segunda-feira, fevereiro 28, 2005
Lembrar Couto Viana
O poeta António Manuel Couto Viana, nacionalista de toda a vida, está hoje em alta: é tema de uma nota no "Diário de Notícias", tem homenagem na Sociedade Portuguesa de Autores, e uma entrevista em linha.
É aproveitar...
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Tributo a Rodrigo Emílio
A Editora "Lavra Editorial», vai levar a efeito no próximo dia 5 de Março de 2005, pelas 15 horas, na Casa da Beira-Alta, na cidade do Porto, sita à Rua de Santa Catarina, 147 - 1.º, o «Tributo a Rodrigo Emílio».
Em destaque vai estar a sua poesia através das vozes do declamador Fonseca Alves e do animador da palavra Eduardo Roseira.
Os interessados podem contactar a "Lavra Editorial", Rua Pereira da Costa, 156 - 2.º 4400-145 V.N. Gaia, ou para o email: eduardoroseira@mail.pt
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Em destaque vai estar a sua poesia através das vozes do declamador Fonseca Alves e do animador da palavra Eduardo Roseira.
Os interessados podem contactar a "Lavra Editorial", Rua Pereira da Costa, 156 - 2.º 4400-145 V.N. Gaia, ou para o email: eduardoroseira@mail.pt
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Nova colheita
Proliferam os blogues.
E fazem os seus autores muito bem: nesta temporada quaresmal em que vivemos o advento do poder socialista a blogosfera livre é o campo aberto para a sementeira da renovação política.
Destaco entre as últimas descobertas:o excelente Batalha Final; o católico Paróquia do Minho; o nacionalista Saadyroots; o feminino Portvgvesa; o liberal Insurgente; o esteta Absonante; o atento A Arte da Memória; o capitalista A Mão Invisível...
São tantos e tão diferentes que substituem com vantagem a nossa pobrezinha e repetitiva imprensa escrita...
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E fazem os seus autores muito bem: nesta temporada quaresmal em que vivemos o advento do poder socialista a blogosfera livre é o campo aberto para a sementeira da renovação política.
Destaco entre as últimas descobertas:o excelente Batalha Final; o católico Paróquia do Minho; o nacionalista Saadyroots; o feminino Portvgvesa; o liberal Insurgente; o esteta Absonante; o atento A Arte da Memória; o capitalista A Mão Invisível...
São tantos e tão diferentes que substituem com vantagem a nossa pobrezinha e repetitiva imprensa escrita...
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Do local ao nacional
Depois do Santarém Nacional, já estão em linha o Coimbra Nacional e o Portimão Nacional.
E temos portanto na nossa frente um desafio à altura dos nacionalistas: trazer para a rede vozes capazes de falar das suas terras e regiões, identificar-se com os problemas das gentes e dos locais, e ao mesmo tempo manter uma perspectiva nacional, falar para o todo de que fazemos parte.
Deste modo se pode traduzir na rede o que sempre foi dito pelos doutrinários do nacionalismo: que a nação é constituída por múltiplas realidades individualizadas, mas unidas num projecto de vida em comum.
Uma unidade de destino no universal.
Neste tempo em que o domínio asfixiante da esquerda sobre a "opinião publicada" ameaça acentuar-se e tornar-se de regra em obrigação (ou até de facto em lei), impõe-se criar os canais de comunicação que nos permitam ter acesso à opinião pública.
A blogolância é um instrumento e um meio: que despertem todos os talentos adormecidos, sejam jornalistas, escritores, polemistas, articulistas, ou simples militantes que vivam o dia a dia dos problemas, do trabalho ou dos estudos, da juventude ou da velhice, de qualquer recanto do Portugal esquecido. Todos para a rede, para que se faça ouvir aqui a voz silenciada de Portugal e dos Portugueses.
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E temos portanto na nossa frente um desafio à altura dos nacionalistas: trazer para a rede vozes capazes de falar das suas terras e regiões, identificar-se com os problemas das gentes e dos locais, e ao mesmo tempo manter uma perspectiva nacional, falar para o todo de que fazemos parte.
Deste modo se pode traduzir na rede o que sempre foi dito pelos doutrinários do nacionalismo: que a nação é constituída por múltiplas realidades individualizadas, mas unidas num projecto de vida em comum.
Uma unidade de destino no universal.
Neste tempo em que o domínio asfixiante da esquerda sobre a "opinião publicada" ameaça acentuar-se e tornar-se de regra em obrigação (ou até de facto em lei), impõe-se criar os canais de comunicação que nos permitam ter acesso à opinião pública.
A blogolância é um instrumento e um meio: que despertem todos os talentos adormecidos, sejam jornalistas, escritores, polemistas, articulistas, ou simples militantes que vivam o dia a dia dos problemas, do trabalho ou dos estudos, da juventude ou da velhice, de qualquer recanto do Portugal esquecido. Todos para a rede, para que se faça ouvir aqui a voz silenciada de Portugal e dos Portugueses.
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domingo, fevereiro 27, 2005
Nostalgia
Hoje, dia cinzento e frio de inverno, deu-me para lembrar com saudade dois amigos incomparáveis.
Deixo-vos a evocação sentida de Caetano Beirão e Amândio César, pela pena inspirada e firme de António José de Brito.
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Deixo-vos a evocação sentida de Caetano Beirão e Amândio César, pela pena inspirada e firme de António José de Brito.
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O EXEMPLO DE CAETANO BEIRÃO
É-me difícil em extremo escrever sobre Caetano de Melo Beirão sem falar um pouco de mim, de tal modo as nossas vidas se entrecruzaram numa comunhão de ideias e posições que só a morte foi capaz de dissolver.
Quando cheguei a Coimbra, em 1945, bisonho caloiro de Direito, o mundo vivia em plena euforia democrática. Os vencidos da Segunda Grande Guerra eram acusados dos maiores crimes, os vencedores elevados a anjos e santos, as ideologias demo-liberal e demo-marxista idolatradas com fervor religioso.
Internamente, o Estado Novo, regime autoritário, ainda que, infelizmente, não fascista, sofria os primeiros embates como consequência do triunfo das impropriamente chamadas Nações Unidas.
Um grupo de jovens estudantes da velha universidade coimbrã entendia que a solução para as dificuldades do momento estava no Integralismo, ou seja, num desenvolvimento monárquico do Estado Novo.
Recém-chegado modesto, leitor de Sardinha, Pequito Rebelo, Alfredo Pimenta, João Ameal, (e de Sérgio e Raul Proença), enfileirei logo nesse grupo, de que Caetano de Melo Beirão era vulto de relevo. Falava-se, com entusiasmo, na publicação de um jornal doutrinário que, realmente, apareceu no ano lectivo seguinte, a 1 de Dezembro de 1946. Tratava-se de um quinzenário de que, naturalmente, pelas suas qualidades de inteligência, ponderação, fleuma, firmeza e cortesia, Caetano de Melo Beirão assumiu a direcção. Chamava-se "Mensagem" e nele fizemos, ambos, as nossas primeiras armas. Entre quantos se agrupavam em seu torno germinava, no entanto, um equívoco. Uns de nós eram adeptos do Integralismo como ideário político, formulado entre 1914 e 1930, ideário que procurávamos aprofundar, e aperfeiçoar; outros seguiam, apenas, as personalidades de alguns integralistas de tomo, que odiavam o Estado Novo e não eram imunes aos miasmas mentais da época. A cisão tornou-se inevitável quando surgiu um diário, patrocinado por este último, a defender a teoria absurda da monarquia democrática.
Dum lado ficaram, com Caetano de Melo Beirão à frente, os que não transigiam no seu antidemocratismo, antiliberalismo, e radical nacionalismo; perante eles, uns tantos que iniciaram uma lenta e curiosa evolução, que os levou, anos depois, a alinhar com a abjecção abrilina. Na altura em que se deu essa cisão, já entre mim e Caetano de Melo Beirão se estabelecera uma amizade permanente e sem sombras. Lembro-me, como se fosse hoje, das inúmeras vezes que, depois de jantar, o ia buscar à Estrada da Beira; voltávamos pelo parque, falando de tudo quanto se pode falar, até entrarmos na "Brasileira" — o nosso café — onde mergulhávamos na política, na má-língua, nas blagues.
A "Mensagem" ia sobrevivendo, com altos e baixos, sempre na defesa da ortodoxia. Até que chegou a hora das formaturas. Primeiro o Caetano, depois eu, promovido, entretanto, a chefe de redacção. E, apesar de várias tentativas, acabou por desaparecer. Durante o meu serviço militar, em Mafra, Caetano de Melo Beirão já estava em Lisboa. Continuamos pois o nosso convívio, passando a visitar a casa de seus pais, que me receberam com requintes de gentileza, que nunca esquecerei. O grande historiador e pensador político Caetano Beirão acolheu-me com a sua inexcedível simpatia e a sua bondade paternal para com os jovens. Os serões de domingo à noite, que eu abandonava, sempre, a correr, para regressar ao quartel, são das melhores recordações desse período.
No início de 1959, realizaram-se as Semanas de Estudos Doutrinários, que pretendiam congregar os representantes do pensamento monárquico. Caetano de Melo Beirão, Goulart Nogueira e eu apresentámos comunicações, remando contra a maré liberalizante que se ia espalhando. Caetano falou, num trabalho excelente, sobre «Estado, Nação, Rei», recebendo os ataques que eram de esperar.
As comunicações, sujeitas a discussão pública, apareceram em volume com os comentários de um escritor, arvorado, não se sabe a que título, em mestre de todos nós. Pela minha parte ri-me das críticas póstumas, facilmente refutáveis e perante as quais encolhi os ombros.
Caetano de Melo Beirão não deixou, porém, de aplicar um valente puxão de orelhas, na "Praça Nova", ao seu agressor.
Em Maio de 1959 surgia o primeiro número da revista "Tempo Presente", dirigida por Fernando Guedes e cujo conselho de redacção era composto por Caetano de Melo Beirão, Couto Viana, Goulart Nogueira e eu. Caetano colaborou, abundantemente, na revista, participando activamente da sua feitura.
Por razões de serviço (eu era Secretário da Universidade do Porto) fui, inesperadamente, chamado em Agosto, em plenas férias, ao Ministério. Caetano de Melo Beirão, que não saíra da capital, insistiu em que me instalasse em sua casa, passando ali o resto das férias. Jantávamos juntos com Fernando Guedes e Goulart Nogueira. As refeições, péssimas, como era da praxe, fornecia-as uma pensão das vizinhanças. Lavávamos a louça cantando e, por entre árias de opereta, rompia, inúmeras vezes, a Giovinezza. Surgiam mais amigos, e faziam-se planos para "Tempo Presente", esbravejava-se sobre filosofia e literatura, reprovava-se a frouxidão dos governantes e, pela madrugada, subiam até ao tecto, com o fumo dos cigarros, as nossas esperanças, ilusões e cóleras.
Nas noites de mais calor, saíamos para a rua a calcorrear Lisboa, que aprendi, então, a amar, contemplando o luar reflectido sobre o Tejo, correndo as vielas estreitas de Alfama e do Castelo, mirando, lentamente, as infindas luzes da cidade. Recordo uma ocasião em que, numa esplanada da Avenida, rodeados de estrangeiros, rompemos a entoar o hino fascista. Estes sorriam, simpaticamente, àquele bando de jovens irreverentes, até que soou o nome de Mussolini. Com grande gáudio nosso, velaram a face perante semelhante «abominação da desolação».
No início de 1960, - vogava, ainda, de velas desfraldadas, a nossa revista — teve lugar o I Colóquio Nacional do Trabalho, da Organização Corporativa e da Previdência Social. Caetano de Melo Beirão secretariou uma das secções e apresentou uma tese intitulada «Algumas considerações sobre o sistema corporativo perante o Estado na lei portuguesa», travando acesa discussão com os adeptos de um pluralismo sindical e do enfraquecimento da autoridade estatal.
Quando "Tempo Presente" desapareceu, Caetano de Melo Beirão fundou o Círculo de Estudos Alfredo Pimenta, durante anos ponto de aglutinação de boa parte da extrema-direita portuguesa.
Saliente-se, ainda, o extraordinário artigo que escreveu para o número do "Agora" consagrado ao Fascismo, que Goulart Nogueira organizou. Nele, com raro poder de evocação, se fazia reviver o imenso desfile da Mocidade Portuguesa no XI Aniversário da Revolução Nacional, em que, como convidados, marcharam, também, pelotões de Balillas e da Hitlerjugend.
Depois... Depois veio o marcelismo e, na sua sucessão, a onda de lama (para não dizer pior) do «25-A».
Para a combater (embora sem grande esperança) procurámos constituir o Movimento de Acção Portuguesa (M.A.P.), de que Caetano de Melo Beirão era, obviamente, membro destacado. No «28 de Setembro», ainda não tinha sido publicado o nosso manifesto, foi assaltada a sede do M.A.P. manu militari e a maioria dos seus membros passou para a prisão e o exílio. Escapámos, o Caetano e eu, durante o período gonçalvista, mantivemos o contacto com camaradas que estavam em Espanha, fazendo o que podíamos e não era muito. E a seguir ao 25 de Novembro despontou o Pantanal: paz bem podre, escândalos permanentes, aumento da criminalidade e da insegurança nas ruas, a traição endeusada, etc.
Caetano de Melo Beirão recusou-se a partilhar o banquete nauseabundo, sofrendo a marginalização que era de prever.
Arqueólogo, com projecção internacional, a ciência nunca lhe serviu de álibi para uma neutralidade prudente. Tendo de se mudar para Évora, por motivos pessoais (o que muito lamentei), não deixava de, com sacrifício, se deslocar ao Porto, no 28 de Maio, para participar do jantar comemorativo dessa data, jantar onde se reúnem os que «não se arrependem nem esquecem» E para o «Colóquio», também no Porto, consagrado ao centenário de Salazar, roubou largas horas aos seus estudos, para apresentar a comunicação «Reflexões sobre o Estatuto do Trabalho Nacional e a Organização Corporativa do Estado».
E, já muito doente, à espera de arriscada operação, ainda me disse que dos seus maiores gostos tinha sido ler os números da "Revue d`Histoire Révisionniste", que eu lhe fizera enviar.
Caetano de Melo Beirão não procurava a fama fácil nem mendigava elogios.
Estava, no entanto, seguro de si e das certezas que o animavam, tendo um soberano desprezo pela mediocridade reinante.
O rectângulo, a que Abril reduziu Portugal, terá muitas competências. O que lhe faltam são homens de carácter. Caetano de Melo Beirão pertenceu a essa espécie, bem rara na nossa sociedade actual. Também a coragem era um dos seus atributos, coragem não alardeada, mas várias vezes posta à prova e bem visível na serenidade simples com que enfrentava a hipótese da morte, quando se preparava para a arriscada intervenção cirúrgica que o vitimou. Sem poses de estóico altivo, cultivando o humor próprio e alheio (na última ocasião que nos encontrámos, num restaurante, Goulart Nogueira, eu e ele, já com data marcada para a operação, as nossas gargalhadas brotavam espontaneamente, a tal ponto que, nós mesmos, dissemos que nos estávamos a rir demais para a nossa idade).
Caetano de Melo Beirão era um bloco granítico de integridade e fidelidade políticas. O seu corpo físico pode ter desaparecido. Mas o seu espírito continua entre nós, os que fomos seus amigos de uma inteira existência, que com ele partilhámos o pão e o sal, as aspirações e os desejos de redenção da Pátria e que vivemos as mesmas dores e angústias e alegrias.
Caetano de Melo Beirão — Presente!
António José de Brito
(in O Diabo de 15 de Outubro de 1991)
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Quando cheguei a Coimbra, em 1945, bisonho caloiro de Direito, o mundo vivia em plena euforia democrática. Os vencidos da Segunda Grande Guerra eram acusados dos maiores crimes, os vencedores elevados a anjos e santos, as ideologias demo-liberal e demo-marxista idolatradas com fervor religioso.
Internamente, o Estado Novo, regime autoritário, ainda que, infelizmente, não fascista, sofria os primeiros embates como consequência do triunfo das impropriamente chamadas Nações Unidas.
Um grupo de jovens estudantes da velha universidade coimbrã entendia que a solução para as dificuldades do momento estava no Integralismo, ou seja, num desenvolvimento monárquico do Estado Novo.
Recém-chegado modesto, leitor de Sardinha, Pequito Rebelo, Alfredo Pimenta, João Ameal, (e de Sérgio e Raul Proença), enfileirei logo nesse grupo, de que Caetano de Melo Beirão era vulto de relevo. Falava-se, com entusiasmo, na publicação de um jornal doutrinário que, realmente, apareceu no ano lectivo seguinte, a 1 de Dezembro de 1946. Tratava-se de um quinzenário de que, naturalmente, pelas suas qualidades de inteligência, ponderação, fleuma, firmeza e cortesia, Caetano de Melo Beirão assumiu a direcção. Chamava-se "Mensagem" e nele fizemos, ambos, as nossas primeiras armas. Entre quantos se agrupavam em seu torno germinava, no entanto, um equívoco. Uns de nós eram adeptos do Integralismo como ideário político, formulado entre 1914 e 1930, ideário que procurávamos aprofundar, e aperfeiçoar; outros seguiam, apenas, as personalidades de alguns integralistas de tomo, que odiavam o Estado Novo e não eram imunes aos miasmas mentais da época. A cisão tornou-se inevitável quando surgiu um diário, patrocinado por este último, a defender a teoria absurda da monarquia democrática.
Dum lado ficaram, com Caetano de Melo Beirão à frente, os que não transigiam no seu antidemocratismo, antiliberalismo, e radical nacionalismo; perante eles, uns tantos que iniciaram uma lenta e curiosa evolução, que os levou, anos depois, a alinhar com a abjecção abrilina. Na altura em que se deu essa cisão, já entre mim e Caetano de Melo Beirão se estabelecera uma amizade permanente e sem sombras. Lembro-me, como se fosse hoje, das inúmeras vezes que, depois de jantar, o ia buscar à Estrada da Beira; voltávamos pelo parque, falando de tudo quanto se pode falar, até entrarmos na "Brasileira" — o nosso café — onde mergulhávamos na política, na má-língua, nas blagues.
A "Mensagem" ia sobrevivendo, com altos e baixos, sempre na defesa da ortodoxia. Até que chegou a hora das formaturas. Primeiro o Caetano, depois eu, promovido, entretanto, a chefe de redacção. E, apesar de várias tentativas, acabou por desaparecer. Durante o meu serviço militar, em Mafra, Caetano de Melo Beirão já estava em Lisboa. Continuamos pois o nosso convívio, passando a visitar a casa de seus pais, que me receberam com requintes de gentileza, que nunca esquecerei. O grande historiador e pensador político Caetano Beirão acolheu-me com a sua inexcedível simpatia e a sua bondade paternal para com os jovens. Os serões de domingo à noite, que eu abandonava, sempre, a correr, para regressar ao quartel, são das melhores recordações desse período.
No início de 1959, realizaram-se as Semanas de Estudos Doutrinários, que pretendiam congregar os representantes do pensamento monárquico. Caetano de Melo Beirão, Goulart Nogueira e eu apresentámos comunicações, remando contra a maré liberalizante que se ia espalhando. Caetano falou, num trabalho excelente, sobre «Estado, Nação, Rei», recebendo os ataques que eram de esperar.
As comunicações, sujeitas a discussão pública, apareceram em volume com os comentários de um escritor, arvorado, não se sabe a que título, em mestre de todos nós. Pela minha parte ri-me das críticas póstumas, facilmente refutáveis e perante as quais encolhi os ombros.
Caetano de Melo Beirão não deixou, porém, de aplicar um valente puxão de orelhas, na "Praça Nova", ao seu agressor.
Em Maio de 1959 surgia o primeiro número da revista "Tempo Presente", dirigida por Fernando Guedes e cujo conselho de redacção era composto por Caetano de Melo Beirão, Couto Viana, Goulart Nogueira e eu. Caetano colaborou, abundantemente, na revista, participando activamente da sua feitura.
Por razões de serviço (eu era Secretário da Universidade do Porto) fui, inesperadamente, chamado em Agosto, em plenas férias, ao Ministério. Caetano de Melo Beirão, que não saíra da capital, insistiu em que me instalasse em sua casa, passando ali o resto das férias. Jantávamos juntos com Fernando Guedes e Goulart Nogueira. As refeições, péssimas, como era da praxe, fornecia-as uma pensão das vizinhanças. Lavávamos a louça cantando e, por entre árias de opereta, rompia, inúmeras vezes, a Giovinezza. Surgiam mais amigos, e faziam-se planos para "Tempo Presente", esbravejava-se sobre filosofia e literatura, reprovava-se a frouxidão dos governantes e, pela madrugada, subiam até ao tecto, com o fumo dos cigarros, as nossas esperanças, ilusões e cóleras.
Nas noites de mais calor, saíamos para a rua a calcorrear Lisboa, que aprendi, então, a amar, contemplando o luar reflectido sobre o Tejo, correndo as vielas estreitas de Alfama e do Castelo, mirando, lentamente, as infindas luzes da cidade. Recordo uma ocasião em que, numa esplanada da Avenida, rodeados de estrangeiros, rompemos a entoar o hino fascista. Estes sorriam, simpaticamente, àquele bando de jovens irreverentes, até que soou o nome de Mussolini. Com grande gáudio nosso, velaram a face perante semelhante «abominação da desolação».
No início de 1960, - vogava, ainda, de velas desfraldadas, a nossa revista — teve lugar o I Colóquio Nacional do Trabalho, da Organização Corporativa e da Previdência Social. Caetano de Melo Beirão secretariou uma das secções e apresentou uma tese intitulada «Algumas considerações sobre o sistema corporativo perante o Estado na lei portuguesa», travando acesa discussão com os adeptos de um pluralismo sindical e do enfraquecimento da autoridade estatal.
Quando "Tempo Presente" desapareceu, Caetano de Melo Beirão fundou o Círculo de Estudos Alfredo Pimenta, durante anos ponto de aglutinação de boa parte da extrema-direita portuguesa.
Saliente-se, ainda, o extraordinário artigo que escreveu para o número do "Agora" consagrado ao Fascismo, que Goulart Nogueira organizou. Nele, com raro poder de evocação, se fazia reviver o imenso desfile da Mocidade Portuguesa no XI Aniversário da Revolução Nacional, em que, como convidados, marcharam, também, pelotões de Balillas e da Hitlerjugend.
Depois... Depois veio o marcelismo e, na sua sucessão, a onda de lama (para não dizer pior) do «25-A».
Para a combater (embora sem grande esperança) procurámos constituir o Movimento de Acção Portuguesa (M.A.P.), de que Caetano de Melo Beirão era, obviamente, membro destacado. No «28 de Setembro», ainda não tinha sido publicado o nosso manifesto, foi assaltada a sede do M.A.P. manu militari e a maioria dos seus membros passou para a prisão e o exílio. Escapámos, o Caetano e eu, durante o período gonçalvista, mantivemos o contacto com camaradas que estavam em Espanha, fazendo o que podíamos e não era muito. E a seguir ao 25 de Novembro despontou o Pantanal: paz bem podre, escândalos permanentes, aumento da criminalidade e da insegurança nas ruas, a traição endeusada, etc.
Caetano de Melo Beirão recusou-se a partilhar o banquete nauseabundo, sofrendo a marginalização que era de prever.
Arqueólogo, com projecção internacional, a ciência nunca lhe serviu de álibi para uma neutralidade prudente. Tendo de se mudar para Évora, por motivos pessoais (o que muito lamentei), não deixava de, com sacrifício, se deslocar ao Porto, no 28 de Maio, para participar do jantar comemorativo dessa data, jantar onde se reúnem os que «não se arrependem nem esquecem» E para o «Colóquio», também no Porto, consagrado ao centenário de Salazar, roubou largas horas aos seus estudos, para apresentar a comunicação «Reflexões sobre o Estatuto do Trabalho Nacional e a Organização Corporativa do Estado».
E, já muito doente, à espera de arriscada operação, ainda me disse que dos seus maiores gostos tinha sido ler os números da "Revue d`Histoire Révisionniste", que eu lhe fizera enviar.
Caetano de Melo Beirão não procurava a fama fácil nem mendigava elogios.
Estava, no entanto, seguro de si e das certezas que o animavam, tendo um soberano desprezo pela mediocridade reinante.
