terça-feira, novembro 30, 2004
Comemoremos o 1º de Dezembro!
Em celebração da Independência de Portugal, haverá amanhã às 16 horas cerimónias de homenagem aos Heróis da Restauração, a realizar junto ao monumento dos Restauradores, em Lisboa, promovidas pela Sociedade Histórica da Independência de Portugal.
E a mesma instituição manda celebrar pelas 18.30 horas uma Missa Solene de Acção de Graças, na Igreja Paroquial de São Nicolau, também em Lisboa.
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E a mesma instituição manda celebrar pelas 18.30 horas uma Missa Solene de Acção de Graças, na Igreja Paroquial de São Nicolau, também em Lisboa.
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Tierra y Pueblo
A associação Tierra y Pueblo, que recentemente promoveu iniciativas de homenagem a Julius Evola, edita também uma excelente revista, com o mesmo nome.
Chamo a vossa atenção para ela (podem pedir o envio gratuito de um número), e sobretudo para o número de Maio último, que foi dedicado a Rodrigo Emílio.
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Chamo a vossa atenção para ela (podem pedir o envio gratuito de um número), e sobretudo para o número de Maio último, que foi dedicado a Rodrigo Emílio.
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Literatices
De vez em quando deparamos na blogosfera com lugares onde um sólido bom gosto literário ou a exigência cultural se afirma, ou uma escrita capaz se impõe.
Sabe bem, e reconforta escapar assim da vulgaridade.
Indico como exemplos o Claque Quente, os Cadernos de Marcel Aymé, os Cadernos Evolianos, o Dragoscópio.
Recomendo que vão por aí - ficam sempre a ganhar. Aprende-se a ler, a escrever, a pensar, exercita-se a inteligência...
Tudo coisas que fazem falta. Ninguém é obrigado a morrer estúpido, salvo os casos irremediáveis.
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Sabe bem, e reconforta escapar assim da vulgaridade.
Indico como exemplos o Claque Quente, os Cadernos de Marcel Aymé, os Cadernos Evolianos, o Dragoscópio.
Recomendo que vão por aí - ficam sempre a ganhar. Aprende-se a ler, a escrever, a pensar, exercita-se a inteligência...
Tudo coisas que fazem falta. Ninguém é obrigado a morrer estúpido, salvo os casos irremediáveis.
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CÂNTICO
Em cada flor
Que dia a dia renasce,
o canto negro de uma saudade presente:
esta foi a carta escrita
ao amanhecer, depois do fuzilamento.
Uma bandeira desfraldada,
crianças e crianças correndo,
os amados amando-se,
os anciãos rindo e sorrindo
— na palma da mão,
o testemunho imenso e vermelho,
que não morre:
essa foi a cidade de todos os tempos,
o amor e o canto das bocas sadias,
a espuma de todas as ondas,
o mar de toda a navegação.
(Onde está a barca da alegria,
dos amados amando-se,
das crianças e jovens mulheres
de todas as idades? Onde está?
Onde dorme a barca das manhãs despertas?)
Dia a dia renascem os beijos dados à noite,
em Toledo.
Meu caro Amigo, eu vou morrer,
mas comigo levo a luz de Abril
e as flores de Maio,
e as medalhas dos camaradas
mortos em combate.
Os dias passam pela morte dos tempos.
(Oh, como o tempo passa!)
Ao lado de cada flor da manhã,
uma camisa negra aguarda o corpo do mundo.
José Valle de Figueiredo
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Que dia a dia renasce,
o canto negro de uma saudade presente:
esta foi a carta escrita
ao amanhecer, depois do fuzilamento.
Uma bandeira desfraldada,
crianças e crianças correndo,
os amados amando-se,
os anciãos rindo e sorrindo
— na palma da mão,
o testemunho imenso e vermelho,
que não morre:
essa foi a cidade de todos os tempos,
o amor e o canto das bocas sadias,
a espuma de todas as ondas,
o mar de toda a navegação.
(Onde está a barca da alegria,
dos amados amando-se,
das crianças e jovens mulheres
de todas as idades? Onde está?
Onde dorme a barca das manhãs despertas?)
Dia a dia renascem os beijos dados à noite,
em Toledo.
Meu caro Amigo, eu vou morrer,
mas comigo levo a luz de Abril
e as flores de Maio,
e as medalhas dos camaradas
mortos em combate.
Os dias passam pela morte dos tempos.
(Oh, como o tempo passa!)
Ao lado de cada flor da manhã,
uma camisa negra aguarda o corpo do mundo.
José Valle de Figueiredo
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ELE, O TEMPO E A JUVENTUDE
No prefácio que escreveu para o Tomo IV da edição das Obras Completas de Robert Brasillach, do Club de L'Honnête Homme, nota Jean Anouilh que ao poeta de Fresnes se podem aplicar aqueles versos de Péguy que falam do jeune homme bonheur qui voulait danser e do jeune homme honneur qui voulait passer.
Esta observação do autor das "Nouvelles Pièces Noires" sintetiza admiravelmente as facetas de Brasillach, as linhas essenciais do seu pensamento e da sua obra, os dois ciclos em que se divide a sua existência, as constantes que desde o pátio de recreio do Louis-le-Grand ao fosso de Montrouge, não deixam de o acompanhar, temperando-se, estreitando-se, fundindo-se tantas vezes...
Jeune homme bonheur empreende a aventura de toda a Juventude, a sua própria descoberta. Ser jovem requer aprendizagem, combate, conquista. O encontro com a Juventude, entrevista naqueles lugares comuns que constituem a tipologia sentimental dos 18 anos, as tardes de Abril, a cor dos olhos da colegial que acedeu ao convite para um passeio na cidade velha, o momento em que por um imperativo consuetudinário se chega à conclusão da identidade de gostos, creio que tudo isto ele conheceu e viveu...
Com a irmã Suzanne e os amigos Maurice Bardèche, José Lupin, Thierry Maulnier, Roger Vailland, calcorreou Paris dos romances populistas e dos filmes de René Clair, frequentou o teatro dos Pittoëff, pesquisou nas margens do Sena os escaparates dos bouquinistes. É a época de Fulgur, essa mirabolante novela a quatro mãos, cada um escrevendo um capítulo, no qual Thierry Maulnier, hoje membro da Academia, narrava num “estilo imitado de Hugo e Flaubert, uma grande batalha naval em que a frota afegã batia a Home Fleet inglesa”, das partidas de bridge disputadas num quarto em “desordem repugnante” das conferências a favor dos Poldevos, esse imaginário povo oprimido, vítima do amor acrisolado que devotava à democracia, das intermináveis discussões onde, com o tranquilo dogmatismo da mocidade, se escalpelavam celebridades e arrumavam bolinhas de papel aos bustos dos antigos. Florence tem 15 anos, René chegou a Paris, a tempestade ainda vem muito longe.
Mas os anos fáceis da douceur de vivre, cuja recordação ficou em "Notre Avant-Guerre", passam depressa. A partir dum certo momento o mundo separa-se em dois campos. Brasillach escolhe: “Víamos um imenso movimento de renovação que se tornava a religião de milhões de homens que acreditavam na sua Pátria”. Como ficar indiferente à magia que daqui se desprendia, quando hoje, mau grado as brumas de esquecimento e os ensinamentos dos vencedores, sentimos o mesmo fluxo de entusiasmo percorrer-nos as artérias, o orgulho acicatar-nos a vontade, a fé invadir-nos o espírito ao recordarmos esses tempos em que a Europa desperta de um letargo de séculos, os homens eram capazes de combater e de morrer de sorriso nos lábios, sem ódio simplesmente...
O estilo é talvez outro. Agora fazemo-nos adultos mais depressa e os nossos heróis são mais obscuros. Os soldados tombados em Angola ou na Guiné, na Indochina ou na Argélia, são combatentes anónimos, ignorados pelas multidões, o seu epitáfio só poderá ser aquela divisa dos Requetés que diz que Deus vê o sacrifício de todos, mesmo o dos mais humildes... Seria muito exigir-se romantismo à nossa geração, contemporânea de tantas humilhações e transigências do Ocidente. Os que vivem no exílio sem terem conhecido o reino, ou se refugiam em sonhos e abdicam, ou endurecem nas intempéries e vão até ao fim.
Jeune homme honneur Brasillach escolhe um caminho e segue-o sem pestanejar, sem hesitar, jusqu‘au bout. Chefe da redacção de "Je Suis Partout", faz a reportagem da guerra civil em Espanha, “lugar de todas as audácias, de todas as grandezas, de todas as esperanças”... Tem 30 anos, a idade da razão, da lucidez: “le seul mot qui puisse resumer cet âge, sa seule raison d‘être, en amour comme en politique, c‘est donc la lucidité. Si elle ne sait pas qui elle est, si elle ne sait pas ce qu‘elle veut, la trentièmme année n‘a pas raison d‘être. A d‘autres l‘enthousiasme de l‘illusion, la certitude qui n‘a jamais doute d‘elle même. Pour nous, notre seul mérite dans tous les domaines est de nous être acceptés et d‘avoir choisi”.
Depois tudo é vertiginosamente rápido. A guerra, o cativeiro, a ocupação, a libertação, a derrota. Cem mil franceses, como trezentos mil italianos, como um sem-número de homens e povos por toda a Europa, pagam com a liberdade e a vida o crime de terem perdido, de terem escolhido le mauvais cotê.
Brasillach é condenado à morte. O pedido de indulto assinado por dezenas de intelectuais e escritores de esquerda, entre os quais Mauriac, Aragon e Camus, é recusado pelo chefe de Estado. A IV República não precisava de poetas...
Jeune homme honneur aguarda tranquilamente a hora do sacrifício, que chega na manhã do dia 6 de Fevereiro de 1945. São estas as suas últimas palavras: “Diz-se que o sol e a morte não se olham de frente. Porém, eu tentei... Nada tenho de estóico e é duro separarmo-nos do que amamos. Procurei, apesar disso, não deixar uma imagem indigna aos que me viam ou pensavam em mim...
Nas últimas noites reli a narrativa da Paixão em cada um dos Evangelhos. Orava muito e sei que era a oração que me permitia um sono tranquilo. De manhã o capelão veio dar-me a comunhão. Eu pensava com ternura em todos os que amava, em todos os que tinha encontrado no decorrer da existência. Sentia pena pela sua dor. Mas procurava o mais possível aceitar”.
Jaime Nogueira Pinto
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Esta observação do autor das "Nouvelles Pièces Noires" sintetiza admiravelmente as facetas de Brasillach, as linhas essenciais do seu pensamento e da sua obra, os dois ciclos em que se divide a sua existência, as constantes que desde o pátio de recreio do Louis-le-Grand ao fosso de Montrouge, não deixam de o acompanhar, temperando-se, estreitando-se, fundindo-se tantas vezes...
Jeune homme bonheur empreende a aventura de toda a Juventude, a sua própria descoberta. Ser jovem requer aprendizagem, combate, conquista. O encontro com a Juventude, entrevista naqueles lugares comuns que constituem a tipologia sentimental dos 18 anos, as tardes de Abril, a cor dos olhos da colegial que acedeu ao convite para um passeio na cidade velha, o momento em que por um imperativo consuetudinário se chega à conclusão da identidade de gostos, creio que tudo isto ele conheceu e viveu...
Com a irmã Suzanne e os amigos Maurice Bardèche, José Lupin, Thierry Maulnier, Roger Vailland, calcorreou Paris dos romances populistas e dos filmes de René Clair, frequentou o teatro dos Pittoëff, pesquisou nas margens do Sena os escaparates dos bouquinistes. É a época de Fulgur, essa mirabolante novela a quatro mãos, cada um escrevendo um capítulo, no qual Thierry Maulnier, hoje membro da Academia, narrava num “estilo imitado de Hugo e Flaubert, uma grande batalha naval em que a frota afegã batia a Home Fleet inglesa”, das partidas de bridge disputadas num quarto em “desordem repugnante” das conferências a favor dos Poldevos, esse imaginário povo oprimido, vítima do amor acrisolado que devotava à democracia, das intermináveis discussões onde, com o tranquilo dogmatismo da mocidade, se escalpelavam celebridades e arrumavam bolinhas de papel aos bustos dos antigos. Florence tem 15 anos, René chegou a Paris, a tempestade ainda vem muito longe.
Mas os anos fáceis da douceur de vivre, cuja recordação ficou em "Notre Avant-Guerre", passam depressa. A partir dum certo momento o mundo separa-se em dois campos. Brasillach escolhe: “Víamos um imenso movimento de renovação que se tornava a religião de milhões de homens que acreditavam na sua Pátria”. Como ficar indiferente à magia que daqui se desprendia, quando hoje, mau grado as brumas de esquecimento e os ensinamentos dos vencedores, sentimos o mesmo fluxo de entusiasmo percorrer-nos as artérias, o orgulho acicatar-nos a vontade, a fé invadir-nos o espírito ao recordarmos esses tempos em que a Europa desperta de um letargo de séculos, os homens eram capazes de combater e de morrer de sorriso nos lábios, sem ódio simplesmente...
O estilo é talvez outro. Agora fazemo-nos adultos mais depressa e os nossos heróis são mais obscuros. Os soldados tombados em Angola ou na Guiné, na Indochina ou na Argélia, são combatentes anónimos, ignorados pelas multidões, o seu epitáfio só poderá ser aquela divisa dos Requetés que diz que Deus vê o sacrifício de todos, mesmo o dos mais humildes... Seria muito exigir-se romantismo à nossa geração, contemporânea de tantas humilhações e transigências do Ocidente. Os que vivem no exílio sem terem conhecido o reino, ou se refugiam em sonhos e abdicam, ou endurecem nas intempéries e vão até ao fim.
Jeune homme honneur Brasillach escolhe um caminho e segue-o sem pestanejar, sem hesitar, jusqu‘au bout. Chefe da redacção de "Je Suis Partout", faz a reportagem da guerra civil em Espanha, “lugar de todas as audácias, de todas as grandezas, de todas as esperanças”... Tem 30 anos, a idade da razão, da lucidez: “le seul mot qui puisse resumer cet âge, sa seule raison d‘être, en amour comme en politique, c‘est donc la lucidité. Si elle ne sait pas qui elle est, si elle ne sait pas ce qu‘elle veut, la trentièmme année n‘a pas raison d‘être. A d‘autres l‘enthousiasme de l‘illusion, la certitude qui n‘a jamais doute d‘elle même. Pour nous, notre seul mérite dans tous les domaines est de nous être acceptés et d‘avoir choisi”.
Depois tudo é vertiginosamente rápido. A guerra, o cativeiro, a ocupação, a libertação, a derrota. Cem mil franceses, como trezentos mil italianos, como um sem-número de homens e povos por toda a Europa, pagam com a liberdade e a vida o crime de terem perdido, de terem escolhido le mauvais cotê.
Brasillach é condenado à morte. O pedido de indulto assinado por dezenas de intelectuais e escritores de esquerda, entre os quais Mauriac, Aragon e Camus, é recusado pelo chefe de Estado. A IV República não precisava de poetas...
Jeune homme honneur aguarda tranquilamente a hora do sacrifício, que chega na manhã do dia 6 de Fevereiro de 1945. São estas as suas últimas palavras: “Diz-se que o sol e a morte não se olham de frente. Porém, eu tentei... Nada tenho de estóico e é duro separarmo-nos do que amamos. Procurei, apesar disso, não deixar uma imagem indigna aos que me viam ou pensavam em mim...
Nas últimas noites reli a narrativa da Paixão em cada um dos Evangelhos. Orava muito e sei que era a oração que me permitia um sono tranquilo. De manhã o capelão veio dar-me a comunhão. Eu pensava com ternura em todos os que amava, em todos os que tinha encontrado no decorrer da existência. Sentia pena pela sua dor. Mas procurava o mais possível aceitar”.
Jaime Nogueira Pinto
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segunda-feira, novembro 29, 2004
UNIDOS E AVANTE!
Um dos grandes males da acção nacionalista, uma das doenças que mais nos corroem e uma das armas que nos destrói mais eficazmente, tem sido o divisionismo. Ele é um espírito diabólico, já que Diabo significa precisamente «o que divide», em oposição ao Espírito de Deus que é unificador. As artimanhas diabólicas segredam, inspiram, acicatam e agitam pequenas divergências, feridas de amor próprio, plumas de vaidades, ardores de ambições, rigores de puritanismo, particularismos de critério, gregarismos de capela, invejas, despeitos, mágoas, desconfianças, intrigas.
Exerce-se aquela observação que a ironia popular exprime assim: «Pica-me, Pedro, que a minha mãe está no rego...» E vamo-nos agravando uns aos outros, num jogo de pingue-pongue, crescentemente incompatibilizador.
É tempo de vencermos este inimigo interno. Ultrapassemos as nossas divisões. Esqueçamos velhas ofensas. Apaguemos motivos de discórdia. Somos diferentes por temperamento, por estilos, por gostos. Temos defeitos, uns mais, outros menos, uns estes, outros aqueles. Somos humanos, também nas nossas fraquezas e nos nossos erros. Não nos atiremos pedras, mutuamente, e, mesmo que cada qual se julgue melhor, saiba, por generosidade, por compreensão, por sacrifício à utilidade geral, perdoar e calar e esquecer. Não transformemos em ódios sectários as nossas querelas pessoais e os nossos motivos privados, não os carreguemos de forças ideológicas; porque nascem, às vezes, oposições doutrinárias exactamente dessas lutas entre indivíduos ou entre grupos, na exploração especulativa de uma justificação.
Não se poderá, é claro, rasoirar todos a uma concordância e igualdade absolutas. Nem se exige que desapareçam aparentamentos e agregados por amizades ou por particulares interesses comuns ou por tonalidades especiais na visão das realidades e dos problemas. Pretende-se é que, para além de tudo isso, exista e se exerça uma acção unida, um apoio recíproco, uma solidadariedade com base na doutrina que todos defendemos, na fundamental atitude perante o mundo, e com fito de vitorioso combate contra o inimigo, de eficácia na instauração da Nova Ordem: justiça social, prestígio da Hierarquia, da Autoridade e do Estado, culto da Fidelidade, integramento da realização pessoal no corpo do Bem Comum, defesa da Europa e da Civilização Ocidental, na contribuição de todos os povos para o progresso humano, da raça humana, na harmonia e conjugação das raças, do nacionalismo, na construção da unidade e no amor da universalidade.
Neste momento, lançamos um apelo, e desejaríamos que fosse como um toque de clarim. Chamamos todos a uma colaboração unívoca, a um serviço convergente, na medida das forças, méritos e especialidades de cada um. Seja este jornal um ponto de encontro e um revigorador de energias, possa esclarecer e informar, dinamizar esforços e conduzir a luta. Apuremos a vigilância, acendamos o entusiasmo, mantenhamo-nos juvenilmente vigorosos e criadores, pela autocrítica às deficiências e pela renovação constante. Contra a rotina, contra o acomodamento, contra o desânimo, contra a tecnocracia e o burocratismo, contra a transigência, contra o amen-amen e os penachos e o divisionismo, — saibamos erguer-nos e fazer verdade esta condição de vida: a Revolução Continua!
Goulart Nogueira
In Agora, n.º 319, págs. 1/11, 26.08.1967
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Exerce-se aquela observação que a ironia popular exprime assim: «Pica-me, Pedro, que a minha mãe está no rego...» E vamo-nos agravando uns aos outros, num jogo de pingue-pongue, crescentemente incompatibilizador.
É tempo de vencermos este inimigo interno. Ultrapassemos as nossas divisões. Esqueçamos velhas ofensas. Apaguemos motivos de discórdia. Somos diferentes por temperamento, por estilos, por gostos. Temos defeitos, uns mais, outros menos, uns estes, outros aqueles. Somos humanos, também nas nossas fraquezas e nos nossos erros. Não nos atiremos pedras, mutuamente, e, mesmo que cada qual se julgue melhor, saiba, por generosidade, por compreensão, por sacrifício à utilidade geral, perdoar e calar e esquecer. Não transformemos em ódios sectários as nossas querelas pessoais e os nossos motivos privados, não os carreguemos de forças ideológicas; porque nascem, às vezes, oposições doutrinárias exactamente dessas lutas entre indivíduos ou entre grupos, na exploração especulativa de uma justificação.
Não se poderá, é claro, rasoirar todos a uma concordância e igualdade absolutas. Nem se exige que desapareçam aparentamentos e agregados por amizades ou por particulares interesses comuns ou por tonalidades especiais na visão das realidades e dos problemas. Pretende-se é que, para além de tudo isso, exista e se exerça uma acção unida, um apoio recíproco, uma solidadariedade com base na doutrina que todos defendemos, na fundamental atitude perante o mundo, e com fito de vitorioso combate contra o inimigo, de eficácia na instauração da Nova Ordem: justiça social, prestígio da Hierarquia, da Autoridade e do Estado, culto da Fidelidade, integramento da realização pessoal no corpo do Bem Comum, defesa da Europa e da Civilização Ocidental, na contribuição de todos os povos para o progresso humano, da raça humana, na harmonia e conjugação das raças, do nacionalismo, na construção da unidade e no amor da universalidade.
Neste momento, lançamos um apelo, e desejaríamos que fosse como um toque de clarim. Chamamos todos a uma colaboração unívoca, a um serviço convergente, na medida das forças, méritos e especialidades de cada um. Seja este jornal um ponto de encontro e um revigorador de energias, possa esclarecer e informar, dinamizar esforços e conduzir a luta. Apuremos a vigilância, acendamos o entusiasmo, mantenhamo-nos juvenilmente vigorosos e criadores, pela autocrítica às deficiências e pela renovação constante. Contra a rotina, contra o acomodamento, contra o desânimo, contra a tecnocracia e o burocratismo, contra a transigência, contra o amen-amen e os penachos e o divisionismo, — saibamos erguer-nos e fazer verdade esta condição de vida: a Revolução Continua!
Goulart Nogueira
In Agora, n.º 319, págs. 1/11, 26.08.1967
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O MEU PAÍS FERIU-ME
O meu país me dói, pois que enche os seus caminhos,
Que lança filhos seus entre as águias sangrentas,
Que põe soldados seus em combates mesquinhos,
E dá ao céu azul um sol de armas violentas.
O meu país me dói em este tempo escuro,
Com juramentos vãos, com o quebrar dos laços,
Com a sua fadiga e as nuvens do futuro,
Com os seus fardos de peso a entorpecer-lhe os passos.
O meu país me dói, ao ser dúplice e vário,
Ao abrir o oceano para os navios cheios,
Ao abater na morte o marujo e o corsário,
Ao apagar, ligeiro, os erguidos esteios.
O meu país me dói pelos seus exilados,
E tanto calabouço e p‘los filhos perdidos,
Por cada prisioneiro entre arames farpados,
E pelos que estão longe e hoje desconhecidos.
O meu país me dói pelas terras em chamas,
Dói-me sob o inimigo e dói sob o aliado,
Dói-me em seu corpo e alma e dói-me com os seus dramas,
Dói-me sob a grilheta onde está subjugado.
O meu país me dói por toda a mocidade
Sob estandarte estranho e dispersa em parcelas,
Perdendo um jovem sangue a cumprir em verdade
As promessas de quem já nem cuidava delas.
O meu país me dói, pois vejo tantos fossos
Cavados por fuzis que os irmãos empunharam,
Dói-me ver usurpar até ao sangue e aos ossos,
O salário mais justo e os que renunciaram.
O meu país me dói, a escravizar-se, exangue;
Por seus carrascos de ontem e pelos que hoje há,
O meu país me dói, a lavar-se com sangue;
O meu país me dói. Quando se curará?
Robert Brasillach
Versão em língua portuguesa de Goulart Nogueira
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Que lança filhos seus entre as águias sangrentas,
Que põe soldados seus em combates mesquinhos,
E dá ao céu azul um sol de armas violentas.
O meu país me dói em este tempo escuro,
Com juramentos vãos, com o quebrar dos laços,
Com a sua fadiga e as nuvens do futuro,
Com os seus fardos de peso a entorpecer-lhe os passos.
O meu país me dói, ao ser dúplice e vário,
Ao abrir o oceano para os navios cheios,
Ao abater na morte o marujo e o corsário,
Ao apagar, ligeiro, os erguidos esteios.
O meu país me dói pelos seus exilados,
E tanto calabouço e p‘los filhos perdidos,
Por cada prisioneiro entre arames farpados,
E pelos que estão longe e hoje desconhecidos.
