sexta-feira, outubro 30, 2009
Antagonista
quinta-feira, outubro 29, 2009
"Salazar - A Political Biography", de Filipe Ribeiro de Meneses
Ao longo de sete anos, Filipe Ribeiro de Meneses, historiador português radicado em Dublin, Irlanda, trabalhou quase exclusivamente numa obra académica inédita na historiografia internacional - a biografia política de Salazar. O resultado da pesquisa traduziu-se no livro "Salazar - A Political Biography", um volume com mais de 600 páginas com a chancela da editora nova-iroquina Enigma Books. O livro é apresentado hoje na Embaixada portuguesa em Washington, às 18h locais (22h em Lisboa), pelo embaixador João de Vallera, com a presença do autor. Ontem, Ribeiro de Meneses falou sobre o seu livro na Biblioteca da Universidade de Georgetown, na mesma cidade.
Em mais de 600 páginas, o autor, professor na National University of Ireland, tentou compreender as decisões do antigo presidente do Conselho durante as quatro décadas do regime. Mas não foi fácil. Porque o cariz centralizador de Salazar nos mais diversos assuntos "dificulta, intencionalmente ou não, o acesso do historiador às suas opiniões, ou à maneira como estas se formavam". O P2 entrevistou Ribeiro de Meneses, por correio electrónico.
- O que é que mais o surpreendeu na investigação que fez para esta biografia?
- A necessidade de separar Salazar, enquanto homem de Estado e pensador, do Estado Novo. Muitas vezes falamos de salazarismo (um termo que ele abominava) e Estado Novo como sendo a mesma coisa: mas o Estado Novo nunca cessou de evoluir, enquanto as ideias de Salazar foram sempre mais ou menos as mesmas. O regime nos anos 50 e 60 era muito diferente do que tinha sido nos anos 30, e sugiro que não devemos cair na tentação de ver no Estado Novo dos anos 30 a verdadeira face do salazarismo. A sua principal prioridade era manter-se no poder; para o fazer precisava de pactuar com uma série de forças nacionais e internacionais. Conseguiu sempre impedir a instalação permanente de qualquer facção no poder, porque precisava de ambiguidade para ter espaço de manobra. Tinha muitas maneiras de fazer asfixiar as iniciativas de que desconfiava, mas que pela força dos seus apoiantes era obrigado a aceitar.
Este facto traz-me à segunda grande surpresa: o sentimento de fraqueza muitas vezes manifestado por Salazar e aqueles que o cercavam. A lista de inimigos, rivais e potenciais traidores era enorme, mas Salazar não podia lidar com eles como fizera Franco, fuzilando-os. Salvo algumas excepções que não cabiam dentro do regime, era preciso ouvir, negociar e pactuar constantemente e, sobretudo, manter a ambiguidade dominante em torno das grandes questões. República ou monarquia? O que fazer com a Assembleia Nacional? O que era, afinal de contas, o corporativismo português? O melhor era não dizer nada de concreto, para não hostilizar ninguém.
- Escreve no livro que Salazar é, porventura, o ditador do século XX mais difícil de biografar. Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou para realizar este livro?
- São tantas as dificuldades... Em primeiro lugar, a falta de outras biografias razoavelmente cuidadas. Depois, a duração da estada de Salazar no poder e a vastidão do espólio a consultar. O Arquivo Salazar é um labirinto sem fim; quanto tempo é necessário ao historiador para consultar o que levou 40 anos a ler e a escrever? Por onde começar? Como decidir que se está em condições de passar à escrita?
Por fim, há a maneira de trabalhar de Salazar, nascida, em parte, do seu temperamento. Não só trabalhava muito - muito mais do que, por exemplo, Franco -, centralizando na sua pessoa questões que outros governantes deixavam a colaboradores de primeira ou segunda ordem, mas, pior, fazia-o de uma forma que dificulta, intencionalmente ou não, o acesso do historiador às suas opiniões, ou à maneira como estas se formavam. Havia uma correspondência oficial, muito formal e por vezes desprovida de grande interesse; uma correspondência semi-oficial, em que Salazar alargava os seus horizontes e discutia as opções que o confrontavam; e, por fim, os contactos directos com os seus interlocutores. Porque em Portugal poucos políticos escreveram as suas memórias, ou publicaram os seus diários, quantas destas conversas se perderam...
- A maior limitação foi, como escreve, tentar "entrar na cabeça de Salazar"?
- Esta foi a minha primeira biografia, e imagino que todos os biógrafos passem por esta situação: terão ou não feito justiça à figura que tentam retratar? A natureza cuidadosa de Salazar tornou os seus pensamentos íntimos difíceis de sondar; e é sobretudo nos momentos de dúvida e de hesitação que estes transparecem nas fontes que restam. Numa biografia política como esta, a questão é menos importante: interessa mais o que de facto aconteceu do que as razões por detrás das decisões tomadas.
- Escreve que Salazar foi o único ditador do século XX que chegou ao poder devido ao reconhecimento dos seus méritos académicos e intelectuais. Essa é a diferença substancial que o distingue de Hitler, Franco e Mussolini?
- Sem dúvida. Hitler e Mussolini lideravam forças políticas importantes e, em momentos de grande instabilidade política, foram convidados a partilhar o poder, aproveitando-se depois de circunstâncias favoráveis para criar uma ditadura. Franco era, desde os anos 20, a estrela do Exército espanhol, e venceu uma guerra civil, beneficiando não só da sorte das armas como ainda da morte de muitíssimos rivais dentro da Espanha "nacional".
Salazar integrava uma formação política - o Centro Católico - disposta a participar na governação do país, mas marginalizada pelos partidos republicanos. Foi graças ao 28 de Maio que esta situação se alterou. Salazar foi, primeiro em 1926, e depois em 1928, convidado a entrar no Governo não porque representava uma força considerável, mas porque era um técnico capaz de ajudar os militares a endireitarem as finanças nacionais. E se Salazar se transformou em presidente do Conselho foi acima de tudo porque desempenhou a missão com que foi incumbido, impondo-se aos seus rivais pela competência técnica.
- Salazar quis apenas deixar um legado político? Na sua investigação, refere que ele parece ter tomado precauções para que ficasse registado apenas o que considerava essencial.
- Salazar queixava-se frequentemente de não poder deixar uma obra, ou um monumento, que marcasse a sua estada no poder. No seu entender, muito se tinha feito em Portugal e em África, mas eram sobretudo obras pequenas. O mais que conseguiu foi a Ponte Salazar. Por duas vezes, em épocas bem distintas, lançou a ideia de um grande monumento em Sagres, em honra do Infante Dom Henrique - e por duas vezes a tentativa se saldou por um fracasso.
Quanto ao legado político, houve uma nítida tentativa de criar uma imagem de Salazar, e de fazê-la perdurar na história: foi essa a principal missão do SPN [Secretariado de Propaganda Nacional] e de algumas publicações, tais como os "Discursos", os "Dez Anos de Política Externa" e até o livro de Christine Garnier, "Vacances avec Salazar.
Quanto ao Arquivo Salazar, é-nos impossível saber se houve uma selecção cuidadosa do que nele foi guardado. A doença surpreendeu-o enquanto era presidente do Conselho, sem nenhuma intenção de se retirar, e o seu arquivo estava em pleno funcionamento. Se alguma "limpeza" se deu ao arquivo, ter-se-á dado depois da doença, ou da morte.