O rectângulo, a que Abril reduziu Portugal, terá muitas competências. O que lhe faltam são homens de carácter. Caetano de Melo Beirão pertenceu a essa espécie, bem rara na nossa sociedade actual. Também a coragem era um dos seus atributos, coragem não alardeada, mas várias vezes posta à prova e bem visível na serenidade simples com que enfrentava a hipótese da morte, quando se preparava para a arriscada intervenção cirúrgica que o vitimou. Sem poses de estóico altivo, cultivando o humor próprio e alheio (na última ocasião que nos encontrámos, num restaurante, Goulart Nogueira, eu e ele, já com data marcada para a operação, as nossas gargalhadas brotavam espontaneamente, a tal ponto que, nós mesmos, dissemos que nos estávamos a rir demais para a nossa idade).
Caetano de Melo Beirão era um bloco granítico de integridade e fidelidade políticas. O seu corpo físico pode ter desaparecido. Mas o seu espírito continua entre nós, os que fomos seus amigos de uma inteira existência, que com ele partilhámos o pão e o sal, as aspirações e os desejos de redenção da Pátria e que vivemos as mesmas dores e angústias e alegrias.
Caetano de Melo Beirão — Presente!
António José de Brito
(in O Diabo de 15 de Outubro de 1991)
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AMÂNDIO CÉSAR
Pouco a pouco a solidão me vai rodeando e uma cortina de isolamento lentamente me cerca. Um a um desaparecem amigos de sempre, impiedosamente ceifados pela morte.
Não há muitos dias chegou até mim, de chofre, a notícia do falecimento de Amândio César. Desceu sobre o meu ânimo um espesso sentimento de melancolia, ao passo que, simultaneamente, um turbilhão de imagens me afluía à mente.
Vi-me em Coimbra, primeirista de Direito, bisonho e tímido, entrando na "Brasileira". Monárquico então (e monárquico continuo a ser, mas monárquico a sério, e não monárquico-democrático à P.P.M. ou à «Nova Monarquia»), sentava-me junto dos correligionários mais velhos que, caridosamente, me iniciavam no mundo dos boatos, da má língua e das querelas das ideias. Um pouco mais adiante, estava a mesa dos intelectuais que eu contemplava com invejoso respeito. Entre eles destacava-se Amândio César cuja voz tonitruante chegava até nós. Foi o meu primeiro contacto com ele, indirecto e à distância.
Não tardou, todavia, que Amândio César, por vezes, abancasse connosco e eu tivesse ocasião de apreciar a sua imensa vitalidade, a sua truculência, o seu humorismo irreverente. Claro que não fraternizámos logo. Eu retraía-me, acanhado, perante quem já tinha livros publicados, conhecia pessoalmente escritores e artistas de nomeada e proferia juízos acertados sobre individualidades a quem eu, na minha ingenuidade, admirava ainda. Mas, insensivelmente, fomo-nos aproximando. Amândio César, com a sua espontânea simpatia por quem começava, encarou com benevolência as minhas primeiras tentativas doutrinárias (que acabaram por me conduzir à filosofia), eu principiei a experimentar a fascinação da sua personalidade excepcional, espécie de força da natureza, sempre em ebulição e desconhecedora de respeitos humanos.
Uma grande admiração nos era comum — a admiração por Alfredo Pimenta. Ambos aguardávamos, com impaciência, os seus últimos volumes e opúsculos e Amândio César, que se correspondia com o Mestre, dava-me notícia dos projectos e opiniões deste.
À recordação de Alfredo Pimenta nos mantivemos ambos fiéis, tendo Amândio César consagrado valiosos trabalhos à obra do historiador de "Idade Média".
E quando no centenário do seu nascimento se promoveu, no Colégio Pio XII, em Lisboa, uma modesta sessão de homenagem à memória de Alfredo Pimenta, lá nos encontramos, de novo, Amândio César e eu, lado a lado, juntamente com Caetano Beirão, Goulart Nogueira, Couto Viana, Rodrigo Emílio, mostrando, pela nossa presença, que «nem nos esquecíamos, nem nos arrependíamos».
Nos nossos tempos de estudante, tão longínquos, acompanhávamos, na mesma trincheira, com entusiasmo e calor, as polémicas veementes contra os pseudo-monárquicos do "Diário Nacional" ou os furiosos ataques, de estilo camiliano, que o ensaísta de "O Imperialismo Contemporâneo" desferia sobre a «Academia Portuguesa de História».
Até que chegou o final dos cursos. O convívio quase constante, as longas peregrinações da baixa para a alta, pelas ruas desertas na madrugada, falando de omne re scibili, tomaram termo definitivo. Regressei ao Porto. Amândio César, após uns anos em Braga, fixou-se definitivamente em Lisboa. Mergulhou aí na agitação do jornalismo sem deixar de cultivar afincadamente a poesia, o conto, a crítica. Para o julgar, nesse plano, não tenho qualquer espécie de autoridade. Aí sou o simples leitor comum. E como leitor comum apreciava grandemente Amândio César, pensando que só não recebeu o incenso e a mirra dedicados a outros, de muito menos valor, por não ser um homem de esquerda, um progressista inflamado. A meu gosto, merecem destaque especial os estudos consagrados à literatura brasileira, que mostram amplos conhecimentos e por momentos análises delicadas e agudas.
Nem sempre partilhei as posições de Amândio César, ou participei do seu entusiasmo por certos personagens. Os nossos interesses fundamentais, de resto, eram bastante diferenciados: ele primordialmente entregue às letras e eu, no meu canto, procurando sulcar os trilhos da especulação.
Respeitámo-nos, sempre, porém, e a nossa estima mútua nunca diminuiu. Aliás, nos grandes momentos, Amândio César não deixava de vir a terreiro com atitudes desassombradas e dignificantes.
Assim sucedeu por altura da guerra em defesa da soberania portuguesa no Ultramar, a propósito da qual ele nos legou dois livros — um consagrado a Angola e outro à Guiné — com páginas magníficas que são o espelho de um firme nacionalista, ou seja, de um patriota de raiz.
E na grande catástrofe de Abril, Amândio César recusou-se a partilhar o banquete nauseabundo, sofrendo perseguições e agruras.
Na noite de 27 para 28 de Setembro de 1974, juntamente com Ruy Alvim, foi assaltado, ao atravessar a ponte sobre o Mondego, pelos delinquentes das barricadas que por meios violentos se procuravam opor à realização de uma manifestação, legalmente autorizada, ao Chefe de Estado, general Spínola. Este era um democrata e um abandonista de primeira água, mas assacavam-lhe, ao que parece, o terrível defeito de querer entregar as províncias ultramarinas de além-mar à influência americana e não à influência soviética (ao que havíamos chegado). Daí que não tivesse direito a manifestações que firmassem a sua quebrantada autoridade. Amândio César e Ruy Alvim (e uma criança filha deste) seguiam ambos para Lisboa perfeitamente alheios à apoteose spinolista. Reconhecidos e identificados, foram detidos por uma multidão à margem da lei e só por muita sorte conseguiram escapar.
Ao fim da manhã de 28 chegaram a minha casa, Amândio incólume graças a Deus, Ruy Alvim com pensos e adesivos, seu filho, que fora traiçoeiramente separado do pai para ser «interrogado», nervosíssimo, aos vómitos, tendo de ingerir comprimidos de Valium. Contaram-me os acontecimentos, ao mesmo tempo que nos iam chegando notícias das arbitrárias prisões de velhos e queridos camaradas.
Amândio César e Ruy Alvim seguiram para Braga. Nessa noite transpuseram o Minho a caminho do exílio.
Amândio, primeiro, esteve em Espanha, donde me escreveu, uma pungente carta de despedida, ao resolver partir para o Brasil. Não lhe foi este propício, infelizmente, pelo que teve de regressar, após o 25 e Novembro.
Na chegada ofereci-lhe um exemplar dos meus "Diálogos de Doutrina Anti-Democrática", que eu pusera à venda em pleno gonçalvismo.
Amândio César, em agradecimento, enviou-me um poema que me era dedicado, e que conservo com orgulho.
Fomo-nos encontrando cada vez mais raramente, afastados pelos afazeres prementes da luta pela sobrevivência, no mar de lama (para não lhe chamar outra coisa) em que a sublevação dos cravos precipitou esta terra que outrora foi uma nação.
Estivemos no primeiro almoço celebrando o início da Revolução Nacional, a 28 de Maio, e no jantar em idêntica data do ano seguinte, num e noutro tendo Amândio César proferido extraordinários discursos.
E, como já disse, participámos nas comemorações do centenário do nascimento de Alfredo Pimenta.
De longe a longe, trocávamos correspondência (sou muito preguiçoso em epistolografia). Até que, de repente, veio a doença que o vitimou e lhe diminuiu consideravelmente as capacidades. Visitei-o nas minhas rápidas e sobrecarregadas idas à capital numa única ocasião. Pesa-me na consciência não lhe ter aparecido com maior assiduidade, mas surgiam sempre contratempos nas deslocações a Lisboa que me impediam de o fazer. Mas já não há próxima vez, porque o irreparável deu-se.
Com Amândio César, foi como se tivesse desaparecido uma parte de mim mesmo, uma parte da minha juventude, daquilo que fui nos anos de 45, quando me sentava nos bancos da velha universidade coimbrã, sonhando com um Portugal renovado pela ampliação e aprofundamento do que de mais válido tinha o Estado Novo, e uma Europa ressurgida e heróica afastada dos miasmas torpes do demo-liberalismo e do marxismo.
À sua maneira, Amândio César comungou nestes sonhos e, sobretudo, nunca os traiu. Dos que nos acompanhavam, uns tantos iniciaram uma curiosa evolução que acabou por os conduzir a tombar nos braços dos vencedores, integrando-se nos corrilhos, nos partidos, nas Assembleias legislativas do regime abjecto que destruiu a Pátria. Outros mantiveram-se iguais a si próprios e, chegados ao ocaso da vida, recebem o prémio de ter vergonha na cara e não alinhar no cortejo dos adoradores do Sol Nascente; as campanhas de silêncio, a obscuridade, os vexames ou tentativas de vexame (porque não vexa quem quer) e as dificuldades financeiras. Amândio César alinhou entre os últimos e eis porque as trombetas da fama não o celebram com fervor no instante do seu falecimento, como acontece a qualquer medíocre abrilino que vai a enterrar.
Em compensação, pode escrever-se no seu túmulo o epitáfio de que raros, hoje, são dignos: «foi sempre um bom português».
António José de Brito
(in «O Diabo», 18.08.1987, pág. 12)
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Não há muitos dias chegou até mim, de chofre, a notícia do falecimento de Amândio César. Desceu sobre o meu ânimo um espesso sentimento de melancolia, ao passo que, simultaneamente, um turbilhão de imagens me afluía à mente.
Vi-me em Coimbra, primeirista de Direito, bisonho e tímido, entrando na "Brasileira". Monárquico então (e monárquico continuo a ser, mas monárquico a sério, e não monárquico-democrático à P.P.M. ou à «Nova Monarquia»), sentava-me junto dos correligionários mais velhos que, caridosamente, me iniciavam no mundo dos boatos, da má língua e das querelas das ideias. Um pouco mais adiante, estava a mesa dos intelectuais que eu contemplava com invejoso respeito. Entre eles destacava-se Amândio César cuja voz tonitruante chegava até nós. Foi o meu primeiro contacto com ele, indirecto e à distância.
Não tardou, todavia, que Amândio César, por vezes, abancasse connosco e eu tivesse ocasião de apreciar a sua imensa vitalidade, a sua truculência, o seu humorismo irreverente. Claro que não fraternizámos logo. Eu retraía-me, acanhado, perante quem já tinha livros publicados, conhecia pessoalmente escritores e artistas de nomeada e proferia juízos acertados sobre individualidades a quem eu, na minha ingenuidade, admirava ainda. Mas, insensivelmente, fomo-nos aproximando. Amândio César, com a sua espontânea simpatia por quem começava, encarou com benevolência as minhas primeiras tentativas doutrinárias (que acabaram por me conduzir à filosofia), eu principiei a experimentar a fascinação da sua personalidade excepcional, espécie de força da natureza, sempre em ebulição e desconhecedora de respeitos humanos.
Uma grande admiração nos era comum — a admiração por Alfredo Pimenta. Ambos aguardávamos, com impaciência, os seus últimos volumes e opúsculos e Amândio César, que se correspondia com o Mestre, dava-me notícia dos projectos e opiniões deste.
À recordação de Alfredo Pimenta nos mantivemos ambos fiéis, tendo Amândio César consagrado valiosos trabalhos à obra do historiador de "Idade Média".
E quando no centenário do seu nascimento se promoveu, no Colégio Pio XII, em Lisboa, uma modesta sessão de homenagem à memória de Alfredo Pimenta, lá nos encontramos, de novo, Amândio César e eu, lado a lado, juntamente com Caetano Beirão, Goulart Nogueira, Couto Viana, Rodrigo Emílio, mostrando, pela nossa presença, que «nem nos esquecíamos, nem nos arrependíamos».
Nos nossos tempos de estudante, tão longínquos, acompanhávamos, na mesma trincheira, com entusiasmo e calor, as polémicas veementes contra os pseudo-monárquicos do "Diário Nacional" ou os furiosos ataques, de estilo camiliano, que o ensaísta de "O Imperialismo Contemporâneo" desferia sobre a «Academia Portuguesa de História».
Até que chegou o final dos cursos. O convívio quase constante, as longas peregrinações da baixa para a alta, pelas ruas desertas na madrugada, falando de omne re scibili, tomaram termo definitivo. Regressei ao Porto. Amândio César, após uns anos em Braga, fixou-se definitivamente em Lisboa. Mergulhou aí na agitação do jornalismo sem deixar de cultivar afincadamente a poesia, o conto, a crítica. Para o julgar, nesse plano, não tenho qualquer espécie de autoridade. Aí sou o simples leitor comum. E como leitor comum apreciava grandemente Amândio César, pensando que só não recebeu o incenso e a mirra dedicados a outros, de muito menos valor, por não ser um homem de esquerda, um progressista inflamado. A meu gosto, merecem destaque especial os estudos consagrados à literatura brasileira, que mostram amplos conhecimentos e por momentos análises delicadas e agudas.
Nem sempre partilhei as posições de Amândio César, ou participei do seu entusiasmo por certos personagens. Os nossos interesses fundamentais, de resto, eram bastante diferenciados: ele primordialmente entregue às letras e eu, no meu canto, procurando sulcar os trilhos da especulação.
Respeitámo-nos, sempre, porém, e a nossa estima mútua nunca diminuiu. Aliás, nos grandes momentos, Amândio César não deixava de vir a terreiro com atitudes desassombradas e dignificantes.
Assim sucedeu por altura da guerra em defesa da soberania portuguesa no Ultramar, a propósito da qual ele nos legou dois livros — um consagrado a Angola e outro à Guiné — com páginas magníficas que são o espelho de um firme nacionalista, ou seja, de um patriota de raiz.
E na grande catástrofe de Abril, Amândio César recusou-se a partilhar o banquete nauseabundo, sofrendo perseguições e agruras.
Na noite de 27 para 28 de Setembro de 1974, juntamente com Ruy Alvim, foi assaltado, ao atravessar a ponte sobre o Mondego, pelos delinquentes das barricadas que por meios violentos se procuravam opor à realização de uma manifestação, legalmente autorizada, ao Chefe de Estado, general Spínola. Este era um democrata e um abandonista de primeira água, mas assacavam-lhe, ao que parece, o terrível defeito de querer entregar as províncias ultramarinas de além-mar à influência americana e não à influência soviética (ao que havíamos chegado). Daí que não tivesse direito a manifestações que firmassem a sua quebrantada autoridade. Amândio César e Ruy Alvim (e uma criança filha deste) seguiam ambos para Lisboa perfeitamente alheios à apoteose spinolista. Reconhecidos e identificados, foram detidos por uma multidão à margem da lei e só por muita sorte conseguiram escapar.
Ao fim da manhã de 28 chegaram a minha casa, Amândio incólume graças a Deus, Ruy Alvim com pensos e adesivos, seu filho, que fora traiçoeiramente separado do pai para ser «interrogado», nervosíssimo, aos vómitos, tendo de ingerir comprimidos de Valium. Contaram-me os acontecimentos, ao mesmo tempo que nos iam chegando notícias das arbitrárias prisões de velhos e queridos camaradas.
Amândio César e Ruy Alvim seguiram para Braga. Nessa noite transpuseram o Minho a caminho do exílio.
Amândio, primeiro, esteve em Espanha, donde me escreveu, uma pungente carta de despedida, ao resolver partir para o Brasil. Não lhe foi este propício, infelizmente, pelo que teve de regressar, após o 25 e Novembro.
Na chegada ofereci-lhe um exemplar dos meus "Diálogos de Doutrina Anti-Democrática", que eu pusera à venda em pleno gonçalvismo.
Amândio César, em agradecimento, enviou-me um poema que me era dedicado, e que conservo com orgulho.
Fomo-nos encontrando cada vez mais raramente, afastados pelos afazeres prementes da luta pela sobrevivência, no mar de lama (para não lhe chamar outra coisa) em que a sublevação dos cravos precipitou esta terra que outrora foi uma nação.
Estivemos no primeiro almoço celebrando o início da Revolução Nacional, a 28 de Maio, e no jantar em idêntica data do ano seguinte, num e noutro tendo Amândio César proferido extraordinários discursos.
E, como já disse, participámos nas comemorações do centenário do nascimento de Alfredo Pimenta.
De longe a longe, trocávamos correspondência (sou muito preguiçoso em epistolografia). Até que, de repente, veio a doença que o vitimou e lhe diminuiu consideravelmente as capacidades. Visitei-o nas minhas rápidas e sobrecarregadas idas à capital numa única ocasião. Pesa-me na consciência não lhe ter aparecido com maior assiduidade, mas surgiam sempre contratempos nas deslocações a Lisboa que me impediam de o fazer. Mas já não há próxima vez, porque o irreparável deu-se.
Com Amândio César, foi como se tivesse desaparecido uma parte de mim mesmo, uma parte da minha juventude, daquilo que fui nos anos de 45, quando me sentava nos bancos da velha universidade coimbrã, sonhando com um Portugal renovado pela ampliação e aprofundamento do que de mais válido tinha o Estado Novo, e uma Europa ressurgida e heróica afastada dos miasmas torpes do demo-liberalismo e do marxismo.
À sua maneira, Amândio César comungou nestes sonhos e, sobretudo, nunca os traiu. Dos que nos acompanhavam, uns tantos iniciaram uma curiosa evolução que acabou por os conduzir a tombar nos braços dos vencedores, integrando-se nos corrilhos, nos partidos, nas Assembleias legislativas do regime abjecto que destruiu a Pátria. Outros mantiveram-se iguais a si próprios e, chegados ao ocaso da vida, recebem o prémio de ter vergonha na cara e não alinhar no cortejo dos adoradores do Sol Nascente; as campanhas de silêncio, a obscuridade, os vexames ou tentativas de vexame (porque não vexa quem quer) e as dificuldades financeiras. Amândio César alinhou entre os últimos e eis porque as trombetas da fama não o celebram com fervor no instante do seu falecimento, como acontece a qualquer medíocre abrilino que vai a enterrar.
Em compensação, pode escrever-se no seu túmulo o epitáfio de que raros, hoje, são dignos: «foi sempre um bom português».
António José de Brito
(in «O Diabo», 18.08.1987, pág. 12)
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TRÊS INICIAIS
Há semanas muito escassas, tentando encontrar no televisor alguma rubrica relaxante, dei repentinamente com uma sabatina sobre Salazar. Como diria o Abade de Jazente, o lugar impróprio era, já que fui bater a uma estação geralmente ferida de esquerdismo infantilizado e da balda de certos erotismos, rés-vés com a desbragada pornografia. No entanto, se no melhor pano cai a nódoa porque não há-de no mau pano cair de vez em quando uma loção profilática.
Para acrescento do meu espanto, o que se discutia era a trilogia Deus, Pátria e Família, que o grande estadista, por quem hoje em Portugal se suspira cada vez mais, inscrevera no pórtico da reconstrução de Portugal e no programa da sua reeducação.
Bem cientes dessa penetração nas almas, foi por aí que no lastro do foguetório de Abril se inaugurou na propaganda mais dissolvente o reinado da chacota. Dos esgotos e valetas do País, siderado de assombro, saltou uma escumalha que logo tomou a peito, aproveitando o impulso revolucionário dos desmiolácios que tornaram as metralhadoras como instrumentos de messianismo, varrer da memória dos portugueses o perfil de Salazar; e, no mesmo lanço, como se se tratasse de cumplicidades políticas, abater os símbolos da Religião Católica.
Contagiados do vírus progressista, alguns responsáveis da Hierarquia esqueceram-se de denunciar a iconoclastia dessa garotada; e outros, mais avançados, para vergonha desta que foi «Nação Fidelíssima», fizeram gala de se nivelar barba por barba com semelhantes enxovedos e desceram pela mão deles a pedir desculpa às galerias.
Deus, Pátria e Família, em vez de divisa plena de significado transcendente e intemporal tornou-se entre nós o fecho ritual dos anátemas democráticos contra o Estado Novo.
Certo era que o moderador do debate porejava contra a síntese luminosa, mas ela caíra nas mãos dos convidados; e tirante um desses exemplares a quem a velha obediência comunista pegou a petrificação ideológica e a fossilização política, toda a gente relembrou com respeitoso acatamento essa escala de valores.
É caso então de perguntar: que passou no trânsito destes três ou quatro lustros para que soassem os primeiros rebates sérios na consciência nacional?
A resposta parece óbvia - e tanto que só os altos culpados do descalabro à vista buscam iludi-la com propagandas sediças e mentirolas grosseiras.
É que a tragédia abateu-se sobre os restos de Portugal. A Pátria sumiu-se pelos abismos da traição; e a Família enredou-se nas malhas de uma dissolução que se abeira da tragédia final. Expulsando Deus da vida, o homem perde a bússola e condena-se a vaguear pelos espaços ermos como um nómada da alma.
Estava consumada a orfandade nacional - na ausência de Deus, na Pátria perdida, na família arruinada, em Portugal nunca se repetirá bastante o alarme - anoitece! Chissano anuncia integrar-se na Comunidade Britânica, arremessando aos lixos da História os despojos culturais de Portugal; e os nossos políticos nem páram um instante na febre dos votos e na cegueira da demagogia barata.
Os bizantinos discutem ninharias com o inimigo à porta. Não contentes com rapinar-nos descaradamente a água dos rios internacionais e de violar os acordos os jornais espanhóis mobilizam a opinião pública contra Alqueva que já capitulam de projecto faraónico e responsabilizam por futuras tragédias ambientais no seu território. E os políticos partem à caça dos votos.
É no quadro desta desgraça que se descobre, ainda a luz difusa, a reabilitação da Família, posta na encruzilhada do destino perdido, a reabilitação da Pátria luz bruxuleante na cerração das consciências; e a reabilitação de Deus, diante desta aridez sepulcral.
Nasceu assim o estranho debate. Mas desenganem-se os ingénuos.
Não se trata de concessão da confraria ou amolecimento providencial dos caracteres empedernidos. Trata-se de medo, e medo instintivo, o pior dos medos, o eco sinistro dos vesúvios da alma. No fundo, um medo que se compendia em três iniciais. Salazar, que conhecia perfeitamente a natureza humana e tinha da evolução dos povos a visão profética, dispôs em vida o seu apagamento total depois da morte; escolheu um cemitério humílimo, perdido num ermo; mandou bater a lousa da campa rasa, só frequentada pelas virações das ravinas do Dão, impregnadas daquilo que lhe foi caro na apoteose da pobreza voluntária: os rosmaninhos e as giestas, bravias. Como identificação condescendeu com três letras, que mal se distinguem dos musgos e das pétalas que ali caem de mãos anónimas.
Mas o medo dessas iniciais resulta ainda da consciência da mentira. Não temos nós visto e ouvido os grandes pretores de Abril a chamar fascismo ao Estado Novo e ditador a Salazar? E, no entanto, foi ele quem, antes de qualquer outra potência, exarou esta condenação que soa como bronze e que os ingleses reproduziram na grande imprensa do tempo: «É preciso afastar de nós o Estado totalitário. O Estado que subordinasse tudo sem excepção à ideia de nação ou de raça por ele representada na moral, no direito, na política e na economia, apresentar-se-ia como ser omnipotente, princípio e fim de si mesmo, que poderia envolver um absolutismo pior do que aquele que antecedeu os regimes liberais porque ao menos esses não se desligaram do destino humano. Tal Estado seria essencialmente pagão, incompatível por natureza com o génio da nossa civilização cristã. (...) O fascismo e o nacional socialismo divergentes do comunismo pelas concepções económicas e exigências espiritualistas, a ele se assemelham pelo conceito do Estado totalitário. (...)Se o Estado tem em si o seu fim e razão de ser não há regra exterior que lhe limite a actividade nem fora de si existe qualquer direito...».
