sábado, julho 31, 2004
O FASCISMO EM PORTUGAL?
Em 1926, o Exército português toma conta do poder, pondo termo ao período do "Liberalismo convulsivo" republicano. As histórias oficiais dos quarenta anos seguintes hão-de enaltecer o gesto, salientando a unidade da Força Armada no movimento, o seu carácter apartidário, a figura do seu efémero Caudilho - Gomes da Costa, um militarão rude e corajoso, encanecido, quanto o permitiram o tempo e o lugar, nas lides da Guerra - bem depressa arrumado na prateleira.
A verdade não foi bem esta, embora não andasse por muito longe. Gomes da Costa fora estimulado e industriado por um núcleo de "conselheiros" civis; os militares partidários do Regime vencido intentariam ainda o regresso aos velhos tempos e se a "indefinição" ideológica ajudou a achar apoios e neutralizar resistências é certo que os comités de jovens oficiais nacionalistas tinham a teia bem montada nas fileiras e a nota dominante das proclamações deixava já adivinhar as linhas mestras do futuro.
Depois, se a História é feita de acção e reacção mesmo que qualquer dos termos implique carga positiva ou negativa - não é de estranhar que, tendo sido característica essencial da Primeira República o anticlericalismo maçonizante, a sua queda trouxesse, pelo menos, o dado da Igreja ou do seu braço político secular. Nesta Sociedade pré-industrial em arranque para o desenvolvimento, vencido o radicalismo jacobino pela força da sua inépcia e contradições, não é muito estranho que ficasse de pé, como corpo de doutrina e instituição, o Catolicismo que, além de ter representado, até por legítima defesa, um papel fundamental no combate político contra o Regime, tinha a força que lhe advinha duma concepção geral do mundo - aliás reforçada pelas encíclicas leoninas e pela ressurreição tomista - e, também, de ser, apesar de tudo, uma organização supranacional.
Deste modo, tudo concorre para que Oliveira Salazar, um homem de formação e militância católica (como prova a exaustiva biografia de Alberto Franco Nogueira agora aparecida) venha a ser, como entendido máximo no problema crucial do país - o financeiro - a média unificadora das tendências sociopolíticas e blocos de pressão que apoiavam a Ditadura Militar, o "recuperador" do movimento "apolítico" do 28 de Maio.
Mas se é um católico está longe de ser um clerical, uma eminência de sacristia e beatério, um produto, mesmo de primeira ordem, da internacional vaticana, como o querem fazer crer alguns jarrões da Outra Senhora, literatos mesclados de boticário jacobino, que o 25 de Abril e seus serôdios cravos desenterraram para a farsa-tragédia que nos trouxeram alguns capitães equivocados na vocação, vai para três anos.
Salazar é pois um católico nacionalista, que se permite, com a autoridade de conhecer, estabelecer os limites da Igreja e do Estado, do mesmo modo lúcido e metódico como equilibra as Finanças e assume, pelo controlo das despesas, os cordéis da Administração.
Mas levar as coisas mais longe, caracterizar, a partir de certos paralelos e dum aparato formal que a época e as circunstâncias impunham, o pensar e construir do Estado Novo como subespécie da Revolução Romano-Fascista é desconhecer, pelo menos, os mais elementares fundamentos e realizações dos regimes, ou mera simplificação propagandística da alegre demagogia rectangular, que intenções e efeitos não salvam da asneira.
Havia, é certo, os ventos da História: na Itália, um condottieri revolucionário, lido em Sorel e nos sindicalistas heterodoxos, com uma costela em Nietzsche outra em Maquiavel, aliados a um background socialista e um sentido excepcional da agitprop, bate-se nas trincheiras e nas ruas, conquista o Poder num golpe de audácia, reconcilia a Nação e os Trabalhadores, reinventa Roma, trata de grandeza e de Obras Públicas, põe um Pais a cantar e a secar pântanos, ensina que as classes se devem fundir em milícias negras, tendo por insígnia o feixe de varas, que acompanhava os Antigos, a Autoridade e a Justiça. Na Alemanha - leia-se, numa sociedade tecnologicamente avançada, industrial - um ex-comandante duma guerra perdida, rodeado por intelectuais, por barões do Ostland e proletários de verdade - os tais "castanhos" por fora e "vermelhos" por dentro - ressuscita as insígnias dos Árias, vence uma longa batalha nas ruas e nas urnas, e recebe a investidura na cadeira de Bismark, das mãos de um velho marechal prussiano, contemporâneo de Sédan e das glórias do II Reich, último presidente do primeiro modelo social-democrata europeu, que não deixava saudades.
Talvez porque as mesmas causas provocam efeitos semelhantes, a crise das democracias parlamentares, do sonho maçónico de Genebra, da primeira Europa do Capital, agonizantes entre um sindicalismo abandeirado a Moscovo e a resistência nacional aos projectos mundialistas, cujo sinal partira de Roma, conduzia, por toda a parte, nessa década de trinta em que Salazar lançava os pilares do novo regime, à eclosão de movimentos nacionalistas e autoritários, que, contudo, se alinhavam em dois ramos bem distintos: o fascista, onde o nacionalismo extremo ia acompanhado de claro progressismo e revolução social; o conservador, onde, quase sempre sob os auspícios da Igreja (da outra Roma, não a do Forum Mussolini, mas do Vaticano), o paternalismo e tradicionalismo económicos - mesmo acompanhados duma estratégia de fomento modernizante - significavam, eticamente, mais um regresso ao Antigo Regime que uma criação do novo.
Jaime Nogueira Pinto
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A verdade não foi bem esta, embora não andasse por muito longe. Gomes da Costa fora estimulado e industriado por um núcleo de "conselheiros" civis; os militares partidários do Regime vencido intentariam ainda o regresso aos velhos tempos e se a "indefinição" ideológica ajudou a achar apoios e neutralizar resistências é certo que os comités de jovens oficiais nacionalistas tinham a teia bem montada nas fileiras e a nota dominante das proclamações deixava já adivinhar as linhas mestras do futuro.
Depois, se a História é feita de acção e reacção mesmo que qualquer dos termos implique carga positiva ou negativa - não é de estranhar que, tendo sido característica essencial da Primeira República o anticlericalismo maçonizante, a sua queda trouxesse, pelo menos, o dado da Igreja ou do seu braço político secular. Nesta Sociedade pré-industrial em arranque para o desenvolvimento, vencido o radicalismo jacobino pela força da sua inépcia e contradições, não é muito estranho que ficasse de pé, como corpo de doutrina e instituição, o Catolicismo que, além de ter representado, até por legítima defesa, um papel fundamental no combate político contra o Regime, tinha a força que lhe advinha duma concepção geral do mundo - aliás reforçada pelas encíclicas leoninas e pela ressurreição tomista - e, também, de ser, apesar de tudo, uma organização supranacional.
Deste modo, tudo concorre para que Oliveira Salazar, um homem de formação e militância católica (como prova a exaustiva biografia de Alberto Franco Nogueira agora aparecida) venha a ser, como entendido máximo no problema crucial do país - o financeiro - a média unificadora das tendências sociopolíticas e blocos de pressão que apoiavam a Ditadura Militar, o "recuperador" do movimento "apolítico" do 28 de Maio.
Mas se é um católico está longe de ser um clerical, uma eminência de sacristia e beatério, um produto, mesmo de primeira ordem, da internacional vaticana, como o querem fazer crer alguns jarrões da Outra Senhora, literatos mesclados de boticário jacobino, que o 25 de Abril e seus serôdios cravos desenterraram para a farsa-tragédia que nos trouxeram alguns capitães equivocados na vocação, vai para três anos.
Salazar é pois um católico nacionalista, que se permite, com a autoridade de conhecer, estabelecer os limites da Igreja e do Estado, do mesmo modo lúcido e metódico como equilibra as Finanças e assume, pelo controlo das despesas, os cordéis da Administração.
Mas levar as coisas mais longe, caracterizar, a partir de certos paralelos e dum aparato formal que a época e as circunstâncias impunham, o pensar e construir do Estado Novo como subespécie da Revolução Romano-Fascista é desconhecer, pelo menos, os mais elementares fundamentos e realizações dos regimes, ou mera simplificação propagandística da alegre demagogia rectangular, que intenções e efeitos não salvam da asneira.
Havia, é certo, os ventos da História: na Itália, um condottieri revolucionário, lido em Sorel e nos sindicalistas heterodoxos, com uma costela em Nietzsche outra em Maquiavel, aliados a um background socialista e um sentido excepcional da agitprop, bate-se nas trincheiras e nas ruas, conquista o Poder num golpe de audácia, reconcilia a Nação e os Trabalhadores, reinventa Roma, trata de grandeza e de Obras Públicas, põe um Pais a cantar e a secar pântanos, ensina que as classes se devem fundir em milícias negras, tendo por insígnia o feixe de varas, que acompanhava os Antigos, a Autoridade e a Justiça. Na Alemanha - leia-se, numa sociedade tecnologicamente avançada, industrial - um ex-comandante duma guerra perdida, rodeado por intelectuais, por barões do Ostland e proletários de verdade - os tais "castanhos" por fora e "vermelhos" por dentro - ressuscita as insígnias dos Árias, vence uma longa batalha nas ruas e nas urnas, e recebe a investidura na cadeira de Bismark, das mãos de um velho marechal prussiano, contemporâneo de Sédan e das glórias do II Reich, último presidente do primeiro modelo social-democrata europeu, que não deixava saudades.
Talvez porque as mesmas causas provocam efeitos semelhantes, a crise das democracias parlamentares, do sonho maçónico de Genebra, da primeira Europa do Capital, agonizantes entre um sindicalismo abandeirado a Moscovo e a resistência nacional aos projectos mundialistas, cujo sinal partira de Roma, conduzia, por toda a parte, nessa década de trinta em que Salazar lançava os pilares do novo regime, à eclosão de movimentos nacionalistas e autoritários, que, contudo, se alinhavam em dois ramos bem distintos: o fascista, onde o nacionalismo extremo ia acompanhado de claro progressismo e revolução social; o conservador, onde, quase sempre sob os auspícios da Igreja (da outra Roma, não a do Forum Mussolini, mas do Vaticano), o paternalismo e tradicionalismo económicos - mesmo acompanhados duma estratégia de fomento modernizante - significavam, eticamente, mais um regresso ao Antigo Regime que uma criação do novo.
Jaime Nogueira Pinto
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sexta-feira, julho 30, 2004
O “ESTADO NOVO” E O ESTADO
O termo "Estado" é empregue em muitos sentidos, dentre os quais três são de assinalar com destaque: 1) “Estado” enquanto sinónimo de comunidade autónoma, organizada politicamente, isto é, sob a égide de um Poder soberano; 2) “Estado” enquanto sinónimo, precisamente, do Poder soberano existente em tal comunidade; 3) “Estado” enquanto sinónimo de mera aparelhagem burocrática (acentuemos que é com esse significado que o nacional-socialismo, ou, pelo menos, a tendência dominante entre os autores nacionais-socialistas alude ao Estado – “Der Staat ist ein Apparat”).
Que não se concebe comunidade ou sociedade (prescindindo, aqui, da distinção célebre formulada por Tonnies) sem um Poder supremo parece-nos um axioma indiscutível. As pessoas e os grupos não se integram, espontaneamente, numa unidade, antes tendem para a divergência e a dissociação (Conforme dizia Maurras “ce qui m'étonne ce n'est pas le désordre, c'est l'ordre”). As suas actividades têm de ser coordenadas, fiscalizadas, disciplinadas, para delas resultar uma totalidade harmónica. Essa a missão capital do Poder que, para o efeito, precisa de possuir ao seu dispor dos instrumentos adequados.
A força, o volume, o âmbito de aplicação de semelhantes instrumentos têm de ser encarados pragmaticamente, em relação com a conservação e o desenvolvimento da comunidade cuja sobrevivência o Poder deve assegurar. A denominarmos “Estado” a aparelhagem de que o Poder se serve, não vemos que o seu dimensionamento possa ser traçado a priori. As circunstâncias é que permitem decidir em cada caso concreto. Onde os perigos de dissolução e as ameaças de anarquia forem grandes, decerto que o Poder está na obrigação de estender o domínio de intervenção dos chamados órgãos estaduais, a fim de reprimir e dominar os factores de desagregação. Onde se verifique o inverso já o Poder dispõe da possibilidade de reduzir o número e a esfera de acção directa desses ór-gãos, diminuindo-a ou tornando muito mais flexível.
Decerto, o ideal é que pessoas e grupos, por si, sem pressões exteriores, desempenhem na promoção do bem social as funções positivas que tenham capacidade para exercer utilmente - capacidade, não muito larga, é evidente, visto que o interesse geral só pode ser cometido a quem esteja na perspectiva do universal e não numa perspectiva de particularidade, conforme é o caso das pessoas e grupos, divergentes entre si. Mas como o universal não é nada de separado dos diversos elementos singulares (pois que, então, o universal seria, por seu turno, também um elemento singular), antes é aquilo que neles está presente, ligando-os, unindo-os, harmonizando-os, admitimos perfeitamente que, para a própria promoção do universal, a actividade não coagida das pessoas e grupos, em consonância com o Poder que, por sobre eles, os integra num todo, seja preferível e mais eficiente do que uma actividade estruturada a partir de cima, impulsionada de modo imediato pelos organismos emanados do Poder. Simplesmente, que há-de este fazer, se pessoas e grupos, em vez de desempenharem funções positivas, no plano em que as conseguem desempenhar, entram no cultivo dum egoísmo atomístico, num subversivismo manifesto?
Claro que intervir ampla e acentuadamente. Talvez se perca em eficácia em comparação com a solução preferível? Sim, do mal o menos, porém.
Sirvamo-nos de uma comparação grosseira, porque abstrai de certas considerações de ordem sobrenatural. Considerada a família a célula social, é incontestável que os pais são quem a pode chefiar da melhor maneira. Eles são, em princípio e normalmente, os melhores “funcionários” da sociedade. No entanto, se os pais educarem os filhos para o crime, para a perversão, etc., há que retirar-lhes o pátrio poder e confiar a tutela daqueles a individualidades designadas pelos tribunais ou a determinadas instituições, oficiais ou particulares, reconhecidas como idóneas. Não sustentamos que isto seja uma situação esplêndida. É, todavia, preferível a deixar correr as coisas.
Um autor entusiasticamente adepto da descentralização - José Pequito Rebelo - em texto inserido na segunda edição de “Pela Dedução à Monarquia” admite (salvo erro, pois estou a citar de memória) que, provisoriamente e perante a perversão derivada de um século de demo-liberalismo, o Estado absorva, ou quase absorva, a nação, com a finalidade pedagógica de diminuir ou suprimir os ímpetos centrífugos e destruidores para que, depois, os vários corpos sociais possam exercitar sem peias as tarefas que lhes são próprias.
Prolongando e desenvolvendo, por nossa conta, esse ponto de vista - e mantendo como meta final o equilíbrio das liberdades “em baixo” com o predomínio da Autoridade “no alto” - diremos que o dimensionamento dos instrumentos burocráticos do Poder é coisa relativa, que depende dos condicionalismos. O que numa certa conjuntura é desejável noutra é imprudência. O que numa é excessivo noutra é indispensável.
Estamos perante matéria contingente. É esta a primeira razão porque não é resolver o problema do Estado a tentativa de dosear o grau da intervenção dos seus instrumentos. Ela jamais pode fixar nada de definitivo. E, por maioria de razão, a descoberta dos meios indicados para concretizar esse grau de intervenção representa, apenas, um problema técnico, de alcance limitado. Aumentar ou diminuir os ministérios, dividir os serviços burocráticos por vários centros ou concentrá-los, predominantemente, numa capital, é questão a discutir, sem dúvida, contudo de interesse reduzido. Salvo o devido respeito pela opinião contrária, a tomada das capitais não corresponde a algo de decisivo. Com Paris conquistado, a França continuou a resistir até ao armistício e, se desse ouvidos a De Gaulle, prosseguiria na luta. Com Madrid nas mãos dos vermelhos, em Março de 1939, o governo republicano não passava já de simulacro. E se D. Manuel tivesse desembarcado no Porto a república não se poderia considerar ainda vitoriosa, apesar de Lisboa estar nas mãos dos republicanos.
De qualquer forma, centralização ou descentralização são inteiramente condicionadas, na sua validade política, pela estrutura e organização interna do Poder. Com um Poder fraco e dividido, a descentralização é a antecâmara do caos e a centralização equivalente a impotência e paralisia. Já com um Poder forte e coeso a descentralização revela-se, acaso, em determinadas ocasiões oportuníssima e a centralização pode dar bons frutos, apesar dos seus inconvenientes.
E eis a segunda razão porque resolver o problema do Estado não é o mesmo que tentar circunscrever e delimitar a extensão do terreno em que devem actuar os instrumentos que o Poder utiliza. A forma assumida por este é que determina as possibilidades de actuação dos seus órgãos e agentes. “Politique d'abord”. Uma aparelhagem dúctil e ligeira em mãos ineptas não serve de nada. Um mecanismo, ainda que pesado e difícil, em mãos firmes é capaz de prestar bons serviços.
Pode-se andar com os pés apertados como a mulher chinesa, ou com pés espalmados como os dos negros de certas tribos. Mas se o cérebro, com os seus centros nervosos, não comanda os movimentos, a deslocação é impossível e a paralisia é inevitável, por muito bem constituídos, anatomicamente, que estejam os membros inferiores. O primeiro passo, pois, para resolver o problema do Estado e o das instituições em que se corporize o Poder é a chamada questão do regime.
Para além dela, no entanto, há ainda algo de mais relevante, de mais proeminente e destacado: é a resposta à pergunta para que serve o vínculo social, para que serve a comunidade política. É ela um fim último, um fim em si mesmo? Está, axiologicamente, colocada abaixo da liberdade dos indivíduos e das pessoas, existindo, em última análise, para promover, assegurar, esta última? Ou sendo superior aos indivíduos e pessoas está ordenada a um fim mais alto, a um Absoluto transcendente, que também é o fim dos indivíduos e pessoas? Trata-se dos temas decisivos, que dizem respeito ao destino do homem, aos direitos, aos deveres, ao sentido a imprimir à sociedade no seu conjunto.
O tipo de organização interna do Poder depende da solução dada a estas dúvidas. Se as pessoas e indivíduos são o valor máximo, evidentemente que têm de intervir decisivamente no Poder, dispôr dele, numa palavra. É uma exigência intrínseca da dignidade que lhes pertence o auto-governar-se e não serem hetero-governadas. Em contrapartida, pode entender-se que um Poder organizado assim - às ordens do somatório das vontades das pessoas - tem legitimidade para estender ao máximo a sua esfera de intervenção. Isso só significaria um esforço de protecção e segurança do maior número de indivíduos. E também se poderá pensar o contrário e sustentar que os órgãos do Poder se devem restringir ao mínimo sendo isso a melhor garantia de respeito pelas pessoas. Numa palavra, estamos perante uma simples discussão de meios e unanimidade quanto aos fins. Centralização e descentralização são ambas, em princípio, compatíveis com uma axiologia personalista ou individualista.
Mas se se considerar, ao invés, que a comunidade política é o valor máximo, o Poder terá de estar acima da vontade dos indivíduos e destinar-se a impôr-lhes uma disciplina exclusivamente supra-pessoal. Terá de ser um Poder independente, que apenas expresse esse interesse colectivo, por hipótese auto-suficiente. Nada impede, todavia, que se entenda que a comunidade política, proclamada fim de si mesma, está mais bem articulada, e desenvolve-se e potencia-se de maneira superior, se nela imperar um bom nível de descentralização. Ou que se julgue que o oposto é que é verdade.
Quer dizer que, também, centralização ou descentralização são compatíveis, em princípio, com uma axiologia totalista e imanentista.
Análogas reflexões são concebíveis no tocante à tese do primado da sociedade sobre a pessoa, embora ordenada a primeira a um fim último que a ultrapassa e transcende.
Isto demonstra, segundo imaginamos, que encarada do ponto de vista da simples existência da sociedade a questão descentralização - centralização não passa de um ponto de mera decisão conjuntural, sempre dependente, aliás, da forma como o Poder está internamente estruturado. E, no que diz respeito às noções éticas decisivas, concernentes ao sentido da vida política, ela é adiáfora, isto é, alheia às mesmas, que não impõem, do ponto de vista axiológico, uma solução centralizadora ou descentralizadora.
Assim, o fundamental é, a nosso ver, o problema do fim derradeiro da comunidade e o da organização interna do Poder que se conexiona em relação recíproca com o primeiro e directamente com o da eficácia da acção chamados organismos estaduais, estejam desenvolvidos e estruturados como estiverem.
Examinemos o Estado Novo de Salazar à luz de quanto expusemos. Supomos perfeitamente lícito sustentar que ele se distingue do “statu quo” vigente no que mais importa: no tocante à axiologia e no tocante à organização interna do Poder. O “statu quo” vigente é inspirado pela ideologia demo-liberal e seus prolongamentos marxizantes. O Estado Novo era guiado por um nacionalismo não totalitário uma vez que admitia que a pessoa existiu para Deus - e Deus concebido de acordo com o Catolicismo - mas autoritário, porque, no plano natural, sustentava que a pessoa, para atingir a sua finalidade suprema, devia submeter-se à comunidade posto que, de acordo com o ensinamento de Aristóteles e de S. Tomás, o bem da cidade é mais divino do que o bem de um só.
O “statu quo” vigente é partidocrático, divisionista, sufragístico, defendendo a tese curiosa de que os governados é que devem governar e ser governantes. O Estado Novo suprimiu o fragmentarismo partidário, exalçou as virtudes do governo de um só ainda que de maneira imperfeita e sem jamais chegar às devidas conclusões institucionais. Aqui, neste particular, é que me parecem merecidas as críticas.
Seja como fôr, as divergências no essencial são flagrantes. Que houvesse mais ministérios do que na I República (embora menos do que hoje) não imaginamos que importe muito se a direcção (nos dois sentidos da palavra direcção) que lhes foi imprimida era radicalmente diversa.
Acaso a centralização do Estado Novo, por vezes, resultou excessiva e, noutros casos, pouco hábil. Depois de cerca de cem anos de desordem democrática, que não se cura numa ou duas décadas, supomos impossível seguir outro rumo. Se alguém recebeu uma “pesada herança” esse alguém foi Salazar.
Dadas as discrepâncias de orientação no que é básico entre o Estado Novo e o “statu quo” vigente julgamos profundamente equivocado apresentar este qual sucessor doutrinário daquele. Se há sucessão, é puramente cronológica, já que a relação entre um e outro, no que concerne ao essencial, é de antagonismo irreconciliável, um antagonismo do tipo do que existe entre a verdade e o erro, o ser e o nada.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
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Que não se concebe comunidade ou sociedade (prescindindo, aqui, da distinção célebre formulada por Tonnies) sem um Poder supremo parece-nos um axioma indiscutível. As pessoas e os grupos não se integram, espontaneamente, numa unidade, antes tendem para a divergência e a dissociação (Conforme dizia Maurras “ce qui m'étonne ce n'est pas le désordre, c'est l'ordre”). As suas actividades têm de ser coordenadas, fiscalizadas, disciplinadas, para delas resultar uma totalidade harmónica. Essa a missão capital do Poder que, para o efeito, precisa de possuir ao seu dispor dos instrumentos adequados.
A força, o volume, o âmbito de aplicação de semelhantes instrumentos têm de ser encarados pragmaticamente, em relação com a conservação e o desenvolvimento da comunidade cuja sobrevivência o Poder deve assegurar. A denominarmos “Estado” a aparelhagem de que o Poder se serve, não vemos que o seu dimensionamento possa ser traçado a priori. As circunstâncias é que permitem decidir em cada caso concreto. Onde os perigos de dissolução e as ameaças de anarquia forem grandes, decerto que o Poder está na obrigação de estender o domínio de intervenção dos chamados órgãos estaduais, a fim de reprimir e dominar os factores de desagregação. Onde se verifique o inverso já o Poder dispõe da possibilidade de reduzir o número e a esfera de acção directa desses ór-gãos, diminuindo-a ou tornando muito mais flexível.