Há ainda outro ponto a referir: embora no arquivo existam milhares de relatórios e informações oriundas da PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado], são poucos os registos de contactos directos entre Salazar e os directores da polícia secreta para discutir casos concretos, estudar opções. Voltamos aqui à sua maneira de trabalhar, à distinção entre o público e o privado. Ou Salazar discutia o caminho a seguir com Silva Pais [director da PIDE de 62 a 74] e os seus antecessores de forma directa, em pessoa ou pelo telefone, ou então dava-lhes carte blanche para agirem como melhor entendessem. De qualquer forma, não nos podemos iludir sobre um ponto essencial: a responsabilidade suprema pelas acções da PIDE cabia-lhe a ele, Salazar. Quando lhe chegavam às mãos queixas sobre o tratamento de prisioneiros políticos, por exemplo, a quem é que encomendava uma investigação sobre o assunto? À própria PIDE.
- Dedica uma parte substancial do livro às décadas de 30 e 40. Entende que estes anos determinaram a longevidade do ditador?
- Quando discuti o livro com a Enigma Books, falámos longamente sobre a dimensão da obra e as questões a focar. Ficou acordado um livro com 400 páginas. E foi publicado um livro com mais de 600. Tive de sacrificar secções inteiras para poder lidar melhor com certas questões, especialmente a II Guerra Mundial e a Guerra Colonial. Porém, não devemos privilegiar uma época do Estado Novo e ver nela o "verdadeiro" Salazar, ou a aplicação sem restrições das suas ideias. Os anos 50, com os planos económicos e a internacionalização da economia europeia, são tão dignos de registo como os anos 30, marcados pela criação do Estado corporativo e pelo estabelecimento de organizações tais como a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa. Foi nesta capacidade de evolução do regime - fruto da enorme ambiguidade sobre questões essenciais que alimentou ao longo dos anos - que residiu o segredo da longevidade de Salazar. Teria sido impossível ao Estado Novo sobreviver nos anos 50 e 60 se mantivesse a fachada e as práticas dos anos 30.
- Apresenta três explicações para a vontade de Salazar se manter no poder: acreditava ser um homem providencial; julgava que, sem ele, o regime colapsaria; e, já depois de 61, entendia que tinha de manter as colónias até o Ocidente "recuperar o juízo". São justificações que se enquadram em diferentes períodos da ditadura.
- Refiro duas que se manifestam até 1961, quando a defesa das colónias se lhes veio juntar. Salazar falava e escrevia regularmente sobre o papel da Providência na sua vida. Podemos reduzir este facto a um simples tique retórico, reproduzido e ampliado pela máquina propagandística.
Mas é na correspondência de Cerejeira com Salazar que esta interpretação da "missão" se faz mais abertamente. Muita desta longa correspondência tem um fim político, com Cerejeira lutando por preservar boas relações entre o Estado e a Igreja. Mas custa a crer que Cerejeira insistisse tanto, e tão regularmente, sobre este ponto de vista, se suspeitasse que ele não fosse partilhado por Salazar - ou pelo menos que, quando Salazar entrou no Governo, ele não o partilhasse. Esta visão de um homem imbuído de um espírito de missão, pelo menos em parte da sua longa carreira, repugna a muitos, admiradores e inimigos. Salazar descrevia a sua vida pública como um calvário, uma cruz a carregar, e custa-nos levar tal explicação a sério, pois ela concedia-lhe vantagens políticas importantes.
A outra interpretação é mais tradicional, e de acordo com a historiografia existente: Salazar era o ponto fulcral do regime, o único capaz de manter o Estado Novo intacto e de preservar os interesses que este servia. Parece-me, porém, que as duas interpretações - uma conjuntural, a outra pessoal - podem coexistir pacificamente.
- Salazar nunca se preocupou com a doutrinação ideológica dos portugueses. Esta constatação, aliada às transformações do mundo pós-II Guerra Mundial, terá contribuído para o início do fim do Estado Novo?
- Podia publicar-se um longo volume composto somente por cartas recebidas por Salazar, pedindo-lhe para iniciar um processo de doutrinação ideológica. Nunca o fez porque sabia que tal doutrinação viria cristalizar o Estado Novo, retirando-lhe a ele a liberdade de acção que desejava manter. Por outras palavras, a doutrinação era o fim do Estado Novo. Porque quem se opusesse ao compromisso ideológico determinante nessa doutrinação virar-se-ia contra o regime.
- A historiografia portuguesa só agora começa a dar atenção ao género biográfico. E até hoje ninguém se ocupara da biografia mais óbvia. Como é que interpreta esta situação?
- São muitas as razões, a começar pela rejeição sistemática, ao longo de várias décadas, da importância da história política - do papel do indivíduo na História.
Nos últimos dez anos, o panorama alterou-se e muito, mas Salazar representa um obstáculo tremendo: são quarenta anos a descrever - quarenta anos da vida de um homem, de um país, e mesmo da Europa, pois Portugal não estava isolado do resto do continente. E como há opiniões fortes e feitas sobre Salazar e o Estado Novo, parece-me que ninguém quer provocar a ira do resto da profissão, ou daqueles que pensam que tentar entender Salazar significa automaticamente tentar desculpá-lo.
Por fim, um biógrafo de Salazar tem de lidar com a concorrência colossal dos seis volumes escritos por Franco Nogueira. Parece-me, porém, que os historiadores têm de ir ao encontro do público, sobretudo desde que apareceu a Internet. E não há dúvida de que os portugueses interessam-se por Salazar.
Em mais de 600 páginas, o autor, professor na National University of Ireland, tentou compreender as decisões do antigo presidente do Conselho durante as quatro décadas do regime. Mas não foi fácil. Porque o cariz centralizador de Salazar nos mais diversos assuntos "dificulta, intencionalmente ou não, o acesso do historiador às suas opiniões, ou à maneira como estas se formavam". O P2 entrevistou Ribeiro de Meneses, por correio electrónico.
- O que é que mais o surpreendeu na investigação que fez para esta biografia?
- A necessidade de separar Salazar, enquanto homem de Estado e pensador, do Estado Novo. Muitas vezes falamos de salazarismo (um termo que ele abominava) e Estado Novo como sendo a mesma coisa: mas o Estado Novo nunca cessou de evoluir, enquanto as ideias de Salazar foram sempre mais ou menos as mesmas. O regime nos anos 50 e 60 era muito diferente do que tinha sido nos anos 30, e sugiro que não devemos cair na tentação de ver no Estado Novo dos anos 30 a verdadeira face do salazarismo. A sua principal prioridade era manter-se no poder; para o fazer precisava de pactuar com uma série de forças nacionais e internacionais. Conseguiu sempre impedir a instalação permanente de qualquer facção no poder, porque precisava de ambiguidade para ter espaço de manobra. Tinha muitas maneiras de fazer asfixiar as iniciativas de que desconfiava, mas que pela força dos seus apoiantes era obrigado a aceitar.
