quinta-feira, setembro 30, 2004
Pessoa e Salazar
Hoje saltou para a blogosfera a velha discussão sobre o posicionamento político de Fernando Pessoa.
Como se sabe, a esquerda procura utilizar uns conhecidos poemas em que o poeta satiriza Salazar e o Estado Novo para concluir triunfante que o homem era um anti-fascista. O logro está por demais desmontado, e não engana ninguém com um mínimo de conhecimento sobre a matéria. Pessoa efectivamente antipatizava com Salazar e com a situação que este institucionalizava; mas a sua antipatia partia toda do ponto de vista que partilhava com os nacionais-sindicalistas, o de não ser o frio e austero Salazar o chefe que devia incendiar as almas lusitanas...
A mesma posição que levava Afonso Lopes Vieira a chamar ao ditador "o escandinavo" ou Tomaz de Figueiredo a designá-lo por "fradalhão de Santa Comba".
Todos eles queriam alguém que fizesse sonhar, alguém que nos fizesse "viver heroicamente" em vez daquele culto da normalidade tão tipicamente salazarista, que proclamava como ideal o "viver habitualmente".
Por outras palavras: Pessoa quando ataca Salazar reprova-lhe o ser tão pouco fascista, o ser tão afastado da imagem ideal do Chefe que o inspirava (e que se vê como construção poética na "Ode ao Presidente-Rei Sidónio Pais", ou nos versos da "Mensagem" que dedica a D. Sebastião, ou ao Condestável).
Isto mesmo já foi explanado por múltiplos autores; e para o efeito recomendo a leitura de dois textos de Alfredo Margarido, insuspeito de simpatias com o salazarismo ou com o fascismo, e que se encontram em linha: "Nota curta para lembrar que Pessoa admirou Mussolini" e "Pessoa, ídolo dos nacionais-sindicalistas".
Fica aqui esta nota em complemento e reforço do que escreve o Nova Frente.
Já agora faço uma rectificação e um reparo a Alfredo Margarido: a rectificação, insignificante, é que o chefe da Acção Escolar Vanguarda não se chamava Adriano mas sim Ernesto Oliveira e Silva; o reparo é que se tivesse continuado o seu trabalho sobre as relações de Fernando Pessoa com os nacionais-sindicalistas para além do tempo do jornal "A Revolução" teria verificado que mesmo depois do desaparecimento deste tais relações se mantiveram, nomeadamente no semanário "Fradique", dirigido por Tomás Ribeiro Colaço e cuja redacção estava entregue a nacionais-sindicalistas.
Podia falar-lhe sobre isso, designadamente recorrendo aos depoimentos de Dutra Faria e Barradas de Oliveira, que foram fundadores do primeiro e estiveram sempre no segundo, mas creio que não vale a pena (informo apenas que Barradas de Oliveira é o Manuel Gomes que surge referenciado nessa época entre os nacionais-sindicalistas da primeira hora, porque muitas vezes não é conhecida esta identidade).
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Como se sabe, a esquerda procura utilizar uns conhecidos poemas em que o poeta satiriza Salazar e o Estado Novo para concluir triunfante que o homem era um anti-fascista. O logro está por demais desmontado, e não engana ninguém com um mínimo de conhecimento sobre a matéria. Pessoa efectivamente antipatizava com Salazar e com a situação que este institucionalizava; mas a sua antipatia partia toda do ponto de vista que partilhava com os nacionais-sindicalistas, o de não ser o frio e austero Salazar o chefe que devia incendiar as almas lusitanas...
A mesma posição que levava Afonso Lopes Vieira a chamar ao ditador "o escandinavo" ou Tomaz de Figueiredo a designá-lo por "fradalhão de Santa Comba".
Todos eles queriam alguém que fizesse sonhar, alguém que nos fizesse "viver heroicamente" em vez daquele culto da normalidade tão tipicamente salazarista, que proclamava como ideal o "viver habitualmente".
Por outras palavras: Pessoa quando ataca Salazar reprova-lhe o ser tão pouco fascista, o ser tão afastado da imagem ideal do Chefe que o inspirava (e que se vê como construção poética na "Ode ao Presidente-Rei Sidónio Pais", ou nos versos da "Mensagem" que dedica a D. Sebastião, ou ao Condestável).
Isto mesmo já foi explanado por múltiplos autores; e para o efeito recomendo a leitura de dois textos de Alfredo Margarido, insuspeito de simpatias com o salazarismo ou com o fascismo, e que se encontram em linha: "Nota curta para lembrar que Pessoa admirou Mussolini" e "Pessoa, ídolo dos nacionais-sindicalistas".
Fica aqui esta nota em complemento e reforço do que escreve o Nova Frente.
Já agora faço uma rectificação e um reparo a Alfredo Margarido: a rectificação, insignificante, é que o chefe da Acção Escolar Vanguarda não se chamava Adriano mas sim Ernesto Oliveira e Silva; o reparo é que se tivesse continuado o seu trabalho sobre as relações de Fernando Pessoa com os nacionais-sindicalistas para além do tempo do jornal "A Revolução" teria verificado que mesmo depois do desaparecimento deste tais relações se mantiveram, nomeadamente no semanário "Fradique", dirigido por Tomás Ribeiro Colaço e cuja redacção estava entregue a nacionais-sindicalistas.
Podia falar-lhe sobre isso, designadamente recorrendo aos depoimentos de Dutra Faria e Barradas de Oliveira, que foram fundadores do primeiro e estiveram sempre no segundo, mas creio que não vale a pena (informo apenas que Barradas de Oliveira é o Manuel Gomes que surge referenciado nessa época entre os nacionais-sindicalistas da primeira hora, porque muitas vezes não é conhecida esta identidade).
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Estranhas ligações...
A quem se interessa por questões relativas a professores, ministros, ex-ministros, empresas, negócios, informática, colocações, etc. e tal, chama-se a atenção para o texto publicado no "Porta-Bandeira", com o título acima.
Será possível?
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Será possível?
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quarta-feira, setembro 29, 2004
Frente Nacional Europeia
Numa iniciativa sem precedentes, estabeleceu-se agora uma plataforma de colaboração entre organizações nacionais de toda a Europa, unidas por alguns princípios comuns que se traduzem na defesa da Europa das Pátrias.
É a Frente Nacional Europeia e de momento são formalmente aderentes oito organizações nacionalistas, desde Espanha à Bulgária, da Alemanha à Roménia, passando por Itália e Polónia, Eslovénia e República Checa.
Visitem o site, e militem pelas campanhas que são propostas, e que dizem respeito a a todos nós.
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É a Frente Nacional Europeia e de momento são formalmente aderentes oito organizações nacionalistas, desde Espanha à Bulgária, da Alemanha à Roménia, passando por Itália e Polónia, Eslovénia e República Checa.
Visitem o site, e militem pelas campanhas que são propostas, e que dizem respeito a a todos nós.
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Dores de cabeça
A esquerda doméstica não é capaz de esquecer o resultado do célebre referendo sobre o aborto.
Volta não volta, aí está a exigir um novo, e num tom que não permite duvidar que caso o resultado desagradasse seria de repetir a repetição, e assim indefinidamente, até conseguir o resultado desejado.
Nessa altura parava a dança: tudo estava dito, causa finita...
E não há maneira de fazer ver aos nossos irrequietos esquerdistas que o bom povo tem muito mais em que pensar, e na verdade tem pouca diisponibilidade para tal assunto, mergulhado que está em problemas sérios e verdadeiros.
Mas nestes a nossa esquerda, viciada no salão e no espectáculo, ainda nem sequer pensou. Ela sabe lá do povo!
Nem pensa nisso... tem aquilo atravessado, traz aquela ideia fixa.
E depois o costume de pensar nunca foi muito lá de casa. Em matéria de ideias é melhor adquirir tudo feito. Pensar mói e cansa, e no fim dá dores de cabeça.
Lembro-me bem do que observava o Rodrigo Emílio:
- "Um marxista é geralmente um sujeito que confunde "reflexão" com "enxaqueca".
Não sei se por falta de hábito se quê, o caso é que todas as vezes que qualquer comuna entra em reflexão por sua conta e risco, já se sabe que pega logo uma valentíssima dor de cabeça - daquelas de pôr a dita cuja "à razão de juros"!
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Volta não volta, aí está a exigir um novo, e num tom que não permite duvidar que caso o resultado desagradasse seria de repetir a repetição, e assim indefinidamente, até conseguir o resultado desejado.
Nessa altura parava a dança: tudo estava dito, causa finita...
E não há maneira de fazer ver aos nossos irrequietos esquerdistas que o bom povo tem muito mais em que pensar, e na verdade tem pouca diisponibilidade para tal assunto, mergulhado que está em problemas sérios e verdadeiros.
Mas nestes a nossa esquerda, viciada no salão e no espectáculo, ainda nem sequer pensou. Ela sabe lá do povo!
Nem pensa nisso... tem aquilo atravessado, traz aquela ideia fixa.
E depois o costume de pensar nunca foi muito lá de casa. Em matéria de ideias é melhor adquirir tudo feito. Pensar mói e cansa, e no fim dá dores de cabeça.
Lembro-me bem do que observava o Rodrigo Emílio:
- "Um marxista é geralmente um sujeito que confunde "reflexão" com "enxaqueca".
Não sei se por falta de hábito se quê, o caso é que todas as vezes que qualquer comuna entra em reflexão por sua conta e risco, já se sabe que pega logo uma valentíssima dor de cabeça - daquelas de pôr a dita cuja "à razão de juros"!
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Professores, PREC e mafias
terça-feira, setembro 28, 2004
POLÍTICA E CIÊNCIA
A tradição “espiritual” do demo-liberalismo anglo-saxão, cujos patriarcas foram, entre outros, Locke, Hume, Bentham e os Mill, é empirista, naturalista, positivista. Não admira, pois, que no mundo intelectual inglês e americano (e respectivos círculos de influência) a ideia da construção de uma ciência política, em tudo, ou quase tudo, semelhante às outras ciências experimentais, fosse acolhida com entusiasmo. Já causa, porém, uma certa perplexidade que, em ambientes que parece deviam estar imunizados contra tendências dessa índole, uma tal ideia seja recebida com aplausos fervorosos como se abrisse novos horizontes ao pensamento.
Deixemos, no entanto, este género de considerações e passemos a averiguar se é ou não possível uma ciência política análoga às restantes ciências experimentais.
Estas procuram estabelecer relações constantes ou leis entre os fenómenos observados e formular teorias em que se enquadrem aquelas e estes. Ora, se a ciência política se ocupa da conduta social do homem, no que ela possui de especificamente humano e se distingue da conduta animal, não se vê como conseguirá enunciar leis, a menos que exclua, em absoluto, o livre arbítrio, a liberdade da vontade. Efectivamente, se existir livre arbítrio, nunca se poderá estabelecer que ao comportamento a se sucede sempre (ou se sucede com probabilidade fixa) o comportamento b.
A ciência política, assim concebida, tem qual pressuposto, um mais ou menos rígido determinismo - determinismo que é uma tese metafísica, dessa metafísica que os cientistas experimentais tanto detestam.
E se, por seu turno, a ciência política equipara a conduta social do homem à de qualquer outro animal, então, além de continuar a partir de uma hipótese igualmente metafísica acerca da natureza humana, destrói-se enquanto ciência política por se reduzir tão-só à biologia.
A esta dificuldade capital junta-se uma nova aporia. Pergunta-se realmente, qual é o âmbito dos fenómenos políticos, em que é que estes se distinguem dos fenómenos de índole diversa, físicos, químicos, etc. E não é a ciência política que conseguirá responder à interrogação, porque a resposta à interrogação é que condiciona a constituição da ciência política. A questão - questão essencial - só pode, pois, ser resolvida no plano filosófico, do qual lastimavelmente os cientistas experimentais da política fazem abstracção.
De resto, os mais lúcidos e modernos de entre estes reconhecem que a imprevisibilidade das acções do homem dá um carácter contingente às leis da ciência política.
Simplesmente leis contingentes, que, de um momento para o outro, podem deixar de ser válidas, não são leis nenhumas, são meras traduções de acontecimentos particulares.
E limitar uma ciência ao simples registo de acontecimentos é aniquilá-la como ciência.
Certamente, consegue-se em política formular relações inabaláveis e necessárias. Não, todavia, entre comportamentos humanos, factualmente observados, mas sim entre essências logicamente conexionadas. O vínculo de relação não é, aqui, uma concomitância experimental, antes uma ligação ideal inflexível. Que os partidos fragmentem a unidade nacional é qualquer coisa que resulta da natureza dessa unidade e da natureza dos partidos. Quando as partes são autonomizadas e lutam com a totalidade - com a unidade - esta entra em desagregação. Por certo, empiricamente, há factores que podem atrasar, retardar e, até, em certa medida, temporariamente deter este processo. Ele, contudo, é inelutável porque repousa em relações inteligíveis - a impossibilidade de subsistência de uma unidade desunida é semelhante à de um ferro de madeira - e não na simples generalização de constatações tácticas.
E se logicamente for inconcebível uma democracia sem partidos, nós temos o direito de sustentar que a democracia atenta contra a unidade nacional. É uma lei, no sentido de ser uma relação constante, mas não uma lei relativa ao comportamento factual dos homens. Estes podem, consoante lhes aprouver, pronunciar-se pela democracia contra a unidade nacional, ou pela unidade nacional contra a democracia, sem que a esse propósito se consigam fixar leis. O que eles não podem é fazer com que a democracia não se oponha à unidade nacional, tal como não podem fazer com que o círculo seja quadrado.
A ciência política, entendida desta maneira, será uma ciência fenomenológica, baseada em relações de essencialidades e não uma ciência experimental. E diga-se, marginalmente, que é de uma semelhante concepção de leis na ciência política que Maurras se aproxima, quando no prefácio de "Romantisme et Revolution" ensina que, ao passo que as outras ciências apenas vêem de fora as conexões entre os fenómenos que estudam, a política descobre, já, a razão de ser dessas conexões e ilumina as leis pelas "causas", encontrando uma "explicação racional".
De qualquer forma, se uma ciência política compreendida desta maneira - e cujas afinidades com a filosofia são já óbvias - nos oferece leis inflexíveis, o que é certo é que jamais nos pode elucidar sobre o que devemos efectuar. Das meras constatações, do simples conhecimento do que é, jamais conseguiremos extrair o que deve ser.
Que isto ou aquilo tenha de acontecer não significa que seja bom que aconteça. Nenhuma ciência descritiva nos pode ditar os fins que é nossa obrigação atingir. Ao invés: é depois de postos determinados fins que a ciência nos conseguirá indicar o que com eles está em relação constante e permite, assim, alcançá-los. Se não desejarmos transformar a ciência política num jogo estéril, que não interessa à acção, é forçoso articulá-la com as finalidades que devem orientar esta última. Se pretendermos que o objectivo a visar é o bem comum, a ciência política terá de ser o estudo das leis que condicionam, inflexivelmente, a obtenção do bem comum; se o objectivo a visar for a anarquia, então a ciência política ensinará as leis que conduzam à destruição do poder e da sociedade. Em ambos os casos, todavia, a ciência política será sempre orientada teleologicamente, formulando juízos hipotéticos, do tipo "se queres isto, tens de fazer aquilo”, consoante Maurras proclamava (em especial no "Dilemme de Marc Sangnier") (1)
Sem discutirmos se, nesta altura, a ciência política é ou não uma ciência normativa, e sem analisarmos a difícil questão da existência ou inexistência de ciências normativas, de ciências da cultura, de ciências do espírito, distintas, pelo método, das chamadas ciências experimentais, e da possível inserção nalguma delas da ciência política (problemas que os cientistas da política contemporâneos estranhamente nem estudam nem abordam), o que nos parece incontestável é que, se a ciência política é orientada teleologicamente, ela tem de depender da ética. Sem a ética, a ciência política será cega. A ética, indicando-lhe o que vale e o que não vale, é que lhe dará uma directriz que dirija os seus trabalhos e os torne profícuos. Sem a ética, a ciência política não poderá existir enquanto estudo dos meios, pois estes só têm sentido em função de fins já determinados. Na política, portanto, antes do momento "científico" situa-se sempre o momento axiológico.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
(1) Foi também Maurras quem definiu a ciência política autêntica como “une determination des conditions générales du bien public”.
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Deixemos, no entanto, este género de considerações e passemos a averiguar se é ou não possível uma ciência política análoga às restantes ciências experimentais.
Estas procuram estabelecer relações constantes ou leis entre os fenómenos observados e formular teorias em que se enquadrem aquelas e estes. Ora, se a ciência política se ocupa da conduta social do homem, no que ela possui de especificamente humano e se distingue da conduta animal, não se vê como conseguirá enunciar leis, a menos que exclua, em absoluto, o livre arbítrio, a liberdade da vontade. Efectivamente, se existir livre arbítrio, nunca se poderá estabelecer que ao comportamento a se sucede sempre (ou se sucede com probabilidade fixa) o comportamento b.
A ciência política, assim concebida, tem qual pressuposto, um mais ou menos rígido determinismo - determinismo que é uma tese metafísica, dessa metafísica que os cientistas experimentais tanto detestam.
E se, por seu turno, a ciência política equipara a conduta social do homem à de qualquer outro animal, então, além de continuar a partir de uma hipótese igualmente metafísica acerca da natureza humana, destrói-se enquanto ciência política por se reduzir tão-só à biologia.
A esta dificuldade capital junta-se uma nova aporia. Pergunta-se realmente, qual é o âmbito dos fenómenos políticos, em que é que estes se distinguem dos fenómenos de índole diversa, físicos, químicos, etc. E não é a ciência política que conseguirá responder à interrogação, porque a resposta à interrogação é que condiciona a constituição da ciência política. A questão - questão essencial - só pode, pois, ser resolvida no plano filosófico, do qual lastimavelmente os cientistas experimentais da política fazem abstracção.
De resto, os mais lúcidos e modernos de entre estes reconhecem que a imprevisibilidade das acções do homem dá um carácter contingente às leis da ciência política.
Simplesmente leis contingentes, que, de um momento para o outro, podem deixar de ser válidas, não são leis nenhumas, são meras traduções de acontecimentos particulares.
E limitar uma ciência ao simples registo de acontecimentos é aniquilá-la como ciência.
Certamente, consegue-se em política formular relações inabaláveis e necessárias. Não, todavia, entre comportamentos humanos, factualmente observados, mas sim entre essências logicamente conexionadas. O vínculo de relação não é, aqui, uma concomitância experimental, antes uma ligação ideal inflexível. Que os partidos fragmentem a unidade nacional é qualquer coisa que resulta da natureza dessa unidade e da natureza dos partidos. Quando as partes são autonomizadas e lutam com a totalidade - com a unidade - esta entra em desagregação. Por certo, empiricamente, há factores que podem atrasar, retardar e, até, em certa medida, temporariamente deter este processo. Ele, contudo, é inelutável porque repousa em relações inteligíveis - a impossibilidade de subsistência de uma unidade desunida é semelhante à de um ferro de madeira - e não na simples generalização de constatações tácticas.
E se logicamente for inconcebível uma democracia sem partidos, nós temos o direito de sustentar que a democracia atenta contra a unidade nacional. É uma lei, no sentido de ser uma relação constante, mas não uma lei relativa ao comportamento factual dos homens. Estes podem, consoante lhes aprouver, pronunciar-se pela democracia contra a unidade nacional, ou pela unidade nacional contra a democracia, sem que a esse propósito se consigam fixar leis. O que eles não podem é fazer com que a democracia não se oponha à unidade nacional, tal como não podem fazer com que o círculo seja quadrado.
A ciência política, entendida desta maneira, será uma ciência fenomenológica, baseada em relações de essencialidades e não uma ciência experimental. E diga-se, marginalmente, que é de uma semelhante concepção de leis na ciência política que Maurras se aproxima, quando no prefácio de "Romantisme et Revolution" ensina que, ao passo que as outras ciências apenas vêem de fora as conexões entre os fenómenos que estudam, a política descobre, já, a razão de ser dessas conexões e ilumina as leis pelas "causas", encontrando uma "explicação racional".
De qualquer forma, se uma ciência política compreendida desta maneira - e cujas afinidades com a filosofia são já óbvias - nos oferece leis inflexíveis, o que é certo é que jamais nos pode elucidar sobre o que devemos efectuar. Das meras constatações, do simples conhecimento do que é, jamais conseguiremos extrair o que deve ser.
Que isto ou aquilo tenha de acontecer não significa que seja bom que aconteça. Nenhuma ciência descritiva nos pode ditar os fins que é nossa obrigação atingir. Ao invés: é depois de postos determinados fins que a ciência nos conseguirá indicar o que com eles está em relação constante e permite, assim, alcançá-los. Se não desejarmos transformar a ciência política num jogo estéril, que não interessa à acção, é forçoso articulá-la com as finalidades que devem orientar esta última. Se pretendermos que o objectivo a visar é o bem comum, a ciência política terá de ser o estudo das leis que condicionam, inflexivelmente, a obtenção do bem comum; se o objectivo a visar for a anarquia, então a ciência política ensinará as leis que conduzam à destruição do poder e da sociedade. Em ambos os casos, todavia, a ciência política será sempre orientada teleologicamente, formulando juízos hipotéticos, do tipo "se queres isto, tens de fazer aquilo”, consoante Maurras proclamava (em especial no "Dilemme de Marc Sangnier") (1)
Sem discutirmos se, nesta altura, a ciência política é ou não uma ciência normativa, e sem analisarmos a difícil questão da existência ou inexistência de ciências normativas, de ciências da cultura, de ciências do espírito, distintas, pelo método, das chamadas ciências experimentais, e da possível inserção nalguma delas da ciência política (problemas que os cientistas da política contemporâneos estranhamente nem estudam nem abordam), o que nos parece incontestável é que, se a ciência política é orientada teleologicamente, ela tem de depender da ética. Sem a ética, a ciência política será cega. A ética, indicando-lhe o que vale e o que não vale, é que lhe dará uma directriz que dirija os seus trabalhos e os torne profícuos. Sem a ética, a ciência política não poderá existir enquanto estudo dos meios, pois estes só têm sentido em função de fins já determinados. Na política, portanto, antes do momento "científico" situa-se sempre o momento axiológico.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
(1) Foi também Maurras quem definiu a ciência política autêntica como “une determination des conditions générales du bien public”.
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A boca do mentiroso e a orelha de quem o atende
Quando eu frequentava as instalações da Mocidade Portuguesa, havia na parede um cartaz, afixado entre outros semelhantes, em que uma caricatura sugestiva era acompanhada de significada legenda: "A boca do mentiroso e a orelha de quem o atende são iguais".
