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terça-feira, agosto 31, 2004

 

Um caso de estudo exemplar, para compreensão dos Jewnited States of America.

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ORGULHOSAMENTE SÓ 

Como é próprio de uma época em que a traição, a vileza, a covardia e a abjecção são os traços dominantes, o que se censura, hoje, a Salazar, é o que ele teve verdadeiramente de grande e elevado.
Classifica-se de atitude suicida a sua oposição férrea e persistente a todos os oportunismos e a todas as diversas soluções políticas, que traduziam apenas a vontade de não lutar pela integridade das fronteiras seculares de Portugal, quando foi esse, ao invés, um dos seus mais belos títulos de nobreza: ter reconhecido lucidamente que a única solução política digna era combater à outrance pela grandeza da nação, que só existia esse meio de conservar o que era nosso há centenas de anos e de assegurar um futuro de prosperidade e ordem e que, assim, no caso de se perder tudo o resto, se salvava, ainda, o bem mais precioso de um povo, que é a sua honra. Porque sobrevive-se, enquanto pátria, a uma derrota gloriosa, mas não a um abandono ao inimigo por comodismo, medo, indiferença pelo interesse comum.
Salazar foi proclamado um carrasco por ter ordenado às tropas estacionadas na Índia que se batessem, sem esperança de vitória (ao contrário do que acontecia nos demais territórios, nalguns dos quais se conseguiu, consoante é o caso de Angola em Abril de 74, uma pacificação quase completa) e exclusivamente para honrar a bandeira das quinas, sob cujas dobras tantos prodígios de heroísmo se tinham desenrolado naquelas paragens.
Da indignação da Esquerda nem se fala. Mas também na chamada direita houve quem o reprovasse. Dum lado e doutro não havia sequer uma compreensão mínima daquilo que exigiam e obrigavam as normas elementares da ética militar e patriótica - dessa ética que levou Moscardó a não ceder o Alcazar ao ameaçarem-no com o fuzilamento do filho, que fez com que guarnições alemãs de cidades das costas normandas e bretãs, cercadas há meses, esmagadas por bombardeamentos, ainda resistissem no segundo trimestre de 45, que impeliu os "MAS" italianos, no momento em que foram descobertos na noite pelos projectores do porto de Malta, a lançarem-se para a frente, nenhum sobrevivendo. E, até, sem o estímulo do patriotismo, só para cumprirem a sua palavra de soldados, se fizeram imolar no México, em Camerone, os homens da Legião Estrangeira. Tudo isto, pelos vistos, não passava de absurdos, tolices, tontarias, demências. E nem um simples "baroud d'honneur", como o dos regimentos franceses de Madagascar, isolados e abandonados, na altura do desembarque inglês na ilha, foi considerado admissível. O que era louvável e de aplaudir era depor as armas sem tir-te nem guar-te, no instante em que o exército adversário avançava em som de peleja. A entrega pura e simples eis a solução. Salazar, que pensava de forma oposta, assumiu as proporções de um monstro.
A vergonha da Índia, perante a qual não houve um sobressalto, unâmime ou quase, de dor e indignação, representou o teste, ou melhor, a provação decisiva.
Antônio de Oliveira Salazar compreendeu-o. E ,se fosse da fibra moral (ou imoral) dos que actualmente cospem injúrias sobre a sua memória, teria arrepiado caminho. Poderia desse modo conseguir pretorianos encantados da vida a protegê-lo e a louvá-lo, distribuir "panem et circenses" em abundância, captando frenéticos aplausos das multidões, obter apoios calorosos das potências dominantes, estar seguro de obter na história - escrita pelos vencedores - parangonas de um libertador formidável, à Roosevelt ou à De Gaulle.
Não o quis, e, orgulhosamente só, preferiu manter-se ao leme apontando a mesma rota, que era a rota do dever.
Ainda não tinha fechado os olhos e já se entrava no caminho das autonomias crescentes para as províncias ultramarinas (que - admitia-se sem rebuço - viriam acaso a produzir a independência futura das mesmas) como se a missão do Estado fosse andar a semear Brasis pelo mundo, em vez de velar pela intangibilidade do património histórico e espiritual herdado dos antepassados.
Depois, os ventos semeados deram as tempestades previsíveis. Veio o dia de S. Traidor e iniciou-se, oficialmente, a construção de um país novo - ou antes de uma horda movida pelos instintos de prazer e egoísmo - , para o que se procedeu, desapiedadamente, à destruição do que era um autêntico país - o nosso país. Em nome da edificação de um Portugal maior, reduziram-no a um inviável e anárquico rectângulo peninsular. Em nome da liberdade, impôs-se a ideologia obrigatória do antifascismo. Em nome dos direitos do homem espancou-se, torturou-se, elaboraram-se leis penais com efeito retroactivo, agravadas a seguir por uma triste assembleia que se chama da República. Em nome da paz, centenas de milhares de brancos, pretos e mestiços tombaram vítimas da descolonização exemplar, ao passo que milhões de outros, sem serem ouvidos e achados, foram entregues ao jugo soviético. Em nome do bem-estar dos desfavorecidos e desprotegidos, arrasou-se a economia, estabelecendo-se o princípio, que conduz à miséria geral, de que o importante é diminuir o trabalho e aumentar o ganho. Em nome da independência nacional, mendigam-se empréstimos aos capitalismos lá de fora, empenhando-se o que nos resta.
Justo é que os autores dessa obra de aniquilamento total celebrem, com júbilo, a data em que lhe deram início. Os profissionais das batalhas, vocacionados pelo "appel des armes" de que falava Psichari, que juraram dar a vida pela pátria e, ao fim de três ou quatro comissões em Angola, Moçambique ou Guiné, já estavam
fatigados e o que queriam era retornar ao remanso dos quartéis.
Só achamos mau que quantos o tornaram cinza e nada persistam em falar em Portugal, no lugar de aludirem à admirável Abrilândia que edificaram entre gente não remota e sem perigos e guerras esforçados.
Mas enquanto os coveiros da nação se arrastam no seu carnaval, aqueles para quem a fidelidade não é uma palavra vâ, para além dos vermes e pigmeus actuais, volvem as suas mentes e corações para a figura cimeira de Salazar, o derradeiro estadista nascido nesta terra para quem se pode erguer o pensamento sem se ter de corar de pejo e tristeza.
António José de Brito

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segunda-feira, agosto 30, 2004

Portal Nacionalista 


Ler é saber; todos para o portal da militância nacionalista!

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domingo, agosto 29, 2004

Seiscentos! 


O Forum Nacional está a atingir o número de 600 membros participantes.
É uma bela demonstração de como o trabalho na internet rende, e permite ter um contacto permanente com um número infinito de pessoas que de outro modo nunca poderiam estar em contacto entre si.
O que é preciso é insistir, e melhorar sempre. Em frente, camaradas!

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We control America! 

Por sugestão alheia experimentei introduzir a frase nos sistemas de busca: "we control America".
O resultado é interessantíssimo, e introduz-nos no que é talvez o problema crucial da nossa época.
Poderá a situação manter-se indefinidamente?
Será possível suportar muito mais os custos devastadores de tal situação?
Num tempo em que se desenha um mundo novo, com novas polaridades em ascensão, parecendo surgir um universo de grandes blocos, onde se distingue a China, a Índia, a Rússia, o Islão, a América, a Europa (juntas ou separadas?), e uma infinidade de poderes locais situados nas periferias e zonas de choque, a luta pelas definições geoestratégicas e pelos alinhamentos mais adequados aos interesses de cada um pode levar a pôr em questão tudo o que está, ainda determinado por condicionantes de um tempo anterior.

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sábado, agosto 28, 2004

Trabalhos de férias 

Tal como tinha acontecido no Verão passado, também estas férias de Verão se apresentam como de boa colheita para a área nacional.
Sem falar em blogues, destaco a actividade do Portal Nacionalista, do Portal Eco-Nac, e do Forum Nacional.
Tudo importantes realidades que permanecem e marcam cada dia um espaço próprio, e que nasceram todas elas nos últimos meses.
Se quisermos fazer um breve apanhado histórico da "zona nacional" da net, verificamos que, descontando uma iniciativas precursoras que se faziam notar pela paralisia,o grande impulso surgiu em Julho/Agosto de 2003 com a onda dos blogues que deram o impulso decisivo para chamar os nacionalistas a este campo de batalha. Depois ao longo desse ano de trabalho verificou-se o surgir de outras iniciativas (também o desaparecer de outras, mas isso é próprio da vida).
E novo impulso parece coincidir com a chegada deste Verão, com o aparecimento de novos blogues, de gente jovem, e também de sítios mais estruturados - o que representa um salto qualitativo.
Esta constatação leva-me a concluir que, ao menos, pode afirmar-se com verdade que o panorama é muito diferente do deserto que era em Julho de 2003. O que, não sendo suficiente para nos darmos por satisfeitos, pelo menos serve de consolação para quem se lançou nestes trabalhos, quando o desânimo ataca.

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sexta-feira, agosto 27, 2004

Filippo Tomaso Marinetti: Nota Biobibliográfica 

No ano literário que se cumpriu em 22 de Dezembro de 1976, pode dizer-se que foi escamoteado o centenário de Filippo Tomaso Marinetti. E esta ocorrência aconteceu... apesar da importância da presença literária de Marinetti em toda a renovação literária do mundo - desde a Rússia até à América do Sul -, mormente em Portugal, em que até houve ume revista com a titulo de "Portugal Futurista"... Marinetti publicava, em 1909, no "Figaro", o primeiro manifesto do Futurismo e afirmava, nele, exactamente a finalizá-lo: "Nós queremos cantar o amor do perigo, o hábito à energia e à temeridade. A coragem, a audácia, a revolta serão elementos essenciais da nossa poesia".
Quando o "Figaro" tornou público este manifesto, Marinetti não era um adventício. A grande Sarah Bernhardt declamara uma poesia sua - Les Vieux Marins- em 1897. Outra poesia sua fora premiada nos Lundis Populaires. O poema La Conquète das Étoiles viera a público em 1902. Seguiu-se-lhe um novo volume de líricas: Destruction. Le Roi Bombance- um drama para o teatro, representada no Théatre de L'Oeuvre, traz a data de 1905 e o editor era o Mercure de France. Um ano depois do manifesto, Marinetti publicava a novela Mafarka, il Futurista. Com a publicação do Manifesto termina a primeira fase da vida literária de Marinetti, essa que se caracterizou pelo uso da língua francesa na sua obra literária e pele difusão da poesia francesa em Itália. A esta sua actividade se deve a divulgação na sua pátria dos poetas Baudelaire, Mallarmé, Verlaine, Rimbaud, Gustavo Kahn, Régnier, Maeterlink, Verhaeren, Moréas, Paulo Fort, Contesse de Noailles e tantos mais que seria longo enumerá-los todos. É também nesta fase que ele funda com Benelli e Preti a revista Poesia (1905) que Ferdinando Paolieri saúda com entusiasmo e exaltação. Foi no primeiro número de Poesia que surgiu impressa pela primeira vez, uma cena do drama de D'Annunzio - Nave -, então o maior poeta da Itália, ao lado das colaborações de Pascoli, Marradi, Ada Negri, Paul Adam, Catulle Mendés e Gustavo Kahn.
No Manifesto Futurista, sem tibiezas, Marinetti afirmara: "Nenhuma obra que não tenha carácter agressivo pode ser uma obra-prima. Nós queremos glorificar a guerra - a única higiene do mundo - o militarismo, o patriotismo, o gesto destruidor dos libertários, as belas ideias pelas quais se morre". Como se vê era todo um programa de comportamento humano e os anos que se seguiram ao Manifesto comprovaram que se não tratava de palavras lançadas ao vento mas de ideias em marcha. Daí que Giuseppe Zoppi possa dizer no estudo que antecede as páginas de Marinetti no primeiro volume da "Antologia della Letteratura Italiana" (1939) que, a partir daqui, "Marinetti è il capo riconosciuto del Futurismo" e que "clamorosa fu l'adesione al Futurismo di Papini e Soffici, à Firenze".
Como o afirmei anteriormente, o Futurismo era, antes de mais nada, um comportamento. Daí que todos os que foram futuristas tivessem ficado marcados para sempre. As premissas futuristas - para eles dogmas - foram atiradas à cara dos burgueses e dos filisteus como chapadas acusatórias. Não se tratava de um diletantismo: tratava-se, outrossim, de uma afirmação. E tanto assim era que, declarada a guerra de 14, os futuristas são pela intervenção ao lado das tropas francesas. Marinetti combate na frente de batalha e é ferido. O escultor e pintor Umberto Boccioni e o arquitecto António Sant'Elia - o profeta da nova arquitectura - dão a vida pela Pátria. Eram as tais "belas ideias pelas quais se morre". Marinetti tinha afirmado, em 1911, esta proposição programática que causara espanto e que, ao diante, se realizaria, passando da potência ao acto: «A palavra Itália» deve prevalecer sobre a palavra "liberdade".
Em 2 de Dezembro de 1944, Marinetti morre em Bellagio, vitima de um enfarte, depois de ter ocupado a Presidência da Academia italiana e outros cargos honrosos.
Sobre o que foi e o que representou o futurismo deve ler-se, antes de mais nada, o que o próprio Marinetti escreveu na Enciclopédia Italiana, além do pertinente ensaio de Francesco Flora - Dal Romanticismo al Futurismo e ainda Il Poeta Marinetti, de Tullio Panteo (1908) e F.-T. Marinetti et le Futurisme, de R. Le Brun (Paris - 1911). As obras principais de Marinetti, em língua italiana, como refere Giuseppe Zoppi, no volume citado anteriormente, são Manifesti del Futurismo(4 volumes), Teatro Sintetico Futurista(2 volumes), Scelta di Poesia e Parole in Libertá, L'Alcova d'Acciaio, Futurismo e Fascismo, Novelle coile Labra Tinta, Il Fascino dell'Egipto, L'Aero Poema del Golfo della Spezia, Il Poema Africano della Divisione "28 Ottobre".
Amândio César