Este facto traz-me à segunda grande surpresa: o sentimento de fraqueza muitas vezes manifestado por Salazar e aqueles que o cercavam. A lista de inimigos, rivais e potenciais traidores era enorme, mas Salazar não podia lidar com eles como fizera Franco, fuzilando-os. Salvo algumas excepções que não cabiam dentro do regime, era preciso ouvir, negociar e pactuar constantemente e, sobretudo, manter a ambiguidade dominante em torno das grandes questões. República ou monarquia? O que fazer com a Assembleia Nacional? O que era, afinal de contas, o corporativismo português? O melhor era não dizer nada de concreto, para não hostilizar ninguém.
- Escreve no livro que Salazar é, porventura, o ditador do século XX mais difícil de biografar. Quais foram as maiores dificuldades que enfrentou para realizar este livro?
- São tantas as dificuldades... Em primeiro lugar, a falta de outras biografias razoavelmente cuidadas. Depois, a duração da estada de Salazar no poder e a vastidão do espólio a consultar. O Arquivo Salazar é um labirinto sem fim; quanto tempo é necessário ao historiador para consultar o que levou 40 anos a ler e a escrever? Por onde começar? Como decidir que se está em condições de passar à escrita?
Por fim, há a maneira de trabalhar de Salazar, nascida, em parte, do seu temperamento. Não só trabalhava muito - muito mais do que, por exemplo, Franco -, centralizando na sua pessoa questões que outros governantes deixavam a colaboradores de primeira ou segunda ordem, mas, pior, fazia-o de uma forma que dificulta, intencionalmente ou não, o acesso do historiador às suas opiniões, ou à maneira como estas se formavam. Havia uma correspondência oficial, muito formal e por vezes desprovida de grande interesse; uma correspondência semi-oficial, em que Salazar alargava os seus horizontes e discutia as opções que o confrontavam; e, por fim, os contactos directos com os seus interlocutores. Porque em Portugal poucos políticos escreveram as suas memórias, ou publicaram os seus diários, quantas destas conversas se perderam...
- A maior limitação foi, como escreve, tentar "entrar na cabeça de Salazar"?
- Esta foi a minha primeira biografia, e imagino que todos os biógrafos passem por esta situação: terão ou não feito justiça à figura que tentam retratar? A natureza cuidadosa de Salazar tornou os seus pensamentos íntimos difíceis de sondar; e é sobretudo nos momentos de dúvida e de hesitação que estes transparecem nas fontes que restam. Numa biografia política como esta, a questão é menos importante: interessa mais o que de facto aconteceu do que as razões por detrás das decisões tomadas.
- Escreve que Salazar foi o único ditador do século XX que chegou ao poder devido ao reconhecimento dos seus méritos académicos e intelectuais. Essa é a diferença substancial que o distingue de Hitler, Franco e Mussolini?
- Sem dúvida. Hitler e Mussolini lideravam forças políticas importantes e, em momentos de grande instabilidade política, foram convidados a partilhar o poder, aproveitando-se depois de circunstâncias favoráveis para criar uma ditadura. Franco era, desde os anos 20, a estrela do Exército espanhol, e venceu uma guerra civil, beneficiando não só da sorte das armas como ainda da morte de muitíssimos rivais dentro da Espanha "nacional".
Salazar integrava uma formação política - o Centro Católico - disposta a participar na governação do país, mas marginalizada pelos partidos republicanos. Foi graças ao 28 de Maio que esta situação se alterou. Salazar foi, primeiro em 1926, e depois em 1928, convidado a entrar no Governo não porque representava uma força considerável, mas porque era um técnico capaz de ajudar os militares a endireitarem as finanças nacionais. E se Salazar se transformou em presidente do Conselho foi acima de tudo porque desempenhou a missão com que foi incumbido, impondo-se aos seus rivais pela competência técnica.
- Salazar quis apenas deixar um legado político? Na sua investigação, refere que ele parece ter tomado precauções para que ficasse registado apenas o que considerava essencial.
- Salazar queixava-se frequentemente de não poder deixar uma obra, ou um monumento, que marcasse a sua estada no poder. No seu entender, muito se tinha feito em Portugal e em África, mas eram sobretudo obras pequenas. O mais que conseguiu foi a Ponte Salazar. Por duas vezes, em épocas bem distintas, lançou a ideia de um grande monumento em Sagres, em honra do Infante Dom Henrique - e por duas vezes a tentativa se saldou por um fracasso.
Quanto ao legado político, houve uma nítida tentativa de criar uma imagem de Salazar, e de fazê-la perdurar na história: foi essa a principal missão do SPN [Secretariado de Propaganda Nacional] e de algumas publicações, tais como os "Discursos", os "Dez Anos de Política Externa" e até o livro de Christine Garnier, "Vacances avec Salazar.
Quanto ao Arquivo Salazar, é-nos impossível saber se houve uma selecção cuidadosa do que nele foi guardado. A doença surpreendeu-o enquanto era presidente do Conselho, sem nenhuma intenção de se retirar, e o seu arquivo estava em pleno funcionamento. Se alguma "limpeza" se deu ao arquivo, ter-se-á dado depois da doença, ou da morte.
Há ainda outro ponto a referir: embora no arquivo existam milhares de relatórios e informações oriundas da PIDE [Polícia Internacional e de Defesa do Estado], são poucos os registos de contactos directos entre Salazar e os directores da polícia secreta para discutir casos concretos, estudar opções. Voltamos aqui à sua maneira de trabalhar, à distinção entre o público e o privado. Ou Salazar discutia o caminho a seguir com Silva Pais [director da PIDE de 62 a 74] e os seus antecessores de forma directa, em pessoa ou pelo telefone, ou então dava-lhes carte blanche para agirem como melhor entendessem. De qualquer forma, não nos podemos iludir sobre um ponto essencial: a responsabilidade suprema pelas acções da PIDE cabia-lhe a ele, Salazar. Quando lhe chegavam às mãos queixas sobre o tratamento de prisioneiros políticos, por exemplo, a quem é que encomendava uma investigação sobre o assunto? À própria PIDE.
- Dedica uma parte substancial do livro às décadas de 30 e 40. Entende que estes anos determinaram a longevidade do ditador?
- Quando discuti o livro com a Enigma Books, falámos longamente sobre a dimensão da obra e as questões a focar. Ficou acordado um livro com 400 páginas. E foi publicado um livro com mais de 600. Tive de sacrificar secções inteiras para poder lidar melhor com certas questões, especialmente a II Guerra Mundial e a Guerra Colonial. Porém, não devemos privilegiar uma época do Estado Novo e ver nela o "verdadeiro" Salazar, ou a aplicação sem restrições das suas ideias. Os anos 50, com os planos económicos e a internacionalização da economia europeia, são tão dignos de registo como os anos 30, marcados pela criação do Estado corporativo e pelo estabelecimento de organizações tais como a Mocidade Portuguesa e a Legião Portuguesa. Foi nesta capacidade de evolução do regime - fruto da enorme ambiguidade sobre questões essenciais que alimentou ao longo dos anos - que residiu o segredo da longevidade de Salazar. Teria sido impossível ao Estado Novo sobreviver nos anos 50 e 60 se mantivesse a fachada e as práticas dos anos 30.