Decerto, o ideal é que pessoas e grupos, por si, sem pressões exteriores, desempenhem na promoção do bem social as funções positivas que tenham capacidade para exercer utilmente - capacidade, não muito larga, é evidente, visto que o interesse geral só pode ser cometido a quem esteja na perspectiva do universal e não numa perspectiva de particularidade, conforme é o caso das pessoas e grupos, divergentes entre si. Mas como o universal não é nada de separado dos diversos elementos singulares (pois que, então, o universal seria, por seu turno, também um elemento singular), antes é aquilo que neles está presente, ligando-os, unindo-os, harmonizando-os, admitimos perfeitamente que, para a própria promoção do universal, a actividade não coagida das pessoas e grupos, em consonância com o Poder que, por sobre eles, os integra num todo, seja preferível e mais eficiente do que uma actividade estruturada a partir de cima, impulsionada de modo imediato pelos organismos emanados do Poder. Simplesmente, que há-de este fazer, se pessoas e grupos, em vez de desempenharem funções positivas, no plano em que as conseguem desempenhar, entram no cultivo dum egoísmo atomístico, num subversivismo manifesto?
Claro que intervir ampla e acentuadamente. Talvez se perca em eficácia em comparação com a solução preferível? Sim, do mal o menos, porém.
Sirvamo-nos de uma comparação grosseira, porque abstrai de certas considerações de ordem sobrenatural. Considerada a família a célula social, é incontestável que os pais são quem a pode chefiar da melhor maneira. Eles são, em princípio e normalmente, os melhores “funcionários” da sociedade. No entanto, se os pais educarem os filhos para o crime, para a perversão, etc., há que retirar-lhes o pátrio poder e confiar a tutela daqueles a individualidades designadas pelos tribunais ou a determinadas instituições, oficiais ou particulares, reconhecidas como idóneas. Não sustentamos que isto seja uma situação esplêndida. É, todavia, preferível a deixar correr as coisas.
Um autor entusiasticamente adepto da descentralização - José Pequito Rebelo - em texto inserido na segunda edição de “Pela Dedução à Monarquia” admite (salvo erro, pois estou a citar de memória) que, provisoriamente e perante a perversão derivada de um século de demo-liberalismo, o Estado absorva, ou quase absorva, a nação, com a finalidade pedagógica de diminuir ou suprimir os ímpetos centrífugos e destruidores para que, depois, os vários corpos sociais possam exercitar sem peias as tarefas que lhes são próprias.
Prolongando e desenvolvendo, por nossa conta, esse ponto de vista - e mantendo como meta final o equilíbrio das liberdades “em baixo” com o predomínio da Autoridade “no alto” - diremos que o dimensionamento dos instrumentos burocráticos do Poder é coisa relativa, que depende dos condicionalismos. O que numa certa conjuntura é desejável noutra é imprudência. O que numa é excessivo noutra é indispensável.
Estamos perante matéria contingente. É esta a primeira razão porque não é resolver o problema do Estado a tentativa de dosear o grau da intervenção dos seus instrumentos. Ela jamais pode fixar nada de definitivo. E, por maioria de razão, a descoberta dos meios indicados para concretizar esse grau de intervenção representa, apenas, um problema técnico, de alcance limitado. Aumentar ou diminuir os ministérios, dividir os serviços burocráticos por vários centros ou concentrá-los, predominantemente, numa capital, é questão a discutir, sem dúvida, contudo de interesse reduzido. Salvo o devido respeito pela opinião contrária, a tomada das capitais não corresponde a algo de decisivo. Com Paris conquistado, a França continuou a resistir até ao armistício e, se desse ouvidos a De Gaulle, prosseguiria na luta. Com Madrid nas mãos dos vermelhos, em Março de 1939, o governo republicano não passava já de simulacro. E se D. Manuel tivesse desembarcado no Porto a república não se poderia considerar ainda vitoriosa, apesar de Lisboa estar nas mãos dos republicanos.
De qualquer forma, centralização ou descentralização são inteiramente condicionadas, na sua validade política, pela estrutura e organização interna do Poder. Com um Poder fraco e dividido, a descentralização é a antecâmara do caos e a centralização equivalente a impotência e paralisia. Já com um Poder forte e coeso a descentralização revela-se, acaso, em determinadas ocasiões oportuníssima e a centralização pode dar bons frutos, apesar dos seus inconvenientes.
E eis a segunda razão porque resolver o problema do Estado não é o mesmo que tentar circunscrever e delimitar a extensão do terreno em que devem actuar os instrumentos que o Poder utiliza. A forma assumida por este é que determina as possibilidades de actuação dos seus órgãos e agentes. “Politique d'abord”. Uma aparelhagem dúctil e ligeira em mãos ineptas não serve de nada. Um mecanismo, ainda que pesado e difícil, em mãos firmes é capaz de prestar bons serviços.
Pode-se andar com os pés apertados como a mulher chinesa, ou com pés espalmados como os dos negros de certas tribos. Mas se o cérebro, com os seus centros nervosos, não comanda os movimentos, a deslocação é impossível e a paralisia é inevitável, por muito bem constituídos, anatomicamente, que estejam os membros inferiores. O primeiro passo, pois, para resolver o problema do Estado e o das instituições em que se corporize o Poder é a chamada questão do regime.
Para além dela, no entanto, há ainda algo de mais relevante, de mais proeminente e destacado: é a resposta à pergunta para que serve o vínculo social, para que serve a comunidade política. É ela um fim último, um fim em si mesmo? Está, axiologicamente, colocada abaixo da liberdade dos indivíduos e das pessoas, existindo, em última análise, para promover, assegurar, esta última? Ou sendo superior aos indivíduos e pessoas está ordenada a um fim mais alto, a um Absoluto transcendente, que também é o fim dos indivíduos e pessoas? Trata-se dos temas decisivos, que dizem respeito ao destino do homem, aos direitos, aos deveres, ao sentido a imprimir à sociedade no seu conjunto.
O tipo de organização interna do Poder depende da solução dada a estas dúvidas. Se as pessoas e indivíduos são o valor máximo, evidentemente que têm de intervir decisivamente no Poder, dispôr dele, numa palavra. É uma exigência intrínseca da dignidade que lhes pertence o auto-governar-se e não serem hetero-governadas. Em contrapartida, pode entender-se que um Poder organizado assim - às ordens do somatório das vontades das pessoas - tem legitimidade para estender ao máximo a sua esfera de intervenção. Isso só significaria um esforço de protecção e segurança do maior número de indivíduos. E também se poderá pensar o contrário e sustentar que os órgãos do Poder se devem restringir ao mínimo sendo isso a melhor garantia de respeito pelas pessoas. Numa palavra, estamos perante uma simples discussão de meios e unanimidade quanto aos fins. Centralização e descentralização são ambas, em princípio, compatíveis com uma axiologia personalista ou individualista.
Mas se se considerar, ao invés, que a comunidade política é o valor máximo, o Poder terá de estar acima da vontade dos indivíduos e destinar-se a impôr-lhes uma disciplina exclusivamente supra-pessoal. Terá de ser um Poder independente, que apenas expresse esse interesse colectivo, por hipótese auto-suficiente. Nada impede, todavia, que se entenda que a comunidade política, proclamada fim de si mesma, está mais bem articulada, e desenvolve-se e potencia-se de maneira superior, se nela imperar um bom nível de descentralização. Ou que se julgue que o oposto é que é verdade.
Quer dizer que, também, centralização ou descentralização são compatíveis, em princípio, com uma axiologia totalista e imanentista.
Análogas reflexões são concebíveis no tocante à tese do primado da sociedade sobre a pessoa, embora ordenada a primeira a um fim último que a ultrapassa e transcende.
Isto demonstra, segundo imaginamos, que encarada do ponto de vista da simples existência da sociedade a questão descentralização - centralização não passa de um ponto de mera decisão conjuntural, sempre dependente, aliás, da forma como o Poder está internamente estruturado. E, no que diz respeito às noções éticas decisivas, concernentes ao sentido da vida política, ela é adiáfora, isto é, alheia às mesmas, que não impõem, do ponto de vista axiológico, uma solução centralizadora ou descentralizadora.
Assim, o fundamental é, a nosso ver, o problema do fim derradeiro da comunidade e o da organização interna do Poder que se conexiona em relação recíproca com o primeiro e directamente com o da eficácia da acção chamados organismos estaduais, estejam desenvolvidos e estruturados como estiverem.
Examinemos o Estado Novo de Salazar à luz de quanto expusemos. Supomos perfeitamente lícito sustentar que ele se distingue do “statu quo” vigente no que mais importa: no tocante à axiologia e no tocante à organização interna do Poder. O “statu quo” vigente é inspirado pela ideologia demo-liberal e seus prolongamentos marxizantes. O Estado Novo era guiado por um nacionalismo não totalitário uma vez que admitia que a pessoa existiu para Deus - e Deus concebido de acordo com o Catolicismo - mas autoritário, porque, no plano natural, sustentava que a pessoa, para atingir a sua finalidade suprema, devia submeter-se à comunidade posto que, de acordo com o ensinamento de Aristóteles e de S. Tomás, o bem da cidade é mais divino do que o bem de um só.
O “statu quo” vigente é partidocrático, divisionista, sufragístico, defendendo a tese curiosa de que os governados é que devem governar e ser governantes. O Estado Novo suprimiu o fragmentarismo partidário, exalçou as virtudes do governo de um só ainda que de maneira imperfeita e sem jamais chegar às devidas conclusões institucionais. Aqui, neste particular, é que me parecem merecidas as críticas.
Seja como fôr, as divergências no essencial são flagrantes. Que houvesse mais ministérios do que na I República (embora menos do que hoje) não imaginamos que importe muito se a direcção (nos dois sentidos da palavra direcção) que lhes foi imprimida era radicalmente diversa.
Acaso a centralização do Estado Novo, por vezes, resultou excessiva e, noutros casos, pouco hábil. Depois de cerca de cem anos de desordem democrática, que não se cura numa ou duas décadas, supomos impossível seguir outro rumo. Se alguém recebeu uma “pesada herança” esse alguém foi Salazar.
Dadas as discrepâncias de orientação no que é básico entre o Estado Novo e o “statu quo” vigente julgamos profundamente equivocado apresentar este qual sucessor doutrinário daquele. Se há sucessão, é puramente cronológica, já que a relação entre um e outro, no que concerne ao essencial, é de antagonismo irreconciliável, um antagonismo do tipo do que existe entre a verdade e o erro, o ser e o nada.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
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quinta-feira, julho 29, 2004
ECONAC actualizado
O portal ECONAC apresenta-se acrescentado com novas actualizações, sempre com o nível elevado a que nos habituou.
Merecia maior atenção e apoio, nomeadamente em colaboração e trabalho (a obra é grande e os operários são poucos) este portal que sob o lema ecologia e nação se lançou na batalha das ideias, porfiando na divulgação de pensamentos, obras e personalidades fora do conformismo clorofórmico reinante.
Agora que todos, mais ou menos, convergem na aceitação da precedência do combate cultural sobre o imediata e directamente político, seria a hora de todos os que se sentem vocacionados para tarefas nessa área reunirem esforços em prol dos objectivos comuns. É sempre necessária gente para trabalhar... E há por aí tanta gente desocupada!
No caso, certamente os responsáveis agradecerão as ajudas, as críticas, as sugestões, as palavras amigas.
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Merecia maior atenção e apoio, nomeadamente em colaboração e trabalho (a obra é grande e os operários são poucos) este portal que sob o lema ecologia e nação se lançou na batalha das ideias, porfiando na divulgação de pensamentos, obras e personalidades fora do conformismo clorofórmico reinante.
Agora que todos, mais ou menos, convergem na aceitação da precedência do combate cultural sobre o imediata e directamente político, seria a hora de todos os que se sentem vocacionados para tarefas nessa área reunirem esforços em prol dos objectivos comuns. É sempre necessária gente para trabalhar... E há por aí tanta gente desocupada!
No caso, certamente os responsáveis agradecerão as ajudas, as críticas, as sugestões, as palavras amigas.
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quarta-feira, julho 28, 2004
A CULTURA NA LUTA POLÍTICA
Depois do teórico marxista António Gramsci ter revolucionado a teoria do assalto ao Estado, com a abertura de uma nova frente na Cultura, esta deixou de ser um modo de vida, um enfeite de burgueses, um produto de consumo, para se transformar num campo de batalha, um instrumento ao serviço da Revolução Marxista. Ao atacar num ponto inesperado da sociedade global, o aparelho marxista ocupa uma zona sem significado em termos militares, mas decisiva em termos antropológicos e sociológicos. Na verdade, é na Cultura que enraíza a estrutura dos valores, o carácter nacional, os gostos e as tendências, o modo de conceber o mundo e a vida. É uma herança cumulativa, como a caracterizou Lorenz, formada por todo o equipamento material e espiritual que a sociedade possui, e com o qual responde aos desafios internos (crises) e externos (naturais e sociais).
A Cultura é, por conseguinte, aquilo que de mais precioso tem um Povo ou uma Etnia. É, por um lado, o traço que o distingue dos outros povos, com costumes e mundividências distintas, e, por outro, a característica do processo de hominização. Embora os animais tenham tradições, inventem técnicas e comuniquem processos por mecanismos de difusão social, não possuem uma tradição cumulativa, quer dizer, as invenções e os conhecimentos não se conservam porque não há possibilidade de os acumular.
Ora, o que Gramsci faz é inovar no leninismo, ao introduzir a possibilidade de controlar o Estado a partir da Cultura. No reducionismo marxista, cultura é uma superestrutura gerada pela infra‑estrutura económica. As relações de produção, de exploração, isto é, o sistema económico, determinam um supersistema de justificação, que está ao serviço do explorador e serve para dominar intelectualmente o explorado. A esse sistema, integrado pela religião, educação, arte, meios de comunicação, etc., chamam os marxistas Cultura.
Na tradição leninista derrubava‑se o Estado a partir da Economia, e assim se punha fim à Cultura, que não passava de um gigantesco sistema de justificação ideológica. Com Gramsci altera‑se o esquema revolucionário. Para ele é fundamental dominar primeiro a Cultura "burguesa" e substituí-la progressivamente por uma "cultura proletária". As transformações e substituições operadas, assim, na "cultura burguesa", irão influenciar a infra‑estrutura económica, as relações de produção, o sistema social, mudando a mentalidade dos cidadãos. Só depois desta operação é que se deve conquistar politicamente o Estado, visto que este se encontra desarmado. A resistência, sempre baseada nas estruturas culturais de valores, nos conceitos internos da Cultura, sem esse suporte, nem sequer poderia existir. Daqui que o caminho para o poder nos Estados burgueses, desde há muito, seja este: assalto à Cultura, abastardamento de todas as características positivas do carácter e imagem nacionais, substituição de padrões nacionais por elementos culturais importados, enfraquecimento e eliminação da resistência dos intelectuais patriotas e, finalmente, domínio das principais alavancas da Cultura: meios de comunicação, universidades, institutos e instituições, editoras, escolas, arte, etc.
PORTUGAL - UMA CULTURA IGNORADA
A tarefa de conquista da "cultura burguesa" é cometida por Gramsci aos "intelectuais orgânicos". Materialistas que, cumprindo os objectivos estratégicos do partido comunista, paulatinamente conquistam posições no establishment cultural, e programam a substituição da cultura burguesa pela nunca demasiado falada "cultura proletária".
Em Portugal esta estratégia teve uma aplicação exemplar. Iniciada em tempos de Salazar teve os seus frutos maduros ainda antes de Abril de 1974. A Direita portuguesa, bem se queixava da "ditadura intelectual da esquerda", mas infelizmente ignorava a concepção geral da manobra e não possuía capacidade para responder a um ataque concertado num domínio que não entendia.
Com a notável excepção de uns quantos antropólogos portugueses (Jorge Dias ‑ vergonhosamente silenciado ‑, António Carreira), filósofos (Álvaro Ribeiro, José Marinho, Pinharanda Gomes e Orlando Vitorino) e historiadores, que conformaram uma linha de resposta ao desmantelamento cultural português, respondendo no campo da Cultura ao assalto na Cultura, ninguém mais se opôs correctamente a essa Mafia de "intelectuais orgânicos", autênticas prostitutas, adoradoras de tiranos, como lhes chama Jean Cau. A Cultura portuguesa morria nos seus elementos característicos e só um aviso aqui e ali alertava para o perigo.
Com o 25 de Abril, que completa o domínio marxista do Estado, os intelectuais orgânicos transferem‑se da Cultura para a Administração. Com o seu trabalho bem programado, o Povo envergonhava‑se de tudo quanto é marcadamente seu: a sua história, os seus heróis, os seus poetas, e passa a admirar e a aderir a valores que não são seus, a elementos culturais abastardados, que lhe vêm de Moscovo, de Washington, com a marca da novidade, da "libertação" e do progresso.
A Cultura foi um campo de luta e o Povo perdeu. O escol que a devia defender, como património material e espiritual da comunidade, não o soube fazer: foi derrotado.
QUE FAZER?
Ao domínio da Cultura, entendida como "cultura burguesa" por ignorância e reducionismo, há que responder com um ataque no campo da Cultura, entendida em toda a sua amplitude.
Para isso há que concentrar esforços, criar uma corrente de pensamento, iniciar o desbloqueamento interno, denunciando o trabalho dos "intelectuais orgânicos" e a sua sistemática prostituição. Assim, é urgente avançar com o planeamento do Instituto Padre António Vieira, como centro de investigação para a Cultura Portuguesa, bem como centro de difusão e educação. Aí se devem integrar os intelectuais ainda vivos e interessados em desbloquear e revigorar a cultura nacional. A metodologia pode variar (seminários, palestras, cursos, aulas, grupos de trabalho), mas o que deve estar presente no espírito de todos é que o assalto à cultura não se detém com balas de G3.
Além do Instituto, é indispensável uma associação político‑cultural, que utilize os resultados da investigação e difunda uma prática necessária e desalienante. Uma revista de estudos e uma editora são dois instrumentos necessários, que se podem inserir quer no instituto, quer na Associação.
Para lá disso, devia constituir objectivo a largo prazo a organização de uma Universidade Livre, primeiro com os professores disponíveis funcionando experimentalmente em regime de cursos supletivos, e depois abarcando as disciplinas sociais. Garantir‑se‑ia deste modo um alto nível didáctico num país que não o possui e, fundamentalmente, tinha‑se a possibilidade de preparar as bases de um autêntico combate pela Cultura Portuguesa.
No ano zero do nosso país, o mais importante é, além de poder comer, poder pensar. E para isso é indispensável libertar a Cultura dos bloqueamentos e implantações que a abastardam. Aí, bem como na Economia (uma parte da Cultura), está a grande aventura dos patriotas: voltar a entregar Portugal aos portugueses.
ANTÓNIO MARQUES BESSA
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A Cultura é, por conseguinte, aquilo que de mais precioso tem um Povo ou uma Etnia. É, por um lado, o traço que o distingue dos outros povos, com costumes e mundividências distintas, e, por outro, a característica do processo de hominização. Embora os animais tenham tradições, inventem técnicas e comuniquem processos por mecanismos de difusão social, não possuem uma tradição cumulativa, quer dizer, as invenções e os conhecimentos não se conservam porque não há possibilidade de os acumular.
Ora, o que Gramsci faz é inovar no leninismo, ao introduzir a possibilidade de controlar o Estado a partir da Cultura. No reducionismo marxista, cultura é uma superestrutura gerada pela infra‑estrutura económica. As relações de produção, de exploração, isto é, o sistema económico, determinam um supersistema de justificação, que está ao serviço do explorador e serve para dominar intelectualmente o explorado. A esse sistema, integrado pela religião, educação, arte, meios de comunicação, etc., chamam os marxistas Cultura.
Na tradição leninista derrubava‑se o Estado a partir da Economia, e assim se punha fim à Cultura, que não passava de um gigantesco sistema de justificação ideológica. Com Gramsci altera‑se o esquema revolucionário. Para ele é fundamental dominar primeiro a Cultura "burguesa" e substituí-la progressivamente por uma "cultura proletária". As transformações e substituições operadas, assim, na "cultura burguesa", irão influenciar a infra‑estrutura económica, as relações de produção, o sistema social, mudando a mentalidade dos cidadãos. Só depois desta operação é que se deve conquistar politicamente o Estado, visto que este se encontra desarmado. A resistência, sempre baseada nas estruturas culturais de valores, nos conceitos internos da Cultura, sem esse suporte, nem sequer poderia existir. Daqui que o caminho para o poder nos Estados burgueses, desde há muito, seja este: assalto à Cultura, abastardamento de todas as características positivas do carácter e imagem nacionais, substituição de padrões nacionais por elementos culturais importados, enfraquecimento e eliminação da resistência dos intelectuais patriotas e, finalmente, domínio das principais alavancas da Cultura: meios de comunicação, universidades, institutos e instituições, editoras, escolas, arte, etc.
PORTUGAL - UMA CULTURA IGNORADA
A tarefa de conquista da "cultura burguesa" é cometida por Gramsci aos "intelectuais orgânicos". Materialistas que, cumprindo os objectivos estratégicos do partido comunista, paulatinamente conquistam posições no establishment cultural, e programam a substituição da cultura burguesa pela nunca demasiado falada "cultura proletária".
Em Portugal esta estratégia teve uma aplicação exemplar. Iniciada em tempos de Salazar teve os seus frutos maduros ainda antes de Abril de 1974. A Direita portuguesa, bem se queixava da "ditadura intelectual da esquerda", mas infelizmente ignorava a concepção geral da manobra e não possuía capacidade para responder a um ataque concertado num domínio que não entendia.
Com a notável excepção de uns quantos antropólogos portugueses (Jorge Dias ‑ vergonhosamente silenciado ‑, António Carreira), filósofos (Álvaro Ribeiro, José Marinho, Pinharanda Gomes e Orlando Vitorino) e historiadores, que conformaram uma linha de resposta ao desmantelamento cultural português, respondendo no campo da Cultura ao assalto na Cultura, ninguém mais se opôs correctamente a essa Mafia de "intelectuais orgânicos", autênticas prostitutas, adoradoras de tiranos, como lhes chama Jean Cau. A Cultura portuguesa morria nos seus elementos característicos e só um aviso aqui e ali alertava para o perigo.
Com o 25 de Abril, que completa o domínio marxista do Estado, os intelectuais orgânicos transferem‑se da Cultura para a Administração. Com o seu trabalho bem programado, o Povo envergonhava‑se de tudo quanto é marcadamente seu: a sua história, os seus heróis, os seus poetas, e passa a admirar e a aderir a valores que não são seus, a elementos culturais abastardados, que lhe vêm de Moscovo, de Washington, com a marca da novidade, da "libertação" e do progresso.
A Cultura foi um campo de luta e o Povo perdeu. O escol que a devia defender, como património material e espiritual da comunidade, não o soube fazer: foi derrotado.
QUE FAZER?
Ao domínio da Cultura, entendida como "cultura burguesa" por ignorância e reducionismo, há que responder com um ataque no campo da Cultura, entendida em toda a sua amplitude.
Para isso há que concentrar esforços, criar uma corrente de pensamento, iniciar o desbloqueamento interno, denunciando o trabalho dos "intelectuais orgânicos" e a sua sistemática prostituição. Assim, é urgente avançar com o planeamento do Instituto Padre António Vieira, como centro de investigação para a Cultura Portuguesa, bem como centro de difusão e educação. Aí se devem integrar os intelectuais ainda vivos e interessados em desbloquear e revigorar a cultura nacional. A metodologia pode variar (seminários, palestras, cursos, aulas, grupos de trabalho), mas o que deve estar presente no espírito de todos é que o assalto à cultura não se detém com balas de G3.
Além do Instituto, é indispensável uma associação político‑cultural, que utilize os resultados da investigação e difunda uma prática necessária e desalienante. Uma revista de estudos e uma editora são dois instrumentos necessários, que se podem inserir quer no instituto, quer na Associação.
Para lá disso, devia constituir objectivo a largo prazo a organização de uma Universidade Livre, primeiro com os professores disponíveis funcionando experimentalmente em regime de cursos supletivos, e depois abarcando as disciplinas sociais. Garantir‑se‑ia deste modo um alto nível didáctico num país que não o possui e, fundamentalmente, tinha‑se a possibilidade de preparar as bases de um autêntico combate pela Cultura Portuguesa.