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quinta-feira, agosto 26, 2004

A LÍNGUA PORTUGUESA - essa desconhecida 

A imprensa, quer falada quer escrita, tem vindo, com uma fúria ignorante e pedante, a destruir diária e sistematicamente a língua portuguesa, como se de bicho daninho se tratasse. Esta acção perniciosa a que todos nós assistimos, mais ou menos impávidos, não é nova: vem já de há longos anos, embora seja agora mais visível e atrevida e, sobretudo, ainda mais ignorante. Escritores que amaram a nossa língua, com o amor que ela devia merecer de todos nós, chamaram vezes sem conto a atenção para este facto. Para só citarmos alguns, de entre mortos e vivos, lembramos os Profs. Agostinho de Campos e Rodrigo de Sá Nogueira e os escritores Tomaz de Figueiredo, João de Araújo Correrá e Domingos Monteiro. Mas muitos outros, directa ou indirectamente, lutaram com denodo por esta língua que ainda hoje também nós queremos que seja portuguesa.
É evidente que quando dizemos que a imprensa é responsável pela destruição sistemática da nossa lingua sabemos perfeitamente que não têm os jornalistas essa intenção clara e determinada. Mas há - e é necessário dizê-lo e repeti-lo até à saciedade - ignorância, muita ignorância, que faz com que esses mesmos jornalistas contribuam, de facto, para a destruição da língua portuguesa. O cuidado que seria necessário ter na redacção das notícias desapareceu; e o improviso atabalhoado, a que chamam muitas vezes à-vontade, redunda quase sempre num chorrilho de lugares-comuns ou de frases mal sonantes e de trazer por casa, no verdadeiro sentido da expressão.
Além disso, em nome de uma mal interpretada fidelidade ao pensamento do entrevistado, publicam-se respostas onde proliferam os solecismos, abundam os estrangeirismos e campeiam os neologismos desnecessários. Quanto às frases ocas e vazias de qualquer significado, que de há anos para cá toda a gente usa e ninguém sabe ao certo o que significam, é melhor nem falar, porque estão a tornar tragicamente ridículas as pessoas que as proferem. O pretensiosismo leva os que não conhecem a língua que dizem sua a começar todas as frases por "pois", a terminá-las por "e não só" ou "já" e a pôr-lhes no meio, à cautela, "salvo melhor opinião". E como o disparate se propaga assustadoramente depressa, temos qualquer dia todo este Portugal a falar por chavões, por lugares-comuns, por frases estereotipadas que ninguém sabe o que querem dizer mas toda a gente, pedantemente, finge entender.
Como se isto não bastasse para liquidar sumária e ingloriamente a língua de Camões - porque, não convém esquecê-lo, esta é a língua de Camões, autor de "Os Lusíadas", actualmente mais de fama universal que nacional -, fez-se uma reforma do ensino em que a língua, uma vez mais e ainda, foi vítima de uma falta de senso e de cuidado que, se não é criminosa, para lá caminha. A pretexto de actualizar os programas de Português do ensino secundário, ideia que já vinha pelo menos do ano lectivo de 1971-72, puseram-se de lado as breves mas tão necessárias noções da lingua latina - de onde, por espantoso que pareça, provém a língua portuguesa; deu-se demasiada importância às chamadas "noções de carácter linguístico", que os alunos dificilmente entendem porque mal preparados e os professores com dificuldade ensinam; valorizou-se de tal modo a criatividade dos alunos que estes, sem bases de qualquer espécie, tornaram-se incapazes de escrever uma simples carta à familia; e, por fim - embora seja dos pontos mais importantes - "sanearam-se", como agora se diz, os clássicos, ou seja, os que deviam ser ensinados nas classes, substituindo-os por textos de maus escritores ou de indivíduos cujo único lugar era na carteira dos alunos, presidindo a esta escolha o critério ideológico e não o cultural ou o literário. Perante isto, só por verdadeiro milagre podem os alunos das nossas escolas saber falar e escrever correctamente a língua portuguesa. E os milagres não surgem todos os dias, nem mesmo todos os anos lectivos, porque senão deixariam de ser milagres.
O povo - de quem tanto se fala agora a propósito e a despropósito - o povo simples onde foram os nossos maiores escritores buscar palavras e expressões, e que durante anos guardou, como se fora relíquia, a pureza e a graciosidade da nossa língua, também ele se deixou corromper pelos que vinham da cidade ou do estrangeiro e cuja fala viciada se difundiu com a celeridade com que o erro normalmente se propaga. Depois, foi a imprensa que chegou a toda aparte e tudo se perdeu. "Houve tempo em que o povo foi mestre da língua. Hoje, corrompido pelo mau locutor e pelo mau escritor, é um vaso de tolices", disse João de Araújo Correia no seu livro sintomaticamente chamado "Enfermaria do idioma". Um livro a ler e a reler, pelos que ainda amam esta língua.
Defender a língua portuguesa pode parecer pregar no deserto ou falar a surdos. Mas às vezes, quando não querem os homens ouvir a voz da razão, é necessário pregar no deserto ou falar a surdos. Foi por isso que Santo António foi pregar aos peixes: e só então os homens o ouviram.
É urgente defender a língua portuguesa. A língua portuguesa que se está a transformar na imagem falada de um país destruido. E se queremos realmente que os nossos filhos amanhã não se envergonhem de nós, comecemos já hoje por amar, por falar e por escrever a nossa língua como ontem a amaram, a falaram e a escreveram todos aqueles que a difundiram por todo o mundo e no-la legaram para sempre.
António Leite da Costa

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MODELO PORTUGUÊS 

Haverá um modelo revolucionário português? Quer dizer, a sucessão de episódios trágicos e cómicos, a série das inventonas e contra-inventonas que fazem avançar o processo, a lista interminável de soluções e opções que se experimentaram no País e no Povo e que tiveram, como saldo líquido, aniquilá-los, pô-los na margem da insolvência e da fome, constituem uma trama inteligível, susceptível de ser reduzida à percepção do comum, através da sua integração em categorias mais ou menos abstractas e gerais, ou não passará dum somatório enrodilhado de eventos, uma miscelânia incoerente de acções, tão desconexas e imprevisíveis, como as personalidades que, pelo menos oficialmente, lhes estiveram na origem?
Além deste, outro problema haverá a pôr: admitindo o nexo intrínseco revolucionário, apresentará o caso português características originais, que o autonomizem ou distingam face a outras experiências análogas, ou poderá integrar-se numa "teoria geral da Revolução", com uma ou outra nota diferencial de somenos importância?
Comecemos pela última questão. E, na pista dalguns comentadores destas coisas, vejamos o que Portugal não foi ou não é, a fim de chegarmos a uma aproximação do que tem e pode ter sido.
Os testemunhos dos contemporâneos são sempre suspeitos. Há, neste rectângulo do Sul da Europa, um gosto pelo drama (geralmente restrito à narrativa) que leva o cronista a alegorias e comparações um tanto forçadas, que, entretanto, na medida em que lisonjeiam os actores em cena e seus espectadores, são bem acolhidas pelo comum. Assim, não sei bem quem disse que, com o 25 de Abril, tínhamos tido, ao mesmo tempo, 1789 e 1917, a revolução burguesa e a revolução socialista, a declaração dos direitos do homem e a instauração dos sovietes! O que será de mais.
Então o que foi ou é Portugal, dentro das imagens caras à imaginação de incuráveis e exaltados românticos, que descobriram o mundo no dia 25 de Abril? A França de 89, a Rússia de 17, a Espanha de 36? Cuba, o Chile, a Albânia? A Europa do bem-estar e da democracia com o atraso da ditadura? Olhemos, mais de perto e sem os bons vidros do progressismo, optimista ou pessimista, o quadro destes quase três anos de revolução.
A França de 89-96? A distância, em termos de Antigo Regime, vai dos Bourbons ao Dr. Marcello Caetano, do fanatismo do Incorruptível à paranóia litigante de Vasco Gonçalves, do oportunismo, em grande estilo, dum Talleyrand, à esperteza saloia dum Costa Gomes, do esquerdismo ardente de Saint-Just à megalomania vaudevillesca de Otelo; além disso, não encontro, mesmo no Thermidor, lugar para o inefável Dr. Soares e seus amigos. E muito menos se vislumbra qualquer Napoleão, enquanto que o Império,esse, se foi, por obra e graça da mesma revolução.
A Rússia em 1917? Na Rússia a revolução nasceu da derrota militar; em Portugal, provocou-a. Além disso, Lénine sempre era Lénine (embora o Dr. Alvaro Cunhal tenha prestado enormes serviços à pátria comum) e não tinha, para tomar o Poder, que se preocupar com os interesses estratégicos mundiais da União Soviética. As semelhanças estão nos Kerenskys e nos "militares liberais"... E também não arrumo aqui o Dr. Soares.
A Espanha em 36? Faltaram os Mola, os Queipo de Llano, os Aranda, o Tércio, os requetés, os camisas azuis, um Exército de Africa para salvar a metrópole. Faltou, sobretudo, o senso político e estratégico de Franco, esse, sim, um consumado militar profissional que aproveitava os tempos livres para ler. A Esquerda não está mais bem servida, embora, com alguma imaginação, D.Isabel do Carmo desse uma razoável passionaria e os soldados do cravo au peito, de farrapo e sapatilha, lembrassem milicianos anarquistas da melhor apanha. Mas faltava-lhes o resto...
Também não descubro lugar para o Dr. Soares e sua corte. Indalécio Prieto tinha garra, era gente. E Largo Caballero, lembra, sim, Cunhal. Gente, repito.
Cuba? Houve quem julgasse e quem quisesse que sim. Mas os Portugueses sabiam fazer, em 1974, qualquer coisa mais que cortar cana de açúcar. E peones só os havia no Alentejo. Depois, Fidel tem mais alguma cultura livresca que o ex-encarregado do COPCON, e deixaram-no levar para o Campo Pequeno de La Habana quem lhe apeteceu.
O Chile? É uma imagem cara ao masoquismo da Esquerda e aos sonhos de révanche dalguns direitistas que, a seu tempo, se mostraram menos combativos. Mas não há Pinochet (só pinochachas, como o outro) e apesar de tentar dar ares de vitima propiciatória, não vejo o pacatíssimo Dr. Soares, rodeado por Zenha, Alegre e Rego, de capacete de guerra e canhota, morrendo num S. Bento transformado em bunker da legalidade, face à investida dos tanques facciosos. J'y crois pas. De Allende só a viúva! - parece-me ser o lema dos nossos socialistas, que vão fazendo o pé, as malas e as contas para eventual exílio, preparando alibis de como o socialismo na liberdade se ficou em terras lusas.
Quanto à Albânia era uma ideia, se não me engano, duns grupos revolucionários que costumavam afogar-se mutuamente no Tejo. Embora para lá caminhemos - pelo menos do ponto de vista de alegria de viver perspectivas de futuro - 99% dos Portugueses não deve saber onde está a Albânia.
Então o que fica? Reduzidos à estrita dimensão dos nossos passos e consequências, há que buscar neles o ponto da questão, embora, achado este, não faltem símiles e perspectivas, ainda que não tão grandiosos como pretenderiam alguns aprendizes de letras e feitiços.
Mas,isso, é outra questão.
Jaime Nogueira Pinto

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quarta-feira, agosto 25, 2004