- Apresenta três explicações para a vontade de Salazar se manter no poder: acreditava ser um homem providencial; julgava que, sem ele, o regime colapsaria; e, já depois de 61, entendia que tinha de manter as colónias até o Ocidente "recuperar o juízo". São justificações que se enquadram em diferentes períodos da ditadura.
- Refiro duas que se manifestam até 1961, quando a defesa das colónias se lhes veio juntar. Salazar falava e escrevia regularmente sobre o papel da Providência na sua vida. Podemos reduzir este facto a um simples tique retórico, reproduzido e ampliado pela máquina propagandística.
Mas é na correspondência de Cerejeira com Salazar que esta interpretação da "missão" se faz mais abertamente. Muita desta longa correspondência tem um fim político, com Cerejeira lutando por preservar boas relações entre o Estado e a Igreja. Mas custa a crer que Cerejeira insistisse tanto, e tão regularmente, sobre este ponto de vista, se suspeitasse que ele não fosse partilhado por Salazar - ou pelo menos que, quando Salazar entrou no Governo, ele não o partilhasse. Esta visão de um homem imbuído de um espírito de missão, pelo menos em parte da sua longa carreira, repugna a muitos, admiradores e inimigos. Salazar descrevia a sua vida pública como um calvário, uma cruz a carregar, e custa-nos levar tal explicação a sério, pois ela concedia-lhe vantagens políticas importantes.
A outra interpretação é mais tradicional, e de acordo com a historiografia existente: Salazar era o ponto fulcral do regime, o único capaz de manter o Estado Novo intacto e de preservar os interesses que este servia. Parece-me, porém, que as duas interpretações - uma conjuntural, a outra pessoal - podem coexistir pacificamente.
- Salazar nunca se preocupou com a doutrinação ideológica dos portugueses. Esta constatação, aliada às transformações do mundo pós-II Guerra Mundial, terá contribuído para o início do fim do Estado Novo?
- Podia publicar-se um longo volume composto somente por cartas recebidas por Salazar, pedindo-lhe para iniciar um processo de doutrinação ideológica. Nunca o fez porque sabia que tal doutrinação viria cristalizar o Estado Novo, retirando-lhe a ele a liberdade de acção que desejava manter. Por outras palavras, a doutrinação era o fim do Estado Novo. Porque quem se opusesse ao compromisso ideológico determinante nessa doutrinação virar-se-ia contra o regime.
- A historiografia portuguesa só agora começa a dar atenção ao género biográfico. E até hoje ninguém se ocupara da biografia mais óbvia. Como é que interpreta esta situação?
- São muitas as razões, a começar pela rejeição sistemática, ao longo de várias décadas, da importância da história política - do papel do indivíduo na História.
Nos últimos dez anos, o panorama alterou-se e muito, mas Salazar representa um obstáculo tremendo: são quarenta anos a descrever - quarenta anos da vida de um homem, de um país, e mesmo da Europa, pois Portugal não estava isolado do resto do continente. E como há opiniões fortes e feitas sobre Salazar e o Estado Novo, parece-me que ninguém quer provocar a ira do resto da profissão, ou daqueles que pensam que tentar entender Salazar significa automaticamente tentar desculpá-lo.
Por fim, um biógrafo de Salazar tem de lidar com a concorrência colossal dos seis volumes escritos por Franco Nogueira. Parece-me, porém, que os historiadores têm de ir ao encontro do público, sobretudo desde que apareceu a Internet. E não há dúvida de que os portugueses interessam-se por Salazar.
(FONTE)
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"A Actualidade de Carl Schmitt" segundo Alain de Benoist
Foi recententemente editado em português o livro de Alain de Benoist com o título "Guerra Justa, Terrorismo, Estado de Urgência e Nomos da Terra - a Actualidade de Carl Schmitt".
Está disponível para envio directamente da editora, a "Antagonista", a 12 euros cada exemplar.
Os pedidos devem ser dirigidos a antagonistaeditora@gmail.com
Recordamos as obras do autor já editadas em Portugal:
Está disponível para envio directamente da editora, a "Antagonista", a 12 euros cada exemplar.
Os pedidos devem ser dirigidos a antagonistaeditora@gmail.com
Recordamos as obras do autor já editadas em Portugal:
- O que é a geopolítica, col. «Campo livre », Edições do Templo, Lisboa 1978.
- Nova direita, Nova cultura. Antologia critica das ideias contemporâneas, col. « Doutrina / Intervenção », Edições Afrodite, Lisboa 1981.
- Festejar o Natal, Lendas e tradições, Hugin Editores, Lisboa 1997.
- Comunismo e nazismo, 25 reflexões sobre o totalitarismo no século XX (1917—1989), col. «Dissidências », Hugin Editores, Lisboa 1999.
- Com ou sem Deus? (colectânea v/a), col. «Dissidências», Hugin Editores, Lisboa 2000.
- Céline e a Alemanha, 1933-1945, col. « Dissidências », Hugin Editores, Lisboa 2001.
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sexta-feira, outubro 23, 2009
Terra Portuguesa
quinta-feira, outubro 22, 2009
Ponte Salazar
Inquérito no DN:
Concorda que a Ponte 25 de Abril volte a chamar-se Salazar?
Sim ? Não?
Vá votar!
http://dn.sapo.pt/Inicio/
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Concorda que a Ponte 25 de Abril volte a chamar-se Salazar?
Sim ? Não?
Vá votar!
http://dn.sapo.pt/Inicio/
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terça-feira, outubro 20, 2009
Agenda cultural
No próximo dia 27 de Outubro pelas 18h30, irá proceder-se, no Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, ao lançamento da obra “O Essencial ao Processo Estratégico – Teoria Geral da Estratégia”, da autoria do Contra-Almirante António Silva Ribeiro, apresentada pelo Prof. Dr. Adriano Moreira.
Este livro procura contribuir para reduzir a carência de obras portuguesas sobre a teoria geral da estratégia. O seu conteúdo estuda o conceito de estratégia como processo, caracteriza os elementos essenciais desse processo e debate as características básicas de interacção estratégica. Os conceitos apresentados são os adequados à estruturação e desenvolvimento dos processos estratégicos no Estado e nas empresas.
No dia dia 28 de Outubro, Quarta-Feira, pelas 18h, na Academia Militar - entrada pela Rua Gomes Freire - terá lugar a sessão de lançamento do livro do Tenente-Coronel Brandão Ferreira "Em nome da Pátria", sobre a experiência das guerras do ultramnar e a estratégia nacional portuguesa, que será apresentado pelo Prof. Adriano Moreira.
Ver a notícia aqui.
Foi há pouco editado em Portugal, pela Civilização Editora, «O Século de 1914. Utopias, Guerras e Revoluções na Europa do Século XX», uma das mais emblemáticas obras de Dominique Venner, historiador francês de referência e responsável pela edição da revista «Nouvelle Revue de Histoire». O livro, com tradução de Miguel Freitas da Costa, faz a análise do século XX tomando como eixo central a I Guerra Mundial.
Finalmente, dia 6 de Novembro de 2009, Sexta-feira, pelas 21h00, na Universidade Lusíada de Lisboa, situada na zona da Junqueira, e sob a coordenação do Dr. Humberto Nuno de Oliveira, vão realizar-se três apresentações em simultâneo, todas elas relacionadas com Nuno Álvares Pereira, que é precisamente o santo desse dia, 6 de Novembro.