No ano zero do nosso país, o mais importante é, além de poder comer, poder pensar. E para isso é indispensável libertar a Cultura dos bloqueamentos e implantações que a abastardam. Aí, bem como na Economia (uma parte da Cultura), está a grande aventura dos patriotas: voltar a entregar Portugal aos portugueses.
ANTÓNIO MARQUES BESSA
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PARA UM MANIFESTO DE DIREITA
O desastre ‑ histórico, militar e político, social, económico e moral - que se abateu sobre a Nação Portuguesa veio dar‑nos ensejo, também a nós, homens da direita ortodoxa, de fazermos a ruptura que há muito se impunha que tivéssemos feito: ruptura mental, e sentimental, com estruturas políticas mais ou menos assépticas, sistemas que primaram sempre pela indefinição, pela ambiguidade e pelo hibridismo, instituições que eram um equívoco pegado ‑ até ao dia em que o equívoco se desfez, com as mais aluidoras consequências, e a realidade avultou, calamitosa, já sem remissão possível.
Significa isto que não nos desobrigámos, a tempo, dos compromissos, afectivos (?), que não tínhamos que ter, com o regime constitucional de 33, mormente no último período do mesmo... e os resultados aí estão à vista, sem que se vislumbre, de momento, qualquer outra via de resgate que não seja a nacional‑revolucionária. À revolução responde‑se com a mesma revolução, recuperando esta; e, agora que os acontecimentos nos libertaram de vínculos ‑ que só por inércia não declinámos a horas certas ‑, agora que o rompimento intérrito com dúplices padrões políticos finalmente se consumou, já não há mais desculpas para não se agir resolutamente, e muito menos para incorrer em viciações passadas ou para reincidirem erros de fresca data.
Já a estas horas está rotundamente provada e comprovada a inaptidão governativa da esquerda portuguesa: uma esquerda que dir‑se‑ia abarcar, à sombra dela, os mais conceituados de todos os ineptos, os mais inertes de todos os inábeis, os mais canhestros de todos os canhotos... das ideias.
Em tais circunstâncias, e à face do fragoroso descalabro público em que Portugal se dá por visto e achado ao cabo de biénio e meio de indigência administrativa da esquerda, compete agora à direita ‑ está‑lhe, desde já, reservada e cometida ‑ a piedosa e patriótica tarefa de subir à cena política do país e de retirar de lá essa tragédia shakespeareana de words, words, words, que figura há mais de trinta mesitos no cartaz.
Ao tempo, digamos, em que a nau Portugal, crivadinha de rombos, voga, assim, sobre um mar de saliva altamente encapelado, e em mares de saliva submerge, tem a direita o direito, e o dever indeclinável, de fixar norte magnético a navegação tão desgarrada e de atalhar ao rumo desta, talhando‑lhe as vias de salvamento.
Ainda há pouco, há poucochinho, nós, portugueses, éramos um império dilatado a todo o mundo, e já hoje por hoje não somos senão uma courela exiguamente entaipada na Península, um grotesco retalho de Europa de lilliputianas proporções, um pobre lameiro irrelevante, um rematadito bairro‑da‑lata... Encolhemos. Encolheram‑nos! E da nossa vocação nacional‑universalista não há mais que falar. Ou ainda há, talvez, mas só naquela mesma medida em que certa personagem de Agustina colocava a questão, quando "dizia que a África haveria de conter o fantasma do português em tudo o que o substituísse".
Àparte isso, a única alternativa em aberto, que nos sobra por agora, consistirá em nos glosarmos e em nos repetirmos historicamente passo por passo ‑ fundando‑nos de novo como Nação vocacionada e soberana, e erigindo‑nos novamente como Povo às culminâncias do que nos está cometido empreender ainda.
Trata‑se de principiarmos outra vez a ser coisa que se veja, e de recomeçar tudo, em segunda edição. Se necessário, a partir dos Hermínios...
Responder à afundação da nacionalidade mediante uma segunda fundação da mesma; e, com alguns tantos fundadores, tratar de replicar à desalmada horda dos afundadores!
Recapitulando e concluindo. De agora em diante, há que rapar virilmente da caneta e de uma folha em branco, e começar a escrever tudo de novo ‑ tendo sempre bem presente que a nossa acção há‑de ser ditada por desígnios eminentemente fundacionais, sob pena de nada valer de nada.
Rodrigo Emílio
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Significa isto que não nos desobrigámos, a tempo, dos compromissos, afectivos (?), que não tínhamos que ter, com o regime constitucional de 33, mormente no último período do mesmo... e os resultados aí estão à vista, sem que se vislumbre, de momento, qualquer outra via de resgate que não seja a nacional‑revolucionária. À revolução responde‑se com a mesma revolução, recuperando esta; e, agora que os acontecimentos nos libertaram de vínculos ‑ que só por inércia não declinámos a horas certas ‑, agora que o rompimento intérrito com dúplices padrões políticos finalmente se consumou, já não há mais desculpas para não se agir resolutamente, e muito menos para incorrer em viciações passadas ou para reincidirem erros de fresca data.
Já a estas horas está rotundamente provada e comprovada a inaptidão governativa da esquerda portuguesa: uma esquerda que dir‑se‑ia abarcar, à sombra dela, os mais conceituados de todos os ineptos, os mais inertes de todos os inábeis, os mais canhestros de todos os canhotos... das ideias.
Em tais circunstâncias, e à face do fragoroso descalabro público em que Portugal se dá por visto e achado ao cabo de biénio e meio de indigência administrativa da esquerda, compete agora à direita ‑ está‑lhe, desde já, reservada e cometida ‑ a piedosa e patriótica tarefa de subir à cena política do país e de retirar de lá essa tragédia shakespeareana de words, words, words, que figura há mais de trinta mesitos no cartaz.
Ao tempo, digamos, em que a nau Portugal, crivadinha de rombos, voga, assim, sobre um mar de saliva altamente encapelado, e em mares de saliva submerge, tem a direita o direito, e o dever indeclinável, de fixar norte magnético a navegação tão desgarrada e de atalhar ao rumo desta, talhando‑lhe as vias de salvamento.
Ainda há pouco, há poucochinho, nós, portugueses, éramos um império dilatado a todo o mundo, e já hoje por hoje não somos senão uma courela exiguamente entaipada na Península, um grotesco retalho de Europa de lilliputianas proporções, um pobre lameiro irrelevante, um rematadito bairro‑da‑lata... Encolhemos. Encolheram‑nos! E da nossa vocação nacional‑universalista não há mais que falar. Ou ainda há, talvez, mas só naquela mesma medida em que certa personagem de Agustina colocava a questão, quando "dizia que a África haveria de conter o fantasma do português em tudo o que o substituísse".
Àparte isso, a única alternativa em aberto, que nos sobra por agora, consistirá em nos glosarmos e em nos repetirmos historicamente passo por passo ‑ fundando‑nos de novo como Nação vocacionada e soberana, e erigindo‑nos novamente como Povo às culminâncias do que nos está cometido empreender ainda.
Trata‑se de principiarmos outra vez a ser coisa que se veja, e de recomeçar tudo, em segunda edição. Se necessário, a partir dos Hermínios...
Responder à afundação da nacionalidade mediante uma segunda fundação da mesma; e, com alguns tantos fundadores, tratar de replicar à desalmada horda dos afundadores!
Recapitulando e concluindo. De agora em diante, há que rapar virilmente da caneta e de uma folha em branco, e começar a escrever tudo de novo ‑ tendo sempre bem presente que a nossa acção há‑de ser ditada por desígnios eminentemente fundacionais, sob pena de nada valer de nada.
Rodrigo Emílio
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terça-feira, julho 27, 2004
UMA JUVENTUDE
Escrever sobre José António Primo de Rivera é para nós como falar «dum irmão mais velho, que, antes de nascermos, tivesse abandonado a casa paterna», para correr mundo e morrer longe, um desses retratos amarelecidos, cartas e papéis em arca velha, uma história a recontar, um exemplo a seguir... Tudo isso nos legou José António e por tal, três décadas volvidas o achamos na juventude, e na juventude o temos como modelo, como padrão, como símbolo, como caminho...
Folheio o volume das Obras Completas reunidas e prefaciadas por Agustin del Rio Cisneros. Das páginas dos discursos, das notas políticas, das narrativas das batalhas, deste memorial, deste diário duma Alma e dum Movimento vejo recortar-se, imprimir-se, indelével, na imaginação e na manhã dos dias, a figura do Jovem César, um Espírito, um Destino, um Homem. Bardèche num livrinho que muitos temos à cabeceira, Qu`est-ce que le Fascisme, escreveu: «...O único doutrinador de quem os fascistas do após-guerra admitem as ideias quase sem reservas, não é nem Hitler, nem Mussolini, mas o jovem chefe da Falange que um destino trágico poupou às agruras do poder e aos compromissos da guerra. A escolha deste herói não é puramente sentimental. Ela mostra tudo o que existe de idealismo no mito fascista. E contém mais, um testemunho: os fascistas preferem os seus mártires aos seus ministros. Como toda a gente».
Preferimos os nossos mártires... Creio que é verdade e talvez aí esteja uma das nossas virtudes que são nossas fraquezas.
Preferimos José António a outros mestres tão coerentes, talvez mais ortodoxos, talvez mais lúcidos... Porque para nós ele significa a Coragem, a Fidelidade, a Alegria, a Juventude, o «sentido ascético e militar da Vida», queremos esse Paraíso difícil, implacável, onde se está de pé com os Anjos. Como ele somos jovens e temos Camaradas, como ele pedimos ao Senhor Deus das Tempestades e das Batalhas, que nos dê o Caminho mais difícil e mais justo, leve a capitólios ou rochas tarpeias não importa, mas que seja o nosso Caminho. E que o sigamos com a mesma Fidelidade, a mesma Alegria, o mesmo Amor, com que José António o trilhou, desde sempre, por boas e más horas, do Discurso da Comédia aquela manhã de Novembro, em Alicante, quando uma vez mais o rubro do Sangue e o negro da Terra se fundiram no epílogo dum «destes combates em que se deixa a pele e as entranhas».
Jaime Nogueira Pinto
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Folheio o volume das Obras Completas reunidas e prefaciadas por Agustin del Rio Cisneros. Das páginas dos discursos, das notas políticas, das narrativas das batalhas, deste memorial, deste diário duma Alma e dum Movimento vejo recortar-se, imprimir-se, indelével, na imaginação e na manhã dos dias, a figura do Jovem César, um Espírito, um Destino, um Homem. Bardèche num livrinho que muitos temos à cabeceira, Qu`est-ce que le Fascisme, escreveu: «...O único doutrinador de quem os fascistas do após-guerra admitem as ideias quase sem reservas, não é nem Hitler, nem Mussolini, mas o jovem chefe da Falange que um destino trágico poupou às agruras do poder e aos compromissos da guerra. A escolha deste herói não é puramente sentimental. Ela mostra tudo o que existe de idealismo no mito fascista. E contém mais, um testemunho: os fascistas preferem os seus mártires aos seus ministros. Como toda a gente».
Preferimos os nossos mártires... Creio que é verdade e talvez aí esteja uma das nossas virtudes que são nossas fraquezas.
Preferimos José António a outros mestres tão coerentes, talvez mais ortodoxos, talvez mais lúcidos... Porque para nós ele significa a Coragem, a Fidelidade, a Alegria, a Juventude, o «sentido ascético e militar da Vida», queremos esse Paraíso difícil, implacável, onde se está de pé com os Anjos. Como ele somos jovens e temos Camaradas, como ele pedimos ao Senhor Deus das Tempestades e das Batalhas, que nos dê o Caminho mais difícil e mais justo, leve a capitólios ou rochas tarpeias não importa, mas que seja o nosso Caminho. E que o sigamos com a mesma Fidelidade, a mesma Alegria, o mesmo Amor, com que José António o trilhou, desde sempre, por boas e más horas, do Discurso da Comédia aquela manhã de Novembro, em Alicante, quando uma vez mais o rubro do Sangue e o negro da Terra se fundiram no epílogo dum «destes combates em que se deixa a pele e as entranhas».
Jaime Nogueira Pinto
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segunda-feira, julho 26, 2004
Um militante esquecido
Quem foi o escritor português que escreveu e publicou em Paris o livro "Mussolini batisseur de l'avenir - harangue aux foules latines"?
Sobre o dito escritor está publicada uma biografia da autoria de Maria Alice Oliveira Lusitano Gonçalves, e um mais recente estudo de Miguel Castelo Branco; sobre o mesmo também versa um livro com poucos anos de Cecília Barreira, evocando o dito cujo e Almada Negreiros. E também um interessante e valioso livro de Ernesto Castro Leal, essencialmente sobre a figura de António Ferro, contém larga informação sobre ele.
Curiosamente, a obra acima referida teve edição em português mas no Brasil (em Portugal nunca foi publicado). Chamou-se então "Mussolini edificador do futuro - mensagem aos povos latinos".
A nossa Biblioteca Nacional tem o livro, mas quem fez a ficha enganou-se: atribui a obra ao pai, quando a mesma é do filho...
Quem é, quem é?
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Sobre o dito escritor está publicada uma biografia da autoria de Maria Alice Oliveira Lusitano Gonçalves, e um mais recente estudo de Miguel Castelo Branco; sobre o mesmo também versa um livro com poucos anos de Cecília Barreira, evocando o dito cujo e Almada Negreiros. E também um interessante e valioso livro de Ernesto Castro Leal, essencialmente sobre a figura de António Ferro, contém larga informação sobre ele.
Curiosamente, a obra acima referida teve edição em português mas no Brasil (em Portugal nunca foi publicado). Chamou-se então "Mussolini edificador do futuro - mensagem aos povos latinos".
A nossa Biblioteca Nacional tem o livro, mas quem fez a ficha enganou-se: atribui a obra ao pai, quando a mesma é do filho...
Quem é, quem é?
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Perante o Futuro
Persegue-se o Fascismo, calunia-se o Fascismo, apresentando-o qual sinónimo de brutalidade cruel e insensata. No entanto, no âmago dos espíritos viris, mesmo dos que se julgam antifascistas ou nunca se preocuparam com o problema, a aspiração fascista permanece latente, embora não consciente de si. Aqueles para quem a coragem e a honra não são palavras vãs sentem o íntimo desejo de servir uma causa superior, que elimine calculismos, branduras, fraquezas, ponderações, de se entregar a uma ideia transcendente que imprima sentido radical às suas existências e pela qual valha a pena lutar sem desfalecimentos, sofrer e, se necessário, morrer.
É a esses anseios de dedicação e sacrifício integrais, sempre presentes em quantos não forem lesmas rastejantes e cobardes, que importa despertar e tornar coerentes, mostrando que apenas o Fascismo lhes pode dar satisfação, porque apenas ele, na medida em que se baseia na noção de todo como norma e regra, logicamente tem autoridade para exigir uma obediência e uma devoção totais, imprimindo à vontade uma directriz militante, austera, séria, religiosa, que desconheça limites e peias. Apenas a ideia de totalidade justifica aquela entrega totalitária que as almas sinceras e nobres buscam afanosamente.
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Por todo o nosso universo, a juventude espera. Espera não sabe bem o quê, mas algo de diferente do que lhe prometem os doutores do marxismo ou do liberalismo. Espera, tem esperança em qualquer coisa de novo, que rompa com as idolatrias do presente. A juventude não crê no paraíso futuro, no vindouro reino da abundância que lhe oferece o marxismo, considerando tão rasteiro objectivo incapaz de legitimar os inflexíveis meios de terror empregados. E muito menos crê nas blandícias parlamentaristas e pluripartidárias, nas tentativas de castrar tudo quanto é enérgico, rude, impetuoso, trágico, em nome de um conformismo sem conteúdo, de um ethos pequeno-burguês que se aterra perante o que é grande e digno e só conhece as regras da utilidade e, sobretudo, do conforto.
Essa juventude de hoje, revoltada e desorientada, que pretende achar na sua agitação e turbulência, senão uma palavra de ordem definitiva e insuperável, uma hierarquia de valores inabalável e inequívoca, numa ânsia incontida de absoluto?
Que tenta ela alcançar, a mocidade que se arregimenta em grupos fechados, se uniformiza com blusões negros, que segue até ao fim tristes chefes de gang, que despreza as convenções, que procura motins e conflitos só pelo gosto do escândalo, da peleja, da arruaça? Não vemos nós palpitar, através de tais manifestações, anseios irreprimíveis de camaradagem, de dedicação e obediência, de disciplina e de ordem, de reforma social e de combatividade, embora deformados e corporizados em fenómenos incontestavelmente viciosos, incompletos, defeituosos?
A juventude, no seu íntimo, procura o heroísmo, procura o serviço do todo ou comunidade máxima, mesmo que, na maior parte dos casos, se fique por proezas à pistoleiro (mas gratuitas e sem fim lucrativo) e mesmo que não conheça outro todo, outra comunidade, que o seu bando.
Ela não sabe mais, porque mais não lhe ensinaram; porque sobre o heroísmo autêntico se cospem as maiores injúrias, e o serviço do todo e da comunidade é classificado de escravatura indigna e ignóbil que bestifica. O mundo inteiro lhe proclama que é perverso imolar uma vida por algo que valha em si e por si, insuperavelmente, na sua própria ideia - e os jovens, assim, matam e dão a vida por nada, sem razão nem sentido. O mundo inteiro lhe proclama que só as pessoas de carne e osso merecem respeito e possuem intrínseca dignidade e não as totalidades que as englobam - e os jovens, assim, entregam-se, por completo, às associações provisórias que formam.
Se a mocidade não pratica o heroísmo verdadeiro e a verdadeira devoção ao todo, não lhe cabe a culpa, mas aos seus mestres e educadores. Foram eles, são eles que cobrem de elogios os traidores e condenam, em tribunais, como criminosos, os que se bateram lealmente, até ao fim, pelas suas pátrias e nações.
Ai de nós, porém, se não soubermos aproveitar o que de generoso há nos ímpetos da juventude e a não conseguirmos encaminhar no justo rumo salvador, trazendo-lhe o credo que preencha o seu vazio espiritual e que dirija no bom sentido os seus instintos, em si válidos e sadios. Ai de nós, se não fizermos brotar o Fascismo, na sua plenitude e pureza, do pré-fascismo que é o clima espiritual dos moços de hoje.
António José de Brito
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É a esses anseios de dedicação e sacrifício integrais, sempre presentes em quantos não forem lesmas rastejantes e cobardes, que importa despertar e tornar coerentes, mostrando que apenas o Fascismo lhes pode dar satisfação, porque apenas ele, na medida em que se baseia na noção de todo como norma e regra, logicamente tem autoridade para exigir uma obediência e uma devoção totais, imprimindo à vontade uma directriz militante, austera, séria, religiosa, que desconheça limites e peias. Apenas a ideia de totalidade justifica aquela entrega totalitária que as almas sinceras e nobres buscam afanosamente.
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Por todo o nosso universo, a juventude espera. Espera não sabe bem o quê, mas algo de diferente do que lhe prometem os doutores do marxismo ou do liberalismo. Espera, tem esperança em qualquer coisa de novo, que rompa com as idolatrias do presente. A juventude não crê no paraíso futuro, no vindouro reino da abundância que lhe oferece o marxismo, considerando tão rasteiro objectivo incapaz de legitimar os inflexíveis meios de terror empregados. E muito menos crê nas blandícias parlamentaristas e pluripartidárias, nas tentativas de castrar tudo quanto é enérgico, rude, impetuoso, trágico, em nome de um conformismo sem conteúdo, de um ethos pequeno-burguês que se aterra perante o que é grande e digno e só conhece as regras da utilidade e, sobretudo, do conforto.
Essa juventude de hoje, revoltada e desorientada, que pretende achar na sua agitação e turbulência, senão uma palavra de ordem definitiva e insuperável, uma hierarquia de valores inabalável e inequívoca, numa ânsia incontida de absoluto?
Que tenta ela alcançar, a mocidade que se arregimenta em grupos fechados, se uniformiza com blusões negros, que segue até ao fim tristes chefes de gang, que despreza as convenções, que procura motins e conflitos só pelo gosto do escândalo, da peleja, da arruaça? Não vemos nós palpitar, através de tais manifestações, anseios irreprimíveis de camaradagem, de dedicação e obediência, de disciplina e de ordem, de reforma social e de combatividade, embora deformados e corporizados em fenómenos incontestavelmente viciosos, incompletos, defeituosos?
A juventude, no seu íntimo, procura o heroísmo, procura o serviço do todo ou comunidade máxima, mesmo que, na maior parte dos casos, se fique por proezas à pistoleiro (mas gratuitas e sem fim lucrativo) e mesmo que não conheça outro todo, outra comunidade, que o seu bando.
Ela não sabe mais, porque mais não lhe ensinaram; porque sobre o heroísmo autêntico se cospem as maiores injúrias, e o serviço do todo e da comunidade é classificado de escravatura indigna e ignóbil que bestifica. O mundo inteiro lhe proclama que é perverso imolar uma vida por algo que valha em si e por si, insuperavelmente, na sua própria ideia - e os jovens, assim, matam e dão a vida por nada, sem razão nem sentido. O mundo inteiro lhe proclama que só as pessoas de carne e osso merecem respeito e possuem intrínseca dignidade e não as totalidades que as englobam - e os jovens, assim, entregam-se, por completo, às associações provisórias que formam.
Se a mocidade não pratica o heroísmo verdadeiro e a verdadeira devoção ao todo, não lhe cabe a culpa, mas aos seus mestres e educadores. Foram eles, são eles que cobrem de elogios os traidores e condenam, em tribunais, como criminosos, os que se bateram lealmente, até ao fim, pelas suas pátrias e nações.
Ai de nós, porém, se não soubermos aproveitar o que de generoso há nos ímpetos da juventude e a não conseguirmos encaminhar no justo rumo salvador, trazendo-lhe o credo que preencha o seu vazio espiritual e que dirija no bom sentido os seus instintos, em si válidos e sadios. Ai de nós, se não fizermos brotar o Fascismo, na sua plenitude e pureza, do pré-fascismo que é o clima espiritual dos moços de hoje.
António José de Brito
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domingo, julho 25, 2004
Séculos irão passar
Séculos irão passar
sobre nós
sobre os túmulos dos jovens
esquecidos
cobertos pela relva
e pelas lágrimas de sangue
dos olhos de mãe
ou de irmã, que choram
pelo filho
pelo irmão...
Séculos irão passar
sobre nós...
Ó relâmpago
nos dias de chuva,
que nem uma divindade,
acenda a ferrugem
que jaz
nas candeias,
para que todos os séculos
nos vejam
e lamentem...
Alexandru Silistreanu
(tradução do romeno por J. Carâp)
Extraído do livro "Almas Nuas", in Miscarea
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sobre nós
sobre os túmulos dos jovens
esquecidos
cobertos pela relva
e pelas lágrimas de sangue
dos olhos de mãe
ou de irmã, que choram
pelo filho
pelo irmão...
Séculos irão passar
sobre nós...
Ó relâmpago
nos dias de chuva,
que nem uma divindade,
acenda a ferrugem
que jaz
nas candeias,
para que todos os séculos
nos vejam
e lamentem...
Alexandru Silistreanu
(tradução do romeno por J. Carâp)
Extraído do livro "Almas Nuas", in Miscarea
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Emil Cioran
Ao centro, sentado, Corneliu Codreanu; à nossa direita, Emil Cioran; à esquerda, de bigode, um legionário não identificado.
Ofereço esta fotografia a quantos procuram elementos biográficos sobre o grande escritor E. M. Cioran, com a advertência de que se procurarem na net encontram muito, mas frequentemente uma parte decisiva da sua biografia está escondida nessas biografias oficiais.
Cioran não foi apenas um extraordinário escritor, pensador e filósofo. Tal como Mircea Eliade ou os menos conhecidos Constantin Noica ou Nae Ionescu, também ele foi um ardoroso soldado político. Mesmo em Paris, Cioran ainda foi o fundador da revista dos exilados legionários romenos, DÁCIA.
Procurem informação na LIBERTATEA e seus links. Não se preocupem, que se encontra muito material em diversas línguas que não o romeno.