O SILÊNCIO DA CULTURA 

A cultura portuguesa sofreu praticamente um eclipse nestes últimos anos. Basta frequentar as bibliotecas, entrar nas livrarias ou ler os jornais para se ter plena consciência disto. É certo que muitas editoras tiveram, pelo menos aparentemente, um grande aumento de actividade e surgiram novas editoras que produziram livros como quem produz pão: quase diariamente. Publicou-se muito do que não convinha publicar e pouco - ou quase nada - do que interessava pôr cá fora. Traduziram-se - quase sempre mal e apressadamente - obras de autores medíocres e a granel, certamente com a intenção de as vender a peso. Apareceram tantas revistas e tantos jornais que é difícil saber quantos há actualmente, embora tenham desaparecido, ou perdido em seriedade e importância, as revistas de índole cultural ou as páginas literárias dos jornais diários. Realizaram-se sessões de dinamização cultural, encontros, colóquios, mesas-redondas. E, no entanto, pouco ou mesmo nada se lucrou com toda esta laboriosa actividade, porque os seus intuitos não eram culturais mas pura e simplesmente políticos.
Alguns escritores abandonaram os géneros literários que tinham cultivado anteriormente e publicaram obras de exegese política, no que rivalizaram muitas vezes com os próprios intervenientes - agora também eles escritores - dos acontecimentos históricos que pretendiam interpretar e que, normalmente, só tinham pegado na caneta e no papel para escrever cartas à família. Na euforia política, tudo se publicou, sem cuidar se bom, se mau, sob a ténue capa do argumento do valor do testemunho, que não é suficiente para justificar a publicação de obras medíocres e as mais das vezes destituídas mesmo de qualquer interesse documental. A cultura especificamente portuguesa desapareceu, assim, quase sem deixar rasto, salvo uma ou outra excepção, perdida ingloriamente na selva obscura da enxurrada editorial.
A política pretendeu roubar o lugar à cultura, quer através de arbitrários saneamentos - agora considerados "selvagens" por muitos dos que então os aplaudiram - de pessoas e de instituições, quer também pelo desprezo, que em alguns casos se transformou em ódio baixo e mesquinho, por tudo o que fosse especificamente nacional e verdadeiramente português. A Língua, que talvez seja necessário lembrar é um dos símbolos da unidade nacional, tem sido alvo de todo o tipo de ataques e de incúrias, fruto muitas vezes apenas da falta de cultura e de dignidade dos que teimam em falar publicamente uma língua que mal conhecem em privado.
Proscritos os clássicos, porque sabiam demais, usa-se agora, com ar pomposo
e grave, a linguagem da gíria ou do calão, aquilo a que já Bluteau chamava,
no séc. XVIII, a "Linguagem dos Marotos". E, no entanto, enquanto nós aqui, nesta faixa que agora querem mais europeia do que dantes, desprezamos a língua que é veículo de cultura e traço de união entre todos os portugueses, na vizinha Espanha, mais propriamente na Galiza, renascem os estudos tendentes a uma unificação ortográfica galego-portuguesa, que não tire as características peculiares ao galego moderno, antes as fortaleça.
A História, que não é apenas o estudo do que se passou mas sobretudo daquilo que permanece e daí que seja, no dizer de Cícero, o testemunho dos tempos e a mestra da vida, desapareceu - em determinado período que nada nem ninguém nos garante não volte num futuro próximo - praticamente do currículo escolar, para que a lembrança da grandeza do passado não nos mostre, por contraste, a mesquinhez do presente. Mas assim como não é destruindo os padrões dos navegadores de quinhentos que a histórica presença portuguesa m África desaparece, também não é esquecendo a nossa História que ela deixa de existir. E o tempo, que tudo cobre e põe no seu lugar, há-de vir, no futuro, juntar à História do passado a anti-História do presente.
A arte, que é outra manifestação da cultura nacional, é considerada agora apenas pelo seu valor económico. As obras de arte são vistas, não pelo valor que têm em si mesmas, mas pelo que representam em termos de desenvolvimento turístico e económico. Os monumentos atraem os turistas como o mel as moscas e, por isso, há que defender e preservar essas obras de arte. Mas só por isso. O resto, para usar a linguagem estereotipada do presente, é "uma atitude burguesa que a nada conduz".
A literatura nacional foi absorvida, como já se disse, pela política; e o nível baixou assustadoramente, como as águas das albufeiras em período de seca. Faltou-lhe a sinceridade e a audácia para ultrapassar a mediocridade que se foi instalando aos poucos em toda a parte e em todos os lugares.
Tornou-se monocórdica, repetindo incessantemente lugares-comuns e frases ocas. Os rasgos de génio, ou de talento, extinguiram-se ou quedaram-se no fundo das gavetas esquecidas que talvez o futuro venha teimosamente a abrir.
A política reduziu a cultura ao silêncio. O fenómeno não é, porém e infelizmente, novo. Já Oliveira Martins o detectava, em pleno regime liberal: "A vazia agitação política, resultado necessário dos regimes parlamentares, parece condenar os pequenos países a uma esterilidade intelectual, porque absorve todas as capacidades desde que desabrocham. A direcção moral que só a ciência pode dar desaparece, e os institutos e as academias vazam-se para encher o parlamento e alimentar o jornalismo. Vê-se, pois, uma educação aparentemente mais extensa, mas de facto sem intensidade, nem vigor, condenada a uma decadência fatal. Não se sabe mais do que o praticamente indispensável, e por isso mesmo a craveira do saber necessário se fecha diariamente, chegando-se afinal a uma vulgaridade banal".
Há, na história das nações, silêncios fecundos que são gérmens de futuras realizações culturais. São como que pausas para meditação. Mas também há silêncios que são prenuncios de morte. E então de nada vale ter-se uma riquíssima tradição cultural. Será o actual silêncio da nossa cultura um silêncio fecundo? Só o futuro, que nós quisermos e soubermos construir no presente, nos dará a resposta.
António Leite da Costa

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terça-feira, agosto 24, 2004

Arquivos de Abril 

Eu sei que nesta terça-feira não publiquei nada. Não tive tempo. Mas vamos lá a conversar francamente: já leram os magníficos textos que eu aqui coloquei para vocês no passado mês de Abril? Não? Então se não leram esses porque vêm para cá reclamar outros?
E olhem que nessa altura andava realmente inspirado...

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segunda-feira, agosto 23, 2004

L'Esprit Public 


Em Orange, de 25 a 28 de Agosto, decorre a Universidade de Verão promovida por L'Esprit Public, onde se destacam Jacques Bompard e Bernard Antony.
Espreitem o pograma, ou se puderem vão passear a França...

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As revoluções são sempre iguais 

Há duas histórias: ou melhor, dois discursos. O dos revolucionários e o dos reaccionários, o dos vencedores e o dos vencidos, o dos que fazem a História e o dos que a sofrem. Oficialmente, a Revolução Francesa foi um movimento libertador; e talvez até tenha sido. Qualquer criança desta metade do mundo aprende a tomada da Bastilha, a Declaração dos Direitos do Homem, a Abolição dos Privilégios. 0 Terror, a Guilhotina, os afogamentos de Nantes, os massacres de Lyon, o genocídio da Vendeia, são, ao lado, pequenos episódios, preços necessários, o tributo ao grande deus das Revoluções. Quase notas em pé de página, numa narrativa heróica feita de
imagens d'Épinal, jovens de cabelos ao vento, glórias libertadoras, esmagando os símbolos odiosos do Antigo Regime.
Foi preciso um século para que se começasse a contar o outro lado das coisas, a contabilizar, a fazer o balanço.
Também aquém-Mancha se aprende a admirar as modelares instituições britânicas. A guerra civil, a ditadura militar dos iluminados cabeças redondas, o genocídio irlandês operado pelas tropas do Protector, são também episódios, pormenores, a tal conta de cadáveres e destroços que a Liberdade manda aos povos que a escolhem.
0 marxismo é uma espécie de religião para intelectuais e proletários dalguns países do Ocidente. Para os pequenos caciques da agit-prop, para os aparatchiks dos srs. Marchais, Carrillo ou Cunhal, para os escritores antifascistas profissionais, a Revolução Vermelha de Outubro é uma epopeia. Como as sagas dos Heróis para os bárbaros do Norte, a viagem dos Argonautas para os árias do Egeu, os filhos da Loba para os romanos da República, a vida de Washington para os jovens da Nova Inglaterra. Fala-se de Lenine, mas esquece-se Estaline; há o "Potemkine"; mas ninguém se lembra da Tcheka; pintar-se-ão alegorias, de mau gosto mas boa intenção, do assalto ao Palácio de Inverno. Mas fica esquecida a Lubianka e nunca ninguém fotografou uma cela da NKVD ou filmou a marcha para a morte dos "koulaks". Quanto à
estatística dos cinquenta milhões de vítimas da construção do socialismo na URSS, estabeleceu-se que é uma provocação fascista. Mesmo para os mais rigoristas haverá sempre uma bela escusa: a moral dos resultados.
Assim, o discurso político acaba por ser o discurso mítico; das arengas de ocasião, das grandes frases de estilo, da linguagem pródiga em superlativos e retórica, só por milagre sairia qualquer coisa parecida com a realidade. Vendedores de ilusões, fabricantes de lendas, os homens que exercem a política por profissão, têm que alimentar o gosto dos seus clientes, do seu público, dos que os hão-de aplaudir, levar em ombros, votar em cerimónias solenes, quadrienais, festivas. 0 resto fica para a História. Que, por definição, trata de factos e pessoas passados, isto é, mortos.
A revolução de Abril de 1974 entra nesta parada mitológica que alimenta as gazetas e seus próceres. Compõe-se uma história singela, aventureira, com bom fim, para uso doméstico e exportação. Os capitães são jovens, democráticos, as armas levam cravos, o povo está alegre. Não corre sangue, senão duns populares, no assalto final aos quartéis da polícia política. Assim podem vir os estrangeiros e fazer uma bela reportagem - "De como os militares democratas derrubaram a velha Ditadura".
O resto fica para a História a fazer; pelos vencedores, enquanto dura a euforia, pelos vencidos na hora de pagar a conta. Assim há-de passar muita água no Tejo até que se comece a falar das tramas e conluios subjacentes; até que se desmistifique muito desta Abrilada folclórica, da acção dos serviços secretos das grandes potências, das contas na Suíça para alguns "heróis", das embaixadas estrangeiras que funcionaram como pivots e centros de contactos, dos compromissos assumidos por altos dirigentes do Regime vencido para com os vencedores, das estratégias estabelecidas, muito longe, nos centros conhecidos ou clandestinos que conduzem a vida dos homens e povos que se deixam mandar, ou são traídos por alguns dos seus ao serviço das internacionais - do cifrão, da foice e martelo, do compasso e esquadro, da rosa encarnada, sabe-se lá!
Na hora da verdade, que para os Portugueses é a vigésima quinta, mesmo a quem pode começar a puxar-lhe os fios falta às vezes a ânimo. Há tanta coisa irremediável que qualquer um se queda perplexo ao remexer estas cinzas quentes do que foi uma Pátria, os arquivos da sua destruição, os nomes dos seus assassinos, homicidas voluntários ou involuntários réus de premeditação e traição ou pobres-diabos mentecaptos, que um dia ultrapassaram, levados pela ambição, um grau de incompetência excedido há muito.
Mas é assim. Fruto de acaso ou da necessidade, da sorte ou da conspiração, uma revolução destruiu um povo, transformou a qeopolítica dos blocos, alterou as relações de força em dois continentes, abriu portas, quem sabe, para conflitos de grandes proporções em dois pontos quentes do mundo - a Península Ibérica e a África Austral. Dessa revolução todos fomos agentes, testemunhas ou vítimas. Com ela todos perdemos ou vamos perder. Talvez por isso tenhamos o dever de a contar, ainda que, na verdade, a lição alheia nunca sirva de escarmento a ninguém.
Jaime Nogueira Pinto

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domingo, agosto 22, 2004

Do imperativo da cultura 

A verdade é que um dos meios principais, não o mais violento mas certamente o mais hábil, de desarmamento dos povos é o apagamento da memória. Acaba-se com o ensino da história, atira-se para um canto o ensino da língua, declara-se que não há tempo para a literatura nacional - e chega-se com rapidez estonteante a uma geração que desconhece tudo, mas tudo, sobre o seu passado colectivo, as suas raízes, mais próximas ou mais distantes. Um povo que se desconhece não pode amar-se nem estimar-se, e está disponível para todas as abdicações. Hoje em Portugal o primeiro obstáculo para a comunicação é logo à partida a ignorância crassa; tudo o que é nosso, mesmo o mais elementar, é encarado como extraordinária revelação pelas massas estupidificadas.
O problema com as novas gerações é sobretudo esse. Como pode ler e pensar capazmente quem não domina mais que um português rudimentar, incapaz de articular uma frase com sentido ou exprimir um pensamento?
O que podemos e devemos fazer é lutar contra o esquecimento, cultivar o gosto e o apelo da memória. É importante insistir e manter acesa a chama, para que um núcleo, ainda que pequeno, possa ir descobrindo, por vezes com maravilhamento, que há muito mais do que aquilo que lhes foi impingido como cultura oficial.
Cada um de nós deve fazer o que puder para não levar consigo aquilo que conheceu e amou, para transmitir o que recebeu. Acredito que a paixão é contagiosa, e que a sedução opera sobretudo por via encantatória.