O meu país me dói pelas terras em chamas,
Dói-me sob o inimigo e dói sob o aliado,
Dói-me em seu corpo e alma e dói-me com os seus dramas,
Dói-me sob a grilheta onde está subjugado.
O meu país me dói por toda a mocidade
Sob estandarte estranho e dispersa em parcelas,
Perdendo um jovem sangue a cumprir em verdade
As promessas de quem já nem cuidava delas.
O meu país me dói, pois vejo tantos fossos
Cavados por fuzis que os irmãos empunharam,
Dói-me ver usurpar até ao sangue e aos ossos,
O salário mais justo e os que renunciaram.
O meu país me dói, a escravizar-se, exangue;
Por seus carrascos de ontem e pelos que hoje há,
O meu país me dói, a lavar-se com sangue;
O meu país me dói. Quando se curará?
Robert Brasillach
Versão em língua portuguesa de Goulart Nogueira
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BARDÈCHE: O HOMEM E A OBRA
Maurice Bardèche nasceu em Dun-le-Roi, no centro de França, a 1 de Outubro de 1909. Licenciou-se em Letras em 1932. Em 1940, com uma tese sobre Balzac, tornou-se professor de Literatura do séc. XIX na Universidade de Sorbonne. Em 1942, professor de Literatura Francesa na Universidade de Lille.
Conhecido, portanto, inicialmente apenas como crítico de Literatura e de cinema, escreveu juntamente com o seu cunhado Robert Brasillach uma obra célebre: "Histoire du Cinéma".
Em 1944, Brasillach foi condenado à morte por «delito de opinião» e executado, apesar da petição de graça apresentada a De Gaulle por quase todos os homens de letras franceses. Esta tragédia determinou a vocação política e a própria vida de Maurice Bardèche.
Em 1947, publicou o seu primeiro livro: "Lettre à François Mauriac", onde pela primeira vez na Europa se denunciou a situação emergente da II Guerra, particularmente em França.
Um ano depois, publica "Nuremberg ou la terre promise", onde denuncia com admirável rigor lógico a ilegitimidade, a ilegalidade e a inconveniência da legislação imposta pelos vencedores em Nuremberga, legislação essa que, na opinião de Bardèche, arruina a autoridade do Estado e é profundamente contrária às tradições de honra militar e aos supremos interesses dos povos europeus, incluindo os vencedores.
As várias fases do caricato processo de que foi vítima Bardèche (chegou a ser acusado de difundir propaganda anarquista...) vêm relatadas na entrevista que tivemos oportunidade de fazer com o escritor.
Bardèche continuou nos anos seguintes a expôr a sua doutrina com livros como "Nuremberg II ou les faux monnayeurs" e "L`oeuf de Cristophe Colombe" (1951) no qual propõe uma Europa independente de Washington e de Moscovo. Em 1961, aparece nos escaparates aquela que é considerada a sua melhor obra: "Qu`est ce que: le fascisme?"
Fundou igualmente uma editorial, "Les Sept Couleurs" e foi um dos fundadores e o grande impulsionador do Movimento Social Europeu que terá sido o mais sério e o mais conseguido projecto de união das várias correntes de Oposição Europeia.
Fundou também uma das mais prestigiadas revistas, "Défense de l`Occident", onde todos os meses durante quase trinta anos colaboraram entre muitos Pierre Hoffstetter, Ploncard d`Assac, Setze, o general Navarre, D`Orcyval, etc., numa tarefa conjunta que formou doutrinariamente várias gerações.
A importância da obra de Maurice Bardèche deriva da fusão harmoniosa do escritor impecável e do polemista esclarecido: cada um dos seus livros são dum racionalismo e duma confiança aberta na vitalidade europeia, é o reflexo desse amadurecimento e desse brilhantismo.
Escreveu:
"Histoire du Cinéma" (em colaboração com Robert Brasillach) – 1935
"Histoire de la Guerre d`Espagne" - 1939 (traduzido em português por Ferreira da Costa)
"Balzac romancier" – 1941
"Stendhal romancier" – 1947
"Lettre à François Mauriac" – 1947
"Nuremberg ou la terre promise" – 1948
"Nuremberg II ou les faux monnayeurs" – 1949
"L`oeuf de Christophe Colombe" - 1951
"Suzanne et le tandis" – 1958
"Qu`est ce que: le fascisme?" – 1961
"Une lecture de Balzac" - 1964
QUEM É BARDÈCHE?
Qual a qualidade que mais aprecia no homem?
-A energia.
Qual a qualidade que mais aprecia na mulher?
-A ternura.
Qual a sua ocupação preferida?
-Trabalhar.
Que mais aprecia nos seus amigos?
-A sua fidelidade.
Quais os seus escritores preferidos?
-Proust, Stendhal e Balzac, de acordo com as minhas preocupações de momento.
Qual o seu poeta preferido?
- Verlaine.
Quais os pintores que mais aprecia?
-Renoir, Pizarro, Turner e todos os impressionistas franceses.
Qual o seu compositor preferido?
-Beethoven.
Qual o seu herói da vida real?
-Napoleão.
Qual o feito militar que mais admira?
-O heroísmo dos alemães na campanha da Rússia.
O que detesta acima de tudo?
-A hipocrisia e a mentira.
Onde gostaria de viver?
-No Oriente.
Qual o sonho da sua vida?
-Não gosto de sonhar, gosto é de trabalhar.
Qual a sua divisa?
-A divisa de Guilherme, o Taciturno: «Il n` est pas necessaire d'espérer pour entreprendre, ni de reussir pour persevérer» (Não há necessidade de esperar para empreender nem de triunfar para perseverar.)
(Nota: o texto da entrevista a que se alude acima, publicada na revista portuense "Último Reduto", já se encontra disponível no "Fascismo Em Rede", desde há uns dias atrás).
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Conhecido, portanto, inicialmente apenas como crítico de Literatura e de cinema, escreveu juntamente com o seu cunhado Robert Brasillach uma obra célebre: "Histoire du Cinéma".
Em 1944, Brasillach foi condenado à morte por «delito de opinião» e executado, apesar da petição de graça apresentada a De Gaulle por quase todos os homens de letras franceses. Esta tragédia determinou a vocação política e a própria vida de Maurice Bardèche.
Em 1947, publicou o seu primeiro livro: "Lettre à François Mauriac", onde pela primeira vez na Europa se denunciou a situação emergente da II Guerra, particularmente em França.
Um ano depois, publica "Nuremberg ou la terre promise", onde denuncia com admirável rigor lógico a ilegitimidade, a ilegalidade e a inconveniência da legislação imposta pelos vencedores em Nuremberga, legislação essa que, na opinião de Bardèche, arruina a autoridade do Estado e é profundamente contrária às tradições de honra militar e aos supremos interesses dos povos europeus, incluindo os vencedores.
As várias fases do caricato processo de que foi vítima Bardèche (chegou a ser acusado de difundir propaganda anarquista...) vêm relatadas na entrevista que tivemos oportunidade de fazer com o escritor.
Bardèche continuou nos anos seguintes a expôr a sua doutrina com livros como "Nuremberg II ou les faux monnayeurs" e "L`oeuf de Cristophe Colombe" (1951) no qual propõe uma Europa independente de Washington e de Moscovo. Em 1961, aparece nos escaparates aquela que é considerada a sua melhor obra: "Qu`est ce que: le fascisme?"
Fundou igualmente uma editorial, "Les Sept Couleurs" e foi um dos fundadores e o grande impulsionador do Movimento Social Europeu que terá sido o mais sério e o mais conseguido projecto de união das várias correntes de Oposição Europeia.
Fundou também uma das mais prestigiadas revistas, "Défense de l`Occident", onde todos os meses durante quase trinta anos colaboraram entre muitos Pierre Hoffstetter, Ploncard d`Assac, Setze, o general Navarre, D`Orcyval, etc., numa tarefa conjunta que formou doutrinariamente várias gerações.
A importância da obra de Maurice Bardèche deriva da fusão harmoniosa do escritor impecável e do polemista esclarecido: cada um dos seus livros são dum racionalismo e duma confiança aberta na vitalidade europeia, é o reflexo desse amadurecimento e desse brilhantismo.
Escreveu:
"Histoire du Cinéma" (em colaboração com Robert Brasillach) – 1935
"Histoire de la Guerre d`Espagne" - 1939 (traduzido em português por Ferreira da Costa)
"Balzac romancier" – 1941
"Stendhal romancier" – 1947
"Lettre à François Mauriac" – 1947
"Nuremberg ou la terre promise" – 1948
"Nuremberg II ou les faux monnayeurs" – 1949
"L`oeuf de Christophe Colombe" - 1951
"Suzanne et le tandis" – 1958
"Qu`est ce que: le fascisme?" – 1961
"Une lecture de Balzac" - 1964
QUEM É BARDÈCHE?
Qual a qualidade que mais aprecia no homem?
-A energia.
Qual a qualidade que mais aprecia na mulher?
-A ternura.
Qual a sua ocupação preferida?
-Trabalhar.
Que mais aprecia nos seus amigos?
-A sua fidelidade.
Quais os seus escritores preferidos?
-Proust, Stendhal e Balzac, de acordo com as minhas preocupações de momento.
Qual o seu poeta preferido?
- Verlaine.
Quais os pintores que mais aprecia?
-Renoir, Pizarro, Turner e todos os impressionistas franceses.
Qual o seu compositor preferido?
-Beethoven.
Qual o seu herói da vida real?
-Napoleão.
Qual o feito militar que mais admira?
-O heroísmo dos alemães na campanha da Rússia.
O que detesta acima de tudo?
-A hipocrisia e a mentira.
Onde gostaria de viver?
-No Oriente.
Qual o sonho da sua vida?
-Não gosto de sonhar, gosto é de trabalhar.
Qual a sua divisa?
-A divisa de Guilherme, o Taciturno: «Il n` est pas necessaire d'espérer pour entreprendre, ni de reussir pour persevérer» (Não há necessidade de esperar para empreender nem de triunfar para perseverar.)
(Nota: o texto da entrevista a que se alude acima, publicada na revista portuense "Último Reduto", já se encontra disponível no "Fascismo Em Rede", desde há uns dias atrás).
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domingo, novembro 28, 2004
"Carmina Burana" em Lisboa
Vai estar em Lisboa, no Pavilhão Atlântico, uma das mais grandiosas realizações musicais do século XX: Carmina Burana, de Carl Orff.
Aos fascistas nem digo nada - não há desculpa para que deixem de prestar homenagem a Carl Orff; aos outros, sejam anti ou apenas indiferentes, só vos digo: não sejam patetas, vão já comprar bilhetes.
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Aos fascistas nem digo nada - não há desculpa para que deixem de prestar homenagem a Carl Orff; aos outros, sejam anti ou apenas indiferentes, só vos digo: não sejam patetas, vão já comprar bilhetes.
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A época das redes
Como acabo de ler, o PNR também pretende desenvolver e melhorar o seu portal e aumentar a sua visibilidade.
Faz muito bem. O portal em causa, visto o conjunto de todos os partidos portugueses, já se situa a muito bom nível. Mas como é óbvio os outros, os instalados no sistema, têm a mais o que falta ao PNR: uma presença constante nos grandes meios de comunicação de massas.
Por isso para o PNR a presença na internet é muito mais decisiva do que para os outros, dado que é o único modo de construir a sua rede de comunicações com os seus militantes e simpatizantes, e alargar cada vez mais o seu círculo.
Para compensar o silêncio ou a hostilidade dos meios tradicionais, que nunca poderá contrariar no mesmo terreno a não ser com finanças de multimilionário, o PNR terá que investir a sua energia militante no activismo cibernético.
E talvez que isso acabe por ser uma vantagem, pois este é o único meio de comunicação que está em crescimento, e em crescimento vertiginoso. Aceleradamente tende a suplantar, substituir ou determinar todos os restantes.
A nossa época é a época das redes, para usar a expressão de Alain de Benoist.
A rede das redes é esta. Ainda bem que cada vez mais militantes nacionalistas, com ou sem partido, começaram a compreender que a tarefa de erguer aqui a sua própria rede é a única forma de escapar à situação de fazer política sempre na dependência dos 30 segundos que os outros queiram benevolamente conceder.
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Faz muito bem. O portal em causa, visto o conjunto de todos os partidos portugueses, já se situa a muito bom nível. Mas como é óbvio os outros, os instalados no sistema, têm a mais o que falta ao PNR: uma presença constante nos grandes meios de comunicação de massas.
Por isso para o PNR a presença na internet é muito mais decisiva do que para os outros, dado que é o único modo de construir a sua rede de comunicações com os seus militantes e simpatizantes, e alargar cada vez mais o seu círculo.
Para compensar o silêncio ou a hostilidade dos meios tradicionais, que nunca poderá contrariar no mesmo terreno a não ser com finanças de multimilionário, o PNR terá que investir a sua energia militante no activismo cibernético.
E talvez que isso acabe por ser uma vantagem, pois este é o único meio de comunicação que está em crescimento, e em crescimento vertiginoso. Aceleradamente tende a suplantar, substituir ou determinar todos os restantes.
A nossa época é a época das redes, para usar a expressão de Alain de Benoist.
A rede das redes é esta. Ainda bem que cada vez mais militantes nacionalistas, com ou sem partido, começaram a compreender que a tarefa de erguer aqui a sua própria rede é a única forma de escapar à situação de fazer política sempre na dependência dos 30 segundos que os outros queiram benevolamente conceder.
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Comunicado do GAO
No próximo 1.º de Dezembro comemoram-se 364 anos da Restauração da Independência.
Olivença foi das primeiras povoações a aclamar D. João IV como seu legítimo soberano, logo em 5 de Dezembro de 1640, identificando-se com a divisa que lhe fora outorgada pelos Reis de Portugal: NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA!
Ocupada militarmente por Espanha em 1801 e mantida sob o seu domínio, Olivença não pode hoje viver, com os demais portugueses, a sua Portugalidade.
A usurpação de Olivença, em violação da História, da Cultura, da Moral e do Direito, constitui alerta eloquente para todos os portugueses que querem um Portugal livre e independente.
Lembrando a ocupação estrangeira do território oliventino e apelando à participação cívica de todos na exigência da sua retrocessão, o Grupo dos Amigos de Olivença participará como habitualmente nas comemorações nacionais do Dia da Restauração.
Convidam-se todos os associados e apoiantes a integrarem a Comitiva do Grupo dos Amigos de Olivença que se concentrará, no dia 1.º de Dezembro, às 15:30 horas, frente à sua sede, na Casa do Alentejo, dali saindo para comparecer nas cerimónias públicas que terão lugar às 16:00 horas, na Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Olivença É Terra Portuguesa!
Lx., 24-11-2004.
A Direcção
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Olivença foi das primeiras povoações a aclamar D. João IV como seu legítimo soberano, logo em 5 de Dezembro de 1640, identificando-se com a divisa que lhe fora outorgada pelos Reis de Portugal: NOBRE, LEAL E NOTÁVEL VILA DE OLIVENÇA!
Ocupada militarmente por Espanha em 1801 e mantida sob o seu domínio, Olivença não pode hoje viver, com os demais portugueses, a sua Portugalidade.
A usurpação de Olivença, em violação da História, da Cultura, da Moral e do Direito, constitui alerta eloquente para todos os portugueses que querem um Portugal livre e independente.
Lembrando a ocupação estrangeira do território oliventino e apelando à participação cívica de todos na exigência da sua retrocessão, o Grupo dos Amigos de Olivença participará como habitualmente nas comemorações nacionais do Dia da Restauração.
Convidam-se todos os associados e apoiantes a integrarem a Comitiva do Grupo dos Amigos de Olivença que se concentrará, no dia 1.º de Dezembro, às 15:30 horas, frente à sua sede, na Casa do Alentejo, dali saindo para comparecer nas cerimónias públicas que terão lugar às 16:00 horas, na Praça dos Restauradores, em Lisboa.
Olivença É Terra Portuguesa!
Lx., 24-11-2004.
A Direcção
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SOMOS UMAS BESTAS?
Pelo amor de Deus, senhores! Um pequeno esforço!
Às vezes, não apetece comer, mas quem se entregar ao fastio, e não comer nada, acontece-lhe como ao burro do inglês... e morre.
Às vezes é preciso fazer ginástica ou qualquer exercício para não emperrar, para desenvolver a resistência, para defender de amolecimentos e franzinices e banhas...
Pelo amor de Deus, senhores! Não deixem o cérebro ficar lisinho como triste massa espalmada! Não deixem ficar a cabeça oca!
Pelo amor de Deus! Lembrem-se de que o Criador lhes doou uma inteligência para pensar, reflectir, assimilar e enriquecer!
Fora com a preguiça mental! Fora com a pressa! Demorem um bocadinho: e apliquem-se! Leiam aquelas coisas que talvez lhe custem, mas são boas e necessárias! Cultivem-se, doutrinem-se, aprendam as razões da vossa fé para não acontecer que um dia acabem outros por atraídos e levá-la ao engano, pois ela se invertebrou em simples boa-fé...
«Nem só de pão vive o homem», senhores! O homem não vive só para as questões do dia-a-dia, para os problemas concretos, para as coisas da vidinha.
Só lhes interessa o caso imediato? A História pessoal? O escândalo guloso? O que lhes toca mesmo pela porta? A pílula fácil de engolir? O bom-bom que se derrete sem mastigar?
Oh! Oh! Meus senhores, que vergonha! Querer, apenas, assuntos de encher o olho, mas que se lêem com o rabo do olho, ao subir para o eléctrico ou ao dobrar a esquina! Qualquer dia acabam a ler só histórias aos quadradinhos ou anedotas!
Correis ao chamativo! Como o touro, vejam lá, que marra no vermelho, cor muito viva! Com esse apetite de deslizar sem incómodo, com essa procura de fácil vida, ficais tão parecidos com as mulheres de vida fácil...
Respeitem-se mais um bocadinho! Os senhores valem bem um esforço de concentração e aplicação. Leiam também o difícil, leiam um ou outro artigo longo, leiam a doutrina. Iremos perder o gosto da leitura? Acabaremos por reduzir-nos a público de cartazes ou de bombas jornalísticas?
Demorem-se na doutrina! Leiam, releiam, estudem, comentem-na e discutem-na com os amigos! Ainda lhes tomam o gosto, verão! É como a cerveja: começa por ser amarga, mas depois...
As direitas não são estúpidas, não podem ser estúpidas! Ser umas bestas ou bestificar-nos contradiz a dignidade humana para que fomos feitos.
Pelo amor de Deus, senhores! Ao menos, uma hora por semana, exercitem a inteligência! Combinado?
Goulart Nogueira
In Agora – n.º 340, pág. 12, 20.01.1968
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Às vezes, não apetece comer, mas quem se entregar ao fastio, e não comer nada, acontece-lhe como ao burro do inglês... e morre.
Às vezes é preciso fazer ginástica ou qualquer exercício para não emperrar, para desenvolver a resistência, para defender de amolecimentos e franzinices e banhas...
Pelo amor de Deus, senhores! Não deixem o cérebro ficar lisinho como triste massa espalmada! Não deixem ficar a cabeça oca!
Pelo amor de Deus! Lembrem-se de que o Criador lhes doou uma inteligência para pensar, reflectir, assimilar e enriquecer!
Fora com a preguiça mental! Fora com a pressa! Demorem um bocadinho: e apliquem-se! Leiam aquelas coisas que talvez lhe custem, mas são boas e necessárias! Cultivem-se, doutrinem-se, aprendam as razões da vossa fé para não acontecer que um dia acabem outros por atraídos e levá-la ao engano, pois ela se invertebrou em simples boa-fé...
«Nem só de pão vive o homem», senhores! O homem não vive só para as questões do dia-a-dia, para os problemas concretos, para as coisas da vidinha.
Só lhes interessa o caso imediato? A História pessoal? O escândalo guloso? O que lhes toca mesmo pela porta? A pílula fácil de engolir? O bom-bom que se derrete sem mastigar?
Oh! Oh! Meus senhores, que vergonha! Querer, apenas, assuntos de encher o olho, mas que se lêem com o rabo do olho, ao subir para o eléctrico ou ao dobrar a esquina! Qualquer dia acabam a ler só histórias aos quadradinhos ou anedotas!
Correis ao chamativo! Como o touro, vejam lá, que marra no vermelho, cor muito viva! Com esse apetite de deslizar sem incómodo, com essa procura de fácil vida, ficais tão parecidos com as mulheres de vida fácil...
Respeitem-se mais um bocadinho! Os senhores valem bem um esforço de concentração e aplicação. Leiam também o difícil, leiam um ou outro artigo longo, leiam a doutrina. Iremos perder o gosto da leitura? Acabaremos por reduzir-nos a público de cartazes ou de bombas jornalísticas?
Demorem-se na doutrina! Leiam, releiam, estudem, comentem-na e discutem-na com os amigos! Ainda lhes tomam o gosto, verão! É como a cerveja: começa por ser amarga, mas depois...
As direitas não são estúpidas, não podem ser estúpidas! Ser umas bestas ou bestificar-nos contradiz a dignidade humana para que fomos feitos.
Pelo amor de Deus, senhores! Ao menos, uma hora por semana, exercitem a inteligência! Combinado?
Goulart Nogueira
In Agora – n.º 340, pág. 12, 20.01.1968
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CARACTERÍSTICAS DO FASCISMO
Muita coisa se tem escrito nestes últimos dias, na imprensa da capital, a propósito da vitória do Fascismo em Itália. Conta-se a história do Fascismo, recordam-se as lutas dos últimos tempos, diz-se qual será a sua acção política, administrativa, fazem-se previsões, ora tétricas, ora esperançosas, sobre o seu futuro, mas ignora-se ou esquece-se a parte doutrinária e construtiva do seu programa que foi exactamente o que faz reunir em volta do chefe Mussolini o escol dos seus partidários.
Acusa-se o programa fascista de confuso, de incompreensível e até de contraditório, mas, que nos conste, a imprensa portuguesa ainda não apresentou um esboço sequer desse programa.
Áparte a interessante e erudita polémica travada nas colunas de A Época entre o sr. Santa Cruz e dr. Rolão Preto, têm-se escrito verdadeiras barbaridades sobre o que é o Fascismo...
Ora qual é a doutrina fascista?
Abstemo-nos de apreciações, de conjunturas, de fantasias. Vamos determinar as bases dessa doutrina unicamente à face dos textos, dos documentos onde essas bases ficaram consignadas.
Cremos tratar-se duma novidade para os nossos leitores, perdidos no meio de tantas opiniões contrárias e de tantas informações falsas.
As bases doutrinárias do Fascismo foram publicamente expostas pelo seu chefe supremo, hoje presidente do conselho, no Grande Conselho Fascista realizado em Novembro de 1921 no Teatro Augusteo de Roma.
Desse longo discurso que os jornais de toda a Itália reproduziram e comentaram, vamos destacar aquelas inequívocas passagens em que Mussolini definiu o princípio directivo do movimento fascista.
O ponto de partida da doutrina fascista, concretizou-o Mussolini nestas palavras:
«Em política partimos do conceito de Nação, facto inegável e insuperável. Estamos pois em posição de aberta antítese contra todos os internacionalismos.»
O Fascismo é pois inicialmente e dogmaticamente nacionalista. Mas a afirmação que causou maior espanto foi esta:
«Nós somos liberais em economia mas não somos liberais em política. Quanto tivermos conseguido enterrar o liberalismo político, teremos salvo a Nação.»
Daqui se infere que o Fascismo é abertamente contra o liberalismo em política e que é contra o liberalismo porque pretende salvar a nacionalidade.
Continuando:
«Eu penso que ignorar o passado significa em primeiro lugar ignorar a nossa história, que é a história do povo. Mas, se é ridículo abstrair do passado, é, por outro lado, absurdo aferrar-se ao passado e não se mover de posições históricas pretéritas».
Foi por estas palavras que Mussolini começou um dos seus discursos no Congresso de Roma. Vemos pois que o Fascismo, depois de ser anti-liberalista, porque é nacionalista, é tradicionalista porque é italiano, é tradicionalista porque é popular. Tradicionalismo saudosista? Não, evidentemente, mas entendendo a tradição como a de Bourget: «A permanência na continuidade, porque tudo o que é repousa sobre tudo o que foi». Expresso por outras palavras, é este o pensamento de Mussolini.