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sábado, julho 24, 2004
MANHÃS DE ROMA
"(...) Estão as ruas tomadas por tropas e é preciso fazer um grande rodeio além do Tibre para poder entrar na zona preparada para a grande celebração do Natal de Roma. Como convém, esta celebração consiste numa grande parada de forças armadas e enquadradas, pois Roma agora já não se esquece que os seus dois atributos históricos são a Ordem e a Força. Mussolini vai passar em revista as milícias fascistas, os avanguardistas e os ballila (organizações voluntárias juvenis e infantis) e núcleos do exército de terra, do mar e do ar.
Em seguida grande desfile de todas as forças. Por fim, na vasta planura de Parioli, a grande cerimónia da promoção dos milhares de avanguardistas que chegam à idade de passar à organização das milícias. Cada um recebe no acto uma espingarda e um livro - libro e moschetto, fascista perfetto. Quinze mil jovens voluntários fascistas vieram para este efeito, de toda a Itália, acampar sob os muros de Roma. No meio do povo, atrás de uma espessa coorte de fascistas veteranos, capacetes de aço, camisas negras, espero a passagem do Duce.
Há em toda a gente um ar de expectação, que não é o dos espectáculos de divertimento popular, antes uma nota severa, grave, verdadeiramente romana, parece acompanhar estes momentos de patriótica comunhão. Aviões, hidroplanos, concorrem à parada em grandes massas; ei-los que passam e perpassam, nas suas formaturas simétricas, ostentando as suas formas bizarras, fazendo soar os seus motores poderosamente ofegantes; quando passam, em rigoroso alinhamento, sobre as nossas cabeça, parece-me vê-los que vão desdobrando atrás de si sobre a terra italiana, um protector, um inviolável manto de garantia, de defesa contra os azares tristes da guerra. (E penso: quando estará o céu português igualmente povoado destas águias benéficas?)
Agora, chega o Duce, a cavalo, vestido de generalíssimo fascista, no gorro erguendo-se um direito e alto penacho branco, a que parece vão presas as palavras do célebre mote: «Se avanço, segui-me; se recuo, matai-me; se morro, vingai-me!» É belo o cavalo que monta, luzido o Estado-Maior que o circunda, severas camisas negras, brilhantes uniformes.
À passagem, o hino fascista Giovinnezza, Giovinnezza, Primavera di belleza! vai-se erguendo em crescendo, os corpos imobilizam-se, os braços levantam-se na saudação romana.
Agora passa o Duce mesmo diante de mim, a alguns metros, vejo a sua forte máscara pálida, e o olhar profundo na expressão de perscrutar a muralha viva de veteranos fascistas adiante de mim, saúda: os chefes levantam o braço direito à romana, os soldados levantam-no também, mas armado do punhal, a prumo, com a ponta para baixo, como pronto a justiçar os inimigos da pátria; e das bocas sai a varonil saudação: Eia! Eia!
Depois o desfile: onde vais, tão garbosa, na severa elegância das tuas camisas negras, ó juventude italiana, na beleza da tua primavera, a que campo de batalha vais para ser ceifada, na heróica defesa da tua pátria e da nossa comum civilização latina? Que Deus te acompanhe no teu nobre e heróico voluntariado e que o sangue português não se desonre, estando ausente das futuras batalhas pela civilização onde tu estarás presente, bem armada, bem preparada!
Agora o Duce galopou na planície vasta em que todas estas legiões ostentam a sua massa compacta e interminável; cerimónia sóbria, impressionante da promoção dos avanguardistas à milícia; breves, fortes, palavras de proclamação saem da boca do Chefe e parece se vêm cair na alma de cada soldado, pois é quase visível a maravilhosa unidade de espírito desta multidão palpitante de vida e energia; por fim os braços se erguem, as bocas e os metais estrondeiam na formidável aclamação. Espectáculo inolvidável aquele! A planície imensa sustentava aquela enorme massa humana, rumorosa e vibrante, como produto seu, como terra que oferta a sua seara; a Terra-Mater romana como que afirmava ali a sua perene fecundidade produtora de gente forte e imperial. E Mussolini, que eu distingo perfeitamente, olha o espectáculo com expressão de júbilo profundo mas singelo, como se fosse aquela atmosfera de glória o ar natural que sempre desejariam aspirar os seus pulmões: como o maior dos romanos, Mussolini ali vê premiada a sua fé porque Roma está ali diante dele, reconstruída, nessas muralhas vivas de juventude armada, estreitamente unida como os feixes litórios, audaciosamente combativa como as águias imperiais!"
José Pequito Rebelo (em 1929)
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Em seguida grande desfile de todas as forças. Por fim, na vasta planura de Parioli, a grande cerimónia da promoção dos milhares de avanguardistas que chegam à idade de passar à organização das milícias. Cada um recebe no acto uma espingarda e um livro - libro e moschetto, fascista perfetto. Quinze mil jovens voluntários fascistas vieram para este efeito, de toda a Itália, acampar sob os muros de Roma. No meio do povo, atrás de uma espessa coorte de fascistas veteranos, capacetes de aço, camisas negras, espero a passagem do Duce.
Há em toda a gente um ar de expectação, que não é o dos espectáculos de divertimento popular, antes uma nota severa, grave, verdadeiramente romana, parece acompanhar estes momentos de patriótica comunhão. Aviões, hidroplanos, concorrem à parada em grandes massas; ei-los que passam e perpassam, nas suas formaturas simétricas, ostentando as suas formas bizarras, fazendo soar os seus motores poderosamente ofegantes; quando passam, em rigoroso alinhamento, sobre as nossas cabeça, parece-me vê-los que vão desdobrando atrás de si sobre a terra italiana, um protector, um inviolável manto de garantia, de defesa contra os azares tristes da guerra. (E penso: quando estará o céu português igualmente povoado destas águias benéficas?)
Agora, chega o Duce, a cavalo, vestido de generalíssimo fascista, no gorro erguendo-se um direito e alto penacho branco, a que parece vão presas as palavras do célebre mote: «Se avanço, segui-me; se recuo, matai-me; se morro, vingai-me!» É belo o cavalo que monta, luzido o Estado-Maior que o circunda, severas camisas negras, brilhantes uniformes.
À passagem, o hino fascista Giovinnezza, Giovinnezza, Primavera di belleza! vai-se erguendo em crescendo, os corpos imobilizam-se, os braços levantam-se na saudação romana.
Agora passa o Duce mesmo diante de mim, a alguns metros, vejo a sua forte máscara pálida, e o olhar profundo na expressão de perscrutar a muralha viva de veteranos fascistas adiante de mim, saúda: os chefes levantam o braço direito à romana, os soldados levantam-no também, mas armado do punhal, a prumo, com a ponta para baixo, como pronto a justiçar os inimigos da pátria; e das bocas sai a varonil saudação: Eia! Eia!
Depois o desfile: onde vais, tão garbosa, na severa elegância das tuas camisas negras, ó juventude italiana, na beleza da tua primavera, a que campo de batalha vais para ser ceifada, na heróica defesa da tua pátria e da nossa comum civilização latina? Que Deus te acompanhe no teu nobre e heróico voluntariado e que o sangue português não se desonre, estando ausente das futuras batalhas pela civilização onde tu estarás presente, bem armada, bem preparada!
Agora o Duce galopou na planície vasta em que todas estas legiões ostentam a sua massa compacta e interminável; cerimónia sóbria, impressionante da promoção dos avanguardistas à milícia; breves, fortes, palavras de proclamação saem da boca do Chefe e parece se vêm cair na alma de cada soldado, pois é quase visível a maravilhosa unidade de espírito desta multidão palpitante de vida e energia; por fim os braços se erguem, as bocas e os metais estrondeiam na formidável aclamação. Espectáculo inolvidável aquele! A planície imensa sustentava aquela enorme massa humana, rumorosa e vibrante, como produto seu, como terra que oferta a sua seara; a Terra-Mater romana como que afirmava ali a sua perene fecundidade produtora de gente forte e imperial. E Mussolini, que eu distingo perfeitamente, olha o espectáculo com expressão de júbilo profundo mas singelo, como se fosse aquela atmosfera de glória o ar natural que sempre desejariam aspirar os seus pulmões: como o maior dos romanos, Mussolini ali vê premiada a sua fé porque Roma está ali diante dele, reconstruída, nessas muralhas vivas de juventude armada, estreitamente unida como os feixes litórios, audaciosamente combativa como as águias imperiais!"
José Pequito Rebelo (em 1929)
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DIREITOS, IGUALDADE, JUSTIÇA
Os homens nascem e continuam iguais em direitos? Todos os homens são iguais perante a Lei?Existe ali um erro de expressão ou equívoco. Os homens não nascem iguais em direitos. Uns são estúpidos, outros inteligentes; uns fortes, outros fracos; uns trabalhadores, outros preguiçosos; uns criadores, outros imitadores; uns com vocação intelectual, outros com manual, outros de sensibilidade; uns para as artes, outros para as ciências; uns para a imaginação, outros para a técnica; alguns têm, mesmo, anormalidades, deficiências físicas, etc.; isto, pondo de parte que uns nasçam pobres e outros ricos. Todos aqueles têm, de nascença, os mesmos direitos?
E depois... os homens não continuam iguais em direitos. Uns trabalham muito, outros pouco; uns criam obra muito valiosa para os outros homens e para a sociedade, outros limitam-se a obra vulgar e de somenos; uns são raros, outros são multidão; uns vêm ocupar funções importantes, outros funções menores; uns têm uma especialidade, outros outra. Todos continuam a ter, sempre, os mesmos direitos?
Se me disserem que há direitos que todos os homens gozam, de nascença, ainda poderei admitir, de certo modo: e aí estariam o direito à vida, o direito ao pão, o direito ao desenvolvimento espiritual, etc. Ainda aqui, porém, a expressão me parece melindrosa, pouco feliz. Realmente, se a vida é um direito do homem, de cada homem, como poderemos exigir-lha? Como poderemos mandar homens para a guerra? E o pão? Como admitir que alguém passe fome, quando a Pátria ou uma grande causa estão em perigo, e não se pode dar fartura? Não. E nem todos os homens são iguais perante a Lei. Uns gozam de privilégios que outros não possuem, uns sofrem consequências que a outros não atingem.O mal daquelas expressões e declarações iniciais é serem equívocas, basearem-se (mesmo inconscientemente) em princípios liberais e igualitários, levarem a convicções erróneas, ao enraizamento de crenças na igualdade dos homens.
Os homens não são iguais perante a Lei. A Lei é que é universal, conglobante, e pela sua natureza, inclui as diversidades e as particularidades. A Lei define casos, prevê-os. A Lê é una, mas não uniforme. Na igualdade da Lei Universal encaixam-se casos particulares, as diferenciações dos homens desiguais. Pode-se, pois, admitir a expressão: a Lei é para todos; ou: a Lei obriga todos, ou: a Lei abrange todos. Por outro lado, se, em vez de falarem em direitos do homem, mesmo que seja em determinados direitos do homem, falarem em justiça ou justeza da sociedade, — tudo ficará mais certo e inequívoco. O cumprimento da sociedade, do Bem, do Uno, do Espírito exige a harmonia entre as partes, o pleno funcionamento de cada uma delas, o preenchimento da sua natureza, o desenvolvimento articulado de todos e de cada um. É, pois, a obediência ao Valor e ao Uno, na sua autenticidade, é, pois, a justeza social que exigem, na adequada medida, no lugar certo e no momento próprio, o bem particular, o bem de cada um. A natureza da sociedade é, consequentemente, o dever da sociedade, que é harmonia de partes num todo. A sociedade ajustada a si mesma é a justeza da sociedade, é a justiça social e, portanto, o benefício que se comunica pelas veias a todo o corpo, irrigando e animando todos os órgãos, tecidos, células, em justiça distributiva para a edificação comum.
Goulart Nogueira
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E depois... os homens não continuam iguais em direitos. Uns trabalham muito, outros pouco; uns criam obra muito valiosa para os outros homens e para a sociedade, outros limitam-se a obra vulgar e de somenos; uns são raros, outros são multidão; uns vêm ocupar funções importantes, outros funções menores; uns têm uma especialidade, outros outra. Todos continuam a ter, sempre, os mesmos direitos?
Se me disserem que há direitos que todos os homens gozam, de nascença, ainda poderei admitir, de certo modo: e aí estariam o direito à vida, o direito ao pão, o direito ao desenvolvimento espiritual, etc. Ainda aqui, porém, a expressão me parece melindrosa, pouco feliz. Realmente, se a vida é um direito do homem, de cada homem, como poderemos exigir-lha? Como poderemos mandar homens para a guerra? E o pão? Como admitir que alguém passe fome, quando a Pátria ou uma grande causa estão em perigo, e não se pode dar fartura? Não. E nem todos os homens são iguais perante a Lei. Uns gozam de privilégios que outros não possuem, uns sofrem consequências que a outros não atingem.O mal daquelas expressões e declarações iniciais é serem equívocas, basearem-se (mesmo inconscientemente) em princípios liberais e igualitários, levarem a convicções erróneas, ao enraizamento de crenças na igualdade dos homens.
Os homens não são iguais perante a Lei. A Lei é que é universal, conglobante, e pela sua natureza, inclui as diversidades e as particularidades. A Lei define casos, prevê-os. A Lê é una, mas não uniforme. Na igualdade da Lei Universal encaixam-se casos particulares, as diferenciações dos homens desiguais. Pode-se, pois, admitir a expressão: a Lei é para todos; ou: a Lei obriga todos, ou: a Lei abrange todos. Por outro lado, se, em vez de falarem em direitos do homem, mesmo que seja em determinados direitos do homem, falarem em justiça ou justeza da sociedade, — tudo ficará mais certo e inequívoco. O cumprimento da sociedade, do Bem, do Uno, do Espírito exige a harmonia entre as partes, o pleno funcionamento de cada uma delas, o preenchimento da sua natureza, o desenvolvimento articulado de todos e de cada um. É, pois, a obediência ao Valor e ao Uno, na sua autenticidade, é, pois, a justeza social que exigem, na adequada medida, no lugar certo e no momento próprio, o bem particular, o bem de cada um. A natureza da sociedade é, consequentemente, o dever da sociedade, que é harmonia de partes num todo. A sociedade ajustada a si mesma é a justeza da sociedade, é a justiça social e, portanto, o benefício que se comunica pelas veias a todo o corpo, irrigando e animando todos os órgãos, tecidos, células, em justiça distributiva para a edificação comum.
Goulart Nogueira
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sexta-feira, julho 23, 2004
Tintin nas SS
Há poucos anos, Léon Degrelle lançou o seu livro sensação, onde se apresentava como o inspirador da figura de Tintin.
Dada a figura em causa, a tese provocou grande reboliço. Teria realmente Hergé tomado como modelo o seu amigo Léon Degrelle para compor a mais famosa das suas personagens? Degrelle defende que sim.
Eis dois pequenos excertos da entrevista então concedida por Léon Degrelle ao "Independente".
----------
Independente — "Tintin, mon Copain" é a verdadeira história do jovem repórter do Petit Vingtième ou a sua?
"O meu livro "Tintim, mon Copain" vai tornar pública não só a verdadeira história de Hergé e a minha mas as duas, pois as nossas vidas coincidiram fraternalmente, reencontrando-se sempre, quer na imensidão das Américas, ao longo dos milhares de quilómetros da frente russa ou no amargo exílio espanhol. Não se trata pois da vida de um dos dois comparsas, mas sim da vida de dois cúmplices, um deles criando a partir do imaginário e o outro construindo a partir da realidade, movidos através das circunstâncias mais imprevistas por entusiasmos e reacções idênticas".
---------
Independente — Qual é a história de Tintim que prefere?
"É, incontestavelmente, "Tintim no País dos Sovietes". Porque Hergé foi muito particularmente com este álbum, um precursor, denunciando Estaline como o mais selvagem dos assassinos do século, enquanto alguns o apresentavam como um Messias e que o poeta Aragon proclamava: «Ó grande Estaline, Tu que fazes renascer o homem, Tu que fazes florir a Primavera...» Em 1975, Miterrand cantava ainda a glória da U.R.S.S. «sobretudo porque a sua revolução foi feita a partir de análises que nos são próprias». O Tintim de Hergé, por seu lado, desmascara logo em 1929 a ignomínia comunista, hoje feita em farrapos, mas, infelizmente, liquidada demasiado tarde, uma vez que os prejuízos são hoje irreparáveis. Foi seguindo o exemplo de Tintim que partimos em 1941 para a U.R.S.S. com o objectivo de aniquilar aquele regime diabólico e de trazer vinte povos admiráveis para uma comunidade europeia. Em 42 tudo era possível. O nosso esforço para libertar aqueles países foi deitado por terra, não por um comunismo, que reduzido a si próprio teria sido inexoravelmente varrido, mas por um fanatismo aberrante de um Roosevelt que foi, logo antes de Estalinegrado, o grande fornecedor de armas e material aos soviéticos".
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Dada a figura em causa, a tese provocou grande reboliço. Teria realmente Hergé tomado como modelo o seu amigo Léon Degrelle para compor a mais famosa das suas personagens? Degrelle defende que sim.
Eis dois pequenos excertos da entrevista então concedida por Léon Degrelle ao "Independente".
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Independente — "Tintin, mon Copain" é a verdadeira história do jovem repórter do Petit Vingtième ou a sua?
"O meu livro "Tintim, mon Copain" vai tornar pública não só a verdadeira história de Hergé e a minha mas as duas, pois as nossas vidas coincidiram fraternalmente, reencontrando-se sempre, quer na imensidão das Américas, ao longo dos milhares de quilómetros da frente russa ou no amargo exílio espanhol. Não se trata pois da vida de um dos dois comparsas, mas sim da vida de dois cúmplices, um deles criando a partir do imaginário e o outro construindo a partir da realidade, movidos através das circunstâncias mais imprevistas por entusiasmos e reacções idênticas".
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Independente — Qual é a história de Tintim que prefere?
"É, incontestavelmente, "Tintim no País dos Sovietes". Porque Hergé foi muito particularmente com este álbum, um precursor, denunciando Estaline como o mais selvagem dos assassinos do século, enquanto alguns o apresentavam como um Messias e que o poeta Aragon proclamava: «Ó grande Estaline, Tu que fazes renascer o homem, Tu que fazes florir a Primavera...» Em 1975, Miterrand cantava ainda a glória da U.R.S.S. «sobretudo porque a sua revolução foi feita a partir de análises que nos são próprias». O Tintim de Hergé, por seu lado, desmascara logo em 1929 a ignomínia comunista, hoje feita em farrapos, mas, infelizmente, liquidada demasiado tarde, uma vez que os prejuízos são hoje irreparáveis. Foi seguindo o exemplo de Tintim que partimos em 1941 para a U.R.S.S. com o objectivo de aniquilar aquele regime diabólico e de trazer vinte povos admiráveis para uma comunidade europeia. Em 42 tudo era possível. O nosso esforço para libertar aqueles países foi deitado por terra, não por um comunismo, que reduzido a si próprio teria sido inexoravelmente varrido, mas por um fanatismo aberrante de um Roosevelt que foi, logo antes de Estalinegrado, o grande fornecedor de armas e material aos soviéticos".
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quinta-feira, julho 22, 2004
A HONRA DAS IDEIAS
Para quantos teimam em considerar os fascistas de hoje como velhos nostálgicos de uma época remota, talvez cause uma certa perplexidade o testemunho de quem não conheceu directamente os homens e os conhecimentos que influíram na tentativa de criar uma Nova Ordem europeia. Antes de tudo o mais, é interessante verificar que os mais entusiastas militantes nacionais-revolucionários da actualidade nasceram, quase todos, depois da queda de Berlim em poder das hordas bolchevistas: não participaram, portanto, na aventura política da Revolução Fascista nem foram submetidos àquela educação totalitária tantas vezes criticada pelos salta-pocinhas das nossas sacristias. Nasceram sob o signo da derrota, crepúsculo marcado pela sombra sinistra das forcas, após uma paródia de justiça que perdurará na história universal sob o nome ignominioso de julgamento de Nuremberga. A vitória dos cruzados da democracia originou uma impiedosa perseguição a todos os suspeitos de oposição aos mitos democráticos sobre os quais se procurou fundamentar a monstruosa aliança entre as plutocracias ocidentais e o comunismo internacional. A par da caça aos fascistas, os vencedores desencadearam contra os regimes subjugados uma campanha caluniosa sem precedentes, que envolveu todos os sectores da informação e da cultura, no propósito ostensivo de difamar e denegrir, de falsear e deformar, de modo a condicionar as massas e orientar a opinião pública no ódio aos vencidos.
Mas não obstante as perseguições, as denúncias, as traições de toda a espécie de que têm vindo a ser vítimas os fascistas fiéis aos seus ideais, o certo é que, por mais esforços da vingança judeu-comunista não conseguem extirpar completamente uma fé que não se rende. Prevaleceu a força bruta do materialismo, mas os seus processos não convenceram os vencidos nem aqueles a quem estes transmitiram a ideia de que eram portadores. O repugnante espectáculo da exposição pública do cadáver de Mussolini, o massacre dos intelectuais fascistas em toda a Europa, deram a impressão do colapso do movimento de ideias que eles haviam suscitado. A morte do Duce, a morte do Führer, e o desaparecimento trágico de tantos outros mentores da cruzada anti-bolchevista teriam como corolário a falência do Fascismo no mundo? Muita gente convenceu-se de que a queda aparatosa das potências do Eixo, o banimento das ideias que geraram as suas instituições, representavam efectivamente aquele fim. Pura ilusão! No preciso momento em que os rebeldes comunistas penduraram numa praça de Milão o corpo ensanguentado de Mussolini, o Fascismo, ferido no seu corpo, mas invulnerável na sua alma, voltou a surgir com a força irreprimível das grandes certezas. Com a morte do Duce martirizado, o Fascismo, liberto do seu invólucro terreno, superando finalmente as contingências históricas, alcançou o nível espiritual do transcendente ultrapassando os compromissos quotidianos inerentes ao poder político, os erros que são imputáveis ao seu exercício e as limitações que a guerra não podia deixar de impor. O Fascismo nasceu novamente quando os Aliados desferiam os seus golpes fatais nos europeus vencidos, surgiu nos escombros da derrota como um sinal de redenção, um apelo à vida, um impulso à reconquista. O desfecho da guerra, longe de dar por findo o combate, conferiu-lhe nova dimensão. A continuidade ideal que, a partir de então, sustentou a chama do Fascismo, traduz-se por uma visão do mundo e da vida que não se compadece com transigências doutrinárias nem com subterfúgios diplomáticos. Quem escreve estas linhas não tem — nem quer ter — outra óptica dos acontecimentos, quanto à formulação dos juízos de valor, que não seja a correspondente a uma visão do mundo e da vida em estrita conformidade com a ortodoxia fascista. Trata-se, na verdade, de dar testemunho de uma fé, de apresentar, agora e aqui, as soluções mais adequadas para a resolução dos grandes problemas da nossa época. A nossa voz, que tanta gente procura sufocar, poderá, ou não, ser ouvida no deserto em que estamos confinados? Não importa. Sabemos que, como afirmava Guilherme, o Taciturno, «não é preciso ter esperança para empreender, nem ter êxito para perseverar». Temos deveres para com os nossos mortos: são eles, afinal, que nos indicam o caminho da honra. Caminho difícil e penoso, que implica para quem se decida a trilhá-lo, uma abnegação sem limites e a total renúncia aos prazeres legítimos que a escolha voluntária de uma posição na trincheira de combate acarreta no seu rol de sacrifícios. Mas a decisão de viver perigosamente, subjacente numa profissão de fé fascista, encontra, para nós, a sua significação profunda na frase de Schopenhauer: «o que precisamos não é de uma vida feliz mas de uma vida heróica». Assim, como as perseguições obrigaram os primeiros cristãos a procurar refúgio nas catacumbas romanas, para nas trevas preservar a Luz que aquecia as suas almas, também os vencidos tiveram de subtrair-se à furiosa depuração do pós-guerra. Mas a vigília nas catacumbas a que eles foram constrangidos não deve ser interpretada como uma fuga à batalha: na verdade, o combate continua. E nessa autêntica velada de armas, a que não falta a reconfortante presença de jovens militantes, cada vez mais numerosos, para quem a guerra é um episódio de um passado a que não assistiram, estão a forjar-se as almas dos futuros combatentes do Fascismo. No final do profundo túnel onde a derrota militar precipitou os vencidos, antevê-se já a claridade de uma nova aurora, assinalando a vitória da vida sobre a morte. Os momentos que precedem a confrontação decisiva, são precisamente aqueles que exigem maior força de vontade e serenidade. Sejamos, pois, sóbrios e vigilantes, conforme recomenda o Evangelho, e procuremos não adormecer como os Apóstolos no jardim das oliveiras. Há-de chegar a hora do resgate. Temos de ser dignos dos camaradas que nos precederam e vingar a sua morte. Se não nos furtarmos a essa obrigação, também de nós se poderá dizer que a nossa Honra é a nossa Fidelidade.