Nunca esqueci a mensagem. Visava alertar-nos contra esse inimigo insidioso que tudo envenena se não estivermos precavidos. O boato, a intriga, a calúnia destroem tudo em que tocam.
E não se julgue que ferem apenas os atingidos. Estes ficam feridos, sim, porque não há forma de desfazer o mal já feito pelas atoardas postas em circulação, e que irremediavelmente danificam reputações, estragam relações, comprometem projectos. Mas também os que dão ouvidos a tal veneno acabam por ser vitimados por ele: nos amigos e camaradas que se perdem, nos laços desfeitos para nunca mais, na desmoralização que tudo invade, na fé e na confiança para sempre abaladas.
Por mim, mantenho sempre viva a lembrança do tal cartaz: "A boca do mentiroso e a orelha de quem o atende são iguais". E nunca baixei o alerta que me pôs de sentinela: nem boca para isso, nem ouvido para tanto.
Hoje como ontem não há defeito humano mais omnipresente que esssa tendência para a maledicência que se compraz em denegrir o outro, sempre certa de encontrar auditório que se delicia em chafurdar na lama.
Por maioria de razões, entre aqueles que escolheram para si viver segundo uma ética e um estilo que se crêem superiores as exigências neste campo têm que ser redobradas. Para dar seguimento à peçonha, nem boca que se disponha nem ouvido que se predisponha. Tenho dito.
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Nunca esqueci a mensagem. Visava alertar-nos contra esse inimigo insidioso que tudo envenena se não estivermos precavidos. O boato, a intriga, a calúnia destroem tudo em que tocam.
E não se julgue que ferem apenas os atingidos. Estes ficam feridos, sim, porque não há forma de desfazer o mal já feito pelas atoardas postas em circulação, e que irremediavelmente danificam reputações, estragam relações, comprometem projectos. Mas também os que dão ouvidos a tal veneno acabam por ser vitimados por ele: nos amigos e camaradas que se perdem, nos laços desfeitos para nunca mais, na desmoralização que tudo invade, na fé e na confiança para sempre abaladas.
Por mim, mantenho sempre viva a lembrança do tal cartaz: "A boca do mentiroso e a orelha de quem o atende são iguais". E nunca baixei o alerta que me pôs de sentinela: nem boca para isso, nem ouvido para tanto.
Hoje como ontem não há defeito humano mais omnipresente que esssa tendência para a maledicência que se compraz em denegrir o outro, sempre certa de encontrar auditório que se delicia em chafurdar na lama.
Por maioria de razões, entre aqueles que escolheram para si viver segundo uma ética e um estilo que se crêem superiores as exigências neste campo têm que ser redobradas. Para dar seguimento à peçonha, nem boca que se disponha nem ouvido que se predisponha. Tenho dito.
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Aconteceu em Setembro
Faz hoje precisamente 30 anos, mais hora menos hora, andavam os nossos revolucionários ocupadíssimos na nobre tarefa da caça ao fascista: apanhados um a um, de casa em casa, alguns ainda em pijama, lá foram encher as celas de Caxias, em cortejo de ramonas e berliets, os perigosos reaccionários que ao que se dizia faziam perigar a jovem democracia.
O Walter Ventura, um dos distinguidos, escreve hoje um belo apontamento sobre a experiência no semanário "O Diabo".
Poucos dos contemporâneos conseguem imaginar o ambiente de loucura que varria o país nessa época, o inacreditável quadro que oscilava entre a comédia mais patusca e a tragédia mais sombria.
Neste aniversário recordo tantos que já se foram, e os poucos que ainda aí andam a carregar o fardo da vida; e cá por coisas deixo aqui a minha homenagem ao Dr. António José de Brito, que não sendo preso nessa hora (apesar de bem merecedor da honraria) certamente por desorganização dos serviços respectivos, tratou então de escrever em nobre desafio os seus "Diálogos de Doutrina Anti-Democrática", que editou e fez distribuir à sua custa, consignando que só esperava não deixar um testemunho indigno das ideias a que dedicava a sua vida e a sua fé. Impossível transmitir o que significava nesses anos seguintes, de 75 e 76, a simples exibição altaneira de um título assim.
Foi precisamente há trinta anos, numa manhã como esta. O Manuel Múrias, o Goulart Nogueira, e tantos, tantos outros, centenas de portugueses numa leva só, a que outras se seguiriam, começavam então o seu estágio pela "obra prisional do Estado Novo".
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O Walter Ventura, um dos distinguidos, escreve hoje um belo apontamento sobre a experiência no semanário "O Diabo".
Poucos dos contemporâneos conseguem imaginar o ambiente de loucura que varria o país nessa época, o inacreditável quadro que oscilava entre a comédia mais patusca e a tragédia mais sombria.
Neste aniversário recordo tantos que já se foram, e os poucos que ainda aí andam a carregar o fardo da vida; e cá por coisas deixo aqui a minha homenagem ao Dr. António José de Brito, que não sendo preso nessa hora (apesar de bem merecedor da honraria) certamente por desorganização dos serviços respectivos, tratou então de escrever em nobre desafio os seus "Diálogos de Doutrina Anti-Democrática", que editou e fez distribuir à sua custa, consignando que só esperava não deixar um testemunho indigno das ideias a que dedicava a sua vida e a sua fé. Impossível transmitir o que significava nesses anos seguintes, de 75 e 76, a simples exibição altaneira de um título assim.
Foi precisamente há trinta anos, numa manhã como esta. O Manuel Múrias, o Goulart Nogueira, e tantos, tantos outros, centenas de portugueses numa leva só, a que outras se seguiriam, começavam então o seu estágio pela "obra prisional do Estado Novo".
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segunda-feira, setembro 27, 2004
Nação e Tradição
"Pátria para sempre passada, memória quase perdida!"
Pois para que não o seja é que nós voltamos ao mais alto exercício do nosso dever de portugueses, que não é senão o de promover entre nós uma restauração da Inteligência. Dum e doutro lado da trincheira em que Portugal se corta de cima a baixo, pululam, numa inconsciência torpe de arraial, os mesmos bonecos, os mesmos postiços, cuja genealogia Eça de Queiroz nos traçou na sua obra cheia da mais elevada intenção demolidora. Portugal morre, porque, tal como uma tribo de berberes, deixou secar as raízes que o prendem à alma eterna da história. Cabe-nos a nós por isso - minoria que por acaso nos julguem - reconstruir, antes de mais nada, a fisionomia moral da Nacionalidade, indo beber ao património das gerações transactas os estímulos sagrados que nos abrirão, de par em par, as portas misteriosas do Futuro.
Assim se define o nosso nacionalismo, que não é nacionalismo somente, porque o tempera, como regra filosófica, o mais rasgado e genuíno tradicionalismo. Aceitação das razões fundamentais da Pátria com todas as leis derivadas da Raça e do Meio, nós não nos fechamos, porém, nessa moldura estática, em que por vezes pode tumultuar um forte vento anárquico, como o provam na sua incapacidade conhecida as diversas improvisações nacionalistas provocadas pela guerra europeia. Há que ir mais longe e realizar pela projecção do génio de cada pátria numa consciência maior um ideal superior de civilização - o da civilização cristã que formou o mundo e esperamos confiadamente o salvará ainda.
ANTNIO SARDINHA, in "A Prol do Comum"
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Pois para que não o seja é que nós voltamos ao mais alto exercício do nosso dever de portugueses, que não é senão o de promover entre nós uma restauração da Inteligência. Dum e doutro lado da trincheira em que Portugal se corta de cima a baixo, pululam, numa inconsciência torpe de arraial, os mesmos bonecos, os mesmos postiços, cuja genealogia Eça de Queiroz nos traçou na sua obra cheia da mais elevada intenção demolidora. Portugal morre, porque, tal como uma tribo de berberes, deixou secar as raízes que o prendem à alma eterna da história. Cabe-nos a nós por isso - minoria que por acaso nos julguem - reconstruir, antes de mais nada, a fisionomia moral da Nacionalidade, indo beber ao património das gerações transactas os estímulos sagrados que nos abrirão, de par em par, as portas misteriosas do Futuro.
Assim se define o nosso nacionalismo, que não é nacionalismo somente, porque o tempera, como regra filosófica, o mais rasgado e genuíno tradicionalismo. Aceitação das razões fundamentais da Pátria com todas as leis derivadas da Raça e do Meio, nós não nos fechamos, porém, nessa moldura estática, em que por vezes pode tumultuar um forte vento anárquico, como o provam na sua incapacidade conhecida as diversas improvisações nacionalistas provocadas pela guerra europeia. Há que ir mais longe e realizar pela projecção do génio de cada pátria numa consciência maior um ideal superior de civilização - o da civilização cristã que formou o mundo e esperamos confiadamente o salvará ainda.
ANTNIO SARDINHA, in "A Prol do Comum"
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Centro de Investigação e Análise em Relações Internacionais
Descobri o CIARI - Centro de Investigação e Análise em Relações Internacionais, e venho falar disso porque quer-me parecer que será uma escola do maior valor para toda a matulagem iletrada que por aí anda aspirando ao fascismo mas manifestamente incapaz de ascender a tais cumes do pensamento por flagrante analfabetismo político.
Acho que deviam ler todo o abundante material que se encontra em linha, e depois de atenuada a ignorância crassa procurarem ilustrar-se nos caminhos fascinantes da política internacional e da geopolítica...
Ainda para mais são matérias de grande tradição entre o escol da fascistagem; olhem, parece-me que no CIARI até há três rapazes que já leram Karl Haushofer e uns quatro ou cinco andam a ler Carl Schmitt.
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Acho que deviam ler todo o abundante material que se encontra em linha, e depois de atenuada a ignorância crassa procurarem ilustrar-se nos caminhos fascinantes da política internacional e da geopolítica...
Ainda para mais são matérias de grande tradição entre o escol da fascistagem; olhem, parece-me que no CIARI até há três rapazes que já leram Karl Haushofer e uns quatro ou cinco andam a ler Carl Schmitt.
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Grupo dos Amigos de Olivença
Segundo uma nota informativa do Grupo dos Amigos de Olivença, as autoridades espanholas trataram de modo agressivo e intimidatório uma delegação do grupo que há dias se deslocou a Olivença com o intuito de mais uma vez cumprir os seus fins estatutários, chamando a atenção para o problema da ocupação dessa região portuguesa, aproveitando a passagem da "Vuelta Ciclista a España".
Nada nos admira nesse comportamento: ainda há pouco tempo em Badajoz se falava em homenagear Manuel Godoy, e mesmo em Olivença até um congresso de veterinários serviu para prestar homenagem à mesma figura histórica, dizendo-se expressamente que essa iniciativa era para agradecer o facto de a ele se dever a posse espanhola de Olivença...
E aqui reside a insolúvel contradição dos nossos amigos espanhóis: por toda a Espanha passaram o mês de Agosto a recordar que passavam trezentos anos sobre esse miserável acto de pirataria que foi a conquista e ocupação de Gibraltar pela esquadra inglesa, crime que se mantém até agora; e têm os espanhóis nisso toda a razão... Mas então como esconder que a mesma atitude, de conquista violenta e ocupação pela força de um território do vizinho, tiveram eles há duzentos e poucos anos, e teimam em manter, contra todos os compromissos internacionais em contrário?
Enfim, que fiquem eles com as suas contradições. A nossa posição é a de sem transigências reclamar aquilo que nos pertence pela história e pelo direito.
E quem dera que a luta do Grupo dos Amigos de Olivença pudesse ser o catalizador, o despertador dos portugueses para a causa de todo o Portugal perdido...
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Nada nos admira nesse comportamento: ainda há pouco tempo em Badajoz se falava em homenagear Manuel Godoy, e mesmo em Olivença até um congresso de veterinários serviu para prestar homenagem à mesma figura histórica, dizendo-se expressamente que essa iniciativa era para agradecer o facto de a ele se dever a posse espanhola de Olivença...
E aqui reside a insolúvel contradição dos nossos amigos espanhóis: por toda a Espanha passaram o mês de Agosto a recordar que passavam trezentos anos sobre esse miserável acto de pirataria que foi a conquista e ocupação de Gibraltar pela esquadra inglesa, crime que se mantém até agora; e têm os espanhóis nisso toda a razão... Mas então como esconder que a mesma atitude, de conquista violenta e ocupação pela força de um território do vizinho, tiveram eles há duzentos e poucos anos, e teimam em manter, contra todos os compromissos internacionais em contrário?
Enfim, que fiquem eles com as suas contradições. A nossa posição é a de sem transigências reclamar aquilo que nos pertence pela história e pelo direito.
E quem dera que a luta do Grupo dos Amigos de Olivença pudesse ser o catalizador, o despertador dos portugueses para a causa de todo o Portugal perdido...
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Eu bem desconfiava...
Essa coisa da Rádio Vox Europa deve estar ligada a esses tenebrosos nazis do PTNS...
Ai se o Louçã descobre!!
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Rádio Vox Europa
Uma nova rádio feita pela rapaziada da pesada... à disposição de todo o venerável público.
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O embaixador R
Os leitores estarão lembrados do misterioso embaixador R, que era mencionado numa célebre conversa telefónica entre Paulo Pedroso e Ferro Rodrigues e em que os dois concluíam que era preciso ficar em "alerta amarelo"... Os mal intencionados, como o juiz que colocou o infeliz Pedroso sob prisão, interpretaram logo essa referência codificada como aludindo ao embaixador Ritto, então também gravemente incomodado pelas autoridades por causa das suas livres opções sexuais, o que justificaria o tal alerta...
Pedroso bem explicou que estavam a falar do embaixador russo no Iraque, que tinha sido apanhado por azar num bombardeamento americano quando se dirigia de Bagdad para Damasco, mas o teimoso magistrado, certamente ao serviço da cabala já falada por Ferro Rodrigues, não quis acreditar.
O R, era de russo, estava-se mesmo a ver...
Agora o camarada do Portugal Profundo lembrou-se de desmontar essa atoarda judiciária e decifrou o mistério identificando completamente o personagem: o embaixador de que falavam Ferro e Pedroso era o Vladimir Titorenko!
Caramba, não se compreende como pode ainda haver gente a duvidar das explicações do camarada Paulo Pedroso. Então não se vê logo que tanto Ferro como Pedroso estavam angustiados com a sorte do embaixador Titorenko, debaixo de fogo lá nas estradas poeirentas da Mesopotâmia, e daí concordarem em que era preciso permanecer em "alerta amarelo"?
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Pedroso bem explicou que estavam a falar do embaixador russo no Iraque, que tinha sido apanhado por azar num bombardeamento americano quando se dirigia de Bagdad para Damasco, mas o teimoso magistrado, certamente ao serviço da cabala já falada por Ferro Rodrigues, não quis acreditar.
O R, era de russo, estava-se mesmo a ver...
Agora o camarada do Portugal Profundo lembrou-se de desmontar essa atoarda judiciária e decifrou o mistério identificando completamente o personagem: o embaixador de que falavam Ferro e Pedroso era o Vladimir Titorenko!
Caramba, não se compreende como pode ainda haver gente a duvidar das explicações do camarada Paulo Pedroso. Então não se vê logo que tanto Ferro como Pedroso estavam angustiados com a sorte do embaixador Titorenko, debaixo de fogo lá nas estradas poeirentas da Mesopotâmia, e daí concordarem em que era preciso permanecer em "alerta amarelo"?
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www.falanges.com
O FORO AZUL MAHON é o melhor foro falangista espanhol. Todavia, tem sensvelmente o mesmo número de membros inscritos que o Forum Nacional. De onde se conclui a importância deste ponto de encontro da mocidade lusitana...
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domingo, setembro 26, 2004
Estrangeiros de dentro
"Superior aos indivíduos duma triste hora passageira, a Pátria não é, com efeito, de modo nenhum o pretexto das nossas paixões transitórias, nem a nós nos assiste o poder de a transformarmos segundo os nossos caprichos e conforme as nossas ideologias. O estrangeiro não é, portanto, unicamente aquele que nasceu de outra comunidade com outra língua e outros costumes. É também estrangeiro o que, insurreccionando-se contra a regra que o conformou socialmente, realiza em si a tremenda palavra de Comte, ao condenar a Revolução como sendo a "rebeldia do ser contra a espécie".
Ora quando esse estrangeiro, que é bem o estrangeiro do interior, desnacionalizado por ideias cosmopolitas, maçonizado por interesses baixos de seita, se apodera do governo duma nação para lhe imprimir uma finalidade adversa aos seus sentimentos fundamentais, não haverá legitimamente, até da parte duma minoria, o direito de revolta?"
ANTÓNIO SARDINHA, in "A Prol do Comum"
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Ora quando esse estrangeiro, que é bem o estrangeiro do interior, desnacionalizado por ideias cosmopolitas, maçonizado por interesses baixos de seita, se apodera do governo duma nação para lhe imprimir uma finalidade adversa aos seus sentimentos fundamentais, não haverá legitimamente, até da parte duma minoria, o direito de revolta?"
ANTÓNIO SARDINHA, in "A Prol do Comum"
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sábado, setembro 25, 2004
Para a antologia
Indispensável ler e reler, pensar e tornar a pensar, guardar e não esquecer, o texto do pensador húngaro Thomas Molnar reproduzido hoje no Sexo dos Anjos.
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De antologia
Na minha persistente mania de demonstrar que o hábito de ler, escrever e pensar pode representar o mais importante trabalho de militância, publiquei mais dois magníficos artigos do Prof. António José de Brito. Eles aí estão, à disposição de toda a gente.
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SOCIEDADE CIVIL E PODER POLÍTICO
Há quem sustente, por vezes, que a lei deriva da sociedade civil, que o Estado não é senão uma emanação desta última, e outros pontos de vista análogos.
A ser isso exacto, teríamos de admitir que a sociedade civil poderia existir sem lei e Estado, uma vez que a causa é anterior ao efeito. Mas sem lei e Estado não há sociedade civil, há horda in-civil.
De resto, se a lei e o Estado provêm da sociedade civil como explicar que dela comecem de repente a dimanar as leis ditas opressivas e as construções do Estado ditas macrocefálicas que se traduzem na alienação e na destruição (ou quase destruição) da fonte que as originou? Estamos perante uma dificuldade semelhante à que se nos depara face à conhecida tese de Rousseau, segundo a qual o homem solitário, intrinsecamente bom, seria corrompido pela sociedade que criou. Pois de que maneira o homem solitário e bom poderá criar um ente colectivo perverso e perversor?
Pelos vistos, a sociedade civil precisa de tutela para não se desviar torpemente na sua conduta, isto é, necessita de um poder e de uma normatividade que a protejam contra si mesma e que, nessa altura, não se concebe que derivem dela. Dir-nos-ão que não é a sociedade civil que gera leis opressivas e os Estados macrocefálicos, mas sim uma e outra (ou outras) realidade (ou realidades) (Qual ou quais)?
Muito bem! Simplesmente, deixa, então de ser verdade que a lei deriva da sociedade civil e que o Estado é uma emanação desta derradeira. Claro que, acaso, nos objectarão que, quando se diz que a lei deriva e o Estado emana da sociedade civil, o que se pretende dizer é que a lei “deve" derivar, “deve" ser feita pela sociedade civil, que o Estado deve ser uma emanação desta.
O que foi enunciado sobre a forma de uma asserção ontológica, afinal, teria exclusivamente um intuito deontológico, axiológico. Eis, porém, que, em tal circunstância, passa a oferecer perfeita razão de ser a interrogação: porque é que as coisas se “devem" passar assim? Se não há sociedade civil sem lei e sem governo, que motivo justifica que a lei e o governo devam provir da sociedade civil? O dever- ser invocado não patenteia qualquer espécie de sentido. Ele pretende que o constituinte derive daquilo que constitui, o que equivale a pretender que o automóvel é que deva inventar o engenheiro, as nuvens devam derivar do relâmpago “and so on".
O pressuposto daquele dever-ser é um optimismo societário digno de Pangloss. Composta a sociedade civil de indivíduos, ou grupos, ou indivíduos e grupos, pretende-se que nela estão todas as virtudes e harmonias que, depois, haveria que transportar para a lei e o governo. Só que esse panglossismo social não possui consistência alguma. Indivíduos e grupos (e não menos os grupos que os indivíduos), para se não dilacerarem entre si, não se aniquilarem mutuamente, têm de estar submetidos a uma disciplina, a uma ordem. E tal ordem e tal disciplina não podem dimanar daqueles a quem são dirigidos, pois, nessa conjuntura, iriam ser expressão de lutas e defeitos a que se procuram sobrepor, para os corrigir.
Aliás, se a sociedade civil é que possui todas as virtudes e harmonias, para quê a lei e o Estado que, em tantos momentos trazem complicações, degenerescências, opressões?
Se há um ordenamento social espontâneo, natural, imutável, o melhor é deixá-lo desenvolver-se por si e, no lugar de endossar-lhe superestruturas "estaduais", tentar afastá-las, visto que inúteis sempre e perturbadoras algumas ocasiões. E viva a anarquia! Em contrapartida, se não há um ordenamento social espontâneo, imutável, natural e unicamente graças à existência de um Poder Central se conservam mais ou menos em equilíbrio as diversas e divergentes correntes e tendências e se neutralizam as desorientações centrífugas, é absurdo que o Poder Central, feito para controlar e dominar as forças divergentes, diversas e centrífugas, seja confiado às mesmas.
Numa palavra o dilema põe-se: ou há sociedade civil sem governo, e não são precisos governos para nada; ou não há sociedade civil sem governo, e o governo não pode ser produto, emanação, representante, da sociedade civil, porque a sociedade civil é que resulta, entre outros factores, do factor governo.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
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A ser isso exacto, teríamos de admitir que a sociedade civil poderia existir sem lei e Estado, uma vez que a causa é anterior ao efeito. Mas sem lei e Estado não há sociedade civil, há horda in-civil.
De resto, se a lei e o Estado provêm da sociedade civil como explicar que dela comecem de repente a dimanar as leis ditas opressivas e as construções do Estado ditas macrocefálicas que se traduzem na alienação e na destruição (ou quase destruição) da fonte que as originou? Estamos perante uma dificuldade semelhante à que se nos depara face à conhecida tese de Rousseau, segundo a qual o homem solitário, intrinsecamente bom, seria corrompido pela sociedade que criou. Pois de que maneira o homem solitário e bom poderá criar um ente colectivo perverso e perversor?
Pelos vistos, a sociedade civil precisa de tutela para não se desviar torpemente na sua conduta, isto é, necessita de um poder e de uma normatividade que a protejam contra si mesma e que, nessa altura, não se concebe que derivem dela. Dir-nos-ão que não é a sociedade civil que gera leis opressivas e os Estados macrocefálicos, mas sim uma e outra (ou outras) realidade (ou realidades) (Qual ou quais)?