É certo que o Fascismo, sendo tradicionalista, inicialmente não era monárquico, mostrava-se independente de formas de governo. Mas é preciso notar que a tradição italiana não é monárquica, que a monarquia unitária em Itália tem apenas cinquenta anos e que o Fascismo, tal como o nacionalismo integral francês, veio concluir pela Monarquia por razões históricas e teóricas que Benito Mussolini invocou no seu famoso discurso pronunciado em Udine em Setembro deste ano. O Duce fascista acusou a monarquia italiana de não ser «uma monarquia bem monárquica» e disse ser necessário conservar o trono da casa de Saboia como «um ponto firme» em volta do qual se fariam as várias transformações preconizadas no programa fascista.
No recente Congresso de Nápoles, Mussolini afirmou ser necessário «libertar o trono de todas as sobreposições que asfixiam a função histórica desse instituto».
Anti-democrático o Fascismo? Sem dúvida. Além de aparecer na imprensa do partido consignada várias vezes essa afirmação, o seu chefe deu-o a entender claramente nestas palavras proferidas no congresso de Nápoles:
«Ao contrário do que afirmam os demagogos do socialismo, com as massas trabalhadoras não se pode contar para criar alguma coisa verdadeiramente grande e duradoura na história dum país».
Mas é anti-parlamentarista o Fascismo? É este um ponto obscuro do programa de Mussolini e aquele que afasta o grande partido nacionalista italiano do nacionalismo integral da Action Française. Na imprensa fascista aparecem doutrinas divergentes e no congresso de Nápoles Mussolini disse apenas isto:
«O parlamento, senhores, é o grande armário da democracia que nada tem e vive à custa do instituto monárquico. Mas nós não queremos privar o povo desse brinquedo. Chamo-lhe brinquedo porque a maior parte do povo italiano o toma como tal. Não acabaremos com ele. No fundo, o que nos separa da democracia é a nossa mentalidade e os nossos meios de acção.»
Onde o Fascismo tem uma doutrina definida é no campo económico. Mussolini definiu-a em Novembro de 1921 por estas palavras:
«Somos hoje declaradamente anti-socialistas... Somos anti-socialistas, mas não anti-proletários.» E depois de se manifestar contra os monopólios continuou:
«Proletariado e burguesia são nominalismos não existentes historicamente. Não existem só duas classes, existem duzentas.»
Esta frase ficou célebre e foi firmados nela que os sindicatos nacionalistas, reunidos em Milão no começo deste ano, deliberaram ingressar em massa no Fascismo, dando-lhe um total de 700.000 proletários filiados.
Os sindicatos nacionalistas, constituídos como os preconiza Georges Valois, é que deram ao Fascismo a grande vitória da última greve geral.
Economistas nacionalistas propõem uma legislação severa que proíbe a constituição de sindicatos políticos, regulando a formação dos sindicatos profissionais e sua representação no parlamento.
Esta é a mais curiosa experiência que o Fascismo deve realizar.
Para terminar digamos que Mussolini, que nos conste, nunca se referiu às relações do Fascismo com a Santa Sé. No entanto, somos levados a crer que, sendo o Partido Fascista tradicionalista e anti-democrático, não pode implicitamente ser contra a Igreja.
Periódicos fascistas como Il Giornale di Roma revelam-se abertamente católicos. Os senadores católicos firmaram, em Setembro último, um importante documento em que manifestaram a necessidade do partido popular se aproximar das facções nacionalistas. E por último a entrada de políticos populares na constituição do actual gabinete fascista é prova de que o Fascismo não pode hostilizar os sentimentos católicos da Itália, antes se alia e se confunde com eles.
Oxalá o triunfo retumbante do Fascismo — que é um grande triunfo do nacionalismo e do conservantismo sobre as várias cambiantes da fauna democrática, desde os mansos partidos constitucionais até aos bravos comunistas — possa resolver o grave conflito travado há mais de 40 anos entre a Santa Sé e o Estado italiano, conflito que tem enclausurado no seio de Roma, o Representante da instituição que o Fascismo é o primeiro a reconhecer ser «a maior potência espiritual do mundo.»
Caetano Beirão
In A Época, n.º 1188, pág. 1, 04.11.1922
(repare-se que o presente artigo foi escrito poucos dias após a chegada ao poder de Benito Mussolini. Com uma extraordinária precisão, o autor desenhou logo o que viria a ser a evolução política da incógnita fascista. Até o Tratado de Latrão ele viu ao longe!)
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Acusa-se o programa fascista de confuso, de incompreensível e até de contraditório, mas, que nos conste, a imprensa portuguesa ainda não apresentou um esboço sequer desse programa.
Áparte a interessante e erudita polémica travada nas colunas de A Época entre o sr. Santa Cruz e dr. Rolão Preto, têm-se escrito verdadeiras barbaridades sobre o que é o Fascismo...
Ora qual é a doutrina fascista?
Abstemo-nos de apreciações, de conjunturas, de fantasias. Vamos determinar as bases dessa doutrina unicamente à face dos textos, dos documentos onde essas bases ficaram consignadas.
Cremos tratar-se duma novidade para os nossos leitores, perdidos no meio de tantas opiniões contrárias e de tantas informações falsas.
As bases doutrinárias do Fascismo foram publicamente expostas pelo seu chefe supremo, hoje presidente do conselho, no Grande Conselho Fascista realizado em Novembro de 1921 no Teatro Augusteo de Roma.
Desse longo discurso que os jornais de toda a Itália reproduziram e comentaram, vamos destacar aquelas inequívocas passagens em que Mussolini definiu o princípio directivo do movimento fascista.
O ponto de partida da doutrina fascista, concretizou-o Mussolini nestas palavras:
«Em política partimos do conceito de Nação, facto inegável e insuperável. Estamos pois em posição de aberta antítese contra todos os internacionalismos.»
O Fascismo é pois inicialmente e dogmaticamente nacionalista. Mas a afirmação que causou maior espanto foi esta:
«Nós somos liberais em economia mas não somos liberais em política. Quanto tivermos conseguido enterrar o liberalismo político, teremos salvo a Nação.»
Daqui se infere que o Fascismo é abertamente contra o liberalismo em política e que é contra o liberalismo porque pretende salvar a nacionalidade.
Continuando:
«Eu penso que ignorar o passado significa em primeiro lugar ignorar a nossa história, que é a história do povo. Mas, se é ridículo abstrair do passado, é, por outro lado, absurdo aferrar-se ao passado e não se mover de posições históricas pretéritas».
Foi por estas palavras que Mussolini começou um dos seus discursos no Congresso de Roma. Vemos pois que o Fascismo, depois de ser anti-liberalista, porque é nacionalista, é tradicionalista porque é italiano, é tradicionalista porque é popular. Tradicionalismo saudosista? Não, evidentemente, mas entendendo a tradição como a de Bourget: «A permanência na continuidade, porque tudo o que é repousa sobre tudo o que foi». Expresso por outras palavras, é este o pensamento de Mussolini.
É certo que o Fascismo, sendo tradicionalista, inicialmente não era monárquico, mostrava-se independente de formas de governo. Mas é preciso notar que a tradição italiana não é monárquica, que a monarquia unitária em Itália tem apenas cinquenta anos e que o Fascismo, tal como o nacionalismo integral francês, veio concluir pela Monarquia por razões históricas e teóricas que Benito Mussolini invocou no seu famoso discurso pronunciado em Udine em Setembro deste ano. O Duce fascista acusou a monarquia italiana de não ser «uma monarquia bem monárquica» e disse ser necessário conservar o trono da casa de Saboia como «um ponto firme» em volta do qual se fariam as várias transformações preconizadas no programa fascista.
No recente Congresso de Nápoles, Mussolini afirmou ser necessário «libertar o trono de todas as sobreposições que asfixiam a função histórica desse instituto».
Anti-democrático o Fascismo? Sem dúvida. Além de aparecer na imprensa do partido consignada várias vezes essa afirmação, o seu chefe deu-o a entender claramente nestas palavras proferidas no congresso de Nápoles:
«Ao contrário do que afirmam os demagogos do socialismo, com as massas trabalhadoras não se pode contar para criar alguma coisa verdadeiramente grande e duradoura na história dum país».
Mas é anti-parlamentarista o Fascismo? É este um ponto obscuro do programa de Mussolini e aquele que afasta o grande partido nacionalista italiano do nacionalismo integral da Action Française. Na imprensa fascista aparecem doutrinas divergentes e no congresso de Nápoles Mussolini disse apenas isto:
«O parlamento, senhores, é o grande armário da democracia que nada tem e vive à custa do instituto monárquico. Mas nós não queremos privar o povo desse brinquedo. Chamo-lhe brinquedo porque a maior parte do povo italiano o toma como tal. Não acabaremos com ele. No fundo, o que nos separa da democracia é a nossa mentalidade e os nossos meios de acção.»
Onde o Fascismo tem uma doutrina definida é no campo económico. Mussolini definiu-a em Novembro de 1921 por estas palavras:
«Somos hoje declaradamente anti-socialistas... Somos anti-socialistas, mas não anti-proletários.» E depois de se manifestar contra os monopólios continuou:
«Proletariado e burguesia são nominalismos não existentes historicamente. Não existem só duas classes, existem duzentas.»
Esta frase ficou célebre e foi firmados nela que os sindicatos nacionalistas, reunidos em Milão no começo deste ano, deliberaram ingressar em massa no Fascismo, dando-lhe um total de 700.000 proletários filiados.
Os sindicatos nacionalistas, constituídos como os preconiza Georges Valois, é que deram ao Fascismo a grande vitória da última greve geral.
Economistas nacionalistas propõem uma legislação severa que proíbe a constituição de sindicatos políticos, regulando a formação dos sindicatos profissionais e sua representação no parlamento.
Esta é a mais curiosa experiência que o Fascismo deve realizar.
Para terminar digamos que Mussolini, que nos conste, nunca se referiu às relações do Fascismo com a Santa Sé. No entanto, somos levados a crer que, sendo o Partido Fascista tradicionalista e anti-democrático, não pode implicitamente ser contra a Igreja.
Periódicos fascistas como Il Giornale di Roma revelam-se abertamente católicos. Os senadores católicos firmaram, em Setembro último, um importante documento em que manifestaram a necessidade do partido popular se aproximar das facções nacionalistas. E por último a entrada de políticos populares na constituição do actual gabinete fascista é prova de que o Fascismo não pode hostilizar os sentimentos católicos da Itália, antes se alia e se confunde com eles.
Oxalá o triunfo retumbante do Fascismo — que é um grande triunfo do nacionalismo e do conservantismo sobre as várias cambiantes da fauna democrática, desde os mansos partidos constitucionais até aos bravos comunistas — possa resolver o grave conflito travado há mais de 40 anos entre a Santa Sé e o Estado italiano, conflito que tem enclausurado no seio de Roma, o Representante da instituição que o Fascismo é o primeiro a reconhecer ser «a maior potência espiritual do mundo.»
Caetano Beirão
In A Época, n.º 1188, pág. 1, 04.11.1922
(repare-se que o presente artigo foi escrito poucos dias após a chegada ao poder de Benito Mussolini. Com uma extraordinária precisão, o autor desenhou logo o que viria a ser a evolução política da incógnita fascista. Até o Tratado de Latrão ele viu ao longe!)
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A JUVENTUDE E O FUTURO
Grande parte da juventude actual parece não acreditar no futuro. Uma desconfiança excessiva leva muitos jovens a separar-se de tudo, a não acreditar em nada. Mas a sua desconfiança quanto ao futuro é uma consequência da sua desconfiança nas velhas gerações que não souberam organizar um mundo melhor. Numerosos jovens nem se dignam pensar se esta organização perfeita é possível. As próprias gerações que os precederam também não pensaram nesta problema.
A juventude é exigente. É uma virtude. Não solicita fórmulas teóricas, mas exige realizações quotidianas. As relações familiares, o entendimento entre os pais e os filhos são difíceis por causa desta flagrante diferença de linguagem.
Uma juventude que desconfia do futuro, que tudo pretende alcançar no tempo presente, será uma juventude sã? A juventude actual está preocupada pelo vazio e pelo absurdo da vida. Mas como poderemos falar de vazio no caso de jovens tão dados à acção, dispostos a ocupar os seus tempos livres e a gozar os prazeres imediatos da vida? Talvez por isso mesmo. Esta necessidade de imediato, esta incapacidade de esperar, provém de um sentimento de angústia. Afinal, a juventude actual carece sobretudo de esperança.
Esta falta de esperança reduz a juventude ao tempo presente. E o presente da juventude actual não está vinculado ao passado nem ao futuro. É tempo presente que tem, forçosamente, de ser vivido com ansiedade e com a ambição de esgotar no momento em que se vive todas as possibilidades vitais. Nesse tempo presente, que se vive rapidamente, tão rapidamente que a própria pressa se transforma em objectivo essencial, o conteúdo da acção perde a sua natureza.
A renúncia perante o futuro é a renúncia da continuidade. Não há nenhum jogo mais perigoso. A pressa é a evasão. Qual é a falha desta estrutura existencial? Falha a vida como continuidade. Falha por não a viver em todo o momento na sua dimensão profunda. Os momentos da vida são mais ou menos incorporados neles, marcas do passado mas também possibilidades do futuro. O passado é a própria história, é a responsabilidade do que somos, é a expressão da vida, é a nossa própria individualidade. No presente podemo-nos identificar mais ou menos com as circunstâncias ou com os outros. O futuro é a continuidade pessoal e histórica.
Pertence ao estilo das actuais gerações viver com pressa e sem profundidade. Renunciar às responsabilidades do passado e desconfiar do futuro, concentrando a vida no presente, dinamicamente vivido, ou seja, na acção. Esta atitude, provocando o desaparecimento do sentido profundo da vida, dá origem a um deserto de tédio.
Entre o aborrecimento e a pressa existem relações importantes. O facto de não saber o que fazer é muito perigoso. Talvez seja o maior perigo mostrar a sombra da vida, a sua orientação absurda. Deste perigo defende-se a juventude pela sua radical afirmação. A vida é vida porque se afirma perante a morte.
Luís Fernandes
In «Agora», n.º 327, pág. 4, 21.10.1967
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A juventude é exigente. É uma virtude. Não solicita fórmulas teóricas, mas exige realizações quotidianas. As relações familiares, o entendimento entre os pais e os filhos são difíceis por causa desta flagrante diferença de linguagem.
Uma juventude que desconfia do futuro, que tudo pretende alcançar no tempo presente, será uma juventude sã? A juventude actual está preocupada pelo vazio e pelo absurdo da vida. Mas como poderemos falar de vazio no caso de jovens tão dados à acção, dispostos a ocupar os seus tempos livres e a gozar os prazeres imediatos da vida? Talvez por isso mesmo. Esta necessidade de imediato, esta incapacidade de esperar, provém de um sentimento de angústia. Afinal, a juventude actual carece sobretudo de esperança.
Esta falta de esperança reduz a juventude ao tempo presente. E o presente da juventude actual não está vinculado ao passado nem ao futuro. É tempo presente que tem, forçosamente, de ser vivido com ansiedade e com a ambição de esgotar no momento em que se vive todas as possibilidades vitais. Nesse tempo presente, que se vive rapidamente, tão rapidamente que a própria pressa se transforma em objectivo essencial, o conteúdo da acção perde a sua natureza.
A renúncia perante o futuro é a renúncia da continuidade. Não há nenhum jogo mais perigoso. A pressa é a evasão. Qual é a falha desta estrutura existencial? Falha a vida como continuidade. Falha por não a viver em todo o momento na sua dimensão profunda. Os momentos da vida são mais ou menos incorporados neles, marcas do passado mas também possibilidades do futuro. O passado é a própria história, é a responsabilidade do que somos, é a expressão da vida, é a nossa própria individualidade. No presente podemo-nos identificar mais ou menos com as circunstâncias ou com os outros. O futuro é a continuidade pessoal e histórica.
Pertence ao estilo das actuais gerações viver com pressa e sem profundidade. Renunciar às responsabilidades do passado e desconfiar do futuro, concentrando a vida no presente, dinamicamente vivido, ou seja, na acção. Esta atitude, provocando o desaparecimento do sentido profundo da vida, dá origem a um deserto de tédio.
Entre o aborrecimento e a pressa existem relações importantes. O facto de não saber o que fazer é muito perigoso. Talvez seja o maior perigo mostrar a sombra da vida, a sua orientação absurda. Deste perigo defende-se a juventude pela sua radical afirmação. A vida é vida porque se afirma perante a morte.
Luís Fernandes
In «Agora», n.º 327, pág. 4, 21.10.1967
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sábado, novembro 27, 2004
Precisam-se operários virtuais!
O trabalho na internet, de informação, formação, divulgação, de criação de poder através de uma rede o mais alargada possível de modo a tocar o maior número possível de destinatários, é essencial e decisivo nos tempos actuais. É a batalha do futuro.
Verifiquei que o Portal ECONAC solicita colaboração militante. Precisa "operários virtuais".
A ele, camaradas!
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Verifiquei que o Portal ECONAC solicita colaboração militante. Precisa "operários virtuais".
A ele, camaradas!
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LIBELO CONTRA A DIREITA CONSERVADORA
Não se trata de defender uma atitude de pura destruição, nem de anarquismo, nem de futurismo desgarrado, nem de progressismo utópico ou que vai sumir-se no ventre da esquerda, nem de revolução total e cega. Existem valores permanentes, realidades a conservar, naturezas a assumir, existem coisas que se transmitem, com justiça, através dos tempos e no concreto.
O que eu combato é a posição de rotina e o materialismo prático. Insurjo-me contra a mediocridade (quer seja dourada e espampanante, quer seja frugal e austera), a mediocridade esperta ou burra, a mediocridade sentada, a mediocridade de pedra e cal. O conservador lembra comida de conserva, enlatada; e intoxica. O conservador possui uma boa escrita, contabiliza; muito previdente, não se arrisca a perder nem se vota a sonhos e grandes empreendimentos de alma. O conservador pensa na arca e na barriga. O conservador opõe-se, no fundo, ao espírito, ao espírito ilimitado e viajeiro; de espírito, só admite um grão de sal, para não parecer animal de todo, mas a vasta substância é matéria, grave, pesada, a suar e resfolegar experiência. Tem pé de chumbo, pupilinha acesa, abundosa nádega roçando na lareira ou encaixada na poltrona dum conselho de administração.
O conservador, como o porco, defende a gamela e, se tem ambições, é a de uma gamela maior. Burocrata, administrador, tecnocrata, aí o vemos sempre sensato. Detesta qualquer espécie de loucura. Teme, despreza, censura e combate os apaixonados, os idealistas, os desmedidos. Não percebe a raça de gente como Afonso Henriques, Nun`Álvares, os descobridores, os bandeirantes, Afonso de Albuquerque, os conjurados de 1640, Mouzinho de Albuquerque, Camões. Engalinha especialmente com os poetas, com os artistas, lunáticos inveterados, quando a conservação está em refocilar bem os pés na terra. Aí, sim!
Dizem que o conservador pertence às direitas. Talvez, mas então será a sua degradação e caricatura, a sua doença e o criminoso da família. Porque nem toda a direita é aquilo. Aliás, eu não me interessa que nos coloquemos simplesmente nas direitas. O fascista real — e não aquele que pintam — situa-se para além de direitas e esquerdas. Em primeiro lugar, porque as não reconhece legítimas; em segundo lugar, porque descende de umas e outras; em terceiro lugar, porque alcançou uma posição mais avançada.
A direita conservadora quer a tranquilidade e a segurança — e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos. Tem um arrepio e lança uns protestos indignados, quando conspurcam as glórias pátrias, atacam a nossa herança ultramarina, fazem a demolição ciclónica da religião, ameaçam frontalmente dissolver a família, ou clamorosamente, em regabofe, praticam e trombeteiam o amor livre. Mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios — com boas maneiras, sim! —, já o caso muda de figura. A direita conservadora fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por ser habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!
A direita conservadora é moderada. Claro que existem coisas más, feias, indignantes. Mas não é preciso reagir de dentuça arreganhada, ao tabefe e com pulso de ferro, ou de arma aperrada e fulgurante. Claro que o espírito e o ideal são precisos e bons; mas não exageremos, nem vamos perder o sossego e o bem estar, em aventuras, perigos e aflições, por causa das ideias, de espiritualismos e quejandos enxoframentos de adolescente cabeça ardorosa.
A direita conservadora não quer pensar muito; nem sentir muito. Disso, um condimentozinho, apenas; q. b. Livra, que doses altas podem tirar o sono ou dificultar a digestão! Portanto, adoram um governante que pense por ela, como ela sensatamente, tolerante, de fino trato, prático, livre da terrível praga da ideologia; e que sinta? Também sim, que sinta que ela, direita conservadora, não quer sobressaltos e que não se importa de deslizar para qualquer banda, no caso de ser sem prejuízos materiais e sem violências. A direita conservadora é centrista e, assim, voga, beatamente, se preciso, segundo os ventos da História — mas sem o dizer.
A direita conservadora é um molusco. E no entanto, resulta num penhasco gigantesco e obstrutor para o movimento revolucionário de Justiça e Ideal.
Goulart Nogueira
In «Política», n.º 19, pág. 6, 30.09.1970
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O que eu combato é a posição de rotina e o materialismo prático. Insurjo-me contra a mediocridade (quer seja dourada e espampanante, quer seja frugal e austera), a mediocridade esperta ou burra, a mediocridade sentada, a mediocridade de pedra e cal. O conservador lembra comida de conserva, enlatada; e intoxica. O conservador possui uma boa escrita, contabiliza; muito previdente, não se arrisca a perder nem se vota a sonhos e grandes empreendimentos de alma. O conservador pensa na arca e na barriga. O conservador opõe-se, no fundo, ao espírito, ao espírito ilimitado e viajeiro; de espírito, só admite um grão de sal, para não parecer animal de todo, mas a vasta substância é matéria, grave, pesada, a suar e resfolegar experiência. Tem pé de chumbo, pupilinha acesa, abundosa nádega roçando na lareira ou encaixada na poltrona dum conselho de administração.
O conservador, como o porco, defende a gamela e, se tem ambições, é a de uma gamela maior. Burocrata, administrador, tecnocrata, aí o vemos sempre sensato. Detesta qualquer espécie de loucura. Teme, despreza, censura e combate os apaixonados, os idealistas, os desmedidos. Não percebe a raça de gente como Afonso Henriques, Nun`Álvares, os descobridores, os bandeirantes, Afonso de Albuquerque, os conjurados de 1640, Mouzinho de Albuquerque, Camões. Engalinha especialmente com os poetas, com os artistas, lunáticos inveterados, quando a conservação está em refocilar bem os pés na terra. Aí, sim!
Dizem que o conservador pertence às direitas. Talvez, mas então será a sua degradação e caricatura, a sua doença e o criminoso da família. Porque nem toda a direita é aquilo. Aliás, eu não me interessa que nos coloquemos simplesmente nas direitas. O fascista real — e não aquele que pintam — situa-se para além de direitas e esquerdas. Em primeiro lugar, porque as não reconhece legítimas; em segundo lugar, porque descende de umas e outras; em terceiro lugar, porque alcançou uma posição mais avançada.
A direita conservadora quer a tranquilidade e a segurança — e para isso venderá a alma ao diabo e acabará enterrando na adega quantos ideais houver. Não admite é sobressaltos, violências, extremismos. Tem um arrepio e lança uns protestos indignados, quando conspurcam as glórias pátrias, atacam a nossa herança ultramarina, fazem a demolição ciclónica da religião, ameaçam frontalmente dissolver a família, ou clamorosamente, em regabofe, praticam e trombeteiam o amor livre. Mas se a coisa vier docemente, empantufada, com flores e por aliciantes arroios — com boas maneiras, sim! —, já o caso muda de figura. A direita conservadora fica a escutar violinos, ao canto da lareira, a ver televisão ou ronronando, tolera, fecha os olhos, abranda, deglute o bolo às migalhas e acaba por ser habituar. Sobressaltos, violências, extremismos é que não!
A direita conservadora é moderada. Claro que existem coisas más, feias, indignantes. Mas não é preciso reagir de dentuça arreganhada, ao tabefe e com pulso de ferro, ou de arma aperrada e fulgurante. Claro que o espírito e o ideal são precisos e bons; mas não exageremos, nem vamos perder o sossego e o bem estar, em aventuras, perigos e aflições, por causa das ideias, de espiritualismos e quejandos enxoframentos de adolescente cabeça ardorosa.
A direita conservadora não quer pensar muito; nem sentir muito. Disso, um condimentozinho, apenas; q. b. Livra, que doses altas podem tirar o sono ou dificultar a digestão! Portanto, adoram um governante que pense por ela, como ela sensatamente, tolerante, de fino trato, prático, livre da terrível praga da ideologia; e que sinta? Também sim, que sinta que ela, direita conservadora, não quer sobressaltos e que não se importa de deslizar para qualquer banda, no caso de ser sem prejuízos materiais e sem violências. A direita conservadora é centrista e, assim, voga, beatamente, se preciso, segundo os ventos da História — mas sem o dizer.