- Será apresentado o livro «Nuno Álvares Pereira, Homem, Herói e Santo», uma antologia que reúne textos de vários autores.
- Será apresentado o CD «São Nuno de Santa Maria - Por Portugal – e Mais Nada», com poemas de vários autores dedicados ao Condestável Nuno Álvares Pereira, musicados e cantados por José Campos e Sousa.
- E será inaugurada uma exposição de pintura sobre Nuno Álvares Pereira da pintora portuense Gabriela Marques da Costa.
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segunda-feira, outubro 12, 2009
Para que todos os dias sejam dias de Portugal: o caminho do nacionalismo português
O destino de Portugal será aquilo que nós formos capazes de fazer. Temos que ser capazes de levantar uma alternativa nacional ao regime que nos tem desgovernado; temos que começar a organizar a oposição, ser a voz dos que não têm tido voz, representar as forças e os interesses do país profundo, fortalecer as instituições que constituem a ossatura moral da nação, preparar activamente a reconstrução e dignidade desse organismo vivo que é a nossa Pátria.
Na acção se forjará o projecto, a proposta concreta que trazemos ao nosso Povo; o que não podemos é ter medo de falar com ele, não podemos continuara virarmo-nos para dentro e esquecer qual é o projecto e o objectivo.
Esse trabalho cabe-nos a todos, e já começou. Ninguém tem o direito de se dispensar. Pela palavra e pela acção, cada nacionalista tem que militar na difusão da doutrina que lhe deve ser familiar. O sentido da propaganda, de que são mestres os nossos inimigos, tem que estar mais e mais presente nas nossas hostes.
Fazer propaganda, organizar-se, difundir activamente as publicações que veiculem as nossas ideias, dar um exemplo constante de crença firme em outros princípios e de rejeição intransigente do sistema que nos domina, tais são mandamentos que todos os nacionalistas deveriam ter sempre em mente.
O regime apresenta característicos sinais de desagregação. A putrefacção apoderou-se de todas as suas estruturas. Mas não irá desaparecer de cena, por algum alçapão da história, por sua própria iniciativa. Se nada puser cobro a isto, continuará indefinidamente esta trágica palhaçada dos que entram e dos que saem sem que nunca alguém note a diferença. E os portugueses terão que continuar a esfolar-se para viver numa terra onde não arranjam casa nem emprego e onde a inflação lhes consome tudo o que conseguem ganhar, enquanto os seus políticos se divertem com várias eleições ao ano e com governos ao semestre, como tem acontecido nestes últimos anos.
Não temos portanto o direito de esperar mais tempo. É a hora de nos empenharmos sem reservas no combate ao que tem vigorado. Para isso é preciso inflamar o país na chama de um nacionalismo renovado, que una as forças vivas da nação num projecto de regeneração que possa atrair o consenso de todos os que não possuem interesses na manutenção da actual situação. E quase todos preenchemos essa condição.
A história demonstra que o empreendimento é possível. Com homens, com força de vontade inquebrantável, os meios aparecem. O que é preciso é que sejamos suficientemente entusiastas para lutar pelo que desejamos e suficientemente lúcidos para não esperar a vitória já para amanhã. E espalhar os princípios, a doutrina, que é a nossa maior força. As nossas ideias são simples e claras, as dos inimigos complicadas, contraditórias e confusas; as nossas são naturais, as deles são efabulações de teóricos divorciados da vida. Por toda a parte essas ideologias se encontram em refluxo, confrontadas com os seus próprios fracassos, resultados das contradições que desde o início as caracterizavam. Não devemos pois ter medo da batalha das ideias; antes temos que proceder na certeza de que a cultura, o povo e a juventude, são os melhores aliados no combate a travar. Só a nossa doutrina possui a poesia e o idealismo bastantes para aquecer as almas dos jovens; só ela contém o realismo, a autenticidade, a verdade suficientes para captar o apoio do povo que trabalha e produz.
Se travarmos de imediato a batalha pelo domínio dos aparelhos de condicionamento cultural, e vencermos aí onde tradicionalmente sempre perdemos, nos jornais, nas universidades, entre os intelectuais, na conquista dos espíritos, estou convencido que estarão criadas todas as condições para que naturalmente nasça e se ponha em marcha o movimento que trará a revolução que nos falta. Um movimento que nascerá assim da derrota e da traição, da amargura e da revolta, mas que terá em si as sementes da esperança, o fermento da construção, alimentado por esta insatisfação com a Pátria que se ama e não se tem. Este movimento nacionalista que temos de erguer em conjunto é a bandeira que se levanta pela Pátria, pelo Povo, pelo Pão, pelo Trabalho, pela Justiça.
Será um nacionalismo activo e dinâmico, pleno de juventude e alegria, contagiando a nação inteira com o entusiasmo e a confiança de quem cumpre uma grande missão; um nacionalismo popular, atento às necessidades e aos problemas do povo, permanentemente solidário com os que clamam por justiça; um nacionalismo do nosso tempo, sintetizando em harmonia perfeita as verdades eternas da tradição com a forma e o rosto que a modernidade lhes exige; um nacionalismo forte e viril, transbordante de vigor e energia, espalhando pelo exemplo a esperança e a fé num Portugal melhor; enfim, um nacionalismo que seja a expressão orgânica do descontentamento nacional, capaz de acordar nos portugueses aquele espírito heróico que os conduziu nas grandes tarefas históricas. Nenhum esforço colectivo será fértil, nenhuma gesta vitoriosa, se não soubermos criar a atmosfera adequada, se não comungarmos todos numa temperatura espiritual elevada, que fortifica os ânimos e torna os homens inacessíveis ao desalento.
Os povos, como os homens, precisam de quem os estimule, de quem os esclareça, de quem os comande; o nacionalismo português tem que fornecer à nação aquela chama, aquele suplemento de alma, sem a qual ela não poderá superar a crise em que se encontra mergulhada, e que é sem dúvida a mais grave de toda a nossa história.
Essa missão imensa, essa tarefa hercúlea, compete aos nacionalistas portugueses cumpri-la; essa a nossa honra; esse o destino do nacionalismo português.
Na acção se forjará o projecto, a proposta concreta que trazemos ao nosso Povo; o que não podemos é ter medo de falar com ele, não podemos continuara virarmo-nos para dentro e esquecer qual é o projecto e o objectivo.
Esse trabalho cabe-nos a todos, e já começou. Ninguém tem o direito de se dispensar. Pela palavra e pela acção, cada nacionalista tem que militar na difusão da doutrina que lhe deve ser familiar. O sentido da propaganda, de que são mestres os nossos inimigos, tem que estar mais e mais presente nas nossas hostes.
Fazer propaganda, organizar-se, difundir activamente as publicações que veiculem as nossas ideias, dar um exemplo constante de crença firme em outros princípios e de rejeição intransigente do sistema que nos domina, tais são mandamentos que todos os nacionalistas deveriam ter sempre em mente.