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sábado, agosto 21, 2004

O morto que não morreu 

Os grandes Mortos têm essa qualidade de vida, de permanência que os torna companheiros e oráculos pelo mistério da sua intrínseca contemporaneidade.
Nos dias que correm, quantos estão tentados a reflectir no legado dos que foram, como o Prof. Salazar, titulares de uma época, consanguíneos dum desespero e duma esperança colectivas? Talvez poucos e, por outro lado, porventura milhões, porque a tragédia deste País começou a alvorecer, como alvorecem a noite e o pesadelo, quando se começou a viver a tentação das divisões e das disputas vitais. É que os povos com a substância e o perfil tão marcadamente peculiar deste abandonam o fascínio dos Ideais quando o relógio do tempo avança os ponteiros para o obscuro e terrível minuto que devasta o rosto do Chefe, convocando todas as perplexidades e todos os terrores para um futuro desencarnado da pulsão vital daqueles que souberam ou poderiam modelá-lo.
Com a debilidade de Salazar, com a sua insuficiência e o seu desgaste, os países que coabitam aqui tomaram caminhos diversos para confluirem ao cabo do tempo que cada qual teve para os percorrer, no definitivo fim de Portugal, como aqui e ali se entendia, amava e servia.
Salazar, enfim, não morreu, mas o país acabou. A permanência desse homem singular impele à aguda urgência de uma meditação sobre a campa rasa, sobre a palavra redescoberta, sobre o exemplo obscurecido pela lonjura dos dias e a maledicência feroz dos que tiveram apenas a coragem fácil da fúria abjecta de retalharem dois cadáveres: o de um homem e o de um povo.
"Se Salazar fosse vivo não haveria o 25 de Abril!" - desabafa-se com mais profundidade e clarividência do que parece à primeira vista. Mesmo reduzido a um despojo, olhando os lacaios, os fâmulos e o jardim com a pureza penetrante do olhar que têm os velhos e as crianças, não teria havido um 25 de Abril, que foi, nada mais nada menos, que a ausência do Príncipe - tão varonilmente elaborado nesse claustro da solidão e do silêncio, povoado pelos cheiros do Império, pelas suas obrigações e pelos seus imperativos. É que parece cada vez mais evidente que não era Salazar que metia medo, mas eram "eles" que tinham medo, aquela espécie de pânico supersticioso que se tem pelos ausentes que erram na impregnação dos longos convívios. Desfiguraram-lhe a casa e exilaram-lhe os móveis, para apagar o gesto lento e pálido que os que partem implantam na geografia dos domínios que configuraram.
Este país e estes homens têm o pendor feminino para as reincidências no pecado até ao apagamento do último protesto da virtude.
Este país e este povo matam os seus heróis e fogem dos seus cadáveres. Salazar, em suma, mesmo moribundo, interditaria os caminhos que foram dar ao Carmo, ou talvez fosse melhor dizer, ninguém tentaria imaginar a possibilidade de chegar ao Carmo, essa trágica e ridícula confluência de tanques desengonçados, de soldados que não teriam mais que ir para o Ultramar, de progressistas permissivos, de cidadãos cansados pela vigília da desencantada nostalgia dum Chefe.
Tudo o que se pode dizer de Salazar não deveria andar muito distanciado da procura crítica duma nova esperança construída no desprezo da voracidade canibalesca dos partidos, na gula dos secretários-gerais ungidos na fulgurante dissipação do País e no ridículo sangrento da conquista do direito de roubar ao futuro o património que o sustentaria.
"Eles" tinham medo de Salazar e se continuam a tê-lo ainda tão fundo, tão odioso e tão sacrílego é porque ele viverá um dia, na vocação diferente de quem retome a grandeza, a severidade e o magistério para livrar o povo das agruras e das misérias da "liberdade".
TAVARES DE ALMEIDA

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sexta-feira, agosto 20, 2004

Os nossos amigos do Blogue de Esquerda 

Os leitores nem sonham a quantidade de fascistas que há lá pelos lados do Blogue de Esquerda. Eu, que tenho o hábito de verificar de onde me vêm os visitantes, é que dou por ela a cada passo. Volta não volta, lá está: o visitante vem do Blogue de Esquerda. Nem calculam a alegria que sinto. Ninguém gosta de pertencer a uma minoria que dizem estar a caminho da extinção. Minoria vá que não vá, não me ralo, agora falarem-me em vias de extinção é que me aperta logo uma dor aqui de lado que nem vos digo nem vos conto. Mas assim fico melhorzinho: afinal há muitos, fascistas até à medula, lá pelas bandas do Blogue de Esquerda. Normalmente não se nota porque eles andam disfarçados. E fazem bem, que os tempos vão maus. O melhor é continuarem a disfarçar e esperarem por melhores dias senão ainda arranjam chatices. Mas no fundo dos seus corações eles são fiéis; e de quando em vez não resistem a vir dar uma espreitadinha, purificar a alma nos ares lavados deste blogue ideologicamente despoluído, sem sombra de contaminação pelos venenos da época.
Escusado será dizer que têm aqui uma casa às suas ordens. São bem vindos,e podem aparecer à vontade. Nós não dizemos a ninguém. E não precisam de andar a espreitar às escondidas como os miúdos que se escondem na casa de banho para furtivamente dar uma olhadela a uma revista proibida sem a mãe dar por nada. Venham sempre que quiserem.

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Salazar, visto por Charles Maurras 

Em Maio de 1951, Charles Maurras, velho e doente, escrevia da prisão/hospital onde se encontrava uma carta ao Presidente Salazar, que seria de seguida entregue em mão em Lisboa. É a carta do célebre apelo "Restez! Tenez!".

A Sua Excelência, M. Salazar
Presidente do Governo Português
Lisboa

Sr. Presidente,
O meu querido amigo Marcel Wiriath, que parte para Lisboa, onde terá a honra de cumprimentar Vossa Excelência, propõe-me ser portador de uma mensagem minha. Se bem que Wiriath não tenha metade da minha idade, é já um veterano da Action Francaise. Quando me meteram na prisão e o meu sobrinho e filho adoptivo se tornou meu tutor, Wiriath aceitou servir-me como sub-tutor. Isto é dizer da sua velha amizade, que não pode enganar-se sobre os meus sentimentos: ele adivinhou a satisfação com que eu desejava aproveitar o ensejo para lhe dizer, Senhor Presidente, a admiração entusiástica que me inspiram os seus trabalhos, os seus êxitos, o seu triunfo e, desde há algum tempo, a aguda curiosidade com que é seguida a nova fase (não crítica, certamente, mas grave) da nobilíssima História à qual deu a sua pessoa e o seu nome.
Foi em Vossa Excelência que eu pensei ontem, ao reler, no meu Horácio, a ode XIV do primeiro livro, O navis referent in more te novi-fluctus... Fortiter occupa-portum... interfusa nitentes - vite aequora Cycladas... Não é pedanteria, mas verdade saída do coração. Desde há longos anos, o abrigo de merecida felicidade que desfruta o seu povo, a grande obra de estabilidade e de prosperidade que vos deram o respeito universal, representam tão grandes bens e tão raros hoje, que um certo número de europeus o consideram como seu património, e os seus votos distantes vos acompanham e vos bendizem como parte do seu próprio destino. - Sobretudo, pensam eles, não nos falte! Fique! Aguente! Acaba de perder o soldado firme que, sem ferir golpes, sem verter uma gota de sangue, restabeleceu Portugal e o entregou nas suas fortes mãos. Continue a cuidar do ramo de ouro da ordem, da autoridade e das liberdades. Que ele floresça no vosso país e que aí frutifique, povo irmão, é ainda uma prova ou, pelo menos, um sinal de que algures não murchou definitivamente.
Não creio muito, em sentido físico, numa raça latina. Mas do fundo da minha alma confesso o espírito latino ou, melhor, heleno-latino. Esta última correcção é feita na recordação de uma gramática portuguesa, aberta numa bela manhã da minha adolescência e na qual me apercebi de que o vosso artigo o, a, repete a forma dórica do velho artigo grego: tão fabulosa e fantasista acabou por me aparecer, a derivação encantava-me porque me fazia entrever os compatriotas de Homero povoando a mais longínqua Hispéria, até à beira do mar oceano. Os nossos parentescos de línguas, de espírito, de religião, de costumes, não são menos palpáveis. Não lhe parecem um tanto esquecidos pelos nossos tempos de internacionalismo unifícador mais ou menos federal, ou confederal? Tudo deveria fazer pensar nisso: o poder dos outros; o pouco poder que nos resta. E eu sonho, não sem melancólica firmeza, na vossa Goa, na vossa Macau, como na nossa Pondichèry... Estamos ali ainda, em suma, quando os mais poderosos tiveram de abandonar toda a Índia e já estão a fazer as malas na China! Sem jactâncias de superioridade e de comparação, que seriam ocas, os nossos domínios e os deles não se distinguem, estes pela tomada terrestre, horizontal, aqueles por um sentido vertical na direcção do espírito? Não haverá ali, sem dúvida, mais do que um passado talvez resolvido, que já não pode contar nas figuras do porvir. Mas, quem sabe? Quem pode saber? Quando os vossos navegadores seguiam o Sol-poente, para descobrir mundos e fundar impérios, o seu sangue e o seu pensamento não prepararam esplêndidas e sólidas ressurreições?
Multa renascentur. Mobilizou a sua nação no caminho deste renascimento. Possa ela aí continuar e prosseguir, e, na corrente, levar-nos também. Sou homem de Esperança.
Queira Vossa Execcelência perdoar a extensão desta, talvez, divagadora. O meu amigo Henri Massis, que teve a honra de ser recebido em Lisboa, falou-me abertamente da largueza de coração e lucidez de pensamento com que Vossa Excelência segue as coisas de França. Foi o que me forçou a ser indiscreto.
Com as minhas desculpas, peço a Vossa Excelência queira receber os meus fervorosos votos pela sua felicidade e pela da sua nobilíssima Pátria.

CHARLES MAURRAS
8321
Claraval, 31 de Maio de 1951.

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quinta-feira, agosto 19, 2004

SALAZAR, visto por Franco Nogueira 

Na revista "Política", de que era director Jaime Nogueira Pinto, no seu n.º 14/15, correspondente à quinzena de 15 a 30.07.1971, o Embaixador Franco Nogueira publicou um breve texto onde, com a sua excepcional capacidade de descrição e síntese, transmitiu a sua visão do Presidente Salazar, como pessoa e como governante. Aqui vai.

"Na sua extrema complexidade, Salazar foi acima de tudo uma vontade inquebrantável, com domínio constante e absoluto sobre todo o seu ser. Da sua energia íntima retirava toda a sua força. Sensível, nervoso, emotivo, permanecia contudo sempre sereno, frio, sem cóleras, desapaixonado, sem pressas, sem excitação, em particular quando em torno de si todos se mostravam incertos e perplexos. Nunca o abandonava a sua lucidez, que usava como método de penetração e conhecimento da realidade, nem jamais se obscurecia ou enfraquecia a sua capacidade de análise demorada, lenta, minuciosa, de que extraía conclusões e sínteses, arquivava-as de forma sistemática, e dava depois a sensação de haver reflectido durante séculos sobre cada assunto ou situação. Aderia e entregava-se a tudo quanto o cercasse em cada instante; cuidava de cada problema com uma absorção exclusiva e intensa, como se nenhum outro existisse e como se, para encontrar a melhor solução, tivesse à sua frente a eternidade. Criador da lei, era o seu primeiro escravo, e submetia-se-lhe como seu mais humilde servo. Defensor do Estado, não subordinava essa defesa a quaisquer outros critérios ou considerações; era glacial no tratamento e condução dos negócios públicos; e por acto de vontade calcava gostos pessoais, vencia emoções, suprimia ressentimentos, desconhecia ofensas. Escutava sem interromper, com atenção concentrada, e retinha com fidelidade quanto se lhe dizia; não se sentia afrontado com objecções ou ideias opostas; não era impressionável, nem influenciável; mas factos e argumentos alteravam a sua posição. Era intransigente nos princípios, mesmo que pudesse correr risco de destruição; mas era flexível na táctica e subtil na mudança de rumo; e dava à nova linha que prosseguisse uma nova construção lógica, de modo a não se contradizer nem desmentir. Considerava-se emanação genuína do povo, de cujos interesses se sentia universitário, e cujos sentimentos misteriosamente compreendia e avaliava. Era céptico e indiferente perante as élites. Delegava autoridade, e aguardava que cada um cumprisse o seu dever; mas não tinha no íntimo a segurança de que o fizessem. Não pedia favores, e não aceitava obséquios que lhe criassem dependências ou familiaridades. Interessava-se por tudo, e informava-se nos mínimos pormenores; e sabia em cada momento qual a posição política e pessoal de cada homem que contasse no País. Tinha acima de tudo um ângulo de visão só nacional."

