, mais até que a dos seus adversários. Os contra-revolucionários mediram perfeitamente, após 1789, os perigos da democracia, mas encontraram pouca audiência na imprensa ou nas massas. Pobedonostsev, reputado um ultra-reaccionário, diagnosticou a doença democrática de modo pouco diverso do de Platão. Nas Reflections of a Russian Statesman (p. 45), escreve: "A democracia é o sistema de governo mais complicado e mais difícil de manejar de toda a história da humanidade. Por isso, jamais apareceu salvo como manifestação transitória, as poucas excepções cedendo rapidamente lugar a outros sistemas." Claro está, o período de "transição" pode durar muito tempo, pois a degenerescência da democracia é por vezes muito lenta, por fases dificilmente perceptíveis. Cada uma delas é saudada pelos media revolucionários como um novo avanço, um novo progresso, uma conquista da liberdade, e a opinião pública aceita-a como tal. Em consequência, de cada vez que os contra- revolucionários tentam chamar a atenção para novo aprofundamento na degeneração, as suas exortações afiguram-se à opinião pública ainda mais extremistas que antes. Após 1918, os contra-revolucionários estavam na razão apontando o marxismo como a nova e grande ameaça para a civilização, maior que a democracia, embora emanado da doutrina democrática e encorajado pela tolerância democrática. Quando a chamada experiência russa do comunismo suscitava fortes aplausos dos ideólogos revolucionários ocidentais, foram dos contra-revolucionários as vozes que, não só a condenaram, mas também lhe assinalaram as raízes e a lógica de destruição. Precederam assim, pelo menos de uma geração, os fabricantes de opinião do Ocidente: o comunismo teve de calçar as botas e ocupar a pátria de cem milhões de europeus antes que o Ocidente mostrasse os primeiros sinais de inquietação.
Os contra-revolucionários encontraram-se desempenhando com inquietante regularidade o papel de Cassandra, enquanto a ameaça contra a qual advertiam a sociedade crescia em intensidade e alastrava geograficamente. Entretanto, a origem da ameaça, já apercebida logo após 1789, e mantendo-se a mesma, agravava-se: era ainda o estilhaçar da sociedade, a desunião e a atomização introduzidas pela democracia jacobina. Dando a essa desunião um nome novo e mais ameaçador - a luta de classes -, Marx não podia ser rotulado, na terminologia contra-revolucionária, de antidemocracia; bem pelo contrário, parecia simplesmente extrair as conclusões lógicas da fatalidade democrática. Sob as formas parlamentares da democracia, os diferentes grupos de interesses – as "clientelas" - travavam tacitamente uma verdadeira guerra civil; Marx simplesmente chamou as coisas pelos seus nomes, exaltando um desses "grupos de interesses” (ou "clientelas"), o proletariado, a lutar até ao fim para destruir o sistema.
Na verdade, este aspecto do marxismo - mas, é claro, com exclusão dos outros, trate- se do moralismo, da negação da acção ou do totalitarismo - encontrava certa simpatia nos peitos contra revolucionários.
Também o marxismo combatia o Estado liberaldemocrático nascido de 1789 e da revolução industrial; também ele era contra a atomização da sociedade e a dispersão da energia social; também ele pregava uma espécie de reunificação pela liquidação das classes e clientelas. Mas a comparação termina aí, e os caminhos do comunismo e da contra-revolução, por momentos paralelos, divergem radicalmente. Explica isto, porém, a atitude compreensiva dos contra-revolucionários em relação ao comunismo, na medida em que este, embora de maneira deformada e quão terrível, igualmente crê na unidade social (mas não na harmonia - harmonia das partes!) e numa fé que a exprime e protege. No Journal d'un homme traqué, Robert Brasillach escreveu: "O fascismo não é o marxismo, mas também combate e odeia as injustiças contra as quais o marxismo se levanta e contra as quais propõe os seus perigosos remédios."