O regime apresenta característicos sinais de desagregação. A putrefacção apoderou-se de todas as suas estruturas. Mas não irá desaparecer de cena, por algum alçapão da história, por sua própria iniciativa. Se nada puser cobro a isto, continuará indefinidamente esta trágica palhaçada dos que entram e dos que saem sem que nunca alguém note a diferença. E os portugueses terão que continuar a esfolar-se para viver numa terra onde não arranjam casa nem emprego e onde a inflação lhes consome tudo o que conseguem ganhar, enquanto os seus políticos se divertem com várias eleições ao ano e com governos ao semestre, como tem acontecido nestes últimos anos.
Não temos portanto o direito de esperar mais tempo. É a hora de nos empenharmos sem reservas no combate ao que tem vigorado. Para isso é preciso inflamar o país na chama de um nacionalismo renovado, que una as forças vivas da nação num projecto de regeneração que possa atrair o consenso de todos os que não possuem interesses na manutenção da actual situação. E quase todos preenchemos essa condição.
A história demonstra que o empreendimento é possível. Com homens, com força de vontade inquebrantável, os meios aparecem. O que é preciso é que sejamos suficientemente entusiastas para lutar pelo que desejamos e suficientemente lúcidos para não esperar a vitória já para amanhã. E espalhar os princípios, a doutrina, que é a nossa maior força. As nossas ideias são simples e claras, as dos inimigos complicadas, contraditórias e confusas; as nossas são naturais, as deles são efabulações de teóricos divorciados da vida. Por toda a parte essas ideologias se encontram em refluxo, confrontadas com os seus próprios fracassos, resultados das contradições que desde o início as caracterizavam. Não devemos pois ter medo da batalha das ideias; antes temos que proceder na certeza de que a cultura, o povo e a juventude, são os melhores aliados no combate a travar. Só a nossa doutrina possui a poesia e o idealismo bastantes para aquecer as almas dos jovens; só ela contém o realismo, a autenticidade, a verdade suficientes para captar o apoio do povo que trabalha e produz.
Se travarmos de imediato a batalha pelo domínio dos aparelhos de condicionamento cultural, e vencermos aí onde tradicionalmente sempre perdemos, nos jornais, nas universidades, entre os intelectuais, na conquista dos espíritos, estou convencido que estarão criadas todas as condições para que naturalmente nasça e se ponha em marcha o movimento que trará a revolução que nos falta. Um movimento que nascerá assim da derrota e da traição, da amargura e da revolta, mas que terá em si as sementes da esperança, o fermento da construção, alimentado por esta insatisfação com a Pátria que se ama e não se tem. Este movimento nacionalista que temos de erguer em conjunto é a bandeira que se levanta pela Pátria, pelo Povo, pelo Pão, pelo Trabalho, pela Justiça.
Será um nacionalismo activo e dinâmico, pleno de juventude e alegria, contagiando a nação inteira com o entusiasmo e a confiança de quem cumpre uma grande missão; um nacionalismo popular, atento às necessidades e aos problemas do povo, permanentemente solidário com os que clamam por justiça; um nacionalismo do nosso tempo, sintetizando em harmonia perfeita as verdades eternas da tradição com a forma e o rosto que a modernidade lhes exige; um nacionalismo forte e viril, transbordante de vigor e energia, espalhando pelo exemplo a esperança e a fé num Portugal melhor; enfim, um nacionalismo que seja a expressão orgânica do descontentamento nacional, capaz de acordar nos portugueses aquele espírito heróico que os conduziu nas grandes tarefas históricas. Nenhum esforço colectivo será fértil, nenhuma gesta vitoriosa, se não soubermos criar a atmosfera adequada, se não comungarmos todos numa temperatura espiritual elevada, que fortifica os ânimos e torna os homens inacessíveis ao desalento.
Os povos, como os homens, precisam de quem os estimule, de quem os esclareça, de quem os comande; o nacionalismo português tem que fornecer à nação aquela chama, aquele suplemento de alma, sem a qual ela não poderá superar a crise em que se encontra mergulhada, e que é sem dúvida a mais grave de toda a nossa história.
Essa missão imensa, essa tarefa hercúlea, compete aos nacionalistas portugueses cumpri-la; essa a nossa honra; esse o destino do nacionalismo português.
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Sobre acção política nacionalista
"A vida colectiva, sobretudo na sua expressão nacional, e num plano superior desta, não se congrega nem ordena espontaneamente. É ilusão supor que a sociedade busca ou encontra por si própria as suas directrizes; ou mesmo apreende em termos sensíveis as suas próprias necessidades. Um ou poucos debruçados sobre o ser colectivo deduzem e esclarecem o que pode encontrar-se vaga e embrionariamente na consciência geral, sentem as necessidades ou conveniências, fixam um objectivo, definem uma direcção, dão o impulso, criaram uma política."
Esta reflexão de Salazar parece-me especialmente ajustada aos tempos em que a nossa geração é colocada perante a história – em que descobriu o mundo e em que, como todas as juventudes conscientes da sua missão, sente a necessidade de o transformar. Alguns de nós têm vindo a insistir no modo de fazer essa transformação; chegados à encruzilhada é preciso saber como agir, estabelecer uma escala de prioridades, conferir à acção um grau de precisão e eficácia que evite a dispersão inglória das forças que restam e assegure as condições para o triunfo final. Tarefa difícil pelo que exige de tenacidade, de constância, de perseverança, é ela o ponto-chave da definição de qualquer estratégia revolucionária, e a pedra de toque que permite reconhecer o autêntico revolucionário (estamos aqui a utilizar, sem preocupações de rigor, a palavra revolução com o seu significado imediato de modificação profunda das estruturas em que assenta um país).
Ao reflectir sobre esses tais modos de agir, que garantam a viabilidade e o sucesso, ao menos a prazo, dos esforços políticos dos nacionalistas portugueses, desde há muito deparámos com a importância do facto cultural, e conferimos-lhe a primazia na acção. Com isso não descobrimos nada: apenas seguimos os ensinamentos de muitos mestres, e da grande mestra que é a história. Charles Maurras escreveu que "as revoluções estão feitas antes de rebentarem"; com isso constatava o facto de elas antes de chegarem às ruas já terem conquistado os espíritos. Mais recentemente o politólogo Jules Monnerot empregou-se a demonstrar como era capital o domínio da massa cinzenta (ver a importante obra "Sociologia da Revolução" de Monnerot).
No nosso quotidiano, dedicado à acção nacionalista, sentimos muitas vezes que esta opção é dolorosa. Sobretudo porque ela, cortando com o imediatismo, nos separa de imediato dos nossos camaradas mais impacientes, nos afasta de muitos cujos sentimentos e intenções são os nossos, mas em que a resistência psicológica ou a capacidade intelectual exigem um activismo mais virado para o concreto, para o imediato, para o resultado visível e a curto prazo (haverá sempre uma grande massa de potenciais militantes que só poderemos prender, porque só podem vincular-se, através de acção que encha o olho). E as grandes massas não se movem pela cabeça, mas pelo coração ou pelos instintos.
Evidentemente que a persistência num trabalho lento de conquista das inteligências nos levou a descurar esses aspectos. Não há tempo para fazer tudo. O que importa é não esquecer que os diversos tipos de acção política se não excluem, antes a plena eficácia pressupõe uma correcta utilização de todos eles, num interrelacionamento perfeito. Conforme as circunstâncias o exigirem e as possibilidades o permitirem.