A direita conservadora é um molusco. E no entanto, resulta num penhasco gigantesco e obstrutor para o movimento revolucionário de Justiça e Ideal.
Goulart Nogueira
In «Política», n.º 19, pág. 6, 30.09.1970
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sexta-feira, novembro 26, 2004
Levanta-te e anda!
- Ó mocidade, a voz do mar
Que diz?
- Mistério.
- Acorda bem. Torna a escutar.
Que diz?
- Império.
Levanta-te e vai! Vive! Luta
Olhos no céu!
Reza! Grita, que quem te escuta
É o mar, que é teu.
Luta! Mil anos vais levar
Dois mil ou três?
Começa! Tens de começar
Alguma vez.
Que importa o sol, a chuva, o vento,
Mil anos são um só momento
Na eternidade.
Olha o caminho que é direito.
O fim lá está.
Levanta os olhos! Dilata o peito
E vai! Vai já!
Fernando Lima
In «Agora», n.º 289, pág. 10, 17.12.1966.
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Que diz?
- Mistério.
- Acorda bem. Torna a escutar.
Que diz?
- Império.
Levanta-te e vai! Vive! Luta
Olhos no céu!
Reza! Grita, que quem te escuta
É o mar, que é teu.
Luta! Mil anos vais levar
Dois mil ou três?
Começa! Tens de começar
Alguma vez.
Que importa o sol, a chuva, o vento,
Mil anos são um só momento
Na eternidade.
Olha o caminho que é direito.
O fim lá está.
Levanta os olhos! Dilata o peito
E vai! Vai já!
Fernando Lima
In «Agora», n.º 289, pág. 10, 17.12.1966.
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O EXEMPLO DOS RESTAURADORES
No dia 1 de Dezembro de 1640, numerosos fidalgos armados acorrem ao paço habitado pela Duquesa de Mântua, vice-rainha de Portugal. Penetram no Palácio, vencem as resistências e executam Miguel de Vasconcelos, traidor à Pátria, hediondo símbolo do domínio dos Áustrias. O velho D. Miguel de Almeida assoma a uma varanda e anuncia ao Povo a libertação do Reino. Forma-se imediatamente uma grande multidão que aclama El-Rei D. João IV.
Esta Revolução, preparada havia meses, deve-se essencialmente à coragem, à dedicação e ao entusiasmo viril de um punhado de conjurados, jovens fidalgos reunidos em volta de D. Antão de Almada. Foi no Palácio dos condes de Almada, hoje sede do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, que se realizaram as reuniões secretas dos Restauradores. É digno e justo apontar às novas gerações o nobre exemplo que esta data encerra. Não devemos esquecer que a acção firme e consciente de uma pequena élite pode salvar uma situação considerada desesperada.
Quando certos princípios estão em perigo, quando a Justiça e o Direito são ultrajados, a inacção chama-se complacência culpável, e a renúncia chama-se cobardia. Mas isso não se dirá de nós. No momento em que a Pátria sofre mutilações e feridas no seu corpo, não podemos tolerar que seja também atacada no seu espírito. A juventude que salvou Portugal em 1640 tem de ser o exemplo da juventude actual para vencermos e aniquilarmos a traição.
Ora, pela sua índole como pela força das circunstâncias, a Mocidade Portuguesa não pode viver na defensiva. Temos, pois, de atacar e de destruir a traição onde quer que ela se encontre entrincheirada. A tanto nos obriga o facto de o aniversário da Revolução de 1 de Dezembro ser consagrado como o Dia da Mocidade. Devemos permanecer fiéis ao espírito heróico dos Restauradores. Como eles, sabemos sacrificar o nosso comodismo ao serviço do Ideal que professamos.
Afirmamos que é absolutamente indispensável, que mantenhamos — com toda a dureza, com toda a decisão, com toda a violência se for necessário — a imutabilidade dos nossos postulados iniciais, a permanência dos nossos princípios doutrinários e das nossas técnicas educativas.
Juramos que a Mocidade nunca se resignará em deixar vis traidores apoderarem-se do Portugal salvo pelo sangue e pelo ideal dos gloriosos caídos pela Pátria no Ultramar.
Proclamamos que nós servimos a Revolução.
O exemplo dos Restauradores da Independência deve nortear os rapazes da Mocidade Portuguesa que lutam e sofrem pela nossa patriótica Organização.
Jovens de Portugal! Vinde às nossas fileiras, ouvi o nosso apelo e lutai também por Portugal, Uno, Grande e Forte.
Luís Fernandes
In «Agora», n.º 289, pág. 10, 17.12.1966
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Esta Revolução, preparada havia meses, deve-se essencialmente à coragem, à dedicação e ao entusiasmo viril de um punhado de conjurados, jovens fidalgos reunidos em volta de D. Antão de Almada. Foi no Palácio dos condes de Almada, hoje sede do Comissariado Nacional da Mocidade Portuguesa, que se realizaram as reuniões secretas dos Restauradores. É digno e justo apontar às novas gerações o nobre exemplo que esta data encerra. Não devemos esquecer que a acção firme e consciente de uma pequena élite pode salvar uma situação considerada desesperada.
Quando certos princípios estão em perigo, quando a Justiça e o Direito são ultrajados, a inacção chama-se complacência culpável, e a renúncia chama-se cobardia. Mas isso não se dirá de nós. No momento em que a Pátria sofre mutilações e feridas no seu corpo, não podemos tolerar que seja também atacada no seu espírito. A juventude que salvou Portugal em 1640 tem de ser o exemplo da juventude actual para vencermos e aniquilarmos a traição.
Ora, pela sua índole como pela força das circunstâncias, a Mocidade Portuguesa não pode viver na defensiva. Temos, pois, de atacar e de destruir a traição onde quer que ela se encontre entrincheirada. A tanto nos obriga o facto de o aniversário da Revolução de 1 de Dezembro ser consagrado como o Dia da Mocidade. Devemos permanecer fiéis ao espírito heróico dos Restauradores. Como eles, sabemos sacrificar o nosso comodismo ao serviço do Ideal que professamos.
Afirmamos que é absolutamente indispensável, que mantenhamos — com toda a dureza, com toda a decisão, com toda a violência se for necessário — a imutabilidade dos nossos postulados iniciais, a permanência dos nossos princípios doutrinários e das nossas técnicas educativas.
Juramos que a Mocidade nunca se resignará em deixar vis traidores apoderarem-se do Portugal salvo pelo sangue e pelo ideal dos gloriosos caídos pela Pátria no Ultramar.
Proclamamos que nós servimos a Revolução.
O exemplo dos Restauradores da Independência deve nortear os rapazes da Mocidade Portuguesa que lutam e sofrem pela nossa patriótica Organização.
Jovens de Portugal! Vinde às nossas fileiras, ouvi o nosso apelo e lutai também por Portugal, Uno, Grande e Forte.
Luís Fernandes
In «Agora», n.º 289, pág. 10, 17.12.1966
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Convívio de camaradagem
Está em organização um almoço de confraternização entre nacionalistas, a realizar no sábado dia 4 de Dezembro em Lisboa.
Informem-se aqui.
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Absolutamente indispensável
Conhecer e acompanhar o Institute for Historical Review significa aderir a uma corrente de investigação e a uma atitude crítica cada vez mais essencial nos tempos que correm, contribuir para que se desenvolva a consciência pública das falsificações e mistificações em que se baseiam tantas vezes as versões oficiais da História, sobretudo as da época contemporânea.
Contra a distorção e a manipulação, a ocultação da verdade ao serviço de objectivos ideológicos e políticos, erga-se a investigação livre e descomplexada: frequentem o Institute for Historical Review.
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Contra a distorção e a manipulação, a ocultação da verdade ao serviço de objectivos ideológicos e políticos, erga-se a investigação livre e descomplexada: frequentem o Institute for Historical Review.
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Action Nation
Um novo sítio na internet de um novo movimento de gente jovem: Action Nation.
Têm também um forum, de abertura muito recente.
Importa acompanhar com atenção: como dizia o Alain de Benoist, e tem sublinhado aqui o Camisa Negra, vivemos na "época das redes". O nosso sucesso dependerá muito da nossa capacidade para criarmos e desenvolvermos as nossas próprias redes.
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Têm também um forum, de abertura muito recente.
Importa acompanhar com atenção: como dizia o Alain de Benoist, e tem sublinhado aqui o Camisa Negra, vivemos na "época das redes". O nosso sucesso dependerá muito da nossa capacidade para criarmos e desenvolvermos as nossas próprias redes.
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quinta-feira, novembro 25, 2004
Entrevista com José Campos e Sousa
A partir do pretexto dado pelo lançamento do seu CD com interpretações de poemas de Rodrigo Emílio, o cantor e compositor José Campos e Sousa acabou por dar uma interessante entrevista hoje publicada no Portal Nacionalista.
A não perder, para quem gosta de poesia, de música - e de Portugal.
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EU, SS TINTIM
Segue-se um trabalho da jornalista Sara Adamopoulos publicado há anos n'O Independente: uma entrevista com Léon Degrelle, o modelo que inspirou Tintim.
Com Hergé morto e Tintim imortal, eis que o antigo general das SS, Léon Degrelle, tem a ousadia de escrever: «Tintim sou eu». E assim, o último oficial nazi que assume o seu uniforme, que aplaudiu Hitler e ajudou à ocupação nazi da Bélgica, deixa ficar mal o seu eterno amigo Hergé. E, ainda em pior estado, o herói da B.D. mais lido do mundo.
A Associação dos Amigos de Tintim, em representação dos seus muitos associados espalhados por esse Mundo fora, protesta. O antigo general das Waffen SS, Léon Degrelle, fundador do Partido Rexista belga, tem a ousadia de afirmar nas suas memórias: «Tintim sou eu». E a verdade é que, fisionomicamente, a semelhança tem cabimento, para além mesmo do pormenor das calças de golfe que Degrelle reclama suas. Se o Tintim envelhecesse poderia muito bem ser assim. Eis a história de uma saga que começa e acaba com o século: a de dois homens unidos pelo único adversário que De Gaulle encontrou à sua altura: Tintim.
Que Hergé foi óbvia e inevitavelmente influenciado pelos tempos que corriam, tal facto é natural à luz do mero senso-comum. Diz-se de Hergé que foi anticomunista (Tintim no País dos Sovietes), antiamericano (Tintim na América), colonialista (Tintim no Congo). Terá o criador de Tintim sido ou não colaboracionista, that`s the question.
É um velho colosso, este filho pródigo de Marte, hoje com 86 anos. Vive em Puerto Banus, cerca de Málaga, num 8.º andar, rodeado de medalhas e fotografias do Fuehrer. Os espanhóis, que o acolheram em Dezembro de 1944, chamam-lhe D. José Ramirez Reyna. Nos anos 30, na Bélgica, jovem natural de Bouillon que após ter chumbado três vezes no último ano de Direito na Universidade de Lovaina se convertera aos seus dotes de orador e iniciara uma carreira política prometedora. Primeiro como jornalista, depois como editor e, finalmente, como fundador do Partido Rexista, em 1934. Aos 86 anos de idade, Degrelle é o último chefe nazi vivo. Que é um louco desvairado, não há dúvidas. Mas a perturbação de que padece é a mesma de todos os seguidores de Hitler. A senilidade não se lhe adivinha ao telefone. Do outro lado do fio é um velho senhor educado e charmeur que me atende. Um ancião com um passado nazi exemplar.
Após várias apologias do nazismo e relatos de guerra publicados pela controversa editora Ogmios em França, o antigo Volksführer belga prepara-se para publicar uma nova versão das suas memórias. Versão que está a dar muitas dores de cabeça à Associação dos Amigos de Tintim. O livro chama-se Tintim, Mon Copain e estará à venda no final deste mês. São mais de duzentas páginas em que Degrelle conta como serve de modelo a Hergé para que este criasse Tintim.
A outra personagem desta história chama-se Stéphane Steeman e é o presidente da Associação dos Amigos de Hergé. Vive em Bruxelas numa casa que se metamorfoseou com o decorrer do tempo num museu de Hergé, onde se empilham centenas de originais, documentos e todo o tipo de objectos relativos a Tintim.
No Verão do ano passado, Degrelle telefonou a Steeman indagando sobre o seu interesse em ler um certo e determinado manuscrito sobre Tintim. O que Steeman fez, tendo logo depois seguido para Espanha, em virtude das alterações que ele, Steeman, julgava necessárias para que o livro de Degrelle não manchasse a memória de Hergé.
Com efeito, muitos dos passos do manuscrito de Degrelle sujavam a memória e a reputação do repórter do Petit Vingtième. Ali se descobre um Milu interessado na política e um primeiro capítulo que relata o encontro de Degrelle com o Fuehrer, intitulado Tintin Chez Hitler. Steeman está decidido: é preciso convencer o velho a renunciar à ideia.
E é assim que no princípio do mês de Outubro de 91 se iniciam as negociações entre as duas partes. Steeman exige modificações, Degrelle insiste em manter o texto, zanga-se, depois aceita, recusando contudo a maior parte. Estamos a 3 de Outubro de 91. Após um dia e meio de acesa discussão, os dois vão beber um copo. Eis senão quando dois turistas belgas reconhecem Steeman e abordam os homens. Degrelle, visivelmente vexado por os turistas não o terem reconhecido, apresenta-se, para grande estupefacção dos mesmos. Alguns dias mais tarde, o semanário satírico belga Pan publica a informação.
O encontro entre os dois homens é primeira página em muitos jornais belgas. Steeman é apelidado de colaboracionista e de traidor. E, como se não bastasse, a investigação feita sobre o seu passado leva os jornalistas a escreverem sobre o pai de Steeman, o escritor S. A. Steeman, autor do Quai des Orfèvres e de L`Assassin Habite au 21, que publicara ainda antes da guerra vários trabalhos na editora Rex, a editora fundada por Degrelle.
Este episódio teve o condão de reavivar suspeitas sobre Hergé. Se o presidente da Associação dos Amigos de Hergé vai para os copos com o fundador do Rexismo, então Hergé era mesmo colaboracionista e Tintim uma personagem fascizante.
Independente — Tintim, mon Copain é a verdadeira história do jovem repórter do Petit Vingtième ou a sua?
Léon Degrelle — O meu livro Tintim, mon Copain vai tornar pública não só a verdadeira história de Hergé e a minha mas as duas, pois as nossas vidas coincidiram fraternalmente, fraternalmente reencontrando-se sempre, quer na imensidão das Américas, ao longo dos milhares de quilómetros da frente russa ou no amargo exílio espanhol. Não se trata pois da vida de um dos dois comparsas, mas sim da vida de dois cúmplices, um deles criando a partir do imaginário e o outro construindo a partir da realidade, movidos através das circunstâncias mais imprevistas por entusiasmos e reacções idênticas.
Independente — Você foi levado a fazer algumas modificações no manuscrito original do seu livro. Quais foram e porque é que aceitou fazê-lo?
L. D. — É normal para um escritor retomar vezes sem conta o seu texto, corrigindo expressões menos hábeis, acrescentando episódios esquecidos. Boileau explicou este processo com grande mestria: «Ao longo da vossa tarefa questionem vinte vezes a vossa obra, se necessário; limem-lhe e relimem-lhe as arestas tantas vezes quantas as necessárias.» você quer fazer crer que me obrigaram a fazer modificações no meu livro. Aqui entre nós, não é de todo o meu género deixar-me intimidar. Mas tenho, em contrapartida, o gosto pela exactidão. Antes de remeter o meu manuscrito ao meu editor, reli-o e melhorei-o cerca de meia-dúzia de vezes. Quis depois submetê-lo ao maior conhecedor de Hergé e Tintim sobre a Terra, o senhor Stéphane Steeman. Não nos conhecíamos. Mas Steeman é uma criatura encantadora. Fez de avião (coisa que ele detesta!) a viagem Bruxelas-Málaga com o objectivo de reler comigo o meu rascunho. Passámos três dias absolutamente encantadores, pois Steeman é divertido, tem humor e um coração do tamanho do Mundo. É certo, ele assinalou uma ou outra incorrecção na récita, uma ou outra data inexacta, uma ou outra interpretação duvidosa sobre os acontecimentos. Coisas pequenas. Um dos títulos de um capítulo do meu livro incomodava-o, não logo no começo (ou seja, em 1929) mas mais ou menos a meio da minha prosa, no momento em que Hitler ocupa a Bélgica. Quando intitulei o capítulo Tintim em casa de Hitler, não queria de modo algum dizer que Hergé se havia deslocado para se encontrar com o Fuehrer (ele nunca o viu na vida, nem de longe nem de perto). O capítulo intitulou-se assim porque se passava durante a ocupação da Bélgica pelos alemães. Para ser mais preciso, e para agradar a Steeman, meu maravilhoso convidado, substituí o meu Tintin em casa de Hitler por Tintim no tempo de Hitler. O que não impediu os mais importantes pontífices da grande imprensa de esquerda (que não leram uma linha do meu livro, desconhecido de toda a gente, menos de Steeman!) de alardearem modificações supostamente feitas sob ameaça! Você própria, que também não conhece a obra que vou publicar, insistiu nesta questãozinha pérfida. Francamente, é mesmo a sério? Eu próprio consultei Steeman para que não fossem publicadas incorrecções, por mínimas que pudessem ser. Burilámos juntos o meu texto, no meu terraço ensolarado frente ao grandioso mar. Saboreámos juntos, em clima de grande jovialidade, as iguarias finas e os vinhos velhos da minha despensa. A que se deve pois esta mania de querer sempre que os interlocutores se afrontem, se confrontem, lutem com unhas e dentes? Uma conversa é antes de tudo um prazer e não uma batalha. Tenho para mim que os adversários mais acalorados, desde que sejam honestos, são sempre bem-vindos. Seria obra do diabo se entre convivas com ideias divergentes não houvesse um único ponto em comum — a pintura, a música, a poesia ou a filosofia. Foi precisamente o que aconteceu comigo. E isso acontece com certeza consigo também. Quando se é vertical e bem formado não se convertem as libélulas em aviões de caça e qualquer contacto humano é possível, na maior parte das vezes interessante e sempre enriquecedor.
Independente — Tintim é um jovem aventureiro, determinado, audaz e muito charmoso. Reconhece-se nestes traços da sua personalidade?
L. D. — Não me arriscaria a auto-atribuir-me o qualificativo de «muito charmoso». Seria necessário perguntar à minha mulher. Conhece com certeza o provérbio que diz que quem se assemelha faz parelha. Logo desde o início da nossa juventude, Hergé e eu «emparelhámos». Mesmo no exílio, como poderá ver no meu livro. Hergé foi um companheiro admirável, não só meu mas de todos os nossos compatriotas perseguidos depois de 1945. Teve mesmo a coragem de afirmar muito claramente à imprensa: «Degrelle foi um herói.» Ora, nestes tempos de ódio quase demoníaco, era virtualmente obrigatório afirmar pública e caluniosamente que eu havia sido um «criminoso de guerra»! Hergé teve a extrema coragem de enfrentar os mais baixos insultos proferidos a meu respeito..
Independente — Existe ou não uma moral no Tintim? Qual?
L. D. — Bem entendido que sim. Tintim é o símbolo da coragem, da bravura, do desenrascanço, mas também da lealdade, da fidelidade e, sobretudo, da generosidade, da entrega, da boa acção quotidiana. Sempre generoso. Sempre vertical. Muitos jovens de hoje só teriam a ganhar se seguissem o seu exemplo, em vez de se amontoarem nas discotecas ou de arrancarem as malinhas-de-mão das velhinhas indefesas lá do alto dos seus bólides barulhentos.
Independente — Se você é Tintim, quem é Haddock?
L. D. — O capitão Haddock era uma das vinte personagens que Hergé introduziu com o decorrer do tempo na sua panóplia. Haddock era, toda a gente sabe, um tipo firme e inabalável até na bebida. Personagem imaginária, não sei lá muito bem a quem poderia assemelhar-se. Talvez a Churchill, verdadeira esponja de champanhe e de wiskhy. De blusão curto, com o seu posterior reluzente e alvo, de taça Dom Pérignon em riste, Churchill bebia abundantemente desde o nascer do dia. Conheci-o pessoalmente, convidou-me aliás um dia para jantar com ele no restaurante da Câmara dos Comuns. Dessa vez, posso assegurar-lhe que estava em mangas de camisa e que o álcool não parava. Queria num paralelo, ei-lo. Espero que se considere satisfeita.
Independente — Hergé afirmou nunca ter sido na sua vida rexista e acrescentou mesmo que tinha uma profunda aversão pelo partido que você fundou. Queira comentar.
L. D. — Aonde é que você foi desencantar tamanho disparate? Pode submeter-me cinco linhas assinadas por ele que contenham tal afirmação? Histórias miseráveis que os jornalistas contam. No meu livro encontrará, muito pelo contrário, testemunhos muitíssimo comoventes sobre sentimentos que o uniam a mim, mesmo dezenas de anos passados sobre 1945, quando apodrecia no fundo do meu exílio. Aí, mais uma vez, trago a verdade, directa e escrita, e não sensacionalismos de imprensa, simplesmente lançados tal e qual, sem escrúpulos de qualquer espécie, no meio da grande salada jornalística.
Independente — Quais foram as suas relações com Hergé quando este se recusou a colaborar na qualidade de ilustrador para a propaganda do Fuehrer na Bélgica?
L. D. — Mais uma vez, como é possível sair-se de novo com uma tal enormidade? Após a desfeita na Bélgica na Primavera de 1940, quando Hergé retomou a publicação das suas pranchas, não tinha qualquer tipo de contacto com ele pela simples razão de que toda a gente me julgava morto desde o dia 21 de Maio de 1940! Nesse dia, com efeito, crime de guerra de que nunca se fala, 21 dos meus pobres companheiros de camião celular, unicamente culpados de terem, tal como eu próprio, defendido a neutralidade belga, foram entregues pelos polícia belgas aos desvairados franceses e assassinados com grande crueldade, nomeadamente com baionetas, perto de um quiosque da cidade francesa de Abbeville. Entre os cadáveres irreconhecíveis julgaram reconhecer o meu. A notícia foi primeira página de toda a imprensa. Que tipo de relação poderia ter tido Hergé com aquele cadáver tão prontamente reconhecido? Quanto à pretensa colaboração de Hergé «na qualidade de ilustrador da propaganda do Fuehrer na Bélgica», ultrapassa as raias do disparate. Hergé nunca foi propagandista, sob qualquer forma, de Adolfo, «o Vencedor». Nunca tal lhe foi sequer proposto, nem a ele nem a qualquer outro cidadão belga. Hitler não precisava de propagandistas naqueles países: as suas vitórias, fabulosas, conseguidas num estalar de dedos, na Polónia, na Dinamarca, na Noruega, na Holanda, na Bélgica e em França, em 1939 e em 1940, dispensavam-no de ter recorrer a Tintim para assegurar a sua propaganda. Aliás, quem era nessa altura Tintim, praticamente desconhecido, para pretender fazer papel de flautista de Hitler, num momento em que a imensa vaga dos seus exércitos acabava de inundar todo o Ocidente?!
Independente — Você foi, quando jovem, jornalista. Em 1940, sob a ocupação, na qualidade de líder do Partido Rexista, você controlou a totalidade da imprensa belga. Quais eram as virtudes que encontra nesse tipo de imprensa?