Muito bem! Simplesmente, deixa, então de ser verdade que a lei deriva da sociedade civil e que o Estado é uma emanação desta derradeira. Claro que, acaso, nos objectarão que, quando se diz que a lei deriva e o Estado emana da sociedade civil, o que se pretende dizer é que a lei “deve" derivar, “deve" ser feita pela sociedade civil, que o Estado deve ser uma emanação desta.
O que foi enunciado sobre a forma de uma asserção ontológica, afinal, teria exclusivamente um intuito deontológico, axiológico. Eis, porém, que, em tal circunstância, passa a oferecer perfeita razão de ser a interrogação: porque é que as coisas se “devem" passar assim? Se não há sociedade civil sem lei e sem governo, que motivo justifica que a lei e o governo devam provir da sociedade civil? O dever- ser invocado não patenteia qualquer espécie de sentido. Ele pretende que o constituinte derive daquilo que constitui, o que equivale a pretender que o automóvel é que deva inventar o engenheiro, as nuvens devam derivar do relâmpago “and so on".
O pressuposto daquele dever-ser é um optimismo societário digno de Pangloss. Composta a sociedade civil de indivíduos, ou grupos, ou indivíduos e grupos, pretende-se que nela estão todas as virtudes e harmonias que, depois, haveria que transportar para a lei e o governo. Só que esse panglossismo social não possui consistência alguma. Indivíduos e grupos (e não menos os grupos que os indivíduos), para se não dilacerarem entre si, não se aniquilarem mutuamente, têm de estar submetidos a uma disciplina, a uma ordem. E tal ordem e tal disciplina não podem dimanar daqueles a quem são dirigidos, pois, nessa conjuntura, iriam ser expressão de lutas e defeitos a que se procuram sobrepor, para os corrigir.
Aliás, se a sociedade civil é que possui todas as virtudes e harmonias, para quê a lei e o Estado que, em tantos momentos trazem complicações, degenerescências, opressões?
Se há um ordenamento social espontâneo, natural, imutável, o melhor é deixá-lo desenvolver-se por si e, no lugar de endossar-lhe superestruturas "estaduais", tentar afastá-las, visto que inúteis sempre e perturbadoras algumas ocasiões. E viva a anarquia! Em contrapartida, se não há um ordenamento social espontâneo, imutável, natural e unicamente graças à existência de um Poder Central se conservam mais ou menos em equilíbrio as diversas e divergentes correntes e tendências e se neutralizam as desorientações centrífugas, é absurdo que o Poder Central, feito para controlar e dominar as forças divergentes, diversas e centrífugas, seja confiado às mesmas.
Numa palavra o dilema põe-se: ou há sociedade civil sem governo, e não são precisos governos para nada; ou não há sociedade civil sem governo, e o governo não pode ser produto, emanação, representante, da sociedade civil, porque a sociedade civil é que resulta, entre outros factores, do factor governo.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
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NACIONALISMO E DESCENTRALIZAÇÃO
Há quem sustente que os esforços (improfícuos, aliás, até aqui) do sistema para descentralizar representam uma indiscutível vitória da doutrina nacionalista pela homenagem que expressam a uma das suas mais sérias reivindicações.
Quanto a nós, semelhante ponto de vista parece-nos amplamente equivocado. A descentralização aconselhada pelo nacionalismo apenas se compreende no conjunto das suas soluções. Ela postula, por isso, antes de mais nada, uma chefia suprema forte e pessoal que se imponha a valer. Uma vez vitoriosa a tendência concentradora no plano político, aceita-se como útil uma tendência desconcentradora ou descentralizadora no plano administrativo, de acordo com a fórmula tão repetida de Gama e Castro “o rei governa mas não administra".
Sem a condição prévia da existência de um chefe autêntico, a descentralização administrativa reduz-se a mais uma etapa no caminho da anarquia.
A descentralização preconizada pelo nacionalismo integra-se numa visão orgânica e hierárquica da sociedade. Julga-se conveniente que os órgãos soberanos se confinem a missões específicas e não procurem desempenhar igualmente funções que outras entidades poderão exercer com mais eficiência e proveito. A concentração excessiva julga-a, por exemplo, António Sardinha, conducente ao enfraquecimento do Poder, sendo esse um dos motivos por que a repele (1). O Poder, para verdadeiramente ser Poder, não deve procurar realizar tudo, hipertrofiando-se, tornando-se apoplético, desmesurado, arrastado e tardo. Servidor do bem supremo que é a unidade, tem de aceitar a condição de vida da unidade - a variedade, a multiplicidade, que ela reúne, liga, disciplina e sem as quais não há actos de união possíveis.
Simplesmente, o que se não deve esquecer é que a variedade e a multiplicidade, para não serem factores de atomização e dispersão, têm de estar enquadradas na e pela unidade.
Por isso, a descentralização implica, previamente, uma direcção superior e una, uma força centrípeta que faça convergir as diferentes energias.
A autoridade ao alto, as liberdades "restritas e concretas" (2)- de novo, no dizer de Sardinha - em baixo (3), eis a fórmula nacionalista. A concentração no plano politico e distensão no administrativo significam, porém, obviamente que as autarquias locais não são outras tantas pátrias independentes, mas, ao invés, pertencem à Pátria e têm de estar articuladas na totalidade que esta forma e de que é guardião e garante o Estado (no sentido mais usual da expressão Estado).
Quando, no entanto, tal totalidade não possui instrumento algum que a defenda e promova, quando a divisão e a discórdia estão instaladas na própria esfera do que deveria ser um núcleo central unificador, a descentralização perde todas as suas vantagens e torna-se uma das muitas fontes do caos reinante. Em democracia - e, em especial, em democracia partidocrática -, a descentralização (isto sem discutirmos a possibilidade ou a impossibilidade de uma democracia conseguir, estável e duradoiramente, descentralizar), se levada a cabo, constitui uma catástrofe. Os municípios ainda mais partidarizados, províncias opondo-se a províncias conforme a "cor”, enfim, a descida do espírito de seita e desobediência dos organismos de comando até aos confins das aldeias remotas - e aí temos a descentralização demo- partidocrática. Num regime de desordem ela só conseguirá repercutir e difundir a desordem. Unicamente num regime de ordem poderá ser um factor de revigoramento e pujança desta última, ao imprimir-lhe vitalidade e articulação.
Numa leitura ocasional deparámos, em revista francesa, com a afirmação de que Maurras, tendo sido entusiasta do regionalismo, perfilhara uma tese de esquerda. Como se houvesse algo de comum (além do nome) entre o regionalismo, que certa esquerda apregoa, e as concepções maurrasistas. Aquele é o chamado protesto contra a pretensa opressão do ordenamento nacional, é o direito de grupos de homens, de acordo com as afinidades que sentem, se autodeterminarem e viverem exclusivamente por e para si, repudiando todas as regras imperativas e permanentes e aceitando exclusivamente o que é produto dos seus quereres arbitrários e ocasionais. O maurrasismo, por seu turno, é a defesa da nação pelo robustecimento das partes que a estruturam, as quais nunca podem esquecer o serviço do interesse comum. Entre o regionalismo das esquerdas e o regionalismo de Maurras há o abismo que medeia entre os que queiram desenvolver mãos, braços, pernas, coração, pulmões, nos limites que tornam um corpo cada vez mais firme e harmonioso, e os que pretendam fazer crescer mãos, pernas, braços, etc., cada um de per si até ao máximo, produzindo um corpo monstruoso que acaba por estoirar pela pressão do aumento autónomo e desproporcionado dos seus elementos constituintes. Em Maurras deparamos com o culto da unidade orgânica, no regionalismo da esquerda a aversão a toda a espécie de unidade, o amor extremado ao particularismo que dissolve e desagrega.
Nada mais é preciso acrescentar. Fujamos às confusões e ilusões e saibamos ver claramente que em democracia partidocrática não há descentralizações ou regionalizações que valham.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
(1) "Tudo o que seja um abuso de centralização administrativa... resulta inevitavelmente num enfraquecimento da concentração política" (António Sardinha, “Purgatório das Ideias", p. 273); "Se por exemplo se fala no municipalismo português, ninguém pensa em voltar aos forais tal como a Idade Média os concebe... O que se pretende é conservar esse apreciável instinto localista que assegura de per si a realização das mais saudáveis medidas descentralizadoras no interesse do Estado" (António Sardinha, “Na Feira dos Mitos”, p. 15).
(2) "É pelas liberdades de sentido restrito e concreto que dedicadamente nos inscrevemos" (António Sardinha, “Na Feira dos Mitos”, p. 30).
(3) "Les libertés en bas, l’autorité en haut" (Charles Maurras, “Enquéte sur Ia Monarchie”,; ed. Définitive, p. 449).
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Quanto a nós, semelhante ponto de vista parece-nos amplamente equivocado. A descentralização aconselhada pelo nacionalismo apenas se compreende no conjunto das suas soluções. Ela postula, por isso, antes de mais nada, uma chefia suprema forte e pessoal que se imponha a valer. Uma vez vitoriosa a tendência concentradora no plano político, aceita-se como útil uma tendência desconcentradora ou descentralizadora no plano administrativo, de acordo com a fórmula tão repetida de Gama e Castro “o rei governa mas não administra".
Sem a condição prévia da existência de um chefe autêntico, a descentralização administrativa reduz-se a mais uma etapa no caminho da anarquia.
A descentralização preconizada pelo nacionalismo integra-se numa visão orgânica e hierárquica da sociedade. Julga-se conveniente que os órgãos soberanos se confinem a missões específicas e não procurem desempenhar igualmente funções que outras entidades poderão exercer com mais eficiência e proveito. A concentração excessiva julga-a, por exemplo, António Sardinha, conducente ao enfraquecimento do Poder, sendo esse um dos motivos por que a repele (1). O Poder, para verdadeiramente ser Poder, não deve procurar realizar tudo, hipertrofiando-se, tornando-se apoplético, desmesurado, arrastado e tardo. Servidor do bem supremo que é a unidade, tem de aceitar a condição de vida da unidade - a variedade, a multiplicidade, que ela reúne, liga, disciplina e sem as quais não há actos de união possíveis.
Simplesmente, o que se não deve esquecer é que a variedade e a multiplicidade, para não serem factores de atomização e dispersão, têm de estar enquadradas na e pela unidade.
Por isso, a descentralização implica, previamente, uma direcção superior e una, uma força centrípeta que faça convergir as diferentes energias.
A autoridade ao alto, as liberdades "restritas e concretas" (2)- de novo, no dizer de Sardinha - em baixo (3), eis a fórmula nacionalista. A concentração no plano politico e distensão no administrativo significam, porém, obviamente que as autarquias locais não são outras tantas pátrias independentes, mas, ao invés, pertencem à Pátria e têm de estar articuladas na totalidade que esta forma e de que é guardião e garante o Estado (no sentido mais usual da expressão Estado).
Quando, no entanto, tal totalidade não possui instrumento algum que a defenda e promova, quando a divisão e a discórdia estão instaladas na própria esfera do que deveria ser um núcleo central unificador, a descentralização perde todas as suas vantagens e torna-se uma das muitas fontes do caos reinante. Em democracia - e, em especial, em democracia partidocrática -, a descentralização (isto sem discutirmos a possibilidade ou a impossibilidade de uma democracia conseguir, estável e duradoiramente, descentralizar), se levada a cabo, constitui uma catástrofe. Os municípios ainda mais partidarizados, províncias opondo-se a províncias conforme a "cor”, enfim, a descida do espírito de seita e desobediência dos organismos de comando até aos confins das aldeias remotas - e aí temos a descentralização demo- partidocrática. Num regime de desordem ela só conseguirá repercutir e difundir a desordem. Unicamente num regime de ordem poderá ser um factor de revigoramento e pujança desta última, ao imprimir-lhe vitalidade e articulação.
Numa leitura ocasional deparámos, em revista francesa, com a afirmação de que Maurras, tendo sido entusiasta do regionalismo, perfilhara uma tese de esquerda. Como se houvesse algo de comum (além do nome) entre o regionalismo, que certa esquerda apregoa, e as concepções maurrasistas. Aquele é o chamado protesto contra a pretensa opressão do ordenamento nacional, é o direito de grupos de homens, de acordo com as afinidades que sentem, se autodeterminarem e viverem exclusivamente por e para si, repudiando todas as regras imperativas e permanentes e aceitando exclusivamente o que é produto dos seus quereres arbitrários e ocasionais. O maurrasismo, por seu turno, é a defesa da nação pelo robustecimento das partes que a estruturam, as quais nunca podem esquecer o serviço do interesse comum. Entre o regionalismo das esquerdas e o regionalismo de Maurras há o abismo que medeia entre os que queiram desenvolver mãos, braços, pernas, coração, pulmões, nos limites que tornam um corpo cada vez mais firme e harmonioso, e os que pretendam fazer crescer mãos, pernas, braços, etc., cada um de per si até ao máximo, produzindo um corpo monstruoso que acaba por estoirar pela pressão do aumento autónomo e desproporcionado dos seus elementos constituintes. Em Maurras deparamos com o culto da unidade orgânica, no regionalismo da esquerda a aversão a toda a espécie de unidade, o amor extremado ao particularismo que dissolve e desagrega.
Nada mais é preciso acrescentar. Fujamos às confusões e ilusões e saibamos ver claramente que em democracia partidocrática não há descentralizações ou regionalizações que valham.
ANTÓNIO JOSÉ DE BRITO
(1) "Tudo o que seja um abuso de centralização administrativa... resulta inevitavelmente num enfraquecimento da concentração política" (António Sardinha, “Purgatório das Ideias", p. 273); "Se por exemplo se fala no municipalismo português, ninguém pensa em voltar aos forais tal como a Idade Média os concebe... O que se pretende é conservar esse apreciável instinto localista que assegura de per si a realização das mais saudáveis medidas descentralizadoras no interesse do Estado" (António Sardinha, “Na Feira dos Mitos”, p. 15).
(2) "É pelas liberdades de sentido restrito e concreto que dedicadamente nos inscrevemos" (António Sardinha, “Na Feira dos Mitos”, p. 30).
(3) "Les libertés en bas, l’autorité en haut" (Charles Maurras, “Enquéte sur Ia Monarchie”,; ed. Définitive, p. 449).
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sexta-feira, setembro 24, 2004
A rede pedófila de controlo do Estado
"A rede pedófila continha dirigentes políticos, governantes, parlamentares, magistrados, militares, jornalistas - além de artistas, gente dos media, desportistas, etc."
A ler no "Do Portugal Profundo".
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quinta-feira, setembro 23, 2004
Mais um fascista honorário
Gostei muito de ler o artigo de João de Mendia no "Diario Digital" de hoje.
Entra já directamente para a lista dos fascistas honorários, queira ou não queira.
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Prémio antifascista honorário
Vai para o Anacleto, pois claro.
Um must em matéria de antifascismo. Um verdadeiro antifascista de estimação.
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Um must em matéria de antifascismo. Um verdadeiro antifascista de estimação.
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Prémio fascista honorário
Prémio fascista honorário
Para um verdadeiro e autêntico fascista, nobremente fascista, em sentimentos, palavras e obras - o venerável Dragão que lá da sua caverna expele fogo purificador sobre esta terra infecta.
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quarta-feira, setembro 22, 2004
Pérolas de cultura
O PROBLEMA, DO PONTO DE VISTA DO CONJUNTO DOS TRABALHADORES, É QUE UMA MAIOR PRODUÇÃO DE MERCADORIAS POR PARTE DOS ATUAIS "EMPREGADOS", TENDE A AUMENTAR OS "DESEMPREGADOS", CONTRIBUINDO PARA UMA MAIOR OFERTA DA "MERCADORIA TRABALHO", O QUE, POR SUA VEZ, TENDE A DIMINUIR O SEU VALOR NO MERCADO.
(in "Participacção", boletim do Bloco de Esquerda, artigo de António Inácio Andrioli)
Não, querido leitor, não leu mal: a tese exposta significa mesmo que se aumentar a produtividade aumentará o desemprego, uma vez que poucos conseguirão produzir o que poderia ser feito por muitos, e então havendo mais desempregados o preço da mão de obra desce, logo os que tiverem emprego também ganharão cada vez menos, coexistindo elevado nível de desemprego e baixos salários...
Proposta implícita: quem tiver emprego deve trabalhar o menos que puder, para gerar a necessidade de mais empregados, diminuir a quantidade de mão de obra disponível no mercado de trabalho, consequentemente fazer subir o preço do factor trabalho, e então ficar toda a gente a ganhar, com muito mais emprego e muito mais bem pago...
Brilhante, não é? A solução dos problemas económicos e sociais está em trabalhar poucochinho! E anda o senhor primeiro-ministro a falar em ganhos de produtividade! Devia era dar atenção aos economistas do Bloco! Até aposto que esta estratégia ia ser popular à brava!
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(in "Participacção", boletim do Bloco de Esquerda, artigo de António Inácio Andrioli)
Não, querido leitor, não leu mal: a tese exposta significa mesmo que se aumentar a produtividade aumentará o desemprego, uma vez que poucos conseguirão produzir o que poderia ser feito por muitos, e então havendo mais desempregados o preço da mão de obra desce, logo os que tiverem emprego também ganharão cada vez menos, coexistindo elevado nível de desemprego e baixos salários...
Proposta implícita: quem tiver emprego deve trabalhar o menos que puder, para gerar a necessidade de mais empregados, diminuir a quantidade de mão de obra disponível no mercado de trabalho, consequentemente fazer subir o preço do factor trabalho, e então ficar toda a gente a ganhar, com muito mais emprego e muito mais bem pago...
Brilhante, não é? A solução dos problemas económicos e sociais está em trabalhar poucochinho! E anda o senhor primeiro-ministro a falar em ganhos de produtividade! Devia era dar atenção aos economistas do Bloco! Até aposto que esta estratégia ia ser popular à brava!
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Portugal Sempre!
terça-feira, setembro 21, 2004
NACIONALISMO REVOLUCIONÁRIO E NACIONALISMO REACCIONÁRIO
II – Nova visão da política
Nova atitude perante o mundo
1. "Não há pensamento sem acção. Só se pensa na medida em que, agindo sobre o pensamento, este é experimentado, adaptado, e lhe é assegurado um sólido degrau para subir mais alto... Mas, em última análise, ninguém sentirá que se correu um risco real ao prosseguir se esse pensamento, se não nos deixarmos morrer por essas mesmas ideias" (Drieu La Rochelle).
Vimos, no artigo anterior, que a realidade passível da designação "nacionalismo revolucionário" não concebe a acção ideológica como um vector desconexo, e muito menos estranho, em relação à acção política. A militância, qualidade tomada como base essencial da acção revolucionária, exige precisamente a unidade entre pensamento e acção que refere Drieu. Porque, se a transformação da realidade passa pela luta política, entendida como acção directa, esta só adquire sentido e eficácia (eficácia "porque" sentido) se moldada e informada por um edifício normativo, ainda que reduzido a um aspecto básico.
O diletante analisa, disserta e (por vezes) conclui, mas não trata de se aplicar em transformar o Mundo. A sua memória cultural serve-lhe de espelho, e não de martelo. Ao militante, e ao militante revolucionário em particular, interessa uma "política de mudança": porque acredita e deseja que a revolução se cumpra ante a constatação de uma realidade que não pode durar mais (e a este nível há uma necessidade de mudança intelectualmente formulada, apesar de se poder fundar numa mera regra de sobrevivência animal) e porque compreende que "viver é, antes de mais, comprometer-se".
Para o que vimos chamando "nacionalismo revolucionário", o pensamento não pode assim erigir-se em entidade que impeça a acção revolucionária. Melhor, essa acção é o preço pelo qual o pensamento actua sobre a realidade.
E ver-se-á sem custo que, em muitas ocasiões, a acção revolucionária forja uma certa consciência. Tomemos só um exemplo: em Budapeste, durante o Outono de 56, os operários metalúrgicos que defenderam as pontes da cidade contra os tanques soviéticos não tinham com certeza qualquer veleidade de estarem a mudar o que quer que fosse à face da Terra. Limitavam-se a defender o solo onde viviam e tinham visto a luz perante os uniformes cinzentos daqueles que lhes apareciam como carrascos e esbulhadores. Mas em Novembro já destruíam a estátua de Estaline, no centro da cidade, e escreviam "slogans" nacionalistas nas paredes esburacadas pelo tiroteio. O próprio Kremlin se apercebeu desta tomada de consciência, deste "salto dialéctico" do campo do instinto de defesa para o do sentimento colectivo da existência nacional, com amigos e inimigos delineados, com "leitmotivs" diversos erigidos em estandartes de combate. Sintomático é o facto de, para Moscovo e para o governo Nagy, tudo ter começado com “tumultos dispersos de arruaceiros" e terminado "numa conspiração organizada pelo fascismo nacional e internacional", reprimida em sangue.
Aquele que ergue uma barricada pode fazê-lo por opção e convicção intelectual, assim como o que atira uma pedra instintivamente o faz por ter sido agredido o seu "espaço vital", o seu quadro de vivência. Porém, em qualquer dos casos nada impede que se possa encontrar a consciência política no fim do cano de uma espingarda.
2. Tudo isto para concluir que, ao "nacionalismo revolucionário" repugna o fraccionamento arbitrário e artificial da realidade. Pensamento e acção são uma realidade e só um raciocínio especulativo de raiz formalista os encarará como entidades completamente autónomas e dotadas de qualidades contrárias.
Porque em lugar de contemplar interessa agir, no tempo e no lugar próprios. Tínhamos delimitado alguns parâmetros do pensamento nacionalista revolucionário. Eis agora, inseparáveis "de facto", as propostas.
POLÍTICA DE RUPTURA COM A ACTUAL VISÃO MANIQUEISTA DO MUNDO
2.1. A luta nacionalista revolucionária desenrola-se, não contra os Estados (também contra eles, como é evidente), mas sobretudo contra o Estado, na sua essência, "tal como o conhecemos, a Leste e a Oeste", simples cobertura de uma ordem injusta, que, apesar das variações "superestruturais", permanece a mesma. E logo aqui se vê o que separa este nacionalismo das direitas e das esquerdas regimistas. Estas querelam-se "dentro" do sistema, apenas visam o "poder legal" e gritam por reformas, para que nada se transforme essencialmente, sob a capa da adaptação às exigências de renovação histórica. Como dizia Georges Valois, um socialista revolucionário dos anos 20, "coisa curiosa: longe de visar o Estado, os homens da direita e da esquerda ergueram-se uns contra os outros, segundo as palavras de ordem: todos erguidos contra o comunismo! Ergamo-nos todos contra o clericalismo, ou a reacção, ou o fascismo! E foi assim que vários governos obtiveram a paz e que o Estado Parlamentar ainda permanece de pé".