Na certeza, porém, de que toda a acção política só faz sentido, só é possível, quando norteada por uma determinada concepção do mundo. E a nossa cosmovisão nacionalista exige-nos uma política nacional, com todas as afirmações e negações que o nacionalismo traz implícito. Nacionalismo: doutrina política que apresenta a nação como valor supremo na esfera temporal; logo, "ardentemente antiliberal é, também, ardentemente anti-individualista. Se a nação real, definida como uma herança determinada, um património moral comum que cada um de nós deve respeitar, continuar e fazer durar, representa o valor supremo, parece evidente que os indivíduos ou pessoas têm de subordinar-se inteiramente à nação (António José de Brito, in "Destino do Nacionalismo Português").
E então, posto o nacionalismo como princípio, resulta evidente que temos que realizar uma política nacional. Para explicar qual resolvemos terminar como começámos, ou seja, com uma citação de Salazar: "Quando digo política nacional entendo: que a Nação – a nossa Nação – é uma realidade viva que desejamos imorredoira; que a Nação é um todo orgânico constituído por indivíduos diferenciados em virtude de aptidões diversas e actividades diferentes, hierarquizados na sua diferenciação natural; que há interesses deste todo perfeitamente distintos dos interesses individuais e por vezes até antagónicos aos interesses imediatos da generalidade e muito mais de um grupo ou de uma classe de cidadãos; que a bem do interesse nacional se tem que reconhecer os agrupamentos naturais ou sociais dos homens – a família, a sociedade, o sindicato profissional, a associação de fins ideais, a autarquia local".
Esta reflexão de Salazar parece-me especialmente ajustada aos tempos em que a nossa geração é colocada perante a história – em que descobriu o mundo e em que, como todas as juventudes conscientes da sua missão, sente a necessidade de o transformar. Alguns de nós têm vindo a insistir no modo de fazer essa transformação; chegados à encruzilhada é preciso saber como agir, estabelecer uma escala de prioridades, conferir à acção um grau de precisão e eficácia que evite a dispersão inglória das forças que restam e assegure as condições para o triunfo final. Tarefa difícil pelo que exige de tenacidade, de constância, de perseverança, é ela o ponto-chave da definição de qualquer estratégia revolucionária, e a pedra de toque que permite reconhecer o autêntico revolucionário (estamos aqui a utilizar, sem preocupações de rigor, a palavra revolução com o seu significado imediato de modificação profunda das estruturas em que assenta um país).
Ao reflectir sobre esses tais modos de agir, que garantam a viabilidade e o sucesso, ao menos a prazo, dos esforços políticos dos nacionalistas portugueses, desde há muito deparámos com a importância do facto cultural, e conferimos-lhe a primazia na acção. Com isso não descobrimos nada: apenas seguimos os ensinamentos de muitos mestres, e da grande mestra que é a história. Charles Maurras escreveu que "as revoluções estão feitas antes de rebentarem"; com isso constatava o facto de elas antes de chegarem às ruas já terem conquistado os espíritos. Mais recentemente o politólogo Jules Monnerot empregou-se a demonstrar como era capital o domínio da massa cinzenta (ver a importante obra "Sociologia da Revolução" de Monnerot).
No nosso quotidiano, dedicado à acção nacionalista, sentimos muitas vezes que esta opção é dolorosa. Sobretudo porque ela, cortando com o imediatismo, nos separa de imediato dos nossos camaradas mais impacientes, nos afasta de muitos cujos sentimentos e intenções são os nossos, mas em que a resistência psicológica ou a capacidade intelectual exigem um activismo mais virado para o concreto, para o imediato, para o resultado visível e a curto prazo (haverá sempre uma grande massa de potenciais militantes que só poderemos prender, porque só podem vincular-se, através de acção que encha o olho). E as grandes massas não se movem pela cabeça, mas pelo coração ou pelos instintos.
Evidentemente que a persistência num trabalho lento de conquista das inteligências nos levou a descurar esses aspectos. Não há tempo para fazer tudo. O que importa é não esquecer que os diversos tipos de acção política se não excluem, antes a plena eficácia pressupõe uma correcta utilização de todos eles, num interrelacionamento perfeito. Conforme as circunstâncias o exigirem e as possibilidades o permitirem.
Na certeza, porém, de que toda a acção política só faz sentido, só é possível, quando norteada por uma determinada concepção do mundo. E a nossa cosmovisão nacionalista exige-nos uma política nacional, com todas as afirmações e negações que o nacionalismo traz implícito. Nacionalismo: doutrina política que apresenta a nação como valor supremo na esfera temporal; logo, "ardentemente antiliberal é, também, ardentemente anti-individualista. Se a nação real, definida como uma herança determinada, um património moral comum que cada um de nós deve respeitar, continuar e fazer durar, representa o valor supremo, parece evidente que os indivíduos ou pessoas têm de subordinar-se inteiramente à nação (António José de Brito, in "Destino do Nacionalismo Português").
E então, posto o nacionalismo como princípio, resulta evidente que temos que realizar uma política nacional. Para explicar qual resolvemos terminar como começámos, ou seja, com uma citação de Salazar: "Quando digo política nacional entendo: que a Nação – a nossa Nação – é uma realidade viva que desejamos imorredoira; que a Nação é um todo orgânico constituído por indivíduos diferenciados em virtude de aptidões diversas e actividades diferentes, hierarquizados na sua diferenciação natural; que há interesses deste todo perfeitamente distintos dos interesses individuais e por vezes até antagónicos aos interesses imediatos da generalidade e muito mais de um grupo ou de uma classe de cidadãos; que a bem do interesse nacional se tem que reconhecer os agrupamentos naturais ou sociais dos homens – a família, a sociedade, o sindicato profissional, a associação de fins ideais, a autarquia local".
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quarta-feira, outubro 07, 2009
Logo a partir das 22 horas: José Pinto-Coelho em debate na RTP
O PNR representado por José Pinto Coelho estará hoje à noite em debate sobre as eleições autárquicas, na RTP1, a partir das 22 horas.
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terça-feira, outubro 06, 2009
PNR quer «Renovar Lisboa» e acabar com política do betão
O Partido Nacional Renovador apresentou o seu programa para a Cidade de Lisboa, intitulado «Renovar Lisboa», com críticas aos «planos urbanísticos dos diversos políticos do sistema, a começar pelos autarcas, que são dos principais responsáveis pela actual situação», propondo-se acabar com aquilo que considera «políticas do betão, rodeadas de interesses e negociatas».
Segundo o PNR, «Lisboa surge como uma das cidades europeias com mais construção nova, ao contrário do que acontece no resto da Europa onde existe mais reabilitação, porque os políticos do sistema e as suas políticas são orientados pela corrupção e nós temos sido governados por corruptos e mentirosos», afirma Pinto Coelho.
No entender do PNR, «o resultado dos chamados "planos urbanísticos", que recorrentemente surgem nas campanhas eleitorais, têm como resultado um empurrar das pessoas para os bairros da periferia», diz Pinto Coelho, acrescentando que «depois, os mesmos que incentivaram essa situação, porque vivem desses negócios, vêm falar de bicicletas e novas taxas para quem precisa de vir trabalhar para a cidade».