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Forum Nacional 


Participem no Forum Nacional!

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quarta-feira, agosto 18, 2004

SALAZAR, visto por Adriano Moreira 

Em 2 de Agosto de 1970, poucos dias depois do falecimento do Presidente Salazar, o Prof. Adriano Moreira fez publicar no "Diário de Moçambique", que então se publicava na cidade da Beira, um artigo em que expressava o seu testemunho sobre o homem e a obra.
Aqui fica o texto do ilustre professor e homem público.

De vela ao cadáver de Salazar, fui-me lembrando de muitos acontecimentos relacionados com a vida pública da nossa terra, em que a sua presença foi dominante. E também de alguns relacionados apenas com o seu modo de ser, que marcou o estilo do governo e da administração, e o estilo de uma geração de dirigentes. Dos que o seguiram e dos que o combateram. Todos marcados, na sua intimidade mais funda, pelo homem e pela sua acção.
Recordarei aqui duas imagens persistentes. Numa manhã de domingo, do ano de Angola Mártir, fui visitá-lo ao forte do Estoril. Como cheguei a pé, não tocaram a sineta que habitualmente chamava para abrirem os portões do caminho de acesso dos automóveis. Subi a breve escada que ali existe. Ao fundo do pátio, onde se encontra a capela, as portas desta estavam abertas. De frente para o altar, a sós com Deus, Salazar cuidava da toalha, e das flores e das velas. Pensei que não tinha o direito de surpreender esta intimidade. Regressei vagaroso pelo mesmo caminho. Pedi para tocarem a sineta. Quando voltei a subir a breve escada do pátio, já ele estava sentado na sua velha cadeira, mergulhado nos negócios do Estado.
Era a imagem de um homem de fé segura, sabendo que haveria de prestar contas. A brevidade da vida iluminada pelos valores eternos. O poder ao serviço de uma ética que o antecede e transcende.
Acrescento outra imagem desse tempo. Recordo os discursos, as notas, as entrevistas, as declarações em que sucessivamente definia a doutrina nacional de sempre para a crise da época. Tudo escrito pela sua mão. Mas depois, não obstante a urgência e a autoridade pessoal, tinha a humildade de chamar os colaboradores e, em conjunto, discutir, e emendar. A grandeza natural de quem pode aceitar dos outros, sendo sempre o primeiro.
E assim foi exercendo o seu magistério. Com fé em Deus e recebendo agradecido os ensinamentos do povo. Porque nunca pretendeu sabedoria superior à de entender e executar o projecto nacional. E nunca quis mais do que amar até ao último detalhe a maneira portuguesa de estar no mundo, preservando e acrescentando a herança.
0 ultramar foi a última das suas preocupações maiores. Como se, ao crescer em anos e diminuir em vida, quisesse guardar todas as energias para sublinhar a essência das coisas. Todos os cuidados para a trave mestra. Doendo-se por cada jovem sacrificado. Rezando, e esperando que o sacrifício fosse entendido e recompensado. De joelhos perante Deus e de pé diante dos homens. Humilde com o seu povo, orgulhoso perante o mundo.
Assim viveu, acertando ou com erros, mas sempre autêntico. Com princípios. O único remédio conhecido contra a corrupção do poder. E muito principalmente quando se trata de um poder carismático, como era o seu caso. Um desses homens raros que a fadiga da propaganda não consegue multiplicar. Porque ou as vozes vêm do alto ou não existem. Não há processo de substituir o carisma. Por isso, também, essa luz, que tão raramente se acende, é toda absorvida pelo povo, o único herdeiro. Soma-se ao património geral. Inscreve-se no livro de todos. Pertence à História.
Transforma-se em raiz.

ADRIANO MOREIRA

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terça-feira, agosto 17, 2004

Antagonismo e integração 

Nós não aceitamos a luta de classes produtoras como facto histórico nem como princípio informador da organização económica e social. Os interesses mediatos, últimos dos indivíduos ou dos grupos, tendem para a unidade do interesse nacional. Mas os interesses imediatos do operário e do patrão, umas vezes, de operários e operários, outras, chocam-se amiúde na vida prática, sem que devam deixar-se avolumar os dissídios, sem que devamos deixar de conciliar os interesses opostos, em benefício dos opositores e em benefício da normalidade da vida económica. Com que princípios? Com moderação e justiça. Fazer justiça a todos e proteger os mais fracos tem de ser o lema do vosso trabalho.
(Discursos, vol. I, pág. 277)

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Rumo ao futuro 

Não temos o encargo de salvar uma sociedade que apodrece, mas de lançar, aproveitando os sãos vigamentos antigos, a nova sociedade do futuro. Ela é ordeira e pacífica; ela conhece as fronteiras da Pátria, alargadas por esse mundo, a golpes de audácia, por antepassados ilustres; ela respeita a hierarquia e a diferenciação de funções como facto natural e humano, necessário ao progresso geral; ela honra e defende o trabalho, como base da prosperidade e lei inelutável da vida, fonte de riqueza e de saúde física e moral; ela tomará a capacidade e o mérito como os critérios fundamentais de valorização social; ela compreenderá, na luta incessante pelo pão de cada dia, que o homem não vive só de pão...
(Discursos, vol. II, pags. 44-45).

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segunda-feira, agosto 16, 2004

Bichas de rabiar 

Querem saber por que andam tão agitados, em frenesim quase histérico, certos sectores socialistas relacionados com os recentes escândalos jornalístico-políticos?
Vão ler o mais recente texto publicado no blogue Do Portugal Profundo e tirem as vossas próprias conclusões.
É caso para dizer que pela boca morre o peixe e pelo rabo se perde a bicha.

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domingo, agosto 15, 2004

A vez do Marquês 

Este Verão está cheio de surpresas!
Depois da aparição repentina do Professor Salazar (então essas prometidas lições?) surgiu na rede também o nosso saudoso Marquês de Pombal.
Quem será que virá a seguir, vindo das brumas da História?
Finalmente Dom Sebastião?

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ECONAC 


A única verdade é a verdade da terra...

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www.portugalsempre.com 


A grande novidade deste Verão - o Portal da Militância Nacionalista.

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Para a proto-história do nacional-sindicalismo 

A 18 de Abril de 1931, o semanário de Ramiro Ledesma Ramos, "La Conquista del Estado", no seu n.º 6, publicou um artigo intitulado "Las nuevas voces europeas" em que dava conta das suas impressões sobre as novas forças que se perfilavam no horizonte político europeu.
Não falta aí um eco do relacionamento que existia entre o nascente nacional-sindicalismo espanhol e o núcleo do que viria a ser o nacional-sindicalismo português.
Escrevia-se a dado passo:
"En Lisboa ha comenzado a publicarse el semanario Acción Nacional, dirigido y editado por Antonio Pedro y Dutra Faria. Con Portugal nos une, entre tantas cadenas de hermandad, nuestra devoción por Oliveira Martins, el autor de Civilización Ibérica, ese libro tan preñado para Unamuno.
Con los jóvenes de Acción Nacional también nos enlaza su emoción revolucionaria y además parte de su credo político: «Somos –escriben– antidemócratas, antiliberales, antiindividualistas, tanto cuanto somos anticonservadores, anticapitalistas, antiburgueses.»
Sólo lamentamos y nos separa, que todavía les quede un simplón y anacrónico monarquismo rezagado –todo su programa sería imposible dentro de cualquier monarquía feudal– y ese turbio deliquio primaveral de muchachitos religiosos.
"
Transcrevo esta passagem não tanto para assinalar as diferenças ideológicas ali apontadas, mas sim para sublinhar algo de mais importante para a história do movimento português.
Com efeito, ainda é frequente, mesmo em obras de responsabilidade e autores de nomeada, procurarmos a descrição dos primórdios do movimento nacional-sindicalista e lá encontrarmos repetidas as mesmas afirmações sobre Rolão Preto, apresentado como o fundador e chefe do novo movimento.
Que tal versão dos factos distorce gravemente a verdade histórica, é do conhecimento de alguns.Mas a falsidade propaga-se facilmente junto de quem de boa fé procura nessas obras a informação que não tem.
Como se constata, os responsáveis do semanário de Madrid têm como referências em Lisboa a António Pedro e Dutra Faria. Podiam acrescentar pelo menos Amaral Pyrrait e António Tinoco. E estão com a razão: no grupo fundador do "Acção Nacional" e depois do "Revolução" está o núcleo criador do nacional-sindicalismo. Ainda eram então todos estudantes: Amaral Pyrrait era de Direito e os restantes de Letras. A raiz do futuro movimento nacional-sindicalista está essencialmente no grupo de estudantes de Letras já organizados como monárquicos e integralistas antes dessa evolução que iria desaguar no nacional-sindicalismo, dando-lhe uma expressão política inteiramente diferente e de certa forma inesperada.
Foi com o êxito do jornal e o crescimento do mesmo que se veio a tomar a decisão de convidar alguém mais velho e já conhecido publicamente para assumir a chefia visível do movimento. Daí o convite formal a Rolão Preto, que o aceitou e assumiu com entusiasmo o papel que lhe era proposto.
Porém, sem querer diminuir a importância da personalidade de Rolão Preto, que viria a marcar esse movimento político e a associar para sempre a sua imagem ao mesmo, quando Rolão entrou limitou-se a tomar um comboio em andamento.
Só a partir de Fevereiro de 1932 se dá essa associação de Rolão Preto ao movimento. E só em Julho de 1932 aparece a expressão nacional-sindicalismo para designar a doutrina proposta. Daqui para a frente a história é mais conhecida. Mesmo assim, com frequentes erros e deformações, nem sempre inocentes.
Fica aqui a nossa homenagem a António Pedro e a Dutra Faria, personalidades que bem mereciam ser mais conhecidas e lembradas.

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sábado, agosto 14, 2004

Uma boa leitura para as férias 

Sobretudo para quem se interesse por História, e pela história das correntes políticas nacionalistas em Portugal, especialmente no arquipélago da Madeira, recomenda-se o livro "Nacionalismo e Nacionalistas na Madeira nos anos trinta", de Emanuel Janes.
Pode encontrar-se e encomendar-se aqui: http://www.ceha-madeira.net/

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Forum Nacional 


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Uma sugestão 

Já que estais todos em férias, algures de papo para o ar, e esta época é a indicada para pôr as leituras em dia, tratai de percorrer os meus arquivos. Isto sim, é exercício de valorização cultural, de agrado e proveito mais que certos. Ora ide todos aos arquivos do fascismo, sem demora, antes que se acabe o descanso!

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sexta-feira, agosto 13, 2004

Identitários 


É muito interessante o trabalho do movimento identitário francês (chamado também "Movimento Social Europeu", para melhor clarificação ideológica), desdobrado pelo Bloc Identitaire, as Jeunesses Identitaires e o portal Les identitaires, tudo inserido numa estratégia basista, concebendo a acção como uma rede de núcleos activos no corpo social que se estruturam e agem convergindo sobre objectivos concretos, procurando o efeito de grupo de pressão nesse ponto determinado.

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VOX NR 


Por um movimento nacionalista-revolucionário e solidarista, pela unidade e colaboração permanente entre todos os povos europeus!

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quinta-feira, agosto 12, 2004

Área nacional 


Criemos uma imensa e diversificada zona nacional na web lusitana!

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Uma magnífica iniciativa 


A comprovar que também o Verão pode ser época de grandes realizações, surgiu em linha o novo Portal da Militância Nacionalista.
Já estive a passar-lhe revista, e declaro com todo o entusiasmo que se trata de um trabalho importantíssimo, cuja falta muito se fazia sentir na área nacional.
Uma boa ideia, bem concebida e realizada. Agora só é preciso que todos sejam capazes de aproveitar as potencialidades que o projecto oferece.
Para já, congratulo-me com o trabalho feito (muito trabalho se nota que já foi ali investido!) e endereço as minhas mais vivas felicitações a quem se lançou no empreendimento.
Se a minha opinião tivesse algum peso em alguém, eu apelaria a que todos prestem decididamente o seu apoio e a sua colaboração ao novo Portal. Na dúvida, apelo na mesma...