Porque Direitas e Esquerdas são afinal produtos de uma mesma lógica, encontram-se unidas por um cordão umbilical que lhes permite subsistir umas em função das outras. Irmãs inimigas põem-se geralmente de acordo quando se trata de reprimir aqueles que podem realmente pôr em perigo o "establishment". Importante ainda é referir que a existência de uma "direita" e de uma "esquerda", nascidas historicamente de uma disposição parlamentar, serve de justificação às cliques partidárias que pretendem dar do seu regime uma ideia de liberdade a que chamam "pluralismo". Mas não há liberdade alguma, quer nas "democracias parlamentares", quer nas "democracias populares": é sempre a mesma casta que ocupa a Administração e detém as chaves do Estado. Tentar provar-se a excelência da "democracia ocidental", individualista, fraccionária, dominada pelos “lobbies" e pelos vários grupos de pressão, devido à sua "superioridade moral" (mercê da existência de "liberdades políticas") em relação ao sistema concentracionário, burocratizado, planificado de Leste, é esquecer deliberadamente que o que separa os dois subsistemas é apenas um factor "quantitativo": Moscovo conseguiu levar até às últimas consequências os pressupostos das utopias oitocentistas, e, dando-se conta do fracasso, executa agora um retrocesso. Mais tarde ou mais cedo, como sublinhava Emmanuel Todd, a URSS será "totalmente" recuperada para a "sociedade de consumo", pondo-se fim ao cisma que dividiu durante anos a civilização que "o burguês criou à sua imagem e semelhança". Werner Sombart provou, ainda no princípio do século, que não existiria fundamental dissemelhança entre um "capitalismo estabilizado e regulamentado e um socialismo racionalizado e que utilize todos os recursos da técnica". Ambos se baseariam no mesmo vício: a desumanização, o desconhecimento e a agressão sistemática da realidade.
É por isto que, liberto da obsessão quantitativa que tolda a vista às formas políticas contemporâneas, preconiza o nacionalismo revolucionário uma "nova ordem" social, económica e política.
2.1.1. Na base, a questão da propriedade privada ou colectiva é pragmática, e não de princípios. Ou seja, a propriedade vale pelos seus resultados sociais (Manoilesco, Spirito, Nasti), e a superioridade de um sistema deriva da experiência da sua aplicação. De qualquer forma procura em linhas gerais o NR reconciliar o valor essencial que é o trabalho, com as necessidades de investimento, através da prática de um sistema de justiça distributiva "real", que se oponha quer ao "capitalismo puro e duro", sugador das energias nacionais, quer ao "socialismo" dos teóricos, que privilegia a justiça formal, e ainda ao "comunismo" concentracionário, que concretiza de uma forma brutal os sonhos mais inconfessáveis da casta tecnocrática anglo saxónica e europeia.
2.1.2. Propõe a participação de todos os corpos de interesse público na formação da vontade política do Estado, participação que variará de intensidade na razão directa da importância dessas entidades na construção e manutenção da vida em sociedade. Defende a revitalização dos espaços culturais nacionais, o fortalecimento da resistência à política de blocos, a criação de novas áreas económicas internacionais que proporcionem uma saída eficaz do actual impasse gerado entre países ricos e países pobres, entre economias dominadas e dominantes.
NUNO ROGEIRO (Setembro de 1979)
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Nova atitude perante o mundo
1. "Não há pensamento sem acção. Só se pensa na medida em que, agindo sobre o pensamento, este é experimentado, adaptado, e lhe é assegurado um sólido degrau para subir mais alto... Mas, em última análise, ninguém sentirá que se correu um risco real ao prosseguir se esse pensamento, se não nos deixarmos morrer por essas mesmas ideias" (Drieu La Rochelle).
Vimos, no artigo anterior, que a realidade passível da designação "nacionalismo revolucionário" não concebe a acção ideológica como um vector desconexo, e muito menos estranho, em relação à acção política. A militância, qualidade tomada como base essencial da acção revolucionária, exige precisamente a unidade entre pensamento e acção que refere Drieu. Porque, se a transformação da realidade passa pela luta política, entendida como acção directa, esta só adquire sentido e eficácia (eficácia "porque" sentido) se moldada e informada por um edifício normativo, ainda que reduzido a um aspecto básico.
O diletante analisa, disserta e (por vezes) conclui, mas não trata de se aplicar em transformar o Mundo. A sua memória cultural serve-lhe de espelho, e não de martelo. Ao militante, e ao militante revolucionário em particular, interessa uma "política de mudança": porque acredita e deseja que a revolução se cumpra ante a constatação de uma realidade que não pode durar mais (e a este nível há uma necessidade de mudança intelectualmente formulada, apesar de se poder fundar numa mera regra de sobrevivência animal) e porque compreende que "viver é, antes de mais, comprometer-se".
Para o que vimos chamando "nacionalismo revolucionário", o pensamento não pode assim erigir-se em entidade que impeça a acção revolucionária. Melhor, essa acção é o preço pelo qual o pensamento actua sobre a realidade.
E ver-se-á sem custo que, em muitas ocasiões, a acção revolucionária forja uma certa consciência. Tomemos só um exemplo: em Budapeste, durante o Outono de 56, os operários metalúrgicos que defenderam as pontes da cidade contra os tanques soviéticos não tinham com certeza qualquer veleidade de estarem a mudar o que quer que fosse à face da Terra. Limitavam-se a defender o solo onde viviam e tinham visto a luz perante os uniformes cinzentos daqueles que lhes apareciam como carrascos e esbulhadores. Mas em Novembro já destruíam a estátua de Estaline, no centro da cidade, e escreviam "slogans" nacionalistas nas paredes esburacadas pelo tiroteio. O próprio Kremlin se apercebeu desta tomada de consciência, deste "salto dialéctico" do campo do instinto de defesa para o do sentimento colectivo da existência nacional, com amigos e inimigos delineados, com "leitmotivs" diversos erigidos em estandartes de combate. Sintomático é o facto de, para Moscovo e para o governo Nagy, tudo ter começado com “tumultos dispersos de arruaceiros" e terminado "numa conspiração organizada pelo fascismo nacional e internacional", reprimida em sangue.
Aquele que ergue uma barricada pode fazê-lo por opção e convicção intelectual, assim como o que atira uma pedra instintivamente o faz por ter sido agredido o seu "espaço vital", o seu quadro de vivência. Porém, em qualquer dos casos nada impede que se possa encontrar a consciência política no fim do cano de uma espingarda.
2. Tudo isto para concluir que, ao "nacionalismo revolucionário" repugna o fraccionamento arbitrário e artificial da realidade. Pensamento e acção são uma realidade e só um raciocínio especulativo de raiz formalista os encarará como entidades completamente autónomas e dotadas de qualidades contrárias.
Porque em lugar de contemplar interessa agir, no tempo e no lugar próprios. Tínhamos delimitado alguns parâmetros do pensamento nacionalista revolucionário. Eis agora, inseparáveis "de facto", as propostas.
POLÍTICA DE RUPTURA COM A ACTUAL VISÃO MANIQUEISTA DO MUNDO
2.1. A luta nacionalista revolucionária desenrola-se, não contra os Estados (também contra eles, como é evidente), mas sobretudo contra o Estado, na sua essência, "tal como o conhecemos, a Leste e a Oeste", simples cobertura de uma ordem injusta, que, apesar das variações "superestruturais", permanece a mesma. E logo aqui se vê o que separa este nacionalismo das direitas e das esquerdas regimistas. Estas querelam-se "dentro" do sistema, apenas visam o "poder legal" e gritam por reformas, para que nada se transforme essencialmente, sob a capa da adaptação às exigências de renovação histórica. Como dizia Georges Valois, um socialista revolucionário dos anos 20, "coisa curiosa: longe de visar o Estado, os homens da direita e da esquerda ergueram-se uns contra os outros, segundo as palavras de ordem: todos erguidos contra o comunismo! Ergamo-nos todos contra o clericalismo, ou a reacção, ou o fascismo! E foi assim que vários governos obtiveram a paz e que o Estado Parlamentar ainda permanece de pé".
Porque Direitas e Esquerdas são afinal produtos de uma mesma lógica, encontram-se unidas por um cordão umbilical que lhes permite subsistir umas em função das outras. Irmãs inimigas põem-se geralmente de acordo quando se trata de reprimir aqueles que podem realmente pôr em perigo o "establishment". Importante ainda é referir que a existência de uma "direita" e de uma "esquerda", nascidas historicamente de uma disposição parlamentar, serve de justificação às cliques partidárias que pretendem dar do seu regime uma ideia de liberdade a que chamam "pluralismo". Mas não há liberdade alguma, quer nas "democracias parlamentares", quer nas "democracias populares": é sempre a mesma casta que ocupa a Administração e detém as chaves do Estado. Tentar provar-se a excelência da "democracia ocidental", individualista, fraccionária, dominada pelos “lobbies" e pelos vários grupos de pressão, devido à sua "superioridade moral" (mercê da existência de "liberdades políticas") em relação ao sistema concentracionário, burocratizado, planificado de Leste, é esquecer deliberadamente que o que separa os dois subsistemas é apenas um factor "quantitativo": Moscovo conseguiu levar até às últimas consequências os pressupostos das utopias oitocentistas, e, dando-se conta do fracasso, executa agora um retrocesso. Mais tarde ou mais cedo, como sublinhava Emmanuel Todd, a URSS será "totalmente" recuperada para a "sociedade de consumo", pondo-se fim ao cisma que dividiu durante anos a civilização que "o burguês criou à sua imagem e semelhança". Werner Sombart provou, ainda no princípio do século, que não existiria fundamental dissemelhança entre um "capitalismo estabilizado e regulamentado e um socialismo racionalizado e que utilize todos os recursos da técnica". Ambos se baseariam no mesmo vício: a desumanização, o desconhecimento e a agressão sistemática da realidade.
É por isto que, liberto da obsessão quantitativa que tolda a vista às formas políticas contemporâneas, preconiza o nacionalismo revolucionário uma "nova ordem" social, económica e política.
2.1.1. Na base, a questão da propriedade privada ou colectiva é pragmática, e não de princípios. Ou seja, a propriedade vale pelos seus resultados sociais (Manoilesco, Spirito, Nasti), e a superioridade de um sistema deriva da experiência da sua aplicação. De qualquer forma procura em linhas gerais o NR reconciliar o valor essencial que é o trabalho, com as necessidades de investimento, através da prática de um sistema de justiça distributiva "real", que se oponha quer ao "capitalismo puro e duro", sugador das energias nacionais, quer ao "socialismo" dos teóricos, que privilegia a justiça formal, e ainda ao "comunismo" concentracionário, que concretiza de uma forma brutal os sonhos mais inconfessáveis da casta tecnocrática anglo saxónica e europeia.
2.1.2. Propõe a participação de todos os corpos de interesse público na formação da vontade política do Estado, participação que variará de intensidade na razão directa da importância dessas entidades na construção e manutenção da vida em sociedade. Defende a revitalização dos espaços culturais nacionais, o fortalecimento da resistência à política de blocos, a criação de novas áreas económicas internacionais que proporcionem uma saída eficaz do actual impasse gerado entre países ricos e países pobres, entre economias dominadas e dominantes.
NUNO ROGEIRO (Setembro de 1979)
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segunda-feira, setembro 20, 2004
Um bom trabalho
Ainda com menos de um mês em linha, o "Causa Nacional" perfila-se já como uma esperançosa realidade que promete ainda crescer e desenvolver-se, para enriquecimento da área nacional.
Sempre em frente, rumo ao futuro!
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5 meses de Forum Nacional
Completou cinco meses nesta segunda-feira dia 20 de Setembro o Forum Nacional.
Uma longa vida para o F.N, cada vez maior e melhor, sempre ao serviço da causa nacionalista, são os votos deste modesto blogue.
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NACIONALISMO REVOLUCIONÁRIO E NACIONALISMO REACCIONÁRIO
I – Os dados da questão
Há um pensamento nacionalista que é uma edição de pequenas vaidades, um círculo estreito e fechado. Essencialmente chauvinista, procura mais transplantar o passado (encarado não como passado, mas como presente) para a actualidade, do que injectar vida nova e continuar o fio histórico da comunidade.
Este nacionalismo estreito (que José António designava, neologicamente, como "nacionalitarismo") recorre frequentemente a uma semântica "patriótica", mas tem uma visão irremediavelmente "classista" do Estado, uma concepção "maniqueísta" da vida social, um entendimento "romântico" da realidade nacional. Numa atitude tipicamente "reaccionária", volta-se de costas para o futuro, e a cumprir uma "unidade de destino" prefere servir de sustentáculo ao regime que melhor lhe assegure a sobrevivência como materialização socio-política.
Enquanto pensamento, fecha-se no mais fanático dos dogmatismos; como forma política, pelo contrário, renega toda a sua crença para poder sobreviver; como forma de acção, prefere, como dizia Ortega, "a pousada ao caminho".
Mas há um outro nacionalismo que não pretende negar a realidade, com base numa qualquer pseudomoral objectiva. Rejeitando a atitude seráfica do diletante perante o fenómeno político, assume-se como mensageiro e agente de uma revolução radicalmente diversa das suas formas históricas, sempre de índole particularista. Não quer uma revolução de classe, mas uma revolução totalizante, "solidária". E não deseja sobretudo o contrário de uma revolução, mas uma revolução (classista) ao contrário.
E este "nacionalismo revolucionário" (é-o, materialmente. Formalmente, pode assumir aspectos semânticos e "superestruturais" diversificados) não é só uma base de resistência: embora construído, pensado e alicerçado à sombra e fora dos vários avatares do Estado Moderno, constitui cada vez mais, com o ruir sucessivo das formas políticas hodiernas, "uma alternativa".
Alternativa que pode assumir-se como projecto político. E é disso que queremos aqui dar notícia.
1 – Como filosofia de acção opõe-se às formas de romantismo político
Não é uma "ideologia", ou seja, não é "um sistema global de interpretação do mundo histórico-político" (acepção de R. Aron, in "Trois Études sur la Societé Industrielle"). Não pretende pegar no "homem real" e adaptá-lo a uma construção especulativa, mas restituir à sociedade o seu perdido aspecto humano. Daí o procurar ajustar as instituições à sociedade real, e não o contrário. O nacionalismo revolucionário quer, "não estabelecer um programa para o ano 2000", mas agir pragmaticamente, conforme o exigirem os interesses da nação/unidade de destino no universal, e do povo/comunidade social solidária. Por isto, não interessam tanto as justificações que se possam fabricar para acompanhar a acção política, mas sim essa mesma acção, não tomada como "moral absoluta", mas intrinsecamente moral, já que destinada a alterar um conjunto de estruturas para as restituir à realidade (1).
Tem do "povo", não o conhecimento superficial dos teóricos liberais, mas o convívio real com as camadas produtivas da população, partindo, pois, para qualquer análise do homem com o seu ambiente familiar, profissional, cultural, não do "cidadão", indivíduo reduzido ao estado abstracto e despojado, pela ideologia demoliberal, das suas qualidades sensíveis.
2 – Demonstra que a posse do território não é uma questão moral
Sabe que a nação não é uma construção teórica, nem uma mera unidade geográfica, étnica ou político-económica, mas uma "unidade trigeracional" (Ortega, Duguit, Spirito), uma "comunidade de destino no universal" (Evola, José António, Guénon), que só sobreviverá enquanto for forte, e só será forte se souber preservar a sua unidade física, independentemente, da forma política que adopte. Mais do que uma desfasada "politique de grandeur", politica do real e do possível, sem desvarios ou miragens mas sobretudo sem concessões. Porque, em última análise, dá -se razão a Hobbes: "A liberdade é o poder".
A defesa do território não é, pois, na sua essência, uma questão moral: é um imperativo de sobrevivência.
3 –Pretende uma estrutura do Estado que não se exige na sociedade civil
Defende um modelo de Estado em que se oblitere o presente divórcio entre classes produtivas e "classe política". O Estado terá de ser a mera conformação da sociedade, o reflexo da sua vivência, da sua estrutura e do seu sentir.
Assim, o poder deve ser exercido pelas forças reais da nação, sindicatos, associações de produtores, autarquias, e não pelas máquinas partidárias ou pela casta que segregam, elementos essenciais de desagregação e entidades estranhas ao “país real", que, pelo trabalho quotidiano, assegura a continuidade material da unidade política usufruída pela oligarquia dominante.
4 – Luta por uma adaptação do “político” ao real
Por mais malabarismos formais que se efectuem, os actuais sistemas políticos continuam a assemelhar-se a uma fotografia amarelecida, a um "cliché". E isto, porque o grande drama do mundo moderno é o de a evolução política não ter acompanhado e tido em conta o avançar das ciências físicas e humanas, das próprias modificações da textura social.
Ora, o nacionalismo revolucionário não procura ignorar, antes salienta, a validade da contribuição dos novos ramos científicos, para uma melhor compreensão do comportamento humano e da vida social. Enquanto as ideologias dominantes se atarefam em pintar o homem ideal às suas manipulações, aquele procura surpreender o homem no seu meio, interpretando os seus gestos mais elementares à luz dos modernos dados das várias disciplinas antropológicas, procurando libertar a acção política de dogmas indemonstráveis, para a encarar como uma continuidade do todo.
Estes princípios, tomados como pólos de acção, levarão consequentemente a uma prática política determinada. Exporemos, proximamente, o que, nas coordenadas do mundo moderno, poderá ser uma política nacionalista revolucionária.
Aí veremos sinteticamente aquilo que separa o "militante", que sabe unir o pensamento à acção, do "diletante", que pela sua atitude inútil e dispersiva, apenas serve para adiar os mecanismos de mudança, entendidos talvez ainda só por alguns, mas que muitos já pressentem como realidade inelutável.
NUNO ROGEIRO (Setembro de 1979)
(1) Quando Georges Sorel reflectia sobre a "violência necessária " à acção política revolucionária exprimia, de certo modo, o carácter anti‑intelectualista que viria a assumir a luta nacionalista revolucionária, o seu receio de servir de trampolim a uma “ideologia”, entendida no sentido que apontámos, como uma visão fraccionária do mundo.
Karl Marx viu também com clareza o problema, apercebendo‑se da deformação da realidade produzida pela mundividência burguesa. Quando Marx fala nos “fetiches”, refere‑se às justificações encontradas pela burguesia ascendente para manter a sua ordem . Essas justificações, sem base real sensível, antes fruto de uma construção teórica, constituiriam o elemento ideológico, jurídico e político da ordem capitalista, elemento que se consubstanciava finalmente no Estado. Este, como estrutura classista, deveeria assim desaparecer. Mas Marx, ao pretender desmontar a ilusão política para recuperar a. realidade, encerrava‑se também, imperceptivelmente, num edifício formal desfasado dessa mesma realidade. E criou‑se assim uma mitologia, uma religião tanto mais ambígua quanto pretensamente científica. Ora, o que a filosofia de acção nacionalista revolucionária e a visão analítica neomaquiavélica a que frequentemente recorre pretendem é ultrapassar os fraccionamentos no real provocados pelo “idealismo" demoliberal (com as suas variantes, mais ou menos "sociais"), e pela sua doença infantil, o pseudo‑realismo marxista, afinal, um neo‑romantismo.
N.R.
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Há um pensamento nacionalista que é uma edição de pequenas vaidades, um círculo estreito e fechado. Essencialmente chauvinista, procura mais transplantar o passado (encarado não como passado, mas como presente) para a actualidade, do que injectar vida nova e continuar o fio histórico da comunidade.
Este nacionalismo estreito (que José António designava, neologicamente, como "nacionalitarismo") recorre frequentemente a uma semântica "patriótica", mas tem uma visão irremediavelmente "classista" do Estado, uma concepção "maniqueísta" da vida social, um entendimento "romântico" da realidade nacional. Numa atitude tipicamente "reaccionária", volta-se de costas para o futuro, e a cumprir uma "unidade de destino" prefere servir de sustentáculo ao regime que melhor lhe assegure a sobrevivência como materialização socio-política.
Enquanto pensamento, fecha-se no mais fanático dos dogmatismos; como forma política, pelo contrário, renega toda a sua crença para poder sobreviver; como forma de acção, prefere, como dizia Ortega, "a pousada ao caminho".
Mas há um outro nacionalismo que não pretende negar a realidade, com base numa qualquer pseudomoral objectiva. Rejeitando a atitude seráfica do diletante perante o fenómeno político, assume-se como mensageiro e agente de uma revolução radicalmente diversa das suas formas históricas, sempre de índole particularista. Não quer uma revolução de classe, mas uma revolução totalizante, "solidária". E não deseja sobretudo o contrário de uma revolução, mas uma revolução (classista) ao contrário.
E este "nacionalismo revolucionário" (é-o, materialmente. Formalmente, pode assumir aspectos semânticos e "superestruturais" diversificados) não é só uma base de resistência: embora construído, pensado e alicerçado à sombra e fora dos vários avatares do Estado Moderno, constitui cada vez mais, com o ruir sucessivo das formas políticas hodiernas, "uma alternativa".
Alternativa que pode assumir-se como projecto político. E é disso que queremos aqui dar notícia.
1 – Como filosofia de acção opõe-se às formas de romantismo político
Não é uma "ideologia", ou seja, não é "um sistema global de interpretação do mundo histórico-político" (acepção de R. Aron, in "Trois Études sur la Societé Industrielle"). Não pretende pegar no "homem real" e adaptá-lo a uma construção especulativa, mas restituir à sociedade o seu perdido aspecto humano. Daí o procurar ajustar as instituições à sociedade real, e não o contrário. O nacionalismo revolucionário quer, "não estabelecer um programa para o ano 2000", mas agir pragmaticamente, conforme o exigirem os interesses da nação/unidade de destino no universal, e do povo/comunidade social solidária. Por isto, não interessam tanto as justificações que se possam fabricar para acompanhar a acção política, mas sim essa mesma acção, não tomada como "moral absoluta", mas intrinsecamente moral, já que destinada a alterar um conjunto de estruturas para as restituir à realidade (1).
Tem do "povo", não o conhecimento superficial dos teóricos liberais, mas o convívio real com as camadas produtivas da população, partindo, pois, para qualquer análise do homem com o seu ambiente familiar, profissional, cultural, não do "cidadão", indivíduo reduzido ao estado abstracto e despojado, pela ideologia demoliberal, das suas qualidades sensíveis.