L. D. — Permita-me dizer que aqui você bate todos os records de efabulação. A Bélgica inteira, relembro-lhe, julgava-me morto. E isto semanas depois de a totalidade da imprensa belga ter reaparecido. E mesmo quando dois meses mais tarde o morto que eu era desde Maio de 40 ressuscitou, não exerci qualquer tipo de controlo sobre a imprensa belga, nem mesmo sobre a minha imprensa, que essa nem sequer tinha reaparecido! Enquanto «líder do Partido Rexista» não tinha, morto ou vivo, qualquer tipo de controlo a exercer. Em nome de quem? Com que virtude? Parece-me que você ignora que o movimento rexista (nunca fomos um partido) foi um partidário absoluto da neutralidade. Uma guerra, qualquer que fosse, não poderia nunca valer a infelicidade e a morte de milhares de belgas, esmagados entre os dois pólos do conflito. Contrariamente aos alemães e franceses, que esses, no meio de grande confusão, podiam em caso de vitória arrecadar territórios e granjear lucros. A nossa atitude neutral valeu-nos aliás muitos conflitos com os dois lados: do lado da polícia francesa, que se precipitou sobre nós a 10 de Maio de 40, torturando e mesmo, em 21 casos assassinando; e do lado alemão, que então nos havia considerado como um impedimento para atacar todo o Ocidente! Isto para dizer que éramos quase considerados pelo Reich como indesejáveis. A tal ponto, que as autoridades alemãs fizeram calar a imprensa belga. A situação da Bélgica em Agosto de 1940 permanecia incerta, apesar dos 90 por cento de belgas que se precipitaram aos pés dos alemães, na esperança de obter favores! Abstive-me, pois, de qualquer tipo de intervenção desse género. Abstive-me, inclusive, de qualquer contacto com o comando alemão na Bélgica, do general von Falkenhauser. Nunca o vi uma única vez na minha vida, mesmo quando fui combater para a frente russa, no mês de Agosto de 1941. Para mim, nenhuma solução para o caso belga poderia ser tomada antes de falar pessoalmente com Hitler. Foi para isso que me voluntarizei como simples soldado contra o comunismo, a fim de poder um dia conversar, de guerreiro a guerreiro, com o Fuehrer. Foi o que aconteceu, após inúmeros combates e ferimentos, quando Hitler me colocou ao pescoço o colar da Ritterkreuz. Nesse dia, obtive do chefe do III Reich, um destino digno na Europa do futuro, fosse na Bélgica ou no Ocidente inteiro! Mas em 1940 era demasiado cedo. Limitei-me a publicar o meu diário Le Pays Réel, após ter solicitado e recebido autorização do rei Leopold III. E, mesmo assim, fui muito cuidadoso: não me queria comprometer na qualidade de director do meu jornal. O meu nome limitar-se-ia aliás a aparecer como Léon Degrelle, Fundador.
Quanto à questão sobre «as virtudes que encontro nesse tipo de imprensa», que você me coloca com um jeitinho irritado, eis a minha resposta. Recriada a partir dos conselhos do rei dos belgas, essa imprensa — foi de uma dignidade exemplar. Foi conduzida por jornalistas dotados de um patriotismo impecável. Mantiveram o melhor que podiam o moral dos seus compatriotas. Deveriam, aliás, ter sido, após Setembro de 44, honrados e condecorados, por terem cumprido dignamente o seu dever em circunstâncias quase impossíveis. O próprio Churchill, nas ilhas anglo-normandas uma vez libertadas, remeteu ordens nacionais aos ex-colaboradores e enobreceu mesmo alguns deles, em vez de os fuzilar como aconteceu na Bélgica, por culpa de um bando de pequenos criminosos, cheios de ódio, que se quiseram vingar dos seus quatro anos de inacção.
Independente — Você criou o movimento rexista para limpar a Igreja Católica de toda a contaminação política. Não concorda que a Igreja é desde sempre a primeira e grande fomentadora deste tipo de doença?
L. D. — Você está a ir um pouco longe de mais. Quem a ouvir falar, pode até pensar que foi você que criou o Rexismo e que, como tal, tudo sabe sobre o assunto! O Movimento Rexista foi criado para limpar a podridão, não da Igreja Católica, mas de todos os partidos políticos. Católico fervoroso, comecei, por honestidade, por fazer contas com os políticos que se abrigavam sob a etiqueta do catolicismo. Uma vez cumprida esta primeira fase, lancei-me com a mesma violência, sobre os políticos dos outros partidos belgas, liberais ou socialistas, que pilhavam o público e a nação. Se pudesse, voltaria a fazer o mesmo, e com forças redobradas, para desmascarar todos aqueles que sob uma máscara democrática, se entregam, hoje ainda mais do que então, às piores negociatas político-financeiras por toda essa Europa. Que seja em Itália, e especialmente em Milão, a golpes de milhares de liras exigidas aos industriais, sob a forma de pagamento obrigatório, e arrecadadas, indistintamente, por todos os partidos. Ou em França, onde políticos de todas as facções fazem razias incrivelmente lucrativas no momento das grandes adjudicações municipais ou das concessões de grande contratos, que se apressam logo a manter reservadas ao pessoal político! Ou ainda em Inglaterra, onde um gangster como o judeu Maxwell pôde arrecadar impunemente somas impensáveis retiradas da caixa de pensões dos trabalhadores! Ou, para abreviar, mesmo em Portugal, onde, logo que Salazar desapareceu, o açúcar democrático encontrou rapidamente amadores gulosos. O gangsterismo político-financeiro é o fruto directo do sistema democrático, onde o risco de não reeleito é constante e leva os sobreviventes do regime a querer o mais rapidamente possível a um devir financeiro confortável.
A Europa está hoje apodrecida por essas pilhagens, perpetuadas em grande em todos os países sem excepção. Colocar, como você faz, essa doença nos ombros da Igreja Católica, releva de um anti-clericalismo quase insólito, nesta hora em que a Igreja Católica está praticamente despolitizada, seja na Alemanha ou em França, países onde as lutas anti-clericais foram especialmente vivas. Você diz com muita audácia que a Igreja é a culpada por este estado de coisas. Qual terá a sido a mosquinha sectária que a picou? A única e toda poderosa corrupção — mas isso você nunca o aceitará — é aquela que nasce desde sempre no seio dos regimes podres, saída como uma larva da irresponsabilidade democrática que hoje se arrasta e baba por essa Europa inteira. Misturar a Igreja com tudo isso é incorrecto. Esta Igreja, onde abundaram os Apóstolos, os Santos e os milhares de fiéis que votaram vidas inteiras aos deserdados, Igreja, hoje um pouco por todo o lado, apolítica. Ela arrisca-se mesmo, hélas, a tornar-se cada vez menos existente em termos de instituição, num momento em que as últimas questões espirituais e morais que subsistem no mundo deveriam, pelo contrário, levantar-se, com um vigor tornado santo, para desmascarar o gangsterismo das falsas democracias de hoje.
Independente — Franco, Mussolini, Salazar. Pensa que poderiam ter um lugar na Europa dos nossos dias?
L. D. — Na «Europa dos nossos dias», como você diz, Hitler teria 102 anos, Franco, 100; Mussolini, 109; e Salazar 103. O que impossibilitaria qualquer lugar, não acha? Esse lugar, se nós tivéssemos ganho a guerra, teriam sido sem sombra de dúvida eles próprios a criá-lo, e depois a legá-lo. No Outono de 1942, quando atingimos o cume do Cáucaso, a Europa estava virtualmente feita. Reunia, dos Pirinéus ao Volga, 450 milhões de habitantes. Em poucos anos, a unidade moral desses povos complementares teria sido realizada. O seu desenvolvimento, estendendo-se por milhares de quilómetros, teria assegurado a todas as energias, a todas as imaginações criativas, possibilidades excepcionais. Teria dado trabalho a 16 milhões de desempregados, que hoje vegetam, miseráveis, por essa Europa dialogada de hoje. Mas, sobretudo, teria animado com uma grande Fé, os 600 mil jovens europeus não-alemães, que enfim se teriam conhecido e compreendido durante os anos de combate na Frente de Leste, os quais, unidos aos seus camaradas alemães, teriam sem dúvida assegurado, na dignidade e no respeito, a grande solidariedade europeia. Mas não. Houve quem preferisse vegetar no universo dos 20 mil funcionários do Mercado Comum (muito comum), líder impassível do materialismo actual. Considera-se satisfeita? Nesse caso deve ter um carácter de ouro e felicito-a.
Independente — Segundo afirmações suas, as câmaras de gás serviram apenas para limpar os judeus das pulgas, piolhos e outras doenças. Será que milhares de indivíduos foram mortos por engano?
L. D. — Até quando continuarão a regressar a este assunto em toda e qualquer entrevista, quando muitos já deram, inclusive, como provável o facto de nenhuma dessas câmaras de gás homicida ter existido em estado de funcionar? Fica-se com a impressão que você nunca deve ter lido uma única linha da obra do americano Leutcher, o grande especialista das câmaras de gás nos Estados Unidos, que se deslocou ele próprio a Auschwitz e a outros campos do ex-III Reich a fim de estudar cientificamente o mui controverso problema. Com a sua equipa de investigadores, examinou com minúcia cada pequeno detalhe das ditas câmaras, cada porta, cada tecto, cada parede, cada junção. Levaram com eles para os Estados Unidos várias amostras dos materiais, submeteram-nos a avançados estudos laboratoriais, para finalmente concluir que nenhuma dessas supostas câmaras de gás havia funcionado um só instante que fosse. Deixo-lhes a responsabilidade deste veredicto. Mas é evidente que qualquer investigador honesto deverá ter isso em conta. Encontro em si, permita-me afirmá-lo, como aliás num grande número de judeófilos acalorados, a vontade, não de saber, mas de Não Saber. Existem pelo menos 100 livros de eminentes especialistas, ditos revisionistas, franceses, italianos, austríacos, alemães, americanos, livros consagrados a este problema. «Não viu o Holocausto?», retorquiu-me um dia um propagandista das câmaras de gás, limitando o seu conhecimento da matéria a um amontoado de imagens cinematográficas. Digo-lhe a si, que li toda a obra escrita sobre este assunto pelos propagandistas de Auschwitz. Na minha biblioteca, possuo e consulto, comparo oitenta mil páginas consagradas por eles a esta matéria. Tento ver uma luz na escuridão, tento atingir a verdade. Porque é que os de gás não fazem o mesmo? Porque sabem que seriam confundidos ou invadidos pela dúvida. E receiam de tal modo isso que se protegem com leis de excepção (nomeadamente a Lei Gayssot em França), que interditam, sob pena de prisão e de vultosas multas, a promoção de qualquer dúvida sobre o assunto. A ausência de argumentação por parte daqueles que queiram refutar a ideia é de tal modo propagandeada, que se torna necessário recorrer à chantagem dos tribunais, fundamentalmente anti-democráticos, para evitar que o assunto, francamente duvidoso, seja levado a público.
Há anos que me debruço sobre este melindroso assunto, e digo-lhe que peso sempre as minhas palavras. Mas uma vez que insiste, digo-lhe que sim, que existiram, durante o III Reich, câmaras de gás, que serviram para matar piolhos e pulgas, verdadeira calamidade que infestava, em quantidades fabulosas, milhões de prisioneiros russos. E assumo o risco de blasfémia ao assinalar que tal aconteceu também entre as multidões israelitas. O embaixador francês em Varsóvia, senhor Léon Noel, no seu livro A Agressão Alemã contra a Polónia, descreveu, horrorizado, o espectáculo de milhares de bicharocos daqueles que infestaram os ghettos polacos. Era, pois, do interesse de todos que tais estações de limpeza existissem para libertar os prisioneiros e internados de guerra daquelas horripilantes pragas de bicharocos portadores das piores doenças e epidemias. E, aliás, eles não eram os únicos habitantes dos campos de concentração. Nós, os soldados da Frente de Leste, também lá estávamos e também éramos infestados pela bicharada. A cada regresso da Frente soviética, éramos obrigados a descer do comboio em todos os postos fronteiriços, nomeadamente em Litmanstaat, para nos dirigirmos em colunas para as câmaras de gás, onde éramos abudantemente desinfectados. Só de lá saíamos algumas horas depois para recolher as nossas roupas, também elas por sua vez desinfectadas. Só depois disso, éramos autorizados a partir para os respectivos países, abandonando os piolhos ao triste destino dos outros piolhos de todos os campos do Reich.
Independente — Como é que vê os recentes movimentos nacionalistas de jovens skinheads?
L. D. — Francamente, que espera você que lhe diga? Esses tais jovens skinheads, pelos quais me parece tão interessada, não me interessam de todo a mim. Visivelmente, você gostaria imenso de mos colocar aos ombros! Nunca vi jovens diferentes daqueles que você própria vê, em verdade pouco numerosos, utilizados como out-doors publicitários nalguns jornais provocadores, ou ainda ostentados na televisão para horrorizar os corações impressionáveis no final dos jogos de futebol. Tudo isso é, aqui entre nós, cinema de má qualidade. Esses detentores de crânios rapados a que chama skinheads não se assemelham a nós mais do que nós nos assemelhamos a eles. Quando se vai buscar essas histórias de rapados anónimos, é porque não se tem mais nada de jeito para falar.
Independente — Como é que explica que a raça ariana tenha encontrado o seu líder na pessoa de um indivíduo austríaco (muito provavelmente de origem judia), moreno e pequenote?
L. D. — Então segundo você, o facto de Hitler ser moreno e pequeno impedia-o automaticamente de promover a raça ariana! Fico até consternado por verificar que é tudo o que você acha pertinente sobre a questão das raças. Hitler era pequeno? Hitler só era pequeno segundo os seus critérios, arianos, sem dúvida. Era moreno? Liquidada segunda vez! Milhares de alemães e de austríacos são morenos. Tremo só de pensar na expulsão racial que atingirá aqueles que não são louros, nem morenos, mas carecas...! Para si a questão resume-se a um problema escalpe/cabeleira, à imagem do conselho de revisão e de coloração capilar, como no cabeleireiro! Fico consternado. Na universidade, se você apresentasse argumentos tão pobres como esse numa defesa de tese, teria com certeza um zero e quanto a mim, não poderia oferecer-lhe flores à saída. As flores, são aliás por vezes vasos nas suas palavras.
Quando fala de Hitler, a jovem mulher que você é (Sarah, como a mãe de Abraão) converte-se instantaneamente num touro violento e barulhento! A que se deve esse furor cego? Hitler, que você qualifica amavelmente como um indivíduo, trata-se, se não estou em erro, do mesmo Hitler que em 1933 foi levado democraticamente ao poder pelos seus eleitores alemães e que foi, de ano a ano, plebiscitado pelo Reich por mais de 90% dos habitantes. Por alturas do referendo do Sarre, em 1935, organizado esse sob o estrito controle dos exércitos aliados que ocuparam durante quinze anos aquele território alemão, esse seu indivíduo conseguiu 91% dos sufrágios. Será que o senhor Miterrand conseguiu alguma vez os votos de noventa por cento dos franceses? E o senhor Bush com os eleitores americanos ou o senhor Major na Grã-Bretanha? Conseguiram, quanto muito, um pouco mais de cinquenta por cento dos sufrágios e quantas vezes escamoteando os votos dos trinta ou quarenta por cento de abstencionistas que, fartos daquilo tudo, já nem querem votar. Na realidade são esses mentores eleitos com um terço dos votos que decidem sobre a vida dos dois outros terços. É isso a democracia! Em cinco anos, o seu indivíduo realizou a unificação política, social, moral dos povos alemães, estabeleceu a paz social, a reconciliação das classes, remeteu ao trabalho (o que nunca nenhum democrata conseguiu) seis milhões de desempregados, criou milhares de quilómetros de auto-estradas, fez do seu país a primeira potência económica da Europa. O seu indivíduo conseguiu em cinco anos milagres extraordinários! Se você não o diz, a História encarregar-se-á de o fazer. São milagres sem par numa Europa cansada do século XX que, em 1939, as democracias da luta de classes quiseram estrangular, ridicularizadas que estavam pelo triunfo na Alemanha de uma democracia real. Democracias secundadas pelo hiper-capitalismo, também ele posto em causa pelo sucesso financeiro alemão, libertado por Hitler da ditadura internacional do dinheiro. Democracias, enfim, postas em causa pelo belicismo racial de errantes milenários, furiosos de ver a Europa moderna ser construída sem eles. Decidiram pois eliminar Hitler do planeta.
Que fez então o seu indivíduo? Encarou, com o seu povo, o mundo inteiro durante seis anos. Os polacos do Coronel Beck iam chegar a Berlim em duas ou três semanas? Foram eles que foram literalmente varridos em duas ou três semanas! Os ingleses iam estrangular o norte do Reich conquistando a Noruega? Foi novamente o indivíduo de que gosta tanto que tomou, num estalar de dedos, a Noruega. E também a Dinamarca, uma vez que ficava de caminho. Seria a França que viria a dominar o seu indivíduo? «Venceremos porque somos os mais fortes!», gritava o ministro Reynaud, um nabo, com cabeça de vietnamita achatada por um tractor. O sinistro indivíduo Hitler, que inventara, para vergonha de todos os velhos estrategos anquilosados, uma nova ciência da guerra, juntando à massa de blindados a massa de aviões e varrendo em três dias a armada francesa! Em dez dias chegou ao mar do Norte, em cinco dias entrou em Paris, numa semana chegou aos Pirinéus. O seu indivíduo era pelo menos de uma agilidade fantástica! Em Junho de 41, liquidou em duas semanas os Balcãs, do Danúbio ao Peloponeso e até à Ilha de Creta.
Não restou outra alternativa aos ingleses e americanos do que lançar os sovietes contra Hitler, alinhando nas fronteiras do Reich oriental cinco milhões e meio de homens, preparados para submergir a Europa de um momento a outro. E mais uma vez o seu indivíduo esteve à altura dos acontecimentos. Lançou-se de imediato para Estalinegrado, a Norte, para Smolensk, a Leste, para Dnieper, a Sul, fez milhões de prisioneiros. E no ano seguinte Donetz, Don, e depois do Volga, até ao Cáucaso. Nem mesmo um De Gaulle, no meio das ruínas de Estalinegrado, pôde impedir-se de afirmar a sua admiração, ao ver onde Hitler havia chegado!
E a Europa, entretanto? Em três anos, Hitler realizara uma unificação da Europa bastante mais ampla do que aquela que Napoleão tentara criar. 450 milhões de europeus encontravam-se desde 42 reunidos numa mesma unidade territorial, europeus que Hitler deveria aliás alimentar e dirigir até ao fim das hostilidades. E quem asseguraria a união moral para além disso? Na Frente, 600.000 jovens voluntários não-alemães estavam prontos para essa tarefa. Representavam cada nação do continente, alinhados nas 38 divisões das Waffen SS e iam depois da guerra assegurar, nos seus respectivos países, o respeito pela diversidade e a personalidade de cada um destes povos. Em dez anos, harmonizar-se-iam as diferenças. Não teria havido nem um único desempregado na Europa, os países poder-se-iam desenvolver num espaço aberto a todos, de dez mil quilómetros de largura, do Mar do Norte ao Pacífico. Tudo isto foi concebido, preparado e realizado pelo seu indivíduo.
Hitler foi o maior estadista deste século. O que foram, ao lado dele, um velho olheirento como Churchill, que perdeu o Império Britânico, um perturbado mental como Roosevelt ou mesmo um De Gaulle, que nunca ousou ir até ao fim das suas reformas e que, acima de tudo, deixou desvanecer-se em fumo o esplêndido império que levava a glória da França a todo o universo? Hitler foi o génio integral. Você, modesta jornalista, trata-o como indivíduo. Se mais ninguém pudesse dizer enormidades desse tipo, a vida tornar-se monótona.
O mundo moderno, amontoado de impostos, de escândalos, de corrupções e de um materialismo galopante, tem por vezes necessidade de sorrir e de se descontrair. Ríamos, pois, daqueles que sobre esta Terra não são nada, ou quase nada, e que cheios de soberba pretendem espezinhar aqueles que realizaram uma obra grandiosa, sem paralelo na vida do Universo. Para terminar, você diz que o seu indivíduo era muito provavelmente de origem judia. Antes mesmo da guerra, alguns brincalhões reunidos lançaram esse disparate. O Daily Mirror, em 14 de Outubro de 1933, o Paris Soir, a 5 de Agosto de 1939, e, enfim, já depois da guerra, um padre sem calças de nome Jetzinger. Há muito tempo que essa história foi desmascarada. O mais sabedor dos historiadores filo-judeus, Werner Masser, pulverizou a teoria. Diz ele, na sua obra Hitler, Adolf, da maneira mais categórica, que nunca foi estabelecida qualquer afinidade com um procriador judeu.
Mas se isso lhe dá prazer, não hesite. Instale um Hitler judeu entre os profetas hebreus no interior das sinagogas. De qualquer maneira, ele fará melhor papel do que um pequeno Shamir qualquer.
Independente — Qual é a história de Tintim que prefere?
L. D. — É, incontestavelmente, Tintim no País dos Sovietes. Porque Hergé foi muito particularmente com este álbum um precursor, denunciando Estaline como o mais selvagem dos assassinos do século, enquanto alguns o apresentavam como um Messias e que o poeta Aragon proclamava: «Ó grande Estaline, Tu que fazes renascer o homem, Tu que fazer florir a Primavera...» Em 1975, Miterrand cantava ainda a glória da U.R.S.S. «sobretudo porque a sua revolução foi feita a partir de análises que nos são próprias». O Tintim de Hergé, por seu lado, desmascara logo em 1929 a ignomínia comunista, hoje feita em farrapos, mas, infelizmente, liquidada demasiado tarde, uma vez que os prejuízos são hoje irreparáveis.
Foi seguindo o exemplo de Tintim que partimos em 1941 para a U.R.S.S. com o objectivo de aniquilar aquele regime diabólico e de trazer vinte povos admiráveis para uma comunidade europeia. Em 42 tudo era possível. O nosso esforço para libertar aqueles países foi deitado por terra, não por um comunismo, que reduzido a si próprio teria sido inexoravelmente varrido, mas por um fanatismo aberrante de um Roosevelt que foi, logo antes de Estalinegrado, o grande fornecedor de armas e material dos soviéticos. Foram ainda os americanos que levaram Staline a Berlim, entregando-lhe, como escravos, 100 milhões de europeus de Leste. De 1945 a 1990, os americanos pagariam a factura daquela aberração, que lhes custaria centenas de milhares de dólares, em armamento nuclear, antes de terem assistido à queda da U.R.S.S., hoje desfigurada e sem dúvida irrecuperável durante muito tempo.
Independente — Diz-se que Hergé foi colonialista, anti-semita e nazi. Que pensa de tudo isto?
L. D. — Hergé era já colonialista antes de 1940, à semelhança de toda a gente. Ou seja, sensível ao papel da Europa entre povos que tinham necessidade do socorro material, de ordem, de um princípio de cultura. Tudo isto numa atmosfera de jovialidade. Não existe uma só palavra que possa ferir ou menosprezar os povos de cor, nos milhares de desenhos de Hergé. A guerra, aliás, não liquidou o colonialismo. Os americanos vencedores limitaram-se a dar a volta a uma ordem colonial que deveria ter prosseguido a sua acção durante mais cinquenta anos, até poderem ser formadas as elites capazes de lhe suceder. Os americanos arruinaram esta receita mundial, para subtrair a cinquenta países bruscamente tornados acéfalos, grandiosos ganhos económicos, a qualquer preço que fosse, tal como se viu no massacre com napalm de mulheres e crianças do Vietname ou na gigantesca matança dos civis do Iraque, perpretada sob a capa hipócrita da democracia, para assegurar o controle dos petróleos orientais e a manutenção da ditadura mundial dos Estados Unidos, desprezando todas as leis internacionais fundamentais.
Quanto ao anti-semitismo de Hergé, posso apenas dizer que em toda a sua obra encontramos apenas cinco ou seis narizes em gancho. Há algum tipo de anti-semitismo nisso? Com que então agora é proibido rir dos atributos divertidos? É verdade que Hergé se divertiu uma ou outra vez com o seu Blumenstein. Será que o Judeu se transformou numa criatura sagrada? Intocável? Que se profana, ao cometer-se o crime de rir por causa do nariz? Esta susceptibilidade toca as raias do ridículo. Os judeus deveriam divertir-se com os desenhos de Hergé, em vez de se chocarem dramaticamente. No dia em que o pintor Labisse fez um retrato da minha pessoa particularmente mordaz, apressei-me a conservar uma reprodução na minha colecção. Olho para ela de tempos a tempos, sempre sorridente. Diga pois aos seus israelitas que façam o mesmo.
E, finalmente, Tintim era ou não nazi? Não lhe respondo. Não tem outro remédio senão esperar pelo meu livro. A surpresa, tê-la-á folheando-o. Está decepcionada? Não ficará por muito mais tempo.
Independente — É a favor ou contra a Europa federalista? Que pensa de toda a polémica actual em torno do Tratado de Maastricht?