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quarta-feira, agosto 11, 2004

A LENDA DO ARISTIDES 

Eram dois irmãos gémeos, de prosápia afidalgada, vindos de Cabanas de Viriato, onde tinham solar conhecido e onde nasceram a 18 de Julho de 1885. Ambos se formaram em Direito pela Universidade de Coimbra. E ambos ingressaram na carreira diplomática, um em Maio de 1910 e outro em Junho do mesmo ano. Um chamava-se Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches, o outro César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches.
Apesar da extrema igualdade de origem, rapidamente se distinguiram pela diversidade de qualidades, embora os dois fossem tidos por naturalmente bondosos, pacíficos, de bom trato e de formação familiar tradicional. Já em 1913 o César passara na carreira à frente do irmão, sendo promovido a 1.° secretário de Embaixada. E, em 1926, alcançou as plumas brancas dos diplomatas pela sua ascensão a Ministro Plenipotenciário de 2ª classe, tendo representado Portugal na chefia das Legações de Estocolmo, de Varsóvia, do México e de Berna. Numa breve passagem pela política, César de Sousa Mendes do Amaral e Abranches foi Ministro dos Negócios Estrangeiros, na última fase da Ditadura, em Governo já presidido por Oliveira Salazar. O irmão Aristides, porém, ia-se arrastando por postos consulares de minguado relevo, tendo falhado no concurso para conselheiro de Embaixada e acumulando processos disciplinares, porque, com frequência, as contas dos consulados por ele geridos... não andavam certas. Era bom homem, segundo se dizia. Mas também ganhara fama de limitados dotes intelectuais, tinha catorze filhos e, pelos postos por onde andara, constava ser propenso a aventuras dispendiosas, em proporção com os ganhos de que dispunha.
A guerra apanhou Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches no consulado de Bordéus. Aí choviam os pedidos de foragidos que pretendiam, a todo o custo, lhes fosse reconhecida a qualidade de portugueses e, com ela, passaportes que lhes permitissem alcançar lugares tidos por seguros.
De harmonia com as instruções do Governo de Lisboa, o Aristides de Sousa Mendes, tal como os outros cônsules de Portugal naquela altura, foi largo na concessão de passaportes. Mesmo em casos em que,normalmente, essa concessão seria duvidosa, ou negada liminarmente. Porém, no caso do consulado em Bordéus, houve refugiados que, tendo beneficiado de tais facilidades, depois de servidos, se queixaram ao Ministério dos Negócios Estrangeiros por a concessão de passaportes ter sido condicionada por contribuições para obras assistenciais patrocinadas pelo cônsul. Dessas queixas proveio a devassa, o inquérito e a passagem à disponibilidade, ou à situação de aguardar aposentação, para o cônsul Aristides, a quem sempre foi abonada a pensão respectiva. Aquele funcionário achava-se próximo do limite de idade e o seu passado não o abonava especialmente, o que, admissivelmente, terá contribuído para a solução adoptada, não obstante o ambiente favorável de que gozava o irmão César, sempre beneficiado pela amizade do Embaixador Teixeira de Sampayo, Secretário-Geral do Ministério, e pela simpatia de Oliveira Salazar. Naturalmente que se os rendimentos de cônsul no estrangeiro sempre se tinham mostrado insuficientes para as necessidades de Aristides de Sousa Mendes, essa insuficiência se tornou mais acentuada quando retirado para o seu solar em ruínas de Cabanas de Viriato. Mas tal situação, comum a muitos outros diplomatas, não deveria ser levada à conta de ajuste de contas políticas, ou castigo por desobediência a ordens superiores, que não se terá verificado.
Aristides de Sousa Mendes do Amaral e Abranches foi, segundo dizem os que o conheceram, um homem bom, pouco dotado, talvez, para a carreira que seguiu, e infeliz nalguns passos da sua vida. Não merecia ser usado como joguete numa pseudo-glorificação que apenas visa, canhestramente, tentar demonstrar que Salazar não se mostrou favorável aos refugiados da guerra. Quem ainda se lembre das ruas de Lisboa, pejadas desses fugitivos da guerra e dos seus horrores, quem tenha colhido os depoimentos de muitos deles, sabe que isso não corresponde à verdade. Aristides de Sousa Mendes, sempre monárquico tradicionalista, fiel aos ideais do Estado Novo, nem sequer poderia enfeitar-se com os ouropéis de reviralhista e de revolucionário com que é costume ornar a memória de alguns. Realmente, não mereceu a especulação tecida em torno do seu nome. Esclarecedora quanto ao assunto parece ser a carta que o embaixador Carlos Fernandes recentemente dirigiu à Sra. D. Maria Barroso Soares. Tanto mais que o referido Embaixador sempre se mostrou afeiçoado ao Cônsul Aristides e compreensivo das dificuldades que ele experimentou em diversas ocasiões, só lhe repugnando as falsidades acumuladas e propaladas por motivo da constituição de uma "Fundação Aristides de Sousa Mendes" à qual aquela senhora preside. Realmente, o amor da verdade exige da gente de bem um particular empenhamento no desfazer de lendas mal engendradas.
(Nota final: este oportuno artigo foi publicado recentemente no semanário "O DIABO"; creio que podia chamar-se também "para bom entendedor meia palavra basta"; e bom seria que se acabasse de vez com a mistificação mentirosa à volta de Aristides de Sousa Mendes, até por respeito para com ele e sua família).

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terça-feira, agosto 10, 2004

CULTURA E CONTRA-CULTURA 

A ideia de Cultura, que continua a ser identificada, na maior parte dos casos, com o conhecimento livresco, com as instituições educativas, com quatro ou cinco obras de arte, já de há muito superou este estádio e por força das investigações sociológicas e antropológicas ganhou matizes e incorporou significados que interessa ter presente ao reflectir sobre a Política e a Nação.
Este desenvolvimento moderno do conceito desligou-o da literatura e fê-lo aproximar-se do campo experimental, fazendo-o coincidir com a totalidade da herança espiritual e material do homem. Assim, longe da interpretação marxista, que vê na Cultura a mera expressão predeterminada das relações de produção, uma superestrutura mental criada pela burguesia capitalista com o fim de justificar, no campo moral, a exploração do proletariado, o discurso científico do século XX oferece uma superação deste reducionismo e uma concepção mais ampla e testada em investigações de campo. Culturólogos como Margaret Mead, Franz Boas, Marcel Mauss, Levy Strauss, Bronislaw Malinowsky, Robert Redfield, Carlton S. Coon, expoentes da velha escola da Antropologia Cultural, do mesmo modo que investigadores mais modernos e experimentalistas, como Ralph Darendhorf, Eibl-Eibesfeldt, Konrad Lorenz, Shapiro, e outros, são unânimes em definir a Cultura como o complexo herdado de meios de actuação, materiais e espirituais, extrabiológicos. Deste modo, os valores, a língua, os padrões de comportamento gerais e especiais, a ideologia, a moralidade, as formas políticas, são parte integrante da Cultura, do mesmo modo que a tecnologia, o regime, os modos de produção, as características sociais e a utilizacão dos bens económicos.
As Culturas são, por isso, amplos conglomerados de padrões, de sistemas e estruturas (daí a Teoria Geral dos Sistemas de Ludwig von Bertalanffy), integrados por uma lógica própria, com um sentido histórico e uma vocação que evoluem ao largo do tempo. Não são produto de uma determinada classe, de um específico modo de produção, mas o fruto do trabalho e inventiva de sucessivas gerações de homens que foram somando e conservando conhecimentos, ideologias, religiões, dando gradualmente origem a uma distinta mundivisão (weltenschaung). Não constituem um aparelho repressivo ao serviço dos grandes, mas sim um dispositivo que a todos favorece, orienta e protege, embora desigualmente. Não são formas antinaturais ou artificiais, antes oferecem um enquadramento natural ao homem: proporcionam as referências valorativas e técnicas, os modelos de comportamento e o projecto de vida em comum. Contêm nas suas matrizes profundas a razão de ser do indivíduo e da comunidade, e isto porque é na totalidade do meio cultural que se acumulam e organizam as tradições históricas e sociais, os hábitos e ritos vinculadores, que fazem com que as pessoas participem no mesmo projecto de vida comunitária com um mínimo de conflitualidade interna.
Por aqui se vê como um ataque coordenado aos centros estratégicos da Cultura pode ser fatal para o Povo e o Estado. Na verdade, esse assalto pode mudar ou aniquilar as características nacionais, ao fazer pressão sobre as estruturas fundamentais como o sistema tradicional de valores, as instituições naturais (família, comunidade, local, nação), a religião e outros subsistemas sociais. A experiência histórica confirma que o "choque cultural" pode matar uma civilização. Os valores dos impérios sul-americanos (inca, azteca, maia) não resistiram aos sistemas castelhanos. 0 Japão foi ocidentalizado rapidamente e nas ilhas de Polinésia muitos povos desistiram de viver depois da desintegração das suas culturas tradicionais, em choque com os modos ingleses. Ao desaparecerem os deuses, os feiticeiros, as relações pessoais, a magia, e toda a estrutura valorativa que justificava a vida individual e social, essas comunidades desapareceram.
A Cultura era a sua defesa.

NATUREZA E CULTURA
0 homem é, portanto, um animal portador de cultura, e é esse elemento que o distingue dos outros primatas sociais. Estes, embora na posse de tradições (ver Lorenz, Schaller, Marais), nunca se revelaram capazes de as dinamizar com inventos, transmitindo e acumulando nas suas sociedades hierarquizadas as descobertas dos génios individuais. Como explica Konrad Lorenz, só a tradição humana é cumulativa, o que possibilita o progresso do conhecimento e o aperfeiçoamento constante do aparelho cultural face à realidade. Daí que qualquer retrocesso neste processo de adequação das sociedades ao meio se deva entender como uma involução perigosa para a humanidade.
É por isso que os movimentos inspirados nas palavras de ordem de Jacob Rousseau, ao propagar que o homem é originalmente bom e ao ver na cultura o vector da corrupção, não veiculam mais que um romantismo perigoso. Os grupos que levaram à prática tais ideias, isolando-se em ilhas afortunadas e afastando conscientemente toda a capa cultural, acabaram caçando-se uns aos outros (ver "El Mono Vestido", Nácher, Rotativa). O regresso à Natureza, ao paraíso perdido, onde o homem livre da influência perniciosa da civilização (cultura) levaria uma vida pacífica e alegre, não passa de um dos elementos mais conhecidos da mitologia romântica do século XIX, expoente de uma espantosa ignorância antropológica e de um preconceito sem tempo: a ideia de que o homem se faz de fora para dentro. Ora a Genética prova que o homem se faz de dentro para fora, bem como a Etologia e a experiência mística documentada. Sem cultura, como põem em evidência as investigações de Robert Broom e de Raymond Dart na savana sul-africana e da família Leakey no Quénia, o homem nem sequer chegaria a ter o peso civilizacional do homem-macaco (australopiteco), uma vez que estes ascendentes do homo sapiens já tinham uma cultura material e espiritual: viviam em sociedades territoriais hierarquizadas, praticavam a caça comunitária, comunicavam-se por um código grupal e usavam armas. A sua Cultura de Seixos, como foi designada, permitiu-lhes sobreviver no meio natural, onde a concorrência com os grandes predadores e outros grupos de hominídeos exigia o aperfeiçoamento contínuo do aparelho cultural.
O homem moderno (chamado o Cro-Magnon) quando surge na cena do Mundo já é um ser de Cultura, formando parte de uma sociedade hierarquizada de predadores. A Cultura não vem por acrescentamento. É-lhe muito anterior. 0 Sapiens é apenas o herdeiro dos primatas sociais e dos australopitecos. Dos primeiros herdou o instinto territorial, que o obriga a defender e a lutar por um espaço determinado, e a estrutura social - as vinculações subtis da hierarquia e da cooperação. Dos macacos do sul aproveitou todas as invenções, especialmente um elemento da sua tecnologia guerreira de predadores: a arma. Efectivamente, a arma não é uma invenção humana. É também um descobrimento dos australopitecos que a nossa raça herdou e que jamais deixou de aperfeiçoar. Como vimos, a nossa Cultura tem raizes pré-humanas (estrutura territorial e hierárquica), mergulhando profundamente nos capitais descobrimentos tecnológicos dos macacos-do-sul, exemplarmente estudados por Raymond Dart.
A conclusão que os românticos recusam é extremamente evidente: a Cultura constitui o meio natural do homem. Não foi inventada, nem determinada por factores sociais que lhe são posteriores. É uma realidade pré-humana, que entronca directamente na sociedade animal dos primatas superiores, como ensina a Etologia e verifica a Genética. Em nenhum momento da história humana ou Pré-humana houve um homem ou um australopiteco isolado e sem um aparato cultural mínimo, perfeitamente natural no sentido de Rousseau e outros românticos. Mas se o tivesse havido, não passaria de um animal inferior, sem consciência de si mesmo ou do meio em termos supra-animais. Tarzan é um mito. Um homem criado por gorilas é um gorila inferior, impregnado pelas tradições societárias destes animais.
Cultura e Natureza não são pólos de uma contradição, mas apenas mundos complementares e interdependentes em que desenvolve a actividade humana. A oposição cultura/natureza só tem significado como uma mistificação anticultural e, por isso mesmo, fruto de um pensamento atrasado em relação aos dados da Ciência do nosso século.
Ora, num tempo que a moda dos movimentos contraculturais é lançada por renovados rousseauístas, pelas correntes freudomarxistas de libertação que exploram a polarização simplista cultura=repressão contra natureza=libertação (esquecendo no seu próprio campo Melanie Klein), por novos alucinados como Marcuse, há que proclamar cada vez com mais claridade a palavra de ordem do grande antropólogo Arnold Gehlen: "Regresso à Cultura", reivindicando a nossa humanidade.
António Marques Bessa

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segunda-feira, agosto 09, 2004

Chegou o Professor Salazar! 