2 – Demonstra que a posse do território não é uma questão moral
Sabe que a nação não é uma construção teórica, nem uma mera unidade geográfica, étnica ou político-económica, mas uma "unidade trigeracional" (Ortega, Duguit, Spirito), uma "comunidade de destino no universal" (Evola, José António, Guénon), que só sobreviverá enquanto for forte, e só será forte se souber preservar a sua unidade física, independentemente, da forma política que adopte. Mais do que uma desfasada "politique de grandeur", politica do real e do possível, sem desvarios ou miragens mas sobretudo sem concessões. Porque, em última análise, dá -se razão a Hobbes: "A liberdade é o poder".
A defesa do território não é, pois, na sua essência, uma questão moral: é um imperativo de sobrevivência.
3 –Pretende uma estrutura do Estado que não se exige na sociedade civil
Defende um modelo de Estado em que se oblitere o presente divórcio entre classes produtivas e "classe política". O Estado terá de ser a mera conformação da sociedade, o reflexo da sua vivência, da sua estrutura e do seu sentir.
Assim, o poder deve ser exercido pelas forças reais da nação, sindicatos, associações de produtores, autarquias, e não pelas máquinas partidárias ou pela casta que segregam, elementos essenciais de desagregação e entidades estranhas ao “país real", que, pelo trabalho quotidiano, assegura a continuidade material da unidade política usufruída pela oligarquia dominante.
4 – Luta por uma adaptação do “político” ao real
Por mais malabarismos formais que se efectuem, os actuais sistemas políticos continuam a assemelhar-se a uma fotografia amarelecida, a um "cliché". E isto, porque o grande drama do mundo moderno é o de a evolução política não ter acompanhado e tido em conta o avançar das ciências físicas e humanas, das próprias modificações da textura social.
Ora, o nacionalismo revolucionário não procura ignorar, antes salienta, a validade da contribuição dos novos ramos científicos, para uma melhor compreensão do comportamento humano e da vida social. Enquanto as ideologias dominantes se atarefam em pintar o homem ideal às suas manipulações, aquele procura surpreender o homem no seu meio, interpretando os seus gestos mais elementares à luz dos modernos dados das várias disciplinas antropológicas, procurando libertar a acção política de dogmas indemonstráveis, para a encarar como uma continuidade do todo.
Estes princípios, tomados como pólos de acção, levarão consequentemente a uma prática política determinada. Exporemos, proximamente, o que, nas coordenadas do mundo moderno, poderá ser uma política nacionalista revolucionária.
Aí veremos sinteticamente aquilo que separa o "militante", que sabe unir o pensamento à acção, do "diletante", que pela sua atitude inútil e dispersiva, apenas serve para adiar os mecanismos de mudança, entendidos talvez ainda só por alguns, mas que muitos já pressentem como realidade inelutável.
NUNO ROGEIRO (Setembro de 1979)
(1) Quando Georges Sorel reflectia sobre a "violência necessária " à acção política revolucionária exprimia, de certo modo, o carácter anti‑intelectualista que viria a assumir a luta nacionalista revolucionária, o seu receio de servir de trampolim a uma “ideologia”, entendida no sentido que apontámos, como uma visão fraccionária do mundo.
Karl Marx viu também com clareza o problema, apercebendo‑se da deformação da realidade produzida pela mundividência burguesa. Quando Marx fala nos “fetiches”, refere‑se às justificações encontradas pela burguesia ascendente para manter a sua ordem . Essas justificações, sem base real sensível, antes fruto de uma construção teórica, constituiriam o elemento ideológico, jurídico e político da ordem capitalista, elemento que se consubstanciava finalmente no Estado. Este, como estrutura classista, deveeria assim desaparecer. Mas Marx, ao pretender desmontar a ilusão política para recuperar a. realidade, encerrava‑se também, imperceptivelmente, num edifício formal desfasado dessa mesma realidade. E criou‑se assim uma mitologia, uma religião tanto mais ambígua quanto pretensamente científica. Ora, o que a filosofia de acção nacionalista revolucionária e a visão analítica neomaquiavélica a que frequentemente recorre pretendem é ultrapassar os fraccionamentos no real provocados pelo “idealismo" demoliberal (com as suas variantes, mais ou menos "sociais"), e pela sua doença infantil, o pseudo‑realismo marxista, afinal, um neo‑romantismo.
N.R.
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domingo, setembro 19, 2004
Um caminho duro, longo e difícil
Nas eleições alemãs deste domingo, nos estados da Saxónia e do Brandeburgo, o resultado politicamente mais significativo foi a grande subida dos partidos da área nacionalista.
O resto pouco conta, são os usuais sobe e desce dos partidos que alternam entre eles para que tudo se mantenha na mesma.
Nos dois estados os partidos nacionalistas ultrapassaram a barreira dos cinco por cento, que é o mínimo necessário para ter representação parlamentar nos parlamentos respectivos.
Assim, no Brandeburgo a DVU (União do Povo Alemão) conseguiu 6,4%, melhorando o seu resultado de 1999, que já tinha sido de 5,3%. E na Saxónia o NPD (Partido Nacional-Democrata) alcançou 9,4%, subindo espectacularmente o seu resultado de 1,4% em 1999.
De salientar que estes resultados foram possíveis devido a um acordo de não concorrência entre esses dois partidos habitualmente rivais, pelo que cada um deles aceitou não se apresentar no estado onde o outro tinha melhor implantação, apoiando aí aquele que se apresentava ao eleitorado.
Bons resultados eleitorais, que não devem no entanto enganar ninguém sobre as dificuldades do caminho. O poder tudo fará para combater as ameaças que se desenharem. Na Alemanha é de esperar o aumentar da repressão, através do endurecimento das leis que já tornam quase impossível a vida normal de um grupo político nacionalista e por meio de perseguições policiais sob qualquer pretexto. É de prever que renasça a tentativa de ilegalização do NPD, que o Tribunal Constitucional recentente rejeitou.
Recorde-se que também na Inglaterra, onde o BNP tem crescido de modo a criar alarmismo nos defensores do imobilismo situacionista, surgem medidas absolutamente espantosas: primeiro tinham sido os sindicatos, apoiados pelos círculos governamentais, a defender e a aplicar a doutrina que ser membro do BNP impede a pertença a essas associações e constitui mesmo justo motivo de despedimento; depois a decisão que interditava ao partido a possibilidade de manter contas bancárias (sabendo-se que por outro lado é obrigatório que todo o dinheiro dos partidos nomeadamente em campanhas eleitorais passe pela contas declaradas para efeitos de fiscalização); agora decidiu-se a nível governamental que ser membro do BNP é impeditivo de pertencer às forças policiais e de segurança; e há poucos dias surgiu a proposta para que se proíba genericamente em toda a função pública essa ligação. "Civil service" não é compatível com BNP !
Como é lógico, hoje em Inglaterra o desenvolvimento do BNP é dificultado por essa perspectiva sempre presente de perder o emprego se alguém descobre a ligação de outro ao partido. E também recrudescem as tentativas de encontrar pretextos jurídicos, geralmente o "racismo", para a perseguição policial ao partido e aos seus membros conhecidos.
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O resto pouco conta, são os usuais sobe e desce dos partidos que alternam entre eles para que tudo se mantenha na mesma.
Nos dois estados os partidos nacionalistas ultrapassaram a barreira dos cinco por cento, que é o mínimo necessário para ter representação parlamentar nos parlamentos respectivos.
Assim, no Brandeburgo a DVU (União do Povo Alemão) conseguiu 6,4%, melhorando o seu resultado de 1999, que já tinha sido de 5,3%. E na Saxónia o NPD (Partido Nacional-Democrata) alcançou 9,4%, subindo espectacularmente o seu resultado de 1,4% em 1999.
De salientar que estes resultados foram possíveis devido a um acordo de não concorrência entre esses dois partidos habitualmente rivais, pelo que cada um deles aceitou não se apresentar no estado onde o outro tinha melhor implantação, apoiando aí aquele que se apresentava ao eleitorado.
Bons resultados eleitorais, que não devem no entanto enganar ninguém sobre as dificuldades do caminho. O poder tudo fará para combater as ameaças que se desenharem. Na Alemanha é de esperar o aumentar da repressão, através do endurecimento das leis que já tornam quase impossível a vida normal de um grupo político nacionalista e por meio de perseguições policiais sob qualquer pretexto. É de prever que renasça a tentativa de ilegalização do NPD, que o Tribunal Constitucional recentente rejeitou.
Recorde-se que também na Inglaterra, onde o BNP tem crescido de modo a criar alarmismo nos defensores do imobilismo situacionista, surgem medidas absolutamente espantosas: primeiro tinham sido os sindicatos, apoiados pelos círculos governamentais, a defender e a aplicar a doutrina que ser membro do BNP impede a pertença a essas associações e constitui mesmo justo motivo de despedimento; depois a decisão que interditava ao partido a possibilidade de manter contas bancárias (sabendo-se que por outro lado é obrigatório que todo o dinheiro dos partidos nomeadamente em campanhas eleitorais passe pela contas declaradas para efeitos de fiscalização); agora decidiu-se a nível governamental que ser membro do BNP é impeditivo de pertencer às forças policiais e de segurança; e há poucos dias surgiu a proposta para que se proíba genericamente em toda a função pública essa ligação. "Civil service" não é compatível com BNP !
Como é lógico, hoje em Inglaterra o desenvolvimento do BNP é dificultado por essa perspectiva sempre presente de perder o emprego se alguém descobre a ligação de outro ao partido. E também recrudescem as tentativas de encontrar pretextos jurídicos, geralmente o "racismo", para a perseguição policial ao partido e aos seus membros conhecidos.
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Não somos os últimos de ontem, somos os primeiros de amanhã
O semanário "A Rua" no seu número de 1 de Fevereiro de 1978 publicou uma entrevista com dois dirigentes do Movimento Nacionalista que a meu ver constitui um importante documento para a história desse movimento juvenil que num período de cerca de dez anos protagonizou a mais espontânea e autêntica reacção da juventude portuguesa ao sistema e às ideias que convergiam na ameaça à própria existência da nação como unidade de destino com nome e projecto próprios.
Reproduzo aqui a entrevista, que foi conduzida por Miguel Alvarenga, também ele activíssimo militante nacionalista como bem se recordarão os que andaram no Liceu Rainha D. Leonor por esses anos do pós-74, com as respostas de Vítor Luís e Nuno Rogeiro, também elas cruciais para se compreender um pensamento e uma estratégia situadas nesse contexto do imediato pós-revolução, mas com fortes raízes na situação anterior e na vivência dos grupos nacional-revolucionários portugueses na fase marcelista.
“A Rua” – Como e quando surgiu o Movimento Nacionalista ?
V.L. ‑ O Movimento Nacionalista surgiu, em Lisboa, no ano lectivo de 72/73 através da reunião de grupos de jovens universitários e pré‑universitários para agir entre a juventude portuguesa de modo a mobilizá‑la para enfrentar a grande crise que começava a despontar no país. Tratava‑se de uma consequência do desenvolvimento relativamente silencioso que as nossas ideias e organizações vinham experimentando desde o princípio dos anos 60.
"A Rua" ‑ E, quanto a vós, que problemas se punham ao país nessa altura?
V. L. ‑ Portugal começava a enfrentar os resultados das contradições existentes entre os desafios históricos que a situação nos punha e uma estrutura política, económica e social que já se revelava incapaz de vencer convenientemente esses desafios.
“A Rua" ‑ A vossa acção resultou então da consciência de que algo de grave se produzia já bastante antes de 1974, não é verdade ?
V. L. ‑ Certamente. Para nós, a questão essencial que então se punha à nação era a de triunfar sobre os seus inimigos internos e externos, reforçando a unidade de todo o espaço nacional euro‑africano e defendendo a unidade de todas as parcelas como um imperativo de sobrevivência do conjunto. Paralelamente, era necessária a efectiva integração de todos os portugueses nesse projecto nacional, realizando uma efectiva política de justiça social contra os privilégios de grupo e de correcta canalização de todas as energias nacionais.
"A Rua" ‑ Gostava agora que se referisse, em traços gerais, à situação da juventude nessa altura.
V. L. ‑ A juventude estava a ser deliberadamente despolitizada e isso era apenas um dos reflexos da ambiguidade do regime. Incapaz de formular com clareza os grandes objectivos nacionais, traindo o sangue e o esforço de várias gerações de combatentes, preparando a entrega pretensamente pacífica do Ultramar, cobrindo politicamente uma sociedade apodrecida na recusa do sacrifício, no comodismo burguês, nas especulações da Bolsa, ao regime interessava tão‑só uma geração de acéfalos "tecnocratas", indiferentes e facilmente manipuláveis, cuja ignorância viria, afinal, a revelar‑se um inestimável factor do crescimento dos grupos comunistas.
"A Rua" ‑ Então, a prática política dos últimos anos do regime aproximava‑o fortemente das “democracias” parlamentares europeias?
N. R. - Sim. Mas o Maio de 68, apesar dos seus desvarios anarquizantes, representou uma grande viragem no pensamento da juventude europeia, face à desagregação do estado demoliberal. Em Portugal, uma parte da geração de 60 contrapôs à "angústia existencial"' de certos "círculos bem pensantes", um optimismo revolucionário na apresentação de soluções novas. Assim, os núcleos mais politizados aperceberam-se do real alcance do problema ultramarino, que se enquadrava no aspecto mais vasto de resistência aos imperialismos e de construção de uma nova ordem social que superasse a injustiça, quer do capitalismo burguês, quer do marxismo concentracionário. Esta questão, que, por falta de informação, seria apresentada de forma deturpada à larga massa estudantil, ofuscada por um certo bem-estar e paz social, era, afinal, o ponto base da nossa luta. O M.N. e os movimentos que despontavam na altura deram um safanão no conformismo reinante. O desenvolvimento da consciência política da juventude, aliada à sua natural aversão por formas de poder asfixiantes, possibilitou a actual situação em que as formas de resistência na nível de escolas superiores e secundárias são cada vez mais expressivas.
"A Rua" - Qual a prioridade dada à vossa luta nesses primeiros anos do M.N. ?
V. L. - O esclarecimento político da juventude, não só quanto às questões essenciais como também a desmistificação da posição governamental e do falso apoliticismo com que se vestiam as organizações comunistas de massa, constituíam os eixos das nossas iniciativas. Paralelamente, lançavam-se as bases de uma organização juvenil empenhada na resolução dos problemas concretos que o sistema nos punha. Face à política derrotista dos sectores que baixavam os braços, o M.N. surgia como uma alternativa de luta realista e coerente.
"A Rua" - Entretanto surge o 25 de Abril...
V. L. - Sim. Surgiu num momento em que nos desenvolvíamos plenamente, à margem do poder. Não fomos apanhados de surpresa e a nossa resposta foi a adesão imediata ao Movimento Federalista Português, mais tarde Partido do Progresso, cujas formações juvenis constituímos em grande parte.
"A Rua" - A adesão ao P.P. e a vossa integração na estratégia partidária foram resultado da pressão das circunstâncias de então. Não é ?
V. L. ‑ Certo. Tornava‑se, então, necessário lutar pelo essencial, que continuava a ser a defesa possível de todo o território euro‑africano. Tão essencial que tinham sido, precisamente, as áreas africanas os objectivos principais das manobras americanas e soviéticas contra Portugal, de que o 25 de Abril constituiu mero instrumento.
Uma parte dos nossos quadros e militantes forjou‑se nos anos de 74 e 75 e todos nós reforçámos as nossas convicções e o espírito de luta no combate diário, nas prisões, no exílio. Criámos um estilo e uma implantação que sobreviveram ao Partido do Progresso e que hoje alastra entre as novas gerações.
"A Rua" ‑ Actualmente, qual a posição do M.N. face ao contexto partidário?
N. R. ‑ Somos, por formação e convicção política, nacionalistas, isto é, concebemos uma realidade tridimensional, a Nação portuguesa, alicerçada nas gerações passadas, continuada na geração presente, dada de herança à geração futura. Por isso, entendemos Portugal superior ao egoísmo de classes, grupos, partidos ou personalidades, e por isso também temos uma visão social da realidade portuguesa. Face à proliferação partidária e ao despotismo parlamentar, contrapomos algo de radicalmente diferente. Para nós é o "país real" que deve estar representado no poder, através das suas entidades mais representativas (sindicatos, municípios, escolas, etc.). Defendemos, para além disso, uma estrutura económica que não se baseie no domínio dos "trusts" multinacionais e que assegure o eficaz mecanismo de distribuição de rendimentos, apontando para uma política avançada de justiça social. Defendemos, ainda, o verdadeiro sindicalismo, liberto da intromissão partidária. Face aos que nos apelidam de "esquerdistas", por lutarmos por tudo isto, dizemos claramente que nunca fomos capazes de pensar a nação separada do povo que a constitui. Àqueles que nos apodam de "fascistas", pensando insultar‑nos, lançamos, para além do nosso desprezo, a firme determinação de nunca ceder perante a traição, a ignorância e a opressão.
De tudo isto deriva a nossa discordância em relação ao actual espectro político, reflexo de um sistema injusto que se prende nas construções formais e não liga à realidade nacional. Não somos um partido nem as nossas ideias são partidarizáveis.
"A Rua" ‑ Não se inserem, então, no esquema partidário da "direita"?
N. R. ‑ Evidentemente que não. Temos um estilo, uma ética e uma atitude ideológica que nos afastam do espírito meramente reaccionário, meramente anticomunista, e do fulanismo tão próprios às seitas "direitistas" hoje muito em voga.
"A Rua" ‑ Presentemente, como orientam a vossa acção ?
V. L. ‑ Vamos prosseguir a luta de libertação das escolas, lutar pela melhoria da qualidade de ensino, pela revogação de programas que enfermam do erro comum à grande utopia marxista e demoliberal, organizando a juventude fora dos quadros partidários, constituindo uma grande frente de acção nacionalista independente. No campo ideológico, constituímos, precisamente, uma alternativa ao sistema; os seus fundamentos têm sido desmistificados pelas modernas vanguardas da investigação científica que apresentam conclusões de grande interesse para as nossas perspectivas.
"A Rua" ‑ E, nesse campo, que contam fazer?
N. R. ‑ Contamos incrementar a divulgação destas ideias e operar o ressurgimento do pensamento tradicional português. O sistema que ideologicamente se afunda mantém‑se provisoriamente vivo pela inércia. Está já a entrar em colapso material e a nossa tarefa é, entre as ruínas, revolucionar toda uma visão que se provou errada.
"A Rua" ‑ Certo. Para terminar, gostava de saber qual a vossa atitude política em relação à actual situação...
V. L. ‑ Não nos comprometemos nem nos comprometeremos em objectivos imediatos que passem pela colaboração com as forças políticas dominantes. As manifestações dos dois últimos "10 de Junho" e a nossa participação activa na grande manifestação do 1º de Dezembro, representam o nosso encontro com o descontentamento e a revolta nacional, ultrapassando os partidos e os políticos volúveis e oportunistas. De certo modo, somos uma voz do povo revoltado que quer uma vida melhor sem, para isso, se vender nem trair a História nacional.
Há forças suficientes para reconstruir a nação. Há que reuni-las num grande projecto nacional e patriótico. Tudo faremos por isso. Não somos os últimos de ontem, somos os primeiros de amanhã.
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Reproduzo aqui a entrevista, que foi conduzida por Miguel Alvarenga, também ele activíssimo militante nacionalista como bem se recordarão os que andaram no Liceu Rainha D. Leonor por esses anos do pós-74, com as respostas de Vítor Luís e Nuno Rogeiro, também elas cruciais para se compreender um pensamento e uma estratégia situadas nesse contexto do imediato pós-revolução, mas com fortes raízes na situação anterior e na vivência dos grupos nacional-revolucionários portugueses na fase marcelista.
“A Rua” – Como e quando surgiu o Movimento Nacionalista ?
V.L. ‑ O Movimento Nacionalista surgiu, em Lisboa, no ano lectivo de 72/73 através da reunião de grupos de jovens universitários e pré‑universitários para agir entre a juventude portuguesa de modo a mobilizá‑la para enfrentar a grande crise que começava a despontar no país. Tratava‑se de uma consequência do desenvolvimento relativamente silencioso que as nossas ideias e organizações vinham experimentando desde o princípio dos anos 60.
"A Rua" ‑ E, quanto a vós, que problemas se punham ao país nessa altura?
V. L. ‑ Portugal começava a enfrentar os resultados das contradições existentes entre os desafios históricos que a situação nos punha e uma estrutura política, económica e social que já se revelava incapaz de vencer convenientemente esses desafios.
“A Rua" ‑ A vossa acção resultou então da consciência de que algo de grave se produzia já bastante antes de 1974, não é verdade ?
V. L. ‑ Certamente. Para nós, a questão essencial que então se punha à nação era a de triunfar sobre os seus inimigos internos e externos, reforçando a unidade de todo o espaço nacional euro‑africano e defendendo a unidade de todas as parcelas como um imperativo de sobrevivência do conjunto. Paralelamente, era necessária a efectiva integração de todos os portugueses nesse projecto nacional, realizando uma efectiva política de justiça social contra os privilégios de grupo e de correcta canalização de todas as energias nacionais.
"A Rua" ‑ Gostava agora que se referisse, em traços gerais, à situação da juventude nessa altura.
V. L. ‑ A juventude estava a ser deliberadamente despolitizada e isso era apenas um dos reflexos da ambiguidade do regime. Incapaz de formular com clareza os grandes objectivos nacionais, traindo o sangue e o esforço de várias gerações de combatentes, preparando a entrega pretensamente pacífica do Ultramar, cobrindo politicamente uma sociedade apodrecida na recusa do sacrifício, no comodismo burguês, nas especulações da Bolsa, ao regime interessava tão‑só uma geração de acéfalos "tecnocratas", indiferentes e facilmente manipuláveis, cuja ignorância viria, afinal, a revelar‑se um inestimável factor do crescimento dos grupos comunistas.
"A Rua" ‑ Então, a prática política dos últimos anos do regime aproximava‑o fortemente das “democracias” parlamentares europeias?
N. R. - Sim. Mas o Maio de 68, apesar dos seus desvarios anarquizantes, representou uma grande viragem no pensamento da juventude europeia, face à desagregação do estado demoliberal. Em Portugal, uma parte da geração de 60 contrapôs à "angústia existencial"' de certos "círculos bem pensantes", um optimismo revolucionário na apresentação de soluções novas. Assim, os núcleos mais politizados aperceberam-se do real alcance do problema ultramarino, que se enquadrava no aspecto mais vasto de resistência aos imperialismos e de construção de uma nova ordem social que superasse a injustiça, quer do capitalismo burguês, quer do marxismo concentracionário. Esta questão, que, por falta de informação, seria apresentada de forma deturpada à larga massa estudantil, ofuscada por um certo bem-estar e paz social, era, afinal, o ponto base da nossa luta. O M.N. e os movimentos que despontavam na altura deram um safanão no conformismo reinante. O desenvolvimento da consciência política da juventude, aliada à sua natural aversão por formas de poder asfixiantes, possibilitou a actual situação em que as formas de resistência na nível de escolas superiores e secundárias são cada vez mais expressivas.