L. D. — Não acredito na comédia de Maastricht. Há quarenta anos que se cortejam os europeus com a pretensa Europa do Mercado Comum, uma Europa de funcionários, uma Europa materialista de comerciantes de sopa, que não corresponde em nada às aspirações morais dos povos. A esta altura do campeonato, desconhecem-se ainda a composição dos pratos que eles confeccionam nas nossas costas. No que respeita especificamente ao Tratado de Maastricht, diluído em centenas de páginas de erratas, é mais do que nunca a ignorância que reina. Mesmo que o sim aconteça num ou noutro referendo, como por exemplo na Irlanda, é um falso sim que sai das urnas, acordado por 60% de eleitores materialistas, a quem foi dito que o seu país receberia milhares de ecus do Mercado Comum se eles votassem bem. Mas esses mesmos 60% apenas foram conseguidos porque 45% se abstiveram de votar! Mais uma vez, é apenas um terço dos irlandeses que disseram sim. No resto da Europa passa-se o mesmo.
Quando as multidões querem ver aprovado um projecto, devem sentir que há um ideal que o precede e que o projecta vinga, como um geiser, saído direitinho da sua sensibilidade e não de uma passividade morna. Depois da derrota da Europa de Hitler, prometeu-se a todos a lua e as estrelas. As democracias trouxeram-lhe a corrupção, entregando-se à caça do lucro fácil, e expandindo por todo o lado um materialismo desmoralizante. Demoliram famílias, aniquilaram a ideia de solidariedade, liquidaram o respeito por toda a moral. As pessoas aguardam, sem grande fé. Os políticos já não precisam de nada disso, uma vez que deixaram há muito de acreditar. Tacteiam em vão nos seus bolsos esvaziados. Que se vote em 92 a favor de Maastricht ou que se rejeite o tratado, não tem muita importância: de qualquer das maneiras é uma falsa Europa, de onde sairá uma máquina do tipo industrial enferrujada, incapaz de criar o futuro.
Algumas horas antes de morrer, Hitler proferiu esta amarga frase: «Fui a última chance da Europa». Será que é assim? Perante um futuro particularmente armadilhado, a Europa não representará no século XXI mais do que 6 ou 7% da humanidade. Os Estados Unidos, que querem brincar aos fortalhaços, estão minados por problemas económicos, sociais, raciais, e por um materialismo que os devora literalmente. Podem, com efeito, no século XXI, desmoronar-se tão bruscamente como aconteceu com a U.R.S.S. Quanto à África, grangrenada física e moralmente, será aniquilada pelos seus cem milhões de sidosos. Ao inverso, a imensa Ásia, com os seus três biliões de seres inteligentes, sóbrios, trabalhadores, formados na dura e esplêndida escola social do Japão, terá o papel principal no próximo século. Perante eles, que representarão os 20 milhões de peões europeus dos gabinetes de Bruxelas, com as suas lutas intermináveis, que esburacam cada vez mais as reservas de cada país? As perspectivas não são encorajantes. Terá a Europa alguma hipótese de sobreviver e manter-se à tona? É problemático.
A actual fórmula das democracias, com todos os seus homenzinhos irresponsáveis, à mercê dos humores de uma opinião pública desgastada, é portadora de todas estas catástrofes. É preciso ter esperança, claro, mas a Europa está muito longe do objectivo inicial. Para o atingir, tudo tem de mudar. Apenas um chefe, um verdadeiro, escolhido, amado e apoiado pelos povos, poderia, in extremis, salvar a jogada. Mas estamos longe. Não acredite se lhe disserem que na vida tudo se resolve. Às vezes tudo se desmorona. A Grécia desmoronou-se. O grandioso Império Romano desmoronou-se. A Europa, transformar-se-á, ela própria, no próximo século, num pântano onde os povos exaustos e cansados terão perdido tudo?... Tudo depende da vontade dos homens, da aparição de um verdadeiro chefe, e também de Deus, de quem você não parece gostar lá muito e que contudo tudo decide.
O meu livro Tintim, mon copain é a história conjugada do criador duma personalidade imaginária e de um homem de acção, ainda vivo, muito vivo, que juntos quiseram criar esta Europa, que há cinquenta anos poderia ter sido salva. Um dia, talvez nos arrependamos amargamente de, em 1945, as nossas bandeiras não terem triunfado!
(Sarah Adamopoulos, In O Independente, caderno Viver n.º 98, 26 de Junho de 1992, págs. 18 a 22)
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Com Hergé morto e Tintim imortal, eis que o antigo general das SS, Léon Degrelle, tem a ousadia de escrever: «Tintim sou eu». E assim, o último oficial nazi que assume o seu uniforme, que aplaudiu Hitler e ajudou à ocupação nazi da Bélgica, deixa ficar mal o seu eterno amigo Hergé. E, ainda em pior estado, o herói da B.D. mais lido do mundo.
A Associação dos Amigos de Tintim, em representação dos seus muitos associados espalhados por esse Mundo fora, protesta. O antigo general das Waffen SS, Léon Degrelle, fundador do Partido Rexista belga, tem a ousadia de afirmar nas suas memórias: «Tintim sou eu». E a verdade é que, fisionomicamente, a semelhança tem cabimento, para além mesmo do pormenor das calças de golfe que Degrelle reclama suas. Se o Tintim envelhecesse poderia muito bem ser assim. Eis a história de uma saga que começa e acaba com o século: a de dois homens unidos pelo único adversário que De Gaulle encontrou à sua altura: Tintim.
Que Hergé foi óbvia e inevitavelmente influenciado pelos tempos que corriam, tal facto é natural à luz do mero senso-comum. Diz-se de Hergé que foi anticomunista (Tintim no País dos Sovietes), antiamericano (Tintim na América), colonialista (Tintim no Congo). Terá o criador de Tintim sido ou não colaboracionista, that`s the question.
É um velho colosso, este filho pródigo de Marte, hoje com 86 anos. Vive em Puerto Banus, cerca de Málaga, num 8.º andar, rodeado de medalhas e fotografias do Fuehrer. Os espanhóis, que o acolheram em Dezembro de 1944, chamam-lhe D. José Ramirez Reyna. Nos anos 30, na Bélgica, jovem natural de Bouillon que após ter chumbado três vezes no último ano de Direito na Universidade de Lovaina se convertera aos seus dotes de orador e iniciara uma carreira política prometedora. Primeiro como jornalista, depois como editor e, finalmente, como fundador do Partido Rexista, em 1934. Aos 86 anos de idade, Degrelle é o último chefe nazi vivo. Que é um louco desvairado, não há dúvidas. Mas a perturbação de que padece é a mesma de todos os seguidores de Hitler. A senilidade não se lhe adivinha ao telefone. Do outro lado do fio é um velho senhor educado e charmeur que me atende. Um ancião com um passado nazi exemplar.
Após várias apologias do nazismo e relatos de guerra publicados pela controversa editora Ogmios em França, o antigo Volksführer belga prepara-se para publicar uma nova versão das suas memórias. Versão que está a dar muitas dores de cabeça à Associação dos Amigos de Tintim. O livro chama-se Tintim, Mon Copain e estará à venda no final deste mês. São mais de duzentas páginas em que Degrelle conta como serve de modelo a Hergé para que este criasse Tintim.
A outra personagem desta história chama-se Stéphane Steeman e é o presidente da Associação dos Amigos de Hergé. Vive em Bruxelas numa casa que se metamorfoseou com o decorrer do tempo num museu de Hergé, onde se empilham centenas de originais, documentos e todo o tipo de objectos relativos a Tintim.
No Verão do ano passado, Degrelle telefonou a Steeman indagando sobre o seu interesse em ler um certo e determinado manuscrito sobre Tintim. O que Steeman fez, tendo logo depois seguido para Espanha, em virtude das alterações que ele, Steeman, julgava necessárias para que o livro de Degrelle não manchasse a memória de Hergé.
Com efeito, muitos dos passos do manuscrito de Degrelle sujavam a memória e a reputação do repórter do Petit Vingtième. Ali se descobre um Milu interessado na política e um primeiro capítulo que relata o encontro de Degrelle com o Fuehrer, intitulado Tintin Chez Hitler. Steeman está decidido: é preciso convencer o velho a renunciar à ideia.
E é assim que no princípio do mês de Outubro de 91 se iniciam as negociações entre as duas partes. Steeman exige modificações, Degrelle insiste em manter o texto, zanga-se, depois aceita, recusando contudo a maior parte. Estamos a 3 de Outubro de 91. Após um dia e meio de acesa discussão, os dois vão beber um copo. Eis senão quando dois turistas belgas reconhecem Steeman e abordam os homens. Degrelle, visivelmente vexado por os turistas não o terem reconhecido, apresenta-se, para grande estupefacção dos mesmos. Alguns dias mais tarde, o semanário satírico belga Pan publica a informação.
O encontro entre os dois homens é primeira página em muitos jornais belgas. Steeman é apelidado de colaboracionista e de traidor. E, como se não bastasse, a investigação feita sobre o seu passado leva os jornalistas a escreverem sobre o pai de Steeman, o escritor S. A. Steeman, autor do Quai des Orfèvres e de L`Assassin Habite au 21, que publicara ainda antes da guerra vários trabalhos na editora Rex, a editora fundada por Degrelle.
Este episódio teve o condão de reavivar suspeitas sobre Hergé. Se o presidente da Associação dos Amigos de Hergé vai para os copos com o fundador do Rexismo, então Hergé era mesmo colaboracionista e Tintim uma personagem fascizante.
Independente — Tintim, mon Copain é a verdadeira história do jovem repórter do Petit Vingtième ou a sua?
Léon Degrelle — O meu livro Tintim, mon Copain vai tornar pública não só a verdadeira história de Hergé e a minha mas as duas, pois as nossas vidas coincidiram fraternalmente, fraternalmente reencontrando-se sempre, quer na imensidão das Américas, ao longo dos milhares de quilómetros da frente russa ou no amargo exílio espanhol. Não se trata pois da vida de um dos dois comparsas, mas sim da vida de dois cúmplices, um deles criando a partir do imaginário e o outro construindo a partir da realidade, movidos através das circunstâncias mais imprevistas por entusiasmos e reacções idênticas.
Independente — Você foi levado a fazer algumas modificações no manuscrito original do seu livro. Quais foram e porque é que aceitou fazê-lo?
L. D. — É normal para um escritor retomar vezes sem conta o seu texto, corrigindo expressões menos hábeis, acrescentando episódios esquecidos. Boileau explicou este processo com grande mestria: «Ao longo da vossa tarefa questionem vinte vezes a vossa obra, se necessário; limem-lhe e relimem-lhe as arestas tantas vezes quantas as necessárias.» você quer fazer crer que me obrigaram a fazer modificações no meu livro. Aqui entre nós, não é de todo o meu género deixar-me intimidar. Mas tenho, em contrapartida, o gosto pela exactidão. Antes de remeter o meu manuscrito ao meu editor, reli-o e melhorei-o cerca de meia-dúzia de vezes. Quis depois submetê-lo ao maior conhecedor de Hergé e Tintim sobre a Terra, o senhor Stéphane Steeman. Não nos conhecíamos. Mas Steeman é uma criatura encantadora. Fez de avião (coisa que ele detesta!) a viagem Bruxelas-Málaga com o objectivo de reler comigo o meu rascunho. Passámos três dias absolutamente encantadores, pois Steeman é divertido, tem humor e um coração do tamanho do Mundo. É certo, ele assinalou uma ou outra incorrecção na récita, uma ou outra data inexacta, uma ou outra interpretação duvidosa sobre os acontecimentos. Coisas pequenas. Um dos títulos de um capítulo do meu livro incomodava-o, não logo no começo (ou seja, em 1929) mas mais ou menos a meio da minha prosa, no momento em que Hitler ocupa a Bélgica. Quando intitulei o capítulo Tintim em casa de Hitler, não queria de modo algum dizer que Hergé se havia deslocado para se encontrar com o Fuehrer (ele nunca o viu na vida, nem de longe nem de perto). O capítulo intitulou-se assim porque se passava durante a ocupação da Bélgica pelos alemães. Para ser mais preciso, e para agradar a Steeman, meu maravilhoso convidado, substituí o meu Tintin em casa de Hitler por Tintim no tempo de Hitler. O que não impediu os mais importantes pontífices da grande imprensa de esquerda (que não leram uma linha do meu livro, desconhecido de toda a gente, menos de Steeman!) de alardearem modificações supostamente feitas sob ameaça! Você própria, que também não conhece a obra que vou publicar, insistiu nesta questãozinha pérfida. Francamente, é mesmo a sério? Eu próprio consultei Steeman para que não fossem publicadas incorrecções, por mínimas que pudessem ser. Burilámos juntos o meu texto, no meu terraço ensolarado frente ao grandioso mar. Saboreámos juntos, em clima de grande jovialidade, as iguarias finas e os vinhos velhos da minha despensa. A que se deve pois esta mania de querer sempre que os interlocutores se afrontem, se confrontem, lutem com unhas e dentes? Uma conversa é antes de tudo um prazer e não uma batalha. Tenho para mim que os adversários mais acalorados, desde que sejam honestos, são sempre bem-vindos. Seria obra do diabo se entre convivas com ideias divergentes não houvesse um único ponto em comum — a pintura, a música, a poesia ou a filosofia. Foi precisamente o que aconteceu comigo. E isso acontece com certeza consigo também. Quando se é vertical e bem formado não se convertem as libélulas em aviões de caça e qualquer contacto humano é possível, na maior parte das vezes interessante e sempre enriquecedor.
Independente — Tintim é um jovem aventureiro, determinado, audaz e muito charmoso. Reconhece-se nestes traços da sua personalidade?
L. D. — Não me arriscaria a auto-atribuir-me o qualificativo de «muito charmoso». Seria necessário perguntar à minha mulher. Conhece com certeza o provérbio que diz que quem se assemelha faz parelha. Logo desde o início da nossa juventude, Hergé e eu «emparelhámos». Mesmo no exílio, como poderá ver no meu livro. Hergé foi um companheiro admirável, não só meu mas de todos os nossos compatriotas perseguidos depois de 1945. Teve mesmo a coragem de afirmar muito claramente à imprensa: «Degrelle foi um herói.» Ora, nestes tempos de ódio quase demoníaco, era virtualmente obrigatório afirmar pública e caluniosamente que eu havia sido um «criminoso de guerra»! Hergé teve a extrema coragem de enfrentar os mais baixos insultos proferidos a meu respeito..
Independente — Existe ou não uma moral no Tintim? Qual?
L. D. — Bem entendido que sim. Tintim é o símbolo da coragem, da bravura, do desenrascanço, mas também da lealdade, da fidelidade e, sobretudo, da generosidade, da entrega, da boa acção quotidiana. Sempre generoso. Sempre vertical. Muitos jovens de hoje só teriam a ganhar se seguissem o seu exemplo, em vez de se amontoarem nas discotecas ou de arrancarem as malinhas-de-mão das velhinhas indefesas lá do alto dos seus bólides barulhentos.
Independente — Se você é Tintim, quem é Haddock?
L. D. — O capitão Haddock era uma das vinte personagens que Hergé introduziu com o decorrer do tempo na sua panóplia. Haddock era, toda a gente sabe, um tipo firme e inabalável até na bebida. Personagem imaginária, não sei lá muito bem a quem poderia assemelhar-se. Talvez a Churchill, verdadeira esponja de champanhe e de wiskhy. De blusão curto, com o seu posterior reluzente e alvo, de taça Dom Pérignon em riste, Churchill bebia abundantemente desde o nascer do dia. Conheci-o pessoalmente, convidou-me aliás um dia para jantar com ele no restaurante da Câmara dos Comuns. Dessa vez, posso assegurar-lhe que estava em mangas de camisa e que o álcool não parava. Queria num paralelo, ei-lo. Espero que se considere satisfeita.
Independente — Hergé afirmou nunca ter sido na sua vida rexista e acrescentou mesmo que tinha uma profunda aversão pelo partido que você fundou. Queira comentar.
L. D. — Aonde é que você foi desencantar tamanho disparate? Pode submeter-me cinco linhas assinadas por ele que contenham tal afirmação? Histórias miseráveis que os jornalistas contam. No meu livro encontrará, muito pelo contrário, testemunhos muitíssimo comoventes sobre sentimentos que o uniam a mim, mesmo dezenas de anos passados sobre 1945, quando apodrecia no fundo do meu exílio. Aí, mais uma vez, trago a verdade, directa e escrita, e não sensacionalismos de imprensa, simplesmente lançados tal e qual, sem escrúpulos de qualquer espécie, no meio da grande salada jornalística.
Independente — Quais foram as suas relações com Hergé quando este se recusou a colaborar na qualidade de ilustrador para a propaganda do Fuehrer na Bélgica?
L. D. — Mais uma vez, como é possível sair-se de novo com uma tal enormidade? Após a desfeita na Bélgica na Primavera de 1940, quando Hergé retomou a publicação das suas pranchas, não tinha qualquer tipo de contacto com ele pela simples razão de que toda a gente me julgava morto desde o dia 21 de Maio de 1940! Nesse dia, com efeito, crime de guerra de que nunca se fala, 21 dos meus pobres companheiros de camião celular, unicamente culpados de terem, tal como eu próprio, defendido a neutralidade belga, foram entregues pelos polícia belgas aos desvairados franceses e assassinados com grande crueldade, nomeadamente com baionetas, perto de um quiosque da cidade francesa de Abbeville. Entre os cadáveres irreconhecíveis julgaram reconhecer o meu. A notícia foi primeira página de toda a imprensa. Que tipo de relação poderia ter tido Hergé com aquele cadáver tão prontamente reconhecido? Quanto à pretensa colaboração de Hergé «na qualidade de ilustrador da propaganda do Fuehrer na Bélgica», ultrapassa as raias do disparate. Hergé nunca foi propagandista, sob qualquer forma, de Adolfo, «o Vencedor». Nunca tal lhe foi sequer proposto, nem a ele nem a qualquer outro cidadão belga. Hitler não precisava de propagandistas naqueles países: as suas vitórias, fabulosas, conseguidas num estalar de dedos, na Polónia, na Dinamarca, na Noruega, na Holanda, na Bélgica e em França, em 1939 e em 1940, dispensavam-no de ter recorrer a Tintim para assegurar a sua propaganda. Aliás, quem era nessa altura Tintim, praticamente desconhecido, para pretender fazer papel de flautista de Hitler, num momento em que a imensa vaga dos seus exércitos acabava de inundar todo o Ocidente?!
Independente — Você foi, quando jovem, jornalista. Em 1940, sob a ocupação, na qualidade de líder do Partido Rexista, você controlou a totalidade da imprensa belga. Quais eram as virtudes que encontra nesse tipo de imprensa?
L. D. — Permita-me dizer que aqui você bate todos os records de efabulação. A Bélgica inteira, relembro-lhe, julgava-me morto. E isto semanas depois de a totalidade da imprensa belga ter reaparecido. E mesmo quando dois meses mais tarde o morto que eu era desde Maio de 40 ressuscitou, não exerci qualquer tipo de controlo sobre a imprensa belga, nem mesmo sobre a minha imprensa, que essa nem sequer tinha reaparecido! Enquanto «líder do Partido Rexista» não tinha, morto ou vivo, qualquer tipo de controlo a exercer. Em nome de quem? Com que virtude? Parece-me que você ignora que o movimento rexista (nunca fomos um partido) foi um partidário absoluto da neutralidade. Uma guerra, qualquer que fosse, não poderia nunca valer a infelicidade e a morte de milhares de belgas, esmagados entre os dois pólos do conflito. Contrariamente aos alemães e franceses, que esses, no meio de grande confusão, podiam em caso de vitória arrecadar territórios e granjear lucros. A nossa atitude neutral valeu-nos aliás muitos conflitos com os dois lados: do lado da polícia francesa, que se precipitou sobre nós a 10 de Maio de 40, torturando e mesmo, em 21 casos assassinando; e do lado alemão, que então nos havia considerado como um impedimento para atacar todo o Ocidente! Isto para dizer que éramos quase considerados pelo Reich como indesejáveis. A tal ponto, que as autoridades alemãs fizeram calar a imprensa belga. A situação da Bélgica em Agosto de 1940 permanecia incerta, apesar dos 90 por cento de belgas que se precipitaram aos pés dos alemães, na esperança de obter favores! Abstive-me, pois, de qualquer tipo de intervenção desse género. Abstive-me, inclusive, de qualquer contacto com o comando alemão na Bélgica, do general von Falkenhauser. Nunca o vi uma única vez na minha vida, mesmo quando fui combater para a frente russa, no mês de Agosto de 1941. Para mim, nenhuma solução para o caso belga poderia ser tomada antes de falar pessoalmente com Hitler. Foi para isso que me voluntarizei como simples soldado contra o comunismo, a fim de poder um dia conversar, de guerreiro a guerreiro, com o Fuehrer. Foi o que aconteceu, após inúmeros combates e ferimentos, quando Hitler me colocou ao pescoço o colar da Ritterkreuz. Nesse dia, obtive do chefe do III Reich, um destino digno na Europa do futuro, fosse na Bélgica ou no Ocidente inteiro! Mas em 1940 era demasiado cedo. Limitei-me a publicar o meu diário Le Pays Réel, após ter solicitado e recebido autorização do rei Leopold III. E, mesmo assim, fui muito cuidadoso: não me queria comprometer na qualidade de director do meu jornal. O meu nome limitar-se-ia aliás a aparecer como Léon Degrelle, Fundador.
Quanto à questão sobre «as virtudes que encontro nesse tipo de imprensa», que você me coloca com um jeitinho irritado, eis a minha resposta. Recriada a partir dos conselhos do rei dos belgas, essa imprensa — foi de uma dignidade exemplar. Foi conduzida por jornalistas dotados de um patriotismo impecável. Mantiveram o melhor que podiam o moral dos seus compatriotas. Deveriam, aliás, ter sido, após Setembro de 44, honrados e condecorados, por terem cumprido dignamente o seu dever em circunstâncias quase impossíveis. O próprio Churchill, nas ilhas anglo-normandas uma vez libertadas, remeteu ordens nacionais aos ex-colaboradores e enobreceu mesmo alguns deles, em vez de os fuzilar como aconteceu na Bélgica, por culpa de um bando de pequenos criminosos, cheios de ódio, que se quiseram vingar dos seus quatro anos de inacção.
Independente — Você criou o movimento rexista para limpar a Igreja Católica de toda a contaminação política. Não concorda que a Igreja é desde sempre a primeira e grande fomentadora deste tipo de doença?
L. D. — Você está a ir um pouco longe de mais. Quem a ouvir falar, pode até pensar que foi você que criou o Rexismo e que, como tal, tudo sabe sobre o assunto! O Movimento Rexista foi criado para limpar a podridão, não da Igreja Católica, mas de todos os partidos políticos. Católico fervoroso, comecei, por honestidade, por fazer contas com os políticos que se abrigavam sob a etiqueta do catolicismo. Uma vez cumprida esta primeira fase, lancei-me com a mesma violência, sobre os políticos dos outros partidos belgas, liberais ou socialistas, que pilhavam o público e a nação. Se pudesse, voltaria a fazer o mesmo, e com forças redobradas, para desmascarar todos aqueles que sob uma máscara democrática, se entregam, hoje ainda mais do que então, às piores negociatas político-financeiras por toda essa Europa. Que seja em Itália, e especialmente em Milão, a golpes de milhares de liras exigidas aos industriais, sob a forma de pagamento obrigatório, e arrecadadas, indistintamente, por todos os partidos. Ou em França, onde políticos de todas as facções fazem razias incrivelmente lucrativas no momento das grandes adjudicações municipais ou das concessões de grande contratos, que se apressam logo a manter reservadas ao pessoal político! Ou ainda em Inglaterra, onde um gangster como o judeu Maxwell pôde arrecadar impunemente somas impensáveis retiradas da caixa de pensões dos trabalhadores! Ou, para abreviar, mesmo em Portugal, onde, logo que Salazar desapareceu, o açúcar democrático encontrou rapidamente amadores gulosos. O gangsterismo político-financeiro é o fruto directo do sistema democrático, onde o risco de não reeleito é constante e leva os sobreviventes do regime a querer o mais rapidamente possível a um devir financeiro confortável.
A Europa está hoje apodrecida por essas pilhagens, perpetuadas em grande em todos os países sem excepção. Colocar, como você faz, essa doença nos ombros da Igreja Católica, releva de um anti-clericalismo quase insólito, nesta hora em que a Igreja Católica está praticamente despolitizada, seja na Alemanha ou em França, países onde as lutas anti-clericais foram especialmente vivas. Você diz com muita audácia que a Igreja é a culpada por este estado de coisas. Qual terá a sido a mosquinha sectária que a picou? A única e toda poderosa corrupção — mas isso você nunca o aceitará — é aquela que nasce desde sempre no seio dos regimes podres, saída como uma larva da irresponsabilidade democrática que hoje se arrasta e baba por essa Europa inteira. Misturar a Igreja com tudo isso é incorrecto. Esta Igreja, onde abundaram os Apóstolos, os Santos e os milhares de fiéis que votaram vidas inteiras aos deserdados, Igreja, hoje um pouco por todo o lado, apolítica. Ela arrisca-se mesmo, hélas, a tornar-se cada vez menos existente em termos de instituição, num momento em que as últimas questões espirituais e morais que subsistem no mundo deveriam, pelo contrário, levantar-se, com um vigor tornado santo, para desmascarar o gangsterismo das falsas democracias de hoje.