Que o tempo e só o tempo, na sua infinita sabedoria e com o seu crivo implacável, constitui a provação definitiva para as coisas e para os homens, sei-o eu e sabei-lo vós. Eu poderia pois aguardar, como aconselham a serenidade e a prudência, que essa prova maior cumprisse a sua função, e desmascarasse enganos e embustes. Só assim com segurança e rigor eu vos poderia falar dos acontecimentos actuais - no conforto já da posse dos juízos futuros. Não o farei, porém. Há momentos em que, pese embora o risco das ilusões desejosas, é forçoso arriscar no calor da hora que passa.
Venho por isso - se me não falham estas ondas cibernéticas que ao que me asseguram vos levam as minhas pobres palavras - comunicar-vos o acontecimento que, se não for caso mesmo de marcar para sempre a nossa história política, há-de pelo menos ficar assinalado como evento maior do Verão que ora passa.
É esse o aparecimento de um novo blogue que é também um blogue novo - e que promete trazer-nos, fresca e pura como a água que brota da mais cristalina das nossas fontes, alta, forte e majestosa como o mais majestoso carvalho da velha floresta lusitana - a magna Lição de Salazar.
Ela aí está, oferecendo-se a todos, na sua autenticidade de raiz. Que possam todos dela tirar proveito - é o voto deste velho professor, que outra coisa nunca almejou para si que não fosse a glória de servir.

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O MAIOR PROSADOR FUTURISTA PORTUGUÊS 

"Os homens públicos são aqueles que o público conhece menos...", afirmou certa vez António Ferro e com carradinhas de razão, diga-se, já que, quando assim falava, falava ele com inteiro conhecimento de causa e também com inteiro conhecimento de efeitos. No seu caso pessoal, resulta entretanto inadmissível que a imagem dele enquanto artista - e grande artista literário foi! - permaneça mergulhada na sombra projectada pelo seu vulto de político e homem público igualmente fora-de-série. O fenómeno, ainda assim, não deixará de ter, também ele, a sua explicação - que é porventura esta: António Ferro foi tão portentoso no domínio da criação estética pura, como no da chamada poesia da acção, onde o seu génio altamente empreendedor se exprimiu em bases culturais de espectacular e desbordante e proficiente pragmatismo. Faces que eram do mesmíssimo rosto, muito natural se torna que a mais visível delas - a mais exterior, digamos mesmo: a mais mundana das duas - ficasse a dar mais nas vistas do que a outra; e que, em detrimento da sua obra de criação escrita, prioridade viesse a ser dada à sua obra de intervenção activa. À primeira vista, a coisa aceita-se, de certo modo, se bem que essas duas facetas maiúsculas de António Ferro fossem entre si complementares.
Ciente como estava de que "raramente os princípios... chegam ao fim...", não se limitou António Ferro a ser apenas o talentoso benjamim da nossa ínclita geração de futuristas. O pequeno editor d'Orpheu foi muito mais longe, e tratou, ele mesmo, de abraçar o apostolado da verdade futurista, de a converter em acção, de a resolver na prática, chamando a si o inestimável e desgastante papel de propagar e difundir, de viajar e vigiar, de missionar; mais, de institucionalizar - e, portanto, de materializar - a mensagem vanguardista de 1915, operando e agindo, para esse efeito, sobre a plasticidade da própria vida.
Realmente imparável foi o labor que Ferro desenvolveu, na animação dinâmica do sonho futurista, e na projecção existencial que logrou dar-lhe, possuído, para tanto, de um optimismo realizador tão avassalador e contagiante que bem pode, afoitamente, adiantar-se que o nosso nacionalismo cultural teve, em Ferro, o mais ardoroso de todos os cruzados e o mais combativo e entusiástico lidador de sempre.
Está claro que o seu mentorado instaurou em Portugal "uma verdadeira era de terror no mundo das ideias-feitas" e do lugar-comum - "esse lugar (...) de onde são naturais todos os que me atacam", comentava ele; "eu tenho um sonho e sou feliz. Eles têm apenas o sono e não podem dormir". E está bem de ver quem eles são: "embalsamados, balsemões, retardatários, tatibitates, monóculos, lunetas, lorgnons, cegos em terra de reis..." enfim: todos "os etecéteras da vida" e mais alguns pelo meio...
Daí que a personalidade oficial, digamos, de António Ferro, na pele de alto-comissário da propaganda cultural da nação, venha constituindo um excelentíssimo pretexto para relegar o mesmo Ferro, como artista criador, a lugar de secundaríssima ordem, quando não mesmo para o despromover à condição de valor proibido. Todavia, se há livros que se queiram "libertos da vala-comum da estante" e que importe repor em circulação em vista da intacta novidade da sua escrita e da intensa sedução do ritmo mental que os anima - esses serão os livros futuristas de António Ferro, mormente aqueles que pertencem à grande explosão criadora da sua juventude. É, a dele, "uma arte de relâmpago, uma arte que estebelece telegrafia com as almas", mercê da mais fulgurante apropriação que já algum dia alguém fez da língua portuguesa. Dando carta de livre-trânsito a uma estonteante imaginação verbal, em que o culto do paradoxo é levado ao paroxismo, António Ferro consuma por aí um estilo extremamente apetecível, que com engodo se saboreia, num quase estado de hipnose, dada a estesia extasiante do discurso, a palpitação plástica da imagem, o brilhantismo inebriante do conceito, a desconcertante originalidade da frase. Como diria Rilke, "ce n'est pas de l'écriture, c'est de la respiration par la plume..."
A "Teoria da Indiferença", o manifesto "Nós","A Idade do Jazz-Band", "A Arte de Bem-Morrer", bem como o seu escandaloso "Mar Alto" - "menos peça de teatro do que peça de artilharia": o que se chama uma "peça (...) de fazer fogo" -, "A Amadora dos Fenómenos", "Batalha de Flores" e essa sua tão frívola como profunda "Leviana", são obras que respondem em cheio pela inteira fidelidade de Ferro à dimensão modernista e que o creditam como o maior prosador futurista que Portugal produziu.
"(...) a minha época (...) todos os dias passa revista ao meu trabalho",observou ele, um belo dia.
O nosso tempo só tinha também a lucrar com isso.
RODRIGO EMÍLIO

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domingo, agosto 08, 2004

FAZER O QUÊ?... 

Numa sociedade industrial ou pré-industrial, onde os meios de comunicação social atingiram determinados níveis de produção e influência, que fazem deles veículos de valores e ideias que vão atingir e ser partilhados pelos seus concidadãos, a Cultura deixa de ser, necessariamente, um terreno fechado de eleitos ou nefelibatas, para se transformar, ou ser também, um campo de luta, logo, de risco e de responsabilidade.
Não tanto já na acepção romântica, de se morrer na barricada por ter lido Proudhon ou Marx, ou ser educado nas "Mémoires d'Outre-Tombe" e a lembrança de avós guilhotinados. Ou no acaso de encontrar Brasillach antes de Malraux ou o Che primeiro que José António, de preferir a OAS à ETA ou os Centuriões aos Danados de Franz Fanon. As terras prometidas da Revolução, neste recanto ocidental da Ásia chamado Europa livre, são muito do arbítrio duma leitura de adolescência ou duma camaradagem de liceu ou faculdade e não há muito mais a fazer para as encontrar. Mas na perspectiva mais geral de assumir fidelidades e bandeiras, de dar testemunho e militância, de levar apostolado sem perder a lucidez, de jogar pele e entranhas sem sacrificar ao fanatismo ou pôr de parte a realidade.
Disto tudo, me parecer esta a hora própria dum exame de consciência e duma tentativa de situação, dos portugueses que querem e podem pensar Portugal. Pensá-lo de olhos abertos, sem procurar iludir o quadro presente, tão-pouco deixando que as suas cores, quase fúnebres, lhes paralisem a razão e a vontade.
Esta é, ainda, um tempo de Palavra. O tempo da Acção encerrou-se, para nós, no dia 11 de Novembro de 1975, ao terminar o desmembramento territorial do País, com a entrega de Angola ao MPLA. Esse tempo que, para muitos epígonos de classe política foi um tempo de palavras, passaram-no os nossos na prisão, no exílio, na resistência interior ou exterior - batendo-se. Ao concluírem-se oficialmente os objectivos político-militares do partido da União Soviética e dos seus cúmplices conscientes e inconscientes, Portugal ficava reduzido, vencido, condenado ao rectângulo. Fechava-se, vergonhosamente, o tempo da grandeza. Entrava-se no ciclo da pequenez e da mediocridade, sob o signo de homens pequenos e medíocres; perdida a batalha, travada aliás em condições desiguais depois de Setembro de 1968 e, sobretudo, de Abril de 1974, impunha-se uma revisão profunda, o valer ou não a pena de continuar, e, sobretudo, adoptando a segunda hipótese, saber como, porquê, para quê e até para quem.
Era, de certo modo, repensar Portugal. Reduzida a testa de ponta para a conquista do Ultramar pela União Soviética, a Metrópole perdia o seu significado na estratégia imperial estrangeira uma vez terminada essa conquista. Na febre de manterem o poder no rectângulo, os agentes locais, militares e civis, da Task Force russa tinham praticado uma política de terra queimada. Concluída a missão, tornava-se insustentável manter a pressão exercida. Deste modo, aproveitando a febre do poder de comparsas da véspera, não foi difícil passar-lhes a batata quente. O que se deu no dia 25 de Novembro, não foi mais do que isso; porque, cautelosamente, este foi "recuperado" a tempo e elementos do establishment se encarregaram de assegurar a transição.
Isto é história sabida, ainda que não se costume contar assim. Mas vamos ao que fica, isto é, ao que importa.
Com o abandono do Ultramar, o País perdeu os grandes suportes da sua independência: quer pelo que respeita a factores materiais - território, população, posições estratégicas, recursos económicos - quer um sentido de projecto nacional. Regressando aos limites pré-expansionistas, esta involução histórica terá consequências imprevisíveis, que se adivinham catastróficas no futuro.
A ruína da economia nacional derivada das sequelas do abandono e da política da terra queimada no rectângulo traduz-se não só na destruição duma parte considerável das estruturas produtivas e circuitos comerciais, como na degradação do trabalho como fonte de riqueza e na hipoteca progressiva das reserva e recursos do País, a troco de empréstimos ou subsídios que permitiram aos responsáveis ocultar o caos que implantaram, pelo menos nas suas consequências mais dramáticas.
À actual classe política dirigente faltam a competência, a autoridade, a capacidade moral e a convicção necessárias para desenvolver o esforço gigantesco que seria necessário para encontrar uma plataforma de recuperação. Além do mais os seus elementos são em grande parte cúmplices activos ou passivos dos eventos que conduziram à situação presente, faltando-lhes pois qualquer espécie de idoneidade para pedir sacrifícios ao Povo, que eles mesmos levaram à ruína.
Também as instituições vigentes, fruto dum compromisso, ou manta de retalhos negociada peles forças do poder após o golpe militar esquerdista não correspondem ou permitem qualquer tentativa séria e continuada para devolver ao Estado português condições mínimas de viabilidade e funcionamento.
Nessa conjuntura, não faltarão veleidades golpistas, mesmo inspiradas pelas melhores intenções do bem público e salvação nacional ou então vindas de sectores que, com o seu oportunismo e imobilismo, deixaram degradar a situação até ao momento presente e agora intentam, em digressões mais ou menos escusas, arrastar os menos prevenidos para aventuras sem futuro, em que se comprometerão irremediavelmente os poucos trunfos ainda disponíveis para uma solução nacional.
E se por um lado há que levar em conta a um factor tempo, que não considerado pode ser fatal, haverá também que ter presentes as condições internas e externas que sempre limitaram a acção. Senão, vejamos:
Portugal é hoje um pequeno País, pobre, endividado, hipotecado, olhado com comiseração e tolerância pela comunidade internacional. Privados dos factores que nos davam a independência e capacidade de adoptar as soluções que mais nos convinham, estamos profundamente dependentes, subordinados, "colonizados" por uma série de poderes situados fora de fronteiras e que serão sempre os últimos árbitros, se não de toda a evolução política interna, pelo menos de certos limites, mais ou menos rígidos, em que ela pode ocorrer. Mais que a ninguém nos custa reconhecer este facto, que aliás se poderá agradecer ao punhado de energúmenos e ambiciosos que nos foi governando nos últimos anos e que sabia, também, que da sua política de terra queimada ia resultar esta limitação da soberania nacional, graças à qual poderão permanecer à frente do País, por mais algum tempo, até porque são os agentes de confiança das forças internacionais que aproveitaram ou julgaram aproveitar com a nossa ruína.
Internamente, o País acusa as marcas terríveis da catástrofe: agudização de conflitos sociais, alienação política, incompetência e parasitismo da classe partidária, mediocridade de projectos e dirigentes, apatia e desorientação das forças ainda válidas ou conscientes, cuja defesa e protesto, no momento, se traduzem num absentismo crescente da vida institucional, que poderá ser um princípio, mas urge com brevidade ser orientado e convertido em formas eficazes de acção.
As fórmulas paradisíacas da felicidade pela revolução, a que sucederam as manifestações de paranóia no poder da era gonçalvista e do socialismo da miséria da administração soarista, fariam hoje sorrir se não fossem a catástrofe que precederam ou trouxeram. A classe política, saída da Revolução de Abril, há-de, entretanto, continuar a defender os seus interesses com unhas e dentes, inventando novas receitas de sobrevivência e sacrificando até, se tal for necessário, parte dos seus leaders "carismáticos" de ocasião: o que sucedeu ao "inocente útil" Spínola, ao tenebroso "Mr. Cork", ao dementado "companheiro Vasco", ao folclórico Otelo, pode amanhã passar-se com o "burguês satisfeito" Dr. Soares ou o revenant Major Antunes.
Mas será esse o fim dos nossos problemas? Que fazer, mesmo que uma explosão de senso crítico ou justa cólera, neutralizasse tão ubuescos e conselheirais personagens, retirando-lhes a faculdade de continuar a atormentar e mistificar os seus concidadãos?
Não. A herança de miséria e vergonha que vai ficar, da sua passagem pelo poder, é suficientemente larga e negra, para que baste um exorcismo para a afastar. Haverá, para iniciar um trabalho de reconstrução material do Pais, que ter mais qualquer coisa que a legitimidade de o livrar dos seus tiranos ou tartufos, ou motivações de desforço, mesmo compreensíveis.
Há que reencontrar, além dos meios necessários para produzir ou pagar o que comemos, um projecto, um sentido para a Nação, que justifique os sacrifícios que serão necessários nesta batalha pela sobrevivência e a dignidade. Para tal, urge, com humildade mas determinação, com consciência das limitações mas propósito de as superar, com a noção do que somos, mas a memória do que fomos, repensar, reinventar, restaurar o País que podemos ser, numa fórmula genial que não me canso de meditar nestes dias de provação e esperança, aquilo que o poeta-profeta da nossa Grandeza e Morte clamava - "uma grande Ânsia do tamanho exacto do Possível".
Quando a redescobrirmos, resta o mais fácil, aquilo que fizemos por causas vencidas, mas que não deixam de ser razão de continuar: batermo-nos. Então será o tempo da Acção.
JAIME NOGUEIRA PINTO