"A Rua" - Qual a prioridade dada à vossa luta nesses primeiros anos do M.N. ?
V. L. - O esclarecimento político da juventude, não só quanto às questões essenciais como também a desmistificação da posição governamental e do falso apoliticismo com que se vestiam as organizações comunistas de massa, constituíam os eixos das nossas iniciativas. Paralelamente, lançavam-se as bases de uma organização juvenil empenhada na resolução dos problemas concretos que o sistema nos punha. Face à política derrotista dos sectores que baixavam os braços, o M.N. surgia como uma alternativa de luta realista e coerente.
"A Rua" - Entretanto surge o 25 de Abril...
V. L. - Sim. Surgiu num momento em que nos desenvolvíamos plenamente, à margem do poder. Não fomos apanhados de surpresa e a nossa resposta foi a adesão imediata ao Movimento Federalista Português, mais tarde Partido do Progresso, cujas formações juvenis constituímos em grande parte.
"A Rua" - A adesão ao P.P. e a vossa integração na estratégia partidária foram resultado da pressão das circunstâncias de então. Não é ?
V. L. ‑ Certo. Tornava‑se, então, necessário lutar pelo essencial, que continuava a ser a defesa possível de todo o território euro‑africano. Tão essencial que tinham sido, precisamente, as áreas africanas os objectivos principais das manobras americanas e soviéticas contra Portugal, de que o 25 de Abril constituiu mero instrumento.
Uma parte dos nossos quadros e militantes forjou‑se nos anos de 74 e 75 e todos nós reforçámos as nossas convicções e o espírito de luta no combate diário, nas prisões, no exílio. Criámos um estilo e uma implantação que sobreviveram ao Partido do Progresso e que hoje alastra entre as novas gerações.
"A Rua" ‑ Actualmente, qual a posição do M.N. face ao contexto partidário?
N. R. ‑ Somos, por formação e convicção política, nacionalistas, isto é, concebemos uma realidade tridimensional, a Nação portuguesa, alicerçada nas gerações passadas, continuada na geração presente, dada de herança à geração futura. Por isso, entendemos Portugal superior ao egoísmo de classes, grupos, partidos ou personalidades, e por isso também temos uma visão social da realidade portuguesa. Face à proliferação partidária e ao despotismo parlamentar, contrapomos algo de radicalmente diferente. Para nós é o "país real" que deve estar representado no poder, através das suas entidades mais representativas (sindicatos, municípios, escolas, etc.). Defendemos, para além disso, uma estrutura económica que não se baseie no domínio dos "trusts" multinacionais e que assegure o eficaz mecanismo de distribuição de rendimentos, apontando para uma política avançada de justiça social. Defendemos, ainda, o verdadeiro sindicalismo, liberto da intromissão partidária. Face aos que nos apelidam de "esquerdistas", por lutarmos por tudo isto, dizemos claramente que nunca fomos capazes de pensar a nação separada do povo que a constitui. Àqueles que nos apodam de "fascistas", pensando insultar‑nos, lançamos, para além do nosso desprezo, a firme determinação de nunca ceder perante a traição, a ignorância e a opressão.
De tudo isto deriva a nossa discordância em relação ao actual espectro político, reflexo de um sistema injusto que se prende nas construções formais e não liga à realidade nacional. Não somos um partido nem as nossas ideias são partidarizáveis.
"A Rua" ‑ Não se inserem, então, no esquema partidário da "direita"?
N. R. ‑ Evidentemente que não. Temos um estilo, uma ética e uma atitude ideológica que nos afastam do espírito meramente reaccionário, meramente anticomunista, e do fulanismo tão próprios às seitas "direitistas" hoje muito em voga.
"A Rua" ‑ Presentemente, como orientam a vossa acção ?
V. L. ‑ Vamos prosseguir a luta de libertação das escolas, lutar pela melhoria da qualidade de ensino, pela revogação de programas que enfermam do erro comum à grande utopia marxista e demoliberal, organizando a juventude fora dos quadros partidários, constituindo uma grande frente de acção nacionalista independente. No campo ideológico, constituímos, precisamente, uma alternativa ao sistema; os seus fundamentos têm sido desmistificados pelas modernas vanguardas da investigação científica que apresentam conclusões de grande interesse para as nossas perspectivas.
"A Rua" ‑ E, nesse campo, que contam fazer?
N. R. ‑ Contamos incrementar a divulgação destas ideias e operar o ressurgimento do pensamento tradicional português. O sistema que ideologicamente se afunda mantém‑se provisoriamente vivo pela inércia. Está já a entrar em colapso material e a nossa tarefa é, entre as ruínas, revolucionar toda uma visão que se provou errada.
"A Rua" ‑ Certo. Para terminar, gostava de saber qual a vossa atitude política em relação à actual situação...
V. L. ‑ Não nos comprometemos nem nos comprometeremos em objectivos imediatos que passem pela colaboração com as forças políticas dominantes. As manifestações dos dois últimos "10 de Junho" e a nossa participação activa na grande manifestação do 1º de Dezembro, representam o nosso encontro com o descontentamento e a revolta nacional, ultrapassando os partidos e os políticos volúveis e oportunistas. De certo modo, somos uma voz do povo revoltado que quer uma vida melhor sem, para isso, se vender nem trair a História nacional.
Há forças suficientes para reconstruir a nação. Há que reuni-las num grande projecto nacional e patriótico. Tudo faremos por isso. Não somos os últimos de ontem, somos os primeiros de amanhã.
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sábado, setembro 18, 2004
Conhecem o movimento NATION?
Não sendo um movimento eleitoralista, é todavia o movimento doutrinariamente mais interessante da área nacionalista na Bélgica francófona. Vale a pena acompanhar o que se faz lá no coração da Europa burocrática.
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Não sendo um movimento eleitoralista, é todavia o movimento doutrinariamente mais interessante da área nacionalista na Bélgica francófona. Vale a pena acompanhar o que se faz lá no coração da Europa burocrática.
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Afinal... está vivo!!!
"A questão das eleições autárquicas será debatida na próxima reunião do partido que terá lugar no próximo dia 18 do corrente no Porto”, afirmou o líder do mais jovem partido português, que deixou clara a sua vontade em se candidatar ou por Lisboa ou pelo Porto.
“Tenho a vontade para ser candidato autárquico ou pelo Porto ou por Lisboa, contudo essa questão será discutida na reunião máxima do PND no próximo sábado na nossa sede nacional, no Porto”, acrescentou Manuel Monteiro.
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“Tenho a vontade para ser candidato autárquico ou pelo Porto ou por Lisboa, contudo essa questão será discutida na reunião máxima do PND no próximo sábado na nossa sede nacional, no Porto”, acrescentou Manuel Monteiro.
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Notáveis avanços eleitorais do BNP
No passado dia 16 de Setembro, quinta-feira, decorreu mais uma eleição parcial bem dentro da área de Londres, que veio confirmar o crescendo da implantação do partido nacionalista britânico BNP, apesar de todos os esforços dos partidos do condomínio fechado que tem governado a Grã-Bretanha.
Os resultados foram os seguintes, em Goresbrook: o candidato Daniel Kelley, do BNP, alcançou 1072 votos, Patricia Northover, trabalhista, teve 602 votos, Terence Jones, do partido da independência, UKIP, conseguiu 137 votos, Christine Naylor, conservadora, 111, Frederick Tindling, dos Liberais-Democradas, 85, e Geoff Sheridan, dos Verdes, 59 votos.
O lugar foi ganho pelo candidato do BNP, com a percentagem de 51.9% dos votos.
Acentuam-se deste modo as preocupações do situacionismo britânico perante futuras eleições de âmbito mais vasto, com as perspectivas evidentes de importantes ganhos para o BNP.
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Os resultados foram os seguintes, em Goresbrook: o candidato Daniel Kelley, do BNP, alcançou 1072 votos, Patricia Northover, trabalhista, teve 602 votos, Terence Jones, do partido da independência, UKIP, conseguiu 137 votos, Christine Naylor, conservadora, 111, Frederick Tindling, dos Liberais-Democradas, 85, e Geoff Sheridan, dos Verdes, 59 votos.
O lugar foi ganho pelo candidato do BNP, com a percentagem de 51.9% dos votos.
Acentuam-se deste modo as preocupações do situacionismo britânico perante futuras eleições de âmbito mais vasto, com as perspectivas evidentes de importantes ganhos para o BNP.
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sexta-feira, setembro 17, 2004
Outro cartaz com a marca Lusitânia XXI
Um talento desconhecido
O Sebastião José está a revelar-se um extraordinário artista no domínio gráfico. Apreciem a força deste cartaz.
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quinta-feira, setembro 16, 2004
Um documento exemplar
A carta de Jaime Nogueira Pinto que antecede esta nota foi escrita no Verão de 1976.
Nessa altura estava o seu autor num momento de balanço (ou de ressaca) após dois anos bem no meio da tempestade. Tinha sido 1974, o desabar de Portugal, a luta inglória em Angola, a fuga para a África do Sul, os campos de refugiados, o exílio, no Brasil, em Madrid... o lento recompor de mil vidas desfeitas. A carta depoimento que publico, com todo o respeito pelo seu autor, é um documento comovente e impressionante, pelo menos para os que podem senti-la. Tenho poucas esperanças que os outros, os que vieram depois, possam compreender o que foi a tragédia e o sofrimento dos que tudo perderam ao perder a sua pátria - porque não tinham mais nada. Mas aqui fica, como um documento exemplar.
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Nessa altura estava o seu autor num momento de balanço (ou de ressaca) após dois anos bem no meio da tempestade. Tinha sido 1974, o desabar de Portugal, a luta inglória em Angola, a fuga para a África do Sul, os campos de refugiados, o exílio, no Brasil, em Madrid... o lento recompor de mil vidas desfeitas. A carta depoimento que publico, com todo o respeito pelo seu autor, é um documento comovente e impressionante, pelo menos para os que podem senti-la. Tenho poucas esperanças que os outros, os que vieram depois, possam compreender o que foi a tragédia e o sofrimento dos que tudo perderam ao perder a sua pátria - porque não tinham mais nada. Mas aqui fica, como um documento exemplar.
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Para um velho camarada
Meu caro F.
Só agora tenho ânimo para responder à tua longa carta. Pois também só agora começam a tecer-se com mais firmeza os fios do destino e o que escrevo será mais qualquer coisa que um realinhar de dúvidas, de interrogações, de gestos sem objectivo. São assim os exames de consciência, as autocríticas, as meditações. A acção vem depois. E julgo que é ela que te importa.
Não te digo que me tenhas surpreendido; ao longo destes quase dois anos de peregrinação por terra estranha e alheia, em três continentes, a ver e ouvir portugueses, emigrados e emigrantes, desses que levam a pátria na sola dos sapatos, aprendi quase de cor a lista das questões e das respostas e, sobretudo, que há coisas que morrem, que não têm solução. Portugal próximo ou longínquo, o que ficou e o que se perdeu, o da realidade e o do sonho, Portugal está sempre no cerne de todas as conversas. Nunca foi tão discutido, tão dissecado, tão detestado, tão desesperadamente querido, como nestas partidas do mundo onde se juntaram os filhos que recusou: em campos de refugiados na África do Sul, junto ao Atlântico no velho Rio, nas ruas enviezadas do Madrid filipino, sob as luzes do Cruzeiro, ou nas praças brancas desta Europa que nos ficou (e onde ficámos) ele está sempre presente, a confirmar que, também para nós, Deus pode nascer no exílio.
E assim, noite fora, com amor e raiva, com lucidez e paixão, com nostalgia e amargura, lembramos o que foi e o que poderia ter sido; e procuramos, um pouco às cegas, um futuro e uma esperança que era suposto já não existirem.
O futuro... A esperança... Muitos de nós concluem que o mais grave é terem-nos roubado essa capacidade de esperar e pensar o porvir; e que tudo está consumado, não passando o que daqui em diante dissermos ou fizermos de exercícios sobre o irremediável, uma espécie de diálogo de sombras ou velhos soldados que se iludem em narrativas de guerras passadas e perdidas.
Queriam matar o D. Sebastião - como diziam - e acabaram com Portugal. E Portugal era possível.
Então que resta? O que pode ainda animar o coração, iluminar os olhos, armar o braço? O que fica para além deste acerto de contas com a História e connosco, desta teimosia de continuar a gritar a verdade, de que falava o Drieu? Desta honra póstuma e quase sem sentido (a não ser por nós) de pertencer ao último quadrado de irredutíveis, neste muito próprio Dien Bien Phu onde nos lançámos para ser fiéis a juramentos antigos, que, na melhor hipótese, farão sorrir, com indulgência ou irritação, os demais?
O porquê das coisas, do que fica para diante, do que há-de justificar a Acção, se houver lugar a ela... Não sei se achas estranho em falar de razões, quando só o fazer Justiça parece tarefa para mil anos. Mas estes tempos ensinaram-me o horror às confusões, os "mesmos barcos" em que tantos insistem que estamos; por sorte e azar. E quando ouço gente que não moveu um dedo enquanto o Pais era espedaçado, as bandeiras enxovalhadas, os mortos insultados ou esquecidos, quando ouço essa gente pequena e vil, que não deu um óbulo, uma lágrima, uma gota de sangue, uma hora de tempo, que nada sacrificou ou empenhou pela Pátria, armada em patriota da última hora, pedindo vingança, querendo fuzilar meio país, porque lhes tocaram no cofre ou na situação pelos quais tinham vendido o resto - convicções, ideias, fidelidades - sinto um grande desgosto e cansaço e o desejo de emigrar de vez, para muito longe, deixando os energúmenos do "povo unido" ou da "reacção", entredevorarem se e chacinarem-se quando o ódio for maior que o medo.
Mas se não é isso que fica então? Qual o valor, o motivo, a causa, para crer e combater? Qual a fé que há-de guiar a palavra, animar os crentes, remover as montanhas? Que há-de dar sentido à vida, justificar o sacrifício, sangrar a vitória, fazer mártires dos que tombarem e justos dos que chegarem ao fim?
Este é o fulcro da questão. Porque se a nossa perdição nasceu dos chefes de acaso que nunca quiseram ousar ou arriscar, da mediocridade e falta de coragem de quem só queria jogar com todos os trunfos na mão, também hoje, com o que resta, não temos o direito de levar connosco ninguém sem lhe dizermos para onde e porquê. Para aventureiros, para mercenários, para oportunistas, para aprendizes de feiticeiro, chegam os que arrastaram esse pobre Pais à ruína, com suas traições e loucuras, conspiratas e improvisações, crimes e tragicomédias, Estas coisas são muito sérias, às vezes morre-se pelo meio.
Para nós bastaria voltar atrás, onde tudo começou, ainda muito antes do dilúvio. Ao tempo tínhamos uma pátria grande e digna, mau grado os males que já então lhe corroíam o sangue e que haviam de a matar. Mesmo com a traição dos hierarcas, a imbecilidade dos áulicos, a mediocridade de tantos, havia bandeiras, padrões, armadas pelas partidas do globo. Podíamos ter orgulho no País. (E a esse orgulho só se dá o valor, quando se passa a ter vergonha.)
Estávamos talvez conscientes do naufrágio que se aproximava mas tínhamos esperança de, na vigésima quinta hora, virar o rumo ao barco. Mas, para tal, era necessário substituirmos capitães de fortuna que o guiavam. E, nave de loucos, ninguém o quis fazer, ou correr-lhe os riscos. Obscuros tripulantes, também não podíamos, sozinhos consegui-lo. Ainda tentámos.
Mas foi em vão.
Sabes do resto. Da fuga dos ratos, do soçobrar da nau, do salve-se quem puder nas jangadas, deste fim sem honra nem glória, às mãos de piratas de segunda e vendilhões de pátrias. E do dar à costa de salvados e náufragos, da luta pelos despojos que ainda continua entre os que afundaram o navio...
É desta praia deserta, onde chegámos, entre destroços e sobreviventes, fazendo o inventário da tragédia, contando os fiéis, tendo por pano de fundo a algazarra dos bandoleiros que se disputam cadáveres e arcas vazias, que me pergunto se vale a pena ainda desbravar a selva, cortar as árvores, tecer as velas, imaginar os barcos e, por outra vez, mais humildes, mais vazios, mais pequenos, mas numa memória honrada do que fomos ou do que foram os nossos, fazer-mo-nos ao mar. Ou então viver em terra, mas com dignidade. Depois deste Alcácer-Quibir sem luta, onde os reis se salvaram todos e só morreu a peonagem, depois da via-sacra das humilhações, perante o pais retalhado e amputado, perante um povo esmagado e derrotado pela mentira quotidiana, eu compreendo as tuas dúvidas e as de tantos. São minhas também.
E sei que para nós, para os que partilhámos o pão, a esperança, a juventude, para os que acreditámos no tal Portugal de 25 milhões de pessoas e dois milhões de quilómetros quadrados (e não era estatística mas um sentido de grandeza e de generosidade, do destino que nos roubaram) e por ele estávamos dispostos a arriscar tudo, é muito mais difícil reconstruir a Ideia (que não morre) à dimensão rectangular. Mas tem de ser assim. Pelo menos para já.
Dantes era tudo muito fácil. Complicadamente simples. Tínhamos fronteiras ameaçadas, havia que defendê-las. Tínhamos também os grandes espaços, as fortalezas, as bandeiras, os padrões, essas coisas grandes e inúteis porque vale a pena viver e morrer.
Por isso alguns estavam sempre prontos. Como o A... que deixou mulher, filhos, emprego (o que é respeitável e respeitado, também pelos nossos) e partiu para Angola quando tudo já estava mais ou menos perdido. E depois, na África do Sul, voltou a fazer o mesmo. Porquê? Para quê? "Lealdade portuguesa" diria qualquer bom reaccionário... Eu prefiro chamar-lhe fidelidade, generosidade. Vai dar ao mesmo.
Valeu a pena? Não sei. Para o A... é capaz de ter valido: estava na coluna que reconquistou Moçâmedes, na segunda e malograda guerra de Angola.
Entraram na cidade com a bandeira portuguesa à frente, essa bandeira que os comissários de Lisboa tinham embrulhado às pressas, antes da hora e tudo. Houve mais alguns sempre prontos. O L... que também partiu para Moçambique depois do 7 de Setembro. Este queria morrer com Portugal. Parece história, mas foi assim. Conheceu o cativeiro dos "interlocutores válidos" de Lusaka. Era lógico que tivesse morrido. Deus não quis. Só por isso é que voltou.
E o Z... que partiu para iniciar a resistência com a roupa do corpo? E o N... que em Luanda, em Agosto de 1975, já sem esperança, sem nada ter a ver com Angola, senão ser português, ainda lutava? Também escapou por uma unha negra, no dia em que o seu grupo foi descoberto. Dois lá ficaram, fuzilados pelo M.P.L.A.
Houve alguns assim nesta derrocada vergonhosa. São poucos para salvar a honra dos seus concidadãos. Mas estiveram lá. Por eles, pelas ideias, por um certo sentido de fidelidade e de vida. Talvez o que fizeram lhes não sirva para nada mais que para contar aos filhos. Os que viveram para o fazer. Para outros, como o bravo Maggiolo de Gouveia, resta-lhes neste mundo a memória dos povos, às vezes tão ingrata porque feita pelos vivos, que é a História. E mesmo assim terão de esperar que passem o obscurantismo e a mentira que agora a estão escrevendo, oficialmente, em Portugal.
Enfim, para já, foram os outros quem venceu; roubaram a Pátria, envileceram os Mortos, partiram as lápides, destruíram a trilha dos heróis, apagaram do mapa, numa nuvem de ódio e cobardia, o que os navegadores, os guerreiros, os missionários - os Portugueses de ontem - tinham descoberto, conquistado, civilizado. E que tantos portugueses de hoje defenderam pelo preço mais alto. Queriam matar o D. Sebastião e acabaram com Portugal. Agora, alguns até já são capazes de estar arrependidos; mas é tarde para todos; para nós e para eles.
Alguns de nós têm uma infinita raiva, ou melhor, sentem uma grande indignação perante esta terra que lhes foi madrasta. Eu não. Ou já não...
"Pátria de novo criança"... É isso. São as pedras de Guimarães e a praça que foi do Império; é a crónica de Fernão Lopes, e a legião dos que temem pelo futuro; são os soldados de Diu, e os expulsos da África, os portugueses exilados e humilhados na sua terra. É o passado grande e o presente mesquinho, é a memória de Sagres e a fuga da Guiné; é uma Cruz de guerra (póstuma) e um cartaz partidário, são as crianças que perderam um pai longe, para que Portugal continuasse, e os vilões triunfantes da descolonização.
É gente humilhada e ofendida, gente a quem enganaram e continuam a enganar, gente que precisa, acima de tudo, de dignidade e a quem só dão (por enquanto) pão e circo.
É muita raiva, muito amor, muita lágrima, muito cerrar de dentes. É também uma comovente esperança que nasce de não haver esperança nenhuma. E a memória das palavras, dos juramentos, dos lugares que foram portugueses e já não são. É uma canção de guerra, um retrato dum amigo morto por nada, um canto de casa, um jardim no Dondo, um barco saindo do Tejo. É a certeza de que estamos vivos e não queremos morrer, pelo menos de inanição, que da derrota e da diáspora colhemos razões para persistir neste combate desigual, ingrato, tantas vezes perdido e reencontrado quando já parecia não haver nada.
Conto contigo.
Abraça-te o amigo e camarada
Jaime Nogueira Pinto
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Só agora tenho ânimo para responder à tua longa carta. Pois também só agora começam a tecer-se com mais firmeza os fios do destino e o que escrevo será mais qualquer coisa que um realinhar de dúvidas, de interrogações, de gestos sem objectivo. São assim os exames de consciência, as autocríticas, as meditações. A acção vem depois. E julgo que é ela que te importa.
Não te digo que me tenhas surpreendido; ao longo destes quase dois anos de peregrinação por terra estranha e alheia, em três continentes, a ver e ouvir portugueses, emigrados e emigrantes, desses que levam a pátria na sola dos sapatos, aprendi quase de cor a lista das questões e das respostas e, sobretudo, que há coisas que morrem, que não têm solução. Portugal próximo ou longínquo, o que ficou e o que se perdeu, o da realidade e o do sonho, Portugal está sempre no cerne de todas as conversas. Nunca foi tão discutido, tão dissecado, tão detestado, tão desesperadamente querido, como nestas partidas do mundo onde se juntaram os filhos que recusou: em campos de refugiados na África do Sul, junto ao Atlântico no velho Rio, nas ruas enviezadas do Madrid filipino, sob as luzes do Cruzeiro, ou nas praças brancas desta Europa que nos ficou (e onde ficámos) ele está sempre presente, a confirmar que, também para nós, Deus pode nascer no exílio.