Isto reproduz-se hoje, quando passam 25 anos sobre a morte do grande estadista, para vergonha da cafreagem política que não deixou ainda de gosmar sobre o grande morto a baba da calúnia. Mais do que homenagem é desafronta, porque eles mantêm aferrolhados os discursos e paralisadas as editoras, como antes de morrer acusou António José Saraiva.
Revertamos então à trilogia que tantos engulhos provoca nessa mestiçagem ideológica que nos domina. «Não discutimos Deus e a Virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a Família e a sua Moral» (...) A explanação que se segue ao enunciado destes conceitos é do mais belo que se escreveu em Língua Portuguesa e é também de alta Filosofia. Não cabe, evidentemente, nos limites deste escrito, mas as palavras soam aqui como um dobre de finados quando o país, privado da sua dimensão histórica e à beira de o remeterem a uma soberania simbólica, vê os monumentos a cair, a miséria física e moral a alastrar, os incêndios ateados por mãos criminosas que já ninguém contém a consumir e a reduzir a cinzas o que resta daquilo que dantes se cantava como um Jardim.
Hoje os portugueses, entre muitas jeremíadas, choram principalmente sobre a Família. Oiçamos então a voz de Salazar:
«Não discutimos a Família. Aí nasce o homem, aí se educam as gerações, aí se forma o pequeno mundo de afectos sem os quais o homem dificilmente pode viver. Quando a família se desfaz, desfaz-se a casa, desfaz-se o lar, desatam-se os laços de parentesco, para ficarem os homens diante do Estado, isolados, estranhos, sem arrimo e despidos moralmente de mais de metade de si mesmos, perde-se um nome, adquire-se um número - a vida social toma logo feição diferente. Tem várias vezes acontecido, em épocas perturbadas de retrocesso à soberania dos instintos, relaxarem-se os laços da família, desaparecerem a intimidade e o pudor, submergir-se a autoridade dos pais e o respeito dos filhos. Mas só em nosso tempo se ergueu em teoria, em ciência e em programa de Estado o que havia de supor-se passageiro desvairamento. A natureza reconquistará os seus direitos; e a sociedade civil verá mais uma vez como a sua moral, consistência e coesão dependem directamente da moral, consistência e coesão do agregado familiar...».
Sintomático no televisivo debate a objecção titubeante do seu condutor, que mais parecia dirigida à pitonisa do Oráculo de Delfos: «Mas então isso, essa trilogia do Salazar, essas, isto é, isso é ainda viável?».
A pergunta irrespondida rematou o debate sobressaltado. De Salazar nada restou de material: nem os sustentáculos do poder que não teve; nem as honrarias que recusou todas; nem as clientelas que não deixou medrar, nem os bens de que totalmente se desprendeu. Nem mesmo a oferta aos pósteros de um recanto simbólico. Não. Dele ficaram três iniciais. Mas a História não se apaga com doestos imbecis nem se violenta à pedrada. Ela conserva, intactas, sobre as flutuações dos homens e as vicissitudes dos regimes, as tabelas de aferição definitiva: aos pigmeus, fundindo-os na poeira dos caminhos; aos gigantes, alçando-os sobre o horizonte dos séculos. O critério da distinção reside apenas na perenidade do pensamento, revérbero de luz divina.
Diante de Salazar, que há vinte e cinco anos desapareceu do número dos vivos, já começa a desmantelar-se aquilo que Anselmo de Andrade noutra hora de desorientação cívica, chamou a putrilagem do sectarismo.
Silva Resende
(in O Dia, 27.07.1995)
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Para acrescento do meu espanto, o que se discutia era a trilogia Deus, Pátria e Família, que o grande estadista, por quem hoje em Portugal se suspira cada vez mais, inscrevera no pórtico da reconstrução de Portugal e no programa da sua reeducação.
Bem cientes dessa penetração nas almas, foi por aí que no lastro do foguetório de Abril se inaugurou na propaganda mais dissolvente o reinado da chacota. Dos esgotos e valetas do País, siderado de assombro, saltou uma escumalha que logo tomou a peito, aproveitando o impulso revolucionário dos desmiolácios que tornaram as metralhadoras como instrumentos de messianismo, varrer da memória dos portugueses o perfil de Salazar; e, no mesmo lanço, como se se tratasse de cumplicidades políticas, abater os símbolos da Religião Católica.
Contagiados do vírus progressista, alguns responsáveis da Hierarquia esqueceram-se de denunciar a iconoclastia dessa garotada; e outros, mais avançados, para vergonha desta que foi «Nação Fidelíssima», fizeram gala de se nivelar barba por barba com semelhantes enxovedos e desceram pela mão deles a pedir desculpa às galerias.
Deus, Pátria e Família, em vez de divisa plena de significado transcendente e intemporal tornou-se entre nós o fecho ritual dos anátemas democráticos contra o Estado Novo.
Certo era que o moderador do debate porejava contra a síntese luminosa, mas ela caíra nas mãos dos convidados; e tirante um desses exemplares a quem a velha obediência comunista pegou a petrificação ideológica e a fossilização política, toda a gente relembrou com respeitoso acatamento essa escala de valores.
É caso então de perguntar: que passou no trânsito destes três ou quatro lustros para que soassem os primeiros rebates sérios na consciência nacional?
A resposta parece óbvia - e tanto que só os altos culpados do descalabro à vista buscam iludi-la com propagandas sediças e mentirolas grosseiras.
É que a tragédia abateu-se sobre os restos de Portugal. A Pátria sumiu-se pelos abismos da traição; e a Família enredou-se nas malhas de uma dissolução que se abeira da tragédia final. Expulsando Deus da vida, o homem perde a bússola e condena-se a vaguear pelos espaços ermos como um nómada da alma.
Estava consumada a orfandade nacional - na ausência de Deus, na Pátria perdida, na família arruinada, em Portugal nunca se repetirá bastante o alarme - anoitece! Chissano anuncia integrar-se na Comunidade Britânica, arremessando aos lixos da História os despojos culturais de Portugal; e os nossos políticos nem páram um instante na febre dos votos e na cegueira da demagogia barata.
Os bizantinos discutem ninharias com o inimigo à porta. Não contentes com rapinar-nos descaradamente a água dos rios internacionais e de violar os acordos os jornais espanhóis mobilizam a opinião pública contra Alqueva que já capitulam de projecto faraónico e responsabilizam por futuras tragédias ambientais no seu território. E os políticos partem à caça dos votos.
É no quadro desta desgraça que se descobre, ainda a luz difusa, a reabilitação da Família, posta na encruzilhada do destino perdido, a reabilitação da Pátria luz bruxuleante na cerração das consciências; e a reabilitação de Deus, diante desta aridez sepulcral.
Nasceu assim o estranho debate. Mas desenganem-se os ingénuos.
Não se trata de concessão da confraria ou amolecimento providencial dos caracteres empedernidos. Trata-se de medo, e medo instintivo, o pior dos medos, o eco sinistro dos vesúvios da alma. No fundo, um medo que se compendia em três iniciais. Salazar, que conhecia perfeitamente a natureza humana e tinha da evolução dos povos a visão profética, dispôs em vida o seu apagamento total depois da morte; escolheu um cemitério humílimo, perdido num ermo; mandou bater a lousa da campa rasa, só frequentada pelas virações das ravinas do Dão, impregnadas daquilo que lhe foi caro na apoteose da pobreza voluntária: os rosmaninhos e as giestas, bravias. Como identificação condescendeu com três letras, que mal se distinguem dos musgos e das pétalas que ali caem de mãos anónimas.
Mas o medo dessas iniciais resulta ainda da consciência da mentira. Não temos nós visto e ouvido os grandes pretores de Abril a chamar fascismo ao Estado Novo e ditador a Salazar? E, no entanto, foi ele quem, antes de qualquer outra potência, exarou esta condenação que soa como bronze e que os ingleses reproduziram na grande imprensa do tempo: «É preciso afastar de nós o Estado totalitário. O Estado que subordinasse tudo sem excepção à ideia de nação ou de raça por ele representada na moral, no direito, na política e na economia, apresentar-se-ia como ser omnipotente, princípio e fim de si mesmo, que poderia envolver um absolutismo pior do que aquele que antecedeu os regimes liberais porque ao menos esses não se desligaram do destino humano. Tal Estado seria essencialmente pagão, incompatível por natureza com o génio da nossa civilização cristã. (...) O fascismo e o nacional socialismo divergentes do comunismo pelas concepções económicas e exigências espiritualistas, a ele se assemelham pelo conceito do Estado totalitário. (...)Se o Estado tem em si o seu fim e razão de ser não há regra exterior que lhe limite a actividade nem fora de si existe qualquer direito...».
Isto reproduz-se hoje, quando passam 25 anos sobre a morte do grande estadista, para vergonha da cafreagem política que não deixou ainda de gosmar sobre o grande morto a baba da calúnia. Mais do que homenagem é desafronta, porque eles mantêm aferrolhados os discursos e paralisadas as editoras, como antes de morrer acusou António José Saraiva.
Revertamos então à trilogia que tantos engulhos provoca nessa mestiçagem ideológica que nos domina. «Não discutimos Deus e a Virtude; não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a Família e a sua Moral» (...) A explanação que se segue ao enunciado destes conceitos é do mais belo que se escreveu em Língua Portuguesa e é também de alta Filosofia. Não cabe, evidentemente, nos limites deste escrito, mas as palavras soam aqui como um dobre de finados quando o país, privado da sua dimensão histórica e à beira de o remeterem a uma soberania simbólica, vê os monumentos a cair, a miséria física e moral a alastrar, os incêndios ateados por mãos criminosas que já ninguém contém a consumir e a reduzir a cinzas o que resta daquilo que dantes se cantava como um Jardim.
Hoje os portugueses, entre muitas jeremíadas, choram principalmente sobre a Família. Oiçamos então a voz de Salazar:
«Não discutimos a Família. Aí nasce o homem, aí se educam as gerações, aí se forma o pequeno mundo de afectos sem os quais o homem dificilmente pode viver. Quando a família se desfaz, desfaz-se a casa, desfaz-se o lar, desatam-se os laços de parentesco, para ficarem os homens diante do Estado, isolados, estranhos, sem arrimo e despidos moralmente de mais de metade de si mesmos, perde-se um nome, adquire-se um número - a vida social toma logo feição diferente. Tem várias vezes acontecido, em épocas perturbadas de retrocesso à soberania dos instintos, relaxarem-se os laços da família, desaparecerem a intimidade e o pudor, submergir-se a autoridade dos pais e o respeito dos filhos. Mas só em nosso tempo se ergueu em teoria, em ciência e em programa de Estado o que havia de supor-se passageiro desvairamento. A natureza reconquistará os seus direitos; e a sociedade civil verá mais uma vez como a sua moral, consistência e coesão dependem directamente da moral, consistência e coesão do agregado familiar...».
Sintomático no televisivo debate a objecção titubeante do seu condutor, que mais parecia dirigida à pitonisa do Oráculo de Delfos: «Mas então isso, essa trilogia do Salazar, essas, isto é, isso é ainda viável?».
A pergunta irrespondida rematou o debate sobressaltado. De Salazar nada restou de material: nem os sustentáculos do poder que não teve; nem as honrarias que recusou todas; nem as clientelas que não deixou medrar, nem os bens de que totalmente se desprendeu. Nem mesmo a oferta aos pósteros de um recanto simbólico. Não. Dele ficaram três iniciais. Mas a História não se apaga com doestos imbecis nem se violenta à pedrada. Ela conserva, intactas, sobre as flutuações dos homens e as vicissitudes dos regimes, as tabelas de aferição definitiva: aos pigmeus, fundindo-os na poeira dos caminhos; aos gigantes, alçando-os sobre o horizonte dos séculos. O critério da distinção reside apenas na perenidade do pensamento, revérbero de luz divina.
Diante de Salazar, que há vinte e cinco anos desapareceu do número dos vivos, já começa a desmantelar-se aquilo que Anselmo de Andrade noutra hora de desorientação cívica, chamou a putrilagem do sectarismo.
Silva Resende
(in O Dia, 27.07.1995)
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sábado, fevereiro 26, 2005
A ORDEM POLÍTICA
Num Estado normalmente constituído, o melhor sintoma infalível da Ordem está no modo como os seus naturais ocupam a vida.
A quase totalidade deles dedica-se ao trabalho — meio de garantir as suas subsistências e as dos seus.
A ausência de desordem pode ser de duas espécies: a que provém duma acção policial repressiva violenta, ou preventiva modelarmente organizada — e é a ordem aparente, meramente superficial, filha do terror; e a que emana da consagração total das nossas actividades ao trabalho que é fonte dos nossos recursos - e é a ordem estável e fecunda.
No Estado em que o médico cuide apenas dos seus doentes; o advogado, dos seus clientes; o magistrado, da justiça que assiste aos litigantes; o funcionário público, dos serviços da sua repartição; o escritor, dos seus livros; o pensador, das suas congeminações; o padre, dos seus fiéis; o lavrador, da sua terra; o operário, da sua oficina; a mulher, da sua casa; o comerciante, do seu balcão; o industrial, da sua fábrica; o marinheiro, do seu navio; e o soldado, do seu regimento, etc., etc., etc. — neste Estado, o Governo governa, a Administração progride, a Nação consolida-se, e o Futuro assegura-se.
A maior ou menor felicidade dos Povos depende da maior ou menor atenção que eles prestam às suas actividades profissionais.
Esta atenção é mais funda ou mais superficial, conforme as distracções que a solicitam.
Como não é possível haver Estado sem governo, pois que o Estado supõe organização, e esta, hierarquia, aquela atenção é maior ou menor, segundo o grau de preocupações alheias às actividades profissionais dos homens. Por outras palavras: é maior ou menor, segundo o grau de confiança que os governos têm nos governantes.
A Democracia e a sua forma política — a República - são nefastas às conveniências supremas do Estado, porque vivem da desconfiança permanente dos governados.
Podem os homens ser, nesse sistema, excelentes, pela inteligência, pelo carácter, e pela competência. Podem ser Salomões, pelo bom-senso, e santos, pela isenção.
Em Democracia, em República, essas qualidades ou virtudes são inoperantes, porque a Revolução é o regime dos inferiores.
Nunca foi possível, nunca será possível contentar toda a gente. Há, para um lugar, centenas de candidatos; é dificílimo, senão impossível, estabelecer a barreira definitiva entre o Justo e o Injusto; há sempre pobres e ricos, doentes e sãos, inteligentes e estúpidos, bons e maus, martelos e bigornas.
O Senhor, e era Deus, andou pelo mundo, e não converteu os homens — que O escarneceram, O mataram, e ainda hoje, ai de nós! jogam aos dados a Sua túnica...
É loucura, portanto, pretender-se encontrar a fórmula ideal de Governo, que não apresente defeitos, irregularidades, deslizes, inconveniências, etc. Os governantes são homens, e, o que é muito pior, homens são os governados. Consequentemente, o que há a fazer é procurar, entre os sistemas de Governo que a inteligência humana ou o instinto da sociabilidade criaram, o menos mau, o que se adapte mais ao melhor aproveitamento e ao melhor equilíbrio das actividades humanas.
O que tem um fim: servir a Deus; e tem um meio para atingir esse fim: trabalhar.
O sistema de Governo que concentre mais o homem neste meio de atingir aquele fim — é o melhor, é o preferível. Pelo contrário, o sistema de Governo que afaste mais o homem do trabalho é o pior, o que devemos abandonar, o que devemos combater.
O primeiro é o sistema do trabalho, da exaltação da pessoa humana; o segundo é o sistema da vadiagem, da exaltação da animalidade do homem.
Vejamos:
Em determinado momento, em determinado Estado — melhor, hoje, em Portugal, todos nós vivemos consagrados às nossas actividades profissionais. Eu escrevo os meus livros, estudo como quero; o médico trata dos seus doentes; o advogado acompanha os seus clientes; o padre trata dos seus fiéis; o operário pensa na sua oficina — etc., etc., etc.
Claro: há muito sofrimento; há muita miséria; há muita injustiça; há uns que mergulham os braços até os cotovelos e os ombros, em pingues ordenados, e há outros, como eu, que só têm 15 contos por mês nos panfletos clandestinos e pulhas, como há outros que nem côdeas têm para roer. Mais, isso é de todas as latitudes, e de todos os séculos. O que é fora de dúvida, porém, é que além dessas coisas tristes, dessas injustiças desoladoras, filhas de circunstâncias ou antecedentes que escapam à nossa acção, o que é fora de dúvida é que em Portugal, hoje, quem tem trabalho, trabalha em sossego, sem que o despertem ruídos secos de metralhadoras, ribombos cavos de canhão, estalares demoníacos, greves tumultuosas, sessões parlamentares chinfrins — o terror feito ambiente constante, a quebrar os nervos, a sobressaltar as almas, e a inutilizar todos os esforços.
Quem, hoje, em Portugal, trabalha e vive do seu trabalho — trabalha em sossego, à vontade e alegre. Isto não se pode contestar. E se, mesmo para esses, há sombras no seu horizonte, elas resultam de factores particulares ou pessoais que não quebram a cor geral da paisagem.
Isto, é evidente, não nos inibe de uma apreciação do que se passa, dentro e fora do país. Fazemos os nossos juízos, sozinhos, ou no meio dos amigos, e ninguém nos obriga a tomar esta ou aquela posição — à força de bengalada, de tiro, ou de assaltos.
Bem. Mas, amanhã, vaga, por força da lei, o lugar do Chefe do Estado. Como a lei não permite solução de continuidade no exercício das funções do Chefe de Estado, oportunamente, toca a sineta, e a lei diz aos portugueses: «Senhores! suspendam os seus trabalhos; desviem do seu trabalho, as suas atenções; tu, médico, deixa os teus doentes; tu, escritor, deixa os teus livros; tu, lavrador, deixa a tua terra; tu, advogado, deixa os teus clientes; tu, funcionário público, deixa a tua repartição — etc., etc., etc. E preparem-se, porque, é preciso eleger-se o Chefe do Estado. Elejam-no!»
E os seis milhões de portugueses que estavam absorvidos nas canseiras do seu trabalho útil e honesto; os seis milhões de portugueses que viviam na melhor, na mais bela, na mais simpática e carinhosa das camaradagens, a camaradagem do trabalho; eles que viviam respirando a mesma atmosfera, e banhados no mesmo sentimento de unidade nacional — estes seis milhões de portugueses que podiam dizer-se um só português, pela intenção das suas vidas, e pela utilidade das suas actividades, transformam-se, bruscamente, automaticamente, em seis milhões de adversários.
Nesta mesma massa humana, pacífica, sossegada, útil, prestadia e sã, gera-se bruscamente, automaticamente, a guerra, a desordem, a esterilidade, a inutilidade, e toda ela, de roldão, entra no Absurdo.
Dois, três, seis, uma dúzia de candidatos à Chefatura de Estado. Muitos ou poucos, a sua pretensão altera e perturba a ordem social. Muitos ou poucos, eles provocam o aparecimento de outros tantos partidos. Já não há Nação: há campo de batalha. Há ambições que se lançam em aventuras; há promessas que descem à desvergonha; há ameaças que geram ódios. Já não há portugueses: há inimigos que se espiam, que se afrontam, agrupados à volta de bandeiras, dispostos a lançar-se uns sobre outros, para vencer a sua, e sejam derrotadas as outras. Há combinações louches, e ódios que fermentam.
Quem operou esta desgraçada transformação? Quem fez da Nação campo de batalha? Quem transformou os portugueses em adversários? Quem lançou os portugueses uns contra os outros?
O sistema electivo: a República. O sistema de opinião: a República.
Mas há pior, porque há o Absurdo. O sábio e o inculto; o simples de espírito e o experimentado; o infantil e o reflectido; o homem honesto e o venal; o trabalhador e o vadio; o virtuoso e o perverso têm, nessa escolha, o mesmo grau de autoridade, o mesmo poder, equivalentes como são os seus votos! Os governados, os que precisam de quem os governe, são quem escolhe quem há-de governá-los! Já se viu maior absurdo? E como o número dos inferiores pesa mais do que o dos superiores, quem prevalece é a opinião dos inferiores!
Quem cria estes absurdos?
O sistema electivo: a República. O sistema de opinião: a República.
Mas, dir-me-ão, e já mo disseram — as coisas arranjam-se, combinam-se, estudam-se, e no dia designado para a escolha, esta é feita de chapa...
É, então, ficção? É, então, a escamoteação? É, então, a prestidigitação?
Meu Deus! Para que lançar mão de tais recursos indignos, inconfessáveis, ilegítimos, à face da Honra e da Moral — se temos, desde que o homem é homem, o sistema legítimo por excelência, nacional por excelência, ou seja, o sistema hereditário?
Em Monarquia, a Nação trabalha — nas oficinas, nos campos, nas fábricas, nos consultórios e nos pretórios, nas igrejas e nos quartéis, nos navios e nos balcões; vaga, pela morte, a chefatura do Estado, e, imediatamente, pela acção providencial de Deus, essa vaga é preenchida, sem que a Nação tenha que abandonar, um segundo, os balcões, os navios, os quartéis, os escritórios, os consultórios, os hospitais, os campos e as oficinas.
Essa vaga é preenchida, sem que os seis milhões de portugueses sejam obrigados a transformar-se em seis milhões de adversários; essa vaga é preenchida sem que a Nação seja constrangida a quebrar a sua unidade; essa vaga é preenchida sem que a Nação deixe de ser nação, para ser campo de batalha, e sem que se recorra ao voto dos inferiores.
Quem pode hesitar na escolha? Quem terá coragem para embaraçar os que, conscientes do interesse nacional, querem arrancar a Nação ao perigo da guerra civil permanente?
Quem pode hesitar na escolha? Quem se atreverá a contrariar os que pretendem arrancar a Nação ao Absurdo?
A República é uma guerra civil permanente — quando não sempre em acto, sempre em potência. É o Absurdo.
A Monarquia é a ordem permanente. E é o Governo natural dos homens e das coisas.
Alfredo Pimenta
(in «A Voz», n.º 4699, págs. 1/4, 30.03.1940)
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A quase totalidade deles dedica-se ao trabalho — meio de garantir as suas subsistências e as dos seus.
A ausência de desordem pode ser de duas espécies: a que provém duma acção policial repressiva violenta, ou preventiva modelarmente organizada — e é a ordem aparente, meramente superficial, filha do terror; e a que emana da consagração total das nossas actividades ao trabalho que é fonte dos nossos recursos - e é a ordem estável e fecunda.
No Estado em que o médico cuide apenas dos seus doentes; o advogado, dos seus clientes; o magistrado, da justiça que assiste aos litigantes; o funcionário público, dos serviços da sua repartição; o escritor, dos seus livros; o pensador, das suas congeminações; o padre, dos seus fiéis; o lavrador, da sua terra; o operário, da sua oficina; a mulher, da sua casa; o comerciante, do seu balcão; o industrial, da sua fábrica; o marinheiro, do seu navio; e o soldado, do seu regimento, etc., etc., etc. — neste Estado, o Governo governa, a Administração progride, a Nação consolida-se, e o Futuro assegura-se.
A maior ou menor felicidade dos Povos depende da maior ou menor atenção que eles prestam às suas actividades profissionais.
Esta atenção é mais funda ou mais superficial, conforme as distracções que a solicitam.
Como não é possível haver Estado sem governo, pois que o Estado supõe organização, e esta, hierarquia, aquela atenção é maior ou menor, segundo o grau de preocupações alheias às actividades profissionais dos homens. Por outras palavras: é maior ou menor, segundo o grau de confiança que os governos têm nos governantes.
A Democracia e a sua forma política — a República - são nefastas às conveniências supremas do Estado, porque vivem da desconfiança permanente dos governados.
Podem os homens ser, nesse sistema, excelentes, pela inteligência, pelo carácter, e pela competência. Podem ser Salomões, pelo bom-senso, e santos, pela isenção.