Independente — Franco, Mussolini, Salazar. Pensa que poderiam ter um lugar na Europa dos nossos dias?
L. D. — Na «Europa dos nossos dias», como você diz, Hitler teria 102 anos, Franco, 100; Mussolini, 109; e Salazar 103. O que impossibilitaria qualquer lugar, não acha? Esse lugar, se nós tivéssemos ganho a guerra, teriam sido sem sombra de dúvida eles próprios a criá-lo, e depois a legá-lo. No Outono de 1942, quando atingimos o cume do Cáucaso, a Europa estava virtualmente feita. Reunia, dos Pirinéus ao Volga, 450 milhões de habitantes. Em poucos anos, a unidade moral desses povos complementares teria sido realizada. O seu desenvolvimento, estendendo-se por milhares de quilómetros, teria assegurado a todas as energias, a todas as imaginações criativas, possibilidades excepcionais. Teria dado trabalho a 16 milhões de desempregados, que hoje vegetam, miseráveis, por essa Europa dialogada de hoje. Mas, sobretudo, teria animado com uma grande Fé, os 600 mil jovens europeus não-alemães, que enfim se teriam conhecido e compreendido durante os anos de combate na Frente de Leste, os quais, unidos aos seus camaradas alemães, teriam sem dúvida assegurado, na dignidade e no respeito, a grande solidariedade europeia. Mas não. Houve quem preferisse vegetar no universo dos 20 mil funcionários do Mercado Comum (muito comum), líder impassível do materialismo actual. Considera-se satisfeita? Nesse caso deve ter um carácter de ouro e felicito-a.
Independente — Segundo afirmações suas, as câmaras de gás serviram apenas para limpar os judeus das pulgas, piolhos e outras doenças. Será que milhares de indivíduos foram mortos por engano?
L. D. — Até quando continuarão a regressar a este assunto em toda e qualquer entrevista, quando muitos já deram, inclusive, como provável o facto de nenhuma dessas câmaras de gás homicida ter existido em estado de funcionar? Fica-se com a impressão que você nunca deve ter lido uma única linha da obra do americano Leutcher, o grande especialista das câmaras de gás nos Estados Unidos, que se deslocou ele próprio a Auschwitz e a outros campos do ex-III Reich a fim de estudar cientificamente o mui controverso problema. Com a sua equipa de investigadores, examinou com minúcia cada pequeno detalhe das ditas câmaras, cada porta, cada tecto, cada parede, cada junção. Levaram com eles para os Estados Unidos várias amostras dos materiais, submeteram-nos a avançados estudos laboratoriais, para finalmente concluir que nenhuma dessas supostas câmaras de gás havia funcionado um só instante que fosse. Deixo-lhes a responsabilidade deste veredicto. Mas é evidente que qualquer investigador honesto deverá ter isso em conta. Encontro em si, permita-me afirmá-lo, como aliás num grande número de judeófilos acalorados, a vontade, não de saber, mas de Não Saber. Existem pelo menos 100 livros de eminentes especialistas, ditos revisionistas, franceses, italianos, austríacos, alemães, americanos, livros consagrados a este problema. «Não viu o Holocausto?», retorquiu-me um dia um propagandista das câmaras de gás, limitando o seu conhecimento da matéria a um amontoado de imagens cinematográficas. Digo-lhe a si, que li toda a obra escrita sobre este assunto pelos propagandistas de Auschwitz. Na minha biblioteca, possuo e consulto, comparo oitenta mil páginas consagradas por eles a esta matéria. Tento ver uma luz na escuridão, tento atingir a verdade. Porque é que os de gás não fazem o mesmo? Porque sabem que seriam confundidos ou invadidos pela dúvida. E receiam de tal modo isso que se protegem com leis de excepção (nomeadamente a Lei Gayssot em França), que interditam, sob pena de prisão e de vultosas multas, a promoção de qualquer dúvida sobre o assunto. A ausência de argumentação por parte daqueles que queiram refutar a ideia é de tal modo propagandeada, que se torna necessário recorrer à chantagem dos tribunais, fundamentalmente anti-democráticos, para evitar que o assunto, francamente duvidoso, seja levado a público.
Há anos que me debruço sobre este melindroso assunto, e digo-lhe que peso sempre as minhas palavras. Mas uma vez que insiste, digo-lhe que sim, que existiram, durante o III Reich, câmaras de gás, que serviram para matar piolhos e pulgas, verdadeira calamidade que infestava, em quantidades fabulosas, milhões de prisioneiros russos. E assumo o risco de blasfémia ao assinalar que tal aconteceu também entre as multidões israelitas. O embaixador francês em Varsóvia, senhor Léon Noel, no seu livro A Agressão Alemã contra a Polónia, descreveu, horrorizado, o espectáculo de milhares de bicharocos daqueles que infestaram os ghettos polacos. Era, pois, do interesse de todos que tais estações de limpeza existissem para libertar os prisioneiros e internados de guerra daquelas horripilantes pragas de bicharocos portadores das piores doenças e epidemias. E, aliás, eles não eram os únicos habitantes dos campos de concentração. Nós, os soldados da Frente de Leste, também lá estávamos e também éramos infestados pela bicharada. A cada regresso da Frente soviética, éramos obrigados a descer do comboio em todos os postos fronteiriços, nomeadamente em Litmanstaat, para nos dirigirmos em colunas para as câmaras de gás, onde éramos abudantemente desinfectados. Só de lá saíamos algumas horas depois para recolher as nossas roupas, também elas por sua vez desinfectadas. Só depois disso, éramos autorizados a partir para os respectivos países, abandonando os piolhos ao triste destino dos outros piolhos de todos os campos do Reich.
Independente — Como é que vê os recentes movimentos nacionalistas de jovens skinheads?
L. D. — Francamente, que espera você que lhe diga? Esses tais jovens skinheads, pelos quais me parece tão interessada, não me interessam de todo a mim. Visivelmente, você gostaria imenso de mos colocar aos ombros! Nunca vi jovens diferentes daqueles que você própria vê, em verdade pouco numerosos, utilizados como out-doors publicitários nalguns jornais provocadores, ou ainda ostentados na televisão para horrorizar os corações impressionáveis no final dos jogos de futebol. Tudo isso é, aqui entre nós, cinema de má qualidade. Esses detentores de crânios rapados a que chama skinheads não se assemelham a nós mais do que nós nos assemelhamos a eles. Quando se vai buscar essas histórias de rapados anónimos, é porque não se tem mais nada de jeito para falar.
Independente — Como é que explica que a raça ariana tenha encontrado o seu líder na pessoa de um indivíduo austríaco (muito provavelmente de origem judia), moreno e pequenote?
L. D. — Então segundo você, o facto de Hitler ser moreno e pequeno impedia-o automaticamente de promover a raça ariana! Fico até consternado por verificar que é tudo o que você acha pertinente sobre a questão das raças. Hitler era pequeno? Hitler só era pequeno segundo os seus critérios, arianos, sem dúvida. Era moreno? Liquidada segunda vez! Milhares de alemães e de austríacos são morenos. Tremo só de pensar na expulsão racial que atingirá aqueles que não são louros, nem morenos, mas carecas...! Para si a questão resume-se a um problema escalpe/cabeleira, à imagem do conselho de revisão e de coloração capilar, como no cabeleireiro! Fico consternado. Na universidade, se você apresentasse argumentos tão pobres como esse numa defesa de tese, teria com certeza um zero e quanto a mim, não poderia oferecer-lhe flores à saída. As flores, são aliás por vezes vasos nas suas palavras.
Quando fala de Hitler, a jovem mulher que você é (Sarah, como a mãe de Abraão) converte-se instantaneamente num touro violento e barulhento! A que se deve esse furor cego? Hitler, que você qualifica amavelmente como um indivíduo, trata-se, se não estou em erro, do mesmo Hitler que em 1933 foi levado democraticamente ao poder pelos seus eleitores alemães e que foi, de ano a ano, plebiscitado pelo Reich por mais de 90% dos habitantes. Por alturas do referendo do Sarre, em 1935, organizado esse sob o estrito controle dos exércitos aliados que ocuparam durante quinze anos aquele território alemão, esse seu indivíduo conseguiu 91% dos sufrágios. Será que o senhor Miterrand conseguiu alguma vez os votos de noventa por cento dos franceses? E o senhor Bush com os eleitores americanos ou o senhor Major na Grã-Bretanha? Conseguiram, quanto muito, um pouco mais de cinquenta por cento dos sufrágios e quantas vezes escamoteando os votos dos trinta ou quarenta por cento de abstencionistas que, fartos daquilo tudo, já nem querem votar. Na realidade são esses mentores eleitos com um terço dos votos que decidem sobre a vida dos dois outros terços. É isso a democracia! Em cinco anos, o seu indivíduo realizou a unificação política, social, moral dos povos alemães, estabeleceu a paz social, a reconciliação das classes, remeteu ao trabalho (o que nunca nenhum democrata conseguiu) seis milhões de desempregados, criou milhares de quilómetros de auto-estradas, fez do seu país a primeira potência económica da Europa. O seu indivíduo conseguiu em cinco anos milagres extraordinários! Se você não o diz, a História encarregar-se-á de o fazer. São milagres sem par numa Europa cansada do século XX que, em 1939, as democracias da luta de classes quiseram estrangular, ridicularizadas que estavam pelo triunfo na Alemanha de uma democracia real. Democracias secundadas pelo hiper-capitalismo, também ele posto em causa pelo sucesso financeiro alemão, libertado por Hitler da ditadura internacional do dinheiro. Democracias, enfim, postas em causa pelo belicismo racial de errantes milenários, furiosos de ver a Europa moderna ser construída sem eles. Decidiram pois eliminar Hitler do planeta.
Que fez então o seu indivíduo? Encarou, com o seu povo, o mundo inteiro durante seis anos. Os polacos do Coronel Beck iam chegar a Berlim em duas ou três semanas? Foram eles que foram literalmente varridos em duas ou três semanas! Os ingleses iam estrangular o norte do Reich conquistando a Noruega? Foi novamente o indivíduo de que gosta tanto que tomou, num estalar de dedos, a Noruega. E também a Dinamarca, uma vez que ficava de caminho. Seria a França que viria a dominar o seu indivíduo? «Venceremos porque somos os mais fortes!», gritava o ministro Reynaud, um nabo, com cabeça de vietnamita achatada por um tractor. O sinistro indivíduo Hitler, que inventara, para vergonha de todos os velhos estrategos anquilosados, uma nova ciência da guerra, juntando à massa de blindados a massa de aviões e varrendo em três dias a armada francesa! Em dez dias chegou ao mar do Norte, em cinco dias entrou em Paris, numa semana chegou aos Pirinéus. O seu indivíduo era pelo menos de uma agilidade fantástica! Em Junho de 41, liquidou em duas semanas os Balcãs, do Danúbio ao Peloponeso e até à Ilha de Creta.
Não restou outra alternativa aos ingleses e americanos do que lançar os sovietes contra Hitler, alinhando nas fronteiras do Reich oriental cinco milhões e meio de homens, preparados para submergir a Europa de um momento a outro. E mais uma vez o seu indivíduo esteve à altura dos acontecimentos. Lançou-se de imediato para Estalinegrado, a Norte, para Smolensk, a Leste, para Dnieper, a Sul, fez milhões de prisioneiros. E no ano seguinte Donetz, Don, e depois do Volga, até ao Cáucaso. Nem mesmo um De Gaulle, no meio das ruínas de Estalinegrado, pôde impedir-se de afirmar a sua admiração, ao ver onde Hitler havia chegado!
E a Europa, entretanto? Em três anos, Hitler realizara uma unificação da Europa bastante mais ampla do que aquela que Napoleão tentara criar. 450 milhões de europeus encontravam-se desde 42 reunidos numa mesma unidade territorial, europeus que Hitler deveria aliás alimentar e dirigir até ao fim das hostilidades. E quem asseguraria a união moral para além disso? Na Frente, 600.000 jovens voluntários não-alemães estavam prontos para essa tarefa. Representavam cada nação do continente, alinhados nas 38 divisões das Waffen SS e iam depois da guerra assegurar, nos seus respectivos países, o respeito pela diversidade e a personalidade de cada um destes povos. Em dez anos, harmonizar-se-iam as diferenças. Não teria havido nem um único desempregado na Europa, os países poder-se-iam desenvolver num espaço aberto a todos, de dez mil quilómetros de largura, do Mar do Norte ao Pacífico. Tudo isto foi concebido, preparado e realizado pelo seu indivíduo.
Hitler foi o maior estadista deste século. O que foram, ao lado dele, um velho olheirento como Churchill, que perdeu o Império Britânico, um perturbado mental como Roosevelt ou mesmo um De Gaulle, que nunca ousou ir até ao fim das suas reformas e que, acima de tudo, deixou desvanecer-se em fumo o esplêndido império que levava a glória da França a todo o universo? Hitler foi o génio integral. Você, modesta jornalista, trata-o como indivíduo. Se mais ninguém pudesse dizer enormidades desse tipo, a vida tornar-se monótona.
O mundo moderno, amontoado de impostos, de escândalos, de corrupções e de um materialismo galopante, tem por vezes necessidade de sorrir e de se descontrair. Ríamos, pois, daqueles que sobre esta Terra não são nada, ou quase nada, e que cheios de soberba pretendem espezinhar aqueles que realizaram uma obra grandiosa, sem paralelo na vida do Universo. Para terminar, você diz que o seu indivíduo era muito provavelmente de origem judia. Antes mesmo da guerra, alguns brincalhões reunidos lançaram esse disparate. O Daily Mirror, em 14 de Outubro de 1933, o Paris Soir, a 5 de Agosto de 1939, e, enfim, já depois da guerra, um padre sem calças de nome Jetzinger. Há muito tempo que essa história foi desmascarada. O mais sabedor dos historiadores filo-judeus, Werner Masser, pulverizou a teoria. Diz ele, na sua obra Hitler, Adolf, da maneira mais categórica, que nunca foi estabelecida qualquer afinidade com um procriador judeu.
Mas se isso lhe dá prazer, não hesite. Instale um Hitler judeu entre os profetas hebreus no interior das sinagogas. De qualquer maneira, ele fará melhor papel do que um pequeno Shamir qualquer.
Independente — Qual é a história de Tintim que prefere?
L. D. — É, incontestavelmente, Tintim no País dos Sovietes. Porque Hergé foi muito particularmente com este álbum um precursor, denunciando Estaline como o mais selvagem dos assassinos do século, enquanto alguns o apresentavam como um Messias e que o poeta Aragon proclamava: «Ó grande Estaline, Tu que fazes renascer o homem, Tu que fazer florir a Primavera...» Em 1975, Miterrand cantava ainda a glória da U.R.S.S. «sobretudo porque a sua revolução foi feita a partir de análises que nos são próprias». O Tintim de Hergé, por seu lado, desmascara logo em 1929 a ignomínia comunista, hoje feita em farrapos, mas, infelizmente, liquidada demasiado tarde, uma vez que os prejuízos são hoje irreparáveis.
Foi seguindo o exemplo de Tintim que partimos em 1941 para a U.R.S.S. com o objectivo de aniquilar aquele regime diabólico e de trazer vinte povos admiráveis para uma comunidade europeia. Em 42 tudo era possível. O nosso esforço para libertar aqueles países foi deitado por terra, não por um comunismo, que reduzido a si próprio teria sido inexoravelmente varrido, mas por um fanatismo aberrante de um Roosevelt que foi, logo antes de Estalinegrado, o grande fornecedor de armas e material dos soviéticos. Foram ainda os americanos que levaram Staline a Berlim, entregando-lhe, como escravos, 100 milhões de europeus de Leste. De 1945 a 1990, os americanos pagariam a factura daquela aberração, que lhes custaria centenas de milhares de dólares, em armamento nuclear, antes de terem assistido à queda da U.R.S.S., hoje desfigurada e sem dúvida irrecuperável durante muito tempo.
Independente — Diz-se que Hergé foi colonialista, anti-semita e nazi. Que pensa de tudo isto?
L. D. — Hergé era já colonialista antes de 1940, à semelhança de toda a gente. Ou seja, sensível ao papel da Europa entre povos que tinham necessidade do socorro material, de ordem, de um princípio de cultura. Tudo isto numa atmosfera de jovialidade. Não existe uma só palavra que possa ferir ou menosprezar os povos de cor, nos milhares de desenhos de Hergé. A guerra, aliás, não liquidou o colonialismo. Os americanos vencedores limitaram-se a dar a volta a uma ordem colonial que deveria ter prosseguido a sua acção durante mais cinquenta anos, até poderem ser formadas as elites capazes de lhe suceder. Os americanos arruinaram esta receita mundial, para subtrair a cinquenta países bruscamente tornados acéfalos, grandiosos ganhos económicos, a qualquer preço que fosse, tal como se viu no massacre com napalm de mulheres e crianças do Vietname ou na gigantesca matança dos civis do Iraque, perpretada sob a capa hipócrita da democracia, para assegurar o controle dos petróleos orientais e a manutenção da ditadura mundial dos Estados Unidos, desprezando todas as leis internacionais fundamentais.
Quanto ao anti-semitismo de Hergé, posso apenas dizer que em toda a sua obra encontramos apenas cinco ou seis narizes em gancho. Há algum tipo de anti-semitismo nisso? Com que então agora é proibido rir dos atributos divertidos? É verdade que Hergé se divertiu uma ou outra vez com o seu Blumenstein. Será que o Judeu se transformou numa criatura sagrada? Intocável? Que se profana, ao cometer-se o crime de rir por causa do nariz? Esta susceptibilidade toca as raias do ridículo. Os judeus deveriam divertir-se com os desenhos de Hergé, em vez de se chocarem dramaticamente. No dia em que o pintor Labisse fez um retrato da minha pessoa particularmente mordaz, apressei-me a conservar uma reprodução na minha colecção. Olho para ela de tempos a tempos, sempre sorridente. Diga pois aos seus israelitas que façam o mesmo.
E, finalmente, Tintim era ou não nazi? Não lhe respondo. Não tem outro remédio senão esperar pelo meu livro. A surpresa, tê-la-á folheando-o. Está decepcionada? Não ficará por muito mais tempo.
Independente — É a favor ou contra a Europa federalista? Que pensa de toda a polémica actual em torno do Tratado de Maastricht?
L. D. — Não acredito na comédia de Maastricht. Há quarenta anos que se cortejam os europeus com a pretensa Europa do Mercado Comum, uma Europa de funcionários, uma Europa materialista de comerciantes de sopa, que não corresponde em nada às aspirações morais dos povos. A esta altura do campeonato, desconhecem-se ainda a composição dos pratos que eles confeccionam nas nossas costas. No que respeita especificamente ao Tratado de Maastricht, diluído em centenas de páginas de erratas, é mais do que nunca a ignorância que reina. Mesmo que o sim aconteça num ou noutro referendo, como por exemplo na Irlanda, é um falso sim que sai das urnas, acordado por 60% de eleitores materialistas, a quem foi dito que o seu país receberia milhares de ecus do Mercado Comum se eles votassem bem. Mas esses mesmos 60% apenas foram conseguidos porque 45% se abstiveram de votar! Mais uma vez, é apenas um terço dos irlandeses que disseram sim. No resto da Europa passa-se o mesmo.
Quando as multidões querem ver aprovado um projecto, devem sentir que há um ideal que o precede e que o projecta vinga, como um geiser, saído direitinho da sua sensibilidade e não de uma passividade morna. Depois da derrota da Europa de Hitler, prometeu-se a todos a lua e as estrelas. As democracias trouxeram-lhe a corrupção, entregando-se à caça do lucro fácil, e expandindo por todo o lado um materialismo desmoralizante. Demoliram famílias, aniquilaram a ideia de solidariedade, liquidaram o respeito por toda a moral. As pessoas aguardam, sem grande fé. Os políticos já não precisam de nada disso, uma vez que deixaram há muito de acreditar. Tacteiam em vão nos seus bolsos esvaziados. Que se vote em 92 a favor de Maastricht ou que se rejeite o tratado, não tem muita importância: de qualquer das maneiras é uma falsa Europa, de onde sairá uma máquina do tipo industrial enferrujada, incapaz de criar o futuro.
Algumas horas antes de morrer, Hitler proferiu esta amarga frase: «Fui a última chance da Europa». Será que é assim? Perante um futuro particularmente armadilhado, a Europa não representará no século XXI mais do que 6 ou 7% da humanidade. Os Estados Unidos, que querem brincar aos fortalhaços, estão minados por problemas económicos, sociais, raciais, e por um materialismo que os devora literalmente. Podem, com efeito, no século XXI, desmoronar-se tão bruscamente como aconteceu com a U.R.S.S. Quanto à África, grangrenada física e moralmente, será aniquilada pelos seus cem milhões de sidosos. Ao inverso, a imensa Ásia, com os seus três biliões de seres inteligentes, sóbrios, trabalhadores, formados na dura e esplêndida escola social do Japão, terá o papel principal no próximo século. Perante eles, que representarão os 20 milhões de peões europeus dos gabinetes de Bruxelas, com as suas lutas intermináveis, que esburacam cada vez mais as reservas de cada país? As perspectivas não são encorajantes. Terá a Europa alguma hipótese de sobreviver e manter-se à tona? É problemático.
A actual fórmula das democracias, com todos os seus homenzinhos irresponsáveis, à mercê dos humores de uma opinião pública desgastada, é portadora de todas estas catástrofes. É preciso ter esperança, claro, mas a Europa está muito longe do objectivo inicial. Para o atingir, tudo tem de mudar. Apenas um chefe, um verdadeiro, escolhido, amado e apoiado pelos povos, poderia, in extremis, salvar a jogada. Mas estamos longe. Não acredite se lhe disserem que na vida tudo se resolve. Às vezes tudo se desmorona. A Grécia desmoronou-se. O grandioso Império Romano desmoronou-se. A Europa, transformar-se-á, ela própria, no próximo século, num pântano onde os povos exaustos e cansados terão perdido tudo?... Tudo depende da vontade dos homens, da aparição de um verdadeiro chefe, e também de Deus, de quem você não parece gostar lá muito e que contudo tudo decide.
O meu livro Tintim, mon copain é a história conjugada do criador duma personalidade imaginária e de um homem de acção, ainda vivo, muito vivo, que juntos quiseram criar esta Europa, que há cinquenta anos poderia ter sido salva. Um dia, talvez nos arrependamos amargamente de, em 1945, as nossas bandeiras não terem triunfado!
(Sarah Adamopoulos, In O Independente, caderno Viver n.º 98, 26 de Junho de 1992, págs. 18 a 22)
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Entrevista com Maurice Bardèche
Num tempo já longínquo em que nem se antevia que a Rússia deixasse de ser comunista, a revista portuense "Último Reduto" realizou uma entrevista com o escritor Maurice Bardèche.
Transcreve-se aqui o trabalho, uma vez que poucos certamente têm a possibilidade de o conhecer do papel.
Último Reduto - Maurice Bardèche, você que viveu o período que antecedeu a II Guerra, que viveu a Guerra e também o pós guerra qual a sua opinião sobre a época actual?
Maurice Bardèche – A época actual é uma época cega, hipócrita e incapaz de grandeza: são simplórios impressionados com as imagens que lhes são mostradas (pelos mass media). Criaram uma imagem completamente falsa deles mesmos e da guerra: a imagem que lhes foi imposta. Os alemães, nação plástica, foram transformados pela reeducação, tal como o tinham sido por Hitler. Esqueceram o seu heroísmo e o exemplo que deram ao mundo. Os franceses, esses esqueceram que foram uma nação vencida e retomaram todos os defeitos que foram a causa da sua derrota. Sufocam sob o regime democrático, sem ousarem inventar uma ideia política diferente.
U.R. Qual a sua posição face ao movimento cultural designado por Nova Direita. Está de acordo com os princípios que orientam esta nova corrente?