E assim, noite fora, com amor e raiva, com lucidez e paixão, com nostalgia e amargura, lembramos o que foi e o que poderia ter sido; e procuramos, um pouco às cegas, um futuro e uma esperança que era suposto já não existirem.
O futuro... A esperança... Muitos de nós concluem que o mais grave é terem-nos roubado essa capacidade de esperar e pensar o porvir; e que tudo está consumado, não passando o que daqui em diante dissermos ou fizermos de exercícios sobre o irremediável, uma espécie de diálogo de sombras ou velhos soldados que se iludem em narrativas de guerras passadas e perdidas.
Queriam matar o D. Sebastião - como diziam - e acabaram com Portugal. E Portugal era possível.
Então que resta? O que pode ainda animar o coração, iluminar os olhos, armar o braço? O que fica para além deste acerto de contas com a História e connosco, desta teimosia de continuar a gritar a verdade, de que falava o Drieu? Desta honra póstuma e quase sem sentido (a não ser por nós) de pertencer ao último quadrado de irredutíveis, neste muito próprio Dien Bien Phu onde nos lançámos para ser fiéis a juramentos antigos, que, na melhor hipótese, farão sorrir, com indulgência ou irritação, os demais?
O porquê das coisas, do que fica para diante, do que há-de justificar a Acção, se houver lugar a ela... Não sei se achas estranho em falar de razões, quando só o fazer Justiça parece tarefa para mil anos. Mas estes tempos ensinaram-me o horror às confusões, os "mesmos barcos" em que tantos insistem que estamos; por sorte e azar. E quando ouço gente que não moveu um dedo enquanto o Pais era espedaçado, as bandeiras enxovalhadas, os mortos insultados ou esquecidos, quando ouço essa gente pequena e vil, que não deu um óbulo, uma lágrima, uma gota de sangue, uma hora de tempo, que nada sacrificou ou empenhou pela Pátria, armada em patriota da última hora, pedindo vingança, querendo fuzilar meio país, porque lhes tocaram no cofre ou na situação pelos quais tinham vendido o resto - convicções, ideias, fidelidades - sinto um grande desgosto e cansaço e o desejo de emigrar de vez, para muito longe, deixando os energúmenos do "povo unido" ou da "reacção", entredevorarem se e chacinarem-se quando o ódio for maior que o medo.
Mas se não é isso que fica então? Qual o valor, o motivo, a causa, para crer e combater? Qual a fé que há-de guiar a palavra, animar os crentes, remover as montanhas? Que há-de dar sentido à vida, justificar o sacrifício, sangrar a vitória, fazer mártires dos que tombarem e justos dos que chegarem ao fim?
Este é o fulcro da questão. Porque se a nossa perdição nasceu dos chefes de acaso que nunca quiseram ousar ou arriscar, da mediocridade e falta de coragem de quem só queria jogar com todos os trunfos na mão, também hoje, com o que resta, não temos o direito de levar connosco ninguém sem lhe dizermos para onde e porquê. Para aventureiros, para mercenários, para oportunistas, para aprendizes de feiticeiro, chegam os que arrastaram esse pobre Pais à ruína, com suas traições e loucuras, conspiratas e improvisações, crimes e tragicomédias, Estas coisas são muito sérias, às vezes morre-se pelo meio.
Para nós bastaria voltar atrás, onde tudo começou, ainda muito antes do dilúvio. Ao tempo tínhamos uma pátria grande e digna, mau grado os males que já então lhe corroíam o sangue e que haviam de a matar. Mesmo com a traição dos hierarcas, a imbecilidade dos áulicos, a mediocridade de tantos, havia bandeiras, padrões, armadas pelas partidas do globo. Podíamos ter orgulho no País. (E a esse orgulho só se dá o valor, quando se passa a ter vergonha.)
Estávamos talvez conscientes do naufrágio que se aproximava mas tínhamos esperança de, na vigésima quinta hora, virar o rumo ao barco. Mas, para tal, era necessário substituirmos capitães de fortuna que o guiavam. E, nave de loucos, ninguém o quis fazer, ou correr-lhe os riscos. Obscuros tripulantes, também não podíamos, sozinhos consegui-lo. Ainda tentámos.
Mas foi em vão.
Sabes do resto. Da fuga dos ratos, do soçobrar da nau, do salve-se quem puder nas jangadas, deste fim sem honra nem glória, às mãos de piratas de segunda e vendilhões de pátrias. E do dar à costa de salvados e náufragos, da luta pelos despojos que ainda continua entre os que afundaram o navio...
É desta praia deserta, onde chegámos, entre destroços e sobreviventes, fazendo o inventário da tragédia, contando os fiéis, tendo por pano de fundo a algazarra dos bandoleiros que se disputam cadáveres e arcas vazias, que me pergunto se vale a pena ainda desbravar a selva, cortar as árvores, tecer as velas, imaginar os barcos e, por outra vez, mais humildes, mais vazios, mais pequenos, mas numa memória honrada do que fomos ou do que foram os nossos, fazer-mo-nos ao mar. Ou então viver em terra, mas com dignidade. Depois deste Alcácer-Quibir sem luta, onde os reis se salvaram todos e só morreu a peonagem, depois da via-sacra das humilhações, perante o pais retalhado e amputado, perante um povo esmagado e derrotado pela mentira quotidiana, eu compreendo as tuas dúvidas e as de tantos. São minhas também.
E sei que para nós, para os que partilhámos o pão, a esperança, a juventude, para os que acreditámos no tal Portugal de 25 milhões de pessoas e dois milhões de quilómetros quadrados (e não era estatística mas um sentido de grandeza e de generosidade, do destino que nos roubaram) e por ele estávamos dispostos a arriscar tudo, é muito mais difícil reconstruir a Ideia (que não morre) à dimensão rectangular. Mas tem de ser assim. Pelo menos para já.
Dantes era tudo muito fácil. Complicadamente simples. Tínhamos fronteiras ameaçadas, havia que defendê-las. Tínhamos também os grandes espaços, as fortalezas, as bandeiras, os padrões, essas coisas grandes e inúteis porque vale a pena viver e morrer.
Por isso alguns estavam sempre prontos. Como o A... que deixou mulher, filhos, emprego (o que é respeitável e respeitado, também pelos nossos) e partiu para Angola quando tudo já estava mais ou menos perdido. E depois, na África do Sul, voltou a fazer o mesmo. Porquê? Para quê? "Lealdade portuguesa" diria qualquer bom reaccionário... Eu prefiro chamar-lhe fidelidade, generosidade. Vai dar ao mesmo.
Valeu a pena? Não sei. Para o A... é capaz de ter valido: estava na coluna que reconquistou Moçâmedes, na segunda e malograda guerra de Angola.
Entraram na cidade com a bandeira portuguesa à frente, essa bandeira que os comissários de Lisboa tinham embrulhado às pressas, antes da hora e tudo. Houve mais alguns sempre prontos. O L... que também partiu para Moçambique depois do 7 de Setembro. Este queria morrer com Portugal. Parece história, mas foi assim. Conheceu o cativeiro dos "interlocutores válidos" de Lusaka. Era lógico que tivesse morrido. Deus não quis. Só por isso é que voltou.
E o Z... que partiu para iniciar a resistência com a roupa do corpo? E o N... que em Luanda, em Agosto de 1975, já sem esperança, sem nada ter a ver com Angola, senão ser português, ainda lutava? Também escapou por uma unha negra, no dia em que o seu grupo foi descoberto. Dois lá ficaram, fuzilados pelo M.P.L.A.
Houve alguns assim nesta derrocada vergonhosa. São poucos para salvar a honra dos seus concidadãos. Mas estiveram lá. Por eles, pelas ideias, por um certo sentido de fidelidade e de vida. Talvez o que fizeram lhes não sirva para nada mais que para contar aos filhos. Os que viveram para o fazer. Para outros, como o bravo Maggiolo de Gouveia, resta-lhes neste mundo a memória dos povos, às vezes tão ingrata porque feita pelos vivos, que é a História. E mesmo assim terão de esperar que passem o obscurantismo e a mentira que agora a estão escrevendo, oficialmente, em Portugal.
Enfim, para já, foram os outros quem venceu; roubaram a Pátria, envileceram os Mortos, partiram as lápides, destruíram a trilha dos heróis, apagaram do mapa, numa nuvem de ódio e cobardia, o que os navegadores, os guerreiros, os missionários - os Portugueses de ontem - tinham descoberto, conquistado, civilizado. E que tantos portugueses de hoje defenderam pelo preço mais alto. Queriam matar o D. Sebastião e acabaram com Portugal. Agora, alguns até já são capazes de estar arrependidos; mas é tarde para todos; para nós e para eles.
Alguns de nós têm uma infinita raiva, ou melhor, sentem uma grande indignação perante esta terra que lhes foi madrasta. Eu não. Ou já não...
"Pátria de novo criança"... É isso. São as pedras de Guimarães e a praça que foi do Império; é a crónica de Fernão Lopes, e a legião dos que temem pelo futuro; são os soldados de Diu, e os expulsos da África, os portugueses exilados e humilhados na sua terra. É o passado grande e o presente mesquinho, é a memória de Sagres e a fuga da Guiné; é uma Cruz de guerra (póstuma) e um cartaz partidário, são as crianças que perderam um pai longe, para que Portugal continuasse, e os vilões triunfantes da descolonização.
É gente humilhada e ofendida, gente a quem enganaram e continuam a enganar, gente que precisa, acima de tudo, de dignidade e a quem só dão (por enquanto) pão e circo.
É muita raiva, muito amor, muita lágrima, muito cerrar de dentes. É também uma comovente esperança que nasce de não haver esperança nenhuma. E a memória das palavras, dos juramentos, dos lugares que foram portugueses e já não são. É uma canção de guerra, um retrato dum amigo morto por nada, um canto de casa, um jardim no Dondo, um barco saindo do Tejo. É a certeza de que estamos vivos e não queremos morrer, pelo menos de inanição, que da derrota e da diáspora colhemos razões para persistir neste combate desigual, ingrato, tantas vezes perdido e reencontrado quando já parecia não haver nada.
Conto contigo.
Abraça-te o amigo e camarada
Jaime Nogueira Pinto
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quarta-feira, setembro 15, 2004
A exploração do homem pelo homem
A condenação indignada da exploração do homem pelo homem é um dos temas mais frequentemente glosados nesta nossa deliciosa época.
Inútil dizer que chegaram a ser apontadas como manifestações de uma tal exploração as mais razoáveis e compreensíveis regras de disciplina social, verificando-se, até, em pleno reinado de Vasco Gonçalves, o curioso fenómeno de operários de certas empresas nacionalizadas e funcionários de serviços públicos, por um lado se proclamarem, aos gritos, altamente explorados e por outro, esfalfarem-se a garantir com arroubos de eloquência, que o "Estado", que tinha aquele pobre coronel desequilibrado por expoente, era o legítimo representante das classes trabalhadoras.
Dentro de semelhante condicionalismo, esses operários e funcionários, a serem realmente explorados, só o poderiam ser, em última análise, por si próprios. A profunda originalidade do nosso prec teria produzido a figura ultra pitoresca da auto-exploração do homem pelo homem. Adiante, porém.
Não vamos discutir se a tão falada exploração do homem pelo homem é uma consequência inevitável do sistema capitalista ou se é, antes, algo acidental, que pode ter lugar em todos os sistemas, tempos e situações, de forma ocasional e estritamente fortuita. Isso implicaria uma discussão perfeitamente descabida neste momento, da célebre teoria marxista da mais valia que tantos ineptos aceitam, sem discussão nem reflexão, como a última palavra da ciência, não fazendo sequer ideia das objecções que lhe têm sido contrapostas. Pela nossa parte, limitamo-nos a exprimir a opinião de que Marx estabeleceu a noção de mais valia partindo de premissas em que ela estava mais ou menos subrepticiamente contida, movendo-se, deste modo, no terreno dá pura petição de princípio.
No entanto, não é sobre a realidade e a "etiologia" da exploração do homem pelo homem que vamos debruçar-nos, antes o que procuraremos rapidamente analisar são os motivos porque ela é merecedora de reprovação radical - questão moral, em vez de questão de facto, sociológica.
Um fundamento, e só um, parece surgir como razão decisiva do repúdio da exploração do homem pelo homem: é que cada homem concreto, existente, é um fim último, logo não pode ser utilizado como meio por ninguém. Esta é a concepção axiológica que se encontra subjacente nas críticas e construções de Marx e Engels, o que, aliás, se percebe perfeitamente, porquanto é sabida a influência que sobre eles exerceu Feuerbach, o qual, por seu turno, foi quem proclamou o lema "homo homini deus", procurando imprimir-lhe um sentido ético. Claro que em Feuerbach o que se escuta é ainda um eco, longínquo, da afirmação de Kant de que a pessoa é um fim em si mesma, só que - e com isto se transpunha um abismo - Kant considerava a pessoa sinónimo de natureza racional em geral, ao passo que Feuerbach exalçava o homem empírico.
Ora se cada homem empírico é um fim último, atentando a que, nessa qualidade, ele é profundamente diferente dos outros sucede, então, que cada homem tem de ver os restantes como meios em relação a si. Com efeito, não podemos sustentar que estamos perante um mesmo fim senão fazendo uma abstracção que suprime as diferenças individuais, isto é, suprime o homem empírico enquanto tal.
Estamos, sim, perante uma multiplicidade de fins diferentes em que, por consequência, cada um deles tem de encarar os restantes como não-fins, achando, portanto, em extremo curial utilizá-los em seu proveito, e, por isso, reduzi-los à condição de meio. Desta maneira, aquilo que parecia ser a barreira mais decisiva contra a licitude da exploração do homem pelo homem transforma-se, automaticamente no seu oposto - na legitimação do "omnium contra omnes", ou seja, da exploração de uns homens pelos outros.
Não vale a pena, para evitar tão lastimável consequência, recorrer à ideia de uma igual dignidade de todos os homens empíricos ou à tese da sua participação no valor comum do ser homem empírico. Pois como irão ter uma igual dignidade os homens empíricos, enquanto tais, se eles, empiricamente, são duma formidável disparidade? E como se pode aceitar que o ser homem empírico constitua um valor comum se o seu conteúdo se desdobra numa infinita série de diferenças? O ser homem empírico não passa de um nome genérico que designa umas tantas realidades entre si separadas e bem distintas. Encará-lo como algo de efectivo, como um fim autêntico, seria elevar à categoria de fim o indivíduo sem individualidade, de que falava Radbruch, cometendo-se um paralogismo flagrante.
A verdade é que fim último pode, apenas, ser aquilo que se situar, de modo inequívoco, acima da multiplicidade de forças divergentes que são os homens empíricos. Quando todos eles convergirem para um ponto único que esteja para além das respectivas particularidades, nessa altura é que se tornará óbvio por inteiro ao serviço de algo superior que lhe anula o egoísmo.
Quer isto significar que a exploração do homem pelo homem unicamente pode ser banida em nome de um ideal não humanista que não a pretenda eliminar de maneira directa e imediata. No terreno puramente humanista, no plano do endeusamento ou, até, do simples respeito pela eminente dignidade dos homens reais e concretos, é inevitável que cada um deles se julgue o centro das atenções e, por conseguinte, procure tudo subordinar a si, nesse tudo incluindo, conforme é evidente, o próximo, o outro homem.
António José de Brito
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Inútil dizer que chegaram a ser apontadas como manifestações de uma tal exploração as mais razoáveis e compreensíveis regras de disciplina social, verificando-se, até, em pleno reinado de Vasco Gonçalves, o curioso fenómeno de operários de certas empresas nacionalizadas e funcionários de serviços públicos, por um lado se proclamarem, aos gritos, altamente explorados e por outro, esfalfarem-se a garantir com arroubos de eloquência, que o "Estado", que tinha aquele pobre coronel desequilibrado por expoente, era o legítimo representante das classes trabalhadoras.
Dentro de semelhante condicionalismo, esses operários e funcionários, a serem realmente explorados, só o poderiam ser, em última análise, por si próprios. A profunda originalidade do nosso prec teria produzido a figura ultra pitoresca da auto-exploração do homem pelo homem. Adiante, porém.
Não vamos discutir se a tão falada exploração do homem pelo homem é uma consequência inevitável do sistema capitalista ou se é, antes, algo acidental, que pode ter lugar em todos os sistemas, tempos e situações, de forma ocasional e estritamente fortuita. Isso implicaria uma discussão perfeitamente descabida neste momento, da célebre teoria marxista da mais valia que tantos ineptos aceitam, sem discussão nem reflexão, como a última palavra da ciência, não fazendo sequer ideia das objecções que lhe têm sido contrapostas. Pela nossa parte, limitamo-nos a exprimir a opinião de que Marx estabeleceu a noção de mais valia partindo de premissas em que ela estava mais ou menos subrepticiamente contida, movendo-se, deste modo, no terreno dá pura petição de princípio.
No entanto, não é sobre a realidade e a "etiologia" da exploração do homem pelo homem que vamos debruçar-nos, antes o que procuraremos rapidamente analisar são os motivos porque ela é merecedora de reprovação radical - questão moral, em vez de questão de facto, sociológica.
Um fundamento, e só um, parece surgir como razão decisiva do repúdio da exploração do homem pelo homem: é que cada homem concreto, existente, é um fim último, logo não pode ser utilizado como meio por ninguém. Esta é a concepção axiológica que se encontra subjacente nas críticas e construções de Marx e Engels, o que, aliás, se percebe perfeitamente, porquanto é sabida a influência que sobre eles exerceu Feuerbach, o qual, por seu turno, foi quem proclamou o lema "homo homini deus", procurando imprimir-lhe um sentido ético. Claro que em Feuerbach o que se escuta é ainda um eco, longínquo, da afirmação de Kant de que a pessoa é um fim em si mesma, só que - e com isto se transpunha um abismo - Kant considerava a pessoa sinónimo de natureza racional em geral, ao passo que Feuerbach exalçava o homem empírico.
Ora se cada homem empírico é um fim último, atentando a que, nessa qualidade, ele é profundamente diferente dos outros sucede, então, que cada homem tem de ver os restantes como meios em relação a si. Com efeito, não podemos sustentar que estamos perante um mesmo fim senão fazendo uma abstracção que suprime as diferenças individuais, isto é, suprime o homem empírico enquanto tal.
Estamos, sim, perante uma multiplicidade de fins diferentes em que, por consequência, cada um deles tem de encarar os restantes como não-fins, achando, portanto, em extremo curial utilizá-los em seu proveito, e, por isso, reduzi-los à condição de meio. Desta maneira, aquilo que parecia ser a barreira mais decisiva contra a licitude da exploração do homem pelo homem transforma-se, automaticamente no seu oposto - na legitimação do "omnium contra omnes", ou seja, da exploração de uns homens pelos outros.
Não vale a pena, para evitar tão lastimável consequência, recorrer à ideia de uma igual dignidade de todos os homens empíricos ou à tese da sua participação no valor comum do ser homem empírico. Pois como irão ter uma igual dignidade os homens empíricos, enquanto tais, se eles, empiricamente, são duma formidável disparidade? E como se pode aceitar que o ser homem empírico constitua um valor comum se o seu conteúdo se desdobra numa infinita série de diferenças? O ser homem empírico não passa de um nome genérico que designa umas tantas realidades entre si separadas e bem distintas. Encará-lo como algo de efectivo, como um fim autêntico, seria elevar à categoria de fim o indivíduo sem individualidade, de que falava Radbruch, cometendo-se um paralogismo flagrante.
A verdade é que fim último pode, apenas, ser aquilo que se situar, de modo inequívoco, acima da multiplicidade de forças divergentes que são os homens empíricos. Quando todos eles convergirem para um ponto único que esteja para além das respectivas particularidades, nessa altura é que se tornará óbvio por inteiro ao serviço de algo superior que lhe anula o egoísmo.
Quer isto significar que a exploração do homem pelo homem unicamente pode ser banida em nome de um ideal não humanista que não a pretenda eliminar de maneira directa e imediata. No terreno puramente humanista, no plano do endeusamento ou, até, do simples respeito pela eminente dignidade dos homens reais e concretos, é inevitável que cada um deles se julgue o centro das atenções e, por conseguinte, procure tudo subordinar a si, nesse tudo incluindo, conforme é evidente, o próximo, o outro homem.
António José de Brito
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Continuar Portugal
O Núcleo de Estudos Oliveira Salazar acaba de publicar novo número do seu boletim, "Continuar Portugal".
Os interessados podem pedir um exemplar directamente ao NEOS.
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NICOLAU BERDIAEF E A LIBERDADE
A promulgação dos direitos do homem e do cidadão preocupou-se, para dizer a verdade, pouquíssimo com o homem: a imagem deste foi empanada pela do cidadão. E quanto a este último, foi também considerado como ser político, e os seus direitos como direitos formais. De modo que a promulgação dos direitos degenerou facilmente em protecção a interesses burgueses e do regime capitalista. Além disso, na corrupção burguesa e liberal do mundo, aos direitos se ligaram múltiplos deveres e foram a expressão de interesses e reivindicações. Na realidade, o direito não pode separar-se do dever, porque um corresponde ao outro e porque, em certo sentido, formam um todo. 0 conceito do direito que não corresponde a um dever é um direito burguês, por detrás do qual se esconde alguma astúcia de classe.
Para a consciência cristã, a declaração dos direitos do homem adquire um sentido completamente distinto daquele que lhe atribui a ideologia burguesa, liberal e democrática. Segundo o cristão, não é o cidadão que goza de plenos direitos, mas o homem, como ser espiritual, como espírito livre. Os seus direitos estão, além disso, indissoluvelmente ligados aos seus deveres. A sua liberdade não é apenas uma reivindicação, mas obrigação, que implica menos o que ele próprio exige do que o que se exige dele. O homem deve ser livre; Deus assim o quer e assim o exige. Deve suportar o peso da liberdade como um ser que tivesse chegado à sua maioridade. O centro da gravidade repousa aqui sobre o homem, não sobre o cidadão.
A noção de cidadão é subordinada e secundária; pertence à sociedade politica, na qual as realidades estão tão bem mascaradas que é difícil reconhecê-las. A concepção do homem, pelo contrário, pertence ao círculo espiritual. Os seus direitos, absolutos e inegáveis, estão enraízados no mundo do espírito e não no civil e político, sempre transitório, instável e efémero. Porém, as declarações do direito não podem unicamente enunciar os direitos do homem como ser espiritual: devem aprofundar até às esferas inferiores e às mais recônditas do ser.