Em Democracia, em República, essas qualidades ou virtudes são inoperantes, porque a Revolução é o regime dos inferiores.
Nunca foi possível, nunca será possível contentar toda a gente. Há, para um lugar, centenas de candidatos; é dificílimo, senão impossível, estabelecer a barreira definitiva entre o Justo e o Injusto; há sempre pobres e ricos, doentes e sãos, inteligentes e estúpidos, bons e maus, martelos e bigornas.
O Senhor, e era Deus, andou pelo mundo, e não converteu os homens — que O escarneceram, O mataram, e ainda hoje, ai de nós! jogam aos dados a Sua túnica...
É loucura, portanto, pretender-se encontrar a fórmula ideal de Governo, que não apresente defeitos, irregularidades, deslizes, inconveniências, etc. Os governantes são homens, e, o que é muito pior, homens são os governados. Consequentemente, o que há a fazer é procurar, entre os sistemas de Governo que a inteligência humana ou o instinto da sociabilidade criaram, o menos mau, o que se adapte mais ao melhor aproveitamento e ao melhor equilíbrio das actividades humanas.
O que tem um fim: servir a Deus; e tem um meio para atingir esse fim: trabalhar.
O sistema de Governo que concentre mais o homem neste meio de atingir aquele fim — é o melhor, é o preferível. Pelo contrário, o sistema de Governo que afaste mais o homem do trabalho é o pior, o que devemos abandonar, o que devemos combater.
O primeiro é o sistema do trabalho, da exaltação da pessoa humana; o segundo é o sistema da vadiagem, da exaltação da animalidade do homem.
Vejamos:
Em determinado momento, em determinado Estado — melhor, hoje, em Portugal, todos nós vivemos consagrados às nossas actividades profissionais. Eu escrevo os meus livros, estudo como quero; o médico trata dos seus doentes; o advogado acompanha os seus clientes; o padre trata dos seus fiéis; o operário pensa na sua oficina — etc., etc., etc.
Claro: há muito sofrimento; há muita miséria; há muita injustiça; há uns que mergulham os braços até os cotovelos e os ombros, em pingues ordenados, e há outros, como eu, que só têm 15 contos por mês nos panfletos clandestinos e pulhas, como há outros que nem côdeas têm para roer. Mais, isso é de todas as latitudes, e de todos os séculos. O que é fora de dúvida, porém, é que além dessas coisas tristes, dessas injustiças desoladoras, filhas de circunstâncias ou antecedentes que escapam à nossa acção, o que é fora de dúvida é que em Portugal, hoje, quem tem trabalho, trabalha em sossego, sem que o despertem ruídos secos de metralhadoras, ribombos cavos de canhão, estalares demoníacos, greves tumultuosas, sessões parlamentares chinfrins — o terror feito ambiente constante, a quebrar os nervos, a sobressaltar as almas, e a inutilizar todos os esforços.
Quem, hoje, em Portugal, trabalha e vive do seu trabalho — trabalha em sossego, à vontade e alegre. Isto não se pode contestar. E se, mesmo para esses, há sombras no seu horizonte, elas resultam de factores particulares ou pessoais que não quebram a cor geral da paisagem.
Isto, é evidente, não nos inibe de uma apreciação do que se passa, dentro e fora do país. Fazemos os nossos juízos, sozinhos, ou no meio dos amigos, e ninguém nos obriga a tomar esta ou aquela posição — à força de bengalada, de tiro, ou de assaltos.
Bem. Mas, amanhã, vaga, por força da lei, o lugar do Chefe do Estado. Como a lei não permite solução de continuidade no exercício das funções do Chefe de Estado, oportunamente, toca a sineta, e a lei diz aos portugueses: «Senhores! suspendam os seus trabalhos; desviem do seu trabalho, as suas atenções; tu, médico, deixa os teus doentes; tu, escritor, deixa os teus livros; tu, lavrador, deixa a tua terra; tu, advogado, deixa os teus clientes; tu, funcionário público, deixa a tua repartição — etc., etc., etc. E preparem-se, porque, é preciso eleger-se o Chefe do Estado. Elejam-no!»
E os seis milhões de portugueses que estavam absorvidos nas canseiras do seu trabalho útil e honesto; os seis milhões de portugueses que viviam na melhor, na mais bela, na mais simpática e carinhosa das camaradagens, a camaradagem do trabalho; eles que viviam respirando a mesma atmosfera, e banhados no mesmo sentimento de unidade nacional — estes seis milhões de portugueses que podiam dizer-se um só português, pela intenção das suas vidas, e pela utilidade das suas actividades, transformam-se, bruscamente, automaticamente, em seis milhões de adversários.
Nesta mesma massa humana, pacífica, sossegada, útil, prestadia e sã, gera-se bruscamente, automaticamente, a guerra, a desordem, a esterilidade, a inutilidade, e toda ela, de roldão, entra no Absurdo.
Dois, três, seis, uma dúzia de candidatos à Chefatura de Estado. Muitos ou poucos, a sua pretensão altera e perturba a ordem social. Muitos ou poucos, eles provocam o aparecimento de outros tantos partidos. Já não há Nação: há campo de batalha. Há ambições que se lançam em aventuras; há promessas que descem à desvergonha; há ameaças que geram ódios. Já não há portugueses: há inimigos que se espiam, que se afrontam, agrupados à volta de bandeiras, dispostos a lançar-se uns sobre outros, para vencer a sua, e sejam derrotadas as outras. Há combinações louches, e ódios que fermentam.
Quem operou esta desgraçada transformação? Quem fez da Nação campo de batalha? Quem transformou os portugueses em adversários? Quem lançou os portugueses uns contra os outros?
O sistema electivo: a República. O sistema de opinião: a República.
Mas há pior, porque há o Absurdo. O sábio e o inculto; o simples de espírito e o experimentado; o infantil e o reflectido; o homem honesto e o venal; o trabalhador e o vadio; o virtuoso e o perverso têm, nessa escolha, o mesmo grau de autoridade, o mesmo poder, equivalentes como são os seus votos! Os governados, os que precisam de quem os governe, são quem escolhe quem há-de governá-los! Já se viu maior absurdo? E como o número dos inferiores pesa mais do que o dos superiores, quem prevalece é a opinião dos inferiores!
Quem cria estes absurdos?
O sistema electivo: a República. O sistema de opinião: a República.
Mas, dir-me-ão, e já mo disseram — as coisas arranjam-se, combinam-se, estudam-se, e no dia designado para a escolha, esta é feita de chapa...
É, então, ficção? É, então, a escamoteação? É, então, a prestidigitação?
Meu Deus! Para que lançar mão de tais recursos indignos, inconfessáveis, ilegítimos, à face da Honra e da Moral — se temos, desde que o homem é homem, o sistema legítimo por excelência, nacional por excelência, ou seja, o sistema hereditário?
Em Monarquia, a Nação trabalha — nas oficinas, nos campos, nas fábricas, nos consultórios e nos pretórios, nas igrejas e nos quartéis, nos navios e nos balcões; vaga, pela morte, a chefatura do Estado, e, imediatamente, pela acção providencial de Deus, essa vaga é preenchida, sem que a Nação tenha que abandonar, um segundo, os balcões, os navios, os quartéis, os escritórios, os consultórios, os hospitais, os campos e as oficinas.
Essa vaga é preenchida, sem que os seis milhões de portugueses sejam obrigados a transformar-se em seis milhões de adversários; essa vaga é preenchida sem que a Nação seja constrangida a quebrar a sua unidade; essa vaga é preenchida sem que a Nação deixe de ser nação, para ser campo de batalha, e sem que se recorra ao voto dos inferiores.
Quem pode hesitar na escolha? Quem terá coragem para embaraçar os que, conscientes do interesse nacional, querem arrancar a Nação ao perigo da guerra civil permanente?
Quem pode hesitar na escolha? Quem se atreverá a contrariar os que pretendem arrancar a Nação ao Absurdo?
A República é uma guerra civil permanente — quando não sempre em acto, sempre em potência. É o Absurdo.
A Monarquia é a ordem permanente. E é o Governo natural dos homens e das coisas.
Alfredo Pimenta
(in «A Voz», n.º 4699, págs. 1/4, 30.03.1940)
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GARANTIR O FUTURO
Os discursos do sr. Presidente do Conselho têm, entre outras características que os assinalam notavelmente na literatura política do nosso tempo, uma qualidade que, para mim, é fundamental: as palavras, as expressões são meditadas, pesadas, medidas, de maneira a traduzirem ideias, com justeza e propósito definido. Elas dizem o que o autor quer, e só o que o autor quer. E este não as escreve de ânimo leve, a pensar noutras coisas: escreve-as, porque quer escrevê-las, porque quer que sejam lidas ou ouvidas.
Não há, portanto, nada de banal nesses discursos. Tudo se aproveita. Se foram meditados, ao serem compostos, devem ser meditados, ao serem lidos.
Uma das proposições mais sérias do último discurso do sr. Presidente do Conselho é esta.
«Não é de patriota, nem de político abandonar o futuro às contingências da sorte, não criar para uma obra condições de duração e de estabilidade. Por definição, só fica feito o que perdura».
Estas palavras contêm a enunciação do problema crucial do momento português que atravessamos.
São horrivelmente egoístas, os governados que só pensam no Presente. Para esses, só o bem que usufruem conta. De resto — quem vier atrás que feche a porta...
São medíocres, e perigosos, os governantes que só pensam no Presente. Para esses, só conta o que está. E dizem: «enquanto está, estou». Para estes, governar é estar. São os discípulos do velho Guizot, para quem governar é conservar-se no Poder.
O verdadeiro homem de Estado é indiferente ao Presente, e por isso o não amedrontam as críticas, ainda as mais severas, como o não atordoam os aplausos, ainda os mais vibrantes. Para ele, o Presente não é mais do que a passagem do Passado para o Futuro. Para ele o Presente é a realização do que meditou, como ponto de partida para o que há a fazer.
O verdadeiro homem de Estado tem sempre diante de si, como preocupações dominantes, duas forças a actuar sobre ele: a da consciência da sua obra ou da sua missão, e a da contingência ou fragilidade da sua pessoa. Ele trabalha com a febre serena de quem tem cem anos de vida, para realizar, e de quem possui apenas cinco minutos de vida, para garantir o que fez.
Tal o verdadeiro homem de Estado. Nem improvisa, nem desanima. Não improvisa — porque sabe que o improviso é estéril, e só por milagre resiste e frutifica. Não desanima, porque o desânimo é a forma elegante da cobardia.
Para o verdadeiro homem de Estado, governar é prolongar-se, continuar-se, projectar-se. Ele não governa pela volúpia, ou pelas facilidades, ou pelos privilégios do Poder. Ele governa, para deixar, atrás de si, uma obra. Não a ergue, portanto, sobre areia ou sobre o fumo. Não condescende, portanto, a abandoná-la às contingências da sorte.
E quando essa obra representa sacrifícios manifestos dos governados, seria abominável deixá-la ao desamparo, tornando irremediavelmente inúteis esses sacrifícios.
Ora é uma verdade irrecusável que a obra que foi possível efectuar-se depois de 1926, mercê das condições estabelecidas pelo 28 de Maio, da actualização superior do sr. Presidente do Conselho, e dos sacrifícios nobremente suportados pela Nação, essa obra está abandonada às contingências da sorte.
Como não sou partidário da instituição do soldado desconhecido, reconheço que essa obra, devendo-se a condições políticas e à adaptação do País, teve um animador, tem um ponto de apoio: o sr. Presidente do Conselho. As condições políticas e a adaptação do País são a parte material dessa obra. O seu espírito é o pensamento do sr. Prof. Oliveira Salazar.
Qual é, actualmente, a garantia da perduração dessa obra?
Pois que o sr. Presidente do Conselho formulou publicamente o problema e evidentemente para todos nós o meditemos, é meu dever analisá-lo.
Nas circunstâncias políticas portuguesas, a obra realizada e que ninguém contesta — saneamento financeiro, prestígio externo, consciência do brio colectivo, ordem material, hábitos políticos sãos — nas circunstâncias políticas portuguesas, a obra realizada está dependente exclusivamente da presença do sr. Presidente do Conselho no Governo.
E esta presença, por sua vez, depende de dois factores que bem podem considerar-se as contingências da sorte: um, de natureza pessoal — a saúde ou a vida do sr. Presidente do Conselho; outra, de natureza política — a orgânica das instituições.
Uma doença grave que inutilize o Chefe do Governo, ou o arrede, indefinidamente das alavancas do comando — e tudo o que se fez entrará em decomposição, porque o inimigo da Nação não se demorará em, por todos os meios, atacar a fortaleza, explorando a impaciência de uns, o descontentamento de outros, as ambições de terceiros. E o que era paz e confiança passará a ser desordem e pavor.
Por outro lado, cumpre não esquecer que estamos em sistema electivo. Na melhor das hipóteses, o fulcro constitucional permanecerá ainda três ou quatro anos, salvo erro, como está. Mas terá, por força da lei, que ser substituído, quando o período da sua função tiver atingido a hora de renovação.
E estamos, então, postos, por força da lei, diante das contingências da sorte, com toda a perturbação que lhes é inerente.
Pense-se bem nisto. Entrarão em actividade grupos e facções — hoje, em repouso. Pressões e ameaças, promessas e seduções, tudo se mobilizará, para se fazer vencer determinada candidatura. Será de novo, o espectáculo de portugueses contra portugueses — a menos que não se enverede pela porta do artifício e da burla. Mas, nesse caso, pergunto: para que recorrer-se ao artifício e à burla, se temos à mão, o processo honesto, legítimo e tradicional?
Que palavras dirão as contingências da sorte convocadas a dar o seu parecer? Ninguém o sabe. Se ninguém o sabe — não é de político nem de português abandonar-lhes o futuro da Nação.
É indispensável criar a esse futuro, condições de duração e à estabilidade.
Sujeitar à opinião flutuante das massas politicamente ignaras, a escolha do fulcro constitucional do Estado é jungir o futuro às contingências da sorte, é recusar a uma obra as condições de duração e estabilidade que ela exige para perdurar.
Nenhum serviço público, por mais modesto, ganha com a substituição contínua dos seus agentes. Como é que se defende o sistema contrário, o da substituição periódica daquele que, constitucionalmente, é o ponto de apoio de toda a vida do Estado?
A obra financeira, política e moral que se realizou, em Portugal, desde 1926 para cá, está, hoje à mercê das contingências da sorte. É preciso criar-lhe condições de duração e de estabilidade.
A inteligência dos homens, até agora, não descobriu outro processo de o fazer, fora da substituição do sistema electivo pelo sistema hereditário. A República assenta nas contingências da sorte; a Monarquia é a condição da duração e estabilidade.
Mas isto precisa de ser desenvolvido.
Alfredo Pimenta
(in «A Voz», n.º 4686, págs. 1/2, 16.03.1940)
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Não há, portanto, nada de banal nesses discursos. Tudo se aproveita. Se foram meditados, ao serem compostos, devem ser meditados, ao serem lidos.
Uma das proposições mais sérias do último discurso do sr. Presidente do Conselho é esta.
«Não é de patriota, nem de político abandonar o futuro às contingências da sorte, não criar para uma obra condições de duração e de estabilidade. Por definição, só fica feito o que perdura».
Estas palavras contêm a enunciação do problema crucial do momento português que atravessamos.
São horrivelmente egoístas, os governados que só pensam no Presente. Para esses, só o bem que usufruem conta. De resto — quem vier atrás que feche a porta...
São medíocres, e perigosos, os governantes que só pensam no Presente. Para esses, só conta o que está. E dizem: «enquanto está, estou». Para estes, governar é estar. São os discípulos do velho Guizot, para quem governar é conservar-se no Poder.
O verdadeiro homem de Estado é indiferente ao Presente, e por isso o não amedrontam as críticas, ainda as mais severas, como o não atordoam os aplausos, ainda os mais vibrantes. Para ele, o Presente não é mais do que a passagem do Passado para o Futuro. Para ele o Presente é a realização do que meditou, como ponto de partida para o que há a fazer.
O verdadeiro homem de Estado tem sempre diante de si, como preocupações dominantes, duas forças a actuar sobre ele: a da consciência da sua obra ou da sua missão, e a da contingência ou fragilidade da sua pessoa. Ele trabalha com a febre serena de quem tem cem anos de vida, para realizar, e de quem possui apenas cinco minutos de vida, para garantir o que fez.
Tal o verdadeiro homem de Estado. Nem improvisa, nem desanima. Não improvisa — porque sabe que o improviso é estéril, e só por milagre resiste e frutifica. Não desanima, porque o desânimo é a forma elegante da cobardia.
Para o verdadeiro homem de Estado, governar é prolongar-se, continuar-se, projectar-se. Ele não governa pela volúpia, ou pelas facilidades, ou pelos privilégios do Poder. Ele governa, para deixar, atrás de si, uma obra. Não a ergue, portanto, sobre areia ou sobre o fumo. Não condescende, portanto, a abandoná-la às contingências da sorte.
E quando essa obra representa sacrifícios manifestos dos governados, seria abominável deixá-la ao desamparo, tornando irremediavelmente inúteis esses sacrifícios.
Ora é uma verdade irrecusável que a obra que foi possível efectuar-se depois de 1926, mercê das condições estabelecidas pelo 28 de Maio, da actualização superior do sr. Presidente do Conselho, e dos sacrifícios nobremente suportados pela Nação, essa obra está abandonada às contingências da sorte.
Como não sou partidário da instituição do soldado desconhecido, reconheço que essa obra, devendo-se a condições políticas e à adaptação do País, teve um animador, tem um ponto de apoio: o sr. Presidente do Conselho. As condições políticas e a adaptação do País são a parte material dessa obra. O seu espírito é o pensamento do sr. Prof. Oliveira Salazar.
Qual é, actualmente, a garantia da perduração dessa obra?
Pois que o sr. Presidente do Conselho formulou publicamente o problema e evidentemente para todos nós o meditemos, é meu dever analisá-lo.
Nas circunstâncias políticas portuguesas, a obra realizada e que ninguém contesta — saneamento financeiro, prestígio externo, consciência do brio colectivo, ordem material, hábitos políticos sãos — nas circunstâncias políticas portuguesas, a obra realizada está dependente exclusivamente da presença do sr. Presidente do Conselho no Governo.
E esta presença, por sua vez, depende de dois factores que bem podem considerar-se as contingências da sorte: um, de natureza pessoal — a saúde ou a vida do sr. Presidente do Conselho; outra, de natureza política — a orgânica das instituições.
Uma doença grave que inutilize o Chefe do Governo, ou o arrede, indefinidamente das alavancas do comando — e tudo o que se fez entrará em decomposição, porque o inimigo da Nação não se demorará em, por todos os meios, atacar a fortaleza, explorando a impaciência de uns, o descontentamento de outros, as ambições de terceiros. E o que era paz e confiança passará a ser desordem e pavor.
Por outro lado, cumpre não esquecer que estamos em sistema electivo. Na melhor das hipóteses, o fulcro constitucional permanecerá ainda três ou quatro anos, salvo erro, como está. Mas terá, por força da lei, que ser substituído, quando o período da sua função tiver atingido a hora de renovação.
E estamos, então, postos, por força da lei, diante das contingências da sorte, com toda a perturbação que lhes é inerente.
Pense-se bem nisto. Entrarão em actividade grupos e facções — hoje, em repouso. Pressões e ameaças, promessas e seduções, tudo se mobilizará, para se fazer vencer determinada candidatura. Será de novo, o espectáculo de portugueses contra portugueses — a menos que não se enverede pela porta do artifício e da burla. Mas, nesse caso, pergunto: para que recorrer-se ao artifício e à burla, se temos à mão, o processo honesto, legítimo e tradicional?
Que palavras dirão as contingências da sorte convocadas a dar o seu parecer? Ninguém o sabe. Se ninguém o sabe — não é de político nem de português abandonar-lhes o futuro da Nação.
É indispensável criar a esse futuro, condições de duração e à estabilidade.
Sujeitar à opinião flutuante das massas politicamente ignaras, a escolha do fulcro constitucional do Estado é jungir o futuro às contingências da sorte, é recusar a uma obra as condições de duração e estabilidade que ela exige para perdurar.
Nenhum serviço público, por mais modesto, ganha com a substituição contínua dos seus agentes. Como é que se defende o sistema contrário, o da substituição periódica daquele que, constitucionalmente, é o ponto de apoio de toda a vida do Estado?
A obra financeira, política e moral que se realizou, em Portugal, desde 1926 para cá, está, hoje à mercê das contingências da sorte. É preciso criar-lhe condições de duração e de estabilidade.
A inteligência dos homens, até agora, não descobriu outro processo de o fazer, fora da substituição do sistema electivo pelo sistema hereditário. A República assenta nas contingências da sorte; a Monarquia é a condição da duração e estabilidade.
Mas isto precisa de ser desenvolvido.
Alfredo Pimenta
(in «A Voz», n.º 4686, págs. 1/2, 16.03.1940)
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DOUTRINA
Uma das coisas essenciais que distinguem o doutrinador monárquico do doutrinador republicano, é esta: o doutrinador republicano, na sua acção proselítica, na sua propaganda, na exposição das suas ideias, no esforço que emprega para que sejam as realidades as suas concepções, — dirige-se ao País. A força que ele pretende demover, conquistar e galvanizar é o País, a massa humana, na brutalidade material do número e do peso. Precisa, para isso, reclama, para isso, a imprensa livre, o comício livre, a reunião livre. Quando não lhe dão isto, recorre, então, ao clandestino.
O doutrinador monárquico que não tem qualquer espécie de afinidades com o republicano, não se dirige ao País, prescinde do País, não precisa da falsa opinião do País para nada.
Dirige-se aos detentores do Poder — não para os violentar, desprestigiar, diminuir ou enfraquecer, mas para os convencer, esclarecer e iluminar, e ajudar, quando tais detentores são de boa fé, desinteressadamente dedicados ao Bem Comum.
O doutrinador republicano apoia-se na força brutal das massas humanas, para fazer a Revolução. O doutrinador monárquico apoia-se na inteligência, na sensibilidade, na clarividência dos detentores do Poder — para evitar a Revolução.
O doutrinador republicano entende que a Nação é soberana, que no País está a origem do Poder. Logo, coerentemente, o que ele está a pretende é arrastar atrás de si o País, para que este, de armas na mão, lhe dê o Poder.
O doutrinador monárquico pensa que a Nação existe para servir o Interesse nacional, na multiplicidade das suas manifestações, na prodigiosa diversidade das suas exigências, e que a origem do Poder está fora do País, acima do País, em Deus, como eu creio, ou na continuidade histórica da Nação, como pensa o Agnóstico. Logo, consequentemente, todo o seu esforço tende a fazer dos detentores do Poder, instrumentos conscientes de Deus, ou daquela continuidade histórica.
O doutrinador republicano é essencialmente revolucionário: a Revolução é o seu método; a Revolução é o seu fim. O doutrinador monárquico é essencialmente anti-revolucionário: o seu método é a inteligência; a recondução da Nação à sua vida tradicional normal é o seu objectivo.
O doutrinador republicano só conhece um meio, e efectivamente é o único que há, de impôr o seu doutrinarismo: a Revolução armada. Para isso, ele prega a indisciplina, a desordem, o ódio, a descrença, o desrespeito, a desobediência, — tudo quanto seja elemento destruidor das bases fundamentais da Ordem social. É sobre ruínas que ele pretende erguer a cidade — cidade que, pela sua origem, e pela sua orgânica, é perpétua fonte de novas ruínas.
O doutrinador monárquico não quer destruir o que, na hipótese, encontra, mas substituir, dispensando o que é mau, aproveitando e consolidando o que é bom. Em vez da indisciplina, ele quer mais disciplina; em vez da desordem, ele que mais ordem; em vez de ódio, ele quer mais amor; em vez da descrença, ele quer mais fé; em vez do desrespeito, ele quer respeito mais intenso; em vez de desobediência, ele quer mais obediência.
Não é sobre ruínas que ele quer erguer a sua cidade; é, sobre alicerces bem sólidos, sobre bases bem fundas e bem prósperas, sobre estímulos bem activos, para que a sua cidade, em vez de geradora de ruínas, seja geradora da vida.
Não lhe interessa a imprensa livre, o comício livre — se estas instituições se consagram a agitar a multidão dos cidadãos. Só precisa delas, para se fazer ouvir dos detentores do Poder, e na medida em que elas lhe servem para se fazer ouvir deles.