Pierre Hofstetter
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Mas não obstante as perseguições, as denúncias, as traições de toda a espécie de que têm vindo a ser vítimas os fascistas fiéis aos seus ideais, o certo é que, por mais esforços da vingança judeu-comunista não conseguem extirpar completamente uma fé que não se rende. Prevaleceu a força bruta do materialismo, mas os seus processos não convenceram os vencidos nem aqueles a quem estes transmitiram a ideia de que eram portadores. O repugnante espectáculo da exposição pública do cadáver de Mussolini, o massacre dos intelectuais fascistas em toda a Europa, deram a impressão do colapso do movimento de ideias que eles haviam suscitado. A morte do Duce, a morte do Führer, e o desaparecimento trágico de tantos outros mentores da cruzada anti-bolchevista teriam como corolário a falência do Fascismo no mundo? Muita gente convenceu-se de que a queda aparatosa das potências do Eixo, o banimento das ideias que geraram as suas instituições, representavam efectivamente aquele fim. Pura ilusão! No preciso momento em que os rebeldes comunistas penduraram numa praça de Milão o corpo ensanguentado de Mussolini, o Fascismo, ferido no seu corpo, mas invulnerável na sua alma, voltou a surgir com a força irreprimível das grandes certezas. Com a morte do Duce martirizado, o Fascismo, liberto do seu invólucro terreno, superando finalmente as contingências históricas, alcançou o nível espiritual do transcendente ultrapassando os compromissos quotidianos inerentes ao poder político, os erros que são imputáveis ao seu exercício e as limitações que a guerra não podia deixar de impor. O Fascismo nasceu novamente quando os Aliados desferiam os seus golpes fatais nos europeus vencidos, surgiu nos escombros da derrota como um sinal de redenção, um apelo à vida, um impulso à reconquista. O desfecho da guerra, longe de dar por findo o combate, conferiu-lhe nova dimensão. A continuidade ideal que, a partir de então, sustentou a chama do Fascismo, traduz-se por uma visão do mundo e da vida que não se compadece com transigências doutrinárias nem com subterfúgios diplomáticos. Quem escreve estas linhas não tem — nem quer ter — outra óptica dos acontecimentos, quanto à formulação dos juízos de valor, que não seja a correspondente a uma visão do mundo e da vida em estrita conformidade com a ortodoxia fascista. Trata-se, na verdade, de dar testemunho de uma fé, de apresentar, agora e aqui, as soluções mais adequadas para a resolução dos grandes problemas da nossa época. A nossa voz, que tanta gente procura sufocar, poderá, ou não, ser ouvida no deserto em que estamos confinados? Não importa. Sabemos que, como afirmava Guilherme, o Taciturno, «não é preciso ter esperança para empreender, nem ter êxito para perseverar». Temos deveres para com os nossos mortos: são eles, afinal, que nos indicam o caminho da honra. Caminho difícil e penoso, que implica para quem se decida a trilhá-lo, uma abnegação sem limites e a total renúncia aos prazeres legítimos que a escolha voluntária de uma posição na trincheira de combate acarreta no seu rol de sacrifícios. Mas a decisão de viver perigosamente, subjacente numa profissão de fé fascista, encontra, para nós, a sua significação profunda na frase de Schopenhauer: «o que precisamos não é de uma vida feliz mas de uma vida heróica». Assim, como as perseguições obrigaram os primeiros cristãos a procurar refúgio nas catacumbas romanas, para nas trevas preservar a Luz que aquecia as suas almas, também os vencidos tiveram de subtrair-se à furiosa depuração do pós-guerra. Mas a vigília nas catacumbas a que eles foram constrangidos não deve ser interpretada como uma fuga à batalha: na verdade, o combate continua. E nessa autêntica velada de armas, a que não falta a reconfortante presença de jovens militantes, cada vez mais numerosos, para quem a guerra é um episódio de um passado a que não assistiram, estão a forjar-se as almas dos futuros combatentes do Fascismo. No final do profundo túnel onde a derrota militar precipitou os vencidos, antevê-se já a claridade de uma nova aurora, assinalando a vitória da vida sobre a morte. Os momentos que precedem a confrontação decisiva, são precisamente aqueles que exigem maior força de vontade e serenidade. Sejamos, pois, sóbrios e vigilantes, conforme recomenda o Evangelho, e procuremos não adormecer como os Apóstolos no jardim das oliveiras. Há-de chegar a hora do resgate. Temos de ser dignos dos camaradas que nos precederam e vingar a sua morte. Se não nos furtarmos a essa obrigação, também de nós se poderá dizer que a nossa Honra é a nossa Fidelidade.
Pierre Hofstetter
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quarta-feira, julho 21, 2004
O pensamento de Ernst Krieck
O pedagofo e filósofo Ernst Krieck foi um dos mais relevantes pensadores e teorizadores do movimento nacional-socialista. Ao findar a guerra exilou-se na Argentina, onde ainda colaborou na revista de ideias políticas “Der Weg”, aí mantida por exilados alemães. Ali morreu, em 1947, inteiramente fiel aos ideais que proclamou.
O Prof. António José de Brito dedicou há anos um estudo à filosofia de Ernst Krieck que se mantém perfeitamente actual. Como o autor sublinhou, na exposição das ideias de Krieck foram utilizados principalmente os livros “Educação Política Nacional” (do qual há uma tradução espanhola, da editorial Labor) e “Nacional‑Socialismo e Ciência” este de E. Krieck e B. Rust.
Segue o referido ensaio de Brito.
ERNST KRIECK
Ernst Krieck foi um dos pensadores alemães mais representativos do nacional‑socialismo, tendo, na vigência deste regime, exercido a alto cargo de reitor da Universidade de Heidelberga. Pedagogo, mas acima de tudo filósofo, de modesto professor primário ascendeu à cátedra, após, em 1924, aquela Universidade lhe ter concedido a grau de doutor honoris causa pelos seus trabalhos “Personalidade e Cultura”, “Progresso e Educação” e “Filosofia da Educação”.
Idealista subjectivo e liberal, embora ardente patriota, já no seu volume de 1917, “A ideia estatal alemã”, estão contidos potencialmente alguns dos pontos de vista que, no futuro, havia de perfilhar. Em 1930, “A tarefa da educação alemã” e, em 1931, o opúsculo “Estado totalitário popular e Educação nacional”, marcam as etapas que o haviam de conduzir às teses expostas, em 1932, na obra “Educação política Nacional” e, mais tarde, na “Antropologia nacional política” e à plena adesão ao III Reich que serviu com dedicação indesmentida e fervor inigualável.
A concepção do mundo de Ernst Krieck, a partir do momento em que rompeu com o neokantismo idealista e superficial ainda incrustado em certos ambientes da república de Weimar, inspira-se directamente nas correntes vitalistas em que se destacam, superiormente, um Nietszche e um Dilthey e que contam, entre outros, com um Spengler, um Simmel, um Klages, um Hans Driesch.
Krieck, no entanto, apelando para a Vida como centro da sua construção, não se entrega às diatribes dum Klages ou dum Spengler contra o Espírito e a Consciência. Ele expressamente se mostra partidário daquela “antropologia que remonta a Goethe e está ainda em evolução: a que concebe o corpo, a alma e o Espírito como facetas e repercussões diversas duma unidade vital básica e que, por isso mesmo, logrou não só afastar a antiga desunião metafísica entre o corpo e a alma, mas também repele o novíssimo intento de abrir um abismo de antagonismo metafísico entre o corpo-alma dum lado e o Espírito do outro”. A alusão a Ludvig Klages é nítida, pois foi este o grande propugnador da doutrina do Espírito inimigo da Alma, em estudo célebre assim intitulado.
Para Krieck o Espírito, pelo contrário, insere-se harmoniosamente no todo vital e é, até, o seu grande elemento constitutivo. “O hic et nunc, o tempo e o lugar -afirma-o - não significam outra coisa senão a existência temporal do eterno, a forma efémera do imperecível”.
É claro que Krieck considera que o eterno e o imperecível ou também, na sua própria linguagem, “o ser, o dever-ser, o racional, o verdadeiro, o lógico”, só podem existir e captar-se exactamente enquanto realidades efémeras e espácio-temporais. Mesmo quem tenta elevar-se à totalidade e contemplar a totalidade, ensina Ernst Krieck, apenas participa no todo e conhece o todo, a partir da sua especial perspectiva, da sua situação específica.
A Vida que é também Espírito faz, portanto, com que o Espírito unicamente se realize “sub specie individualitatis”. Daí, por exemplo, que haja várias ciências e até ciências nacionais, todas representando uma maneira de ver válida acerca da totalidade vital, um meio aceitável do todo se apreender a si próprio, um e outro dotados, a um tempo, da intrínseca verdade do que em si e por si é espírito, e do carácter limitado, restrito e incompleto do que é empírico, sensível, localizável no espaço e referenciáveI no tempo.
Contudo se o parcelar, o individual, é expressão da Vida, da Vida que incluindo em si o eterno, o perene e fenomenicamente os manifestando, é a autêntica totalidade, devemos concluir que o modo de existir parcial e fragmentário do eterno, do perene, tem de buscar o seu sentido e fim exactamente na eternidade e na perenidade plenas, pois doutra forma desligar‑se‑ia do Espírito, deixando a Vida de constituir a verdadeira totalidade e desagregando‑se a si própria.
O todo vital manifesta a logicidade sob vários aspectos singulares. O aspecto superior será sempre, porém, aquele que mais intensamente participar do lógico e, englobando‑o a si, mais se aproximar do mesmo todo vital. “Do ponto de vista objectivo a verdade dos nossos conhecimentos depende do modo e da intensidade da nossa participação cognoscitiva”, escreve Krieck.
Quer dizer: o individual e o parcelar, em que o Espírito se encarna ao processar‑se a Vida, têm de consistir, se não desejarem autodestruir‑se e tombar na dissolução e no caos, têm de consistir, repetimos, num esforço de íntima superação, de transcensão dos seus estreitos limites. O Espírito só existe individualizado, mas o individual, por seu turno, só existe tendendo para o que o ultrapassa, e é essa dialéctica, é esse movimento, o que constitui a Vida, a totalidade vital. Simplesmente, quem fala em totalidade, fala no que é insuperável e inultrapassável, ou seja, fala no que vale supremamente. O todo, com efeito, é o radicalmente “primeiro”, o que tem integral anterioridade, logo é o que vale em si e por si. Krieck sabe‑o, e, assim, adopta na sua máxima extensão o “velho aforismo aristotélico: O todo está antes das partes”.
Eis porque ele repele, na ética, a apologia da individualidade isolada e egoísta, e acha que nada há de concebível e justo senão em função da totalidade vital, pronunciando‑se em favor do ser particular que, através do seu esforço e sacrifício, visa semelhante totalidade e a faz norma e pauta do seu actuar. É óbvio que tal esforço e sacrifício totalista não pode, sem se aniquilar, diversificar‑se internamente em várias camadas ou planos separados. Por isso se impõe que a Economia, o Direito, a Religião, a Arte, a Ciência, sendo particularizações temporais do Espírito, se unifiquem entre si, a fim de cada uma se tornar o mais fecunda e eficaz possível, deixando de ser mera particularização, mero átomo desgarrado, e recebendo, no maior grau, através duma máxima inserção no todo vital, o influxo do Logos, do perene, do eterno, do imutável.
Em consequência, Krieck revolta‑se contra a chamada autonomia da ciência, pensando que esta será tanto mais eficientemente, cientificamente, quanto menos isolada, isto é, quanto mais comparticipar das tarefas que a Vida, no seu conjunto lhe põe, única forma do saber (sempre e, por força, saber restrito e localizado) alcançar o mais vasto ponto de vista que lhe é dado contemplar.
Sem dúvida, o agir que visa a totalidade vital, e que é o caminho do eternamente valioso se afirmar, não tem, segundo Krieck, outro programa excepto esse agir mesmo. Ele é a Vida efectiva e estuante a combater contra a decomposição da Vida, contra a morte, e nada mais. Por conseguinte, qualquer poderoso factor de unificação e totalização que surja, facticamente, em determinado momento, deve ser aproveitado sem teses preconcebidas. Ora, no entender de Krieck, acontece que, hoje em dia, a política representa o grande elemento passional de atracção e polarização. Logo, é pela política que urge iniciar a obra unificadora e totalitária. Krieck pronuncia‑se por um totalitarismo de príncipio, antes de se pronunciar pela espécie de totalitarismo que, neste instante, julga ser imperioso seguir. Para ele, a personalidade singular, em qualquer caso, só vale enquadrada na totalidade que a engloba... “O valor da personalidade dum homem ‑ proclama ‑ assenta não na sua singularidade e afastamento, mas sim na medida e na amplitude com que o indivíduo apreende o todo vital, o representa a si mesmo e se acomoda a ele, ou, noutros termos, na energia da sua determinação e da sua própria responsabilidade.”
Krieck pensa, porém, que actualmente um totalitarismo de princípio tem de revestir, desde início, um invólucro político, tem de ser um totalitarismo político.
Desta forma, ele sustenta que, presentemente, não são a religião, a arte, etc., que se tornarão políticas, ao desempenhar a missão de criar unidade social, e que será, às avessas, a política que unificará a sociedade, disciplinando as outras esferas vitais e politicizando‑as. Dentro dessa ordem de ideias, Ernst Krieck defende, coerentemente, o conceito duma “ciência política”. Ciência política não significa, claro, uma ciência subordinada a objectivos partidários, de grupo, de facção. Tão‑sòmente de acordo com as suas teses de que o conhecimento é fruto da disposição da vontade do sujeito que conhece, de que consoante essa vontade for mais ou menos total mais ou menos amplo e intenso será o saber e, por último, de que, na nossa época, só pode ser vontade total uma vontade especificamente política, Krieck sustenta que, contemporaneamente, a ciência tem de ter a sua raiz na vontade política totalitária, na vontade política guiada pela ideia de todo.
É que, para ele, insista‑se, ciência valiosa, precisamente do ponto de vista cognoscitivo, é a ciência que brota da própria Vida na sua expansão, e não a ciência “pura”, furtando‑se a escolhas decisivas e sempre prestes a tombar, sob o falso manto da objectividade, no relativismo e no cepticismo. Advirta‑se, agora, que para Krieck concreta, histórica e existencialmente a vontade política totalitária encarna‑se e expressa‑se na Raça.
A leitura das páginas do filósofo acerca dessa noção são extremamente elucidativas para aqueles que costumam pisar e repisar o tema do “materialismo racista” do nacional‑socialismo. Elas respondem, por si, aos decrépitos cavaleiros que ainda hoje montam esse lazarento rocinante e, ao seu trôpego galope, procuram investir, de pena em riste, contra a Weltanschauung nazi.
Diz Krieck: “A Raça activamente considerada, isto é, enquanto tarefa, não é outra coisa senão uma selecção de valores e rasgos nobres extraídos da geral dissolução, uma exaltação tal dos mesmos de modo a que sejam convertidos em padrão regulador de atitudes e ideologias.”
Contudo, a Raça não se limita a ser uma tarefa normativa, é uma tarefa normativa que se torna real, por intermédio de certa espécie humana. “O homem vinculado aos outros, ao todo, é precisamente o verdadeiro aristocrata, o legítimo exemplar da Raça, da disciplina e da honra.”
Sintecticamente, portanto, “a Raça é um tipo de existência e de conduta”. Tipo de existência e de conduta que não se alicerça, exclusivamente, no sangue e que, por isso, não encontra a sua integral explicação nas ciências biológicas. Efectivamente, elucida‑nos Krieck, “importa ter sempre em conta que as qualidades ou características de contextura corporal podem ser tão influídas pelo lado intelectual e afectivo como podem sê‑lo, em actuação inversa, as atitudes e a conduta psicológica pela configuração corporal e o seu natural adestramento... A Raça significa unicamente que determinadas propriedades corporais estão subordinadas a certas relações psíquicas e determinados valores intelectuais”.
Em consequência, importa reconhecer que “perante o problema da Raça é em absoluto insuficiente a Biologia tomada no sentido estrito que lhe dão as ciências naturais”.
Observe‑se, nesta altura, que a Raça tomada como o tipo do homem nobre e heróico que, acima do seu particularismo, põe a sobrevivência do todo, possui, desde logo, uma missão fundamental a cumprir ‑ a missão de construir, defender, conservar e desenvolver o Estado. Porque se pela Raça se constituem as totalidades históricas e empíricas, é inegável que não há totalidades que se não revistam duma forma plástica, duma autoridade ou duma soberania que representem actos de auto‑afirmação e de oposição a tudo aquilo que as possa prejudicar ou negar. Ou, por outras palavras, não há totalidades que se não apresentem sob a forma de Estado. Eis porque o elemento racicamente superior, se é o centro e a base do Estado, é, também, o seu primeiro servidor, já que o Estado é a realização completa, na história, da ideia de todo.
“Quem saiba assimilar‑se do modo mais puro e intenso os valores raciais incorporando‑os a si numa atitude pessoal ... ascenderá à categoria de membro da classe dominante e sustentadora do Estado ... Com a elevação desta, da anarquia renascerá o Estado: da impotência a força, da dissolução a forma e do caos a ordem. Então tem já o Estado uma população e um país livres.
Pois é nisto que há‑de firmar‑se o domínio racial. A hegemonia e o poder não são antes de tudo prerrogativas e vantagens; pelo contrário, são obrigações e serviços abnegados em prol do todo. O serviço, o dever e o sacrifício sãs os módulos do domínio aristocrático que com eles envolve a força de unificação, a libertação e a condução do povo.”
A isto acrescente‑se que a totalidade histórica que é o Estado. e na qual a Raça possui o decisivo papel que indicamos, é, ao mesmo tempo, guardiã da Raça através da educação apuradora e seleccionadora das mais elevadas qualidades rácicas, às quais faz despertar, como consciência e querer próprios, das nebulosidades do instinto. Assim se para Krieck o Estado sem a Raça é impensável, igualmente a Raça sem o Estado é o absurdo. Ambos constituem, afinal, uma só coisa, estando ligadas por uma infrangível relação de circularidade.
Não vamos deter‑nos nas várias ideias de Krieck sobre a organização corporativa do Estado, a necessidade da camada aristocrática dominante se reunir em torno dum Chefe a que adira e seja fiel, nem vamos expor as suas numerosas opiniões político‑pedagógicas tão arrojadas e, por vezes, tão sedutoras. Diremos, apenas, que são em geral de acolher e que, entre elas, muito há a aproveitar, embora não julguemos que devam ser seguidas na íntegra, sem limitações nem restrições.
Em contrapartida, não deixaremos de fazer algumas referências críticas, mais desenvolvidas, aos pontos fundamentais da Weltanschauung de Ernst Krieck, a que aludimos de começo.
Achamos justíssima a sua aspiração a enquadrar os diversos aspectos do real numa unidade, e não nos escandaliza grandemente que a essa unidade chamasse Vida. O repúdio das concepções pluralistas (as quais esquecem que para existir a pluralidade é necessário que, em cada um dos seus elementos, esteja imanente a unidade que entre si os relaciona, de modo a constituírem, exactamente, uma pluralidade) é, cremos, plenamente compreensível.
Todavia, o seu modo de conceber a unidade (a que denomina Vida) já não nos parece, por inteiro, defensável e aceitável. Krieck não exclui dela o eterno, o dever‑ser, o Espírito, pois doutra maneira cairia num relativismo e num niilismo que repudia com firmeza. No entanto, ele pretende que o eterno, o absoluto, o Espírito, só aparecem, só existem, sob a forma do não eterno, do temporal, do parcelar. Pela nossa parte, entendemos que dessa maneira o Espírito, o eterno, o absoluto, transformam‑se numa coisa em si, num noumeno ao estilo kantiano, cuja realidade, afinal, é insustentável e ilógica. Porque se o eterno, o Espírito, o absoluto, apenas existem e aparecem no tempo, no espaço, no empírico, em suma, não os podemos conhecer senão sob esse aspecto, logo não os podemos conhecer enquanto Espírito, enquanto eterno, enquanto absoluto. E então como sabemos que o Espírito é, que o eterno é, etc. ?
Por outro lado, se o empírico, o limitado, o particular, dado que o seu ser é uma participação do Espírito, só encontram a sua perfeição, o seu fim derradeiro, na totalidade que com aquele constituem e, em consequência, devem procurar ultrapassar‑se e superar‑se na sua qualidade de entes empíricos limitados e particulares, e procurar englobar e unir a si, no máximo, o que é espiritual, para se aproximarem o mais possível do todo ‑ a verdade é que tal aproximação do todo é algo que se prossegue ad infinitum mas jamais pode atingir o seu alvo. Porque o todo envolve o conjunto do espiritual e o Espírito unicamente aparece e existe particularizado e temporalizado. Donde se segue que visar a totalidade é visar o inalcançável. E estamos no domínio do mau infinito a que se refere Hegel. A ética de Krieck recebe um profundo abalo. De facto, o inalcançável, precisamente por ser inalcançável, nunca se atinge em maior ou menor grau. Atingir isto ou aquilo, em maior ou menor grau, pressupõe, sempre, uma presença inicial do objecto em causa. Dirigir‑se ao inatingível é, pois, o mesmo que pôr‑se em marcha em direcção das ilhas Afortunadas. Consequentemente, o valor proposto por Krieck, sendo inalcançável, jamais se encontrará presente a inspirar e moldar situações ou atitudes históricas, empíricas, temporais. E eis que, contra os intentos de Krieck, não aparece na sua Weltanschauung um autêntico padrão normativo, uma autêntica regra que se insira, axiologicamente, em actos e posições concretos e efectivos. O abismo do relativismo abre‑lhe as suas fauces. Os todos reais de que fala são, em derradeira análise, pseudotodos, que em nada se podem impor aos indivíduos solitários, pois eles próprios, ao Fim e ao cabo, não passam também de individualidades parcelares.
A ética de Krieck, certa na medida em que vê o Valor no todo (na unidade, no universal), manifesta‑se errada na sua interna estruturação.
A nosso ver, o equívoco de Ernst Krieck reside em particularizar o Espírito, em vez de espiritualizar o particular, em temporalizar o eterno, em vez de encontrar no eterno a substância palpável do tempo.
A unidade a que se refere Krieck é pura contradição que, em caso algum, pode estar, a sério, no conhecimento ou na vontade do singular e do individual. É que a unidade apenas se situará no singular e no individual quando for o particular e o individual que se situem na unidade, quando o temporal for um momento do eterno, o empírico um elemento do universal. É exclusivamente partindo do carácter originário e permanente do último que podemos conceber aquilo que os tente negar ou dele se tente afastar, e que ipso facto está sempre e irremediavelmente superado e ultrapassado. Só assim deparamos com uma unidade que é coerência, com uma Vida total, subsistente em si, Vida que melhor será designá‑la, então, por Ideia, a Ideia na sua dialéctica mais profunda e irresistível.
Feitas estas sumárias observações resta‑nos acentuar, muito especialmente, que as teses de Ernst Krieck são plenamente de acolher no ethos que as anima, na inspiração fundamental que as penetra, e também que as suas opiniões acerca da Raça e do Estado, no essencial justas e elevadas, apresentam uma enorme importância para a inteira compreensão daquela potente, nobre e heróica realidade que foi o III Reich alemão.
António José de Brito
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O Prof. António José de Brito dedicou há anos um estudo à filosofia de Ernst Krieck que se mantém perfeitamente actual. Como o autor sublinhou, na exposição das ideias de Krieck foram utilizados principalmente os livros “Educação Política Nacional” (do qual há uma tradução espanhola, da editorial Labor) e “Nacional‑Socialismo e Ciência” este de E. Krieck e B. Rust.