E é aqui que a realidade da vida económica sucede à realidade da vida espiritual.
Nesta esfera, a declaração permuta-se: na declaração dos direitos do produtor, do trabalhador, cuja noção pertence à sociedade económica e não política. É a esfera das realidades graves e austeras, nas quais se plasma a vida do homem no plano terrestre. Saint-Simon e depois Proudhon propuseram - ainda que de distinta maneira -que se substituíssem os direitos do homem pelos direitos do produtor; e que a sociedade o considerasse antes de tudo como ser laborioso. E, na verdade, o produtor é um ser mais real que o cidadão. Passamos assim à esfera do trabalho considerado em todos os seus escalões hierárquicos, o que os socialistas se negam a fazer a maioria das vezes.
Nicolau Berdiaef
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Para a consciência cristã, a declaração dos direitos do homem adquire um sentido completamente distinto daquele que lhe atribui a ideologia burguesa, liberal e democrática. Segundo o cristão, não é o cidadão que goza de plenos direitos, mas o homem, como ser espiritual, como espírito livre. Os seus direitos estão, além disso, indissoluvelmente ligados aos seus deveres. A sua liberdade não é apenas uma reivindicação, mas obrigação, que implica menos o que ele próprio exige do que o que se exige dele. O homem deve ser livre; Deus assim o quer e assim o exige. Deve suportar o peso da liberdade como um ser que tivesse chegado à sua maioridade. O centro da gravidade repousa aqui sobre o homem, não sobre o cidadão.
A noção de cidadão é subordinada e secundária; pertence à sociedade politica, na qual as realidades estão tão bem mascaradas que é difícil reconhecê-las. A concepção do homem, pelo contrário, pertence ao círculo espiritual. Os seus direitos, absolutos e inegáveis, estão enraízados no mundo do espírito e não no civil e político, sempre transitório, instável e efémero. Porém, as declarações do direito não podem unicamente enunciar os direitos do homem como ser espiritual: devem aprofundar até às esferas inferiores e às mais recônditas do ser.
E é aqui que a realidade da vida económica sucede à realidade da vida espiritual.
Nesta esfera, a declaração permuta-se: na declaração dos direitos do produtor, do trabalhador, cuja noção pertence à sociedade económica e não política. É a esfera das realidades graves e austeras, nas quais se plasma a vida do homem no plano terrestre. Saint-Simon e depois Proudhon propuseram - ainda que de distinta maneira -que se substituíssem os direitos do homem pelos direitos do produtor; e que a sociedade o considerasse antes de tudo como ser laborioso. E, na verdade, o produtor é um ser mais real que o cidadão. Passamos assim à esfera do trabalho considerado em todos os seus escalões hierárquicos, o que os socialistas se negam a fazer a maioria das vezes.
Nicolau Berdiaef
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terça-feira, setembro 14, 2004
Mais um site da área nacional em desenvolvimento
Fim de Férias
Estão de volta às lides blogosféricas o Lusitânia XXI do sempre polémico Sebastião José de Carvalho e Melo (o Conde de Oeiras, sim senhor!) e O Porta-Bandeira, do lendário pastor dos Hermínios conhecido por Viriato.
Boa leitura e excelentes cartazes.
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segunda-feira, setembro 13, 2004
Por uma Europa europeia
Secundando o Causa Nacional:
Assinem a Petição de Amsterdão contra a entrada da Turquia na União Europeia.
Um confronto decisivo para a definição da Europa que queremos.
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Assinem a Petição de Amsterdão contra a entrada da Turquia na União Europeia.
Um confronto decisivo para a definição da Europa que queremos.
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ESSE PRECLARÍSSIMO GUSTAVO CORÇÃO…
Se obra de pensamento existe, plasmada no nosso idioma, que se me afigure insuplantavelmente esclarecida e esclarecedora - e, como tal, de leitura inteiramente obrigatória, mormente entre nós e nos dias que correm - , essa é a obra (a obra toda) de Gustavo Corção. Chamo-a a comparecer, aqui e agora, nesta página de DOUTRINA, avocando, para o efeito, aquele dos livros do mestre brasileiro que mais susceptível me parece de recuperar para o domínio da verdade os que mais arredios dela têm andado. Falo, concretamente, d'"O SÉCULO DO NADA", à hora em que o mesmo regista e conhece a honra e a glória de mais uma edição em língua estrangeira.
Na casa dos oitenta bem entrados, chegou Corção áquela idade - diz ele - "que costuma trazer aos homens lucidez já inválida para o mundo, mas ainda proveitosa para a eternidade".
Válida e proveitosa para o mundo se revela, porém, a lucidez faiscante que o nosso genial octogenário estadeia, com exuberância, ao longo e ao largo do livro citado; e, com ele, terá escrito Gustavo Corção, seguramente, "o livro do século": o livro, por excelência, deste estúpido século XX; o livro negro deste século execrável, a que o autor, com toda a propriedade, chama O SÉCULO DO NADA.
Trata-se, em primeira análise, de uma longa metragem de quatrocentas e tantas páginas, de sinal acentuadamente polémico e outrossim especulativo, e redigidas por Corção ao peso imperioso de uma grande urgência de falar claro e de acertar contas que andam erradas na tabuada política triunfante.
Em definitivo, muito poucos livros haverá, creio eu, que de perto ou de longe possam comparar-se a este em que "Um velho leigo, olhando em volta de si, sai pelo espaço e pelo tempo a fazer interrogações": as mais pertinentes, diga-se, e também as mais destemidas e decisivas formulações, que já algum dia foram suscitadas a alguém por esta encruzilhada de traições que é o século XX.
Invariavelmente conduzido à luz escaldante dos testemunhos e dos textos (logo, com copiosa profusão de elementos informativos a acompanhá-lo), este monumental trabalho de Corção dá lugar a todo um irrespondível e muitíssimo cerrado levantamento de razões, que têm o condão de sonegar aos falsificadores, e de iluminar imparavelmente, sucessos capitais desta centúria toda, como sejam, designadamente: o caso Dreyfus ("une ténébreuse affaire"); a excomunhão da ACTION FRANÇAISE; a aventura personalista; a guerra civil espanhola (comenta Corção: "Em 1936, também na França começa uma guerra civil, mas em lugar de um alzamiento desenha-se um abaissement"); as linhas tortuosíssimas e cem por cento iníquas com que se coseu a acção da jurisprudência resistencialista, na França de 45; e o aggiornammento cismatizante, decorrente do Concílio Vaticano II.
Obra de combate e obra de reflexão, em presença dela acha-se o leitor diante de um copioso painel, de um magnífico afresco, de um dilatado cosmorama e, sobretudo, de um estudo altamente dissecatório e de um aturadíssimo inventário "das nascentes e dos afluentes históricos que, em nossos dias, se somam num enorme estuário de erros e perversidades". ("O estuário se explica pelas nascentes e pelos afluentes" - sublinha e pondera ele, às duas por três). E, orientado de montante para jusante, vai-se ao curso histórico e político, mental e moral, desta era toda, e submete-o a intensa perquirição.
Para tanto, trata de convocar a pleito um fabuloso acervo documental; e, agindo na plenitude de um conhecimento de origens e circunstâncias - sempre acareadas por ele com exemplaridade de processos -, ei-lo que desencobre, e põe ao léu, toda a rematada imposturice desta idade humana, marcada ideologicamente pelo patológico favor concedido às esquerdas: essa "sinistra explosão de sinistrite", que um pouco por toda a parte contamina opções e juízos, inquina movimentos e instituições, não poupando sequer a própria igreja, onde maleficamente acabou também por implantar arraiais.
Avisada, a voz de Corção ergue-se, assim, em pleno principado das trevas, a denunciar o pacto com Satã, e a imputar a culpa toda do descalabro fragoroso dos dias presente à praga devastadora dos esquerdistas, esses que a si mesmos se julgam os motoristas da História Humana, concluindo Corção que é traço definidor de todo o intelectual de esquerda "o de nunca tirar lição dos acontecimentos, porque estes o censuram".
Na linha do velho (e sempre actual) Charles Péguy, Corção aqui está, também ele a clamar, e também ele a insurgir-se, com frontal destemor, contra as cobardias e abdicações sem nome que os homens de hoje vêm praticando, "só com o receio de não parecerem estar bastante à esquerda". Nesse capítulo, responsabiliza ele, muito especialmente, a nefanda casta dos intelectuais bem-pensantes; e, chamando a si perplexas palavras de Léon Bloy, indaga, de caminho, o mesmo Corção: "De que futuro nos falam eles, então, esses esperantes às avessas, esses escavadores do nada?"
Possuído de uma cólera sagrada que, todavia não exclui, nele, absoluta serenidade de análise e total seriedade de procedimentos - Gustavo Corção consuma, assim, uma sátira enorme, uma enorme diatribe, um imenso libelo, instruindo, a golpes de implacável clarividência, o processo inteirinho deste século, que só não será bem O SÉCULO DO NADA porque foi, afinal de contas, ao longo dele, que ganhou corpo a obra de Corção e de mais alguns de igual estatura.
E vêm a ser de Bernanos as palavras que, porventura, melhor definirão a atitude do autor perante a matéria versada: assiste-lhe, de facto, todo o direito de juntar a sua à voz do grande fundibulário francês, e de bradar com ele: "Não! Não é por pessimismo e desespero que eu rejeito o mundo moderno; eu o recuso com todas as forças da minha esperança!"
Em síntese: Estava escrito que Gustavo Corção mais uma vez havia de conduzir-nos às cumeadas supremas da especulação filosófica e da problemática histórica e política, em obra de amplíssima respiração e de largo fôlego polémico sobre o nosso abominável século XX, fazendo deste a única leitura lógica admissível.
Com "O SÉCULO DO NADA" dá-nos, assim, Gustavo Corção, um alto exemplo de hombridade mental; e, sobretudo, volta a ministrar-nos mais uma lição de abismo.
RODRIGO EMÍLIO (1976)
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Na casa dos oitenta bem entrados, chegou Corção áquela idade - diz ele - "que costuma trazer aos homens lucidez já inválida para o mundo, mas ainda proveitosa para a eternidade".
Válida e proveitosa para o mundo se revela, porém, a lucidez faiscante que o nosso genial octogenário estadeia, com exuberância, ao longo e ao largo do livro citado; e, com ele, terá escrito Gustavo Corção, seguramente, "o livro do século": o livro, por excelência, deste estúpido século XX; o livro negro deste século execrável, a que o autor, com toda a propriedade, chama O SÉCULO DO NADA.
Trata-se, em primeira análise, de uma longa metragem de quatrocentas e tantas páginas, de sinal acentuadamente polémico e outrossim especulativo, e redigidas por Corção ao peso imperioso de uma grande urgência de falar claro e de acertar contas que andam erradas na tabuada política triunfante.
Em definitivo, muito poucos livros haverá, creio eu, que de perto ou de longe possam comparar-se a este em que "Um velho leigo, olhando em volta de si, sai pelo espaço e pelo tempo a fazer interrogações": as mais pertinentes, diga-se, e também as mais destemidas e decisivas formulações, que já algum dia foram suscitadas a alguém por esta encruzilhada de traições que é o século XX.
Invariavelmente conduzido à luz escaldante dos testemunhos e dos textos (logo, com copiosa profusão de elementos informativos a acompanhá-lo), este monumental trabalho de Corção dá lugar a todo um irrespondível e muitíssimo cerrado levantamento de razões, que têm o condão de sonegar aos falsificadores, e de iluminar imparavelmente, sucessos capitais desta centúria toda, como sejam, designadamente: o caso Dreyfus ("une ténébreuse affaire"); a excomunhão da ACTION FRANÇAISE; a aventura personalista; a guerra civil espanhola (comenta Corção: "Em 1936, também na França começa uma guerra civil, mas em lugar de um alzamiento desenha-se um abaissement"); as linhas tortuosíssimas e cem por cento iníquas com que se coseu a acção da jurisprudência resistencialista, na França de 45; e o aggiornammento cismatizante, decorrente do Concílio Vaticano II.
Obra de combate e obra de reflexão, em presença dela acha-se o leitor diante de um copioso painel, de um magnífico afresco, de um dilatado cosmorama e, sobretudo, de um estudo altamente dissecatório e de um aturadíssimo inventário "das nascentes e dos afluentes históricos que, em nossos dias, se somam num enorme estuário de erros e perversidades". ("O estuário se explica pelas nascentes e pelos afluentes" - sublinha e pondera ele, às duas por três). E, orientado de montante para jusante, vai-se ao curso histórico e político, mental e moral, desta era toda, e submete-o a intensa perquirição.
Para tanto, trata de convocar a pleito um fabuloso acervo documental; e, agindo na plenitude de um conhecimento de origens e circunstâncias - sempre acareadas por ele com exemplaridade de processos -, ei-lo que desencobre, e põe ao léu, toda a rematada imposturice desta idade humana, marcada ideologicamente pelo patológico favor concedido às esquerdas: essa "sinistra explosão de sinistrite", que um pouco por toda a parte contamina opções e juízos, inquina movimentos e instituições, não poupando sequer a própria igreja, onde maleficamente acabou também por implantar arraiais.
Avisada, a voz de Corção ergue-se, assim, em pleno principado das trevas, a denunciar o pacto com Satã, e a imputar a culpa toda do descalabro fragoroso dos dias presente à praga devastadora dos esquerdistas, esses que a si mesmos se julgam os motoristas da História Humana, concluindo Corção que é traço definidor de todo o intelectual de esquerda "o de nunca tirar lição dos acontecimentos, porque estes o censuram".
Na linha do velho (e sempre actual) Charles Péguy, Corção aqui está, também ele a clamar, e também ele a insurgir-se, com frontal destemor, contra as cobardias e abdicações sem nome que os homens de hoje vêm praticando, "só com o receio de não parecerem estar bastante à esquerda". Nesse capítulo, responsabiliza ele, muito especialmente, a nefanda casta dos intelectuais bem-pensantes; e, chamando a si perplexas palavras de Léon Bloy, indaga, de caminho, o mesmo Corção: "De que futuro nos falam eles, então, esses esperantes às avessas, esses escavadores do nada?"
Possuído de uma cólera sagrada que, todavia não exclui, nele, absoluta serenidade de análise e total seriedade de procedimentos - Gustavo Corção consuma, assim, uma sátira enorme, uma enorme diatribe, um imenso libelo, instruindo, a golpes de implacável clarividência, o processo inteirinho deste século, que só não será bem O SÉCULO DO NADA porque foi, afinal de contas, ao longo dele, que ganhou corpo a obra de Corção e de mais alguns de igual estatura.
E vêm a ser de Bernanos as palavras que, porventura, melhor definirão a atitude do autor perante a matéria versada: assiste-lhe, de facto, todo o direito de juntar a sua à voz do grande fundibulário francês, e de bradar com ele: "Não! Não é por pessimismo e desespero que eu rejeito o mundo moderno; eu o recuso com todas as forças da minha esperança!"
Em síntese: Estava escrito que Gustavo Corção mais uma vez havia de conduzir-nos às cumeadas supremas da especulação filosófica e da problemática histórica e política, em obra de amplíssima respiração e de largo fôlego polémico sobre o nosso abominável século XX, fazendo deste a única leitura lógica admissível.
Com "O SÉCULO DO NADA" dá-nos, assim, Gustavo Corção, um alto exemplo de hombridade mental; e, sobretudo, volta a ministrar-nos mais uma lição de abismo.
RODRIGO EMÍLIO (1976)
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domingo, setembro 12, 2004
O processo Casa Pia
Quem quiser informar-se sobre o teor exacto do processo Casa Pia, e as razões verdadeiras dos incómodos políticos que provoca, pode ler o blogue Do Portugal Profundo.
É impressionante!
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É impressionante!
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sábado, setembro 11, 2004
A cultura da morte
Terminou o Festival de Veneza, um dos mais importantes certames mundiais dedicados ao cinema.
Há muito que o festival criado por Vittorio Mussolini se tornou um feudo do esquerdismo italiano e mundial. Pelo que lá se passa se pode seguir a agenda de grande parte da intelectualidade esquerdista.
E este ano assim foi: o filme mais galardoado, recebendo o Leão de Ouro, é o britânico "Vera Drake", inspirado numa figura real - e cuja finalidade é a exaltação do aborto, através de um argumento mais do que previsível (a heróica generosidade da mulher que contra todos os riscos se dedica a resolver o drama individual das pobres mulheres inglesas, apanhadas no problema social da gravidez indesejada, praticando os abortos que elas precisam, nas condições precárias que a ilegalidade impõe...)
O outro filme mais destacado foi um espanhol (de um realizador que recentemente anunciou a sua militância homossexual) dedicado à glorificação da eutanásia, também inspirado num caso real, e com argumento não menos previsível (o paraplégico totalmente dependente, a falta de dignidade da vida, a vontade de morrer, a solidariedade dos amigos, a bondade de quem se resolve a ajudar..)
Enfim, um festival de bons sentimentos e grandes causas...
E ainda há quem não veja que estamos perante um programa ideológico, claramente desenhado, e em desenvolvimento nas sociedades ocidentais, que converge na negação dos valores em que assentam essas mesmas sociedades...
Há forças políticas que já só vivem destas causas: aborto, eutanásia, legalização das drogas, casamento dos homossexuais, adopção por casais do mesmo sexo...
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Há muito que o festival criado por Vittorio Mussolini se tornou um feudo do esquerdismo italiano e mundial. Pelo que lá se passa se pode seguir a agenda de grande parte da intelectualidade esquerdista.
E este ano assim foi: o filme mais galardoado, recebendo o Leão de Ouro, é o britânico "Vera Drake", inspirado numa figura real - e cuja finalidade é a exaltação do aborto, através de um argumento mais do que previsível (a heróica generosidade da mulher que contra todos os riscos se dedica a resolver o drama individual das pobres mulheres inglesas, apanhadas no problema social da gravidez indesejada, praticando os abortos que elas precisam, nas condições precárias que a ilegalidade impõe...)
O outro filme mais destacado foi um espanhol (de um realizador que recentemente anunciou a sua militância homossexual) dedicado à glorificação da eutanásia, também inspirado num caso real, e com argumento não menos previsível (o paraplégico totalmente dependente, a falta de dignidade da vida, a vontade de morrer, a solidariedade dos amigos, a bondade de quem se resolve a ajudar..)
Enfim, um festival de bons sentimentos e grandes causas...
E ainda há quem não veja que estamos perante um programa ideológico, claramente desenhado, e em desenvolvimento nas sociedades ocidentais, que converge na negação dos valores em que assentam essas mesmas sociedades...
Há forças políticas que já só vivem destas causas: aborto, eutanásia, legalização das drogas, casamento dos homossexuais, adopção por casais do mesmo sexo...
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Gustave Thibon
"A virtude da fortaleza implica os dois traços seguintes: o domínio de si e a independência com relação às opiniões e arrebatamentos da multidão (si omnes, ego non: se todos, eu não — proclama uma velha divisa aristocrática). Ora, todos os fenômenos de violência que nós relacionamos se situam nos antípodas desse duplo ideal: o seu carácter passivo e gregário salta aos olhos. Eles procedem ou dum abandono anárquico aos impulsos elementares ou (e essas duas reacções são estreitamente ligadas) duma docilidade mecânica para com os movimentos da multidão, naquilo que eles têm de mais efêmero e vão. (...)
Tal é o "caminho da liberdade" que se abre aos jovens. Essa liberdade — tão exaltada em palavras e tão achincalhada nos factos — não se desenvolve nem pela anarquia individual nem pelo mimetismo social, mas pelos esforços e sacrifícios que uma obediência activa às leis eternas exige. É necessário, com efeito, mais liberdade para fazer o bem que para sucumbir ao mal, para afirmar um ideal que para ceder a um impulso. O alpinista que escala uma montanha faz a cada instante uma opção para não cair e concentra toda sua energia nesse objectivo, mas absolutamente ele não tem necessidade de opção nem de energia para deixar-se rolar no abismo.
E quanto aos jovens que apreciam a luta e o risco e que sentem borbulharem dentro de si instintos revolucionários, que eles se tranquilizem: a solução que lhes propomos é a menos confortável. Pois no mundo em que vivemos — neste mundo que tem por regra o desregramento, em que os paradoxos se tornaram preceitos e os escândalos convenções, em que as pressões sociais funcionam no sentido da destruição da sociedade, em que as instituições repousam na violação das leis não escritas; — diante dessa ordem estabelecida que é a negação da ordem eterna, eles encontrarão facilmente a oportunidade para exercitar as suas faculdades de combate, pois o anticonformismo e o respeito aos comandos imutáveis vão hoje de braços dados, e aquele que quiser obedecer à razão e a Deus encontrará mais obstáculos e se exporá a mais perigos que aquele que delira com o seu século e se ajoelha diante dos seus ídolos. Neste mundo transtornado, o combate mais duro e o maior risco estão do lado dos defensores da ordem contra o caos e da sabedoria contra a loucura."
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Tal é o "caminho da liberdade" que se abre aos jovens. Essa liberdade — tão exaltada em palavras e tão achincalhada nos factos — não se desenvolve nem pela anarquia individual nem pelo mimetismo social, mas pelos esforços e sacrifícios que uma obediência activa às leis eternas exige. É necessário, com efeito, mais liberdade para fazer o bem que para sucumbir ao mal, para afirmar um ideal que para ceder a um impulso. O alpinista que escala uma montanha faz a cada instante uma opção para não cair e concentra toda sua energia nesse objectivo, mas absolutamente ele não tem necessidade de opção nem de energia para deixar-se rolar no abismo.
E quanto aos jovens que apreciam a luta e o risco e que sentem borbulharem dentro de si instintos revolucionários, que eles se tranquilizem: a solução que lhes propomos é a menos confortável. Pois no mundo em que vivemos — neste mundo que tem por regra o desregramento, em que os paradoxos se tornaram preceitos e os escândalos convenções, em que as pressões sociais funcionam no sentido da destruição da sociedade, em que as instituições repousam na violação das leis não escritas; — diante dessa ordem estabelecida que é a negação da ordem eterna, eles encontrarão facilmente a oportunidade para exercitar as suas faculdades de combate, pois o anticonformismo e o respeito aos comandos imutáveis vão hoje de braços dados, e aquele que quiser obedecer à razão e a Deus encontrará mais obstáculos e se exporá a mais perigos que aquele que delira com o seu século e se ajoelha diante dos seus ídolos. Neste mundo transtornado, o combate mais duro e o maior risco estão do lado dos defensores da ordem contra o caos e da sabedoria contra a loucura."
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