O doutrinador monárquico não se dirige ao País, porque abomina a Monarquia de origem revolucionária, e só para fazer a revolta armada das massas humanas, ele teria que se dirigir ao País.
Não se dirige ao País, para o levar à boca das urnas, porque detesta a Monarquia plebiscitária, uma espécie de Monarquia republicana, manifestação da quimérica vontade popular, através de ficção do voto e do sufrágio.
Não se dirige mesmo às élites do País, porque não lhe sorri a Monarquia filha de golpes de Estado, que vêm a ser afinal de contas, a Revolução disfarçada.
Não. O doutrinador monárquico dirige as suas palavras, toda a acção do seu verbo e do seu espírito, à luz do sol, diante de toda a gente, para que todos o oiçam — aos detentores do Poder, repito, aos detentores da fé, e desinteressadamente dedicados ao Bem Comum.
Quando estes gizam as suas reformas financeiras — tributárias ou de contabilidade; quando elaboram as suas reformas económicas, de defesa nacional, de educação pública, de fomento, etc.; quando constroem os seus projectos de política externa — alianças velhas que se reforçam, alianças novas que se esboçam ou preparam, numa palavra, em toda a sua acção de dirigentes da Nação, de detentores responsáveis do Poder, de animadores e fiadores do futuro do País, eles ouvem os competentes, quer individualmente, consultando este ou aquele, quer colectivamente, ouvindo os pareceres das instituições técnicas.
Chama-se a isso convidar a Nação a colaborar nos seus próprios destinos — pelos seus elementos representativos competentes.
Em matéria propriamente política, isto é, de orgânica constitucional do Estado, é o doutrinador político quem deve ser ouvido.
O doutrinador republicano está excluído, porque ele dirige-se à Nação para a revolucionar. O único que os detentores do Poder têm o dever de escutar é o doutrinador monárquico que só pensa em os esclarecer.
O futuro dum país não depende só das reformas de educação, de defesa nacional, de economia, financeiras, e fomento, etc; depende, e principalmente, da estrutura do Estado. Se se deixasse permanecer o sistema feudal, os povos ter-se-iam pulverizado na mais tenebrosa anarquia. O instinto de defesa levou-os a buscarem na Monarquia coordenadora e concentradora, o remédio eficaz para tal perigo.
Muita gente supõe que as instituições políticas são aparência e superfície. É uma ilusão que a experiência, a meditação e o estudo facilmente desfazem. As instituições políticas são a razão de ser fundamental da prosperidade ou infelicidade dos povos e das possibilidades ou negações do seu futuro.
Portanto, quem detém o Poder, se atende e busca o parecer dos professores de Finanças, de Economia, de assuntos militares e navais, de diplomacia, etc, para se esclarecer e decidir, também não pode deixar de atender, buscar os pareceres de professores de política, que são os doutrinadores. Estão excluídos, insisto, os doutrinadores revolucionários, desde os republicanos aos comunistas, porque estes visam a destruição do Poder e trabalham para opor a Nação ao Poder. A sua obra é uma obra de dissociação e guerra civil.
O doutrinador monárquico visa, pelo contrário, a consolidar o Poder noutras bases — em bases mais fortes, e trabalha para fundir o Poder na Nação. A sua obra é uma obra de integração e de concórdia nacional.
O doutrinador revolucionário serve-se da Nação contra o Poder. Eu não me sirvo nem da Nação contra o Poder, nem do Poder contra a Nação, trabalho para que o Poder compreenda e veja o que há de essencial e imediato, de insofismável e inadiável no Interesse nacional, e para que a Nação corresponda a essa compreensão superior.
As instituições republicanas, mesmo as que estão dentro da muito velha fórmula — a República é tanto mais perfeita quanto mais se aproxima da Monarquia — as instituições republicanas são sempre más, porque implicitam o germe destruidor da paz pública e do bem dos povos, os partidos políticos. República sem partidos é um artifício ou uma mentira. Quem diz República diz Eleição. Quem diz Eleição diz Partidos. Logo, quem diz República diz Partidos. E Partidos significam guerra civil. Logo, República e guerra são sinónimos.
A Monarquia hereditária, representada por uma Família tradicional é, neste mundo de relatividades e imperfeições, a mais perfeita, a mais cómoda, a mais pacífica e saudável fórmula política da governação dos povos. É a melhor que se adapta às transformações da Civilização, e a única que pode garantir aquela base e estabilidade essencial a todo o progresso.
Cria-se este lugar comum lendário e insensato de que o Poder não pode, por si, transformar as instituições políticas do País, porque fazê-lo seria traí-las.
Essa é boa! O Poder recebe, ao tomar conta das suas funções, o Orçamento desequilibrado, as Finanças públicas arruinadas, a vida económica da Nação paralisada, o Exército sem armas, a Marinha sem navios, a Política externa sem prestígio, o Ensino ao abandono, a desordem livre e próspera nas ruas e um sistema de governo perigoso, porque nos divide, é maléfico, porque nos atira, por definição, uns contra os outros. Recebe tudo isto assim, e a certa altura da sua vida, equilibra o orçamento, e ninguém o acusa de ter traído a paralisia dessa vida: arma o Exército, e ninguém o acusa de ter traído a traquês do Exército; dá navios à Marinha, e ninguém o acusa de ter traído o desmantelamento da Marinha; prestigia a Política externa, e ninguém o acusa de ter traído a desconsideração internacional em que se vivia; levanta o nível do Ensino, e ninguém o acusa de ter traído a desordem.
O que se não quer é que toque nas instituições políticas, porque seria traí-las! Os que assim pensam deviam, logicamente, exigir que o Poder, ao deixar as suas funções, restituísse ao seu sucessor o Orçamento desequilibrado, as Finanças arruinadas, o Exército desarmado, a Marinha sem navios, etc., etc, etc.
Ora que são mais na vida da Nação, as instituições republicanas, para que tenham o privilégio da intangibilidade, do que o Desequilíbrio orçamental, o desvairo das Finanças, a Ruína do Exército, até à desordem pública?
Não. O Poder, convencido de que o Orçamento desequilibrado é um mal — equilibra-o, e cumpre o seu dever; convencido de que o Desvairo das Finanças é um mal, cumpre o seu dever, saneando-as; convencido de que a fraqueza do Exército, e da Marinha, o desprestígio externo, o abandono do Ensino, a Desordem nas ruas são males, deita a mão a tudo isso, e extirpa-o da vida da Nação. Cumpre o seu dever. Pois convencido de que as instituições republicanas são incompatíveis com o Interesse Nacional, e são males bem mais perigosos e mais trágicos do que aqueles outros — qual é a obrigação do Poder? Tratar as instituições republicanas, como tratou o Desequilíbrio orçamental, e o Desvairo das Finanças, a Paralisia da vida económica, a Fraqueza do Exército e da Marinha, etc., etc., etc.
O Poder responsável tem por missão governar e salvar a Nação. Para a governar e para a salvar, tem de ir até onde as realidades, os factos, as circunstâncias exigem.
Assim pensa o doutrinador monárquico. Com ele, pensam todos os monárquicos que não são monárquicos republicanizados, liberais e oposicionistas, a forjar na sombra, a letra em que são sacadores: com ele, pensam todos os monárquicos que o são por doutrina, e não apetecem um Rei trazido nas listas do sufrágio ou nas pontas das baionetas.
Alfredo Pimenta
(in «A Voz», n.º 5434, págs. 1/2, 22.04.1942)
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O doutrinador monárquico que não tem qualquer espécie de afinidades com o republicano, não se dirige ao País, prescinde do País, não precisa da falsa opinião do País para nada.
Dirige-se aos detentores do Poder — não para os violentar, desprestigiar, diminuir ou enfraquecer, mas para os convencer, esclarecer e iluminar, e ajudar, quando tais detentores são de boa fé, desinteressadamente dedicados ao Bem Comum.
O doutrinador republicano apoia-se na força brutal das massas humanas, para fazer a Revolução. O doutrinador monárquico apoia-se na inteligência, na sensibilidade, na clarividência dos detentores do Poder — para evitar a Revolução.
O doutrinador republicano entende que a Nação é soberana, que no País está a origem do Poder. Logo, coerentemente, o que ele está a pretende é arrastar atrás de si o País, para que este, de armas na mão, lhe dê o Poder.
O doutrinador monárquico pensa que a Nação existe para servir o Interesse nacional, na multiplicidade das suas manifestações, na prodigiosa diversidade das suas exigências, e que a origem do Poder está fora do País, acima do País, em Deus, como eu creio, ou na continuidade histórica da Nação, como pensa o Agnóstico. Logo, consequentemente, todo o seu esforço tende a fazer dos detentores do Poder, instrumentos conscientes de Deus, ou daquela continuidade histórica.
O doutrinador republicano é essencialmente revolucionário: a Revolução é o seu método; a Revolução é o seu fim. O doutrinador monárquico é essencialmente anti-revolucionário: o seu método é a inteligência; a recondução da Nação à sua vida tradicional normal é o seu objectivo.
O doutrinador republicano só conhece um meio, e efectivamente é o único que há, de impôr o seu doutrinarismo: a Revolução armada. Para isso, ele prega a indisciplina, a desordem, o ódio, a descrença, o desrespeito, a desobediência, — tudo quanto seja elemento destruidor das bases fundamentais da Ordem social. É sobre ruínas que ele pretende erguer a cidade — cidade que, pela sua origem, e pela sua orgânica, é perpétua fonte de novas ruínas.
O doutrinador monárquico não quer destruir o que, na hipótese, encontra, mas substituir, dispensando o que é mau, aproveitando e consolidando o que é bom. Em vez da indisciplina, ele quer mais disciplina; em vez da desordem, ele que mais ordem; em vez de ódio, ele quer mais amor; em vez da descrença, ele quer mais fé; em vez do desrespeito, ele quer respeito mais intenso; em vez de desobediência, ele quer mais obediência.
Não é sobre ruínas que ele quer erguer a sua cidade; é, sobre alicerces bem sólidos, sobre bases bem fundas e bem prósperas, sobre estímulos bem activos, para que a sua cidade, em vez de geradora de ruínas, seja geradora da vida.
Não lhe interessa a imprensa livre, o comício livre — se estas instituições se consagram a agitar a multidão dos cidadãos. Só precisa delas, para se fazer ouvir dos detentores do Poder, e na medida em que elas lhe servem para se fazer ouvir deles.
O doutrinador monárquico não se dirige ao País, porque abomina a Monarquia de origem revolucionária, e só para fazer a revolta armada das massas humanas, ele teria que se dirigir ao País.
Não se dirige ao País, para o levar à boca das urnas, porque detesta a Monarquia plebiscitária, uma espécie de Monarquia republicana, manifestação da quimérica vontade popular, através de ficção do voto e do sufrágio.
Não se dirige mesmo às élites do País, porque não lhe sorri a Monarquia filha de golpes de Estado, que vêm a ser afinal de contas, a Revolução disfarçada.
Não. O doutrinador monárquico dirige as suas palavras, toda a acção do seu verbo e do seu espírito, à luz do sol, diante de toda a gente, para que todos o oiçam — aos detentores do Poder, repito, aos detentores da fé, e desinteressadamente dedicados ao Bem Comum.
Quando estes gizam as suas reformas financeiras — tributárias ou de contabilidade; quando elaboram as suas reformas económicas, de defesa nacional, de educação pública, de fomento, etc.; quando constroem os seus projectos de política externa — alianças velhas que se reforçam, alianças novas que se esboçam ou preparam, numa palavra, em toda a sua acção de dirigentes da Nação, de detentores responsáveis do Poder, de animadores e fiadores do futuro do País, eles ouvem os competentes, quer individualmente, consultando este ou aquele, quer colectivamente, ouvindo os pareceres das instituições técnicas.
Chama-se a isso convidar a Nação a colaborar nos seus próprios destinos — pelos seus elementos representativos competentes.
Em matéria propriamente política, isto é, de orgânica constitucional do Estado, é o doutrinador político quem deve ser ouvido.
O doutrinador republicano está excluído, porque ele dirige-se à Nação para a revolucionar. O único que os detentores do Poder têm o dever de escutar é o doutrinador monárquico que só pensa em os esclarecer.
O futuro dum país não depende só das reformas de educação, de defesa nacional, de economia, financeiras, e fomento, etc; depende, e principalmente, da estrutura do Estado. Se se deixasse permanecer o sistema feudal, os povos ter-se-iam pulverizado na mais tenebrosa anarquia. O instinto de defesa levou-os a buscarem na Monarquia coordenadora e concentradora, o remédio eficaz para tal perigo.
Muita gente supõe que as instituições políticas são aparência e superfície. É uma ilusão que a experiência, a meditação e o estudo facilmente desfazem. As instituições políticas são a razão de ser fundamental da prosperidade ou infelicidade dos povos e das possibilidades ou negações do seu futuro.
Portanto, quem detém o Poder, se atende e busca o parecer dos professores de Finanças, de Economia, de assuntos militares e navais, de diplomacia, etc, para se esclarecer e decidir, também não pode deixar de atender, buscar os pareceres de professores de política, que são os doutrinadores. Estão excluídos, insisto, os doutrinadores revolucionários, desde os republicanos aos comunistas, porque estes visam a destruição do Poder e trabalham para opor a Nação ao Poder. A sua obra é uma obra de dissociação e guerra civil.
O doutrinador monárquico visa, pelo contrário, a consolidar o Poder noutras bases — em bases mais fortes, e trabalha para fundir o Poder na Nação. A sua obra é uma obra de integração e de concórdia nacional.
O doutrinador revolucionário serve-se da Nação contra o Poder. Eu não me sirvo nem da Nação contra o Poder, nem do Poder contra a Nação, trabalho para que o Poder compreenda e veja o que há de essencial e imediato, de insofismável e inadiável no Interesse nacional, e para que a Nação corresponda a essa compreensão superior.
As instituições republicanas, mesmo as que estão dentro da muito velha fórmula — a República é tanto mais perfeita quanto mais se aproxima da Monarquia — as instituições republicanas são sempre más, porque implicitam o germe destruidor da paz pública e do bem dos povos, os partidos políticos. República sem partidos é um artifício ou uma mentira. Quem diz República diz Eleição. Quem diz Eleição diz Partidos. Logo, quem diz República diz Partidos. E Partidos significam guerra civil. Logo, República e guerra são sinónimos.
A Monarquia hereditária, representada por uma Família tradicional é, neste mundo de relatividades e imperfeições, a mais perfeita, a mais cómoda, a mais pacífica e saudável fórmula política da governação dos povos. É a melhor que se adapta às transformações da Civilização, e a única que pode garantir aquela base e estabilidade essencial a todo o progresso.
Cria-se este lugar comum lendário e insensato de que o Poder não pode, por si, transformar as instituições políticas do País, porque fazê-lo seria traí-las.
Essa é boa! O Poder recebe, ao tomar conta das suas funções, o Orçamento desequilibrado, as Finanças públicas arruinadas, a vida económica da Nação paralisada, o Exército sem armas, a Marinha sem navios, a Política externa sem prestígio, o Ensino ao abandono, a desordem livre e próspera nas ruas e um sistema de governo perigoso, porque nos divide, é maléfico, porque nos atira, por definição, uns contra os outros. Recebe tudo isto assim, e a certa altura da sua vida, equilibra o orçamento, e ninguém o acusa de ter traído a paralisia dessa vida: arma o Exército, e ninguém o acusa de ter traído a traquês do Exército; dá navios à Marinha, e ninguém o acusa de ter traído o desmantelamento da Marinha; prestigia a Política externa, e ninguém o acusa de ter traído a desconsideração internacional em que se vivia; levanta o nível do Ensino, e ninguém o acusa de ter traído a desordem.
O que se não quer é que toque nas instituições políticas, porque seria traí-las! Os que assim pensam deviam, logicamente, exigir que o Poder, ao deixar as suas funções, restituísse ao seu sucessor o Orçamento desequilibrado, as Finanças arruinadas, o Exército desarmado, a Marinha sem navios, etc., etc, etc.
Ora que são mais na vida da Nação, as instituições republicanas, para que tenham o privilégio da intangibilidade, do que o Desequilíbrio orçamental, o desvairo das Finanças, a Ruína do Exército, até à desordem pública?
Não. O Poder, convencido de que o Orçamento desequilibrado é um mal — equilibra-o, e cumpre o seu dever; convencido de que o Desvairo das Finanças é um mal, cumpre o seu dever, saneando-as; convencido de que a fraqueza do Exército, e da Marinha, o desprestígio externo, o abandono do Ensino, a Desordem nas ruas são males, deita a mão a tudo isso, e extirpa-o da vida da Nação. Cumpre o seu dever. Pois convencido de que as instituições republicanas são incompatíveis com o Interesse Nacional, e são males bem mais perigosos e mais trágicos do que aqueles outros — qual é a obrigação do Poder? Tratar as instituições republicanas, como tratou o Desequilíbrio orçamental, e o Desvairo das Finanças, a Paralisia da vida económica, a Fraqueza do Exército e da Marinha, etc., etc., etc.
O Poder responsável tem por missão governar e salvar a Nação. Para a governar e para a salvar, tem de ir até onde as realidades, os factos, as circunstâncias exigem.
Assim pensa o doutrinador monárquico. Com ele, pensam todos os monárquicos que não são monárquicos republicanizados, liberais e oposicionistas, a forjar na sombra, a letra em que são sacadores: com ele, pensam todos os monárquicos que o são por doutrina, e não apetecem um Rei trazido nas listas do sufrágio ou nas pontas das baionetas.
Alfredo Pimenta
(in «A Voz», n.º 5434, págs. 1/2, 22.04.1942)
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sexta-feira, fevereiro 25, 2005
Boas ideias em marcha
Depois do Portimão Nacional, também o Coimbra Nacional.
Ganha vulto a blogolândia nacional: pés bem assentes na terra, e sonhos alevantados, sem fim ou limite para a ambição de criar.
Vamos então a construir a nossa rede, onde todo o país esteja representado.
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Ganha vulto a blogolândia nacional: pés bem assentes na terra, e sonhos alevantados, sem fim ou limite para a ambição de criar.
Vamos então a construir a nossa rede, onde todo o país esteja representado.
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O NÚMERO E A DEMOCRACIA
Poucos têm insistido tanto, entre nós, em criticar a Democracia, por ela se basear no Número, como eu.
Sempre que posso, isto é, sempre que tenho pretexto para tal, chamo a atenção dos espíritos reflectidos para a absoluta sem razão que existe numa Doutrina que faz depender a verdade da opinião da maioria. E digo que a verdade é independente do número dos que a professam, podendo estar na minoria, estando, mesmo, por via de regra, fora da maioria. É que não podendo ela ser, e não devendo ser resultante da inteligência média, mas sim das inteligências superiores, e não sendo estas nunca em grande número, nos meios sociais, evidentemente que ou ela sai do reduzido grupo das inteligências superiores, e não é, portanto, obra da maioria, ou sai desta, por maioria ser, e representa a cooperação das inteligências inferiores.
Nas Democracias, porque o Número é a ultima ratio, acontece que a direcção da sua vida e a solução dos seus problemas cabem ao Anonimato, à Irresponsabilidade, porque o Número, por definição é anónimo, e, portanto, é irresponsável.
Exemplos de todos os dias, para não dizer de todas as horas, mostram os inconvenientes da Democracia, e, consequentemente, deste critério. As massas, ou por outra palavra, a inteligência mediana em que são absorvidas as inteligências individuais, nem é capaz de reflexão, nem é competente para estudar e prever. As massas são instintivas, caprichosas, flutuantes, inconsequentes, à mercê dum nada que surge, não sabe donde, e as conduz e domina. A sua obra é fatalmente deficiente, inferior.
Não há objecção possível a estas observações e toda a gente as entende. Não há nada mais precário do que o Número como critério da verdade. E quando outras razões não houvesse, havia esta que é fundamental, essencial: é que as unidades não são homogéneas, e nos votos industriais, entram factores das mais variadas origens e categorias. A decisão final, é no fundo uma mixórdia.»
«...De resto, basta que o leitor faça esta pequena observação: se o número é o critério da verdade, a verdade não existe, porque o número desloca-se muito facilmente dum prato da balança para o outro. E se o cálculo, hoje, dá um determinado resultado, nada garante que amanhã, feito noutras circunstâncias, não conduza a resultados opostos. Mas se a verdade não existe, como consequência de o seu critério estar no Número, e se este é a base doutrinária da Democracia — a Democracia é um mito, uma mentira, como tantas vezes tenho afirmado. Pelo que concluo que, por um lado, pelo meu, ou por outro, a Democracia é insustentável!»
Alfredo Pimenta
(«A Democracia e o Número», in «A Voz», n.º 797, pág. 3, 28.04.1929)
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Sempre que posso, isto é, sempre que tenho pretexto para tal, chamo a atenção dos espíritos reflectidos para a absoluta sem razão que existe numa Doutrina que faz depender a verdade da opinião da maioria. E digo que a verdade é independente do número dos que a professam, podendo estar na minoria, estando, mesmo, por via de regra, fora da maioria. É que não podendo ela ser, e não devendo ser resultante da inteligência média, mas sim das inteligências superiores, e não sendo estas nunca em grande número, nos meios sociais, evidentemente que ou ela sai do reduzido grupo das inteligências superiores, e não é, portanto, obra da maioria, ou sai desta, por maioria ser, e representa a cooperação das inteligências inferiores.
Nas Democracias, porque o Número é a ultima ratio, acontece que a direcção da sua vida e a solução dos seus problemas cabem ao Anonimato, à Irresponsabilidade, porque o Número, por definição é anónimo, e, portanto, é irresponsável.
Exemplos de todos os dias, para não dizer de todas as horas, mostram os inconvenientes da Democracia, e, consequentemente, deste critério. As massas, ou por outra palavra, a inteligência mediana em que são absorvidas as inteligências individuais, nem é capaz de reflexão, nem é competente para estudar e prever. As massas são instintivas, caprichosas, flutuantes, inconsequentes, à mercê dum nada que surge, não sabe donde, e as conduz e domina. A sua obra é fatalmente deficiente, inferior.
Não há objecção possível a estas observações e toda a gente as entende. Não há nada mais precário do que o Número como critério da verdade. E quando outras razões não houvesse, havia esta que é fundamental, essencial: é que as unidades não são homogéneas, e nos votos industriais, entram factores das mais variadas origens e categorias. A decisão final, é no fundo uma mixórdia.»
«...De resto, basta que o leitor faça esta pequena observação: se o número é o critério da verdade, a verdade não existe, porque o número desloca-se muito facilmente dum prato da balança para o outro. E se o cálculo, hoje, dá um determinado resultado, nada garante que amanhã, feito noutras circunstâncias, não conduza a resultados opostos. Mas se a verdade não existe, como consequência de o seu critério estar no Número, e se este é a base doutrinária da Democracia — a Democracia é um mito, uma mentira, como tantas vezes tenho afirmado. Pelo que concluo que, por um lado, pelo meu, ou por outro, a Democracia é insustentável!»
Alfredo Pimenta
(«A Democracia e o Número», in «A Voz», n.º 797, pág. 3, 28.04.1929)
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PARLAMENTO
«...O sistema parlamentar gera oradores, tribunos intriguistas, mas homens de Estado, se os revela, é por feroz reacção; se os revela é como inimigos do próprio sistema parlamentar. Entre o homem de governo e o político, há um abismo. O homem de governo governa, impõe-se, conduz, desagrada ao Presente para servir o Futuro. O político é o produto do sistema parlamentar. O homem do governo é o produto do interesse nacional bem compreendido.
Os dois perigos fundamentais imediatos conduzem a um perigo fundamental longínquo: a anarquia. A anarquia em que nos debatemos é a resultante de um século de sistema parlamentar.
Mas - dir-me-ão os parlamentaristas, não há maneira de se evitar o aparecimento dos dois perigos? Eu respondo: não. Não há, efectivamente, maneira de se evitarem os dois males. Tirar ao Parlamento acção sobre os governos - no que diz respeito à sua nomeação e à sua demissão, é introduzir no Estado o sistema presidencialista. Limitar-lhe as atribuições legisladoras é, ou transformá-lo de legislativo e deliberativo em consultivo, ou reduzi-lo a um simples fiscal de contas - em qualquer dos casos, destruí-lo.