Segue o referido ensaio de Brito.
ERNST KRIECK
Ernst Krieck foi um dos pensadores alemães mais representativos do nacional‑socialismo, tendo, na vigência deste regime, exercido a alto cargo de reitor da Universidade de Heidelberga. Pedagogo, mas acima de tudo filósofo, de modesto professor primário ascendeu à cátedra, após, em 1924, aquela Universidade lhe ter concedido a grau de doutor honoris causa pelos seus trabalhos “Personalidade e Cultura”, “Progresso e Educação” e “Filosofia da Educação”.
Idealista subjectivo e liberal, embora ardente patriota, já no seu volume de 1917, “A ideia estatal alemã”, estão contidos potencialmente alguns dos pontos de vista que, no futuro, havia de perfilhar. Em 1930, “A tarefa da educação alemã” e, em 1931, o opúsculo “Estado totalitário popular e Educação nacional”, marcam as etapas que o haviam de conduzir às teses expostas, em 1932, na obra “Educação política Nacional” e, mais tarde, na “Antropologia nacional política” e à plena adesão ao III Reich que serviu com dedicação indesmentida e fervor inigualável.
A concepção do mundo de Ernst Krieck, a partir do momento em que rompeu com o neokantismo idealista e superficial ainda incrustado em certos ambientes da república de Weimar, inspira-se directamente nas correntes vitalistas em que se destacam, superiormente, um Nietszche e um Dilthey e que contam, entre outros, com um Spengler, um Simmel, um Klages, um Hans Driesch.
Krieck, no entanto, apelando para a Vida como centro da sua construção, não se entrega às diatribes dum Klages ou dum Spengler contra o Espírito e a Consciência. Ele expressamente se mostra partidário daquela “antropologia que remonta a Goethe e está ainda em evolução: a que concebe o corpo, a alma e o Espírito como facetas e repercussões diversas duma unidade vital básica e que, por isso mesmo, logrou não só afastar a antiga desunião metafísica entre o corpo e a alma, mas também repele o novíssimo intento de abrir um abismo de antagonismo metafísico entre o corpo-alma dum lado e o Espírito do outro”. A alusão a Ludvig Klages é nítida, pois foi este o grande propugnador da doutrina do Espírito inimigo da Alma, em estudo célebre assim intitulado.
Para Krieck o Espírito, pelo contrário, insere-se harmoniosamente no todo vital e é, até, o seu grande elemento constitutivo. “O hic et nunc, o tempo e o lugar -afirma-o - não significam outra coisa senão a existência temporal do eterno, a forma efémera do imperecível”.
É claro que Krieck considera que o eterno e o imperecível ou também, na sua própria linguagem, “o ser, o dever-ser, o racional, o verdadeiro, o lógico”, só podem existir e captar-se exactamente enquanto realidades efémeras e espácio-temporais. Mesmo quem tenta elevar-se à totalidade e contemplar a totalidade, ensina Ernst Krieck, apenas participa no todo e conhece o todo, a partir da sua especial perspectiva, da sua situação específica.
A Vida que é também Espírito faz, portanto, com que o Espírito unicamente se realize “sub specie individualitatis”. Daí, por exemplo, que haja várias ciências e até ciências nacionais, todas representando uma maneira de ver válida acerca da totalidade vital, um meio aceitável do todo se apreender a si próprio, um e outro dotados, a um tempo, da intrínseca verdade do que em si e por si é espírito, e do carácter limitado, restrito e incompleto do que é empírico, sensível, localizável no espaço e referenciáveI no tempo.
Contudo se o parcelar, o individual, é expressão da Vida, da Vida que incluindo em si o eterno, o perene e fenomenicamente os manifestando, é a autêntica totalidade, devemos concluir que o modo de existir parcial e fragmentário do eterno, do perene, tem de buscar o seu sentido e fim exactamente na eternidade e na perenidade plenas, pois doutra forma desligar‑se‑ia do Espírito, deixando a Vida de constituir a verdadeira totalidade e desagregando‑se a si própria.
O todo vital manifesta a logicidade sob vários aspectos singulares. O aspecto superior será sempre, porém, aquele que mais intensamente participar do lógico e, englobando‑o a si, mais se aproximar do mesmo todo vital. “Do ponto de vista objectivo a verdade dos nossos conhecimentos depende do modo e da intensidade da nossa participação cognoscitiva”, escreve Krieck.
Quer dizer: o individual e o parcelar, em que o Espírito se encarna ao processar‑se a Vida, têm de consistir, se não desejarem autodestruir‑se e tombar na dissolução e no caos, têm de consistir, repetimos, num esforço de íntima superação, de transcensão dos seus estreitos limites. O Espírito só existe individualizado, mas o individual, por seu turno, só existe tendendo para o que o ultrapassa, e é essa dialéctica, é esse movimento, o que constitui a Vida, a totalidade vital. Simplesmente, quem fala em totalidade, fala no que é insuperável e inultrapassável, ou seja, fala no que vale supremamente. O todo, com efeito, é o radicalmente “primeiro”, o que tem integral anterioridade, logo é o que vale em si e por si. Krieck sabe‑o, e, assim, adopta na sua máxima extensão o “velho aforismo aristotélico: O todo está antes das partes”.
Eis porque ele repele, na ética, a apologia da individualidade isolada e egoísta, e acha que nada há de concebível e justo senão em função da totalidade vital, pronunciando‑se em favor do ser particular que, através do seu esforço e sacrifício, visa semelhante totalidade e a faz norma e pauta do seu actuar. É óbvio que tal esforço e sacrifício totalista não pode, sem se aniquilar, diversificar‑se internamente em várias camadas ou planos separados. Por isso se impõe que a Economia, o Direito, a Religião, a Arte, a Ciência, sendo particularizações temporais do Espírito, se unifiquem entre si, a fim de cada uma se tornar o mais fecunda e eficaz possível, deixando de ser mera particularização, mero átomo desgarrado, e recebendo, no maior grau, através duma máxima inserção no todo vital, o influxo do Logos, do perene, do eterno, do imutável.
Em consequência, Krieck revolta‑se contra a chamada autonomia da ciência, pensando que esta será tanto mais eficientemente, cientificamente, quanto menos isolada, isto é, quanto mais comparticipar das tarefas que a Vida, no seu conjunto lhe põe, única forma do saber (sempre e, por força, saber restrito e localizado) alcançar o mais vasto ponto de vista que lhe é dado contemplar.
Sem dúvida, o agir que visa a totalidade vital, e que é o caminho do eternamente valioso se afirmar, não tem, segundo Krieck, outro programa excepto esse agir mesmo. Ele é a Vida efectiva e estuante a combater contra a decomposição da Vida, contra a morte, e nada mais. Por conseguinte, qualquer poderoso factor de unificação e totalização que surja, facticamente, em determinado momento, deve ser aproveitado sem teses preconcebidas. Ora, no entender de Krieck, acontece que, hoje em dia, a política representa o grande elemento passional de atracção e polarização. Logo, é pela política que urge iniciar a obra unificadora e totalitária. Krieck pronuncia‑se por um totalitarismo de príncipio, antes de se pronunciar pela espécie de totalitarismo que, neste instante, julga ser imperioso seguir. Para ele, a personalidade singular, em qualquer caso, só vale enquadrada na totalidade que a engloba... “O valor da personalidade dum homem ‑ proclama ‑ assenta não na sua singularidade e afastamento, mas sim na medida e na amplitude com que o indivíduo apreende o todo vital, o representa a si mesmo e se acomoda a ele, ou, noutros termos, na energia da sua determinação e da sua própria responsabilidade.”
Krieck pensa, porém, que actualmente um totalitarismo de princípio tem de revestir, desde início, um invólucro político, tem de ser um totalitarismo político.
Desta forma, ele sustenta que, presentemente, não são a religião, a arte, etc., que se tornarão políticas, ao desempenhar a missão de criar unidade social, e que será, às avessas, a política que unificará a sociedade, disciplinando as outras esferas vitais e politicizando‑as. Dentro dessa ordem de ideias, Ernst Krieck defende, coerentemente, o conceito duma “ciência política”. Ciência política não significa, claro, uma ciência subordinada a objectivos partidários, de grupo, de facção. Tão‑sòmente de acordo com as suas teses de que o conhecimento é fruto da disposição da vontade do sujeito que conhece, de que consoante essa vontade for mais ou menos total mais ou menos amplo e intenso será o saber e, por último, de que, na nossa época, só pode ser vontade total uma vontade especificamente política, Krieck sustenta que, contemporaneamente, a ciência tem de ter a sua raiz na vontade política totalitária, na vontade política guiada pela ideia de todo.
É que, para ele, insista‑se, ciência valiosa, precisamente do ponto de vista cognoscitivo, é a ciência que brota da própria Vida na sua expansão, e não a ciência “pura”, furtando‑se a escolhas decisivas e sempre prestes a tombar, sob o falso manto da objectividade, no relativismo e no cepticismo. Advirta‑se, agora, que para Krieck concreta, histórica e existencialmente a vontade política totalitária encarna‑se e expressa‑se na Raça.
A leitura das páginas do filósofo acerca dessa noção são extremamente elucidativas para aqueles que costumam pisar e repisar o tema do “materialismo racista” do nacional‑socialismo. Elas respondem, por si, aos decrépitos cavaleiros que ainda hoje montam esse lazarento rocinante e, ao seu trôpego galope, procuram investir, de pena em riste, contra a Weltanschauung nazi.
Diz Krieck: “A Raça activamente considerada, isto é, enquanto tarefa, não é outra coisa senão uma selecção de valores e rasgos nobres extraídos da geral dissolução, uma exaltação tal dos mesmos de modo a que sejam convertidos em padrão regulador de atitudes e ideologias.”
Contudo, a Raça não se limita a ser uma tarefa normativa, é uma tarefa normativa que se torna real, por intermédio de certa espécie humana. “O homem vinculado aos outros, ao todo, é precisamente o verdadeiro aristocrata, o legítimo exemplar da Raça, da disciplina e da honra.”
Sintecticamente, portanto, “a Raça é um tipo de existência e de conduta”. Tipo de existência e de conduta que não se alicerça, exclusivamente, no sangue e que, por isso, não encontra a sua integral explicação nas ciências biológicas. Efectivamente, elucida‑nos Krieck, “importa ter sempre em conta que as qualidades ou características de contextura corporal podem ser tão influídas pelo lado intelectual e afectivo como podem sê‑lo, em actuação inversa, as atitudes e a conduta psicológica pela configuração corporal e o seu natural adestramento... A Raça significa unicamente que determinadas propriedades corporais estão subordinadas a certas relações psíquicas e determinados valores intelectuais”.
Em consequência, importa reconhecer que “perante o problema da Raça é em absoluto insuficiente a Biologia tomada no sentido estrito que lhe dão as ciências naturais”.
Observe‑se, nesta altura, que a Raça tomada como o tipo do homem nobre e heróico que, acima do seu particularismo, põe a sobrevivência do todo, possui, desde logo, uma missão fundamental a cumprir ‑ a missão de construir, defender, conservar e desenvolver o Estado. Porque se pela Raça se constituem as totalidades históricas e empíricas, é inegável que não há totalidades que se não revistam duma forma plástica, duma autoridade ou duma soberania que representem actos de auto‑afirmação e de oposição a tudo aquilo que as possa prejudicar ou negar. Ou, por outras palavras, não há totalidades que se não apresentem sob a forma de Estado. Eis porque o elemento racicamente superior, se é o centro e a base do Estado, é, também, o seu primeiro servidor, já que o Estado é a realização completa, na história, da ideia de todo.
“Quem saiba assimilar‑se do modo mais puro e intenso os valores raciais incorporando‑os a si numa atitude pessoal ... ascenderá à categoria de membro da classe dominante e sustentadora do Estado ... Com a elevação desta, da anarquia renascerá o Estado: da impotência a força, da dissolução a forma e do caos a ordem. Então tem já o Estado uma população e um país livres.
Pois é nisto que há‑de firmar‑se o domínio racial. A hegemonia e o poder não são antes de tudo prerrogativas e vantagens; pelo contrário, são obrigações e serviços abnegados em prol do todo. O serviço, o dever e o sacrifício sãs os módulos do domínio aristocrático que com eles envolve a força de unificação, a libertação e a condução do povo.”
A isto acrescente‑se que a totalidade histórica que é o Estado. e na qual a Raça possui o decisivo papel que indicamos, é, ao mesmo tempo, guardiã da Raça através da educação apuradora e seleccionadora das mais elevadas qualidades rácicas, às quais faz despertar, como consciência e querer próprios, das nebulosidades do instinto. Assim se para Krieck o Estado sem a Raça é impensável, igualmente a Raça sem o Estado é o absurdo. Ambos constituem, afinal, uma só coisa, estando ligadas por uma infrangível relação de circularidade.
Não vamos deter‑nos nas várias ideias de Krieck sobre a organização corporativa do Estado, a necessidade da camada aristocrática dominante se reunir em torno dum Chefe a que adira e seja fiel, nem vamos expor as suas numerosas opiniões político‑pedagógicas tão arrojadas e, por vezes, tão sedutoras. Diremos, apenas, que são em geral de acolher e que, entre elas, muito há a aproveitar, embora não julguemos que devam ser seguidas na íntegra, sem limitações nem restrições.
Em contrapartida, não deixaremos de fazer algumas referências críticas, mais desenvolvidas, aos pontos fundamentais da Weltanschauung de Ernst Krieck, a que aludimos de começo.
Achamos justíssima a sua aspiração a enquadrar os diversos aspectos do real numa unidade, e não nos escandaliza grandemente que a essa unidade chamasse Vida. O repúdio das concepções pluralistas (as quais esquecem que para existir a pluralidade é necessário que, em cada um dos seus elementos, esteja imanente a unidade que entre si os relaciona, de modo a constituírem, exactamente, uma pluralidade) é, cremos, plenamente compreensível.
Todavia, o seu modo de conceber a unidade (a que denomina Vida) já não nos parece, por inteiro, defensável e aceitável. Krieck não exclui dela o eterno, o dever‑ser, o Espírito, pois doutra maneira cairia num relativismo e num niilismo que repudia com firmeza. No entanto, ele pretende que o eterno, o absoluto, o Espírito, só aparecem, só existem, sob a forma do não eterno, do temporal, do parcelar. Pela nossa parte, entendemos que dessa maneira o Espírito, o eterno, o absoluto, transformam‑se numa coisa em si, num noumeno ao estilo kantiano, cuja realidade, afinal, é insustentável e ilógica. Porque se o eterno, o Espírito, o absoluto, apenas existem e aparecem no tempo, no espaço, no empírico, em suma, não os podemos conhecer senão sob esse aspecto, logo não os podemos conhecer enquanto Espírito, enquanto eterno, enquanto absoluto. E então como sabemos que o Espírito é, que o eterno é, etc. ?
Por outro lado, se o empírico, o limitado, o particular, dado que o seu ser é uma participação do Espírito, só encontram a sua perfeição, o seu fim derradeiro, na totalidade que com aquele constituem e, em consequência, devem procurar ultrapassar‑se e superar‑se na sua qualidade de entes empíricos limitados e particulares, e procurar englobar e unir a si, no máximo, o que é espiritual, para se aproximarem o mais possível do todo ‑ a verdade é que tal aproximação do todo é algo que se prossegue ad infinitum mas jamais pode atingir o seu alvo. Porque o todo envolve o conjunto do espiritual e o Espírito unicamente aparece e existe particularizado e temporalizado. Donde se segue que visar a totalidade é visar o inalcançável. E estamos no domínio do mau infinito a que se refere Hegel. A ética de Krieck recebe um profundo abalo. De facto, o inalcançável, precisamente por ser inalcançável, nunca se atinge em maior ou menor grau. Atingir isto ou aquilo, em maior ou menor grau, pressupõe, sempre, uma presença inicial do objecto em causa. Dirigir‑se ao inatingível é, pois, o mesmo que pôr‑se em marcha em direcção das ilhas Afortunadas. Consequentemente, o valor proposto por Krieck, sendo inalcançável, jamais se encontrará presente a inspirar e moldar situações ou atitudes históricas, empíricas, temporais. E eis que, contra os intentos de Krieck, não aparece na sua Weltanschauung um autêntico padrão normativo, uma autêntica regra que se insira, axiologicamente, em actos e posições concretos e efectivos. O abismo do relativismo abre‑lhe as suas fauces. Os todos reais de que fala são, em derradeira análise, pseudotodos, que em nada se podem impor aos indivíduos solitários, pois eles próprios, ao Fim e ao cabo, não passam também de individualidades parcelares.
A ética de Krieck, certa na medida em que vê o Valor no todo (na unidade, no universal), manifesta‑se errada na sua interna estruturação.
A nosso ver, o equívoco de Ernst Krieck reside em particularizar o Espírito, em vez de espiritualizar o particular, em temporalizar o eterno, em vez de encontrar no eterno a substância palpável do tempo.
A unidade a que se refere Krieck é pura contradição que, em caso algum, pode estar, a sério, no conhecimento ou na vontade do singular e do individual. É que a unidade apenas se situará no singular e no individual quando for o particular e o individual que se situem na unidade, quando o temporal for um momento do eterno, o empírico um elemento do universal. É exclusivamente partindo do carácter originário e permanente do último que podemos conceber aquilo que os tente negar ou dele se tente afastar, e que ipso facto está sempre e irremediavelmente superado e ultrapassado. Só assim deparamos com uma unidade que é coerência, com uma Vida total, subsistente em si, Vida que melhor será designá‑la, então, por Ideia, a Ideia na sua dialéctica mais profunda e irresistível.
Feitas estas sumárias observações resta‑nos acentuar, muito especialmente, que as teses de Ernst Krieck são plenamente de acolher no ethos que as anima, na inspiração fundamental que as penetra, e também que as suas opiniões acerca da Raça e do Estado, no essencial justas e elevadas, apresentam uma enorme importância para a inteira compreensão daquela potente, nobre e heróica realidade que foi o III Reich alemão.
António José de Brito
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BRASILLACH
6 de Fevereiro de 1945!
Somos alguns poucos, em Portugal, os que não deixam passar um único aniversário desta data sem que se lhes aperte um pouco o coração e sem que na intimidade silenciosa dos seus ânimos não seja evocada, com comovida saudade, a memória deste poeta fuzilado.
Brasillach representa, para nós, algo mais do que um magnífico talento literário ou um camarada de combate, pleno de vigor, que nos precedesse na luta.
Para nós, acima de tudo, ele é o escritor que melhor soube compreender a beleza e a alegria da juventude e a melancolia dos que a vêem afastar-se irremediavelmente. Por isso, se exaltamos e admiramos outros - pensadores, panfletários, artistas -, é só nalgumas páginas de Brasillach que nós, os da geração que atingiu os trinta, descobrimos aquelas notas profundamente humanas e pessoais capazes de penetrarem em profundidade no nosso espírito e nos nossos sentimentos. E também por isso, se apreciamos, como o merecem, os seus romances, se consideramos as suas críticas modelares, se aderimos inteiramente aos seus mais provocantes artigos atentatórios da tranquilidade das consciências «bem pensantes», a verdade é que lhes preferimos o livro de imagens e evocações intitulado Notre Avant Guerre, onde, com uma emoção e uma ternura de que mais ninguém era capaz, ele recorda os tempos que precederam a última conflagração e durante os quais, em companhia dos seus amigos, descobriu, com o ardor dos vinte anos, o mundo, a literatura, o cinema, o Fascismo.
Em Notre Avant Guerre está um pouco de todos nós, da nossa mocidade - embora passada sob céu diferente. Apesar das distâncias, apesar das diferenças de época, algo de comum nos liga a Brasillach como a um irmão mais velho que, antes de nascermos, tivesse abandonado a casa paterna. E, assim, quantas e quantas vezes, ao lermos e relermos as páginas em que, com uma amena e doce calma, nos descreve a sua vida de estudante, as suas amizades, os seus entusiasmos, os seus primeiros triunfos, sentimos em nós o eco das recordações análogas, embora infinitamente mais modestas.
Sim! Também fomos jovens e tivemos camaradas. E se não percorremos as ruas de Paris, nem andámos sob os tectos da Escola Normal, nem discutimos desde Deus até à L'Action Française com Bardèche, Thierry-Maulnier, José Lupin, o certo é, porém, que na fantástica e encantada Coimbra, por noites de Inverno e noites de Verão, falávamos de omne re scibili e, igualmente, Maurras e os seus estavam presentes nas nossas furiosas controvérsias.
Não conhecemos René Clair, nem vimos Le Million, e À Nous la Liberté, e de Sous les Toits de Paris unicamente aprendemos, dum disco envelhecido, a suave melodia que acompanha o filme. Mas não deixou de ser para nós algo de extraordinário a descoberta de Le Silence est d`Or e, mais para diante, de Les Grandes Manoeuvres e de Porte des Lilas, com a sua discreta, sorridente e fina melancolia.
Não assistimos ao Hamlet representado por Georges e Ludmilla Pitoëff. Lembramo-nos, todavia, do momento inolvidável em que nas telas de modestos cinemas de província Lawrence Olivier nos mostrou Hamlet e Henrique V e Ricardo III, abrindo os nossos olhos para a compreensão do milagre shakespeareano.
Não colaborámos num Je Suis Partout, com Pierre Antoine Cousteau, Lucien Rebatet, Alain Laubreaux, Henri Lèbre, André Algarron, Robert Andriveau, André Nicolas; contudo, alinhávamos prosas em pequenos jornais de polémica e doutrina a que demos o melhor do nosso esforço, do nosso entusiasmo, da nossa fé.
Não convivemos com Charles Maurras ou Henri Massis. No entanto, se não visitámos o autor da Anthinea na prisão, ouvindo-o discorrer acerca do comunismo, da Provença, da França, e se não percorremos as ruas de Montmartre com o ensaísta da Défense de l`Occident que evocava os pintores barbudos de 1900 e recordava Péguy e Barrès, ali, na Madre de Deus, no poente de algumas tardes de Outono, escutámos quem muito bem podia ombrear com eles: Alfredo Pimenta; com frases despretensiosas mas incisivas, expunha-nos o seu próximo comentário político para A Nação, descrevia-nos a fundação da Acção Realista, falava-nos da Europa vencida, da destruição do Ocidente, dos culpados de tantas ruínas e iluminava-nos as rotas do pensamento e da acção.
Não presenciámos la dure floraison des jeunesses nationalistes, não percorremos a Espanha em guerra, a Itália de Mussolini, nem estivemos no Congresso de Nuremberga, nem na Frente Leste com a Legião de Voluntários Franceses antibolchevista; não deparámos com o Fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da Nação e do Chefe. De tudo isso só guardamos umas vagas lembranças relativas no conflito espanhol: os cortejos com donativos para Franco, a notícia de alguns compatriotas que partiam para a luta, o cerco do Alcazar, a criação da Legião e da Mocidade Portuguesa, as atrocidades vermelhas.
De qualquer modo, porém, foi para nós o Fascismo, como o foi para Brasillach, o encontro supremo, a revelação inesquecível da nossa juventude: sim esse Fascismo que víamos caluniado, prostrado, perseguido, difamado, humilhado e não sob o sol exaltante da glória, e que nos importava isso! Vencedor ou vencido era sempre o mesmo Fascismo, com o seu ethos de camaradagem viril, o seu gosto da grandeza, o seu desdém dos valores burgueses, a sua apologia da coragem e da disciplina, o seu alto idealismo, a sua exaltação do que é sóbrio, sadio, nobre, a sua aspiração à unidade, à totalidade, ao universal.
No Fascismo nos encontramos plenamente com Brasillach, ao comungarmos todos, por inteiro, na atmosfera daquela Revolução que foi a Revolução do século XX e que, seja o que for que as propagandas digam ou proclamem, representa um dos mais altos momentos da história do espírito humano.
As evocações e imagens de Notre Avant Guerre tiveram a sua conclusão brutal com a condenação do seu autor. Sobre a ocupação, sobre a sua prisão, deixou-nos duas obras-mestras: Journal d`un Homme Occupé e Lettres Écrites de Prison. Aí, o drama de Brasillach ergue-se a alturas onde já não é lícito segui-lo senão com uma admiração recolhida e uma veneração sincera.