Compreende-se que, com uma tal atitude (e Brasillach traduz bastante bem a posição contra-revolucionária entre as duas guerras), os contra-revolucionários tenham atraído simultaneamente a hostilidade dos marxistas e a dos capitalistas liberais, assim como a do Estado liberaldemocrático. Valendo isto dizer que a imprensa - nas mãos dos intelectuais marxistas, dos empresários capitalistas e do governo - tinha todo o interesse em silenciar e deturpar as vozes dos contra-revolucionários, assim agravando o seu isolamento e a sua amargura, muito para além do que tinham experimentado no século XIX, quando começara o processo, Privados de poder e de meios de comunicação, as contra-revolucionários adoptaram então um tom profético e apocalíptico, já que tanto a imprensa oficial e os representantes do Estado quanto os representantes da vida cultural ou universitária não pareciam compreender que, com a aparição do bolchevismo, a sociedade passara a não ser apenas maltratada, mas efectivamente submetida a desintegração. Como das várias outras ocasiões, antes e depois do período 1918-1939, os contra-revolucionários esperavam fazer-se compreender ao menos pelos revolucionários "à moda antiga", por exemplo aqueles que representavam o Estado e por ele eram responsáveis perante o inimigo comum: uma esquerda marxista ou orientada para o marxismo. Em casos isolados, efectivamente, essa esperança concretizou-se. Mas o contra-revolucionário lúcido sabia que o marxismo é um instrumento poderoso para extrair das profundezas da ideologia revolucionária o impulso à utopia, e que o próprio partido comunista constitui o elo de ligação natural de todos os revolucionários à deriva. Plínio Corrêa de Oliveira alega, designadamente, que o liberal aceita o socialismo porque um governo socialista (marxista) permite a "satisfação metódica, embora por vezes sob o signo da austeridade, das paixões mais baixas, como a inveja, e preguiça, a imoralidade. Por outro lado, o liberal percebe também que o desenvolvimento da autoridade central, a que normalmente deveria opor-se, não passa de um meio para assegurar a anarquia final", pois destrói a moralidade pública e a liberdade individual. Exactamente o que aconteceu com a instauração das "frentes populares” na Espanha e na França e com o fenómeno do Kulturbolschewismus na Alemanha.
Tomas Molnar
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quarta-feira, agosto 04, 2010
Nun'Álvares Guerreiro e Monge
É uma breve antologia sobre o Condestável, com textos de alguns dos mais significativos escritores nacionalistas portugueses do século XX, como Alfredo Pimenta, António Sardinha, Carlos Eduardo Soveral, João Ameal, Zuzarte Mendonça, Rodrigo Emílio, António Manuel Couto Viana, retirados de obras, hoje em dia, praticamente impossíveis de encontrar.
Inclui também uma importante conferência proferida por Carlos Eduardo Soveral em 1954 e nunca publicada até hoje. Como apêndice estão incluídos dois poemas Condestabrianos de Rodrigo Emílio e António Manuel Couto Viana.
http://edicoesrequila.blogspot.com/
Inclui também uma importante conferência proferida por Carlos Eduardo Soveral em 1954 e nunca publicada até hoje. Como apêndice estão incluídos dois poemas Condestabrianos de Rodrigo Emílio e António Manuel Couto Viana.
http://edicoesrequila.blogspot.com/
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domingo, agosto 01, 2010
Encontro em Aljubarrota
Vamos até Aljubarrota no próximo dia 14 de Agosto. É um Sábado. A organização de uma reunião e visita ao campo de São Jorge, com assistência ao filme e à exposição no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota, está a ser organizada pela Comissão Instaladora do Movimento de Oposição Nacional, por muitos militantes do PNR e por alguns militantes nacionalistas independentes.
Com o objectivo de mobilizar voluntários para um acto de afirmação nacional em frente à Capela de São Jorge e o assumir de um Compromisso com o Combate Nacional na evocação do Comandante Nuno Álvares Pereira e do espírito de Aljubarrota consubstanciado no seu dramático apelo pouco antes da batalha: «Tende Confiança em Deus - os poucos vão vencer muitos!»
Se é verdade que ali todos sabiam o que queriam e o que não queriam e estavam dispostos a morrer contra o inimigo também nós hoje devemos queremos assumir a mesma determinação séria e combativa.
Sobre o centro de Interpretação, eis a informação, para quem não conhecer já:
http://www.fundacao-aljubarrota.pt/?idc=15
Com o objectivo de mobilizar voluntários para um acto de afirmação nacional em frente à Capela de São Jorge e o assumir de um Compromisso com o Combate Nacional na evocação do Comandante Nuno Álvares Pereira e do espírito de Aljubarrota consubstanciado no seu dramático apelo pouco antes da batalha: «Tende Confiança em Deus - os poucos vão vencer muitos!»
Se é verdade que ali todos sabiam o que queriam e o que não queriam e estavam dispostos a morrer contra o inimigo também nós hoje devemos queremos assumir a mesma determinação séria e combativa.
Sobre o centro de Interpretação, eis a informação, para quem não conhecer já:
http://www.fundacao-aljubarrota.pt/?idc=15
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