O Parlamentarismo ou se aceita tal como é, com todos os seus defeitos e todas as suas consequências, ou se rejeita in limine.
Criar uma instituição artificial, obra do capricho pessoal de alguém, e chamar-lhe Parlamento, é uma mistificação de mau gosto. Contra a Ditadura, houve quem argumentasse com a possibilidade de um incompetente ser ditador, chamando a essa situação a Ditadura da inépcia. Discordamos. A Ditadura de um incompetente pode ser, e é a Ditadura de um inepto. Agora, Ditadura da inépcia é a do Parlamento.
Temos dito e redito que a Ditadura não é um sistema governativo; é um processo, um método transitório. O que nós queremos, como definitivo, não é, nem a Ditadura que é, por definição, excepcional, nem o Parlamentarismo que é, por definição, anti-nacional. O que nós queremos, como definitivo, é um sistema em que o Rei reina e governa, assistido dos seus ministros ou secretários de Estado, dos conselhos técnicos organizados, e da Representação dos Municípios, das Províncias, e das Corporações, a qual terá funções deliberativas, em matéria orçamental e tributária, e meras funções consultivas, em tudo o mais. Essa Representação não tem no seu seio partidos políticos, - porque uma Nação não se compõe de partidos políticos. Constituem-na forças espirituais, morais e produtoras que são os três elementos fundamentais da Nação. Ao Individualismo revolucionário, é preciso substituir o Corporativismo positivista. No Estado, o Indivíduo não existe; o que existe é a Família. No regime que nós preconizamos, os homens públicos, os homens de governo não são elevados ao Poder, pelos caprichos flutuantes das Assembleias parlamentares, ou pelas ambições ocultas das clientelas políticas. São lá chamados pela competência averiguada por quem tem melhor qualidade para a avaliar: pelo Rei.
Como se vê, o Parlamentarismo não é mau, pela qualidade dos parlamentares: é mau, pela sua própria natureza.»
Alfredo Pimenta
(in Nas Vésperas do Estado Novo, págs. 70/71)
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Os dois perigos fundamentais imediatos conduzem a um perigo fundamental longínquo: a anarquia. A anarquia em que nos debatemos é a resultante de um século de sistema parlamentar.
Mas - dir-me-ão os parlamentaristas, não há maneira de se evitar o aparecimento dos dois perigos? Eu respondo: não. Não há, efectivamente, maneira de se evitarem os dois males. Tirar ao Parlamento acção sobre os governos - no que diz respeito à sua nomeação e à sua demissão, é introduzir no Estado o sistema presidencialista. Limitar-lhe as atribuições legisladoras é, ou transformá-lo de legislativo e deliberativo em consultivo, ou reduzi-lo a um simples fiscal de contas - em qualquer dos casos, destruí-lo.
O Parlamentarismo ou se aceita tal como é, com todos os seus defeitos e todas as suas consequências, ou se rejeita in limine.
Criar uma instituição artificial, obra do capricho pessoal de alguém, e chamar-lhe Parlamento, é uma mistificação de mau gosto. Contra a Ditadura, houve quem argumentasse com a possibilidade de um incompetente ser ditador, chamando a essa situação a Ditadura da inépcia. Discordamos. A Ditadura de um incompetente pode ser, e é a Ditadura de um inepto. Agora, Ditadura da inépcia é a do Parlamento.
Temos dito e redito que a Ditadura não é um sistema governativo; é um processo, um método transitório. O que nós queremos, como definitivo, não é, nem a Ditadura que é, por definição, excepcional, nem o Parlamentarismo que é, por definição, anti-nacional. O que nós queremos, como definitivo, é um sistema em que o Rei reina e governa, assistido dos seus ministros ou secretários de Estado, dos conselhos técnicos organizados, e da Representação dos Municípios, das Províncias, e das Corporações, a qual terá funções deliberativas, em matéria orçamental e tributária, e meras funções consultivas, em tudo o mais. Essa Representação não tem no seu seio partidos políticos, - porque uma Nação não se compõe de partidos políticos. Constituem-na forças espirituais, morais e produtoras que são os três elementos fundamentais da Nação. Ao Individualismo revolucionário, é preciso substituir o Corporativismo positivista. No Estado, o Indivíduo não existe; o que existe é a Família. No regime que nós preconizamos, os homens públicos, os homens de governo não são elevados ao Poder, pelos caprichos flutuantes das Assembleias parlamentares, ou pelas ambições ocultas das clientelas políticas. São lá chamados pela competência averiguada por quem tem melhor qualidade para a avaliar: pelo Rei.
Como se vê, o Parlamentarismo não é mau, pela qualidade dos parlamentares: é mau, pela sua própria natureza.»
Alfredo Pimenta
(in Nas Vésperas do Estado Novo, págs. 70/71)
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quinta-feira, fevereiro 24, 2005
Nacionalismo
«É possível que o meu Nacionalismo seja exagerado.
Mas com esse pecado morrerei - e sem contrição. Porque fui sempre e sou incapaz de me fazer com inimigos da minha Pátria. Que os do Nacionalismo temperado, os do Nacionalismo pesado, medido, contado e neutro entrem em combinações, arranjos e traquibérnias; eu, não. A minha Pátria acima de todas, e acima de tudo.»
Alfredo Pimenta
(in «A Nação» n.º 97 de 03.01.1948)
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Mas com esse pecado morrerei - e sem contrição. Porque fui sempre e sou incapaz de me fazer com inimigos da minha Pátria. Que os do Nacionalismo temperado, os do Nacionalismo pesado, medido, contado e neutro entrem em combinações, arranjos e traquibérnias; eu, não. A minha Pátria acima de todas, e acima de tudo.»
Alfredo Pimenta
(in «A Nação» n.º 97 de 03.01.1948)
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Uma boa ideia...
Eis uma boa ideia que só perde por estar parada: vejam o Portimão Nacional.
Será uma mera experiência? Por mim, já sabem como apoio entusiasmado a ideia que está subjacente à criação deste blogue: o desenvolvimento de uma grande rede de blogues de orientação nacional, que saibam identificar-se com as raízes, e com as temáticas locais, sem deixar de ser nacionais e universais...
Amigos, não desistam: as boas ideias são para ser executadas.
Quem é que não tem nada a dizer sobre a sua terra, sobre a sua gente, sobre a sua Pátria, sobre a Vida e sobre o Mundo?
Quem há aí que não deseje intervir e ter voz activa nos debates e problemas do nosso tempo?
A rede espera por vós, todos!...
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Será uma mera experiência? Por mim, já sabem como apoio entusiasmado a ideia que está subjacente à criação deste blogue: o desenvolvimento de uma grande rede de blogues de orientação nacional, que saibam identificar-se com as raízes, e com as temáticas locais, sem deixar de ser nacionais e universais...
Amigos, não desistam: as boas ideias são para ser executadas.
Quem é que não tem nada a dizer sobre a sua terra, sobre a sua gente, sobre a sua Pátria, sobre a Vida e sobre o Mundo?
Quem há aí que não deseje intervir e ter voz activa nos debates e problemas do nosso tempo?
A rede espera por vós, todos!...
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NAS VÉSPERAS DO ESTADO NOVO
«... Em todos os partidos republicanos, há homens a aproveitar, uma vez que sejam desenquadrados dos partidos. Esses homens, potencialmente úteis, têm sido nefastos, precisamente porque se encontram dentro dos partidos. Ao lado desses, há os que são prejudiciais - estejam fora, estejam dentro dos partidos.
A sua acção é, porém, muito pior dentro dos partidos, porque são estes que lhes emprestam uma força que, só por si, nunca teriam. Um partido político é um aposento fechado, em que o ar é viciado.
Um homem, por muito inteligente que seja, e muito sensato, e muito prudente, e muito calmo, e muito lúcido - dentro de um partido político, perde a autonomia da sua inteligência, do seu senso, da sua calma, da sua prudência e da sua lucidez: dentro de pouco tempo, passa a pensar e a sentir como o partido político a que pertence. A disciplina partidária tolhe-lhe os movimentos. Ele passa a ser o reflexo da multidão dos partidários; ele passa a ser o joguete nas mãos do interesse partidário. Se tenta manter-se autónomo, acusam-no de prejudicar a disciplina do partido.
Se se sujeita a esta, naufraga. Porque todos os partidos são maus, todos, todos, sem excepção. Há uns milhares melhores do que outros; mas todos são maus. Os melhores são os mais inúteis. Quanto melhor é um partido, menor é a sua acção política, menos profícua a sua intervenção na vida nacional.
Guerra aos homens? Não. Guerra, e sem tréguas, aos partidos. Aproveitem os homens, e esmaguem os partidos. À Nação, não a constituem partidos políticos. Constituem-na, sim, as forças espirituais, morais e materiais: o Pensamento, o Sentimento e a Acção. Os partidos políticos são elementos de dissolução nacional e de anarquia nacional.
Eles são a fonte da guerra intestina. São eles que lançam os homens uns contra os outros. São eles que criam este estado miserável dos exilados na própria terra.»
Alfredo Pimenta
(in Nas Vésperas do Estado Novo, págs. 51/55)
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A sua acção é, porém, muito pior dentro dos partidos, porque são estes que lhes emprestam uma força que, só por si, nunca teriam. Um partido político é um aposento fechado, em que o ar é viciado.
Um homem, por muito inteligente que seja, e muito sensato, e muito prudente, e muito calmo, e muito lúcido - dentro de um partido político, perde a autonomia da sua inteligência, do seu senso, da sua calma, da sua prudência e da sua lucidez: dentro de pouco tempo, passa a pensar e a sentir como o partido político a que pertence. A disciplina partidária tolhe-lhe os movimentos. Ele passa a ser o reflexo da multidão dos partidários; ele passa a ser o joguete nas mãos do interesse partidário. Se tenta manter-se autónomo, acusam-no de prejudicar a disciplina do partido.
Se se sujeita a esta, naufraga. Porque todos os partidos são maus, todos, todos, sem excepção. Há uns milhares melhores do que outros; mas todos são maus. Os melhores são os mais inúteis. Quanto melhor é um partido, menor é a sua acção política, menos profícua a sua intervenção na vida nacional.
Guerra aos homens? Não. Guerra, e sem tréguas, aos partidos. Aproveitem os homens, e esmaguem os partidos. À Nação, não a constituem partidos políticos. Constituem-na, sim, as forças espirituais, morais e materiais: o Pensamento, o Sentimento e a Acção. Os partidos políticos são elementos de dissolução nacional e de anarquia nacional.
Eles são a fonte da guerra intestina. São eles que lançam os homens uns contra os outros. São eles que criam este estado miserável dos exilados na própria terra.»
Alfredo Pimenta
(in Nas Vésperas do Estado Novo, págs. 51/55)
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SOBRE SALAZAR
«...É, na verdade, uma hora nova, esta hora que estamos a viver.
Devemo-la, de modo especial, a um homem: a Salazar, encarnação de Princípios, de Ideias, de Doutrinas que o Portugal legal de há um século ignorou, embora no Portugal real não faltasse quem lhas proclamasse.
Um dos grandes e imortais serviços prestados a Portugal por Salazar consiste numa coisa de que só os verdadeiros Homens de Estado são capazes: fazer das circunstâncias instrumentos úteis das suas ideias.
Chamado ao poder para sanear as Finanças públicas, Salazar não se limitou à missão de que o tinham encarregado; foi muito mais além: meteu ombros à tarefa difícil de limpar a Nação das mazelas revolucionárias, restituindo a Nação à própria Nação. Nesse trabalho anda empenhado. Trabalho gigantesco, porque o peso morto das resistências passivas, dos egoísmos interesseiros, do incivismo das chamadas élites, da incompreensão e da estupidez das massas, da influência deletéria das forças ocultas, é enorme, e bem poucos são os que vêem para além das fórmulas do presente, necessariamente transitórias, as bases estáveis que o Futuro reclama.
Dá-me Salazar a impressão da voz do que clama no deserto. À audácia silenciosa do seu pensamento, responde a cobardia, a timidez, o gaguismo dos que deviam acompanhá-lo, animá-lo, estimulá-lo e facilitar-lhe o terreno por onde tem que andar.
Alfredo Pimenta
(in «Gil Vicente», vol. XVI, nº 10/11/12, pág. 222, Outubro/Novembro/Dezembro de 1940)
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Devemo-la, de modo especial, a um homem: a Salazar, encarnação de Princípios, de Ideias, de Doutrinas que o Portugal legal de há um século ignorou, embora no Portugal real não faltasse quem lhas proclamasse.
Um dos grandes e imortais serviços prestados a Portugal por Salazar consiste numa coisa de que só os verdadeiros Homens de Estado são capazes: fazer das circunstâncias instrumentos úteis das suas ideias.
Chamado ao poder para sanear as Finanças públicas, Salazar não se limitou à missão de que o tinham encarregado; foi muito mais além: meteu ombros à tarefa difícil de limpar a Nação das mazelas revolucionárias, restituindo a Nação à própria Nação. Nesse trabalho anda empenhado. Trabalho gigantesco, porque o peso morto das resistências passivas, dos egoísmos interesseiros, do incivismo das chamadas élites, da incompreensão e da estupidez das massas, da influência deletéria das forças ocultas, é enorme, e bem poucos são os que vêem para além das fórmulas do presente, necessariamente transitórias, as bases estáveis que o Futuro reclama.
Dá-me Salazar a impressão da voz do que clama no deserto. À audácia silenciosa do seu pensamento, responde a cobardia, a timidez, o gaguismo dos que deviam acompanhá-lo, animá-lo, estimulá-lo e facilitar-lhe o terreno por onde tem que andar.
Alfredo Pimenta
(in «Gil Vicente», vol. XVI, nº 10/11/12, pág. 222, Outubro/Novembro/Dezembro de 1940)
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quarta-feira, fevereiro 23, 2005
TRUST
De confiança estamos todos precisados. De confiança e de determinação para prosseguir.
Saúdo mais um blogue da área jovem do nosso nacionalismo em construção: The trust in blog.
E chamo os restantes blogueiros da zona nacional a darem uma mãozinha aos novatos.
Ao menos vão visitá-los e entrem em diálogo com os rapazes. Tudo o que é novo transporta a esperança de crescimento.
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Saúdo mais um blogue da área jovem do nosso nacionalismo em construção: The trust in blog.
E chamo os restantes blogueiros da zona nacional a darem uma mãozinha aos novatos.
Ao menos vão visitá-los e entrem em diálogo com os rapazes. Tudo o que é novo transporta a esperança de crescimento.
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Formas de governo
«Para S. Tomás, como para Aristóteles, há três formas de sociedade possíveis:
a) Monarquia;
b) Aristocracia;
c) Democracia.
A cada uma destas três formas correspondem três outras formas que são a sua corrupção:
a) Tirania, corrupção da Monarquia;
b) Oligarquia, corrupção da Aristocracia;
c) Demagogia, corrupção da Democracia.
A Monarquia é o governo dum povo por um só, e a Tirania é a opressão de todo o Povo. A Aristocracia é a administração do povo por um grupo de homens virtuosos, e a Oligarquia é a opressão de todo o povo ou de uma parte, um grupo. A Democracia é o governo do Estado por uma classe numerosa, e a Demagogia é a opressão duma classe social por outra como por exemplo quando a plebe, abusando da sua superioridade numérica, oprime os ricos; é a Tirania da multidão. Qual das três formas de governo é a melhor, isto é, a mais justa?
Há sempre perigo, esclarece o Doutor Angélico, ou em renunciar à melhor forma de governo, que é a Monarquia, pelo receio da Tirania, ou, pelo temor da renúncia, em adoptar o governo monárquico, correndo-se o risco de o ver degenerar em tirania. A corrupção do melhor é sempre o pior. Então, que devemos fazer: contentar-se a gente com o não estar muito bem pelo medo de ficar muito mal, ou aspirar ao melhor sem pensar no pior? A resposta só pode ser dada, depois de sabermos as razões porque a Monarquia é o melhor dos governos.
Antes de mais nada, vejamos: qual é mais vantajoso para uma cidade ou para uma província: o governo de um ou o governo de muitos? Para se responder a isto, temos que fixar qual seja o fim que deve propor-se qualquer governo. Ora a intenção de quem exerce a função governativa deve ser garantir a salvação daqueles sobre quem tem domínio. Mas em que consiste o bem e a salvação da sociedade política? Na paz, - sem a qual a vida social perde toda a razão de ser. Logo todo aquele que governa um povo deve, antes de mais nada, garantir-lhe a unidade na paz, isto é, na ordem. Logo, um regime será tanto mais útil, quanto mais eficaz for na sua missão de garantir a unidade do povo na paz. É evidente que o que é um só é mais capaz de realizar a unidade do que muitos, - como as fontes de calor mais poderosas são os objectos quentes por si mesmos. Logo, o governo dum só é mais útil ao povo de que o governo de muitos. Além disso, tudo quanto se passa naturalmente, passa-se bem, porque a natureza faz sempre o que é melhor.
Ora o modo comum, na natureza, é o governo dum só. No corpo humano, há um órgão que move todos os outros: o coração. Na alma, há uma parte que preside às outras: a razão. As abelhas têm uma rainha, e no universo inteiro, só há um Deus que criou todas as coisas e as governa. Se uma pluralidade deriva sempre duma unidade, e se os produtos da arte são tanto mais perfeitos quanto mais se parecem com as obras da natureza, - o melhor governo para um povo consiste necessariamente no governo de um só. E a experiência o confirma: as províncias ou as cidades governadas por muitos sofrem dissensões, e são perturbadas pela falta de paz. Foi por isso que o Senhor prometeu, ao seu povo, como dom magnífico, dar-lhe um só chefe, e colocar um só príncipe no seu seio. E o perigo da Tirania? Consideremo-lo.
A Tirania não é o perigo exclusivo da Monarquia: a Oligarquia e a Demagogia são tiranias também, e que por serem as dum grupo ou duma classe, não são sempre menos pesadas. Se dizemos que a tirania dum só, corrupção do melhor, é a pior tirania, é na suposição de que ela fosse absoluta. Mas esta tirania absoluta é rara; a maior parte das vezes, limita-se a exercer-se sobre algumas famílias, ou sobre uma classe mais ou menos numerosa de cidadãos. Pelo contrário, quando se trata da tirania de muitos, o mal reside no próprio governo e atinge o País inteiro. Se acrescentarmos que o governo de muitos gera mais frequentemente tiranias do que o governo dum só em virtude das rivalidades dos chefes que os atiram uns contra os outros, para se eliminarem em proveito dum, conclui-se que é a Monarquia que apresenta menos perigos.
Dois males, temos que escolher um - o menor. Ora dum lado, vemos o governo melhor, pouco arriscado a cair no pior; doutro lado, vemos governos menos bons, muito arriscados a cair em tiranias, das quais a menor afectaria já a boa ordem de todo o Estado. Se, portanto, a única razão de nos privarmos do melhor regime é o receio da tirania, e se a tirania mais a temer é a dos regimes menos bons, não fica razão alguma para que não escolhamos o melhor governo: o governo dum só. Se apesar de tudo, o Rei se revelar tirano, devemos suportá-lo tanto quanto pudermos, porque muitas vezes, só se muda dum mau tirano para um pior. Mas nunca se deve recorrer à violência e ao assassinato, e deve-se procurar, pelas vias legais, obter do tirano que ele se demita, porque o povo que escolhe os reis tem sempre o poder de destituir os tiranos indignos da sua missão.
Tal a doutrina política de S. Tomás de Aquino que temos muito prazer em oferecer, resumidamente, àqueles que pelo seu conhecimento se interessaram.»
Alfredo Pimenta
(in Nas Vésperas do Estado Novo, págs.127/130)
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a) Monarquia;
b) Aristocracia;
c) Democracia.
A cada uma destas três formas correspondem três outras formas que são a sua corrupção:
a) Tirania, corrupção da Monarquia;
b) Oligarquia, corrupção da Aristocracia;
c) Demagogia, corrupção da Democracia.
A Monarquia é o governo dum povo por um só, e a Tirania é a opressão de todo o Povo. A Aristocracia é a administração do povo por um grupo de homens virtuosos, e a Oligarquia é a opressão de todo o povo ou de uma parte, um grupo. A Democracia é o governo do Estado por uma classe numerosa, e a Demagogia é a opressão duma classe social por outra como por exemplo quando a plebe, abusando da sua superioridade numérica, oprime os ricos; é a Tirania da multidão. Qual das três formas de governo é a melhor, isto é, a mais justa?
Há sempre perigo, esclarece o Doutor Angélico, ou em renunciar à melhor forma de governo, que é a Monarquia, pelo receio da Tirania, ou, pelo temor da renúncia, em adoptar o governo monárquico, correndo-se o risco de o ver degenerar em tirania. A corrupção do melhor é sempre o pior. Então, que devemos fazer: contentar-se a gente com o não estar muito bem pelo medo de ficar muito mal, ou aspirar ao melhor sem pensar no pior? A resposta só pode ser dada, depois de sabermos as razões porque a Monarquia é o melhor dos governos.
Antes de mais nada, vejamos: qual é mais vantajoso para uma cidade ou para uma província: o governo de um ou o governo de muitos? Para se responder a isto, temos que fixar qual seja o fim que deve propor-se qualquer governo. Ora a intenção de quem exerce a função governativa deve ser garantir a salvação daqueles sobre quem tem domínio. Mas em que consiste o bem e a salvação da sociedade política? Na paz, - sem a qual a vida social perde toda a razão de ser. Logo todo aquele que governa um povo deve, antes de mais nada, garantir-lhe a unidade na paz, isto é, na ordem. Logo, um regime será tanto mais útil, quanto mais eficaz for na sua missão de garantir a unidade do povo na paz. É evidente que o que é um só é mais capaz de realizar a unidade do que muitos, - como as fontes de calor mais poderosas são os objectos quentes por si mesmos. Logo, o governo dum só é mais útil ao povo de que o governo de muitos. Além disso, tudo quanto se passa naturalmente, passa-se bem, porque a natureza faz sempre o que é melhor.
Ora o modo comum, na natureza, é o governo dum só. No corpo humano, há um órgão que move todos os outros: o coração. Na alma, há uma parte que preside às outras: a razão. As abelhas têm uma rainha, e no universo inteiro, só há um Deus que criou todas as coisas e as governa. Se uma pluralidade deriva sempre duma unidade, e se os produtos da arte são tanto mais perfeitos quanto mais se parecem com as obras da natureza, - o melhor governo para um povo consiste necessariamente no governo de um só. E a experiência o confirma: as províncias ou as cidades governadas por muitos sofrem dissensões, e são perturbadas pela falta de paz. Foi por isso que o Senhor prometeu, ao seu povo, como dom magnífico, dar-lhe um só chefe, e colocar um só príncipe no seu seio. E o perigo da Tirania? Consideremo-lo.
A Tirania não é o perigo exclusivo da Monarquia: a Oligarquia e a Demagogia são tiranias também, e que por serem as dum grupo ou duma classe, não são sempre menos pesadas. Se dizemos que a tirania dum só, corrupção do melhor, é a pior tirania, é na suposição de que ela fosse absoluta. Mas esta tirania absoluta é rara; a maior parte das vezes, limita-se a exercer-se sobre algumas famílias, ou sobre uma classe mais ou menos numerosa de cidadãos. Pelo contrário, quando se trata da tirania de muitos, o mal reside no próprio governo e atinge o País inteiro. Se acrescentarmos que o governo de muitos gera mais frequentemente tiranias do que o governo dum só em virtude das rivalidades dos chefes que os atiram uns contra os outros, para se eliminarem em proveito dum, conclui-se que é a Monarquia que apresenta menos perigos.
Dois males, temos que escolher um - o menor. Ora dum lado, vemos o governo melhor, pouco arriscado a cair no pior; doutro lado, vemos governos menos bons, muito arriscados a cair em tiranias, das quais a menor afectaria já a boa ordem de todo o Estado. Se, portanto, a única razão de nos privarmos do melhor regime é o receio da tirania, e se a tirania mais a temer é a dos regimes menos bons, não fica razão alguma para que não escolhamos o melhor governo: o governo dum só. Se apesar de tudo, o Rei se revelar tirano, devemos suportá-lo tanto quanto pudermos, porque muitas vezes, só se muda dum mau tirano para um pior. Mas nunca se deve recorrer à violência e ao assassinato, e deve-se procurar, pelas vias legais, obter do tirano que ele se demita, porque o povo que escolhe os reis tem sempre o poder de destituir os tiranos indignos da sua missão.