Brasillach soube ser digno de quantos nele acreditaram, soube ser fiel até ao fim. Fidelidade profunda e íntima a sua, e não apenas ditada pelo pudor de se não renegar perante ameaças; poucos dias antes do seu processo, em carta, escrevia. «Quant a l`éssentiel, je n`ai pas changé». Certo, já não acreditava na eficácia da acção nem na possibilidade de salvar o seu país nem até, talvez, que este merecesse ser salvo. Porém a devoção pelas suas ideias proscritas e pelos seus camaradas (le drapeau noir et les copains), essa, mantinha-se intacta. As atitudes que tomou frente aos juízes não foram, pois, uma demonstração apenas de valentia e de panache. Foram a expressão viva do que lhe ditava a consciência.
Destemido, incapaz de aceitar as soluções de menor risco, Brasillach afrontou corajosamente o pelotão de execução. Ao contrário do que tantas vezes acontece, não foi pela sua bela morte que a sua vida tomou significação e nobreza. A morte esplêndida veio tão só coroar uma vida plena de estilo e dignidade. Nunca um tão belo morrer teve um tão belo viver a corresponder-lhe.
Passaram-se, no rodar dos tempos, os aniversários do dia fatídico em que Brasillach deixou de estar entre nós. Jamais esquecermos até agora, e creio bem que jamais esqueceremos no futuro, o valor, sem par, do seu exemplo e do seu sacrifício.
Desdenhava ele os espessos bens deste mundo mas apreciava com funda estima tudo o que na terra havia de terno e suave. Quando a tragédia se avizinhou, tinha já passado aquela idade juvenil e louca em que a todo o instante se espera e deseja a aventura e o perigo.
Não foi pois com o ímpeto cego e temerário da mocidade extreme que Brasillach se precipitou nos braços revoltos dos acontecimentos. Pelo contrário! Muitas coisas guardava no coração que não desejava perder. Todavia, sem que o dissesse com largos e retóricos gestos, sem que o proclamasse atroadoramente, ele, com a sua discreta e ingénita delicadeza, entendia que acima de tudo estava um certo modo de pensar e existir, pelo qual valia a pena até sucumbir e perecer. Não era um estóico desdenhoso de quanto o circundasse. Sofria ao ter de abandonar os entes que amava. Nada o deteve, contudo, no caminho que traçara a si próprio. Com serenidade grave aceitou o destino cruel que se lhe oferecia, sem um queixume, sem uma fraqueza.
6 de Fevereiro de 1945!
António José de Brito
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Somos alguns poucos, em Portugal, os que não deixam passar um único aniversário desta data sem que se lhes aperte um pouco o coração e sem que na intimidade silenciosa dos seus ânimos não seja evocada, com comovida saudade, a memória deste poeta fuzilado.
Brasillach representa, para nós, algo mais do que um magnífico talento literário ou um camarada de combate, pleno de vigor, que nos precedesse na luta.
Para nós, acima de tudo, ele é o escritor que melhor soube compreender a beleza e a alegria da juventude e a melancolia dos que a vêem afastar-se irremediavelmente. Por isso, se exaltamos e admiramos outros - pensadores, panfletários, artistas -, é só nalgumas páginas de Brasillach que nós, os da geração que atingiu os trinta, descobrimos aquelas notas profundamente humanas e pessoais capazes de penetrarem em profundidade no nosso espírito e nos nossos sentimentos. E também por isso, se apreciamos, como o merecem, os seus romances, se consideramos as suas críticas modelares, se aderimos inteiramente aos seus mais provocantes artigos atentatórios da tranquilidade das consciências «bem pensantes», a verdade é que lhes preferimos o livro de imagens e evocações intitulado Notre Avant Guerre, onde, com uma emoção e uma ternura de que mais ninguém era capaz, ele recorda os tempos que precederam a última conflagração e durante os quais, em companhia dos seus amigos, descobriu, com o ardor dos vinte anos, o mundo, a literatura, o cinema, o Fascismo.
Em Notre Avant Guerre está um pouco de todos nós, da nossa mocidade - embora passada sob céu diferente. Apesar das distâncias, apesar das diferenças de época, algo de comum nos liga a Brasillach como a um irmão mais velho que, antes de nascermos, tivesse abandonado a casa paterna. E, assim, quantas e quantas vezes, ao lermos e relermos as páginas em que, com uma amena e doce calma, nos descreve a sua vida de estudante, as suas amizades, os seus entusiasmos, os seus primeiros triunfos, sentimos em nós o eco das recordações análogas, embora infinitamente mais modestas.
Sim! Também fomos jovens e tivemos camaradas. E se não percorremos as ruas de Paris, nem andámos sob os tectos da Escola Normal, nem discutimos desde Deus até à L'Action Française com Bardèche, Thierry-Maulnier, José Lupin, o certo é, porém, que na fantástica e encantada Coimbra, por noites de Inverno e noites de Verão, falávamos de omne re scibili e, igualmente, Maurras e os seus estavam presentes nas nossas furiosas controvérsias.
Não conhecemos René Clair, nem vimos Le Million, e À Nous la Liberté, e de Sous les Toits de Paris unicamente aprendemos, dum disco envelhecido, a suave melodia que acompanha o filme. Mas não deixou de ser para nós algo de extraordinário a descoberta de Le Silence est d`Or e, mais para diante, de Les Grandes Manoeuvres e de Porte des Lilas, com a sua discreta, sorridente e fina melancolia.
Não assistimos ao Hamlet representado por Georges e Ludmilla Pitoëff. Lembramo-nos, todavia, do momento inolvidável em que nas telas de modestos cinemas de província Lawrence Olivier nos mostrou Hamlet e Henrique V e Ricardo III, abrindo os nossos olhos para a compreensão do milagre shakespeareano.
Não colaborámos num Je Suis Partout, com Pierre Antoine Cousteau, Lucien Rebatet, Alain Laubreaux, Henri Lèbre, André Algarron, Robert Andriveau, André Nicolas; contudo, alinhávamos prosas em pequenos jornais de polémica e doutrina a que demos o melhor do nosso esforço, do nosso entusiasmo, da nossa fé.
Não convivemos com Charles Maurras ou Henri Massis. No entanto, se não visitámos o autor da Anthinea na prisão, ouvindo-o discorrer acerca do comunismo, da Provença, da França, e se não percorremos as ruas de Montmartre com o ensaísta da Défense de l`Occident que evocava os pintores barbudos de 1900 e recordava Péguy e Barrès, ali, na Madre de Deus, no poente de algumas tardes de Outono, escutámos quem muito bem podia ombrear com eles: Alfredo Pimenta; com frases despretensiosas mas incisivas, expunha-nos o seu próximo comentário político para A Nação, descrevia-nos a fundação da Acção Realista, falava-nos da Europa vencida, da destruição do Ocidente, dos culpados de tantas ruínas e iluminava-nos as rotas do pensamento e da acção.
Não presenciámos la dure floraison des jeunesses nationalistes, não percorremos a Espanha em guerra, a Itália de Mussolini, nem estivemos no Congresso de Nuremberga, nem na Frente Leste com a Legião de Voluntários Franceses antibolchevista; não deparámos com o Fascismo nas suas horas altas de triunfo, imensa maré cheia que invadia o continente com os seus desfiles imensos, as saudações de braço estendido, a oratória inflamada, as milícias armadas, os cânticos e os estandartes multicolores, os campos de trabalho e as viagens, a mística da Nação e do Chefe. De tudo isso só guardamos umas vagas lembranças relativas no conflito espanhol: os cortejos com donativos para Franco, a notícia de alguns compatriotas que partiam para a luta, o cerco do Alcazar, a criação da Legião e da Mocidade Portuguesa, as atrocidades vermelhas.
De qualquer modo, porém, foi para nós o Fascismo, como o foi para Brasillach, o encontro supremo, a revelação inesquecível da nossa juventude: sim esse Fascismo que víamos caluniado, prostrado, perseguido, difamado, humilhado e não sob o sol exaltante da glória, e que nos importava isso! Vencedor ou vencido era sempre o mesmo Fascismo, com o seu ethos de camaradagem viril, o seu gosto da grandeza, o seu desdém dos valores burgueses, a sua apologia da coragem e da disciplina, o seu alto idealismo, a sua exaltação do que é sóbrio, sadio, nobre, a sua aspiração à unidade, à totalidade, ao universal.
No Fascismo nos encontramos plenamente com Brasillach, ao comungarmos todos, por inteiro, na atmosfera daquela Revolução que foi a Revolução do século XX e que, seja o que for que as propagandas digam ou proclamem, representa um dos mais altos momentos da história do espírito humano.
As evocações e imagens de Notre Avant Guerre tiveram a sua conclusão brutal com a condenação do seu autor. Sobre a ocupação, sobre a sua prisão, deixou-nos duas obras-mestras: Journal d`un Homme Occupé e Lettres Écrites de Prison. Aí, o drama de Brasillach ergue-se a alturas onde já não é lícito segui-lo senão com uma admiração recolhida e uma veneração sincera.
Brasillach soube ser digno de quantos nele acreditaram, soube ser fiel até ao fim. Fidelidade profunda e íntima a sua, e não apenas ditada pelo pudor de se não renegar perante ameaças; poucos dias antes do seu processo, em carta, escrevia. «Quant a l`éssentiel, je n`ai pas changé». Certo, já não acreditava na eficácia da acção nem na possibilidade de salvar o seu país nem até, talvez, que este merecesse ser salvo. Porém a devoção pelas suas ideias proscritas e pelos seus camaradas (le drapeau noir et les copains), essa, mantinha-se intacta. As atitudes que tomou frente aos juízes não foram, pois, uma demonstração apenas de valentia e de panache. Foram a expressão viva do que lhe ditava a consciência.
Destemido, incapaz de aceitar as soluções de menor risco, Brasillach afrontou corajosamente o pelotão de execução. Ao contrário do que tantas vezes acontece, não foi pela sua bela morte que a sua vida tomou significação e nobreza. A morte esplêndida veio tão só coroar uma vida plena de estilo e dignidade. Nunca um tão belo morrer teve um tão belo viver a corresponder-lhe.
Passaram-se, no rodar dos tempos, os aniversários do dia fatídico em que Brasillach deixou de estar entre nós. Jamais esquecermos até agora, e creio bem que jamais esqueceremos no futuro, o valor, sem par, do seu exemplo e do seu sacrifício.
Desdenhava ele os espessos bens deste mundo mas apreciava com funda estima tudo o que na terra havia de terno e suave. Quando a tragédia se avizinhou, tinha já passado aquela idade juvenil e louca em que a todo o instante se espera e deseja a aventura e o perigo.
Não foi pois com o ímpeto cego e temerário da mocidade extreme que Brasillach se precipitou nos braços revoltos dos acontecimentos. Pelo contrário! Muitas coisas guardava no coração que não desejava perder. Todavia, sem que o dissesse com largos e retóricos gestos, sem que o proclamasse atroadoramente, ele, com a sua discreta e ingénita delicadeza, entendia que acima de tudo estava um certo modo de pensar e existir, pelo qual valia a pena até sucumbir e perecer. Não era um estóico desdenhoso de quanto o circundasse. Sofria ao ter de abandonar os entes que amava. Nada o deteve, contudo, no caminho que traçara a si próprio. Com serenidade grave aceitou o destino cruel que se lhe oferecia, sem um queixume, sem uma fraqueza.
6 de Fevereiro de 1945!
António José de Brito
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Brasillach al paredón - Um irremível pecado da França
Se datas há que não podem deixar de ser lembradas por nós anualmente sob pena de incorrermos num imperdoável pecado de omissão para com elas e para com aquilo, sobretudo, que representam, o 6 de Fevereiro de 1945 é, incontestavelmente, uma dessas datas.
Faz anos que a França se desembaraçou, pela lei da bala, de um dos seus filhos mais incómodos, mais exemplares - e mais dotados - . Faz anos que caiu, de pé, no fosso de Montrouge, varado pela salva de um pelotão de fuzilamento, um dos maiores artistas literários europeus de todos os tempos. Concretamente. Faz anos que De Gaulle caprichou em mandar abater a tiro de rajada Robert Brasillach. (Parece que é sina dos grandes poetas morrerem às mãos dos maus prosadores de patente militar...)
Estava-se numa França de hecatombe e mais «ocupada» (a matar...) do que nunca.
Com o pesadelo da chamada «Libertação» - há-de notar lapidarmente Maurice Bardèche - a nação gaulesa tinha contraído o mau (o péssimo) hábito de mandar passar pelas armas os seus escritores ou de pregar com eles na «choça», congratulando-se com essa forma expedita e pouco dispendiosa de resolver as suas crises de consciência colectiva.
Na eventualidade, está escrito que Brasillach venha a ser um dos intelectuais expiatoriamente sacrificados desde logo - e um dos cem mil e tal franceses, sumariamente chacinados de caminho - .
Condenado à morte mal e porcamente - depois de um julgamento político clamoroso que figura na história dos processos de acusação como modelo acabado de farsa judiciária - o poeta de Fresnes cada vez avulta mais como legenda de batalhas que tiveram talvez de se perder para poderem vir a ser ganhas.
Os seus crimes?Tanto quanto se sabe, respondeu por um único: o crime de ter amado a França e sonhado a Europa sem conta, peso e medida!Por outras palavras e abreviando razões: Brasillach cometeu tão-somente a injúria, e apenas reivindicou para si o direito, de pensar as circunstâncias ao invés do que mandavam as boas normas da intelligentzia demo-marxista de antanho. E bastou isso para o liquidarem.
De onde se segue que meia-dúzia de opções cardiais, assumidas com toda a galhardia e firmadas com inteira verticalidade no campo de batalha das ideias por homens de uma só convicção - como ele era - já então se pagavam caro. A pretexto delas, conferia-se foros de justiça aos morticínios, força de lei à iniquidade, e tudo era pesadinho na balança de uma justiça que funcionava avec un seul plateau.
Promoviam-se torneios de tiro ao homem a torto e a direito por todo o território e, por sistema, confiava-se o destino de seres tortuosamente incriminados ao cuidado e à pontaria (sempre certeira, sempre infalível) de pelotões de execução.
«O nível da magistratura - comentará sardonicamente Marcel Aymé - chegou a revelar-se, de uma maneira geral, francamente inferior ao dos próprios presos de delito comum» visando esses baixos tempos, e muito justa e justiceiramente invectivando o despudor da jurisprudência depuradora levada a cabo na sua pátria após a chegada dos respectivos «libertadores».
Na barra dos tribunais contavam-se entretanto pelos dedos da mão de um maneta as vozes verdadeiramente insubornáveis e realmente susceptíveis de se atreverem a erguer num levantamento de razões, mais ou menos cerrado, contra tanto desatino e desaforo juntos.
Brasillach veio a ter uma dessas vozes pelo lado dele, já que pôde encomendar, à eloquência de fogo de Maître Isorni, o encargo de o defender.Mas nenhum resultado (prático) deram, nem qualquer efeito surtiram, as imparáveis alegações e o verbo incontestado do grande causídico; como, também, de coisíssima nenhuma valeu ao poeta a petição de indulto que foi subscrita, a favor dele, por um sem-número de artistas e homens de letras seus compatriotas (e todos, por sinal, de altíssima craveira).É que a sorte de Brasillach já estava traçada e ditadinha de antemão, e o poeta previamente condenado a acabar como acabou: amarrado ao poste da pena capital, na força dos seus trinta e cinco anos, o corpo crivado de balas.
Uma consolação entretanto nos resta, mormente se admitirmos - como Céline - que «o mais terrível dos juizes é o condenado à morte»: a de sabermos que Robert Brasillach, ao cabo de tantas e tão longas horas de calvário e paixão celular, e de mortificação judiciária, observará, até ao fim, uma conduta exemplar, toda ela pautada por um estoicismo supremo, por uma coerência indefectível, por uma coragem inabalável; a consolação de tão-pouco ignorarmos que, chegado à hora da verdade, saberá ele, como poucos mais, encarar e receber a morte - de frente! - sem pestanejar.Daí que o seu luminoso exemplo nos contemple, e que a sua lição de sangue ainda agora nos norteie.Daí que a sua morte seja em nós uma chaga em carne viva, uma ferida sempre aberta - e que não fecha, nem mesmo à vista da estuante vitalidade que de todos e de cada um dos seus livros se desprende, se liberta e evade, sem cessar - .
E a atestar, de forma concludente, aquilo que afirmo, nós aí temos, em curso de impressão regular e sistemática, a edição integral das suas obras, que vai de vento em popa, num empreendimento da Plon.
O descerramento das mesmas tem-nos reservado, inclusivamente, de tempos a tempos, a grata surpresa de entrar em contacto com títulos e textos novinhos em folha, devidos ao punho (ainda agora fecundo!) do fabuloso polígrafo.
Foi esse o caso, relativamente recente ainda, do aparecimento de outro romance seu, intitulado Les Captifs: um original inebriante (apesar de inacabado), até agora rigorosamente inédito, e que a Plon em boa hora declarou a público.
Acima de tudo, porém, dá gosto ver como os livros daquele que foi, indubitavelmente, o maior mago da ficção da Europa literária de 40, já agora vão deixando de ser raridades inobtíveis, para andarem numa roda viva de reedições que a cada passo se esgotam (ao nível, designadamente, das consagratórias colecções de poche).
O significado de que se reveste semelhante fenómeno assinala assim o regresso mesmo do poeta fuzilado para junto daqueles, como nós, que sempre se recusaram a acatar ou a aceitar como terminante o veredicto da sua morte e muito menos, ainda, o do seu esquecimento.
De uma vez por todas, ei-lo que volta, realmente, ao convívio fraterno de quantos, não tendo deixado nunca de o frequentar, saúdam e entrevêem neste retorno como que a prova provada e o testemunho indesmentível da eterna jovialidade de Robert Brasillach.
Rodrigo Emílio
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Faz anos que a França se desembaraçou, pela lei da bala, de um dos seus filhos mais incómodos, mais exemplares - e mais dotados - . Faz anos que caiu, de pé, no fosso de Montrouge, varado pela salva de um pelotão de fuzilamento, um dos maiores artistas literários europeus de todos os tempos. Concretamente. Faz anos que De Gaulle caprichou em mandar abater a tiro de rajada Robert Brasillach. (Parece que é sina dos grandes poetas morrerem às mãos dos maus prosadores de patente militar...)
Estava-se numa França de hecatombe e mais «ocupada» (a matar...) do que nunca.
Com o pesadelo da chamada «Libertação» - há-de notar lapidarmente Maurice Bardèche - a nação gaulesa tinha contraído o mau (o péssimo) hábito de mandar passar pelas armas os seus escritores ou de pregar com eles na «choça», congratulando-se com essa forma expedita e pouco dispendiosa de resolver as suas crises de consciência colectiva.
Na eventualidade, está escrito que Brasillach venha a ser um dos intelectuais expiatoriamente sacrificados desde logo - e um dos cem mil e tal franceses, sumariamente chacinados de caminho - .
Condenado à morte mal e porcamente - depois de um julgamento político clamoroso que figura na história dos processos de acusação como modelo acabado de farsa judiciária - o poeta de Fresnes cada vez avulta mais como legenda de batalhas que tiveram talvez de se perder para poderem vir a ser ganhas.
Os seus crimes?Tanto quanto se sabe, respondeu por um único: o crime de ter amado a França e sonhado a Europa sem conta, peso e medida!Por outras palavras e abreviando razões: Brasillach cometeu tão-somente a injúria, e apenas reivindicou para si o direito, de pensar as circunstâncias ao invés do que mandavam as boas normas da intelligentzia demo-marxista de antanho. E bastou isso para o liquidarem.
De onde se segue que meia-dúzia de opções cardiais, assumidas com toda a galhardia e firmadas com inteira verticalidade no campo de batalha das ideias por homens de uma só convicção - como ele era - já então se pagavam caro. A pretexto delas, conferia-se foros de justiça aos morticínios, força de lei à iniquidade, e tudo era pesadinho na balança de uma justiça que funcionava avec un seul plateau.
Promoviam-se torneios de tiro ao homem a torto e a direito por todo o território e, por sistema, confiava-se o destino de seres tortuosamente incriminados ao cuidado e à pontaria (sempre certeira, sempre infalível) de pelotões de execução.
«O nível da magistratura - comentará sardonicamente Marcel Aymé - chegou a revelar-se, de uma maneira geral, francamente inferior ao dos próprios presos de delito comum» visando esses baixos tempos, e muito justa e justiceiramente invectivando o despudor da jurisprudência depuradora levada a cabo na sua pátria após a chegada dos respectivos «libertadores».
Na barra dos tribunais contavam-se entretanto pelos dedos da mão de um maneta as vozes verdadeiramente insubornáveis e realmente susceptíveis de se atreverem a erguer num levantamento de razões, mais ou menos cerrado, contra tanto desatino e desaforo juntos.
Brasillach veio a ter uma dessas vozes pelo lado dele, já que pôde encomendar, à eloquência de fogo de Maître Isorni, o encargo de o defender.Mas nenhum resultado (prático) deram, nem qualquer efeito surtiram, as imparáveis alegações e o verbo incontestado do grande causídico; como, também, de coisíssima nenhuma valeu ao poeta a petição de indulto que foi subscrita, a favor dele, por um sem-número de artistas e homens de letras seus compatriotas (e todos, por sinal, de altíssima craveira).É que a sorte de Brasillach já estava traçada e ditadinha de antemão, e o poeta previamente condenado a acabar como acabou: amarrado ao poste da pena capital, na força dos seus trinta e cinco anos, o corpo crivado de balas.
Uma consolação entretanto nos resta, mormente se admitirmos - como Céline - que «o mais terrível dos juizes é o condenado à morte»: a de sabermos que Robert Brasillach, ao cabo de tantas e tão longas horas de calvário e paixão celular, e de mortificação judiciária, observará, até ao fim, uma conduta exemplar, toda ela pautada por um estoicismo supremo, por uma coerência indefectível, por uma coragem inabalável; a consolação de tão-pouco ignorarmos que, chegado à hora da verdade, saberá ele, como poucos mais, encarar e receber a morte - de frente! - sem pestanejar.Daí que o seu luminoso exemplo nos contemple, e que a sua lição de sangue ainda agora nos norteie.Daí que a sua morte seja em nós uma chaga em carne viva, uma ferida sempre aberta - e que não fecha, nem mesmo à vista da estuante vitalidade que de todos e de cada um dos seus livros se desprende, se liberta e evade, sem cessar - .
E a atestar, de forma concludente, aquilo que afirmo, nós aí temos, em curso de impressão regular e sistemática, a edição integral das suas obras, que vai de vento em popa, num empreendimento da Plon.
O descerramento das mesmas tem-nos reservado, inclusivamente, de tempos a tempos, a grata surpresa de entrar em contacto com títulos e textos novinhos em folha, devidos ao punho (ainda agora fecundo!) do fabuloso polígrafo.
Foi esse o caso, relativamente recente ainda, do aparecimento de outro romance seu, intitulado Les Captifs: um original inebriante (apesar de inacabado), até agora rigorosamente inédito, e que a Plon em boa hora declarou a público.
Acima de tudo, porém, dá gosto ver como os livros daquele que foi, indubitavelmente, o maior mago da ficção da Europa literária de 40, já agora vão deixando de ser raridades inobtíveis, para andarem numa roda viva de reedições que a cada passo se esgotam (ao nível, designadamente, das consagratórias colecções de poche).
O significado de que se reveste semelhante fenómeno assinala assim o regresso mesmo do poeta fuzilado para junto daqueles, como nós, que sempre se recusaram a acatar ou a aceitar como terminante o veredicto da sua morte e muito menos, ainda, o do seu esquecimento.
De uma vez por todas, ei-lo que volta, realmente, ao convívio fraterno de quantos, não tendo deixado nunca de o frequentar, saúdam e entrevêem neste retorno como que a prova provada e o testemunho indesmentível da eterna jovialidade de Robert Brasillach.