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sábado, agosto 07, 2004

As férias deprimem-me 

Apesar de esta coisa de férias grandes obrigatórias, e de férias pagas, terem sido invenções do fascismo, como aliás outros institutos jurídicos hoje básicos no Direito do Trabalho, e a própria autonomização e teorização deste ramo do direito ter sido fruto do labor dos juristas do fascismo, a verdade é que as férias de Verão deixam-me sempre com uma neura impossível. Deve ser por causa da minha mania de trabalhar constantemente, que sempre me impediu o acesso a esse prazer supremo a que os outros chamam gozar férias.
Remeto portanto para a história esses tempos em que os sensatos burgueses liberais da Europa pós-primeira grande guerra repudiavam com horror a demagogia insustentável do novo regime italiano, que teimava em que todos os trabalhadores tinham que beneficiar obrigatoriamente de um tempo de pausa laboral anual, e que durante esse período continuariam a receber salário (extraordinária violação da natureza sinalagmática da remuneração - ser pago sem trabalhar!).
Seja porém glória do fascismo a introdução de tais novidades - que aliás a esquerda depois imitou, começando pelo governo francês da Frente Popular - a verdade é que eu queria era todos a trabalhar.
Já viram os danos que as férias fazem aqui no meu blogue? Por mais que eu me esforce, encontrando magníficos textos de proveitosa leitura, como é o caso dos luminosos escritos do pai deste promissor mocinho, meu estimado amigo, isto não passa da cepa torta. Uns gatos pingados, uns tristes, que aqui vêm saciar a sua sede de cultura. Bons, indiscutivelmente bons, uma elite, mas poucos, poucochinhos. O que eu gostava era de ver isto apinhado de leitores, fachos ou não, a entupir a navegação.
Assim, tenho que resignar-me ao poucos mas bons que se usa para estas situações.
Olhem, estes rapazes aqui continuam a ler-me. Obrigado!
De outros que aí andam já não sei. Mas reconheço que isto são leituras muito maçudas. Ainda por cima em português.

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ANTÓNIO SARDINHA - PENSADOR E CRÍTICO 

As palavras apostas por António Sardinha ao volume Ao Ritmo da Ampulheta, significativa colectânea de estudos dedicados aos mais variados assuntos, dão-nos, na confissão ardente do seu entusiasmo de combatente, a trajectória ideológica e espiritual do ensaísta de À lareira de Castela e Da Hera nas Colunas. As suas páginas, tão comunicativas e vibrantes, que estremecem ao menor contacto com a realidade dos acontecimentos e dos homens, foram, nos anos intranquilos das primeiras décadas da nossa centúria,o roteiro político das gerações epocais envenenadas pela doutrinação liberalista e revolucionária. A acção e o exemplo de António Sardinha, secundados pelos seus pares, vigorosos polemistas acusando os desmandos e as tragédias da República nascente, que, no entanto, perante o espectáculo actual,mantinham uma dignidade nacionalista que se deve salientar, foram o breviário esclarecedor de tantas consciências ainda adormecidas ou enganadas pela euforia do tempo.
Na sensibilidade de António Sardinha, na qual se projectava, como num rio de águas sussurantes, o drama da pátria, abatida e descrente dos seus destinos históricos, cantava porém a certeza da ressurreição da nacionalidade; é que ele, como afirma algures, sentia em si próprio o sentimento de que nascera para construir e edificar. Não era daqueles que, contemplando os horizontes, se ensimesmavam na adoração dos poentes nostálgicos, cantando-os em lânguidas endechas musicais. A alma vibrava-lhe de contentamento diante das paisagens natais porque as compreendia na beleza eterna que delas irradiava; por isso, os seus poemas são, na evocação do passado elegíaco ou heróico, a voz do homem pensante e do artista enamorado das coisas e dos seres.
Se o poeta soube encontrar o acento certo para o seu poemário, rico de conteúdo psicológico e humano, fixando-nos as ansiedades espirituais em admiráveis versos em que perpassa vago simbolismo, o pensador e o ensaísta, ambos voltados para os grandes e profundos problemas pátrios, eivados de perplexidades dramáticas, souberam, em momento de crise e decadência, desbravar o caminho de dúvidas e incertezas, apontando-nos o verdadeiro destino do ressurgimento. Através desses livros de estudos, embora fragmentários, porque a hora assim o exigia, desdobra-se todo um tratado de nacionalismo, de fé e esperança no Portugal redimido, "... restituído... à integridade, como ele escreverá, da sua consciência histórica,...", e para o qual trabalhou incansavelmente.
As suas batalhas nacionalistas não se confinaram simplesmente à Política; pelo contrário, alargaram-se às letras e às Ideias, debatendo temas, investigando factos esquecidos ou ignorados, denunciando erros tidos como verdades, ilibando figuras históricas deformadas pela paixão sectarista e inventariando os acontecimentos ricos de sentido da sua época conturbada. Nada do interesse nacional lhe escapava; tudo a sua arguta inteligência analisava, procurando, por esse meio, deslindar das teias ocultas a face augusta da Pátria, mostrando-a na sua autenticidade espiritual e histórica. Aqueles que lhe leram os livros ou os que lhe escutaram a palavra inflamada ardendo de chama patriótica sabem perfeitamente que em António Sardinha transluzia a mais severa e exigente crítica, não se deixando arrastar por fáceis demagogias líricas ou sentimentalistas, antes dissecando os problemas, por mais complexos, com uma visão crítica produto de vasta cultura humanista.
Teria exagerado algumas vezes nas apreciações aos homens do tempo? Talvez. Mas o ambiente, como denigridor da História e da Tradição, campo, portanto, aberto ao avanço da subversão, que se fazia sistematicamente em tudo, era de natureza polémico e combativo; e António Sardinha era homem influenciado pelos acontecimentos de que foi espectador e actor, pelo que podia errar; mas acima de tudo atacava ideias, porque eram elas, na sua subtileza tentadora, o veículo transmissor do mal de que adoecia o país. Nos homens via os escritores e os poetas e os políticos, construtores de mitos enganosos, e que era preciso combater para que a Pátria, restabelecida e engrandecida, pudesse de novo ocupar o respectivo lugar no concerto das nações europeias.
Percorram-se as páginas de A Prol do Comum, Purgatório das Ideias, Na Feira dos Mitos, Durante a Fogueira, Ao Princípio era o Verbo, À Sombra dos Pórticos e A Aliança Peninsular e ver-se-á como o crítico e o pensador discerniram, no amontoado das questões políticas, literárias, sociológicas e polémicas, qual o verdadeiro itinerário ideológico da nacionalidade: A Monarquia. Nela consubstancia o autor de De Vita et Moribus a regeneração da terra portuguesa na sua expressão mais alta e significante, qual seja o regresso à Tradição como continuidade do Presente e garantia do Futuro. E o Presente, na trágica realidade de um quotidiano macabro, dá-lhe razão. Portugal e a Europa sofrem hoje a dramaticidade das ideias subversivas e demolidoras, que, provindo em linha recta da Reforma e do Humanismo pagão, tudo transformam no caos em que nada subsistirá porque lhes está já faltando a fé que animava os espíritos da Contra-Reforma.
Português e europeu, consciente das responsabilidades espirituais de que era herdeiro, tendo batalhado por elas como um cruzado que só a morte derrota, António Sardinha previu com a sagacidade do historiador o destino e o fim da Europa pervertida pelas doutrinas antieuropeias. É que, como ele escreveu, "Ameaçada de novo a Europa de cair, de mergulhar, e talvez irreparavelmente, numa como que "anarquia mongol" (...), que resta, pois, à velha Europa católica e secular?" No poema Roubo de Europa, prefaciado por Luis de Almeida Braga, companheiro de sempre, António Sardinha afirma (Europa! Europa! "E já não te avisto!"/ Não ouves esta voz que por ti chama?!/ Onde ficou o lábaro de Cristo?/ Onde deixaste, Europa, a tua flama?/ Ó madre antiga, embora no Calvário,/ não passes o teu facho a mãos alheias!), profetizando a tragédia contemporânea da Europa, dividida espiritualmente, e, por isso, presa fácil das hordas orientais...
Nesta hora de inquietude e confusão,embaladas as almas pela música insidiosa das falsas ideologias, António Sardinha merece ser lido e meditado porque a sua obra encerra uma lição de portuguesismo nacionalista e renovador em que muitas problemáticas contemporâneas são focadas com realismo construtivo.
Falecido a 10 de Janeiro de 1925, apenas com 36 anos de idade, porquanto nascera em Setembro de 1888, pertence à geração de 910, mas o seu espírito e a sua sensibilidade estão com as ideias tradicionalistas e monárquicas destruidas pelo constitucionalismo revoucionário estrangeirado. E é contra esse sistema que António Sardinha e seus amigos do primeiro instante, infelizmente quase todos dormindo o sono da morte, reagem, procurando reencontrar a autêntica fisionomia da nacionalidade desfigurada petos sofismas democráticos e socializantes na moda. Não ganharam a batalha, mas as suas palavras alcançam agora perspectiva profética e leccionadora de que é preciso extrair a necessária conclusão. E ninguém melhor no-la oferece do que as páginas tão vivas e oportunas de António Sardinha. Eis a grande homenagem ao intelectual e pensador.
António de Oliveira Coelho

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