Tal a doutrina política de S. Tomás de Aquino que temos muito prazer em oferecer, resumidamente, àqueles que pelo seu conhecimento se interessaram.»
Alfredo Pimenta
(in Nas Vésperas do Estado Novo, págs.127/130)
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terça-feira, fevereiro 22, 2005
Conferência sobre Olivença
Por iniciativa da Sociedade Filarmónica Palmelense «Loureiros» e Grupo dos Amigos do Concelho de Palmela, realiza-se no próximo dia 26 de Fevereiro, Sábado, às 17:30 horas, em Palmela, uma Conferência sobre a Questão de Olivença.
O Presidente do GAO, Dr. António Marques, desenvolverá o tema «O Sequestro de Olivença: Ofensa á História, à Cultura e ao Direito», enquanto o Dr. Carlos Luna, do COP, se debruçará sobre «A Colonização Espanhola em Olivença».
O Grupo dos Amigos de Olivença convida todos os seus apoiantes e todos os que se interessam pela «Questão de Olivença» a comparecer e participar nesta iniciativa.
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O Presidente do GAO, Dr. António Marques, desenvolverá o tema «O Sequestro de Olivença: Ofensa á História, à Cultura e ao Direito», enquanto o Dr. Carlos Luna, do COP, se debruçará sobre «A Colonização Espanhola em Olivença».
O Grupo dos Amigos de Olivença convida todos os seus apoiantes e todos os que se interessam pela «Questão de Olivença» a comparecer e participar nesta iniciativa.
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Salazar e os blogues
Como saberão os mais versados em matéria de história política, as correntes políticas monárquicas em Portugal foram progressivamente perdendo influência e peso durante os anos que se seguiram ao 28 de Maio, à medida que progredia a estabilização do regime, até se chegar à situação final que existia quando do 25 de Abril.
A este propósito não vale a pena alargar-me, basta recordar o famoso dito de espírito sobre a Causa Monárquica, acusada já na altura por todo e qualquer engraçado de ser uma notória violação das leis da física - era a única causa sem efeito.
No campo da imprensa tornou-se evidente a desertificação do campo monárquico. Em 1974 subsistia como único órgão informativo assumidamente monárquico o semanário "O Debate", situação que já vinha de há largos anos. E mesmo esse resistia com grandes dificuldades, sendo periódicos os peditórios, ou por outras palavras os apelos à generosidade dos apoiantes, para acorrerem a evitar o encerramento do jornal.
Assim era o panorama já de há muito. Já na década de 50 era usual o recurso a essas subscrições como modo de manter a balões de oxigénio o semanário então existente.
Conta-se a este respeito uma pequena história que sempre me pareceu muito significativa, e que bem merecia ser melhor analisada.
Diz-se que numa dessas ocasiões em que novamente era pedido aos assinantes que salvassm o único órgão monárquico em publicação alguém pediu a Salazar, como assinante e presumido simpatizante, que contribuísse também. Este anuiu, mas lá foi desabafando qualquer coisa como "se os monárquicos não conseguem sustentar o seu jornal como querem eles sustentar um regime".
Como sempre, as palavras de Salazar vão direitinhas ao cerne da questão que visavam. Ainda hoje é habitual encontrarmos nos meios que se dizem monárquicos teses ressentidas acerca de Salazar, que se teria servido dos monárquicos mas perfidamente nunca restaurou a monarquia, apesar de os ir mantendo nessa expectativa.
O essencial do problema histórico, a meu ver, está naquelas palavras. Salazar efectivamente, e afectivamente, olhava para a monarquia com nostalgia. Mas foi compreendendo que a avançar para a restauração iria dar de bandeja à oposição a bandeira da república; partia de um golpe a precária unidade das forças que suportavam o Estado Novo e ao mesmo tempo fazia a reunião triunfal de todas as oposições. E não haveria depois forças para sustentar o regime restaurado.
Ora vai contra toda a lógica da actuação salazarista essa decisão aventureirista de caminhar para uma guerra que tudo indicava por um lado ser possível de evitar e por outro lado não ser possível de vencer.
E deste modo nunca o regime caminhou seriamente para restaurar a república. Fundamentalmente porque os monárquicos já não eram bastantes para sustentar um jornal, quanto mais um regime.
Lembro-me desta lição muitas vezes também a propósito da blogosfera, neste espaço de tempo em que diariamente a acompanho. Não a respeito dos monárquicos, que já há poucos, e mesmo esses resignados. Lembro-me disso por culpa dos nacionalistas, das variadas tendências que compõem essa família política, os quais frequentemente se agitam em vibrantes afirmações e intenções. Mas muitos deles nem um blogue conseguem manter!...
Como querem ser sustentáculo de um jornal, ou de um partido, ou de um regime, aqueles que nem uma página na internet ou um blogue pessoal conseguem manter com continuidade e regularidade?
Não digo isto a pensar só nas dezenas de blogues que neste último ano e meio já surgiram e desapareceram, invocando as bandeiras da área nacional, sem que tenham persistido mais do que o tempo necessário para umas descargas emocionais.
Estou a dizer isto porque hoje encontrei um novo, a quem quero saúdar e desejar desde já uma longa vida na blogosfera - que venha para ficar e afirmar aqui com serenidade e firmeza a boa doutrina.
Trata-se do SALAZAR, para onde remeto os meus pacientes leitores.
Salazar sabia que o combate político exigia a resistência e a tenacidade dos homens da maratona, e não as explosões fugazes dos corredores de cem metros.
Assim o compreendam todos.
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A este propósito não vale a pena alargar-me, basta recordar o famoso dito de espírito sobre a Causa Monárquica, acusada já na altura por todo e qualquer engraçado de ser uma notória violação das leis da física - era a única causa sem efeito.
No campo da imprensa tornou-se evidente a desertificação do campo monárquico. Em 1974 subsistia como único órgão informativo assumidamente monárquico o semanário "O Debate", situação que já vinha de há largos anos. E mesmo esse resistia com grandes dificuldades, sendo periódicos os peditórios, ou por outras palavras os apelos à generosidade dos apoiantes, para acorrerem a evitar o encerramento do jornal.
Assim era o panorama já de há muito. Já na década de 50 era usual o recurso a essas subscrições como modo de manter a balões de oxigénio o semanário então existente.
Conta-se a este respeito uma pequena história que sempre me pareceu muito significativa, e que bem merecia ser melhor analisada.
Diz-se que numa dessas ocasiões em que novamente era pedido aos assinantes que salvassm o único órgão monárquico em publicação alguém pediu a Salazar, como assinante e presumido simpatizante, que contribuísse também. Este anuiu, mas lá foi desabafando qualquer coisa como "se os monárquicos não conseguem sustentar o seu jornal como querem eles sustentar um regime".
Como sempre, as palavras de Salazar vão direitinhas ao cerne da questão que visavam. Ainda hoje é habitual encontrarmos nos meios que se dizem monárquicos teses ressentidas acerca de Salazar, que se teria servido dos monárquicos mas perfidamente nunca restaurou a monarquia, apesar de os ir mantendo nessa expectativa.
O essencial do problema histórico, a meu ver, está naquelas palavras. Salazar efectivamente, e afectivamente, olhava para a monarquia com nostalgia. Mas foi compreendendo que a avançar para a restauração iria dar de bandeja à oposição a bandeira da república; partia de um golpe a precária unidade das forças que suportavam o Estado Novo e ao mesmo tempo fazia a reunião triunfal de todas as oposições. E não haveria depois forças para sustentar o regime restaurado.
Ora vai contra toda a lógica da actuação salazarista essa decisão aventureirista de caminhar para uma guerra que tudo indicava por um lado ser possível de evitar e por outro lado não ser possível de vencer.
E deste modo nunca o regime caminhou seriamente para restaurar a república. Fundamentalmente porque os monárquicos já não eram bastantes para sustentar um jornal, quanto mais um regime.
Lembro-me desta lição muitas vezes também a propósito da blogosfera, neste espaço de tempo em que diariamente a acompanho. Não a respeito dos monárquicos, que já há poucos, e mesmo esses resignados. Lembro-me disso por culpa dos nacionalistas, das variadas tendências que compõem essa família política, os quais frequentemente se agitam em vibrantes afirmações e intenções. Mas muitos deles nem um blogue conseguem manter!...
Como querem ser sustentáculo de um jornal, ou de um partido, ou de um regime, aqueles que nem uma página na internet ou um blogue pessoal conseguem manter com continuidade e regularidade?
Não digo isto a pensar só nas dezenas de blogues que neste último ano e meio já surgiram e desapareceram, invocando as bandeiras da área nacional, sem que tenham persistido mais do que o tempo necessário para umas descargas emocionais.
Estou a dizer isto porque hoje encontrei um novo, a quem quero saúdar e desejar desde já uma longa vida na blogosfera - que venha para ficar e afirmar aqui com serenidade e firmeza a boa doutrina.
Trata-se do SALAZAR, para onde remeto os meus pacientes leitores.
Salazar sabia que o combate político exigia a resistência e a tenacidade dos homens da maratona, e não as explosões fugazes dos corredores de cem metros.
Assim o compreendam todos.
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segunda-feira, fevereiro 21, 2005
PERMANÊNCIA DO FASCISMO
O primeiro trabalho a realizar devia ser o estabelecimento do que seja Fascismo. Qual o conteúdo deste termo? Que significa esta palavra? Chegaríamos à conclusão de que a empregam em diferentes acepções.
Para os comunistas, pode dizer-se que é fascista todo aquele que não for comunista; para eles, ainda, e para os democráticos, todo o autoritarista é fascista. Para a vulgaridade das massas intoxicadas e iludidas, fascista é sinónimo de opressor, de tirânico, de ímpio, de exaltado, enlouquecido, e traz um cortejo de horrores, de maldades inúmeras. Existe, ainda quem considere o Fascismo como simples fenómeno típico e exclusivamente italiano, copiado, embora, noutros países, mas continuando a ser neles coisa estrangeira e não criação universalizável nem doutrina sempre válida nos seus princípios.
Há um entendimento de Fascismo como instituições, há outro como doutrina, há outro como sensibilidade ou mentalidade ou estilo de vida.
Falarei do Fascismo como atitude intrínseca ao homem, do Fascismo nas suas linhas essenciais ou determinantes, não como Filosofia estruturada, sistema perfeito, doutrina política ou Teoria da Sociedade, do Estado, do Direito, mas sim como filosofia ou, antes, mundividência (complexo de sentimentos e pensamentos).
Drieu La Rochelle disse que Fascismo é «o nome que a eterna necessidade humana tomou no nosso século». Pois também assim o podemos considerar, ao considerarmos o que nele existe de permanente apelo humano, orientado pela espiritual busca de totalidade.
Um celebrado ensaísta, Henry S. Kariel (professor nas Universidades de Harvard e de Georgia, bolseiro das Fundações Rockefeller, Volker e Huber), no seu livro "Aspectos do Pensamento Político Moderno", apesar de várias distorções e de uma decidida oposição ao Fascismo, tem algumas interpretações que merecem registo. Transcreva-se, por exemplo: «Os textos e discursos do Fascismo revelam, coerentemente, a aspiração de produzir uma fusão prática de polaridades, de superar os vários dualismos que os homens postulam para ajudá-los a ver o sentido da sua experiência: Jânato — Eros; racionalismo — sentimentalismo; razão — volição; formalismo; mecanismo — organicismo; complexidade — simplicidade; tecnologia — primitivismo; razão — volição; formalidade — espontaneidade; lei — personalidade; Apolo — Dionísio». Quaisquer que sejam as reservas possíveis à justeza de algumas destas expressões, fica de pé o assinalamento de uma síntese de contrários ou a indicação daquela polaridade que Goethe proclamou como lei da Natureza, de vida humana, do espírito: «Duas espécies de bens constituem a respiração: receber o ar e expirá-lo. A inspiração nos comprime, a expiração nos exalta. Louvemos, pois, Deus, quando ele nos comprime, e louvemo-lo, também, quando ele nos liberta». A sístole e a diástole, o pólo norte e o pólo sul, a tese e a antítese ligam-se por um eixo. E a esfera, o global, gira em volta dele.
Se observarmos o procedimento humano, notaremos que, no fundo de cada um, existem várias aspirações sendo umas mais acentuadas do que outras, conforme as pessoas ou conforme as ocasiões, mas todas reais em todos, como num arcano, mesmo em semente ou já em árvore frondosa, ainda dormentes ou já em pleno disparo. Essas aspirações, constantes, através dos tempos e dos espaços, através da diversidade de temperamentos e de caracteres, constituem o delineamento da natureza humana. A preservação de todas elas, a sua conjugação, integração e integridade, a harmonia entre elas, será o encontro do todo humano, da sua realidade verdadeira. E a separação divergente, o desprezo ou aniquilamento de algumas, serão, afinal, o parcelarismo e a falência, o desfiguramento e o erro, o inquinamento diabólico («divisor») que entrou na humana natureza. Quanto a essas forças-aspirações, digamos que o mal das que aparecem más não reside propriamente nelas, mas sim no deslocamento ou na desarticulação que as invalida. «Nada, do que é humano, a mim considero alheio», escreveu Terêncio. Se, como afirma o ditado, «errar é próprio dos homens», isso indica a diminuição e a falha de realização humana, de realizar o humano em cada homem. Este humano é o exigível sobre-humano, o divino, que dentro de nós chama, para se cumprir. «Sois deuses», declara a Bíblia.
Pois, observando o humano procedimento, notaremos algumas aspirações-forças mais definidoras e basilares. Notaremos a sístole-diástole, a contracção-expansão, sob as formas de egoísmo-altruísmo. O homem possui a tendência para se fechar em si mas também para se dar aos outros, para o individual e para o geral, para o particular e para o universal, para o concreto e para o abstracto, para dentro de si e para o exterior, para a sua alma e para a Natureza, para a solidão e para a convivência.
A empresa de reconciliar oposições, fazer a síntese de contrários, convergir divergências; a visão e actuação totalitárias e para o todo; — pertencem a duas entidades espirituais, a duas doutrinas, e processam-se em dois planos ou esferas: destinadas a uma realização extra-terrestre, transcendente («o meu Reino não é deste mundo»), propriamente religiosas, e orientadas pelo Catolicismo, ou destinadas a uma realização neste mundo, no terreno político, em tudo que a polis integra, e deverá ser o Fascismo a fornecer a orientação. A Igreja, correspondendo à doutrina católica, o Estado, correspondendo à doutrina fascista, serão como duas faces duma realidade.
O Fascismo vem, de facto, contrariar o parcelarismo específico de certas doutrinas e vocações que no homem existem. Quando, no nosso tempo, atacam o Fascismo, é em obediência a uma atitude parceladora, que deseja expulsar algumas essenciais forças humanas, que pretende aniquilar certas fundamentais aspirações do ser humano, em vez de harmonizá-las com outras.
Aquilo que poderemos chamar a permanência do Fascismo, através dos tempos, aquilo que constituiu, por assim dizer, Fascismo avant-la-lettre, espírito fascista, mentalidade fascista, é dado pelo que se verifica permanente na natureza humana. Não se trata, evidentemente, de um pensador organizado em explicitação, de um sistema definido filosoficamente, nem tão pouco de um rígido e imutável aparelho político-administrativo, ou de uma fixa estruturação social. Trata-se de um modo de agir e de se realizar, de um estilo e de uma mundividência. Isto ganhou, através de diversos tempos, diversas formas, concretizadoras do mesmo espírito. No nosso tempo, para o século XX, a forma é a que recebeu o nome de Fascismo.
Os inimigos do Fascismo atacam-no, portanto, por motivo de ódio que alimentam a certas aspirações-força da natureza humana; e assim querem mutilar, fragmentar essa natureza, e pretendem erigir uma parte em todo ou destruir a proporção da parcela e torná-la monstruosa, em gigantismo satânico.
As razões dos antifascistas padecem, portanto, de erros deste género: pacifismo, em vez de aceitação da paz; materialismo, em vez da aceitação da matéria; angelismo, em vez do espírito; maquinização, em vez da máquina; puritanismo, em vez da pureza; etc. O antifascista combate valores permanentes, aspirações-forças da alma humana: a autoridade, a ordem, a unidade, o universal, a guerra, a violência, o sacrifício, o dever, a honra; pretende substituir-lhes — e não harmonizar-lhes — a liberdade, a iniciativa, a diversidade, o particular, a paz, a compreensão, a satisfação, os direitos, o entendimento. Daí que o antifascista caia nas piores deturpações e caricaturas do humano e do valor, nos mais graves erros, nos mais hediondos parcelarismos que se tornam exclusivistas e tirânicos.
Em contrapartida, o fascista possui uma visão e uma estima totalitária do mundo, da vida, das potências humanas. Ama e defende a presença do eu e do outro, do particular e do universal, da natureza e do espírito, do corpo e da alma, dos instintos e intuição e da razão, da sensibilidade e da vontade, dos sentimentos e da inteligência, da terra e do ideal, da Pátria e da humanidade, da classe e da sociedade, da família e dos indivíduos, do lar e de Ulisses, da paz e da guerra, do herói e do santo, do lavrador manual e do poeta, do enraizamento e do voo, dos mortos e dos que hão-de nascer e dos vivos, do passado e da actualidade, da juventude e da velhice, do sangue e da Ideia, do Pensamentos e da Acção, da Beleza e da Verdade, do operário e do aristocrata. O Fascismo quer bem à Teoria e à Prática, defende a doutrina e a técnica, deseja a harmonia e a hierarquia. O fascista exige a continuidade e a inovação, é revolucionário mantendo-se tradicionalista, é reaccionário porque inaceitante de demissão e estaticidade ou de simples moda e maioria, porque restaurador de valores obscurecidos e negados. O fascista preza os ritos, os cerimoniais, as formas, enquanto sejam expressões e transmissores de conteúdos, enquanto re-liguem e intensifiquem, porque o fascista tem um sentido religioso da vida. O fascista recusa-se a fatalismos e a ser marioneta de quaisquer fios de quaisquer ventos, afirma o poder da vontade criadora, entende o homem como lutador e demiurgo. O fascista, precisamente porque exige o todo, propõe as inserções e graduações, um sistema de valores que se unificam e se definem pelo Valor. O fascista reúne tudo numa ideia de ascensão e de Império e sabe que entregar-se ao Bem é realizar-se, que o seu enriquecimento e a sua pessoa estão na ultrapassagem do seu momento, da sua particularidade, do seu pequeno eu a engrandecer-se num Eu sempre maior, em processo espiritual.
Goulart Nogueira
(In «Agora», n.º 329, 04.11.1967, págs. 3/12)
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Para os comunistas, pode dizer-se que é fascista todo aquele que não for comunista; para eles, ainda, e para os democráticos, todo o autoritarista é fascista. Para a vulgaridade das massas intoxicadas e iludidas, fascista é sinónimo de opressor, de tirânico, de ímpio, de exaltado, enlouquecido, e traz um cortejo de horrores, de maldades inúmeras. Existe, ainda quem considere o Fascismo como simples fenómeno típico e exclusivamente italiano, copiado, embora, noutros países, mas continuando a ser neles coisa estrangeira e não criação universalizável nem doutrina sempre válida nos seus princípios.
Há um entendimento de Fascismo como instituições, há outro como doutrina, há outro como sensibilidade ou mentalidade ou estilo de vida.
Falarei do Fascismo como atitude intrínseca ao homem, do Fascismo nas suas linhas essenciais ou determinantes, não como Filosofia estruturada, sistema perfeito, doutrina política ou Teoria da Sociedade, do Estado, do Direito, mas sim como filosofia ou, antes, mundividência (complexo de sentimentos e pensamentos).
Drieu La Rochelle disse que Fascismo é «o nome que a eterna necessidade humana tomou no nosso século». Pois também assim o podemos considerar, ao considerarmos o que nele existe de permanente apelo humano, orientado pela espiritual busca de totalidade.
Um celebrado ensaísta, Henry S. Kariel (professor nas Universidades de Harvard e de Georgia, bolseiro das Fundações Rockefeller, Volker e Huber), no seu livro "Aspectos do Pensamento Político Moderno", apesar de várias distorções e de uma decidida oposição ao Fascismo, tem algumas interpretações que merecem registo. Transcreva-se, por exemplo: «Os textos e discursos do Fascismo revelam, coerentemente, a aspiração de produzir uma fusão prática de polaridades, de superar os vários dualismos que os homens postulam para ajudá-los a ver o sentido da sua experiência: Jânato — Eros; racionalismo — sentimentalismo; razão — volição; formalismo; mecanismo — organicismo; complexidade — simplicidade; tecnologia — primitivismo; razão — volição; formalidade — espontaneidade; lei — personalidade; Apolo — Dionísio». Quaisquer que sejam as reservas possíveis à justeza de algumas destas expressões, fica de pé o assinalamento de uma síntese de contrários ou a indicação daquela polaridade que Goethe proclamou como lei da Natureza, de vida humana, do espírito: «Duas espécies de bens constituem a respiração: receber o ar e expirá-lo. A inspiração nos comprime, a expiração nos exalta. Louvemos, pois, Deus, quando ele nos comprime, e louvemo-lo, também, quando ele nos liberta». A sístole e a diástole, o pólo norte e o pólo sul, a tese e a antítese ligam-se por um eixo. E a esfera, o global, gira em volta dele.
Se observarmos o procedimento humano, notaremos que, no fundo de cada um, existem várias aspirações sendo umas mais acentuadas do que outras, conforme as pessoas ou conforme as ocasiões, mas todas reais em todos, como num arcano, mesmo em semente ou já em árvore frondosa, ainda dormentes ou já em pleno disparo. Essas aspirações, constantes, através dos tempos e dos espaços, através da diversidade de temperamentos e de caracteres, constituem o delineamento da natureza humana. A preservação de todas elas, a sua conjugação, integração e integridade, a harmonia entre elas, será o encontro do todo humano, da sua realidade verdadeira. E a separação divergente, o desprezo ou aniquilamento de algumas, serão, afinal, o parcelarismo e a falência, o desfiguramento e o erro, o inquinamento diabólico («divisor») que entrou na humana natureza. Quanto a essas forças-aspirações, digamos que o mal das que aparecem más não reside propriamente nelas, mas sim no deslocamento ou na desarticulação que as invalida. «Nada, do que é humano, a mim considero alheio», escreveu Terêncio. Se, como afirma o ditado, «errar é próprio dos homens», isso indica a diminuição e a falha de realização humana, de realizar o humano em cada homem. Este humano é o exigível sobre-humano, o divino, que dentro de nós chama, para se cumprir. «Sois deuses», declara a Bíblia.
Pois, observando o humano procedimento, notaremos algumas aspirações-forças mais definidoras e basilares. Notaremos a sístole-diástole, a contracção-expansão, sob as formas de egoísmo-altruísmo. O homem possui a tendência para se fechar em si mas também para se dar aos outros, para o individual e para o geral, para o particular e para o universal, para o concreto e para o abstracto, para dentro de si e para o exterior, para a sua alma e para a Natureza, para a solidão e para a convivência.
A empresa de reconciliar oposições, fazer a síntese de contrários, convergir divergências; a visão e actuação totalitárias e para o todo; — pertencem a duas entidades espirituais, a duas doutrinas, e processam-se em dois planos ou esferas: destinadas a uma realização extra-terrestre, transcendente («o meu Reino não é deste mundo»), propriamente religiosas, e orientadas pelo Catolicismo, ou destinadas a uma realização neste mundo, no terreno político, em tudo que a polis integra, e deverá ser o Fascismo a fornecer a orientação. A Igreja, correspondendo à doutrina católica, o Estado, correspondendo à doutrina fascista, serão como duas faces duma realidade.
O Fascismo vem, de facto, contrariar o parcelarismo específico de certas doutrinas e vocações que no homem existem. Quando, no nosso tempo, atacam o Fascismo, é em obediência a uma atitude parceladora, que deseja expulsar algumas essenciais forças humanas, que pretende aniquilar certas fundamentais aspirações do ser humano, em vez de harmonizá-las com outras.