Rodrigo Emílio
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terça-feira, julho 20, 2004
GENIALIDADES
Uma respeitável pessoa humana, vítima, é claro, da opressão social, entra, v. g. em Paialvo, na casa de uma pobre velha, torturando-a para que confesse onde guarda o seu "oiro", depois disso corta-a aos bocados que enterra. Após esse cometimento fugiu para um país onde não se acolhiam pedidos de extradição. Passados longuíssimos anos regressa a Portugal sem que seja possível mover-lhe qualquer processo ou aplicar-lhe pena. Beneficiou — e bem — da chamada prescrição. Um capitão das Waffen S.S. recebeu ordem — que cumpriu — para exercer represálias sobre a população de uma cidade sérvia onde foram, traiçoeiramente, assassinados pelas costas, soldados da Wehrmacht, desarmados, em gozo de licença. É proclamado réu de crimes de guerra, de crimes contra a humanidade e não sei que mais. Perseguido até ao fim da vida, para ele a mansuetude da prescrição não existe. Esta só é boa para os vulgares assassinos, violadores, etc.
Sempre me curvei, reverente, perante tão estimável manifestação da justiça democrática.
Infelizmente esta só se aplica, até agora, àquilo que, habitualmente, se chamam acções, quando devia abranger livros, discursos, etc, que estivessem fora da ortodoxia e pusessem em causa o sagrado respeito pelo homem e ideias similares.
Estando em boas mãos os direitos de autor de obras portadoras do vírus fascista torna-se urgente que sejam imprescritíveis.
Ai de nós, porém: ainda não chegamos a esse grau de perfeição, embora algo se tenha feito no bom sentido. Pouco, todavia. A entrada no domínio público dos trabalhos de um autor passou de cinquenta para setenta anos, a seguir à morte deste, conforme dispõe o Decreto-lei n.º 334/97, art. 2º, vigente de acordo com o art. 5º desse diploma, a partir de 1 de Julho de 1995. Recorreu-se, pois, brilhantemente à retroactividade.
Isso permitiu que certos volumes heterodoxos, de manifesta perigosidade, pudessem ser interditos. Assim sucedeu com a tradução portuguesa do Mein Kampf. Este, propriedade intelectual da Baviera contemporânea, não é publicável à vontade, seja por quem fôr e seja como fôr. Seria, contudo, errado pensar-se que a Baviera aferrolha, ávidamente, para si, com furiosa avidez, a possibilidade de se editar o Mein Kampf nesta ou naquela língua. Nada disso! A Baviera actual é generosa e tolerante. Como explica o cultíssimo e originalíssimo Sr. Clemens Betzel, porta-voz da Embaixada da Alemanha, o Estado da Baviera não tem por hábito alienar os seus direitos de autor no tocante ao Mein Kampf, a não ser por critérios científicos. Um tal respeito pela ciência é simplesmente tocante. O sr. Betzel não se fica por aí e prossegue, magnificamente: "mas vender o livro com uma foto simpática de Hitler e fazer publicidade nas livrarias com tiragens muito grandes, isso ultrapassa o critério científico" (sic). Descoberta genial. A ciência é incompatível com as fotos simpáticas e as grandes tiragens.
Um estudo de física de Niels Bohr, lançado aos milhares de exemplares e com foto simpática deste último, perderia a índole científica. Esta delimitação do científico, tão inovadora e curiosa, permitam-me que a aplauda com mãos ambas.
Se em Lisboa tivessem aparecido tão só quinhentos exemplares, com uma capa em que Hitler, num esgar, mostrasse a língua aos leitores, já o Estado bávaro, feliz e sorridente, não se teria oposto a semelhante edição. É que os critérios científicos haviam sido respeitados.
Em todo o caso, sem desdenhar da descoberta do Sr. Betzel acerca dos citados critérios, com legítimo orgulho chamamos a atenção para o facto de que escritores portugueses os ultrapassaram — ou não fossemos um país de descobridores.
O Sr. João Barrento, "professor" (espero que catedrático e doutorado) "de literatura alemã na Universidade Nova de Lisboa", numa suculenta entrevista a "Metro", suplemento do referido Semanário, responde, desta forma decisiva, à pergunta: "Quais foram as fontes de Hitler?": "Há alguns ideólogos de que aliás Hitler não se serve muito porque não se alimenta de literatura anti-semita. Aparentemente não lhe interessam muito. Ele percorre, ainda na Áustria, nos primeiros anos da década de 20, uma série de lugares e ouve muitos oradores anti-semitas em reuniões e comícios. Essa é a sua grande fonte. Não há uma investigação ou fontes históricas. Mas há alguns ideólogos, Spengler, Rosenberg e o Mito do Século XX".
Sem dúvida, biógrafos como Michel Gorel, Allan Bullock, Görlitz e Quint, Joachim Fest, Werner Maser situam o Führer na Baviera, nos primeiros anos da década de 20. Estarão errados? Não, com certeza. Trata-se de notáveis especialistas na matéria, e nem o Sr. Barrento se refere a lapso dos mesmos. Estará este equivocado? Claro que não, porque com as suas responsabilidades de Mestre insigne, de estudioso reputado, não ia fazer afirmações no ar. Se declara que Hitler estava, ainda, na Áustria nos primeiros anos da década de 20, seguramente as suas rigorosas averiguações o conduziram, com segurança, a tal conclusão.
Impõe-se por conseguinte, acreditar que Hitler, nos primeiros anos da década de 20 se encontrava, simultaneamente, na Áustria e na Baviera. Nada mais fácil de admitir. É que possuía o dom da ubiquidade.
Em 1923, por exemplo, escutava na Áustria oradores anti-semitas e, em Munique, tentava o célebre Putsch que o levou à prisão. Por obra e graça de Barrento, adquirimos um novo e importante conhecimento acerca de Adolf Hitler.
E, também, ficamos esclarecidos sobre outro relevante ponto.
As concepções hitlerianas, compendiadas no Mein Kampf, que apareceu em 1925 e 1926, foram influenciadas pelo Mito do Século XX de Rosenberg, de 1930. Hitler, portanto, era dotado de presciência. Ao redigir a sua obra — a primeira parte no cárcere, em 1924 — penetrou na mente de Rosenberg e aí leu o Mythos, surgido bastante depois. O Sr. Barrento, sem favor, meteu o Sr. Betzel num chinelo. Mes compliments Monsieur.
Deus seja louvado, que não nos ficamos por aqui no que diz respeito a novidades sensacionais. Henrique Botequilha e Torcato Sepúlveda informam-nos que um dos responsáveis da editora Hugin "aprecia mais os irmãos Strasser (camisas castanhas vítimas, em 1934, da Noite das Facas Longas) do que Adolf Hitler".
Eu possuo um livro, assaz ignóbil de resto, de Otto Strasser, que ele próprio data de 1940. Deste modo, podem-se escrever livros depois da morte. Abençoada e consoladora revelação. Sinto uma alma nova. Publiquei, até hoje, que estou com os pés para a cova, uns tantos volumes (cujas ideias básicas de nenhum modo renego) de uma honesta mediania. Talvez venha a produzir obras-primas no Cemitério dos Prazeres. Bendito Semanário.
Resta-me fazer votos no sentido de que as meritórias disposições anti-fascistas, legalmente vigentes cá no rectângulo, se estendam a escritos, conferências e coisas análogas. Se a memória me não falha, a boa doutrina a tal respeito foi já exposta pelo genial Louçã. Cada qual pode pensar como quiser. Sua Excelência concede isso magnanimamente. Que, porém, o pensamento se manifeste num jantar privado, celebrando o 28 de Maio ou numa missa em intenção de Salazar, ou num artigo de crítica à democracia, ou num ensaio contra-revolucionário, é a abominação de desolação. Proíbam-se imediatamente. Eis as autênticas liberdade de expressão e reunião numa genuína e louçã democracia.
António José de Brito
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Sempre me curvei, reverente, perante tão estimável manifestação da justiça democrática.
Infelizmente esta só se aplica, até agora, àquilo que, habitualmente, se chamam acções, quando devia abranger livros, discursos, etc, que estivessem fora da ortodoxia e pusessem em causa o sagrado respeito pelo homem e ideias similares.
Estando em boas mãos os direitos de autor de obras portadoras do vírus fascista torna-se urgente que sejam imprescritíveis.
Ai de nós, porém: ainda não chegamos a esse grau de perfeição, embora algo se tenha feito no bom sentido. Pouco, todavia. A entrada no domínio público dos trabalhos de um autor passou de cinquenta para setenta anos, a seguir à morte deste, conforme dispõe o Decreto-lei n.º 334/97, art. 2º, vigente de acordo com o art. 5º desse diploma, a partir de 1 de Julho de 1995. Recorreu-se, pois, brilhantemente à retroactividade.
Isso permitiu que certos volumes heterodoxos, de manifesta perigosidade, pudessem ser interditos. Assim sucedeu com a tradução portuguesa do Mein Kampf. Este, propriedade intelectual da Baviera contemporânea, não é publicável à vontade, seja por quem fôr e seja como fôr. Seria, contudo, errado pensar-se que a Baviera aferrolha, ávidamente, para si, com furiosa avidez, a possibilidade de se editar o Mein Kampf nesta ou naquela língua. Nada disso! A Baviera actual é generosa e tolerante. Como explica o cultíssimo e originalíssimo Sr. Clemens Betzel, porta-voz da Embaixada da Alemanha, o Estado da Baviera não tem por hábito alienar os seus direitos de autor no tocante ao Mein Kampf, a não ser por critérios científicos. Um tal respeito pela ciência é simplesmente tocante. O sr. Betzel não se fica por aí e prossegue, magnificamente: "mas vender o livro com uma foto simpática de Hitler e fazer publicidade nas livrarias com tiragens muito grandes, isso ultrapassa o critério científico" (sic). Descoberta genial. A ciência é incompatível com as fotos simpáticas e as grandes tiragens.
Um estudo de física de Niels Bohr, lançado aos milhares de exemplares e com foto simpática deste último, perderia a índole científica. Esta delimitação do científico, tão inovadora e curiosa, permitam-me que a aplauda com mãos ambas.
Se em Lisboa tivessem aparecido tão só quinhentos exemplares, com uma capa em que Hitler, num esgar, mostrasse a língua aos leitores, já o Estado bávaro, feliz e sorridente, não se teria oposto a semelhante edição. É que os critérios científicos haviam sido respeitados.
Em todo o caso, sem desdenhar da descoberta do Sr. Betzel acerca dos citados critérios, com legítimo orgulho chamamos a atenção para o facto de que escritores portugueses os ultrapassaram — ou não fossemos um país de descobridores.
O Sr. João Barrento, "professor" (espero que catedrático e doutorado) "de literatura alemã na Universidade Nova de Lisboa", numa suculenta entrevista a "Metro", suplemento do referido Semanário, responde, desta forma decisiva, à pergunta: "Quais foram as fontes de Hitler?": "Há alguns ideólogos de que aliás Hitler não se serve muito porque não se alimenta de literatura anti-semita. Aparentemente não lhe interessam muito. Ele percorre, ainda na Áustria, nos primeiros anos da década de 20, uma série de lugares e ouve muitos oradores anti-semitas em reuniões e comícios. Essa é a sua grande fonte. Não há uma investigação ou fontes históricas. Mas há alguns ideólogos, Spengler, Rosenberg e o Mito do Século XX".
Sem dúvida, biógrafos como Michel Gorel, Allan Bullock, Görlitz e Quint, Joachim Fest, Werner Maser situam o Führer na Baviera, nos primeiros anos da década de 20. Estarão errados? Não, com certeza. Trata-se de notáveis especialistas na matéria, e nem o Sr. Barrento se refere a lapso dos mesmos. Estará este equivocado? Claro que não, porque com as suas responsabilidades de Mestre insigne, de estudioso reputado, não ia fazer afirmações no ar. Se declara que Hitler estava, ainda, na Áustria nos primeiros anos da década de 20, seguramente as suas rigorosas averiguações o conduziram, com segurança, a tal conclusão.
Impõe-se por conseguinte, acreditar que Hitler, nos primeiros anos da década de 20 se encontrava, simultaneamente, na Áustria e na Baviera. Nada mais fácil de admitir. É que possuía o dom da ubiquidade.
Em 1923, por exemplo, escutava na Áustria oradores anti-semitas e, em Munique, tentava o célebre Putsch que o levou à prisão. Por obra e graça de Barrento, adquirimos um novo e importante conhecimento acerca de Adolf Hitler.
E, também, ficamos esclarecidos sobre outro relevante ponto.
As concepções hitlerianas, compendiadas no Mein Kampf, que apareceu em 1925 e 1926, foram influenciadas pelo Mito do Século XX de Rosenberg, de 1930. Hitler, portanto, era dotado de presciência. Ao redigir a sua obra — a primeira parte no cárcere, em 1924 — penetrou na mente de Rosenberg e aí leu o Mythos, surgido bastante depois. O Sr. Barrento, sem favor, meteu o Sr. Betzel num chinelo. Mes compliments Monsieur.
Deus seja louvado, que não nos ficamos por aqui no que diz respeito a novidades sensacionais. Henrique Botequilha e Torcato Sepúlveda informam-nos que um dos responsáveis da editora Hugin "aprecia mais os irmãos Strasser (camisas castanhas vítimas, em 1934, da Noite das Facas Longas) do que Adolf Hitler".
Eu possuo um livro, assaz ignóbil de resto, de Otto Strasser, que ele próprio data de 1940. Deste modo, podem-se escrever livros depois da morte. Abençoada e consoladora revelação. Sinto uma alma nova. Publiquei, até hoje, que estou com os pés para a cova, uns tantos volumes (cujas ideias básicas de nenhum modo renego) de uma honesta mediania. Talvez venha a produzir obras-primas no Cemitério dos Prazeres. Bendito Semanário.
Resta-me fazer votos no sentido de que as meritórias disposições anti-fascistas, legalmente vigentes cá no rectângulo, se estendam a escritos, conferências e coisas análogas. Se a memória me não falha, a boa doutrina a tal respeito foi já exposta pelo genial Louçã. Cada qual pode pensar como quiser. Sua Excelência concede isso magnanimamente. Que, porém, o pensamento se manifeste num jantar privado, celebrando o 28 de Maio ou numa missa em intenção de Salazar, ou num artigo de crítica à democracia, ou num ensaio contra-revolucionário, é a abominação de desolação. Proíbam-se imediatamente. Eis as autênticas liberdade de expressão e reunião numa genuína e louçã democracia.
António José de Brito
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segunda-feira, julho 19, 2004
ANTÓNIO SARDINHA
Com a morte, em 1925, do autor de "Ao Princípio era o Verbo", perdeu, sem dúvida, o nacionalismo português um dos seus mais altos representantes e um dos seus mais ardorosos doutrinadores.
Educado no culto dos Direitos do Homem e na admiração entusiástica dos imortais Princípios, António Sardinha, perante o espectáculo irrisório do Constitucionalismo, foi republicano e revolucionário. A falência catastrófica e anárquica do regime implantado a 5 de Outubro veio, porém, destruir as suas ilusões e quimeras. Tinha chegado a hora angustiosa da crise interior.
Diante das realidades ele, como tantos outros jovens da sua geração, fez o seu exame de consciência. Qual o valor dos ideais até então professados? Quais as causas de desordem? Como salvar Portugal? Que caminho seguir? A essas perguntas perplexas, Sardinha não tardou a dar resposta. Maurras, Barrès, Daudet, Taine, Renan, Agostinho de Macedo, Gama e Castro, o Marquês de Penalva, ensinaram-lhe a crítica à Democracia, ao Liberalismo, o apreço às elites, o amor à realidade. Gama Barros, Alberto Sampaio, os eruditos da Portugália, o estudo das crónicas, de velhas memórias, trouxeram-lhe uma nova visão da história, uma nova compreensão da origem e do destino do país. Tendo encontrado a Verdade, Sardinha não hesitou um momento. Na companhia do grupo ardente de rapazes que constituía então o Integralismo, lançou-se, através das páginas da "Nação Portuguesa", no mais aceso combate.
À oposição clássica: Liberdade ou Autoridade, respondia que a Liberdade sem a Autoridade era um absurdo pois a primeira, proclamando-se um valor, implicitamente estava atribuindo a si mesma Autoridade. E, contra o Individualismo, traçava o esboço da síntese entre estes dois falsos contrários, por meio da noção viva e criadora da Ordem que atribui a cada coisa o seu lugar; da Ordem realizada na Monarquia integral com o Rei ao alto federando e unindo energias, com os municípios, as províncias e as corporações autónomas na sua esfera, toda esta grandiosa hierarquia desenvolvendo-se, fluindo e formando, na inseparabilidade do soberano com os diversos agregados, o formidável todo que é a Pátria.
Às calúnias e deturpações dos escritores liberais, discípulos dilectos da Maçonaria, respondia triunfalmente com as provas na mão lançando abaixo do pedestal o falso mártir Gomes Freire, combatendo a nefasta acção do Marquês de Pombal, reabilitando a memória dos nossos reis, de D. João IV, D. Miguel I, D. João V, D. Sebastião, D. Fernando, atacando a obra da Carta Constitucional, provando quão de falso havia na lenda de uma suposta tirania existente até ao radioso ano de 1820, demonstrando como não tinham fundamento as acusações injuriosas e difamantes que pesavam sobre a Inquisição e os Jesuítas, etc.
Aos tímidos conservadores, que se insurgiam contra os extremismos, quer das esquerdas quer das direitas, aos defensores puros do existente, aos monárquicos que se limitavam a combater a República comparando o valor dos estadistas de antes de 1910 com o mérito dos de depois de 1910, aos que repeliam a doutrina como luxo ou a reduziam a palavras vagas, a esses todos fazia a apologia de Sorel e da violência, proclamava o direito do pensamento dirigir a acção, afirmava a existência de princípios objectivos a defender e a exaltar. E com a energia para repelir os apelos escandalizados da burguesia exclamava: "O nosso movimento é fundamentalmente um movimento de guerra".
Aos que apelavam para as memórias gloriosas dos eminentes espíritos do século dezanove, ele, sem hesitação, repelindo preconceitos, extraía o sentido contra-revolucionário subjacente nas obras de Herculano, Garrett, Oliveira Martins, Antero, Ramalho, Eça, e, sem os erros, por vezes graves, de tão grandes vultos, enquadrava-os no momento histórico que lhes cabia, explicando o significado dos seus ataques e das suas ironias, significado bem mais alto que o atribuído pelo fácil jacobinismo da época.
Aos defensores sentimentais ou interessados do Judaísmo ele mostrava, com Sorel e Sombart, a nefasta influência exercida pelo espírito talmúdico na economia europeia, a responsabilidade que lhe competia no desenvolvimento e na frutificação da Plutocracia, da agiotagem, da avidez desenfreada de lucro. E assim, de cara descoberta, ele combateu os mitos sem transigir, sem pactuar com uma glória ou um comodismo tranquilo.
Não nos deixou uma vasta obra sistemática; não nos deixou uma doutrina de cânones estabelecidos; mas, se não compôs tratados no remanso dum gabinete, legou-nos a lição incessante dum combate sem tréguas de nacionalista desinteressado. Com o auxílio dos seus companheiros do Integralismo, com Mariotte e com o inquebrantável e enérgico Alfredo Pimenta, conseguiu Sardinha levar a cabo uma das mais notáveis revoluções espirituais do nosso tempo. Por isso, enquanto houver portugueses, jamais será olvidado o seu apostolado, expressão clara, manifestação gloriosa da vitalidade perene do Génio da Raça.
Por isso o invocamos hoje, nós os que lutamos pela mesma eterna verdade da Pátria e do Rei, certos de que não faltará à chamada e de que o seu espírito nos acompanhará.
António José de Brito
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Educado no culto dos Direitos do Homem e na admiração entusiástica dos imortais Princípios, António Sardinha, perante o espectáculo irrisório do Constitucionalismo, foi republicano e revolucionário. A falência catastrófica e anárquica do regime implantado a 5 de Outubro veio, porém, destruir as suas ilusões e quimeras. Tinha chegado a hora angustiosa da crise interior.
Diante das realidades ele, como tantos outros jovens da sua geração, fez o seu exame de consciência. Qual o valor dos ideais até então professados? Quais as causas de desordem? Como salvar Portugal? Que caminho seguir? A essas perguntas perplexas, Sardinha não tardou a dar resposta. Maurras, Barrès, Daudet, Taine, Renan, Agostinho de Macedo, Gama e Castro, o Marquês de Penalva, ensinaram-lhe a crítica à Democracia, ao Liberalismo, o apreço às elites, o amor à realidade. Gama Barros, Alberto Sampaio, os eruditos da Portugália, o estudo das crónicas, de velhas memórias, trouxeram-lhe uma nova visão da história, uma nova compreensão da origem e do destino do país. Tendo encontrado a Verdade, Sardinha não hesitou um momento. Na companhia do grupo ardente de rapazes que constituía então o Integralismo, lançou-se, através das páginas da "Nação Portuguesa", no mais aceso combate.
À oposição clássica: Liberdade ou Autoridade, respondia que a Liberdade sem a Autoridade era um absurdo pois a primeira, proclamando-se um valor, implicitamente estava atribuindo a si mesma Autoridade. E, contra o Individualismo, traçava o esboço da síntese entre estes dois falsos contrários, por meio da noção viva e criadora da Ordem que atribui a cada coisa o seu lugar; da Ordem realizada na Monarquia integral com o Rei ao alto federando e unindo energias, com os municípios, as províncias e as corporações autónomas na sua esfera, toda esta grandiosa hierarquia desenvolvendo-se, fluindo e formando, na inseparabilidade do soberano com os diversos agregados, o formidável todo que é a Pátria.
Às calúnias e deturpações dos escritores liberais, discípulos dilectos da Maçonaria, respondia triunfalmente com as provas na mão lançando abaixo do pedestal o falso mártir Gomes Freire, combatendo a nefasta acção do Marquês de Pombal, reabilitando a memória dos nossos reis, de D. João IV, D. Miguel I, D. João V, D. Sebastião, D. Fernando, atacando a obra da Carta Constitucional, provando quão de falso havia na lenda de uma suposta tirania existente até ao radioso ano de 1820, demonstrando como não tinham fundamento as acusações injuriosas e difamantes que pesavam sobre a Inquisição e os Jesuítas, etc.
Aos tímidos conservadores, que se insurgiam contra os extremismos, quer das esquerdas quer das direitas, aos defensores puros do existente, aos monárquicos que se limitavam a combater a República comparando o valor dos estadistas de antes de 1910 com o mérito dos de depois de 1910, aos que repeliam a doutrina como luxo ou a reduziam a palavras vagas, a esses todos fazia a apologia de Sorel e da violência, proclamava o direito do pensamento dirigir a acção, afirmava a existência de princípios objectivos a defender e a exaltar. E com a energia para repelir os apelos escandalizados da burguesia exclamava: "O nosso movimento é fundamentalmente um movimento de guerra".
Aos que apelavam para as memórias gloriosas dos eminentes espíritos do século dezanove, ele, sem hesitação, repelindo preconceitos, extraía o sentido contra-revolucionário subjacente nas obras de Herculano, Garrett, Oliveira Martins, Antero, Ramalho, Eça, e, sem os erros, por vezes graves, de tão grandes vultos, enquadrava-os no momento histórico que lhes cabia, explicando o significado dos seus ataques e das suas ironias, significado bem mais alto que o atribuído pelo fácil jacobinismo da época.
Aos defensores sentimentais ou interessados do Judaísmo ele mostrava, com Sorel e Sombart, a nefasta influência exercida pelo espírito talmúdico na economia europeia, a responsabilidade que lhe competia no desenvolvimento e na frutificação da Plutocracia, da agiotagem, da avidez desenfreada de lucro. E assim, de cara descoberta, ele combateu os mitos sem transigir, sem pactuar com uma glória ou um comodismo tranquilo.
Não nos deixou uma vasta obra sistemática; não nos deixou uma doutrina de cânones estabelecidos; mas, se não compôs tratados no remanso dum gabinete, legou-nos a lição incessante dum combate sem tréguas de nacionalista desinteressado. Com o auxílio dos seus companheiros do Integralismo, com Mariotte e com o inquebrantável e enérgico Alfredo Pimenta, conseguiu Sardinha levar a cabo uma das mais notáveis revoluções espirituais do nosso tempo. Por isso, enquanto houver portugueses, jamais será olvidado o seu apostolado, expressão clara, manifestação gloriosa da vitalidade perene do Génio da Raça.
Por isso o invocamos hoje, nós os que lutamos pela mesma eterna verdade da Pátria e do Rei, certos de que não faltará à chamada e de que o seu espírito nos acompanhará.
António José de Brito
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