«Os Lisboetas devem ter a possibilidade de viver com qualidade dentro da cidade, porque com mais pessoas a viver no centro reduz-se os engarrafamentos e a criminalidade, ajuda-se o pequeno e médio comerciante, e promove-se o tempo disponível para a família, ou seja aumenta-se a qualidade de vida de todos. Mas, para isso acontecer, é urgente acabar com a política do betão e apostar na renovação, uma renovação real, que pode começar pelo voto no PNR», considera José Pinto-Coelho.
Segundo o PNR, «Lisboa surge como uma das cidades europeias com mais construção nova, ao contrário do que acontece no resto da Europa onde existe mais reabilitação, porque os políticos do sistema e as suas políticas são orientados pela corrupção e nós temos sido governados por corruptos e mentirosos», afirma Pinto Coelho.
No entender do PNR, «o resultado dos chamados "planos urbanísticos", que recorrentemente surgem nas campanhas eleitorais, têm como resultado um empurrar das pessoas para os bairros da periferia», diz Pinto Coelho, acrescentando que «depois, os mesmos que incentivaram essa situação, porque vivem desses negócios, vêm falar de bicicletas e novas taxas para quem precisa de vir trabalhar para a cidade».
«Os Lisboetas devem ter a possibilidade de viver com qualidade dentro da cidade, porque com mais pessoas a viver no centro reduz-se os engarrafamentos e a criminalidade, ajuda-se o pequeno e médio comerciante, e promove-se o tempo disponível para a família, ou seja aumenta-se a qualidade de vida de todos. Mas, para isso acontecer, é urgente acabar com a política do betão e apostar na renovação, uma renovação real, que pode começar pelo voto no PNR», considera José Pinto-Coelho.
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A campanha é todos os dias
As campanhas eleitorais são como fogo de palha. Os entusiasmos gerados pelas campanhas vão-se tão depressa como vieram. Todos conhecemos o fenómeno dos entusiasmos que despertam nessas alturas, e que passadas estas logo desfalecem como balões furados.
Diga-se aliás que em geral os resultados das campanhas dependem pouco das campanhas (por exemplo, os nacionalistas costumam ser nos períodos das campanhas muito melhores do que no resto do tempo).
Porém, normalmente não é nas campanhas eleitorais, nos curtos períodos das campanhas eleitorais, que se decidem as votações. Geralmente foram decididas já antes, ao longo do tempo. Os votos dependem de muitos factores e circunstâncias, e o que conta em política não são as campanhas, é o que está entre as campanhas. O que é difícil é existir todos os dias, e não fazer dez dias de epopeia.
O que mais importa a quem queira fazer política é pensar o trabalho político em profundidade, estar presente no dia a dia das pessoas, entrar com naturalidade e familiaridade no círculo de referências habitual de cada um, de modo que na altura da campanha esta seja apenas um aceno cordial a amigos e conhecidos - e não o surgir repentino de uns desconhecidos que aparecem só nessas ocasiões a pedir o voto.
As campanhas eleitorais decidem-se a todo o tempo depois de findar a última e antes de começar a próxima. Só não se decidem no tempo oficial de campanha - aí as pessoas, justamente, têm muito mais dificuldade em acreditar, sobretudo nos intermitentes da política, aqueles que lhes aparecem só nessas ocasiões e nunca ninguém viu antes a propósito de nada.
Diga-se aliás que em geral os resultados das campanhas dependem pouco das campanhas (por exemplo, os nacionalistas costumam ser nos períodos das campanhas muito melhores do que no resto do tempo).
Porém, normalmente não é nas campanhas eleitorais, nos curtos períodos das campanhas eleitorais, que se decidem as votações. Geralmente foram decididas já antes, ao longo do tempo. Os votos dependem de muitos factores e circunstâncias, e o que conta em política não são as campanhas, é o que está entre as campanhas. O que é difícil é existir todos os dias, e não fazer dez dias de epopeia.
O que mais importa a quem queira fazer política é pensar o trabalho político em profundidade, estar presente no dia a dia das pessoas, entrar com naturalidade e familiaridade no círculo de referências habitual de cada um, de modo que na altura da campanha esta seja apenas um aceno cordial a amigos e conhecidos - e não o surgir repentino de uns desconhecidos que aparecem só nessas ocasiões a pedir o voto.
As campanhas eleitorais decidem-se a todo o tempo depois de findar a última e antes de começar a próxima. Só não se decidem no tempo oficial de campanha - aí as pessoas, justamente, têm muito mais dificuldade em acreditar, sobretudo nos intermitentes da política, aqueles que lhes aparecem só nessas ocasiões e nunca ninguém viu antes a propósito de nada.
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domingo, outubro 04, 2009
Áustria e Grécia: uma outra Direita é possível
Forte progression de l'extrême-droite autrichienne lors des régionales partielles
L'extrême droite se réinstalle dans le paysage politique grec
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L'extrême droite se réinstalle dans le paysage politique grec
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sábado, outubro 03, 2009
Renovar Lisboa
O panorama é desolador. Lisboa é uma cidade cada vez mais insegura, com índices crescentes de criminalidade. Nela sobressaem os grafittis, as obras embargadas, os jardins sujos e devastados, o lixo nas ruas, o trânsito caótico e as zonas de não-direito por conta de gangues étnicos. Para além disto, o município encontra-se em grave situação financeira. Impera a lógica dos lóbis, dos clientelismos e dos tachos, em favor de amigos e correligionários. Todos os partidos do sistema têm responsabilidade neste estado de coisas. A maior Câmara do país é o exemplo claro de que, neste sistema, os interesses individuais e dos partidos estão sempre à frente dos interesses de Portugal e dos Portugueses. À imagem do poder central, também o poder municipal gasta rios de dinheiro com objectivos alheios aos interesses nacionais. O PNR apresenta-se à eleição para a Câmara Municipal de Lisboa (CML) com um conjunto de propostas de acordo com o nacionalismo que perfilha. O PNR atribui grande importância à eleição dos representantes locais. Adversário da regionalização desagregadora, o PNR respeita a tradição municipalista portuguesa. Com o PNR, Lisboa e os lisboetas estão em primeiro lugar, porque para o PNR os Portugueses estão sempre primeiro!
http://www.pnr.pt/
http://www.pnr.pt/
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quinta-feira, outubro 01, 2009
Para compreender a pedofilia soixante-huitard
»J’ai pris le pli de payer pour des garçons [...] Évidemment, j’ai lu ce qu’on a pu écrire sur le commerce des garçons d’ici .[...] Je sais ce qu’il y a de vrai. La misère ambiante, le maquereautage généralisé, les montagnes de dollars que ça rapporte quand les gosses n’en retirent que des miettes, la drogue qui fait des ravages, les maladies, les détails sordides de tout ce trafic. Mais cela ne m’empêche pas d’y retourner. Tous ces rituels de foire aux éphèbes, de marché aux esclaves m’excitent énormément […] On ne pourrait juger qu’un tel spectacle abominable d’un point de vue moral, mais il me plaît au-delà du raisonnable […] La profusion de jeunes garçons très attrayants et immédiatement disponibles me met dans un état de désir que je n’ai plus besoin de réfréner ou d’occulter. L’argent et le sexe, je suis au cœur de mon système, celui qui fonctionne enfin car je sais qu’on ne me refusera pas »
Ou julgavam que era só cá?
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