Aquilo que poderemos chamar a permanência do Fascismo, através dos tempos, aquilo que constituiu, por assim dizer, Fascismo avant-la-lettre, espírito fascista, mentalidade fascista, é dado pelo que se verifica permanente na natureza humana. Não se trata, evidentemente, de um pensador organizado em explicitação, de um sistema definido filosoficamente, nem tão pouco de um rígido e imutável aparelho político-administrativo, ou de uma fixa estruturação social. Trata-se de um modo de agir e de se realizar, de um estilo e de uma mundividência. Isto ganhou, através de diversos tempos, diversas formas, concretizadoras do mesmo espírito. No nosso tempo, para o século XX, a forma é a que recebeu o nome de Fascismo.
Os inimigos do Fascismo atacam-no, portanto, por motivo de ódio que alimentam a certas aspirações-força da natureza humana; e assim querem mutilar, fragmentar essa natureza, e pretendem erigir uma parte em todo ou destruir a proporção da parcela e torná-la monstruosa, em gigantismo satânico.
As razões dos antifascistas padecem, portanto, de erros deste género: pacifismo, em vez de aceitação da paz; materialismo, em vez da aceitação da matéria; angelismo, em vez do espírito; maquinização, em vez da máquina; puritanismo, em vez da pureza; etc. O antifascista combate valores permanentes, aspirações-forças da alma humana: a autoridade, a ordem, a unidade, o universal, a guerra, a violência, o sacrifício, o dever, a honra; pretende substituir-lhes — e não harmonizar-lhes — a liberdade, a iniciativa, a diversidade, o particular, a paz, a compreensão, a satisfação, os direitos, o entendimento. Daí que o antifascista caia nas piores deturpações e caricaturas do humano e do valor, nos mais graves erros, nos mais hediondos parcelarismos que se tornam exclusivistas e tirânicos.
Em contrapartida, o fascista possui uma visão e uma estima totalitária do mundo, da vida, das potências humanas. Ama e defende a presença do eu e do outro, do particular e do universal, da natureza e do espírito, do corpo e da alma, dos instintos e intuição e da razão, da sensibilidade e da vontade, dos sentimentos e da inteligência, da terra e do ideal, da Pátria e da humanidade, da classe e da sociedade, da família e dos indivíduos, do lar e de Ulisses, da paz e da guerra, do herói e do santo, do lavrador manual e do poeta, do enraizamento e do voo, dos mortos e dos que hão-de nascer e dos vivos, do passado e da actualidade, da juventude e da velhice, do sangue e da Ideia, do Pensamentos e da Acção, da Beleza e da Verdade, do operário e do aristocrata. O Fascismo quer bem à Teoria e à Prática, defende a doutrina e a técnica, deseja a harmonia e a hierarquia. O fascista exige a continuidade e a inovação, é revolucionário mantendo-se tradicionalista, é reaccionário porque inaceitante de demissão e estaticidade ou de simples moda e maioria, porque restaurador de valores obscurecidos e negados. O fascista preza os ritos, os cerimoniais, as formas, enquanto sejam expressões e transmissores de conteúdos, enquanto re-liguem e intensifiquem, porque o fascista tem um sentido religioso da vida. O fascista recusa-se a fatalismos e a ser marioneta de quaisquer fios de quaisquer ventos, afirma o poder da vontade criadora, entende o homem como lutador e demiurgo. O fascista, precisamente porque exige o todo, propõe as inserções e graduações, um sistema de valores que se unificam e se definem pelo Valor. O fascista reúne tudo numa ideia de ascensão e de Império e sabe que entregar-se ao Bem é realizar-se, que o seu enriquecimento e a sua pessoa estão na ultrapassagem do seu momento, da sua particularidade, do seu pequeno eu a engrandecer-se num Eu sempre maior, em processo espiritual.
Goulart Nogueira
(In «Agora», n.º 329, 04.11.1967, págs. 3/12)
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Permanência de Salazar
Conheceu e sofreu horas das mais dramáticas, mas atravessou uma existência longa e gloriosa.
Quarenta anos de governo rodeado do maior respeito e prestígio inexcedível. Entregou-se devotadamente à Pátria que serviu sem qualquer retribuição, sem qualquer vaidade. Foi chamado no momento extremamente difícil, mas Portugal depressa acreditou nesse Mestre de Coimbra e vai obtendo a Paz, a prosperidade e o respeito internacional.
Duma inteligência invulgar, um carácter inalterável, uma fortíssima personalidade, depressa se impôs e com ele os princípios que o iluminaram e dele fizeram um genial político. Erudito em matérias sociais conseguiu uma formação de cujos fundamentos nunca se desviou e com serenidade ia incutindo na Nação. Permaneceu fidelíssimo a eles e com que coragem e confiança os ditava ao Povo.
Católico por convicção, era naturalmente humano, mas duro quando se tratava de reprimir um acto que ferisse a consciência nacional. Por isso imprimiu unidade e disciplina.
Defensor da autoridade quando necessário, mas protector da total liberdade para que cada Português se valorizasse tanto mais e melhor. Humanista integral porque exigia do Homem um esforço constante no sentido de realizar a mais alta perfeição.
Fiel à verdade, recto ao seu espírito, seguro nos seus rumos, houve biógrafos e ensaístas que o consideravam uma «impressionante figura intelectual e política»; alguns até o têm por um «mistério» quando o comparam com outros chefes de nomeada. Porque foi acima de tudo um Homem de Fé.
Muitos dos grandes leaders políticos fraquejam perante as crises e são normalmente incapazes de manter uma linha de firmeza e coerência que se avizinha. Eis porque atraiu o respeito e o interesse do Mundo. Ele foi um Homem de Estado.
Um monge ao serviço da Pátria: afastado de tudo e de todos, entregou-se à meditação passando o dia a dia das quatro décadas de governo a estudar e a executar. Um verdadeiro asceta.
A Realidade-Nação compelia-o a respeitar os seus valores morais, sociais, éticos, históricos, geográficos, económicos, «se o Nacionalismo é uma expressão que se aplica mais do que à terra dos antepassados, ao seu sangue, às suas obras, à sua herança moral e espiritual, do que à sua herança material», ele é na verdadeira acepção da palavra um Nacionalista.
Porque profundamente conhecedor da Civilização Ocidental, que tem como imperativo projectar universalmente os seus valores, que assentam numa Fé comum, o Cristianismo. Ninguém como ele lutou em África, na Ásia e na Oceânia pela Civilização da Europa. Pode por isso figurar ao lado dos nossos Maiores.
Pessoas que nos merecem muita consideração o invocaram como Príncipe — pelo respeito que tributou aos Superiores Valores, pela dedicação à Pátria, pela Confiança que lhe vinha do Povo. Se a Monarquia prepara cuidadosamente os seus futuros Reis para a Nação muito deles poder exigir, ele foi um Príncipe com toda a grandeza que a palavra encerra. Por isso um Homem de excepção.
Deixou uma doutrina basilar quando afirmou: «Não discutimos Deus e a Virtude, não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a Família e a sua Moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever»...
Rasgou caminhos que nos estimulam a continuar a História de Portugal, as Virtudes do seu Povo e a defesa inquebrantável da integridade do Solo Pátrio.
Salazar não morreu, desapareceu a sua Figura, mas o Espírito permanece, agora entrou na História, cabe-nos continuá-lo. Este o nosso reconhecimento.
António Maria Pinheiro Torres
(In Política, n.º 14/15, 15/30.07.1971, pág. 10)
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Quarenta anos de governo rodeado do maior respeito e prestígio inexcedível. Entregou-se devotadamente à Pátria que serviu sem qualquer retribuição, sem qualquer vaidade. Foi chamado no momento extremamente difícil, mas Portugal depressa acreditou nesse Mestre de Coimbra e vai obtendo a Paz, a prosperidade e o respeito internacional.
Duma inteligência invulgar, um carácter inalterável, uma fortíssima personalidade, depressa se impôs e com ele os princípios que o iluminaram e dele fizeram um genial político. Erudito em matérias sociais conseguiu uma formação de cujos fundamentos nunca se desviou e com serenidade ia incutindo na Nação. Permaneceu fidelíssimo a eles e com que coragem e confiança os ditava ao Povo.
Católico por convicção, era naturalmente humano, mas duro quando se tratava de reprimir um acto que ferisse a consciência nacional. Por isso imprimiu unidade e disciplina.
Defensor da autoridade quando necessário, mas protector da total liberdade para que cada Português se valorizasse tanto mais e melhor. Humanista integral porque exigia do Homem um esforço constante no sentido de realizar a mais alta perfeição.
Fiel à verdade, recto ao seu espírito, seguro nos seus rumos, houve biógrafos e ensaístas que o consideravam uma «impressionante figura intelectual e política»; alguns até o têm por um «mistério» quando o comparam com outros chefes de nomeada. Porque foi acima de tudo um Homem de Fé.
Muitos dos grandes leaders políticos fraquejam perante as crises e são normalmente incapazes de manter uma linha de firmeza e coerência que se avizinha. Eis porque atraiu o respeito e o interesse do Mundo. Ele foi um Homem de Estado.
Um monge ao serviço da Pátria: afastado de tudo e de todos, entregou-se à meditação passando o dia a dia das quatro décadas de governo a estudar e a executar. Um verdadeiro asceta.
A Realidade-Nação compelia-o a respeitar os seus valores morais, sociais, éticos, históricos, geográficos, económicos, «se o Nacionalismo é uma expressão que se aplica mais do que à terra dos antepassados, ao seu sangue, às suas obras, à sua herança moral e espiritual, do que à sua herança material», ele é na verdadeira acepção da palavra um Nacionalista.
Porque profundamente conhecedor da Civilização Ocidental, que tem como imperativo projectar universalmente os seus valores, que assentam numa Fé comum, o Cristianismo. Ninguém como ele lutou em África, na Ásia e na Oceânia pela Civilização da Europa. Pode por isso figurar ao lado dos nossos Maiores.
Pessoas que nos merecem muita consideração o invocaram como Príncipe — pelo respeito que tributou aos Superiores Valores, pela dedicação à Pátria, pela Confiança que lhe vinha do Povo. Se a Monarquia prepara cuidadosamente os seus futuros Reis para a Nação muito deles poder exigir, ele foi um Príncipe com toda a grandeza que a palavra encerra. Por isso um Homem de excepção.
Deixou uma doutrina basilar quando afirmou: «Não discutimos Deus e a Virtude, não discutimos a Pátria e a sua História; não discutimos a Família e a sua Moral; não discutimos a glória do trabalho e o seu dever»...
Rasgou caminhos que nos estimulam a continuar a História de Portugal, as Virtudes do seu Povo e a defesa inquebrantável da integridade do Solo Pátrio.
Salazar não morreu, desapareceu a sua Figura, mas o Espírito permanece, agora entrou na História, cabe-nos continuá-lo. Este o nosso reconhecimento.
António Maria Pinheiro Torres
(In Política, n.º 14/15, 15/30.07.1971, pág. 10)
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Apreensão
Confesso que estou aqui assustadíssimo. A tremer como varas verdes e a suar por todos os poros. Com esta estrondosa vitória das forças antifascistas, que consolidam deste modo o seu domínio absoluto em todas as alavancas do poder, nem sei onde me hei-de meter.
Agora é que eles vão acabar com os fascistas todos!...
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Agora é que eles vão acabar com os fascistas todos!...
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domingo, fevereiro 20, 2005
Convívio nacionalista
Recordo que está em marcha a organização de um convívio entre nacionalistas para o próximo dia 26 de Fevereiro, sábado, em Lisboa.
Informem-se no blogue Aithgena, um dos que têm ligação na minha coluna do lado direito.
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Informem-se no blogue Aithgena, um dos que têm ligação na minha coluna do lado direito.
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Tributo a Rodrigo Emílio
A "Lavra Editorial", vai levar a efeito no próximo dia 5 de Março de 2005, pelas 15 horas, na Casa da Beira-Alta, na cidade do Porto, sita à Rua de Santa Catarina, 147 -1.º, o "Tributo a Rodrigo Emílio".
Em destaque vai estar a sua poesia através da vozes do declamador Fonseca Alves e do animador da palavra Eduardo Roseira.
Os interessados podem contactar "Lavra Editorial", na Rua Pereira da Costa, 156 - 2.º 4400-145, em Vila Nova de Gaia, ou para o email: eduardoroseira@mail.pt
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Em destaque vai estar a sua poesia através da vozes do declamador Fonseca Alves e do animador da palavra Eduardo Roseira.
Os interessados podem contactar "Lavra Editorial", na Rua Pereira da Costa, 156 - 2.º 4400-145, em Vila Nova de Gaia, ou para o email: eduardoroseira@mail.pt
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Recordando Julius Evola
Especialmente para os entusiastas e admiradores de Julius Evola, e muito em especial para os que fazem o blogue Ultimo Reduto e os Cadernos Evolianos, fica aqui a indicação do recente número da revista La Cittadella dedicada a assinalar os trinta anos do falecimento do Mestre.
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Só não reagem os mortos
"O drama de Portugal neste momento é que, no plano concreto da acção política, perdeu consciência de si. Lendo nos jornais que o rei de Espanha interveio como mediador entre o primeiro-ministro e o presidente da República, nem sequer tugiu. Defende-se já a identidade hispânica como fundamento primeiro de toda a história portuguesa, a mesma cultura, o império visigótico, uma unidade que, tendo-se esfarelado há quinze séculos, se procura agora reviver em nome simultâneo da espiritualidade e da comercialidade.
Olhando para trás e buscando o futuro, reconhecemos todos que, fora e dentro do sistema, os homens se esgotam em questões pessoais sem projecto político. O que mais monta são as questões de chefia. Uns, queimando as pestanas no estudo permanente, aguardam que os chamem, ou preparam-se para a chamada gritada do meio das cinzas fumegantes dum país em ruínas. Outros lutam desesperadamente por um lugar ao Sol, pela continuação desta torpe vida cujo fim almejado é a cadeira de ministro.
Uma luz de esperança alumia-nos o caminho de quando em vez. Continuamos para não desesperar. Voltando a citar Daudet sentimo-nos violentamente reaccionários: só não reagem os mortos — e nós só nos damos com vivos."
(Manuel Maria Múrias, in A Rua, n.º 238, 09.01.1981, pág. 16)
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Olhando para trás e buscando o futuro, reconhecemos todos que, fora e dentro do sistema, os homens se esgotam em questões pessoais sem projecto político. O que mais monta são as questões de chefia. Uns, queimando as pestanas no estudo permanente, aguardam que os chamem, ou preparam-se para a chamada gritada do meio das cinzas fumegantes dum país em ruínas. Outros lutam desesperadamente por um lugar ao Sol, pela continuação desta torpe vida cujo fim almejado é a cadeira de ministro.
Uma luz de esperança alumia-nos o caminho de quando em vez. Continuamos para não desesperar. Voltando a citar Daudet sentimo-nos violentamente reaccionários: só não reagem os mortos — e nós só nos damos com vivos."
(Manuel Maria Múrias, in A Rua, n.º 238, 09.01.1981, pág. 16)
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Fenómeno espiritual
"O movimento fascista para ser bem compreendido deve ser considerado em toda a sua extensão e profundidade, como fenómeno espiritual. Suas manifestações foram as mais poderosas e decisivas, não se deve porém parar aí. O Fascismo italiano de facto, não foi apenas uma revolução política contra os Governos fracos ou incapazes, que tinham deixado a autoridade do Estado enfraquecer-se e ameaçavam paralisar a Itália no caminho do seu maior desenvolvimento, mas também uma revolução espiritual contra velhas ideologias, que corrompiam os sagrados princípios da Religião, da Pátria, da Família. Foi o Fascismo interpretado directamente pelo povo."
(Mussolini, "Un messagio al pubblico inglese" em 5 de Janeiro de 1924; em Messagi e Proclami. Milão, Livraria d`Italia, 1929, pág. 107)
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(Mussolini, "Un messagio al pubblico inglese" em 5 de Janeiro de 1924; em Messagi e Proclami. Milão, Livraria d`Italia, 1929, pág. 107)
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sábado, fevereiro 19, 2005
FASCISMO E FUTURO
O esclarecimento de todo o processo político exige a leitura correcta dos acontecimentos, dentro de uma perspectiva ordenada de entendimentos e equações. Realismo e objectividade prescrevem uma visão fria, aberta e larga dos sucessos, para depois nos debruçarmos com a inteligência conformada em verdade e iluminação.
Ou seja: a afirmação fascista obriga hoje a uma tensão crítica, que o peso dos anos só serve para carregar a sua própria maturação — como vemos a continuidade do processo político revolucionário (nacional, social e popular), como procuramos tecer as malhas que assegurarão a continuidade da Grande Ideia, eis o que perseguimos.
Primeiro: o que temos neste momento, em Portugal? De 1820 a 1926 tivemos o Estado Velho, a Nação desapossada do Estado, os Portugueses sob o domínio das classes políticas burguesas, que asseguravam de modo permanente o divórcio entre a Nação e o Estado. O Estado não era o Estado da Nação.
Segundo: em 1926 pretendeu-se a criação de um Novo Estado, a Nação de novo no Poder, unificada nos seus propósitos e destinos, conformada à sua Vocação — a instauração de uma Política Nacional.
Pretendeu-se a criação do Estado Novo. E iniciou-se a batalha pela «transformação do Estado» (Salazar). A batalha fundamental, o combate imprescindível e necessário.
Não podemos neste momento expender uma teoria crítica desta luta pela transformação do Estado a partir do 28 de Maio, tão só assinalar o seu carácter essencial para a definição correcta de um processo político desencadeado. E concretamente, consignar a sua proposição como a perspectiva exacta por que se deve ler a Revolução Nacional, servindo-nos de referência básica para o quadro dos seus progressos e desenvolvimentos, dos seus atrasos e retrocessos, dos seus desvios e heresias: até que ponto o Estado demo-liberal se transformou num Estado Novo, verdadeiramente nacional e totalitário, e onde a independência de Portugal fosse o corolário da independência de todos os Portugueses, espiritual, social e economicamente.
Esta é a questão que os militantes têm de estudar e responder, porque da sua resposta dependerá o futuro da Revolução.
Até que ponto temos uma Revolução Nacional autêntica? Quais os factores positivos e quais os negativos? O que e quem impede que o processo revolucionário se consuma em verdade e ortodoxia? O que queremos? O que pretendemos concretamente? Quais as respostas que damos aos problemas actuais da Nação, cada vez mais à mercê da sabotagem sistemática que vem lavrando por todas as esferas?
É uma visão problemática que temos de estruturar, para provar a nossa capacidade revolucionária, ciente sempre do princípio básico de todas as revoluções — as revoluções são feitas por revolucionários.
Quando se vê proclamar que o planeamento porque se obriga o País é uma «revolução social controlada», a vigilância dos militantes da ortodoxia revolucionária deve procurar saber por quem é controlada essa «revolução», quem determina exactamente os mecanismos de uma iniciativa de que depende grandemente o destino nacional. É que quando vemos cada vez mais, em postos de decisão dos organismos planificadores, elementos que dão «apenas» uma colaboração «técnica», e cuja idoneidade política deixa muito a desejar, temos o direito de suspeitar que nem tudo se passa como deveria passar-se, gerando-se uma coligação entre o grande capital e os tecnocratas, perante o qual o Povo e a Revolução sairão certamente defraudados.
Quando a conspiração imperialista internacional procura forjar novas armas de combate contra nós, e a coberto do progresso do país se pretende entrar em pactos de servidão ao grande capitalismo apátrida, conforme poderíamos facilmente demonstrar, é caso para reforçar a vigilância e proclamar que queremos efectivamente o Estado Novo, libertado das clientelas escuras que a inteligência corcunda promove.
Quando vemos, ou quando sabemos, que até aquelas forças da ordem cujo serviço à Revolução e à Pátria são inestimáveis, por vezes são postas em cheque na altura em que o dever as obriga a cortar a direito, e são desautorizadas e escarnecidas, temos a obrigação de reforçar a vigilância, e proclamar que queremos realmente uma Ordem Nova, libertada das desordens que os espíritos anquilosados apostaram contra a nossa Pátria.
De tal modo façamos, que onde estivermos estará a Ortodoxia e a Revolução autêntica.
De tal modo façamos, que onde estivermos estarão aqueles que o povo vê como os seus mais lídimos e desinteressados defensores.
De tal modo façamos, que onde estivermos aí estará o Futuro garantido, e a Revolução e a Pátria se alegrarão em nós.
José Valle de Figueiredo
(In «Agora», n.º 329, 04.11.1967, pág. 14.)
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Ou seja: a afirmação fascista obriga hoje a uma tensão crítica, que o peso dos anos só serve para carregar a sua própria maturação — como vemos a continuidade do processo político revolucionário (nacional, social e popular), como procuramos tecer as malhas que assegurarão a continuidade da Grande Ideia, eis o que perseguimos.
Primeiro: o que temos neste momento, em Portugal? De 1820 a 1926 tivemos o Estado Velho, a Nação desapossada do Estado, os Portugueses sob o domínio das classes políticas burguesas, que asseguravam de modo permanente o divórcio entre a Nação e o Estado. O Estado não era o Estado da Nação.
Segundo: em 1926 pretendeu-se a criação de um Novo Estado, a Nação de novo no Poder, unificada nos seus propósitos e destinos, conformada à sua Vocação — a instauração de uma Política Nacional.
Pretendeu-se a criação do Estado Novo. E iniciou-se a batalha pela «transformação do Estado» (Salazar). A batalha fundamental, o combate imprescindível e necessário.
Não podemos neste momento expender uma teoria crítica desta luta pela transformação do Estado a partir do 28 de Maio, tão só assinalar o seu carácter essencial para a definição correcta de um processo político desencadeado. E concretamente, consignar a sua proposição como a perspectiva exacta por que se deve ler a Revolução Nacional, servindo-nos de referência básica para o quadro dos seus progressos e desenvolvimentos, dos seus atrasos e retrocessos, dos seus desvios e heresias: até que ponto o Estado demo-liberal se transformou num Estado Novo, verdadeiramente nacional e totalitário, e onde a independência de Portugal fosse o corolário da independência de todos os Portugueses, espiritual, social e economicamente.
Esta é a questão que os militantes têm de estudar e responder, porque da sua resposta dependerá o futuro da Revolução.
Até que ponto temos uma Revolução Nacional autêntica? Quais os factores positivos e quais os negativos? O que e quem impede que o processo revolucionário se consuma em verdade e ortodoxia? O que queremos? O que pretendemos concretamente? Quais as respostas que damos aos problemas actuais da Nação, cada vez mais à mercê da sabotagem sistemática que vem lavrando por todas as esferas?
É uma visão problemática que temos de estruturar, para provar a nossa capacidade revolucionária, ciente sempre do princípio básico de todas as revoluções — as revoluções são feitas por revolucionários.
Quando se vê proclamar que o planeamento porque se obriga o País é uma «revolução social controlada», a vigilância dos militantes da ortodoxia revolucionária deve procurar saber por quem é controlada essa «revolução», quem determina exactamente os mecanismos de uma iniciativa de que depende grandemente o destino nacional. É que quando vemos cada vez mais, em postos de decisão dos organismos planificadores, elementos que dão «apenas» uma colaboração «técnica», e cuja idoneidade política deixa muito a desejar, temos o direito de suspeitar que nem tudo se passa como deveria passar-se, gerando-se uma coligação entre o grande capital e os tecnocratas, perante o qual o Povo e a Revolução sairão certamente defraudados.
Quando a conspiração imperialista internacional procura forjar novas armas de combate contra nós, e a coberto do progresso do país se pretende entrar em pactos de servidão ao grande capitalismo apátrida, conforme poderíamos facilmente demonstrar, é caso para reforçar a vigilância e proclamar que queremos efectivamente o Estado Novo, libertado das clientelas escuras que a inteligência corcunda promove.
Quando vemos, ou quando sabemos, que até aquelas forças da ordem cujo serviço à Revolução e à Pátria são inestimáveis, por vezes são postas em cheque na altura em que o dever as obriga a cortar a direito, e são desautorizadas e escarnecidas, temos a obrigação de reforçar a vigilância, e proclamar que queremos realmente uma Ordem Nova, libertada das desordens que os espíritos anquilosados apostaram contra a nossa Pátria.
De tal modo façamos, que onde estivermos estará a Ortodoxia e a Revolução autêntica.
De tal modo façamos, que onde estivermos estarão aqueles que o povo vê como os seus mais lídimos e desinteressados defensores.
De tal modo façamos, que onde estivermos aí estará o Futuro garantido, e a Revolução e a Pátria se alegrarão em nós.
José Valle de Figueiredo
(In «Agora», n.º 329, 04.11.1967, pág. 14.)
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