M.B. A Nova Direita prestou um grande serviço abrindo as janelas, fazendo-nos conhecer uma cultura americana e anglo saxónica que ignorávamos e impedindo que ficássemos prisioneiros da nossa convicção da excelência exclusiva do génio francês. Trata-se de uma renovação cultural que deu uma imagem mais dinâmica da Direita. Igualmente uma imagem mais tolerante.
Mas esta renovação não se assume do ponto de vista político. Não tem outros objectivos que não sejam apenas os de influenciar por infiltração a classe política, ao jeito da Franco-Maçonaria. Esta táctica que exige muitos anos, arrisca-se ao malogro dada a rapidez da História. A sua visão do Homem, inspirada em Nietzsche, insiste no valor da energia e da virilidade. Neste ponto, ela é um excelente instrumento de renascimento cultural. Mas tem também o defeito de passar por cima de vinte séculos de civilização cristã, o que diminui em muito o seu impacto sob o ponto de vista prático.
O seu arranque foi muito vigoroso mas a sua influência é estagnante devido à sua afectação de apoliticismo, que não engana ninguém e que os impede hoje em dia de propor as soluções práticas e propriamente dito políticas que a Oposição carece.
U.R. Alguém já o definiu como um anarquista de Direita. Que pensa disso?
M.B. Não estou de acordo com essa qualificação de anarquista de Direita. Pelo contrário, a minha posição política é muito coerente. Condeno o regime democrático na sua qualidade de regime de decomposição e de facilidades. Exijo que não se rejeite a experiência dos regimes de unidade nacional que fizeram a força e a grandeza da Alemanha e da Itália, que estes sejam julgados com objectividade e que deles seja adoptado tudo o que tiveram de salutar para esses países, ao mesmo tempo evitando os seus excessos.
Tenho esperança que os Estados europeus se libertem da dominação da plutocracia internacional e que os seus regimes políticos sejam fundados sobre uma adesão popular e sobre uma justiça social.
Não creio que a burguesia rica dos nossos países, demasiado podre e abastardada, nos possa impôr as suas normas culturais.
Foi esta posição anti-burguesa e anti-reaccionária que me trouxe, às vezes, essa qualificação de anarquista de Direita que no que me diz respeito é completamente imprópria e deformante.
U.R. Há escritores, e não dos piores, que defendem que a salvação da Europa poderá vir da Rússía. Pode-nos sintetizar a sua opinião sobre este tema que a curto prazo nos poderá vir a afectar?
M.B. Sempre fui da opinião que a Europa devia procurar tornar-se independente das duas superpotências pela sua estratégia própria, economia e concepções políticas. Mas é evidente que na hora actual, devido ao tempo perdido, as nações europeias não podem conservar a sua independência senão sob a protecção dos Estados Unidos. A URSS tal como é hoje, não pode sonhar outra coisa que não seja instaurar o seu protectorado sobre a Europa, mais provavelmente pela sua finlandização que pela guerra.
Para que uma aliança com a URSS fosse possível, tornar-se-ia necessário que ela deixasse de ser comunista, situação que não é de encarar actualmente.
U.R. Maurice Bardèche, as suas actividades políticas foram nulas durante a ocupação alemã da França, durante a II Guerra Mundial. Qual a sua opinião sobre essa época?
M.B. A ocupação de uma parte do território francês pelos alemães foi um período difícil para todos os franceses, o que é natural, mas foi igualmente um período dramático, não o devendo ter sido. Se Churchill primeiro e os soviéticos depois não tivessem mobilizado a população civil da França para uma guerra política contra os regimes ditos fascistas, a França ter-se-ia mantido à margem desta guerra, como lhe garantia o armistício, e a divisão e o ódio teriam sido evitados. Foram os criminosos políticos, armados pelo estrangeiro, que instauraram em primeiro lugar o terrorismo e depois a guerra civil.
A França foi levada à força para esta guerra donde o marechal Pétain a terá querido livrar. Os ódios criados por esta situação foram saciados pela depuração de 1945, que fez mais vítimas que o célebre Terror de 1793. Esta depuração confiscou o poder cultural e o poder político em proveito da minoria que tinha a pretensão de ter resistido aos alemães e de ter tido sobre eles uma vitória que não foi senão o resultado do desembarque anglo americano.
U.R. Inevitavelmente teria que lhe pôr esta questão: você, Maurice Bardèche, que privou durante tantos anos com o seu cunhado e genial poeta Robert Brasillach, que foi sempre o seu melhor defensor e divulgador, o que pensa de Robert Brasillach?
M.B. Não posso num período tão curto falar de Robert Brasillach. Era um homem corajoso, terno e generoso, a quem a indignação e o desejo de servir a sua pátria inspiraram as posições políticas que assumiu antes da Guerra, juntamente com toda a extrema-direita francesa, contra a guerra criminosa desejada pelo judaísmo internacional, posição que continuou a manter durante o período da ocupação.
Apesar da petição feita por todos os grandes escritores do seu tempo, foi condenado à morte devido às suas ideias políticas que tinha divulgado nos seus artigos publicados no semanário Je Suis Partout.
A sua morte foi uma perda irreparável para uma geração literária da qual ele tinha sido o grande animador e que foi destruída pela perseguição, tal como a geração de 1914 o foi pela I Guerra.
U.R. Gostaria que nos falasse sobre o longo processo de que foi vítima pela publicação do livro "Nuremberga ou a terra prometida", pelo qual foi ironicamente acusado de propaganda anarquista, para terminar por ser condenado a um ano de prisão e à destruição da edição incriminada.
Por que motivo o presidente Coty lhe terá indultado a pena?
M.B. O meu livro sobre o processo de Nuremberga foi o primeiro protesto na Europa contra o simulacro de julgamento organizado pelos vencedores contra os homens de Estado e os generais dos vencidos. Este julgamento falsificou a História e lançou um libelo acusatório que poderia de igual forma ser instaurado aos Aliados pelas atrocidades cometidas por estes e pelas suas responsabilidades no declarar e prosseguir da guerra. No decurso do processo que me foi instaurado fui preso preventivamente, medida nunca antes tomada num processo de imprensa, fui absolvido num primeiro julgamento e depois condenado por apelo para uma instância superior, a um ano de cadeia, por magistrados especialmente nomeados para a circunstância.
O presidente Coty utilizou o seu direito de perdão para encurtar a duração da minha pena, pela sua indignação de homem honesto contra um procedimento que era aos seus olhos, um escandaloso atentado contra a liberdade de expressão.
U.R. O movimento que você criou, o Movimento Social Europeu, para além de ter conseguido uma união real nos nacionalistas-revolucionários debaixo da mesma bandeira em toda a Europa, chegou a conseguir uma posição de relevo no panorama político. Que motivos o levaram a dissolvê-lo?
Penso que seria útil que nos falasse do M.S.E., das suas ideias, dos seus objectivos e da sua experiência, e em que medida o devemos ter como exemplo.
M.B. O objectivo do M.S.E. era um levantamento moral da Europa com o objectivo imediato de reagir contra o processo de reeducação da Alemanha e da Europa. O movimento deveria reagrupar os partidos mais dinâmicos dos diferentes países europeus. Propunha-se o desenvolvimento desses partidos e o esclarecimento da opinião pública. Esse desenvolvimento foi travado por reacções policiais, perseguições e pela ausência de um suporte de imprensa que fosse eficaz.
Os diferentes governos cedo interditaram a entrada no seu território dos membros do praesidium do M.S.E. Estas dificuldades levaram-nos a temer que o M.S.E. não fosse senão um entendimento formal sem acção política real. A morte dramática do nosso principal correspondente alemão Karl Heinz Priester igualmente nos levou a tomar a decisão de pôr a organização numa semi-obscuridade. Não houve dissolução mas o MSE deixou de ser um movimento político para ser apenas representado por revistas e boletins de imprensa. As ideias que norteiam o MSE são idênticas às que anteriormente já expus.
U.R. Em 1952, você criou a mais antiga e prestigiada publicação da Oposição Europeia: o "Défense de l`Occident". Pode-nos sintetizar os objectivos de "Défense de l`Occident" e quais as ilacções a tirar de mais de 30 anos de luta?
M.B. "Défense de l`Occident" foi fundada em 1952 para sustentar a acção do Movimento Social Europeu. Equipas sucessivas me ajudaram no início. Essas equipas provinham das gerações da Guerra e depois por homens mais jovens interessados pelas nossas ideias.
Mas aos poucos a polarização da vida política francesa mobilizou os militantes para os grandes partidos e provocou o esfrangalhamento das pequenas formações da Oposição. "Défense de l`lOccident" acabou por não ser senão uma revista de ideias, na qual muitos aspectos da vida económica e sobretudo cultural deixaram de ser tratados. Ela já não era senão a expressão das minhas ideias pessoais. Constatando este isolamento, decidi suspender a publicação da revista ao cabo do seu trigésimo ano de publicação.
U.R. Creio, sem qualquer espécie de exagero ou bajulação, que você é o mais antigo e o mais célebre combatente e ideólogo da Terceira Posição, talvez o último dessa extraordinária geração de escritores, poetas e artistas que a França nos deu.
A minha ideia seria que falasse um pouco sobre tudo isto, sobre a sua geração, sobre a sua experiência, enfim sobre tantos anos de luta.
M.B. A resposta a esta pergunta exigiria um livro inteiro. A nossa geração foi desfigurada e sacrificada pela confiscação dos meios de expressão.
As sensibilidades são, hoje em dia, enquadradas e canalizadas. Sob o nome de Liberdade ou sob o nome de Revolução, conformismos opostos e todo poderosos foram criados.
O poder ilimitado dos sindicatos impôs esses mesmos conformismos à classe operária e dilacerou a sua vitalidade e independência naturais.
Diante desta artilharia intelectual análoga às novas armas que apareceram no campo da estratégia, as armas individuais são impotentes. Não é possível repetir conquistas de poder progressivas como as que a história do NSDAP nos oferece como modelo. Os golpes de Estado dar-se-ão doravante do interior. É a gravidade das circunstâncias que obrigará à mudança. Tudo o que podemos fazer é manter um modelo, não deixando morrer uma Ideia. Isso diz respeito agora à vossa geração e não à dos sobreviventes da nossa.
U.R. Para terminar, embora tivesse vontade de o ficar aqui a escutar durante horas, gostaria que falasse sobre qualquer assunto que por lapso não tenha sido focado, e por fim, que aqui deixasse o seu conselho e última mensagem aos camaradas portugueses.
M.B. A nossa sociedade já só tem a hipótese de escolha entre duas formas de escravatura faraónicas: aquela que nos propõe o mecanismo industrial capitalista e apela que nos propõe a ditadura do proletariado.
Nós somos hoje os únicos defensores da liberdade real. Mas essa liberdade real pressupõe a independência e a independência só é possível pela renúncia a uma parte das liberdades formais, oferecidas pela democracia. Acredito que a liberdade real se há-de impôr um dia se o desejo dos homens de serem eles mesmos e não produtos uniformizados triunfar sobre o desejo de conforto e demissão.
O que falta aos nossos contemporâneos é a virilidade e a vontade! Vós tendes as mãos nuas, mas as vossas armas neste combate são a vossa lucidez, a vossa energia, a vossa paciência e a vossa generosidade. São armas preciosas, mas a sua utilização depende hoje em dia das circunstâncias que decidirão o vosso futuro e sobre as quais vós não tendes nenhum poder.
Mas é necessário estar pronto, e de momento a vossa missão é estarem prontos!
- Je vous en remercie, Maurice Bardèche!
E assim terminou a entrevista que tivemos o prazer de fazer com Maurice Bardèche: um símbolo da Oposição Europeia, uma vida de luta que todos os camaradas deverão tomar como exemplo.
Esta entrevista foi realizada em Dezembro do ano transacto pelo nosso director Manuel Monteiro, com a colaboração do camarada Henrique dos Reis.
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Transcreve-se aqui o trabalho, uma vez que poucos certamente têm a possibilidade de o conhecer do papel.
Último Reduto - Maurice Bardèche, você que viveu o período que antecedeu a II Guerra, que viveu a Guerra e também o pós guerra qual a sua opinião sobre a época actual?
Maurice Bardèche – A época actual é uma época cega, hipócrita e incapaz de grandeza: são simplórios impressionados com as imagens que lhes são mostradas (pelos mass media). Criaram uma imagem completamente falsa deles mesmos e da guerra: a imagem que lhes foi imposta. Os alemães, nação plástica, foram transformados pela reeducação, tal como o tinham sido por Hitler. Esqueceram o seu heroísmo e o exemplo que deram ao mundo. Os franceses, esses esqueceram que foram uma nação vencida e retomaram todos os defeitos que foram a causa da sua derrota. Sufocam sob o regime democrático, sem ousarem inventar uma ideia política diferente.
U.R. Qual a sua posição face ao movimento cultural designado por Nova Direita. Está de acordo com os princípios que orientam esta nova corrente?
M.B. A Nova Direita prestou um grande serviço abrindo as janelas, fazendo-nos conhecer uma cultura americana e anglo saxónica que ignorávamos e impedindo que ficássemos prisioneiros da nossa convicção da excelência exclusiva do génio francês. Trata-se de uma renovação cultural que deu uma imagem mais dinâmica da Direita. Igualmente uma imagem mais tolerante.
Mas esta renovação não se assume do ponto de vista político. Não tem outros objectivos que não sejam apenas os de influenciar por infiltração a classe política, ao jeito da Franco-Maçonaria. Esta táctica que exige muitos anos, arrisca-se ao malogro dada a rapidez da História. A sua visão do Homem, inspirada em Nietzsche, insiste no valor da energia e da virilidade. Neste ponto, ela é um excelente instrumento de renascimento cultural. Mas tem também o defeito de passar por cima de vinte séculos de civilização cristã, o que diminui em muito o seu impacto sob o ponto de vista prático.
O seu arranque foi muito vigoroso mas a sua influência é estagnante devido à sua afectação de apoliticismo, que não engana ninguém e que os impede hoje em dia de propor as soluções práticas e propriamente dito políticas que a Oposição carece.
U.R. Alguém já o definiu como um anarquista de Direita. Que pensa disso?
M.B. Não estou de acordo com essa qualificação de anarquista de Direita. Pelo contrário, a minha posição política é muito coerente. Condeno o regime democrático na sua qualidade de regime de decomposição e de facilidades. Exijo que não se rejeite a experiência dos regimes de unidade nacional que fizeram a força e a grandeza da Alemanha e da Itália, que estes sejam julgados com objectividade e que deles seja adoptado tudo o que tiveram de salutar para esses países, ao mesmo tempo evitando os seus excessos.
Tenho esperança que os Estados europeus se libertem da dominação da plutocracia internacional e que os seus regimes políticos sejam fundados sobre uma adesão popular e sobre uma justiça social.
Não creio que a burguesia rica dos nossos países, demasiado podre e abastardada, nos possa impôr as suas normas culturais.
Foi esta posição anti-burguesa e anti-reaccionária que me trouxe, às vezes, essa qualificação de anarquista de Direita que no que me diz respeito é completamente imprópria e deformante.
U.R. Há escritores, e não dos piores, que defendem que a salvação da Europa poderá vir da Rússía. Pode-nos sintetizar a sua opinião sobre este tema que a curto prazo nos poderá vir a afectar?
M.B. Sempre fui da opinião que a Europa devia procurar tornar-se independente das duas superpotências pela sua estratégia própria, economia e concepções políticas. Mas é evidente que na hora actual, devido ao tempo perdido, as nações europeias não podem conservar a sua independência senão sob a protecção dos Estados Unidos. A URSS tal como é hoje, não pode sonhar outra coisa que não seja instaurar o seu protectorado sobre a Europa, mais provavelmente pela sua finlandização que pela guerra.
Para que uma aliança com a URSS fosse possível, tornar-se-ia necessário que ela deixasse de ser comunista, situação que não é de encarar actualmente.
U.R. Maurice Bardèche, as suas actividades políticas foram nulas durante a ocupação alemã da França, durante a II Guerra Mundial. Qual a sua opinião sobre essa época?
M.B. A ocupação de uma parte do território francês pelos alemães foi um período difícil para todos os franceses, o que é natural, mas foi igualmente um período dramático, não o devendo ter sido. Se Churchill primeiro e os soviéticos depois não tivessem mobilizado a população civil da França para uma guerra política contra os regimes ditos fascistas, a França ter-se-ia mantido à margem desta guerra, como lhe garantia o armistício, e a divisão e o ódio teriam sido evitados. Foram os criminosos políticos, armados pelo estrangeiro, que instauraram em primeiro lugar o terrorismo e depois a guerra civil.
A França foi levada à força para esta guerra donde o marechal Pétain a terá querido livrar. Os ódios criados por esta situação foram saciados pela depuração de 1945, que fez mais vítimas que o célebre Terror de 1793. Esta depuração confiscou o poder cultural e o poder político em proveito da minoria que tinha a pretensão de ter resistido aos alemães e de ter tido sobre eles uma vitória que não foi senão o resultado do desembarque anglo americano.
U.R. Inevitavelmente teria que lhe pôr esta questão: você, Maurice Bardèche, que privou durante tantos anos com o seu cunhado e genial poeta Robert Brasillach, que foi sempre o seu melhor defensor e divulgador, o que pensa de Robert Brasillach?
M.B. Não posso num período tão curto falar de Robert Brasillach. Era um homem corajoso, terno e generoso, a quem a indignação e o desejo de servir a sua pátria inspiraram as posições políticas que assumiu antes da Guerra, juntamente com toda a extrema-direita francesa, contra a guerra criminosa desejada pelo judaísmo internacional, posição que continuou a manter durante o período da ocupação.
Apesar da petição feita por todos os grandes escritores do seu tempo, foi condenado à morte devido às suas ideias políticas que tinha divulgado nos seus artigos publicados no semanário Je Suis Partout.
A sua morte foi uma perda irreparável para uma geração literária da qual ele tinha sido o grande animador e que foi destruída pela perseguição, tal como a geração de 1914 o foi pela I Guerra.
U.R. Gostaria que nos falasse sobre o longo processo de que foi vítima pela publicação do livro "Nuremberga ou a terra prometida", pelo qual foi ironicamente acusado de propaganda anarquista, para terminar por ser condenado a um ano de prisão e à destruição da edição incriminada.
Por que motivo o presidente Coty lhe terá indultado a pena?
M.B. O meu livro sobre o processo de Nuremberga foi o primeiro protesto na Europa contra o simulacro de julgamento organizado pelos vencedores contra os homens de Estado e os generais dos vencidos. Este julgamento falsificou a História e lançou um libelo acusatório que poderia de igual forma ser instaurado aos Aliados pelas atrocidades cometidas por estes e pelas suas responsabilidades no declarar e prosseguir da guerra. No decurso do processo que me foi instaurado fui preso preventivamente, medida nunca antes tomada num processo de imprensa, fui absolvido num primeiro julgamento e depois condenado por apelo para uma instância superior, a um ano de cadeia, por magistrados especialmente nomeados para a circunstância.
O presidente Coty utilizou o seu direito de perdão para encurtar a duração da minha pena, pela sua indignação de homem honesto contra um procedimento que era aos seus olhos, um escandaloso atentado contra a liberdade de expressão.
U.R. O movimento que você criou, o Movimento Social Europeu, para além de ter conseguido uma união real nos nacionalistas-revolucionários debaixo da mesma bandeira em toda a Europa, chegou a conseguir uma posição de relevo no panorama político. Que motivos o levaram a dissolvê-lo?
Penso que seria útil que nos falasse do M.S.E., das suas ideias, dos seus objectivos e da sua experiência, e em que medida o devemos ter como exemplo.
M.B. O objectivo do M.S.E. era um levantamento moral da Europa com o objectivo imediato de reagir contra o processo de reeducação da Alemanha e da Europa. O movimento deveria reagrupar os partidos mais dinâmicos dos diferentes países europeus. Propunha-se o desenvolvimento desses partidos e o esclarecimento da opinião pública. Esse desenvolvimento foi travado por reacções policiais, perseguições e pela ausência de um suporte de imprensa que fosse eficaz.
Os diferentes governos cedo interditaram a entrada no seu território dos membros do praesidium do M.S.E. Estas dificuldades levaram-nos a temer que o M.S.E. não fosse senão um entendimento formal sem acção política real. A morte dramática do nosso principal correspondente alemão Karl Heinz Priester igualmente nos levou a tomar a decisão de pôr a organização numa semi-obscuridade. Não houve dissolução mas o MSE deixou de ser um movimento político para ser apenas representado por revistas e boletins de imprensa. As ideias que norteiam o MSE são idênticas às que anteriormente já expus.
U.R. Em 1952, você criou a mais antiga e prestigiada publicação da Oposição Europeia: o "Défense de l`Occident". Pode-nos sintetizar os objectivos de "Défense de l`Occident" e quais as ilacções a tirar de mais de 30 anos de luta?
M.B. "Défense de l`Occident" foi fundada em 1952 para sustentar a acção do Movimento Social Europeu. Equipas sucessivas me ajudaram no início. Essas equipas provinham das gerações da Guerra e depois por homens mais jovens interessados pelas nossas ideias.
Mas aos poucos a polarização da vida política francesa mobilizou os militantes para os grandes partidos e provocou o esfrangalhamento das pequenas formações da Oposição. "Défense de l`lOccident" acabou por não ser senão uma revista de ideias, na qual muitos aspectos da vida económica e sobretudo cultural deixaram de ser tratados. Ela já não era senão a expressão das minhas ideias pessoais. Constatando este isolamento, decidi suspender a publicação da revista ao cabo do seu trigésimo ano de publicação.
U.R. Creio, sem qualquer espécie de exagero ou bajulação, que você é o mais antigo e o mais célebre combatente e ideólogo da Terceira Posição, talvez o último dessa extraordinária geração de escritores, poetas e artistas que a França nos deu.
A minha ideia seria que falasse um pouco sobre tudo isto, sobre a sua geração, sobre a sua experiência, enfim sobre tantos anos de luta.
M.B. A resposta a esta pergunta exigiria um livro inteiro. A nossa geração foi desfigurada e sacrificada pela confiscação dos meios de expressão.
As sensibilidades são, hoje em dia, enquadradas e canalizadas. Sob o nome de Liberdade ou sob o nome de Revolução, conformismos opostos e todo poderosos foram criados.
O poder ilimitado dos sindicatos impôs esses mesmos conformismos à classe operária e dilacerou a sua vitalidade e independência naturais.
Diante desta artilharia intelectual análoga às novas armas que apareceram no campo da estratégia, as armas individuais são impotentes. Não é possível repetir conquistas de poder progressivas como as que a história do NSDAP nos oferece como modelo. Os golpes de Estado dar-se-ão doravante do interior. É a gravidade das circunstâncias que obrigará à mudança. Tudo o que podemos fazer é manter um modelo, não deixando morrer uma Ideia. Isso diz respeito agora à vossa geração e não à dos sobreviventes da nossa.
U.R. Para terminar, embora tivesse vontade de o ficar aqui a escutar durante horas, gostaria que falasse sobre qualquer assunto que por lapso não tenha sido focado, e por fim, que aqui deixasse o seu conselho e última mensagem aos camaradas portugueses.
M.B. A nossa sociedade já só tem a hipótese de escolha entre duas formas de escravatura faraónicas: aquela que nos propõe o mecanismo industrial capitalista e apela que nos propõe a ditadura do proletariado.
Nós somos hoje os únicos defensores da liberdade real. Mas essa liberdade real pressupõe a independência e a independência só é possível pela renúncia a uma parte das liberdades formais, oferecidas pela democracia. Acredito que a liberdade real se há-de impôr um dia se o desejo dos homens de serem eles mesmos e não produtos uniformizados triunfar sobre o desejo de conforto e demissão.
O que falta aos nossos contemporâneos é a virilidade e a vontade! Vós tendes as mãos nuas, mas as vossas armas neste combate são a vossa lucidez, a vossa energia, a vossa paciência e a vossa generosidade. São armas preciosas, mas a sua utilização depende hoje em dia das circunstâncias que decidirão o vosso futuro e sobre as quais vós não tendes nenhum poder.
Mas é necessário estar pronto, e de momento a vossa missão é estarem prontos!
- Je vous en remercie, Maurice Bardèche!
E assim terminou a entrevista que tivemos o prazer de fazer com Maurice Bardèche: um símbolo da Oposição Europeia, uma vida de luta que todos os camaradas deverão tomar como exemplo.
Esta entrevista foi realizada em Dezembro do ano transacto pelo nosso director Manuel Monteiro, com a colaboração do camarada Henrique dos Reis.
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